Primeiro amor na casa ao lado

By camibrenner

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Jonathan Belchior era o que se podia chamar de um adolescente problemático, fumava e bebia sendo menor de ida... More

Avisos e informações
Primeiro beijo da discórdia
Te odeio (mas nem tanto assim)
Vicente não gosta de tomate
Vicente gosta de sorvete de menta e chocolate
Segundo beijo da discórdia
O primeiro momento em que Vicente se apaixonou
Chocolate de Dia dos Namorados
Terceiro beijo, dessa vez sem discórdia
A primeira confissão que Vicente recebeu na vida
Baile de primavera
O primeiro eu te amo que Vicente recebeu na vida
Esse namoro não é mais um segredo
Quando Jonathan foi corajoso e inconsequente
A primeira vez de Vicente
Um show, uma troca de olhares e um reencontro
O dia em que Jonathan e Vicente tiver um felizes para sempre

O primeiro pedido de namoro que Vicente recebeu na vida

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By camibrenner

A sala de aula estava uma bagunça naquela manhã de segunda-feira. Vicente e suas amigas tinham acabado de receber suas provas de matemática e estavam eufóricos comparando os resultados — dessa vez Melissa tinha gabaritado e estava se gabando. No fundo da sala, no entanto, o clima estava bem diferente. Jonathan tinha conseguido ficar na média por um milagre, Kevin tinha tirado metade da nota máxima e Jesse estava levando sermão do professor porque tinha zerado a prova e corria risco sério de repetir o ano. Os olhos de Melissa tinham capturado aquela cena e ela ficou refletindo por um tempo antes de decidir levantar e ir até a mesa dele quando ele sentou derrotado.

— Eu posso te ensinar.

— Hum? — Jesse nem estava raciocinando direito depois de ver aquela nota tão baixa.

— Você precisa tirar uma nota alta na recuperação — ela explicou um pouco envergonhada — Eu posso te ensinar.

Ele a encarou um tanto surpreso.

— E o que você vai querer em troca?

Melissa balançou a cabeça.

— Não sou esse tipo de garota, não preciso de nada de você.

Dito isso, ela jogou os cabelos e saiu andando cheia de pose. Jesse estava realmente surpreso com aquela atitude, porém também havia um sorrisinho bobo no canto de seus lábios.





Depois que as coisas tinham ficado mais calmas, o pai de Vicente concordou que não havia mais motivo para sair do trabalho e buscá-lo na escola todos os dias, assim retomaram o combinado de que ele voltaria a pé com Jonathan, o que para ambos foi maravilhoso. Naquela segunda-feira, eles estavam caminhando lado a lado sem pressa nenhuma de chegar em casa.

— Podíamos fazer a maquete de biologia juntos — Vicente sugeriu de repente — É um trabalho individual, mas podemos ajudar um ao outro.

O outro o encarou confuso.

— Qual maquete?

— Não acredito que você estava dormindo na aula de novo — Vicente o empurrou com o ombro e riu — Temos que fazer uma maquete da estrutura de uma célula.

Jonathan enrugou a testa e sua expressão ficou feia como a de alguém que tinha ouvido o maior absurdo do mundo.

— Esse é o tipo de coisa que posso pedir para o meu pai para fazer para mim...

— Então você vai perder a oportunidade de ficar mais tempo comigo? Tudo bem — Vicente fez um bico e saiu andando na frente.

— Ei, eu não disse isso — Jonathan o alcançou e o pegou pela mão, por sorte estavam sozinhos naquela rua — Eu disse que posso pedir ao meu pai, não que eu vou fazer isso.

Vicente o encarou e balançou a cabeça, mas achou que era melhor não discutir. Os dois então caminharam até uma pracinha vazia próxima de onde estavam e sentaram no balanço vermelho e descascado repleto de pichações de canetinha. Fazia um dia tão agradável que nenhum deles estava com vontade de ir para casa agora. Assim, Vicente puxou seu caderno e começou a tomar nota das coisas que deveriam comprar na papelaria para a maquete, enquanto Jonathan puxou o maço de cigarros do bolso, prendeu um entre os lábios e o acendeu. Foi só quando sentiu a fumaça que o outro se virou e o encarou.

— Você precisa fazer isso o tempo todo?

— A fumaça te incomoda? Eu posso ir fumar do outro lado — ele apontou para a frente.

— O cheiro não é agradável, mas não é esse o problema — Vicente suspirou pensativo — É só que eu me preocupo.

— Não precisa se preocupar, de qualquer forma eu não vou passar dos 30 — ele deu uma risadinha — Morrer jovem é melhor.

Vicente não esperava ouvir algo assim, então levantou irritado.

— Que porcaria que você está falando? Isso não é engraçado!

Jonathan estava rindo até então, mas ao ouvir aquilo seu sorriso murchou.

— Desculpa...

— Eu vou para casa.

No momento em que ele virou de costas, o outro o segurou pelo pulso. Jonathan então tirou o cigarro da boca e o jogou no chão, pisando em cima para apagar. Os olhos do outro estavam marejados o tempo todo.

— Desculpa — ele disse de novo — Eu sou viciado em cigarro, venho fumando faz alguns anos já. Eu não devia inventar desculpas para o meu vício, especialmente piadas idiotas, eu sinto muito.

Vicente ficou olhando para ele por um tempo, até por fim relaxar e voltar a sentar no balanço ao lado do dele. O clima tinha ficado ruim de repente, como se houvesse algo pesado e escuro em cima de suas cabeças. Nenhum deles tinha dito mais nada, então ele decidiu quebrar o silêncio.

— Por quê? — perguntou — Por que você começou a fumar tão jovem?

Ele viu que os olhos do outro baixaram até o chão de terra aos seus pés e que sua expressão parecia ainda pior depois daquela pergunta, mas Vicente queria muito entendê-lo, então não iria voltar atrás.

— Eu acho que tinha 14 ou 15 anos — Jonathan começou — Eu estava muito atormentado naquela época e um cara mais velho da escola me ofereceu um cigarro e quando eu fumei eu me senti menos nervoso, assim começou — ele deu de ombros — Eu estava atormentado porque o meu pai batia na minha mãe.

Vicente estava ouvindo a história com atenção, até que o final dela o surpreendeu.

— O seu pai o quê?

— Quando meu pai ficava estressado com o trabalho, ele descontava batendo na minha mãe — Jonathan desabafou — Minha mãe era muito boa em esconder, então ela usava maquiagem e roupas compridas e apenas sorria para todo mundo como se nada tivesse acontecido. Ela até mesmo continha seus gritos de dor, mas eu vi pela fresta da porta do quarto deles quando ela apanhou uma vez, tentei impedir e meu pai passou a me trancar no quarto antes de bater nela... era assim o tempo todo.

Vicente estava em choque agora.

— Isso não é possível, meus pais nunca falaram sobre isso...

— Os seus pais não sabem sobre isso — ele deu um longo suspiro — Eu não sei se você vai lembrar, mas uma vez minha mãe foi hospitalizada porque caiu da escada, vocês até foram fazer uma visita... é claro que ela não tinha caído, ela tinha sido espancada até ficar inconsciente. Foi nesse dia que meu pai decidiu que não iria mais bater nela, e realmente ele não bateu mais.

Vicente pensou sobre isso, ele tinha uma vaga lembrança desse dia, mas era algo pequeno e na época tinha sido insignificante em sua vida. Enquanto isso, Jonathan estava assustado e traumatizado, tendo que lidar com todas aquelas coisas sozinho e recorrendo a alternativas como fumar para se acalmar. Só de pensar nisso seu coração se encheu de dor por todas as vezes nas quais o julgou das piores formas possíveis, achando que ele era apenas um rebelde que queria quebrar as regras para chamar a atenção. Aquilo só provava que ele realmente não sabia nada sobre a vida, que era apenas inocente e até um pouco bobo. Apesar dos problemas atuais, tinha crescido em um lar amoroso e pensava que todos ao seu redor viviam da mesma forma. Quando iria imaginar que aquele vizinho tinha passado por tanta coisa?

Como a pracinha estava vazia, ele estendeu a mão e pegou na do outro. Jonathan disse que não tinha problema, que estava tudo bem, que isso tudo estava no passado agora, mas ele sabia que era mentira, sabia que ele estava carregando aquela dor e aquele trauma todos os dias em seu coração.

— Me desculpe por ter te julgado, eu não fazia a menor ideia, eu fui muito bobo...

— Não tinha como você saber — Jonathan entrelaçou os dedos aos dele — Chega, não quero mais falar sobre o meu pai.

— Eu quero te dar muito carinho — Vicente respondeu com segurança — Se eu puder, quero curar todas as suas feridas.

Não era mentira que Jonathan tinha uma péssima ideia de relacionamentos por conta da imagem com a qual cresceu dentro de casa, por isso mesmo que nunca tinha aberto o coração para ninguém. Aquela era a primeira vez que estava vivendo aquelas coisas, sentindo aquelas coisas, e realmente sentia como se seu coração estivesse sendo curado.

Num pulo, ele levantou e se ajoelhou na frente do outro, que o encarou surpreso. Aquele era um pedido genuíno que tinha nascido em seu peito, tão repentino que queria colocar para fora naquele momento mesmo.

— Vicente, você quer namorar comigo? — pediu um pouco sem jeito.

O outro não esperava ouvir esse tipo de pedido, ainda mais em um momento como esse. Seu corpo inteiro se arrepiou e seu coração acelerou no peito, ele era romântico o suficiente para ter sonhado a vida inteira com um pedido desses, no entanto, sempre pareceu distante e impossível. Mas agora que tinha acontecido, ele nem sabia o que dizer, era como se nem conseguisse raciocinar.

— Ei, você vai me dar um fora? — Jonathan perguntou nervoso e deu uma risadinha depois que o outro ficou quase um minuto inteiro congelado.

— Não, não, eu não vou — Vicente tampou a boca com a mão e seus olhos estavam marejados — Eu só...

— Você vai chorar? Ah, mas nem foi um bom pedido, eu estou ajoelhado na terra — ele riu — Se eu soubesse que você ia chorar, eu tinha pelo menos te comprado umas flores...

— Você ia me comprar flores? — ele perguntou e uma lágrima escorreu pela lateral da bochecha.

— Você quer que eu compre? Deve ter uma floricultura por perto — ele limpou a lágrima da bochecha do outro.

Vicente negou com a cabeça e pegou em suas mãos.

— Sim — disse e sorriu — Eu quero namorar você.

Jonathan deu um sorrisinho e então espiou que não tinha ninguém por perto, assim se inclinou para a frente e lhe roubou um beijinho.

— Se formos para casa agora, podemos ficar algumas horas nos beijando até nossos pais chegarem — sugeriu.

Vicente balançou a cabeça.

— A maquete de biologia — riu.

Jonathan resmungou.

— Tem que ser hoje?

— Hoje — ele respondeu com convicção — Você tem que passar de ano, vamos na papelaria.

— Ah, como meu namorado é mandão — Jonathan resmungou de novo.

Vicente estava amando aquilo, o pedido, o fato de que agora eram namorados, por isso estava até saltitando pela rua enquanto iam juntos comprar os materiais para fazer aquele trabalho — a última coisa que o outro queria fazer naquele momento. No entanto, não podia negar que estava feliz também, era quase como se aqueles dias fossem um sonho, um do qual esperava nunca precisar acordar.





Melissa estava olhando confusa para a fachada da loja de conveniências enquanto Jesse lhe dizia que aquela era sua casa. Depois que prometeu que o ajudaria a estudar, tinha concordado em acompanhá-lo até sua casa após a aula, motivo pelo qual estava ali agora.

— Você mora em uma loja de conveniências? — ela não entendeu.

— Hum, mais ou menos — Jesse respondeu — Me siga.

Os dois entraram no lugar e a garota deu uma olhada em volta, era uma loja pequena e um pouco velha, mas parecia ter de tudo. Havia uma mulher atendendo no caixa, mas como o movimento estava fraco agora, ela estava assistindo a algo numa televisão velha que estava pendurada logo abaixo do teto. Assim que a viu, a mulher arregalou os olhos — ela se parecia muito com Jesse, logo Melissa concluiu que era sua mãe.

— Você está trazendo uma garota para casa? Isso sim é novidade — a mulher deu uma risadinha.

Ele resmungou.

— Melissa é minha colega, ela veio me ajudar a estudar matemática porque eu zerei a prova.

— Você o quê???

Antes que sua mãe pudesse falar mais, Jesse pegou a garota pela mão e a carregou até uma porta nos fundos da loja, que dava para um corredor estreito e úmido. Logo depois, ela viu uma casinha pequena nos fundos do terreno. Quando Melissa entrou e olhou em volta, ficou bastante surpresa. A casa não tinha pintura nas paredes, os móveis eram velhos e a iluminação era ruim, mal entrava sol e as lâmpadas estavam piscando um pouco. Para uma garota que vivia em uma mansão no condomínio fechado mais caro da cidade, aquilo era um grande choque.

Jesse disse que ela podia ficar à vontade e apontou para o sofá, disse que o banheiro era na porta à esquerda e perguntou se ela queria comer algo. Melissa estava tão deslocada que apenas largou a mochila no sofá e não soube o que dizer.

— Não tem nada pronto aqui — ele comentou depois de analisar a geladeira — Mas a princesa pode escolher algo para comer na loja de conveniências, é por minha conta — ele deu uma piscadinha.

— Tudo bem, não é necessário — ela não queria incomodar, porém no momento em que disse isso, sua barriga roncou para envergonhá-la ainda mais.

Jesse apenas riu e a pegou pela mão, a carregando pelo corredor estreito novamente e de volta à loja. Agora havia alguns clientes ali, então a mãe dele estava ocupada e não iria atormentá-lo com perguntas, para seu alívio. Melissa não era alguém que comia nesse tipo de local, ela não fazia ideia do que eram aquelas comidas ali e ele percebeu. Assim, sugeriu um pão recheado com queijo que tinha recém-chegado e que ele considerava bem bom e também pegou alguns chocolates e um suco de laranja de caixinha. Quando voltaram para os fundos, ele serviu para ela e os dois sentaram diante de uma mesinha baixa que ficava na sala, na frente da televisão. Melissa deu uma dentada no pão e provou o suco, realmente não era ruim, então ela agradeceu. Enquanto isso, Jesse estava apenas tomando café preto e comendo alguns chocolates.

— Sua alimentação é horrível — ela comentou de repente — Você almoça isso todos os dias?

Ele deu uma risadinha.

— Você está preocupada comigo?

Melissa resmungou envergonhada e ele riu mais ainda.

— Eu não, coma o que você quiser, eu não ligo.

Jesse ainda estava rindo enquanto o foco dela já tinha ido parar em outro lugar. Havia alguns porta-retratos ao redor da televisão e em um deles uma garotinha sorria para a câmera de um jeito muito fofo. Ela também se parecia muito com o Park, por isso foi fácil deduzir que eram irmãos.

— É sua irmã mais nova? — ela mudou de assunto.

Jesse parou de rir no mesmo instante e apenas assentiu.

— Ela parece muito fofa, diferente de você — Melissa provocou — Ela está na escola?

Ele ficou em silêncio por uns segundos e desviou o olhar do dela enquanto respondia de qualquer jeito.

— Ela não está mais aqui, ela se foi há dois anos.

A expressão no rosto da garota mudou completamente de um sorriso bobo para um olhar de preocupação. Quando iria imaginar que faria uma pergunta simples para mudar de assunto e receberia uma resposta assim?

— Sinto muito, eu não fazia ideia...

— Como você saberia? — Jesse jogou um chocolate para ela — Está tudo bem, minha irmã tinha uma doença e ela teve que ir mais cedo.

Apesar de ele estar dizendo que não tinha problema, Melissa estava se sentindo péssima. Dava para perceber que ele estava mentindo, talvez aquela fosse uma grande questão em sua vida, uma dor da qual tentava fugir e não conseguia. Naquele momento, estava se sentindo horrível por todas as vezes que o julgou desde que ele entrou para a sua escola. Como era fácil para ela, que tinha uma vida confortável e uma família amorosa, se achar no direito de julgar aquele garoto bolsista que vivia em condições precárias e que até mesmo tinha perdido um membro da família... ela estava muito envergonhada agora.

— Ah, se você for ficar com essa expressão, vou ter que te beijar para mudar o clima — ele provocou.

Ao ouvir aquilo, ela rapidamente voltou de seus pensamentos depressivos.

— O que você disse???

— Quer beijar? — ele provocou de novo.

Melissa atirou nele o chocolate que ele tinha jogado para ela antes.

— Pervertido — resmungou — Você não devia estar pensando sobre beijos, devia pensar no zero que você tirou na prova.

Ela levantou, pegou seu caderno e atirou em cima da mesa.

— Vou fazer você estudar até chorar.

Jesse a encarou um pouco assustado, não parecia que ela estava brincando. No entanto, por mais que quisesse provocá-la, ele sabia que precisava mesmo estudar senão iria repetir o ano. Para um bolsista, aquilo significava que perderia sua chance de estudar naquela escola e não podia se dar ao luxo disso, então pegou seu caderno também e sentou ao lado dela para tentar aprender aquilo.

Melissa era uma boa professora e sentiu que conseguia aprender melhor com ela do que com a sua professora da escola, então ficou aliviado. Assim, pelas próximas horas, os dois estudaram lado a lado debaixo daquela lâmpada que piscava na sala úmida e fria da casa dele. O mais estranho para a garota era que quanto mais tempo passava com ele, mais confortável se sentia ali ao seu lado.





Vicente não tinha nem fechado direito a porta da frente de sua casa e Jonathan já o havia empurrado contra a parede para lhe roubar um beijo, fazendo-o derrubar no chão a sacola com os materiais que tinham comprado para fazer suas maquetes. Eles já estavam se beijando por algum tempo até que Vicente se deu conta das intenções do outro.

— Ei, ei — tentou interromper e Jonathan começou a distribuir beijos em seu rosto — Para, para — ele riu — Você não vai fugir do trabalho, vamos!

O outro resmungou, achava que ia ser infalível tentar enrolá-lo com beijos, mas pelo visto Vicente era um soldado que não se rendia facilmente quando era a respeito dos estudos. Assim, um frustrado Jonathan foi sentar diante da mesa da sala de jantar com uma expressão de quem estava indo fazer a tarefa mais enfadonha do mundo.

— Eu não quero fazer isso, eu não tenho talento com coisas artísticas — resmungou — Se você fizer para mim, eu pago com beijos.

Vicente apenas lançou um olhar na direção dele e não disse nada, mas nem precisou. Logo depois, ele pegou as massinhas de modelar e começou a trabalhar.

— Não acredito, estou namorando um carrasco — resmungou.

O outro riu.

— Você gosta?

Jonathan pensou envergonhado.

— Eu meio que gosto...

Vicente sentiu ser ego crescer e sorriu satisfeito, desde que tinham começado a namorar sentia que estava andando nas nuvens. Não dava nem para acreditar que aquilo era verdade, mas lá estava aquele vizinho casualmente o chamando de namorado e falando sobre eles estarem namorando o tempo todo, como se isso fosse a coisa mais normal do mundo.

E talvez fosse mesmo. Parecia que depois que Jonathan tinha conseguido vencer seus preconceitos e medos internalizados, ele tinha se tornado uma pessoa muito mais leve. Vicente estava refletindo sobre isso quando ele colocou um coração de massinha de modelar em sua frente. Ele o encarou, Jonathan deu uma risadinha e ele o mandou parar de enrolar e começar o trabalho de uma vez. No entanto, estava amando isso.

Eles por fim tinham feito progresso na maquete quando os pais de Vicente chegaram do trabalho. Jonathan logo ajeitou sua postura e ficou nervoso, aquela era a primeira vez que estava diante dos vizinhos desde que começou a se envolver com o filho deles. Vicente também estava um pouco nervoso, mas tentou disfarçar. Sua mãe não ficou muito empolgada com o trabalho, ela estava mais preocupada em ir preparar o jantar, por isso deixou os dois a sós. Quem ficou interessado foi seu pai, que sentou ao lado deles para ver no que estavam trabalhando. No entanto, assim que viu a maquete de Jonathan, ele deu uma gargalhada sincera.

— Meu filho, o que é isso? Parece que vomitaram na sua maquete — ele gargalhou.

Jonathan não acreditou que isso estava acontecendo, tudo bem que era realmente ruim em qualquer trabalho artístico, mas estava sendo humilhado pelo pai do garoto que tinha começado a namorar hoje mesmo. O pior era que Vicente estava segurando o riso também, a diferença das maquetes dos dois era gritante.

— Senhor, eu não nasci para essas coisas — ele foi sincero.

— É notável — ele ainda ria — Me dê aqui, eu vou te ajudar.

Assim, o homem começou a ensiná-lo como fazer, mostrando quais cores ficariam melhores para cada parte da célula. Com os conselhos dele, a maquete começou a ficar um pouco mais apresentável e quando se deu conta disso, percebeu que aquele era o momento de interação mais natural que teve com aquele homem em todos os anos que o conhecia.

Vicente estava olhando para os dois e pensando a mesma coisa, apesar de serem muito diferentes, eles se davam surpreendentemente bem. Estar diante de um momento como esse deixava o seu coração caloroso e não conseguia parar de pensar no quão bom seria se seu pai e Jonathan pudessem ser próximos e ter uma boa relação. No entanto, como seria se descobrisse que estavam namorando? Era muito provável que não fosse aceitar... Só de pensar nisso, seu coração se enchia de tristeza. Seu maior sonho era poder contar para os pais que tinha se apaixonado pela primeira vez na vida e que tinha encontrado uma pessoa boa que o tratava bem e com respeito. Queria que seus pais ficassem felizes, que tratassem Jonathan como um filho e que aquilo fosse natural. No entanto, tinha plena noção da realidade na qual vivia e que algo assim não era possível. Se seus pais descobrissem sobre aquele namoro, certamente o proibiriam. Por isso, aquele era um amor que teriam que manter em seu coração em segredo.

Por hora, se contentaria em ver seu pai e seu namorado rindo enquanto montavam juntos a maquete daquela célula. No momento, aquilo era o que o fazia mais feliz.

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