Sob as Noites de Luar.

By Mila_Sn

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Nas Noites de Luar...Te sinto...Te toco...Te miro. +16 anos. Copyright ©️ 2023. Todos os Direitos Reservados. More

Capítulo 3
Capítulo 2
Capítulo 4
Capitulo 5
Capitulo 6

Capítulo 1

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By Mila_Sn

Ravi

A água bem temperada cai sobre meu corpo com uma pressão mediana que me relaxa e, ao mesmo tempo, me desperta, mais uma longa noite de sonhos, sonhos que me confundem e que acabam me tirando do eixo.

Procuro o vidro de shampoo e dispenso um pouco na palma da minha mão, o devolvo para a prateleira e espalho sobre os fios que atualmente escorrem até a altura dos meus ombros.

Aproveito a espuma e desço as mãos para minha barba mediana e esfrego a região com cuidado. Volto aos cabelos, espalhando um pouco de condicionador e enxáguo os fios com afinco.

Por fim, termino de lavar meu corpo, fecho o registro e puxo a toalha me secando brevemente, visto a cueca e enrolo a toalha na cintura. Torço um pouco os cabelos, retirando o excesso de água e com uma toalha de rosto seco-os um pouco.

Tateio a bancada do banheiro e encontro um pequeno vidro com uma tampa de bulbo e sei que é o balm para a barba, aplico um pouco sobre as mãos e espalho na região do rosto e logo o leve cheiro amadeirado e cítrico se espalha pelo ambiente.

Saio do banheiro e logo sinto a presença de Anny, uma das nossas colaboradoras, a mais antiga, por sinal.

— Bom dia, Anny! — Digo rapidamente e sigo em direção ao closet com o intuito de tentar não constrangê-la.

Depois de tantas histórias, a cegueira e o acidente, perdi completamente a vergonha sobre a minha nudez, mas tento evitar o constrangimento alheio.

— Aí está você! — Escuto a voz acusadora de minha mãe enquanto caminho em direção as roupas.

— Bom dia, mamãe! — Respiro fundo enquanto tateio as placas em Braile tentando encontrar o que procuro.

— Já separei uma linda roupa para você. — Escuto sua voz açucarada e abro um sorriso.

— Aposto que é um terno e gravata azul. — Respondo enquanto tiro uma calça jeans preta.

Retiro a toalha da cintura e apoio no móvel enquanto entro na calça sem dificuldades.

— Meu filho, você não deveria andar expondo esse belo corpinho por aí! — Escuto a gargalhada da senhora Chloe e abro um sorriso.

— Pobre Anny! — Retruco enquanto visto uma camiseta preta e por cima uma blusa de manga longa de tecido de linho também na cor preta.

— Ravi não faça isso! Ela é casada, se o marido dela descobre pensará mal dela! — Ela ri enquanto tenta manter o tom de preocupação.

— É como digo, se não quer ver estrelas, não olhe para o céu! — Devolvo enquanto borrifo um pouco de perfume.

— Você é um convencido, isso sim! — Ouço os passos de minha mãe pelo ambiente e sei que ela está ansiosa.

— Pode pegar aquelas botas pretas para mim? — Peço enquanto me apoio novamente no móvel e calço as meias.

— Claro! — Ouço seus passos largos e respiro fundo.

Depois do acidente, a cegueira veio com tudo, mas se estabilizou, uma doença que gradualmente ia consumindo minha visão e agora estabilizamos, vejo poucos vultos e a luminosidade e sou extremamente grato por isso.

Agora com um ano de recuperação quero voltar a minha vida, aliás já voltei boa parte dela, o trabalho, as aulas, mas quero um ambiente mais privativo, sem minha mãe escolhendo minhas roupas como um garotinho.

Calço as botas e amarro os cadarços notando o silêncio da mulher ao meu lado. É difícil para ela também, mas quero que ela e meu pai vivam anos dourados e não fiquem cuidando o tempo todo do filho cego.

— Ravi… Você tem certeza? — Ouço seu tom receoso e me aproximo dela.

— Quero minha independência, mãe, sempre sabíamos que podia acontecer, me preparei para isso, uma pessoa para guiar tudo é o que preciso. E assim não sou um peso para vocês. — Toco seu ombro com carinho.

— Um filho nunca deve ser um peso para os pais, para de falar essas coisas ridículas! — Sua voz chorosa me mostra que ela está mais sentida do que eu imaginava.

— Eu sei, desculpe. — Digo sincero. — O que acha de acompanhar de longe as entrevistas? Prometo que sua opinião será ouvida.

— Promete? — Sinto uma certa animação surgir e sorrio afirmando com a cabeça. — Oba! Vamos tomar café.

— Espera, me ajuda com minha pulseira aqui e pega meus anéis ali. — Aponto a bancada.

— Nunca perca isso, essa vaidade. — diz em tom suave.

Ela me ajuda com a pulseira e eu coloco os anéis. Penteio os cabelos e os prendo pela metade em um rabo de cavalo, deixando uma boa quantidade solta na região da nuca.

— Pronto.

— Ótimo, agora o café. — Chloe insiste ansiosa e me puxa para fora do quarto.

Saio do carro, ouvindo os passos da minha mãe que caminha ao meu lado. O caminho é sempre o mesmo, a vaga sempre a mesma, depois é só seguir o piso tátil direcional e entrar na cabine do elevador.

— Vou ao andar do mezanino, me espera em minha sala. — Digo assim que adentramos na cabine metálica.

— Hoje você está muito mandão! — Minha mãe reclama como uma criança me tirando muitas risadas.

— Estou mesmo! — Faço careta e saio do elevador.

Caminho sobre o hall e escuto a voz de Amber e de outra mulher. Sigo em direção do balcão da recepção, o volume das vozes vão aumentando.

— Nunca vi ninguém chegar tão cedo para uma entrevista, só você mesmo. — Ouço a voz de Amber. — Senhor Duham. — Sinto que ela se levanta.

— Bom dia, Amber e para a senhorita também. — Tento ser educado. — Tudo certo para as entrevistas? Não diga nada a elas.

— Bom dia. — ouço a voz da outra pessoa que a acompanha.

— Bom dia, pode deixar! — Amber responde, concordo com a cabeça e me viro em direção ao elevador.

Em minha sala tento organizar tudo para iniciar as entrevistas, procuro uma assistente e talvez uma amiga, mas outros setores também precisam de secretárias e eu gosto de fazer as entrevistas.

As duas primeiras são um tanto monótonas, a primeira parecia um tanto perdida, não daria certo para nenhum setor, sem currículo, muito confusa, ouso dizer que parecia bêbada.

A segunda foi totalmente o oposto, a mulher parecia um relógio, Matilde é a perfeição em pessoa, minha mãe adorou a eficiência dela, vamos mantê-la como uma possibilidade, mas eu particularmente achei ela muito fria e silenciosa.

A próxima é com uma senhora, Clair, observo seu currículo e possui uma boa formação, ótimas referências, mas há uma pausa de quase sete anos… interessante.

Assim que autorizo sua entrada, um leve cheiro de alfazema invade um ambiente e a imagino como uma mãezona.

— Bom dia, senhora Clair. — Saúdo com firmeza.

— Bom dia! — Sinto seu receio.

Começo com algumas perguntas sobre ela, sobre seu modo de trabalhar e realmente gosto do jeito acalentador dela. Descubro que sua pausa de sete anos fora para cuidar do filho e entendo seu receio, deve ser difícil voltar ao mercado de trabalho após tanto tempo.

Infelizmente sei que não dará certo como minha assistente, pois tudo se transforma quando ela descobre a cegueira. Tudo ela diz com extremo cuidado e sinto sua ajuda em tudo, até para pegar a caneta, me sinto um tanto sufocado.

— Pois bem, obrigada por seu tempo. — Inicio brevemente. — O Rh irá entrar em contato com a senhora, solicitando documentos e algumas informações para oficializar sua entrada na empresa. — Sinto como ela fica feliz.

— Eu passei? — Sua voz soa emocionada e sinto que fiz a coisa certa, não para mim, mas Bryan vai me agradecer.

— Sim, você tem ótimas referências. — Sorrio. — Agora preciso ser franco, seu novo chefe é um meninão, não tente ser a mãe dele, coloque eles nos trilhos, lembre-se disso. Se for para ser mãe dele, que seja o tipo mandona e ele o filho que só obedece. — Ouço sua risada e acabo por rir também. — Escute o que digo e seja bem-vinda!

— Obrigada pelos conselhos, vou seguir a risca e muito obrigada por essa oportunidade! — Diz sincera e ouço ela se levantar.

— Tenha um ótimo dia! — Finalizo.

Aguardo que ela saia da sala e organizo os papéis em cima da mesa, ouço os passos da minha mãe se aproximando e volto meus olhos para a sua direção.

— Estou muito orgulhosa de você! — Noto sua emoção e sorrio levemente. — Temos mais duas entrevistas, você quer almoçar e depois terminar ou já finalizar e depois almoçar?

— Vamos finalizar tudo, assim almoço com calma.

— Certo, vou voltar ao meu lugar. — Chloe ri e volta ao seu sofá.

Autorizo a entrada da próxima candidata e assim que ela adentra o cheiro marcante de um perfume açucarado se instaura no ar.

Escuto mascadas de chiclete e penso onde estamos no metendo.

— Bom dia, senhorita Brittany! Como vai? — Saúdo enquanto tento procurar seu currículo em meu computador. — Não enviou seu currículo?

— Bom dia querido, estou muito melhor agora e você? — Sua voz soa açucaradamente forçada e sinto um ar de segundas intenções. — Aqui está! — Ela masca freneticamente e me entrega um papel brevemente amassado.

— Foi pedido que os currículos fossem enviados por e-mail. — Tento manter a calma.

— É que eu não sei mexer com essas coisas. — Brittany continua a mascar o chiclete de modo barulhento. — Mas sei mexer em outras coisas bem interessantes. — Sinto seu toque sobre a minha mão e puxo meu braço em direção ao meu colo.

— Olha, não estamos interessados. — Sou sincero.

— Como não? — A mulher se levanta e dá a volta se aproximando da minha cadeira. — Tem certeza? — Sua voz saiu quase como um gemido e eu me afasto com a cadeira no instante em que ela faz menção de sentar em meu colo.

— Senhorita, peço que se retire, por favor. Caso o contrário, terei que chamar os seguranças — Digo rudemente.

— Hupft! — A mulher resmunga e ouço seus saltos barulhentos ecoarem pela sala até a direção da porta.

— Senhor, que decote é aquele? — Escuto a voz chocada da minha mãe e caio na risada.

— Aposto que tinha uma minissaia!

— Uma micro saia você quer dizer, né? — Seu tom é ácido, mas me faz rir.

— Vamos à última. — Respiro fundo.

Autorizo a entrada da última entrevistada e aguardo pacientemente.

— Bom dia! — Ela saúda e me lembro da voz no mezanino.

— Bom dia, senhorita… — Procuro na mesa o papel com os nomes das candidatas.

Me surpreende o fato que ela espera eu procurar e não responde, como normalmente as pessoas fazem. Sinto que ela aguarda enquanto passo os dedos pelos pontinhos do braille.

— Jasmine. — Respondo com firmeza. — Estava no mezanino.

— Sim, nos vimos a pouco. — Sua voz soa tranquila, sem nenhuma pressa e ouso dizer com certa animação.

— Amber te recomendou para a vaga? — Pergunto enquanto abro seu currículo no computador.

— Quem?

— Amber, a recepcionista, vocês estavam conversando bem animadas. Ela te recomendou a vaga? — Repito a pergunta enquanto ouço suas formações.

— Ah, não. Não nos conhecemos antes de hoje, estava apenas tirando uma dúvida e sou um pouco falante e ficamos conversando assuntos aleatórios. — Sinto sinceridade em sua voz e sorrio brevemente.

— Entendo. Aqui diz que você é formada em administração com especialização em finanças, certo?

— Sim, certinho. — Sua voz soa meio vaga e volto meus olhos a ela e noto que ela parece observar a sala.

— Você fala três idiomas? — Digo realmente surpreso.

— Sim, inglês, coreano e italiano. — Diz animadamente.

— Coreano e italiano? — Pergunto realmente interessado.

— Sou descendente de sul coreanos, foi como minha primeira língua.

— E o italiano? — Digo enquanto tateio a mesa em busca de uma garrafa de água, sendo totalmente ignorado por Jasmine

— Bem, perdi meus pais com doze anos e fiquei em um orfanato, lá uma senhorinha italiana me ensinou. — Não noto tristeza em sua voz, mas sim o tom animado do início, o que me deixa tranquilo para continuar.

— Entendi… Espera, você tem vinte e quatro anos? E com especialização? — Finalmente consigo abrir a garrafa, o que me deixa muito feliz, pois normalmente alguém insistiria em abrir para mim, o que me deixaria bem desconfortável, e tomo um bom gole.

— Sempre gostei de estudar, assim que terminei a escola comecei a faculdade e não parei. — Sinto certa timidez em sua voz e afirmo com a cabeça.

— Ótimo, você tem ótimas referências dos professores… Uma pergunta fora desse assunto, posso?

— Claro, fique à vontade. — Ouço sua risada e acabo rindo também.

— Uma vez ouvi que quando pessoas orientais vêm para o ocidente, escolhem um nome para usar aqui, é verdade?

— Sim, às vezes escolhem algo que tem a ver com a família ou só um nome aleatório.

— E o contrário? Como você nasceu aqui, escolheu um nome para usar lá? — Pergunto realmente interessado.

— Ah, sim. Meus pais escolheram, é Yu-na, Choi Yu-na.

— Diferente… — Digo pensativo enquanto escuto seu sobrenome coreano. — Como escreve?

— Hm… Em braille é complicado... — Ok, ela notou minha condição, penso. — Porque o coreano em braille difere do inglês, os pontos, sabe? — Afirmo com a cabeça enquanto tento entender toda a sua movimentação. — Poderia me emprestar uma reglete e o pulsão? Vou te mostrar no nosso alfabeto.

Me surpreendo com a pergunta e até fico sem ação, abro a gaveta ao meu lado e pego uma mesa reglete¹ e um pulsão² e entrego a ela.

— Bem, vejamos… Choi Yu-na… — Ouço Jasmine dizer enquanto posso ouvir o barulho dos furos sendo formados. — Prontinho, leia. — Entrega a prancheta em minhas mãos e volta a se sentar.

— Ah, o sobrenome vem primeiro… — Digo enquanto realizo a leitura. — Yu..Na, diferente e bonito.

— Obrigada, viu? Sempre acabo em assuntos aleatórios como esse com as pessoas. — Ela aponta enquanto sorri e eu afirmo.

— Ver eu não vi, mas estou escutando. — Decido brincar um pouco com ela.

— Ah, não, você não é do tipo que fica fazendo essas piadinhas, é?

— Pode apostar que sim, rir é o melhor remédio. — Dou risada e ouço ela expirar fundo.

— Lá vamos nós... — Jasmine sussurra.

— Como aprendeu o braille? — Decido matar minha curiosidade.

— No orfanato, era um lugar bem bacana e eu aproveitei todos os cursos.

— Sente muita falta dos seus pais? — A pergunta escapa de meus lábios e eu me arrependo no mesmo segundo. — Desculpe.

— Fica tranquilo... — Sua voz está tranquila e ouso dizer que um sorriso leve está estampando seu rosto. — Sinto, como todo mundo, mas meus pais me criaram para o mundo, aproveitei muito com eles e penso que quero viver e orgulhar eles, por isso aproveito cada oportunidade.

— Muito bem, assim deve ser. — Sorrio ajeitando os papéis em minha mesa. — Realmente você foge dos assuntos, senhorita Jasmine.

— Eu, né? — Ela acusa e me fazendo rir.

— Senti uma leve acusação. — Aponto.

— Sentiu certo. — Devolve o tom.

— Pois bem, meu parecer final. — Digo em tom sério e o clima muda. — Finalize suas pendências com o Rh e bem-vinda a empresa!

— Ah! Sério? — Jasmine diz e se levanta abruptamente.

— Sério, caso esteja disposta a me aturar. — Abro um sorriso sacana.

— Puxa, vou ter que me esforçar. — Ela faz uma careta. — Mas tudo bem, muita obrigada pela oportunidade.

— Se esforce mesmo! — Sorrio. — Tenha um ótimo dia.

— Igualmente. — Ouço seus passos e aguardo enquanto ela se retira.

Fico à espreita, esperando a reação da minha mãe. Que entrevista foi essa?

— Vamos, mamãe diga algo. — Insisto.

— O que tenho para dizer? — Sua voz soa de modo rude e fico confuso. — Perdi meu filho! — diz de modo dramático. — Ela é tão legal que até eu queria uma assistente assim. — Minha mãe puxa meu braço e o balança como uma criança fazendo drama.

— Também achei, acho que é exatamente o que eu procuro.

— Quer uma descrição de como ela é?

— Não, vou descobrir sozinho. — Abro um sorriso presunçoso. — Vamos almoçar. — Digo e sigo em direção à saída.

— Como assim descobre sozinho? — O choque da minha mãe é hilário. — Ravi, volte aqui e se explique! — Ignoro seus gritos e aguardo o elevador.

Minha mãe se aproxima e sinto seu olhar fulminante. — Se explique! E eu não quero você andando nu pela casa.

— A casa é minha mamãe. — Cantarolo rindo.


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