Capítulo 5: Enfrentar a verdade de frente
──── ◉ ────
Você deve sentar corretamente!
Deve ser um bom cozinheiro!
Deve agir como um bom ômega lúpus!
Deve gerar bastantes filhos!
Filhos!
Filhos!
Filhos!
Acordando assustado, Jiang Cheng se sentou na cama de casal, olhando para o despertador sobre a mesa de cabeceira viu que marcava 03:00 horas da manhã. Voltou seus olhos para seu marido que dormia tranquilamente e logo se levantou da cama, no banheiro se olhou no espelho e viu seus cabelos bagunçados. Abriu o armário atrás do espelho com a intenção de pegar seu remédio para dormir, mas pensamentos o fizeram parar.
"Eu não estou fazendo a coisa certa, A-Huan também tem o direito de saber sobre isso. Mas e se ele não reagir bem? O que devo fazer? Devo esconder dele? Melhor não, se ele souber de outra forma será pior. É melhor eu mesmo contar a verdade antes que a situação piore", pensou.
Voltou para o quarto e se surpreendeu ao encontrar a luz acesa e seu marido sentando na cama com um olhar preocupado e o cabelo em perfeito estado.
- A-Cheng, aconteceu alguma coisa? De repente você saiu da cama...
- Eu estou bem sim... Eu só... - "Eu não devo mais mentir! Coragem, Jiang Cheng, vai dar tudo certo! O A-Huan não é doido de me largar só porque não consigo gerar um filho, certo?!", falava para si mesmo em pensamento. - Eu... A-Huan, nós precisamos conversar!
- Conversar? Sobre o quê, amor?
- Sobre mim... Sobre nós...
- Algo aconteceu nesses últimos meses?
- Como você...
- Eu não sei qual é o assunto, eu apenas suspeitei que algo estava acontecendo. Você estava agindo estranho.
- Hmn... - respondeu ainda mais inseguro agora. "E se o A-Huan souber, mas não quer me contar? Mas durante nosso namoro e casamento ele nunca mentiu para mim nenhuma vez, com exceção de quando queria me fazer uma surpresa", tentou especular.
- Que tal nós conversamos na sala? - ofereceu o alfa. - Talvez você se sinta mais confortável lá.
- Ok. - o ômega respondeu já saindo do quarto e foi seguido pelo marido.
Mas antes de chegar na sala, desviou seu caminho e pegou sua maleta cinza no quarto de hóspedes. Xichen estranhou o desvio mas nada falou e continuou seu caminho para a sala, se sentou e o gato apareceu para se esfregar em suas pernas, querendo carinho, o que foi dado com muita ternura.
O ômega chegou logo depois, colocou a maleta sobre a mesinha de centro e sentou-se ao lado do marido. Respirando fundo, abriu a maleta e pegou o papel já amassado com o emblema do hospital, o que foi notado por Xichen, que parou de acariciar o gato e se sentou devidamente.
- A-Cheng, o que é isso?
Jiang Cheng não responde e apenas estende o papel em sua direção.
- A-Cheng...
- Apenas leia de uma vez...por favor! - lentamente, Xichen pega a folha e já sentindo seus olhos encherem de lágrimas, o ômega vira o rosto para o outro lado para que seu marido não as visse caírem.
O silêncio da sala era uma tortura para Jiang Cheng, a insegurança aumentava cada vez mais e a dor anterior no peito voltou com mais força fazendo com que tivesse dificuldade para respirar e se sentisse sufocado. A formigação em suas mãos e pés ficavam cada vez mais irritantes, seus batimentos cardíacos estavam acelerados e sentia dores desconhecidas nas pernas, braços e pescoço.
Na tentativa de se acalmar, Jiang Cheng se levantou e foi para a cozinha e pegou uma garrafinha de água da geladeira. Tomou a garrafa inteira de uma vez e depois a jogou no lixo. Voltou para a sala e viu que seu marido estava com o olhar vago em um canto aleatório do apartamento.
Respirou fundo e se preparou para perguntar ao alfa o que pretendia fazer pois sabia que quando seu marido estava daquele jeito, queria perguntar algo. Os olhos de Jiang Cheng ardiam com a insistência das lágrimas de caírem, mas não querendo deixar as lágrimas caírem apenas fechou os olhos e respirou fundo novamente antes de abrir os olhos.
- A-Cheng, isso quer dizer que... - começou, olhando em choque para o ômega e para o papel em suas mãos.
- Desculpe... - engoliu um soluço deixando suas lágrimas finalmente caírem. - Há uns meses, eu fui para o hospital que o Mingjue trabalha porque eu queria saber o motivo de eu não engravidar pois nós tivemos relações desde o nosso namoro. Meu médico suspeitava de infertilidade então pediu vários exames.
- Quando começou os exames?
- Em junho.
- E quando recebeu o resultado?
- Há 3 semanas...
- A-Cheng, por que não me contou? Nós deveríamos passar por isso juntos desde o começo... Eu sei que não é fácil, mas eu me preocupo com você tanto fisicamente quanto mentalmente.
- Desculpe... - soluça - Desculpe por não te dar a oportunidade de termos um filho. Eu não queria isso... Eu juro!
- A-cheng, está tudo bem! - respondeu gentilmente.
- Não, não está tudo bem! - exclamou ficando em pé e indo para perto da porta da varanda, que estava fechada. - Você não sabe como é! Não sabe! Desde pequeno fui criado a ser o ômega lúpus perfeito. Em toda a minha vida pensei que conseguiria ser o que esperavam de mim, e agora isso acontece... É vergonhoso para mim! É vergonhoso não conseguir te dar um simples filho! É vergonhoso sonhar em ter um filho com alguém que amo e não poder! Estamos casados há 3 anos, você tem 23 anos e eu 20. Somos jovens, deveríamos ter nossos filhos! Durante a minha vida toda sonhei em ter um filho com quem eu amo, com quem me casei, mas eu não posso porque eu sou uma aberração!
- A-cheng, você não é uma aberração! - tentou se aproximar, mas Jiang Cheng se afastou.
- Sim, eu sou uma aberração! Como um ômega lúpus não pode gerar filhos?! Até o estúpido do meu irmão, que é um beta, conseguiu engravidar! - respira fundo - Você deve procurar outra pessoa, A-Huan, uma pessoa melhor que eu, alguém que lhe dê filhotes.
- Não, não quero! Nem agora e nem nunca porque a única pessoa que amei em toda a minha vida foi você, A-Cheng. Desde a primeira vez que te vi eu sabia que era minha alma gêmea. Não será por isso que irei me afastar de você, nós podemos adotar uma criança, A-Cheng!
- Mas não vai ser seu filho de sangue, A-Huan...!
- Não importa se é de sangue ou não, vou amá-lo como se fosse! Não importa o seu gênero, sexualidade, ideologia religiosa ou política eu vou amá-lo como ele realmente é! Você e nosso futuro filho serão tudo para mim... - falou, conseguindo aproveitar que o ômega estava surpreso, limpou seus rosto delicadamente e lhe beijou a testa.
- Desculpa por isso, por dúvida de seu amor por mim...
- Está tudo bem, apenas vamos se acalmar. - disse lhe dando um selinho. - Eu te amo, baobei!
- Eu também te amo, A-Huan! - respondeu com seus lábios bem próximos, lhe devolvendo o beijo e o abraçou. Jiang Cheng chorou, mas agora era de alívio e felicidade enquanto seu marido acariciava suas costas com um sorriso estampado no rosto.
Apesar de não conseguir cumprir seu dever como ômega lúpus, Jiang Cheng estava feliz pela compreensão do seu marido, por não abandoná-lo como outros alfas fariam. Mas se lembrou do porque se apaixonou por Lan Huan, ele não era um alfa comum. Era seu alfa! E mesmo depois de 3 anos de casamento, se apaixonava cada vez mais por aquele alto, lindo, compreensivo e maravilhoso alfa.
Logo após o ano novo adotaram seu primeiro filho, Lan JingYi, com apenas 3 anos de idade. Mesmo sendo uma família pequena, Jiang Cheng estava feliz e realizado, e principalmente, não se odiava mais por não poder conceber, pois às vezes palavras são melhores do que ações.
──── ◉ ────
Plot: suprimeShipper
Betagem: Psy_bl