Quando Tianyi acordou, percebeu um peso sobre suas costas. O braço esquerdo de Malfoy rodeava a cintura da garota, que caiu no sono junto a ele durante a noite.
— Bom dia. — a voz de Draco estava mais rouca do que o normal.
— Que horas são? — a menina esfregou os olhos enquanto Malfoy continuou com o braço no mesmo lugar.
— Não faço ideia. — o quarto estava escuro, graças as cortinas grossas. As velas já estavam apagadas àquela altura mas um pouco de fogo ainda saía da lareira.
Hozier puxou o relógio de pulso que estava na mesa perto da cama.
— São seis horas. — Draco reclamou e a puxou para perto mais uma vez.
— Vamos dormir até as nove. Está muito cedo.
Tianyi pensou em protestar, mas estava com muito sono e frio. Ela colocou o relógio onde estava antes e se ajeitou debaixo dos cobertores macios e quentes, no aperto de Malfoy.
•
— Oi. — Tianyi sorriu sem mostrar os dentes para o loiro quando acordou às nove e meia.
— Oi. — ele sorriu com os olhos fechados, mas percebeu que a garota estava com o rosto virado para o dele.
— Feliz natal. — o menino abriu os olhos e Hozier ficou admirada com um Draco Malfoy tão calmo e relaxado, mesmo que o quarto ainda estivesse um pouco escuro.
— Feliz natal.
— Vai ficar apenas me imitando ou vai levantar? — Hozier riu.
— Estou com preguiça. — a menina observou o suéter verde e cinza dele.
— É natal. Amanhã voltamos pra escola. Vamos fazer algo! — ela se levantou e se arrependeu no mesmo instante. — Que frio. — reclamou.
— Posso ligar a lareira. — ele se sentou na cama.
Tianyi observou os cabelos loiros bagunçados, o suéter e a feição de preguiça de Malfoy. Uma figura completamente oposta do garoto sistemático e atento na maior parte do tempo.
— Não precisa. Tenho ir até o meu quarto trocar de roupa.
— Por quê não traz suas coisas pra cá?
A garota ficou receosa. — Eu não sei...
— Já dormiu aqui essa noite. Mais uma não vai te matar. — ele se levantou, insistindo.
— Sua mãe não vai se importar?
— É claro que não. Eu vou buscar a sua mala. — ele pegou a varinha em cima da mesa e apontou para a lareira, que ficou em chamas logo em seguida.
O loiro saiu do quarto e Tianyi sorriu sozinha. Ela estava feliz por ter um momento agradável. Ela gostava muito da companhia do menino e mesmo que estivesse longe de casa, seu natal seria bom. Hozier se aproximou de uma janela e viu a grama coberta de neve.
— Aqui. — ele colocou o objeto em cima da mesa e fechou a porta que antes estava aberta. — Pode usar o banheiro primeiro.
Ela apenas sorriu e seguiu para o banheiro, aumentando a culpa que Draco estava sentindo há quase 1 mês. Ele passou a gostar de verdade da garota e não queria que ela se magoasse. Mas era inevitável que isso fosse acontecer. Ela descobriria em algum momento.
O loiro pegou roupas limpas e quentes e ouviu a porta do banheiro ser aberta. Foi a vez dele trocar de roupa.
— Bom dia, mãe. — Draco falou confuso depois de descer as escadas com Tianyi.
Narcisa não costumava se importar com o natal ou coisas do tipo, mas naquela manhã, havia um enorme café posto à mesa na grande cozinha. Frutas, geleia, suco, torta, doces, pães e algumas comidas que Hozier mal conseguiu reconhecer. Os elfos da casa a ajudavam enquanto Malfoy se sentava.
— Feliz natal, crianças. — ela sorriu e se sentou.
— Feliz natal, senhora Malfoy.
Tianyi se sentou ao lado do garoto e os três começaram a comer. Tianyi estava com saudades de casa. Mais especificamente: com saudades do avô. Ele não era muito fã de festas comemorativas, mas os dois sempre se encontravam. A menina sabia que aquele estava sendo uma dia difícil para a família.
— Senhora Malfoy. — um dos elfos segurava um jornal, parado ao lado da mais velha.
Ela o encarou, sabendo que não eram notícias boas. Eles nunca recebiam notícias boas através dos jornais. Narcisa pegou o papel e sua feição caiu no mesmo instante. Tianyi e Draco ainda comiam, quando a mulher passou a mão no rosto.
— Com licença.
— Mãe, está tudo bem? — Draco pensou em se levantar, mas sua mãe o entregou o jornal antes de sair da cozinha chateada.
— Uma das casas no mundo bruxo de Lucius Malfoy foi colocada para ser leiloada. O dinheiro será doado para famílias mais pobres e prejudicadas pela guerra. — o loiro leu e suspirou. — Pelo visto seu pai não conseguiu fazer muita coisa.
— Talvez isso seja parte de algum acordo. — ela limpou a boca com um guardanapo. — Seu pai não vai conseguir sair intacto depois de tudo.
— Eu sei. Perder uma casa não vai ser tão ruim.
— Podemos ir até o Ministério da Magia para vermos o que está acontecendo. — Malfoy ficou receoso.
— Não acha que seu pai ficaria irritado?
Ela negou e comeu um morango. — Mas teremos que ir ao mundo trouxa. — sorriu.
— Isso é bem estranho. Não costumo sair daqui.
— É bem legal. Você precisa provar algum McDonalds.
— Vou fingir que sei o que é isso.
•
No dia seguinte, Narcisa deixou Tianyi e Draco na estação de trem. Os dois puderam ver alguns colegas de longe.
— Tenham um bom resto de ano escolar, crianças. — a mulher sorriu para Hozier e abraçou o filho antes de ir embora.
— Luna! — Tianyi chamou a amiga rapidamente e a loira se aproximou com um sorriso.
— Olá, Tianyi. Como está?
— Estou bem e você? — Draco as olhava entediado.
— Estou bem. O feriado foi legal.
— Preciso da sua ajuda. — Hozier sorriu um pouco envergonhada. — Preciso encontrar o meu pai mas não posso levar minha mala para a escola. Pode ficar com ela?
— Claro. — Lovegood segurou a mala pequena. — Malfoy precisa de ajuda também?
— Não costumo levar malas nos feriados. Tenho muitas roupas em casa. — por algum motivo, ele se sentiu constrangido.
— Então, está ótimo. Nos vemos no jantar?
— Se tudo der certo, sim. — Hozier a abraçou rápido antes de se afastar com Draco.
— Sabe onde fica o ministério?
— Londres, é claro. Vamos. — o loiro segurou a mão dela segundos antes de aparatarem.
— Por aqui! — Hozier puxou o garoto, que observou a rua curioso.
Estava movimentada e com muito barulho. O céu estava cinza e parecia que a chuva cairia a qualquer momento. Eles correram até uma pequena cabine telefônica.
— Fica no subterrâneo profundo. — Hozier explicou e Malfoy encarou o telefone ao lado direito antes da cabine se movimentar.
Assim que a porta se abriu, como um elevador, eles saíram e encontraram ainda mais pessoas.
— Ei, ei! — uma voz masculina chamou. — Não podem estar aqui. — a feição raivosa do homem se transformou em uma de medo, quando viu Tianyi. — Senhorita Hozier.
— Olá, senhor Pots. Meu pai está?
Ele assentiu e encarou Draco, sem dizer nada. — Ele tem uma reunião daqui vinte minutos, é melhor se apressar.
Hozier voltou a andar e Malfoy a seguiu. As pessoas o encaravam com desdém e se perguntavam o que ele fazia ali.
— Você está bem? — Tianyi perguntou enquanto o elevador descia. — Está calado demais.
— É estranho estar aqui no meio de pessoas que odeiam a minha família.
— Vai ser rápido.
No fim do corredor, estava uma porta com um grande H desenhado. Tianyi respirou fundo e bateu três vezes antes de abri-la.
— Papai.
O homem levantou a cabeça para ver a filha. Estava sentado em sua mesa, rodeado de papéis.
— Tianyi? — ele se levantou e respirou fundo quando viu Draco atrás dela. — Feche a porta, por favor.
A garota fechou a porta depois de entrar.
— O que fazem aqui?
— Papai, eu gostaria de saber se o senhor conseguiu algum tipo de acordo para Lucius Malfoy.
— Sim. Mas ele não aceitou. — o mais velho cruzou os braços. — O Ministério da Magia aceitou prender Lucius em sua mansão na condição dele entregar sua varinha. Ele será desligado do mundo bruxo.
Draco fechou os olhos e suspirou.
— Não posso fazer mais nada, querida. Não decido tudo sozinho e precisamos olhar pelo bem do mundo bruxo.
— Mas-
— Obrigado, senhor Hozier. — Draco não deixou Tianyi contestar. — Sabemos que fez o que pôde.
Dominic não era uma pessoa má. Ele sentia uma certa pena do garoto.
— Posso conseguir com que o visite.
— Seria bom.
— Pode me dar um minuto com a minha filha? — Malfoy assentiu e encarou Tianyi por alguns segundos antes de sair. — Consigo a visita para o final da tarde, mas não poderão esperar aqui. As pessoas têm muita raiva dos Malfoy.
— Tudo bem. Eu fico aqui pela região. Tem algum Starbucks aqui?
— No fim da rua.
— Certo. Vamos estar lá.
— Já falei uma vez e vou repetir: tome cuidado. Aquele menino pode não te fazer mal, talvez nem a família dele faça, mas as pessoas os odeiam.
— Eu estou tomando cuidado, pai. Não se preocupe. — ela o abraçou. — Mamãe está bem?
— Na medida do possível. Está de cama, sentindo falta do seu avô. Podia passar lá em casa.
— É uma boa ideia.
Ela se afastou de Dominic e abriu a porta. — Draco? — a garota franziu o cenho. — Merlin, Draco! — Tianyi correu para perto do loiro, que estava jogado no corredor. — Papai!!
A menina se abaixou perto dele e segurou o rosto do garoto. Malfoy estava com o nariz sangrando, com um corte em cima da sobrancelha esquerda e uma bolsa roxa se formava em volta do olho.
— O que aconteceu?
Draco tossiu e se sentou com dificuldade. — N-não se preocupe. — ele cuspiu sangue e passou a manga de sua roupa na boca para limpar um pouco.
O corpo do menino doída, certamente haviam roxos se formando em suas costas e barriga.
— O senhor precisa fazer algo! — Tianyi levantou a cabeça para ver o pai.
— É claro. Essas pessoas não não ficar impunes. Como podem bater em um garoto e, ainda por cima, na área de trabalho. — o homem passou a mão no rosto. — Vá para o Starbucks com ele. Eu vou resolver isso.
Tianyi ajudou o menino a se levantar e o levou para um banheiro próximo, quando Dominic se afastou.
— Sente. Vamos tirar o excesso de sangue do seu rosto.
O garoto respirou fundo e se sentou em um banco. Hozier puxou a varinha de dentro da blusa de frio e apontou para o rosto de Malfoy.
— Episkey. — Draco fez uma careta e colocou a mão sobre o próprio nariz. — Eu não conheço feitiços para tirar os roxos ou esses cortes. Mas, por sorte, existem band-aids. — ela puxou um pequeno curativo do bolso e colocou com cuidado no menino.
— Podemos ir embora? Pra esse tal Storbucks.
Tianyi riu e ele se levantou. — Starbucks.
— Tanto faz. — Malfoy suspirou e eles saíram depressa da sede do Ministério da Magia.
A garota percebeu que ele estava triste e cansado, mas não disse nada. Ela o guiou para o estabelecimento no final da rua e ouviu uma trovoada. O lugar era pequeno, mas muito aconchegante. Pela época natalina, muitas pessoas entravam e saíam de lá. O cheiro de café inundou as narinas de Tianyi e Draco e os dois seguiram para a fila, esperando até serem atendidos.
— Boa tarde. — Hozier sorriu para a atendente. — Dois Frappuccinos, por favor.
— Boa tarde. Nomes? — ela sorriu de volta.
— Draco e Tianyi. — Hozier entregou o dinheiro e esperou ao lado de Malfoy, que fazia carretas lendo um cardápio.
— Aqui está. Feliz natal e um próspero ano novo. — Tianyi acenou com a cabeça e se afastou com Draco.
— Está bem cheio. — o loiro disse enquanto encarava o copo vermelho depois de se sentar e ela o imitou.
— É uma franquia de cafeteria muito famosa. — ela misturou o líquido no seu próprio copo com um canudo e experimentou, assim como o menino.
— É bom. Podiam fazer isso no mundo bruxo. — Hozier concordou e os dois ficaram em silêncio por algum tempo, vendo a chuva cair através do vidro ao lado deles.
— Sei que as coisas estão difíceis, Draco. — Tianyi quebrou o silêncio. — Mas vamos fazer o possível pra te ajudar.
O loiro não soube o que responder e continuou bebendo a bebida doce, quando viu Dominic entrar no estabelecimento com um jornal na mão.
— Más notícias. — Tianyi se assustou com a voz do pai, que logo entregou o papel, mas leu o jornal junto com Draco.
"Protestantes se aglomeram e incendeiam a principal mansão da família Malfoy."
A manchete chamativa em cima de imagens da casa de Draco em chamas.