12 dias até minha morte

By faehrin

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Você já imaginou saber o dia de sua própria morte? É assim que começa a história de Lucas: um garoto de 16 an... More

Prólogo
Dia 1
Dia 2
Dia 3
Dia 3.5
Dia 4
Dia 5 ou algo assim
Dia 6
Domingo a noite.
Dia 7
Dia 7, noite.
Dia 8
Dia 9
Dia 10
Dia 11.
Dia 12.

Dia 13.

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By faehrin

Ah...Olá?

Boa tarde diário. Não sei muito bem como escrever essas coisas mas...

Acho que é o melhor que posso fazer?

Muito prazer, diário do Lucas!

Me chamo Letícia, e imagino que você já deve saber muito sobre a minha pessoa, ou me conhecer pelo menos um pouco. O Luquinhas falava bastante de mim por aqui, não é?

Devo dizer que talvez eu esteja um pouco atrasada em escrever sobre este último dia (só duas semanas, nada anormal), já que o diário acabou chegando nas minhas mãos à pouco tempo, e, não querendo ser egoísta, mas acho que tinha direito de tomar alguns dias para ler.

Li cada coisinha escrita em você, querido diário. Sendo bem sincera, eu conhecia o Lucas muito bem, mas nunca pensei que todas aquelas vezes que ele passava pelos corredores, com este caderno em mãos, ele estaria escrevendo um diário. Ou melhor, um livro.

Agora faz bastante sentido as perguntas repentinas sobre "Como funciona uma crase?" ou "Qual a diferença entre porquê e por que?" no meio dos intervalos da escola. Ele realmente estava se empenhando muito em escrever algo bem feito.

Aquele palerma...

Li cada coisinha escrita em você, Lucas.

Eu considero esse diário como uma pequena parte que você deixou de si. Um fragmento de tudo que você era, sonhava e pretendia ser.

E para falar a verdade, isso machuca para um caramba. Ler cada adjetivo que você me atribuiu, desde os mais belos e ornamentados até aos mais bobos e engraçados, cada cenário onde estávamos juntos, que você descreveu da melhor maneira possível, mas perfeitamente até do que a minha memória poderia, e até diálogos que eu mesma mal me lembrava.

Ler tudo isso foi como um soco bem forte na boca do estômago. Ou até mesmo como um corte de um sabre de luz.

Sabe, eu fiquei indignada que você me descreveu como uma geek completa! Eu não sou tão fanática quanto você fez parecer!

Eu li cada coisinha escrita em ti, Luquinhas.

E chorei muitas vezes lendo cada uma delas.

Não faz muito tempo desde seu "Dia 12". Pensei tanto sobre, que acho que consigo descrever perfeitamente cada coisinha daquele dia. Como você, sabe?

Aquela manhã estava excepcionalmente bonita.

O céu estava lotado de nuvens. Mas não aquelas grandes e escuras, que ocupam todo o espaço e deixam o dia melancólico. Aquelas soltas, fragmentadas por todo o ar, que refletiam o sol em vários dos seus espaços, deixando lugar às cores de azul e amarelo que pintavam de manhã.

Você estava excepcional como o céu.

Estava vestido de maneira confortável, mas bonita. Sua calça era uma moletom preta, com os "fios de amarrar" saltados para fora, um casaco moletom branco com detalhes azuis da Universidade de Praha, que combinava com o exato tom de azul do céu e um par de tênis preto. Não cheguei a ver sua camisa, prestei muito mais atenção no seu rosto. Você estava contente, sorrindo, com o cabelo arrumado para o lado, corado nas bochechas. Você estava vivo!

Apareci na sua casa logo pela manhã. Meu medo de algo ter acontecido com você não era deste mundo, mal consegui dormir naquela noite. No momento que te vi, ali, em pé, vivo e respirando, o peso que eu senti caindo dos meus ombros foi ornamental.

— Bom dia rainha do m... — você tentou dizer, mas foi interrompido comigo pulando como um coelho no seu abraço.

— Não me assusta assim. Nunca mais. — Sussurrei no seu ouvido, apertando mais seu tórax. Seu perfume estava bem forte naquele dia.

Você sorriu de um jeitinho bobo, enquanto tentava processar o abraço repentino. Eu sei disso porquê você sempre gaguejava quando ficava sem jeito. Essas coisas você deixa de fora do diário, né Luquinhas?

Você estava todo animadinho com uma lista de coisas que planejou para o dia, pulava de um lado para o outro e me dava beijos cuidadosos de cinco em cinco minutos. Segurava um papel com a lista na mão direita, e carregava este diário na direita.

— Não pretendo escrever nada nele por hoje. Mas, sei lá, acabei me apegando um pouco ao caderno. — Afirmou, quando eu perguntei por que ficar carregando o trambolho de um lado para o outro.

Logo em seguida, fomos direto para o primeiro item da sua lista: A sorveteria de sempre.

Aquela que serve um café horroroso, e que tem um sorvete de morango totalmente industrializado. Nossa sorveteria.

Você pediu a mesma coisa que toda santa vez: sorvete de cookie. Como pode um sorvete de um biscoito cara? É literalmente baunilha com pedaço de biscoito espalhado!

Na mesma hora que pediu, você olhou para mim com uma cara de deboche, dizendo:

— Nem vem reclamar do meu sorvete de biscoito. Eu gosto! Me deixa! — Exclamou, sorrindo.

Mas agora um detalhe MUITO importante: você sempre destacou meu sorriso aqui. Então eu tenho muito lugar de fala e direitos de dizer que O SEU NÃO TINHA IGUAL!

Um sorriso sincero, que sempre trazia um ar de pureza, bondade. Independente de quando e porquê você sorrisse, era sempre a mesma energia, o mesmo tom, na mesma vontade! Com a mesma inocência dos seus olhos, que, castanhos como os meus, sempre me diziam que estava tudo bem.

Todas as vezes que eu lia algo sobre mim neste diário, eu lembrava das suas características. E, cara, que homem eu consegui viu...

Quem era Anakin perto desse?

Peguei meu sorvete de morango logo em seguida, que logicamente estava com um gosto bizarro de indústria, capitalismo e máquina processada de 1982. Mas estava bom.

Sentamos na nossa mesa: última mesa à esquerda, no lado de fora. Você sempre dizia que era o melhor lugar para ver o povo passear e talvez ver alguém caindo. E eu sempre disse que se alguém caísse seria você, já que você era um estabanado.

Tomamos nosso sorvete, enquanto você comentava sobre sua irmã, e como estava animado pelas notícias. De verdade, eu fiquei impactada no dia que você me contou. Impactada o suficiente para chegar em casa e dizer à minha mãe que eu teria uma cunhada, sem nem notar o quê eu estava dizendo.

— Eu me despedi dos meus pais agora pela manhã, sabe! Deixei uma cartinha escondida para eles no meu quarto, e logo quando eu saí eles estavam pulando igual malucos ouvindo Spice Girls de novo! — Comentava, sorridente e risonho. Você estava mais animado do que o normal naquele dia. Bem mais animado!

Eu, pelo contrário, estava caindo aos pedaços. Sem dormir, com mil pensamentos à mente e extremamente preocupada, mal conseguia focar direito em comer meu sorvete. Mas seu jeitinho único de pegar minha atenção estava funcionando muito bem, já que eu mal reparei que essa nossa pequena conversa tinha durado horas.

Tudo que você comentou sobre sua partida naquele dia foi de forma leve e descontraída. Eu sei que você tentou evitar, mas quando o assunto vinha à tona, parecia que...

Parecia que você estava conformado.

Ou, sabe, apenas tentando viver tudo que tinha restante. Era isso, não era?

Fomos direto para a farmácia, que era perto da sorveteria. Pegou sua lista em mãos, olhou para mim, com o canto do lábio sujo de sorvete, e disse:

— 'Pra' relembrar os velhos tempos! Ou melhor, velhos machucados... Bora só comprar alguma coisa, rir da minha cabeça oca e ir para a próxima!

Ri sinceramente do "cabeça oca". Ainda não acredito que você bateu a cabeça caindo de um muro. Tem que ser muito burrinho!

— Tudo bem, príncipe! Comande o caminho! — Brinquei, beijando-o no canto dos lábios, exatamente onde estava sujo de sorvete. O garoto ficou sem rumo

— Co-comando s-sim Senhora! Onde é a esquerda mesmo?

Compramos dois pirulitos, um saco de balas Fini de dentinhos e um desodorante (ele disse que eu precisava porque era fedida. Olha a audácia desse garoto?!).

Caminhando e comendo, já fomos direto para o próximo "objetivo" (é assim que ele gostava de chamar, como se fosse uma missão. E admito que eu amei isso): Almoçar no shopping e pegar um bichinho naquelas máquinas mercenárias.

Obs. Ele disse que tínhamos de pegar CUSTE O QUE CUSTASSE.

E lá fomos nós na odisseia de pegar um bichinho de pelúcia.

Nem tenho o que contar sobre o almoço, já que você decidiu que era extremamente válido comer em DOIS SEGUNDOS e correr até aqueles brinquedos!

E, lógico, eu fui com você! Almocei mais rápido ainda, inclusive, enquanto te zoava de lerdão e disse que iria roubar a pelúcia.

Você respondeu, irritado:

— VOCÊ NUNCA VAI ROUBAR O JEREMIAS!! — Detalhe, ele tirou esse nome de lugar nenhum. Só decidiu que era Jeremias e começou a correr em disparada até as máquinas.

Corri animada logo atrás. Seu ânimo estava me deixando eufórica, e tudo que eu pensava era em pegar o Jeremias, seja lá o que o Jeremias fosse.

Você tentou pegar um unicórnio, e falhou miseravelmente nas doze tentativas. Eu, no contrário, sou uma mulher guerreira, e desisti de pegar uma foca lilás na oitava.

Depois de torrarmos quase todo nosso dinheiro e ainda não ter conquistado o bendito Jeremias, você me olhou com braveza e felicidade.

— Eu vou pegar um desses agora! — Disse, levantando do banquinho da derrota que encontramos, e foi imponente até a máquina. Colocou seus dois reais com toda a fúria do seu corpo, e usando de todos os poderes de animes, séries, filmes e livros que poderia, você pegou um porquinho sem o olho esquerdo.

Corri ao seu lado.

Tiramos o porco da máquina, segurando— o com uma mão cada, erguemos para cima, e gritamos do fundo dos nossos corações:

— VITÓRIA!!!!!!

E sentamos ao lado da máquina, como um gesto de cansaço, enquanto observamos o porquinho.

— Let, quero que você fique com o Jeremias! — Exclamou, me olhando caridosamente.

— Mas foi você que pegou ele! E você também deu o nome, poxa! Não vale, eu consigo pegar um também.

— Let. Você sabe que não faz sentido eu ficar com ele. — Afirmou, ainda me olhando caridosamente. Respirei fundo. Senti duas lágrimas se formando nos meus olhos.

Naquele momento não. Por favor, ali, não.

Tudo que eu menos esperava era me lembrar daquilo, justo ali. Justo agora.

Mas não tinha como fugir. Já era de tarde, cerca de 15 horas, o dia chegava cada vez mais perto do fim. Por uma parte, era um alívio imenso. Por outro lado, eu estava com medo. Medo de que, a qualquer momento, pudesse acontecer aquilo.

Eu tinha feito um plano diário. Algo bem fraco, que sinceramente, pensando agora, é bem idiota. Ainda mais depois de ler a forma que o Luquinhas deixou escrita aqui no livro. Mas, foi o melhor que eu pensei naqueles dias, e admito que peguei a ideia de algumas séries que eu via.

O princípio era simples: enganar o Lucas, fingindo que eu morri. Encontrei alguns livros antigos na biblioteca, coisas nada com nada, mas que me deram um impulso inicial para pesquisar na internet e ver coisas parecidas por aí. Descobri que, talvez, eu pudesse evitar que um "evento de marco" pudesse acontecer, impactando o tempo da mesma maneira. Na prática, eu ainda imagino que pudesse dar certo, se a Sofia não tivesse se intrometido e contado pro Lucas.

Eu entendo o lado dela. Eu a odeio atualmente, não consigo olhar na sua cara desde o dia que ela me contou que havia contado para o Lucas. Também não consigo admitir olhando nos olhos dela, mas eu sei que era uma ideia super idiota.

Mas eu queria tentar.

Tinha tudo ajeitado: o lugar que eu iria escorregar era específico, e que não oferecia perigo algum. Só precisaria cair do jeito certo, e não teria nada demais. Tinha, sim, uma chance de acontecer alguma coisa, mas e se não acontecesse? E se eu tentasse e mesmo assim ele morresse? Pelo menos eu poderia dizer que tentei algo.

Eu preciso desse sentimento. Dessa sensação confortável de dizer que eu tentei.

Da máquina de brinquedos, ele disse que queria ir aos nossos lugares especiais.

E, claro, eu já imaginava onde seria. E fiquei animada, mesmo prestes a estourar. Acho que ele sugeriu aquilo, naquele momento, exatamente por saber que eu precisava. Ou porque ele precisava.

Fomos andando até a lagoa dos patinhos.

Ela estava magnífica, como sempre. A luz do sol, dentre as árvores, iluminava o exato lugar que tentamos nos beijar naquele dia, e que falhamos miseravelmente por conta do pato. Admito que ri muito, enquanto chorava, quando li sobre esse momento.

"Quando eu escrevi sobre esse lugar no diário, disse que as flores decoravam ainda mais o chão e a lagoa no centro. E toda vez que eu venho aqui, vejo mais flores novas e coloridas em cada pedacinho. Acho que é porque toda vez que eu venho aqui, a gente tá junto, ou eu tô pensando em você. É muito clichê dizer isso?"

Você disse, olhando nos meus olhos, sorridente como sempre. Passava a mão pelo meu rosto, sabendo que eu estava com a mente em vários lugares diferentes. Você parecia tão calmo. Estava tudo tão tranquilo. Seu tom de voz não fraquejava nenhuma vez, você parecia não ter a mesma vergonha de demonstrar carinho por mim, e cada movimento seu era confiante e ágil, como se você soubesse exatamente o quê estava fazendo em cada passo.

Eu queria muito saber o porquê. Normalmente, eu era a decidida do casal. Naquele dia, parecia que nossos lugares tinham sido trocados, e você me protegia da verdade que você lutava contra por todo aquele tempo.

Eu aproximei meu rosto do seu, com lágrimas expostas nos meus olhos, pedindo por um beijo. Nossos beijos estavam se tornando comuns aos poucos, e parecia que minha boca clamava pela sua de tempos em tempos. Naquele momento, eu precisava de um desses beijos. Aqueles que acalmam. A hora passava.

Você beijou meus lábios com delicadeza. Desde a primeira vez, quando estávamos tensos e eufóricos com a situação, eu sentia o respeito e o amor que você tinha por mim a cada toque. Desta vez, não foi diferente. Estávamos em pé, na luz quente do sol, próximos ao lago. Dessa vez, não havia pato nenhum.

Você acariciava meu cabelo, e parava nosso beijo lento, de tempos em tempos, para me dizer que estava tudo bem. Tudo isso só me deixava mais fraca. Imponente. O quê eu poderia fazer se você morresse ali, nos meus braços? Como eu poderia dormir nos próximos dias, se meu maior amor morresse quando eu estivesse mais viva do que nunca?

Aos poucos, eu me permitia chorar. Parávamos de tocar nossos lábios para tocar nossas cabeças em nossos corpos. Você me apoiava no seu peito com força, tentando me consolar de algo que ainda não havia acontecido. Não sei o porquê, mas cada momento que você demonstrava serenidade, meu desespero aumentava.

A sensação que eu tinha, era de que você tinha aceitado. De que estava tudo bem em ir. E não estava, nunca esteve. Nunca esteve.

Depois de longos minutos, que para mim, pareceram horas, você ergueu meu rosto do seu casaco, que estava todo sujo de lágrimas e secreção de nariz, e disse:

— Está tudo bem, Let. Vai ficar tudo bem.

Eu não consegui responder na primeira vez.

— Vamos para nosso outro lugar? Eu não sei quanto tempo eu ainda tenho.

— N-não fala isso. Voc... — tentei discutir, dizer que ainda teria outras opções, mas ele me interrompeu.

— Não vamos discutir isso agora, não é? Vamos lá, é aqui perto. Queria ver o pôr do sol com você, princesa.

Sequer pensei em contrariá-lo. Olhei dentro de seus olhos, tentando observar algum medo escondido, algum sentimento ruim que ele poderia estar escondendo de mim. Ele me encarou com felicidade. Vividez.

Entendi o seu recado, e segurei seus dedos com minhas duas mãos.

— Vamos lá! — Sorri. Forcei um sorriso de felicidade, ânimo, por estarmos indo para nosso lugar favorito juntos. Aos poucos, o sorriso foi sincero, junto a lágrimas mais sinceras ainda.

— Eu já te disse que eu amo seu sorriso? — Você pontuou, surpreso com minha reação.

— Algumas mil vezes! Mas pode falar mil e uma, eu gosto! — Brinquei, enquanto puxava seu braço e andava em direção ao nosso morro.

Em pouco tempo, o suficiente para o começar do pôr do sol, estávamos sentados naquele banquinho de madeira, com a vista para toda à cidade.

Você olhou para aquela vista, maravilhado, e disse:

"Uau! Olha como dá para ver tudo lá embaixo! A gente devia ter vindo aqui mais vezes, o pôr do sol desse lugar é lindo! Se eu estivesse escrevendo agora, diria que um pintor parecia pincelar o céu com as cores mais vívidas disponíveis na sua paleta, dando destaque ao laranja e amarelo, que decoravam o céu e as nuvens! Olha quantas nuvens!"

Eu amava seu jeito animado de descrever as coisas que você gosta. E sei que você pegou isso um pouco de mim, já que eu tomava metade do seu tempo para contar histórias de filmes e séries. Agora, quem me contava a história era você, meu amor.

Sentamos, e você tentava me distrair, contando como descreveria algumas coisas do seu dia se estivesse escrevendo agora. Eu prestava atenção com todo carinho.

"Eu diria que nosso beijo no lago foi mágico! Descreveria a sensação de tocar a sua boca com um queimar pacífico do meu sangue, que percorria pelo meu corpo, mas carregava a sensação de paz. Sei que aquele momento foi difícil, mas, pensando agora, o que mais eu poderia pedir do mundo? Dessa vez nem um pato tinha lá para me atrapalhar!"

"Também diria nossa trajetória até aqui! Como subimos o morro contando piadas, histórias de quando lutamos com pedaços de papel e até faria alguma referência à Star Wars ou qualquer série de filmes que você ama! Provavelmente eu também descreveria como meus sentimentos estavam, como eu estou. Provavelmente eu diria que estou vivo! E é bem clichê, já que eu coloquei isso em praticamente todas as últimas páginas, mas a sensação de que tudo pode acabar me deixa ainda mais perto do início!"

As últimas falas me afetaram. Sim, eu sei, eu estava um pouco mais emotiva que o normal.

— Lucas. Você não está com medo de...

— Estou. Bastante, na verdade. Mas uma vez meu pai me disse que o medo é normal do ser humano. Acho que basta aprender o quê fazer com ele.

— E o que você pretende fazer com ele? — Questionei, respirando fundo.

Você se levantou do banco, aparentemente feliz pela pergunta. Levou as mãos no bolso de trás da calça e pegou algo escondido. Parou em minha frente, sorridente, enquanto encarava meus olhos.

Eu pensei que só podia estar brincando.

Você se ajoelhou na minha frente, com os olhos carinhosos encarando os meus com compaixão. Lágrimas surgiam nos seus olhos, e notavelmente não eram lágrimas de dor ou chateação. Eu via sua felicidade. E eu sabia o que você iria dizer, pois em seguida comecei a chorar pelo mesmo motivo.

— Letícia, minha princesa e amor da minha curta vida. Você aceitaria, nesses nossos últimos momentos, namorar comigo? — Questionou, mostrando uma pulseira de miçangas preta e branca, como sua roupa. Em uma das miçangas, tinha a letra L estampada em caixa alta.

Meu coração acelerou em disparada. Sentia o pulsar bater no abrir de minha boca quando fui aceitar seu pedido. Já não continha mais as lágrimas, que agora eram de felicidade genuína.

Levantei abobada, pulando no seu abraço. Variava entre dar beijos rápidos nos seus lábios, na bochecha e no pescoço e voltar ao abraço. Ele seguia meu ritmo, balançando enquanto segurava meu tórax.

— Eu tenho uma namorada! — Exclamava, animado.

— Eu tenho um namorado! E o melhor de todos! — Gritava em conjunto, anestesiada pela situação.

— O melhor eu não diria... eu ganho do Anakin?! — Brincou, fazendo careta.

— Lógico que ganha, seu bobo. De mil à zero! — Exclamei!

— Eu te amo! — Berrou, enquanto me beijava profundamente.

Ouvi um barulho de galho quebrando, e com o canto dos meus olhos, vi Gabriel saindo do fundo de uma moita. Entrei em choque, não sabia que ele apareceria tão cedo, para completar o plano. Eu estava longe do lugar que imaginei, se ele me empurrasse dali, não saberia como me segurar.

Parei o beijo para tentar olhar para o lado, mas Lucas segurou meu rosto com a mão esquerda, e disse:

— Relaxa, ele não vai te empurrar.

Em seguida, senti um banho de água sendo jogada em cima do meu corpo. Água fria, daquelas bem geladas de torneira, deixando eu e Lucas completamente ensopados.

Não estava entendendo nada.

Você começou a rir, enquanto Gabriel parecia confuso atrás do banco.

Olhei para Gabriel furiosa, sem entender o que tinha acabado de acontecer. Foi quando você disse:

— Boa Gabriel! Não soube qual dos dois era por causa dos casacos e jogou água nos dois direto, né? — Questionou, com um sorriso engraçado.

— Que? — Questionei, confusa — Como você sabia...

— Eu sou um gênio né, amor. Eu sabia da sua ideia idiota, e consegui falar pro Gabriel que "os planos tinham mudado", e que ele iria "atrapalhar algo importante pra mim". Foi engraçado, vá!

Encarei-o com raiva, depois calma, e em seguida felicidade. Ele tinha feito Gabriel nos dar um banho, ficando completamente ensopado, ao invés de me empurrar lá para baixo. Comecei a rir junto com ele, de um momento que pareceu tão calmo.

E, sem motivos, ficou desesperador.

Gabriel gritou algo com o Lucas, dizendo que ele só o fazia de trouxa, e arremessou o balde. Lucas, rindo, só deu um passo para trás ao ser atingido. Eu ria junto com ele.

A terra estava molhada por conta da água, e estávamos perto da beira porque o Lucas tinha ficado me rodando.

Você continuava rindo, quando seu pé traseiro escorregou.

Fui de risadas sinceras, para um grito desesperador pelo seu nome.

Vi seu rosto desaparecer de minha frente em questão de segundos, e vi seu calmo sorriso cair de cima do nosso lugar predileto.

Gabriel gritou desesperadamente por você, correndo até o lado do morro para conseguir descer e te procurar.

Algumas horas depois, você foi encontrado.

Os médicos disseram que você morreu na queda, provavelmente sem sentir dor alguma. Você segurava seu diário com os dois braços.

Eu não quis ver seu corpo. Me recusei à ir ao hospital. Sequer consegui ir para casa. Naquela noite, eu deitei na nossa lagoa, e chorei por horas. Horas. E mais horas.

Por todo aquele tempo, eu sentia que você poderia simplesmente aparecer atrás de mim, dizer que conseguiu, e que estava vivo. Eu rezava por isso.

Fiquei mais algumas horas sentada no lugar do nosso beijo, encarando o exato ponto que eu te imaginava aparecer.

Você não apareceu.

E logo, os dias passaram.

As horas de choro, se tornaram comuns. Aos poucos, chorar se tornava uma tentativa falha de luto. Já não sentia que ajudava quase nada.

Sofia me contou sobre aquilo dois dias depois. Ela parecia tão abalada quanto eu. Dizia que sentia muito, mas que tinha ficado com medo de me perder por nada. Nunca gritei tanto com alguém. Disse coisas para ela que eu me arrependo agora. Como daquela vez que te disse coisas horríveis na escola.

Espero que ela possa me perdoar, como você me perdoou, por mais que eu a odeie por não ter me deixado sentir esse conformismo.

Você morreu sorrindo, meu amor.

Isso não consegue sair da minha cabeça.

De todas as formas que você descreveu nesse livro sobre a morte, de todos os medos que você poderia ter sentido, receios, ansiedades, você morreu sorrindo.

Você morreu com o mesmo tom de felicidade que dizia buscar para sua vida, no primeiro dia.

Depois de ler seu diário, depois de ler cada coisa que você escreveu para mim, eu sinto como se você ainda estivesse aqui. Ainda olhasse para meus olhos e meu sorriso da mesma forma de antes. Ainda ouvisse minhas histórias sobre Star Wars ou qualquer coisa do tipo.

E é por isso, meu bem, que eu precisei escrever este dia 13.

Seus pais também leram seu diário, e vieram conversar comigo. Eles pareciam muito abalados, mas, depois de lerem suas palavras e sua carta, meu bem, acho que eles se sentiram amados como você quis amá-los.

Nessa mesma conversa, eles disseram que queriam realizar o único sonho que você disse ter, em relação ao seu futuro: ser escritor.

E aqui estou eu, meu bem, terminando a sua história. Terminando o "12 dias até a minha morte".

Não foi fácil, eu admito, mas só de imaginar que você vai ter um livro publicado, contando sobre como você superou a morte e inspirando mais pessoas a fazerem o mesmo, me dá forças.

E acho que este é o melhor final para sua história, pois, no fim, meu amor, você conseguiu exatamente o seu objetivo:

"Se eu vou morrer nestes 12 dias, eu quero deixar apenas memórias boas. Memórias que, após a minha morte, vão ao menos deixá-la feliz. Agora que tenho alguém que confia em mim, não posso falhar, em momento algum."

Você não falhou, meu bem. Deixou memórias lindas para cada pessoa que passou por sua vida, e por cada pessoa que ainda há de saber de sua odisseia!

Os últimos doze dias da sua vida, foram os melhores da minha.

E eu aprendi, assim como você, quão bela é a vida. E quão bem ela merece ser vivida.

Você vai inspirar pessoas, assim como me inspirou!

Eu vou cuidar muito bem da Isabella, eu prometo!

Eu te amo, Lucas Faye.

Dia 13 de 12 dias até a minha morte.

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