Misty (Girl's Love)

By LidFlower

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(Obra Em Andamento) Títulos da obra: Misty; Nebuloso. Autora: LidFlower. Gêneros: Drama, fantasia, romance, a... More

Aviso
1 - O azul dos olhos medonhos
2 - A maciez daqueles belos lábios
3 - Vermelho como o vinho
4 - Os padrões espiralados
5 - As criaturas da montanha
5.1 - Extra: As íris azuis na pele alva
6 - Bondade justificada
7 - A pele morena refletida sob a luz
8 - O brilho cintilante das estrelas
8.1 - Extra: Os traços negros como azeviche
9 - O sorriso da beleza
10 - O homem espalhafatoso
11 - Desenterrando memórias
12 - Lembranças
12.1 - Extra: Sacrifício
13 - Artefato
14 - Os brincos perolados
15 - Luz e água
16 - A beleza da natureza

14.1 - Extra 4: Treinamento

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By LidFlower

"Faça de novo!" Uma voz suave, porém exigente, soou em meio à ventania gelada que trazia consigo pequenos flocos de neve.

Lyna suspirou, um suspiro quase resignado, e tentou novamente. Havia feito aquilo quase uma centena de vezes, mas a única coisa que conseguia produzir era uma pequena faísca sem calor. No começo, estava feliz que conseguiu sentir magia dentro de si com sucesso, Meish estava certa, ela tinha magia o tempo inteiro, sempre esteve lá, escondida em seu interior, apenas para ser descoberta e sentida por ela.

Conseguiu manipular o formato de pequenos flocos de neve, transformando os cristais em minúsculas flores de gelo, às vezes criava uma folha, ou o que quer que estivesse em sua mente naquele momento. Mas quando tentou fazer o mesmo com coisas maiores, não conseguiu manter o controle, frequentemente havia uma explosão de flocos de neve ou de faíscas, ela definitivamente estava longe de concluir a tarefa que Meish havia lhe dado.

Elas estavam naquele lugar há dois meses, e ela estava vendo um lado de Meish que nunca imaginou que esta mulher teria, Meish era exigente e rigorosa quando se tratava de ensinar, a gentileza ainda estava lá, mas a mulher não hesitou em passar todos aqueles dias treinando Lyna, a rotina de Lyna se resumia em acordar, comer, treinar, então fazia uma pausa para o almoço e logo voltaria a treinar.

Meish, por outro lado, não tinha o hábito ou necessidade de dormir, e passava as noites meditando e reunindo sua energia para fortalecer seu corpo e sua magia, vez ou outra ela se aproximava de Lyna, que dormia na cama confortável, tocava-lhe os braços e absorvia o que podia da maldição. Mas era apenas aquilo, ela sabia que se beijasse a garota novamente, poderia absorver mais, mas não faria aquilo de forma alguma, conhecia a timidez de Lyna em relação a toques físicos, não tocaria a garota de forma inadequada novamente.

Ela estava seguindo firme em sua decisão de levar Lyna consigo, por isso treinava-a com severidade, a garota estava tendo um desempenho surpreendente, era muito raro conseguir usar magia após a adolescência, e Lyna estava aprendendo aos dezenove anos.

"Podemos fazer uma pausa? Estou exausta." Lyna suspirou novamente, o vento frio tocava seu rosto, a única parte de seu corpo a mostra, ela estava usando as roupas de frio que encontrou nos armários de Meish.

Meish a encarou durante alguns segundos, parecendo cogitar a possibilidade, ela também usava roupas de frio, eram escuras e justas em seu corpo magro. Por fim, ela concedeu. Dado o tempo que passaram juntas, ela sabia que Lyna não costumava reclamar sem motivos, então devia estar realmente exausta. Lyna caminhou para a montanha, desaparecendo em meio à neve acumulada, Meish a seguiu.

Assim que entraram no quarto, Lyna deitou-se na cama, respirando fundo, tentando recuperar alguma força, e Meish a assistiu lutar contra o cansaço que tomava conta de seu corpo frágil. Gostava de observar a garota, era uma pessoa interessante, e tinha sido a primeira a não tratá-la como um monstro depois de muito tempo, quando se conheceram havia medo, sim, mas não ódio ou intenção de matar.

Meish sabia que não havia lógica naquele pensamento, afinal, a garota não presenciou aquela época sombria, não sabia do que Meish era capaz ou das coisas que ela havia feito. Mas ainda era uma sensação boa ter uma companhia, Meish não havia tido isso durante séculos, e a presença de Lyna começava a trazer-lhe alguma paz. Ela não sabia como havia começado, planejara inicialmente apenas usar Lyna para aproveitar-se da energia sombria em seu corpo, mas quando se deu conta, já apreciava a sua companhia. E ela notava que havia algo estranho em tudo aquilo, sentia uma atração estranha pela humana, como se, de alguma forma, estivessem conectadas, como se seus corpos fossem familiares um ao outro, ela sentia que, não importava onde Lyna estivesse, ela poderia localizá-la.

Já era quase noite quando Meish resolveu liberar Lyna de seu treinamento, permitindo-a comer, banhar-se e ir para a cama dormir. O tempo passou rápido para ela, e logo a respiração compassada de Lyna em sono profundo era o único som naquele ambiente, a mulher se recostou na poltrona ao lado da escrivaninha e fechou os olhos, escutando a respiração suave que seus ouvidos captavam.

Então, ela abriu os olhos para encarar o objeto que surgiu de repente em suas mãos delicadas, era o par de brincos perolados, se fosse observado com cuidado, era possível perceber que, gravado graciosamente sobre a superfície lisa, estava o símbolo minúsculo de um escudo sobre duas espadas cruzadas, tinha sido o brasão de sua família no passado. Mas o que mais a inquietava não era aquilo, ela já sabia que os artefatos de sua família estavam espalhados pelo mundo nas mãos de estranhos, no entanto, não havia se esquecido do que tinha visto na mente do bardo.

O homem gorducho era um aventureiro que viajava de cidade em cidade para conseguir dinheiro e gastar com mulheres e bebida, era negligente, mas não o suficiente para arriscar sua vida. Ela vira tudo aquilo nitidamente, o homem parecia alguém, a princípio, comum, mas escondia um segredo, um que não revelaria jamais, e que foi forçadamente descoberto por Meish enquanto vasculhava suas memórias. Antes de ganhar a vida como bardo, ele era um criminoso, fazia parte de um grupo de terroristas na capital, sua fama percorria todo o reino, eles praticavam todo tipo de ação ilegal, mas nunca eram descobertos, uma organização secreta cujos membros ninguém conhecia.

Surpreendentemente, um homem de aparência tão vulgar e comum, na verdade, fazia parte de algo assim, ele costumava ser a ponte de comunicação entre a líder da organização e os demais membros. Embora, nem mesmo ele havia sido capaz de ver o rosto dela, mas era a única pessoa que tinha trocado palavras com ela pessoalmente. Ela estava sempre vestida dos pés à cabeça, usava um capuz escuro que caía sobre seu rosto, e o único vislumbre que ele podia ter era de sua mandíbula, lábios, e o que mais marcava as suas memórias: os brincos de pérola. Era a única coisa clara que aquela mulher usava, o bardo jamais poderia esquecer aquilo, era a maior sombra em sua mente, sem dúvidas, não havia nada que o fizesse sentir tanto medo quando aquela mulher.

Meish não tinha como comprovar sua teoria, mas tinha certeza de que a mãe de Lyna definitivamente tinha sido aquela mulher, do contrário, não seria capaz de usar os brincos. As duas pérolas eram um artefato há muito proibido, Meish descobriu isso enquanto lia a mente das pessoas por onde quer que passava, eram poucos os que conseguiriam resistir ao seu poder mental. Os brincos eram capazes de aumentar a influência de uma pessoa sobre qualquer outro ser que encarasse, permitindo a hipnose profunda em sua mente, mas era preciso muito mais do que apenas magia para usá-los, se o usuário não tivesse resistência mental, teria sua mente consumida por eles.

A mulher de cabelos negros desviou o olhar da pérola em suas mãos para o teto, era escuro e bruto, ela havia construído aquele esconderijo às pressas há muito tempo para se esconder dos magos que a caçavam e dos oxers, não teve tempo para pensar na estética do ambiente. Na época, sua família tinha sido quase completamente exterminada, tendo seus terrenos invadidos por magos elementais do fogo, e todo e cada membro, empregado, ou qualquer um que tivesse alguma relação com a família foi morto, queimado até que sobrasse apenas as cinzas. O jardim que ela costumava brincar com seus irmãos foi reduzido a um terreno baldio e sem vida, as construções foram completamente destruídas.

E não havia mais nada, ela se viu sozinha, sem ter para onde ir e com nada mais do que memórias de uma época que nunca mais voltaria, fugia de cidade em cidade, aventurou-se pelas florestas, descobriu sozinha sua aptidão para magia mental e não hesitou em usar sua habilidade para sobreviver, todas as noites eram sofridas e ela não conseguia evitar derramar lágrimas até que se encontrasse emocionalmente desgastada.

No começo, foi insuportavelmente difícil lidar com a perda, com a humilhação que havia sofrido, ninguém quis ajudá-la, ninguém acreditou nela ou tentou entendê-la, entender por que ela havia feito aquilo. Viu todo o seu mundo desabar de um dia para o outro, sem ter para quem recorrer. Todos os dias, os rostos conhecidos apareciam em sua mente, torturando-a e roubando suas energias, assombrando-a em seu sono, fazendo-a evitar, tanto quanto possível, dormir, e gradativamente ela percebeu que conseguia ficar acordada por muito, muito tempo.

Até que um dia, viajando pelas estradas, desviou de caminho e encontrou-se à beira de um precipício, a profundidade era grande o suficiente para que nenhum ser humano fosse capaz de sobreviver à queda, ela não suportava mais fugir, ainda era fraca, e achou que, talvez, fosse mais fácil acabar com a dor. Sem pensar, jogou-se, esperando que tudo acabasse naquele instante.

Foi aí que ela notou algo estranho, sentiu seu corpo caindo em queda livre, mas não estava com medo, viu a probabilidade de morrer aumentando à medida que se aproximava do chão, mas não sentiu nada além de antecipação, descobriu que não temia a morte, em vez disso, queria agarrar-se à ela e afagá-la. Mas a morte nunca veio. Ela sentiu dor, sentiu seu corpo chocando-se duramente contra o solo, abrindo uma rachadura imensa na terra, seus ossos pareciam estar sendo triturados, mas ela estava viva, e demorou apenas algumas semanas para que se recuperasse da queda.

Naquele momento, ela havia finalmente percebido o porquê de ter sobrevivido ao incêndio que exterminou sua família e fugido com sucesso. À medida que seu poder aumentava, mais e mais distante ela estava da morte, até que aquelas pessoas também descobriram esse fato quando conseguiram capturá-la. Torturaram-na, tentaram todos os meios possíveis para assassiná-la, mas de nada adiantou, seu corpo era impossivelmente resistente. Recorreram à humilhação, mas isso apenas a fez ter outra explosão de raiva, matando seu agressor no processo. Ela então conseguiu fugir dali, planejando matar um a um todos aqueles que fizeram mal a ela e aos seus entes queridos, de uma presa, tornou-se caçadora, e ao seu redor havia sempre sangue e corpos.

Ela gostava de aproximar-se de sua vítima e fazê-la tentar contra a própria vida, tinha uma espada, mas dificilmente precisava usá-la, fazia com que matassem uns aos outros apenas entrando em suas mentes. E com o passar dos anos, mais e mais exércitos de magos de uniam para derrotá-la, era realmente irônico, ver reinos inimigos se unindo para enfrentá-la, como se ela fosse o mal encarnado, como se estivessem lutando por um bem maior, para salvar o mundo do mal.

Até que eles se uniram aos oxers, que possuíam o único artefato capaz de pará-la, ela então teve sua espada tomada, e por fim, foi selada no único lugar que parecia acolhê-la, aquelas águas que faziam-na sentir que estava, finalmente, em casa. Mas ela não estava satisfeita, os descendentes daquela pessoa ainda estavam vivos, ela não desistiria de encontrá-los e exterminá-los, assim como fizeram no passado com sua família. Passou anos e anos, séculos e séculos de monotonia, conheceu Zhekish durante aquele período e descobriu que uma única pessoa de seu passado havia sobrevivido. Sua personalidade mudou gradualmente, e seu desejo de viver diminuiu na mesma medida, ela queria apenas obter vingança e se assegurar de que a irmã estava bem. Depois disso, ela não conseguia imaginar o que seria de si mesma, estar viva era uma tormenta constante, não havia qualquer desejo além de vingança.

Meish, finalmente, parou de olhar para o teto e guardou as pérolas ao se perceber divagando, de vez em quando via Lyna se distrair e se perguntava se estava aprendendo aquilo com a garota. Rumou seu olhar para a garota e focou em sua respiração suave. Quando se conheceram, Lyna agonizava quase todas as noites, fazendo-a se lembrar do seu eu passado, ela odiava que aquelas lembranças viessem à tona e sempre se aproximava de Lyna para lhe enviar um fio de energia mental para acalmá-la e passava as mãos pela maldição, absorvendo o que pudesse. 

Era a sua forma de evitar que a garota fosse torturada pela maldição estando acordada, mas por mais que tentasse ler a mente da garota, não conseguia captar nada além de dor e medo da morte. As coisas que a atormentavam estavam profundamente escondidas em sua mente, Lyna havia desenvolvido uma boa resistência mental com a maldição, e a única forma de ter acesso àquelas memórias era destruindo a sua mente, mas não era a intenção de Meish fazer aquilo.

Ela continuou observando a garota em seu sono, precisava admitir, gostava de ouvir seu coração batendo compassadamente e tranquilamente, os olhos fechados enquanto a garota se aninhava entre os travesseiros. Sentia a necessidade de se aproximar dela, abraçá-la e tocar seus cabelos que estavam começando a crescer novamente, queria tocar as mãos calejadas de Lyna e garantir que nenhum machucado apareceria naquelas mãos novamente, no passado, ela tinha poder suficiente para fazer isso, mas agora, duvidava que tivesse a capacidade de protegê-la como queria.

Embora quisesse tocá-la, ela evitava fazê-lo com frequência, sabia que Lyna não gostava de contato físico e não se sentia bem com isso, e assim elas conviveram juntas por todo aquele tempo, com Meish ensinando-a, e Lyna esforçando-se para conseguir os feitos que a mulher exigia. Meish então parou de observar a garota e fechou os olhos. Por mais que Lyna estivesse se saindo bem, elas precisavam se apressar, o exame de entrada seria aplicado em alguns meses, ela precisava entrar lá, era a melhor forma de descobrir a identidade de quem ela procurava.

O mundo havia mudado muito durante o tempo em que ela ficou presa, fazendo com que ela precisasse ler a mente das pessoas ao seu redor para se atualizar sobre as mudanças, por sorte haviam muitos mercadores na última cidade que ela esteve, pessoas que viajavam com frequência e para muitos lugares, assim, ela conseguiu ter uma noção boa de como estava o mundo.

Meish suspirou demoradamente com o pensamento, não sabia o que seria de si mesma uma vez que obtivesse vingança. Havia se passado tanto tempo... ela realmente ainda queria vingança? Ela não sabia mais dizer, mas era a única coisa que havia restado, ela não gostava da sensação de estar selada, mas agora que conseguira a liberdade, não tinha certeza se era algo tão bom quanto imaginara. 

Pensou em Lyna, e um toque de ternura inundou-a, era uma garota forte, mas ao mesmo tempo covarde, tudo o que mais temia era exatamente o que Meish mais desejava. A mulher sorriu consigo mesma, pensando que estava mais melancólica do que o habitual naquela noite, mas não era algo necessariamente ruim, pensar em Lyna ajudava a disfarçar o vazio colossal que era a sua mente e seu coração, ela não tinha mais nada, mas como não havia escolha, ela viveria. Talvez ela pudesse manter Lyna ao seu lado... E quando tudo acabasse, elas poderiam viver juntas? Ela gostava daquele pensamento.

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