Primeiro amor na casa ao lado

By camibrenner

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Jonathan Belchior era o que se podia chamar de um adolescente problemático, fumava e bebia sendo menor de ida... More

Avisos e informações
Primeiro beijo da discórdia
Te odeio (mas nem tanto assim)
Vicente não gosta de tomate
Vicente gosta de sorvete de menta e chocolate
Segundo beijo da discórdia
O primeiro momento em que Vicente se apaixonou
Terceiro beijo, dessa vez sem discórdia
A primeira confissão que Vicente recebeu na vida
O primeiro pedido de namoro que Vicente recebeu na vida
Baile de primavera
O primeiro eu te amo que Vicente recebeu na vida
Esse namoro não é mais um segredo
Quando Jonathan foi corajoso e inconsequente
A primeira vez de Vicente
Um show, uma troca de olhares e um reencontro
O dia em que Jonathan e Vicente tiver um felizes para sempre

Chocolate de Dia dos Namorados

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By camibrenner

Vicente e Jonathan tinham pegado no sono ainda dividindo a cama do hospital quando o pai do segundo apareceu depois de terminar sua cirurgia. Assim que viu os dois daquele jeito ficou um pouco confuso e então acendeu a luz para acordá-los. Vicente ficou envergonhado quando abriu os olhos e logo levantou, porém o outro não fez muito caso.

— Senhor Belchior — o cumprimentou sem jeito — Desculpe, acho que infringi as normas do hospital.

— Deixa disso — Jonathan deu de ombros — Estávamos assistindo a um filme e pegamos no sono, a cama é grande, qual é o problema?

O médico estava olhando de um para o outro e por fim decidiu que já tinha se incomodado demais naquele dia, então iria deixar aquilo passar. Avisou que se o filho continuasse bem, amanhã de manhã receberia alta e poderia ir para casa. Por fim, disse que estava indo e pediu para Vicente acompanhá-lo, o levaria junto. Como ele estava sem jeito, apenas assentiu e acompanhou o homem para fora do quarto, deixando o outro sozinho para trás.

O caminho até em casa foi extremamente silencioso e esquisito. O garoto até tinha tentado pedir desculpas por toda a confusão que causou, porém a postura do médico era um tanto fria e calada, nem sequer o olhava, então ele apenas se virou e ficou observando o céu noturno passar pela janela até que chegassem.

Quando entrou em casa, seus pais estavam assistindo televisão. Ele deu "boa noite", mas não recebeu nada em troca, por isso apenas subiu para o quarto. Ao se atirar na cama um tanto exausto, Vicente estava com um peso no peito que o destruía, sentia que tinha magoado seus pais, tinha feito seus vizinhos sofrerem e tudo isso era sua culpa. Por mais que pensasse sobre isso, só conseguia sentir que era errado, que era defeituoso. Se tivesse nascido "certo", seus pais se orgulhariam e o pessoal da escola não iria atormentá-lo. Porém ele não era assim e sabia que nunca conseguiria ser, era impossível se forçar...

Havia uma lágrima escorrendo por sua bochecha quando pensou no vizinho. Como se fosse uma cura para o seu coração, ele conseguiu ouvir suas palavras em seus ouvidos novamente:

"Existem várias pessoas que gostam de você e ficariam muito tristes se soubessem que você está pensando essas coisas. Tem aquelas suas amigas da escola, e... eu".

Sem que pudesse controlar, seu coração acelerou de um jeito caloroso e um sorrisinho se formou em seus lábios tristes. Aquele era o exato conforto que tanto precisava, por isso em seu coração agora todos os seus sentimentos por Jonathan eram bonitos.





Na manhã seguinte, o pai de Jonathan foi até a escola e exigiu que os alunos que bateram em seu filho fossem expulsos, caso contrário iria tirá-lo de lá e espalhar para todos que aquela escola protegia delinquentes. Como era uma escola particular e com certo nome, não queriam ter sua imagem manchada, por mais que oferecessem bolsas de estudo e tivessem alunos de classe baixa, também tinham aqueles bem ricos e perder esses alunos seria terrível. Assim, aquele trio problemático foi "convidado a se retirar" da escola e não tinha outro assunto pelos corredores que não fosse esse. Quando ficaram sabendo que o motivo pelo qual Jonathan apanhou era para proteger Vicente, muitos tiveram que se conter quanto às provocações feitas ao garoto, já que ninguém mais queria ser expulso. Foi só por causa disso que ele teve um pouco de paz naquela manhã.

— Ele está inteiro? Jon é magro como um graveto, ele foi desmontado? — Kevin perguntou curioso.

— Por que ele não nos avisou? Eu teria ajudado a dar uma surra naqueles malandros — Jesse repetiu.

Os dois estavam cercando Vicente na sala de aula assim que ouviram sobre a confusão do dia anterior. Ele os assegurou de que o amigo estava bem — só tinha alguns hematomas e machucados — e que não foi possível avisar ninguém, tudo aconteceu muito rápido. Sendo assim, disseram que iriam visitá-lo na saída da aula.

O pai de Vicente estava parado na frente da escola assim como o combinado, tinha dado um jeito de sair do trabalho todos os dias naquele horário para buscá-lo. Kevin descaradamente pediu carona e o homem não teve como negar, não quando estavam indo para o mesmo lugar. Assim, Jesse e ele sentaram no banco de trás enquanto Vicente sentou ao lado do pai. Kevin não costumava andar de carro, fazia tudo de a pé ou bicicleta, então não parava de comentar coisas como "uau carro de rico é diferente", "esse carro cheira a riqueza", "quanto será que custa um carro desses?", até que Jesse deu uma cotovelada em suas costelas e ele se calou. O senhor Castello pensou que ele era um maluco, seu carro nem sequer era importado, apenas era novo. Aquele vizinho realmente andava com pessoas estranhas...

Jonathan estava sentado na cama comendo iogurte quando os três entraram. Sem que conseguisse controlar, seus olhos foram parar direto em Vicente, ignorando os outros dois. Por mais que não quisesse aceitar, estava esperando aquela visita.

— Não acredito que um magricelo como você sobreviveu — Kevin disse — Deixa eu ver os seus hematomas, adoro essas coisas.

— É isso que você tem a dizer depois que eu quase morri? — o outro levantou a perna para dar um chute nele, porém resmungou de dor.

— Aqueles caras foram uns covardes, mas seu pai já deu um jeito de expulsar eles — Jesse sentou na cama aos seus pés e logo se jogou deitado no colchão.

— Meu pai?

— Hum, seu pai falou com o diretor — foi Vicente quem respondeu agora — Aqueles garotos não estão mais lá... as coisas estão melhores.

Jonathan ficou aliviado ao ouvir aquilo, finalmente seu pai tinha usado sua influência para uma coisa boa. Kevin e Jesse ainda ficaram algum tempo por lá contando as fofocas da manhã e o provocando, até que precisaram sair para trabalhar. Por fim, apenas o vizinho ficou, ele colocou a mochila em cima da cama e tirou de lá três cadernos, que entregou para ele.

— Toma, são os conteúdos da aula de hoje, copie no seu caderno.

Jonathan não podia estar mais frustrado.

— Eu não copio o conteúdo nem quando estou na escola, por que faria isso em casa? — perguntou e o outro o lançou um olhar mortal e assustador — Estou com dor, estou com tanta dor — apelou para fazer manha.

— Você não vai me convencer com isso — Vicente foi firme — Suas notas não estão boas, você precisa copiar tudo. Eu vou voltar de noite para buscar.

Jonathan fez bico, aquela era a primeira vez que o outro o via assim, tanto que achou curioso e engraçado.

— Não sabia que você era manhoso.

— Me ajuda... Por favor — pediu — Me ajuda a copiar.

Além de estar realmente com preguiça, ele também queria uma desculpa para que aquele vizinho ficasse mais um pouco. Aquilo surpreendentemente fez o outro rir e o clima estava bom no quarto enquanto ele lhe dava bronca.

Naquele momento, seu pai estava subindo as escadas para verificar como ele estava quando ouviu o som da risada de Vicente do lado de fora. Assim como no dia anterior, ele ficou um pouco confuso antes de entrar e interromper o momento. Logo que o viu, o vizinho retomou a compostura, aquele homem sempre o deixava nervoso.

— O que está acontecendo aqui? — perguntou.

— Nada — Jonathan resmungou porque seu pai tinha atrapalhado um bom momento — Vicente veio trazer os conteúdos da aula de hoje.

— Copie tudo — o outro aproveitou a oportunidade para escapar — Eu volto para buscar mais tarde.

Dito isso, ele levantou para sair e Jonathan não pôde fazer nada para impedi-lo quando seu pai estava no quarto. Convencido de que não tinha o que fazer, ele apenas juntou os cadernos e se preparou para começar a copiar aquilo tudo. Seu pai não disse mais nenhuma palavra e se retirou depois de verificar que ele estava bem. No entanto, havia um clima estranho no ar...





Jonathan de fato copiou todo o conteúdo das aulas durante a tarde e depois de ter ficado o tempo todo na cama, decidiu descer para buscar algo para comer. Ele estava andando devagar pelas escadas para não sentir muita dor quando ouviu que seus pais conversavam na sala. Seus passos frearam no degrau e ele ficou parado no lugar enquanto escutava.

— Estou achando suspeito — o homem disse — Eles ficaram bem próximos do nada.

— Não foi do nada — a esposa revidou — Não foi o pai de Vicente que pediu para que nosso filho tomasse conta dele? Deve ter sido por isso.

— Eu sei, e eu sempre quis que os dois fossem amigos, mas agora... — o homem suspirou — Depois do que aconteceu, não quero que nosso filho fique perto daquele garoto, não quero que ele seja influenciado.

— Que bobagem, você sabe muito bem que ele já se meteu em confusão por causa de garotas no passado, ele não é como o Vicente, relaxe.

Jonathan engoliu em seco e se sentiu muito desconfortável ali enquanto sua cabeça rodava em preocupações. As palavras ditas por sua mãe pareciam uma navalha que tinha acabado de furar seu peito e de repente ele nem conseguia respirar.

Ele voltou para o quarto e se jogou na cama preocupado. Não era mentira, né? Sua mãe não tinha mentido. No passado, ele realmente já tinha tido problemas envolvendo garotas, todo mundo sabia que ele gostava de garotas, então por que ele estava se sentindo tão sufocado e assustado?

Isso era porque tinha sentimentos românticos pelo vizinho? Só de pensar sobre ele se sentia muito esquisito, como se não conseguisse se entender ou aceitar. Tudo era tão confuso que não sabia mais nada, só queria deixar de sentir essas coisas, mas era impossível.

Então ele estava apavorado.





O Dia dos Namorados era no dia seguinte e era tradição que os alunos da escola preparassem chocolates para presentear as pessoas que gostavam. Naquele ano, as amigas de Vicente estavam especialmente empolgadas, por isso tinham comprado chocolates e enfeites comestíveis para decorá-los. Como o garoto estava de castigo novamente, os quatro tiveram que se reunir na casa dele para prepará-los, por sorte seus pais estavam no trabalho e eles teriam privacidade para bagunçar toda a cozinha.

Melissa tinha comprado forminhas em formato de coração, estrela e flores e colocaria o chocolate nelas. Michaela tinha ficado responsável por derreter as barras de chocolate, enquanto Vicente e Emma seriam da equipe de decoração. Fazia muito tempo que o garoto não se divertia, por isso eles tinham colocado uma playlist pop para tocar enquanto usavam colheres para dublar suas cantoras favoritas. Uma das favoritas dele ultimamente era 'Overprotected' da Britney Spears, sentia que podia se relacionar muito com a letra, então estava sentado no balcão da cozinha cantando a plenos pulmões:

What am I to do with my life?

How am I supposed to know what's right?

I can't help the way I feel

But my life has been so overprotected

— Então, para quem vocês vão dar os chocolates? — Michaela perguntou quando a cantoria tinha acabado.

Embora fosse óbvio que aqueles chocolates estavam sendo feitos para alguém, ao ouvirem aquela pergunta, os outros três ficaram um pouco tensos.

— Todo mundo sabe que a Melissa vai dar o dela para o William Parlo — Emma deu uma risadinha e a outra a empurrou de leve com o braço.

— William Parlo? Aquele nerd que canta no coral da igreja? — Michaela fez uma expressão enojada.

— E o que temos de diferente? Eu também sou estudiosa e canto no coral da igreja — Melissa deu de ombros — O que eu posso fazer se não consigo tirar os olhos dele durante a missa? Me sinto até uma pecadora.

Os demais riram e Vicente a incentivou.

— Então vamos fazer uns chocolates bem gostosos para ele e amanhã vamos te ajudar a entregá-los, ok?

A garota assentiu e agradeceu a ele pela ajuda.

— E você, Vicente? — Michaela perguntou, seu nariz estava todo sujo de chocolate agora.

— Hum — ele ficou um pouco envergonhado — Eu estava pensando sobre isso e... depois de tudo o que aconteceu, queria dar os chocolates para o Jonathan, afinal de contas ele me ajudou tanto nos últimos tempos...

— Ah, é fofo — Melissa assentiu — Ele realmente merece.

Vicente pensou que suas amigas poderiam achar aquilo estranho, mas todas concordaram que o vizinho merecia por ter sido como um herói. Depois de tudo o que aconteceu, elas não falavam mais mal dele e até o tratavam como um ser humano agora. A única questão era que ele vinha afugentando uma porção de pensamentos, uns que tinha até medo de tentar entender. Jonathan era alguém pelo qual ele devia ter apenas sentimentos de amizade, depois de tudo pelo que passou não era sadio machucar seu coração novamente tendo sentimentos românticos por uma pessoa que claramente jamais os iria retribuir. Ele não era nem maluco de se apaixonar por um hetero...

— É claro que eu vou dar os meus para o professor de educação física — Michaela falou quando o outro voltou a prestar a atenção na conversa — Aquele professor ainda vai ser meu! — ela riu.

— Eca, ele é um velho! — Emma protestou.

— Ele tem vinte e dois anos, onde ele é velho?

— Velho para você que é menor de idade! Sabia que ele pode ser preso por pedofilia?

As duas começaram a discutir e Melissa teve que intervir.

— Não tem problema dar os chocolates ao professor — disse — Até porque isso é o máximo que vai acontecer. O professor nunca nem sequer olha para você — riu.

Michaela resmungou e começou a mexer o chocolate na panela com mais força do que o necessário.

— E você, Emma? Para quem a excelentíssima senhora perfeita e correta vai dar os chocolates? — ela provocou.

Ao ouvir aquela pergunta, a garota ficou um pouco sem jeito e desconversou.

— Para ninguém, eu mesma vou comer.

— Você está mentindo — Michaela pressionou.

Emma ainda titubeou um pouco antes de confessar que gostaria de dar aqueles chocolates para uma pessoa, era alguém do seu clube de corrida, que já estava lá há mais tempo, então tratava com respeito. No entanto, para a surpresa dos outros três, aquela pessoa era uma garota.

— O nome dela é Danielle — confessou e suas bochechas estavam bem vermelhas agora — Não tem nada acontecendo, ela é só uma garota gentil que me ajuda nos treinos, então...

— Hum, tudo bem — Melissa assentiu — Mas se você gosta dela, também não tem problema.

— Nós obviamente vamos te apoiar — Vicente acrescentou e Michaela assentiu sorridente.

Emma agradeceu a eles, mas afirmou que não era nada demais, então eles não insistiram. Por fim, depois que os chocolates estavam prontos e nos formatos certos, começaram a decorar e embalar para colocar nos saquinhos. Para quatro adolescentes que não tinham qualquer experiência com isso, o resultado até tinha ficado bom, estavam gostosos e com uma aparência fofa. Ainda tinha sobrado vários que foram embalados para eles mesmos comerem como sobras, e no fim daquela tarde todo mundo estava satisfeito.

Os pais de Melissa vieram buscá-las antes do anoitecer. Vicente ainda tinha tentado conversar com Emma sobre a menina do clube de corrida, mas ela não parecia estar pronta para se abrir sobre isso, então ele não insistiu. Por fim, quando elas foram embora, ele estava se sentindo bem. Quando olhou para os chocolates em formato de coração que tinha preparado para o vizinho, esperou que ele não fosse entender errado e que pudesse aceitar como uma gentileza. Embora estivesse envergonhado de ter que entregá-los, sabia que precisava fazer isso por gratidão e se esforçou para não pensar em mais nada...





No dia seguinte, os três amigos estavam observando enquanto Michaela ia até o professor entregar seu saquinho de chocolates caseiros. O homem agradeceu de forma simpática e ela correu até os demais saltitante.

— O professor aceitou o meu amor! — ela sorriu satisfeita.

— O seu e de outros cinquenta alunos né, você viu a quantidade de chocolate que ele estava carregando na bolsa? — Emma provocou e ela a empurrou de brincadeira.

Os demais eram mais discretos, por isso Melissa disse que iria sozinha, Emma avisou que entregaria os dela na aula de corrida e Vicente tentaria encontrar o vizinho no corredor. Sendo assim, Melissa foi até a sala de ciências que ficava no segundo andar da escola e bateu na porta com as mãos trêmulas. Um garoto abriu e ela pediu para chamar William Parlo, que apareceu em sua frente algum tempo depois. Ela estava muito tímida, por isso estendeu o pacote na direção dele sem nem sequer conseguir olhar em seus olhos.

— São para você...

O garoto olhou para ela, depois olhou para os chocolates e sua expressão não parecia boa.

— Não, obrigado — foi sincero — Não estou interessado em você, Melissa Bianchi.

Dito isso, ele apenas deu as costas e fechou a porta da sala, a deixando sozinha e frustrada no meio do corredor. O que tinha acabado de acontecer, tinha levado um fora desse jeito?

Para piorar a situação, ela ouviu uma risadinha vindo de não muito longe e quando se virou nem sequer conseguiu acreditar. Nada é ruim o suficiente que não possa piorar, foi o único pensamento que cruzou sua mente naquele momento.

Jesse Avelino, aquele colega que detestava, tinha visto tudo enquanto fumava descansadamente escorado na parede do corredor.

— Tenho que dizer que ele tem atitude — comentou — Mas foi meio babaca.

— Você pode fingir que não viu isso? — ela pediu.

— Não posso — ele riu.

Aquele era o pior Dia dos Namorados da vida dela.

— Ei, o que você vai fazer com esses chocolates agora?

Melissa olhou para o saquinho em sua mão e o atirou nas mãos dele.

— Fica para você, eu não tenho nem estômago para comer isso.

Ainda tentando manter sua compostura, ela deu as costas e saiu andando irritada. Jesse olhou para os chocolates em sua mão e comemorou, do nada tinha ganhado comida de graça, aquele era seu dia de sorte.

Além do mais, eram os chocolates que Melissa tinha preparado.

Enquanto isso, Vicente estava procurando por Jonathan e o encontrou parado diante de seu armário no corredor, pegando alguma coisa que certamente não eram os livros da escola — ele pensou que devia ser cigarro e revirou os olhos mentalmente. Ele estava prestes a se aproximar quando alguém foi mais rápido: era Karina, todo mundo na escola sabia que os dois tinham se pegado no banheiro de uma festa há algum tempo. Vicente freou no lugar e se escondeu para espiar o que ia acontecer.

— Fiz para você — Karina entregou uma caixa de chocolates diante dele.

Jonathan olhou para ela e resmungou.

— Você comprou no mercado.

— Que seja.

Ele ficou pensando se seria falta de educação negar, mas se aceitasse talvez ela fosse ter esperanças, não? E a última coisa que ele queria agora era se envolver com ela, tinha sido algo de apenas uma noite.

— Não gosto de chocolates — disse por fim — Desculpe.

Dito isso, ele saiu andando e a deixou sozinha no meio do corredor. Vicente olhou para o saquinho em sua mão e deu um longo suspiro, ele não sabia que o vizinho não gostava de chocolate... sendo assim, não iria negar o seu também?

Um pouco frustrado, ele voltou para a sala de aula para pensar no que iria fazer. Kevin estava lá e como sempre estava importunando um colega, jogando seu estojo de um lado para o outro. Ele conseguiu pegar o objeto no ar e acabou com a importunação, devolvendo-o ao garoto.

— Ah, você sempre aparece no pior momento — Kevin resmungou e então viu o saquinho na mão dele — Ei, você fez chocolate? Me dá um!

Vicente pensou sobre isso por um segundo, se Jonathan rejeitasse, aqueles chocolates seriam desperdiçados... no entanto, não queria dar aqueles para Kevin, então foi até sua mochila e pegou um potinho no qual tinha colocado os chocolates que sobraram e deu ao novo amigo. Ele ficou satisfeito e se grudou nele para poder comer todos os chocolates.

Depois que rejeitou Karina, Jonathan tinha ido ao banheiro e estava voltando para a sala de aula quando viu aqueles dois conversando e sorrindo um para o outro. Seus olhos se arregalaram ao perceber que Kevin estava comendo chocolates que estavam em um potinho na mão de Vicente. Ele entendeu em um segundo o que tinha acontecido: o vizinho tinha feito chocolates de Dia dos Namorados para o seu amigo. Então aquilo tudo não tinha sido só um beijo, será que ele tinha se apaixonado? Será que tinha se declarado? E se Kevin tivesse dito sim??? Será que estavam namorando???

Foi só quando alguém o empurrou para sair da frente que ele conseguiu se mexer e tropeçou para dentro da sala. A imagem de Kevin sorrindo enquanto comia os chocolates de Vicente o estava deixando maluco, ele ficou com medo de ter um surto de verdade ali. Para sua sorte, tudo o que conseguiu fazer foi ignorar aqueles dois e ir deitar na mesa do fundo enquanto seu cérebro o devorava por dentro com os pensamentos mais absurdos. Tudo o que conseguia imaginar era aqueles dois namorando e não sabia se seria capaz de aguentar...

Seu humor ficou péssimo pelo resto da manhã e não conseguiu prestar atenção em nenhuma aula, não conseguia parar de imaginar os dois de mãos dadas, sorrindo um para o outro, se beijando... ele estava a um passo de enlouquecer. Enquanto morria dentro da sala de aula, Vicente calmamente fazia anotações e levantava a mão de cinco em cinco minutos para responder a uma pergunta da professora, enquanto Kevin tinha dormido e babado todo o casaco do uniforme.

O que tinha se tornado?

Na saída, ficou enrolando dentro da sala porque não queria falar com o amigo, nem queria vê-lo, então deixou Jesse e ele partirem na frente. Ele estava teatralmente levando vários minutos para organizar o nada de materiais escolares que levava na mochila quando viu alguém se aproximar. Para sua surpresa, aquela pessoa era Vicente.

— Jonathan — o chamou um pouco sem jeito.

Ele ficou esperando o que iria acontecer e quando o outro estendeu um saquinho de chocolates em sua frente, seu coração até parou de bater no peito.

— Eu queria te agradecer por ter me ajudado tanto nos últimos tempos — ele disse um pouco envergonhado — Fiquei sabendo que você não gosta de chocolates, então se você não aceitar eu vou entender.

Sem pensar duas vezes, Jonathan pegou o saquinho de chocolates da mão dele, foi tão rápido que o outro até levou um susto.

— Eu quero! — disse e depois percebeu que estava agindo suspeito, então tentou disfarçar — Eu como, eu... eu vou comer — gaguejou um pouco — Obrigado.

Vicente piscou algumas vezes, ele não esperava aquele tipo de reação, ficou bastante surpreso. Ele iria comer? Então por que tinha dito para aquela garota que não gostava de chocolates?

— Ah, que bom — sorriu sem jeito — Que bom que gostou, eu preparei com bastante cuidado.

— Obrigado — o outro estava um pouco corado agora também.

Enquanto se olhavam, ambos perceberam que o clima tinha ficado um pouco estranho, por isso Vicente deu um sorrisinho e avisou que tinha que ir, seu pai estava esperando. Jonathan ainda ficou um tempo sentado sozinho na sala, olhando para o saquinho de chocolates como se nem conseguisse acreditar.

Vicente tinha lhe dado chocolates? Chocolates que ele mesmo fez? Chocolates de Dia dos Namorados? Seu coração parecia uma escola de samba no peito.

Ele estava quase saltitando no corredor quando viu os amigos parados na porta de saída da escola.

— Ei, o que você estava fazendo? — Kevin resmungou — Vamos logo!

— Por que vocês ainda estão aí? — ele não entendeu.

— Você acha que vamos te deixar voltar sozinho? — Jesse o puxou pelo braço — Se aqueles malucos aparecerem de novo, não vai sobrar um osso sequer nesse seu corpo magro.

Jonathan riu e agradeceu aos dois, por sorte tinha escondido seus chocolates na bolsa, assim ninguém iria saber que Vicente tinha feito chocolates para ele, era seu segredinho.

— Que chocolates você comeu no intervalo? — Jesse perguntou à Kevin enquanto eles caminhavam para casa e logo Jonathan ficou atento.

— Hum? Ah — o outro lembrou — Vicente que fez, ele me deu as sobras, estava gostoso.

SOBRAS??? AQUILO ERAM SOBRAS??? Jonathan parou de caminhar e não conseguiu segurar um sorriso enorme. Então Kevin tinha ganhado as sobras e ele tinha ganhado os que Vicente preparou com cuidado, decorou e até mesmo embalou? Ele estava tão feliz que podia gritar!

— O que é isso? Por que você está sorrindo como um maluco? — Kevin tentou entender.

Jonathan deu de ombros e disfarçou como se nada tivesse acontecido, agora estava se achando um idiota por ter sofrido a aula inteira imaginando cenários ridículos em sua mente. Kevin e Vicente não se gostavam, quem tinha ganhado o chocolate era ele. Por causa disso, ele sabia que iria ser feliz pelo resto do dia. 





Gente desculpa, sei que vocês tavam esperando esse capítulo faz tempo, mas eu fiquei doente (ainda tô) e não consegui fazer quase nada nas últimas semanas, mas pra me desculpar com vocês, vou postar mais um capítulo amanhã, ok? Espero que estejam gostando do livro :) Se puderem, recomendem pros amigos de vocês também ♡

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