Olho pra todos os lados procurando por Olivia enquanto seguro dois copos grandes de refrigerante nas mãos. Estamos na final regional de futebol americano do colegial, nossa escola fez a boa de conseguir chegar até a final, a arquibancada enorme da escola está lotada, o campo parece maior do que é e eu não consigo encontrar Olivia em lugar nenhum.
— Y/n! — Sinto um leve empurrão no ombro e olho pro lado pensando ser Olivia.
Mas vejo Sadie saltitante e feliz me olhando.
Automaticamente tudo que eu prometi pra ela naquele dia vem a tona na minha cabeça, faz alguns dias desde a última vez que nos vimos na casa dela, mas desde então eu venho ignorando as mensagens de Sadie e fugindo dela quando podia, não porque eu queria, mas estava tentando tomar tempo, dei desculpas e mais desculpas, eu tenho que admitir que tenho mais medo da verdade e de encarar ela do que queria.
— Você não respondeu minhas mensagens — Sadie fala doce com essa voz que eu amo enquanto passa a mão no meu braço.
— Desculpa, como eu disse estava com uma gripe forte esses dias, não queria passar pra você — Sorrio sem jeito sabendo que estou mentindo mais uma vez.
— Tá bom, tá melhor? — Sadie sorri de uma forma fofa analisando meu rosto.
— Tô, é tô... bem melhor — Falo com dificuldade pelo nervosismo de ter ela bem na minha frente e de a qualquer momento Olivia poder aparecer.
Eu corri demais da verdade e como o mundo é irônico ele sempre vai me trazer tudo de volta me forçando a encarar minhas responsabilidades.
O destino sempre vai me voltar as minhas escolhas.
— Amooor — Olivia aparece e me dá um beijo e tanto bem na frente de Sadie fico sem jeito e me desvencilho rápido do beijo.
Vejo a expressão de Sadie nada boa em ver essa cena, ela pigarreia desviando o olhar e ficando nitidamente desconfortável.
— O que você tá fazendo com ela? — Olivia sussura no meu ouvido enquanto me abraça.
— Nada, é sobre o jogo — Escondo um pouco o rosto e falo no ouvido de Olivia. — Vai lá que eu já estou indo.
Olivia pega os refrigerantes da minha mão e se afasta um pouco me olhando nem um pouco confiante das minhas palavras com os olhos apertados.
Aperto a cintura dela e ela me olha mais uns segundos desconfiada e se separa de mim indo andando pra arquibancada olhando pra trás algumas vezes. Fico olhando Olívia até perder ela de vista entre as pessoas.
— Parece que você está muito bem com ela, né? — A voz de Sadie me chama a atenção, ela me olha com os olhos semicerrados e uma expressão nada amigável.
— Não... eu sei o que você está pensan-
— Ah, você sabe? você sabe que estou pensando que você já esqueceu tudo que a gente conversou no seu quarto depois da gente transar — Ela me interrompe falando isso alto demais e eu arregalo os olhos.
— Fala baixo — Repreendo ela com o olhar desesperado chegando mais perto. — Eu te disse pra esperar.
— Até quando você quer que eu espere e fique vendo você e ela juntas? Você não sabe, mas machuca muito te ver com ela — Sadie engole o choro olhando pro lado com os olhos marejando.
— Eu sei... — Aperto os lábios abaixando as sobrancelhas numa expressão de sofrimento.
— Você me prometeu Y/n, você disse que ia resolver isso e agora você me ignora por dias, some e eu duvido muito que você esteja mesmo doente, caramba! — Sadie me empurra no ombro nitidamente muito brava e seus olhos marejam mais. — Eu confiei em você.
— Sadie... é sério, eu só precisava de mais tempo por-
— Eu não aguento mais te ouvir falando as mesmas coisas, por favor, não me procura mais — Sadie vira as costas e levanta a mão me impedindo de me aproximar quando tento, ela sai andando pra longe.
— Sadie? — Tento ir atrás dela, mas ela só levanta a mão me pedindo distância de novo.
Suspiro passando as mãos no rosto e olho pra arquibancada encontrando o meu outro problema, Olivia me olhando com uma cara nada feliz, vou até ela devagar querendo nunca chegar e ter que encarar o que ela quer me dizer.
— Pensei que tínhamos combinado em esquecer tudo que aconteceu — Ela cruza os braços me olhando incomodada.
— Eu não sei porque ela veio falar comigo — Sento ao lado dela na arquibancada e fico olhando pro campo.
— Você não se esqueceu de tudo que a gente conversou no seu quarto não né?
Fecho os olhos apertados de ter que ouvir essa mesma frase de novo.
— Não esqueci — Respondo baixo.
— Então eu espero mesmo que vocês estejam separadas — Olivia diz firme e eu olho pra ela encontrando seu olhar sério.
— Como assim separadas? — Olho de imediato pra Olivia com as sobrancelhas franzidas.
— Eu só espero que você tenha esquecido tudo isso, só isso — Olivia balança a cabeça explicando e meu coração se acalma um pouco.
Por segundos achei que ela sabia algo, mas ela não estaria tão calma se soubesse.
— Eu... hum... preciso conversar com a Sadie — Digo com muito receio do que vou ouvir.
— Por quê? — Sua voz sai bem irritada.
— Olivia, por favor não me leve a mal, mas o jeito que ela saiu ali, eu preciso de vez dar um ponto final nisso — Explico olhando bem seus olhos com o medo percorrendo meu corpo todo.
— Y/n, eu vou te dar uma única chance de resolver isso de vez, eu quero acreditar em você, então por favor faça a coisa certa — Suas palavras me deixam um pouco confusa, mas não paro pra pensar nisso agora.
Apenas balanço a cabeça assentindo e mantenho as mãos no joelho enquanto mexo os dedos ansiosa e nervosa.
— Ei — Ela pega minha mão me fazendo parar de mexer os dedos e leva até seu rosto juntando nossas testas — Eu te amo, não quero desistir de você, mas faça por merecer, fica calma.
Só balanço a cabeça rapidamente concordando e ela se afasta sorrindo, sorrio de volta, um sorriso carregado de tristeza, deixo um beijo rápido nos seus lábios antes de sair.
Desço as escadas da arquibancada e olho pra saída do estádio, como eu queria só correr dos meus problemas agora e fingir que nada disso existe, só correr, correr tão rápido até que eu nem me lembre de nada disso, até que eu não sinta nada.
Mas eu não posso.
Querendo ou não, de novo a culpa é minha, eu sei que me botei nessa situação e eu só quero fugir porque por mais que eu saiba como resolver ela, eu sei que não tenho a capacidade de resolver.
Só que agora eu vou resolver, chega de fugir das minhas responsabilidades, chega de fugir das consequências das coisas, ano que vem eu tenho dezoito anos é melhor eu começar a aprender a tomar alguma responsabilidade na vida.
Respiro profundamente tomando coragem e ouço a banda de fanfarra começar a tocar pro início do jogo. Olho ao redor procurando qualquer sinal de Sadie e vou pra trás das arquibancadas, vejo algumas pessoas ali que logo se dispersam indo ver a apresentação, olho pra trás e lá vejo Sadie parada apoiada na grade olhando pra qualquer lugar.
Me aproximo devagar e ela levanta o olhar me encarando.
— O que você quer de mim? — Sua voz exausta transmite o quão chateada ela está.
Ela me tratando assim me gela o corpo.
— Sadie... precisamos conversar.
— É claro que precisamos conversar — Ela desapoia da grade ficando de frente comigo.
Respiro fundo antes de falar e sinto meu coração começar a acelerar muito.
— Eu sei sobre o que conversamos naquele dia, mas isso precisa acabar, eu não posso mais te ver — Digo tentando controlar meu nervosismo que me invade e Sadie apenas me olha com esse mesmo olhar catatônico.
Vejo ela engolir em seco e desviar o olhar não querendo falar nada.
— Diz alguma coisa por favor — Dou dois passos pra frente e Sadie me encara de uma forma que me corta o coração.
— Você quer que eu fale o que? — O tom da sua voz sai tão triste, tão carregado de tudo que ela está sentindo.
— Não sei... — Digo baixo encarando bem seus olhos, agora sem qualquer brilho, sem qualquer sinal daquela felicidade que eu já vi tantas outras vezes, daquela felicidade que eu era o motivo.
Sadie aperta os lábios desviando o olhar e permanecemos em silêncio por longos segundos torturantes, onde eu desesperadamente espero por qualquer sinal dela.
Desesperador. É o sentimento de estar esperando as últimas palavras de alguém saírem de sua boca, no fundo eu ainda torço pra que ela me queira, ainda torço pra que tudo fosse diferente.
Sei que ela vai me deixar ir, quando tudo que eu queria ouvir era ela me pedindo pra ficar.
— Eu vou embora de Burbank — Sadie diz isso de uma vez sem me olhar e meu coração se acelera mais ao ouvir isso.
— O que? como assim? — Me desespero.
— Eu vou embora Y/n, eu vou terminar o ensino médio em Santa Ana e aplicar pra uma faculdade de lá — Sadie explica me olhando.
Meu coração dispara que me dói, me dói o peito ardido como uma flechada, saber que agora eu vou perder Sadie e isso não está no meu controle me dói tão profundamente. Lembro subitamente da carta que eu vi em cima da cômoda, então era da faculdade.
— A carta na sua cômoda, era de uma faculdade — Tomo consciência de tudo e me aproximo com o cenho franzido.
— É, era da faculdade de Santa Ana — Sadie explica jogando as mãos.
— Por que você me fez achar que ficaríamos juntas se você vai embora? — Pergunto com minha voz trêmula.
— Y/n, olha pra sua própria vida, eu nunca tive espaço nela. Quando apliquei pra essa faculdade depois da minha mãe começar a falar sobre mudança há um mês atrás, eu comecei a pensar em você, cogitei em desistir de tudo e ficar aqui com você, mas a cada dia mais você me mostrava que não faria o mesmo por mim se fosse ao contrário, eu não sei do que você está reclamando, então — Sadie sorri entre lágrimas de uma forma cabisbaixa, um sorriso sem brilho e sem alegria.
— Eu não sei o que falar — Balanço a cabeça sentindo um desespero que me corrói por dentro.
Me aproximo mais dela negando com a cabeça como se quisesse dizer pra ela que não fosse, me aproximo tanto que Sadie segura firme meu braço me impedindo de aproximar mais.
— Não vai — Digo sentindo aquele nó na minha garganta se formar, aquele nó de dor que eu escondi por meses dentro de mim.
— E eu vou fazer o que aqui? Te ver continuar com a Olivia? Eu não posso mais fazer isso Y/n — O olhar cortante de Sadie me esgana a garganta com aquele sentimento horrível que não me larga há meses. — Eu não queria que nada disso tivesse acontecido. Eu juro que eu não queria, mas eu... me apaixonei por você.
Só fico encarando seus olhos desesperadamente com meu coração pulando e minha respiração aumentando, ver ela dizendo isso que inconscientemente sonhei em ouvir em tantas noites me paralisou, encaro seus olhos sem aquele brilho que me conquistou, apenas as lágrimas que tomam conta de seu rosto sobraram pra contar essa história.
— Eu deveria saber que eu nunca te teria, eu nunca te tive — Sadie tenta segurar as lágrimas, mas elas começam a rolar em seu rosto vermelho. — E é uma pena porque eu te amo.
Ela fala isso em uma voz embargada em choro e eu só consigo não fazer nada e continuar olhando pra ela com meu coração palpitando, eu não sei o que falar, eu não sei o que fazer e me desespera tanto isso.
Não contenho a dor e começo a me dembrulhar em lágrimas, Sadie aperta meu braço tentando me confortar e eu olho pra ela querendo pedir pra ela ficar, mas nada sai da minha boca, nada sai dessa minha garganta ardendo em chamas, ardendo enquanto eu tento conter essas lágrimas.
Encaro os olhos azuis de Sadie mexendo os meus de um lado pro outro tentando decorar esses olhos pra que eu me lembre deles quando ela for embora. Não consigo dizer nada e em um ato de desespero rapidamente pego seus lábios em um beijo, aperto seus lábios num beijo mixado de sentimentos, em dor e pura tristeza, a tristeza de saber que poderíamos ter sido tantas coisas.
Um beijo com gosto de despedida e ao mesmo tempo que internamente um pedido de socorro clamando pra que cada uma das duas fique e queira ficar, tão doloroso que a música arranhada de cada instrumento que toca no campo parece uma opera melancólica.
Puxamos nossas roupas e nossos corpos contra si como se quiséssemos não sair daqui, e eu como se quisesse não deixar ela ir, minha vontade é essa, sou egoísta, sou imperfeita e errei em tudo, mas no final, a minha única verdade é essa, é ela quem eu amo.
Agora mais que nunca eu desejei querer poder mudar tudo.
— Y/n!
Me separo rápido de Sadie e abro os olhos que vão direto pra Olivia bem ali segurando um dos refrigerantes, parada olhando sem reação pra o que acabou de ver.
Ela parece processar a cena enquanto eu só fico com a expressão assustada sem saber como agir.
Olivia muda a expressão fazendo uma cara de repulsa e seus olhos se enchem de lágrimas em segundos.
— Eu sabia... — Ela fala mais pra si mesma com uma voz irritada e começa a chorar virando as costas andando tão rápido jogando o refrigerante pra longe deixando ele derramar em todo o chão com copo e tudo.
Fico uns segundos sem saber o que fazer apenas processando o que acabou de acontecer, vejo Olívia sumir da minha visão.
Tento ir atrás dela mas sinto Sadie me impedir segurando apertando meu braço, olho pra ela que me encara com o rosto avermelhado e molhado de lágrimas.
— Não vai — Seu olhar me pedindo isso me quebra o coração por inteiro.
Olho pra frente pra onde Olivia foi e volto a olhar pra Sadie, meu coração se acelera muito e intercalo o olhar entre a mão de Sadie segurando meu braço e pra onde Olivia saiu correndo.
Eu não sei o que fazer.