Talvez desta Vez

By Orionyargi

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Após dois anos morando em outra cidade, Ceylin se vê obrigada a retornar a Istambul. Uma ameaça à sua vida ac... More

Talvez desta Vez - Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8

Capítulo 5

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By Orionyargi


Oii fandom maravilhoso! Como vocês estão? 😍

Vocês votaram e escolheram, então aqui está: um capítulo enooorme (9k palavras!) recheado de drama, tensão, angst, desejo e ação. Acontece de tudo um pouco! 😂

Vocês já esperaram demais, então aqui vai 

Boa leitura! 

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"A distância faz ao amor aquilo que o vento faz ao fogo: apaga o pequeno, inflama o grande." - Roger Bussy-Rabutin


Talvez desta Vez - Capítulo Cinco

Ilgaz rolou para o lado e suspirou pesadamente ao reparar no marcador digital no topo de sua mesinha de cabeceira. Apesar de ainda ser cedo, já era uma hora aceitável para deixar a cama.

Havia passado a maior parte da noite acordado questionando várias de suas decisões, algo pouco usual para ele. Sua cabeça fervia com perguntas para as quais não tinha respostas.

Geralmente, quando algo o incomodava intimamente, Ilgaz era capaz de compartimentalizar suas emoções e obliterar todas as que os causavam qualquer reação negativa. No entanto, nada que envolvia Ceylin era passível de ser ignorado.

Sua força mental e determinação perdiam a batalha contra os desejos mais profundos de seu coração. Sentindo-se derrotado, o promotor levantou e vestiu a primeira camisa que viu antes de deixar o quarto.

Ao adentrar a sala, Ilgaz foi envolvido por um delicioso aroma de café fresco e geleia de frutas, mas foi a visão à sua frente que o fez precisar se esforçar para conter um sorriso.

Ceylin trabalhava em algo na bancada da pia. Ela não o vira se aproximando pois tinha as costas viradas para ele e parecia muito concentrada na tarefa em mãos.

Ao mesmo tempo que sabia que deveria anunciar sua presença, Ilgaz flagrou-se adiando aquele momento. Sabia que assim que Ceylin se desse conta de que não estava sozinha, o ar entre eles ficaria tenso novamente, e não a veria mais tão relaxada e confortável como agora.

O promotor reparou na mesa do café da manhã posta, e desta vez não conseguiu conter o sorriso que iluminou seu rosto. Não precisava que Ceylin falasse nada para saber que ela estava tentando compensar o que considerava uma gentileza da parte dele ao recebê-la em sua casa. A advogada via sua presença ali como um fardo, apesar de Ilgaz repetidamente ter negado tal suposição.

Ele reparou quando Ceylin terminou de cortar algumas fatias de queijo sobre uma tábua e abriu o armário acima de sua cabeça em busca de um recipiente adequado para servir frios. Ao esticar um dos braços para alcançar a prateleira mais alta, a blusa da advogada deslizou levemente para cima, exibindo uma faixa de pele na altura da cintura dela.

Apesar de dizer a si mesmo para desviar sua visão, Ilgaz não conseguiu deixar de olhar. Ceylin vestia uma calça escura confortável com as pernas largas, porém o elástico no quadril delineava perfeitamente suas curvas femininas.

A blusa que ela vestia era igualmente comportada, mas Ilgaz não precisava de muito para reacender as memórias em sua cabeça. Já havia visto - e tocado - muitas outras partes do corpo dela.

Lembranças de como a curva daquela cintura parecia perfeitamente adequada para acomodar o toque de sua mão tomaram o promotor de assalto, e ele finalmente forçou-se a controlar o rumo de seus pensamentos.

— O que está procurando? — Ilgaz perguntou com a voz baixa, tentando não assustá-la.

Apesar de esforço do promotor, Ceylin levou a mão ao peito e respirou fundo, deixando bem clara que havia sido pega de surpresa com a presença repentina dele.

— Não consigo achar a travessa branca pequena — Ceylin olhou de relance por cima do ombro antes de voltar sua atenção para a prateleira que não conseguia alcançar — aquela que é quadrada mas possui bordas arredondadas?

— Está aí uma descrição conflitante — Ilgaz falou de forma irônica, porém bem humorada.

Ceylin estava prestes a responder a provocação dele, mas o promotor deu alguns passos a frente, colocando-se a centímetros das costas dela. A advogada mal teve tempo de registrar que estava praticamente encurralada entre o corpo de Ilgaz e a bancada da pia quando ele esticou a mão, facilmente alcançando a parte mais alta do armário para enfim pegar a travessa questionável que Ceylin estivera buscando.

— O que mais você quer? — Ilgaz perguntou após colocar o objeto ao alcance dela.

O promotor havia praticamente sussurrado as palavras contra o seu cabelo de Ceylin. A presença dele em suas costas, tão próximo de seu corpo, fez um arrepio percorrer toda a espinha da advogada, e ela precisou segurar-se na bancada para manter o equilíbrio. Aquela definitivamente não era uma pergunta apropriada para ser feita quando podia praticamente sentir o calor do corpo de Ilgaz irradiando para o seu.

O promotor sabia que deveria dar um passo para trás e afastar-se de Ceylin - e de toda tentação que vinha com o pacote. Mas o aroma familiar dos cabelos castanhos e aquele maravilhoso cheiro de roupa lavada que parecia emanar das roupas de dormir dela o impediram de fazê-lo.

Conseguia lembrar-se de muitas manhãs como aquela, nas quais havia surpreendido Ceylin preparando o desjejum para eles. Exceto que, há dois anos atrás, Ilgaz não teria hesitado em envolver a cintura dela com seus braços antes de enterrar o rosto na curva do ombro da advogada, acrescentando beijos e carinhos ao seus desejos de bom dia.

O rumo de seus pensamentos fez o bom senso retornar à cabeça do promotor e ele finalmente se afastou. Precisava lembrar-se de tudo que estava em jogo, especialmente os sentimentos de uma das mulheres mais honradas e respeitosas que já conhecera em sua vida.

— Você quer chá ou café? — Ceylin perguntou, aparentemente tão perturbada quanto ele.

— Café — Ilgaz respondeu de pronto, sentando-se à mesa.

— Eu imaginei — Ceylin respondeu sem pensar.

Ao dar-se conta do que o que seu comentário implicava, a advogada mordeu o lábio inferior. A familiaridade subentendida em toda aquela interação entre eles era desconcertante para ela, e tinha certeza de que Ilgaz sentia-se do mesmo jeito.

— O que está nos planos de sua investigação para hoje? Vai tentar conseguir algum mandado de busca contra a Lira ou o que? — A advogada mudou de assunto bruscamente, procurando um território neutro.

— Não vamos discutir isso aqui — Ilgaz respondeu calmamente.

Ceylin conteve um suspiro de frustração.

— Você quer dizer, não vamos discutir isso nunca — ela ralhou, mal humorada. Ainda não havia superado a decisão de Ilgaz de mantê-la fora da investigação.

— Algo assim — Ilgaz sorriu com o canto dos lábios, terminando de tomar o café. Apesar da noite mal dormida, sentia-se bem mais disposto após uma dose matinal de cafeína e uma refeição reforçada — estava tudo delicioso — Ilgaz elogiou os esforços dela ao apontar para seu prato vazio com a cabeça — não precisava ter se incomodado, Ceylin.

— Era o mínimo que eu podia fazer — ela respondeu com resignação.

— Quais são seus planos para hoje? — Ilgaz perguntou ao mesmo tempo que colocava a louça suja no lava louças. Saber que a vida de Ceylin corria perigo e que não podiam garantir a segurança dela na rua o estava tirando do sério — tem alguma audiência no Tribunal?

— Não tenho nada agendado para hoje. Passarei o dia no escritório — Ceylin respondeu enquanto guardava as sobras do desjejum na geladeira.

Ótimo, Ilgaz pensou, aliviado. Aquilo certamente facilitava as coisas.

— Vou deixá-la no trabalho a caminho do Tribunal — Ilgaz a informou com um tom que não admitia contestações — e passo para buscá-la no final da tarde.

— Não exagere, Ilgaz. Não é preciso tudo isso — Ceylin resistiu, ciente do transtorno que estava causando na vida dele.

— Não comece — Ilgaz a fitou com ar severo. A última coisa que queria era discutir mais uma vez sobre o mesmo assunto — vá se arrumar. Sairemos de casa em vinte minutos, está bem?

Sem qualquer outra opção além de concordar, Ceylin acenou com a cabeça baixa. Apesar de não haver grades ou algemas à vista, sentia-se aprisionada. E sua impotência perante aquele impasse a deixava ainda mais desanimada.

.

Ilgaz andou de um lado para o outro e distraidamente chutou uma pedrinha do chão com a ponta de seu pé. Somente levantou sua cabeça quando ouviu seu nome sendo chamado por uma vez feminina familiar.

— Olá — ele sorriu timidamente ao avistar Melis caminhando em sua direção.

Havia dirigido até a escola onde ela trabalhava no horário de almoço, e sua namorada parecia surpresa ao vê-lo ali.

Se as circunstâncias fossem outras e sua cabeça não estivesse tão ocupada com pensamentos, Ilgaz teria conscientemente reparado no que o seu subconsciente captou imediatamente: ao invés de parecer feliz ao vê-lo como era de costume, Melis parecia ter uma sombra de desapontamento no fundo de seus olhos azuis.

— Está tudo bem? — O promotor franziu a testa, sem ter certeza do motivo pelo qual fazia tal pergunta.

— Sim, claro — Melis sorriu, corando — eu só me surpreendi com sua vinda aqui. Achei que nos veríamos no Tribunal — ela completou, conformada.

— Achei que gostava mais dos restaurantes nessa área — Ilgaz pontuou. Já haviam tido aquela conversa algumas vezes antes. Tanto o serviço quanto o ambiente dos estabelecimentos próximos à escola eram muito mais agradáveis do que no bairro onde se localizavam a Delegacia e o Tribunal.

— Você tem razão, é claro — Melis o fitou de relance antes de olhar para a frente novamente — vamos?

Ilgaz a acompanhou na calçada, dando-se conta de que não havia feito qualquer esforço para ter um contato físico mais intimo com Melis, assim como ela também não o beijara.

Durante o almoço, conversaram sobre tópicos neutros. Ao retornar ao Tribunal, Ilgaz dirigiu automaticamente pelo trajeto conhecido, a todo o tempo refletindo sobre a descoberta que fizera.

Ele e Melis estavam claramente se distanciando emocionalmente. Ela parecia insegura e por vezes até desconfortável em suas interações recentes com ele. O promotor perguntou-se o quanto daquilo era sua responsabilidade, visto que não podia ser coincidência que sua reaproximação com Ceylin servira por abrir uma brecha em seu relacionamento até então estável.

Ao engolir seco conforme estacionava o carro em uma vaga no Tribunal, Ilgaz deu-se conta de que não gostava da resposta para a própria pergunta.

.

Ceylin fechou seu laptop e se espreguiçou, esticando os músculos cansados de seus braços e pescoço. Havia passado a maior parte do dia sentada em frente ao computador pesquisando a respeito das empresas das quais suspeitava, e agora seu corpo protestava o tempo que passara na mesma posição.

Mais cedo naquela tarde, havia se comunicado com o Professor Sinan e o informado do desenrolar de sua investigação. Ele parecera muito aflito após Ceylin detalhar os acontecimentos da noite em que entrara no carro de Ilgaz, mas a advogada lhe garantiu que estava tomando cuidado e se mantendo em segurança.

Olhando mais uma vez para seu relógio de pulso, Ceylin suspirou pesadamente. Ainda não eram nem cinco horas da tarde, e Ilgaz ainda demoraria pelo menos uma hora para vir buscá-la. Estava morta de fome, e para sua completa frustração, não havia nada em seu escritório que pudesse preparar.

Ao decidir sair do escritório para ir até o mercado, Ceylin não perdeu muito tempo debatendo sobre sua decisão, pois sabia que encontraria diversas razões para não sair desacompanhada.

Podia praticamente ouvir a voz de Ilgaz em sua cabeça a censurando quando trancou a porta do escritório pelo lado de fora. Fazia muito mais sentido ir até um local distante, visto que se estivesse sendo observada, o primeiro local vigiado seria seu ambiente de trabalho.

Ceylin desceu as escadas do prédio comercial e esperou no interior do mesmo até avistar um táxi disponível na rua. Respirou aliviada após alguns segundos, pois havia estudado atentamente o ambiente ao seu redor e não avistara nenhuma das figuras familiares que a cercaram em situações anteriores, assim como qualquer outra pessoa com atitude suspeita.

O motorista estranhou quando pediu que desse voltas pelas ruas de Istambul, mas não disse nada, uma vez que o taxímetro foi mantido rodando. Após pagar duzentas liras em uma corrida que normalmente lhe custaria oitenta, Ceylin deixou o interior do carro e seguiu na direção do charmoso mercadinho próximo à sua antiga universidade.

A advogada fez questão de manter-se atenta conforme estocava seu carrinho de compras. Estava escolhendo quais cebolas levar do estande quando sentiu uma mão tocando suas costas.

Virando-se abruptamente de forma hostil, Ceylin derrubou ao menos uma dúzia de cebolas que seguiram rolando para o chão.

Oito pares de olhos arregalados ao seu redor a fitaram atentamente, estranhando a direção da jovem que havia praticamente empurrado o franzino funcionário do mercado.

— Me desculpa, senhorita — o senhor de meia idade a fitou, envergonhado — eu estava apenas tentando alcançar uma dessas sacolas para outro cliente, não foi minha intenção encostar em você.

Ceylin deu-se conta de que o homem tirara a conclusão que ela reagira daquela forma porque repudiara o toque inocente dele.

— Sou eu quem pede desculpas — ela suplicou, agachando-se para catar as cebolas que haviam rolado em todas as direções. Aos poucos, os outros clientes do mercado deram de ombro e voltaram a atenção para suas próprias compras — eu não quis ofendê-lo, senhor, mas estava tão distraída que me assustei com sua aproximação — a advogada levantou-se do chão com um sorriso gentil, tocando o ombro do homem após jogar em seu carrinho todas as cebolas que reunira.

Ceylin sabia que estava contando uma enorme mentira. Havia reagido quase atacando o idoso não por estar distraída, mas sim porque estivera excessivamente vigilante.

O funcionário pareceu aliviado ao perceber que se equivocara com a reação da jovem, e sorriu de volta para ela, determinado a ajudá-la.

— Vamos trocar essas cebolas amassadas — ele sugeriu, animado, buscando novas unidades no estande à sua frente — uma moça tão bela merece levar para casa nossos melhores itens.

Ceylin riu com a colocação inesperada e divertiu-se pelos minutos seguintes na presença do espirituoso senhor. Ele lhe ajudou a escolher o restante das mercadorias de que precisava e as embalou para Ceylin quando a advogada passou pelo caixa.

Ainda absorta na sensação de paz e normalidade que as interações no mercadinho haviam lhe causado, Ceylin deixou o ambiente carregando três sacolas estocadas com mantimentos, alguns produtos de limpeza e artigos de higiene pessoal. Poderia caminhar um pouco pois a rua estava bem cheia àquela hora do dia, mas com o peso em seus ombros, certamente não seria uma boa escolha.

Optando novamente por um táxi, a advogada adiantou-se até o meio-fio da calçada e estendeu a mão na direção da rua. Estudou o fluxo de carros, procurando por um veículo disponível quando uma figura familiar materializou-se atrás de si.

— Precisando de uma carona?

O frio que percorreu sua espinha quase paralisou Ceylin, mas ela forçou-se a virar-se para trás. O rosto que encontrou à sua frente a fez deixar cair uma das sacolas cheias de compras.

— O que foi? — o brutamontes que avistara a seguindo do outro lado da rua há poucos dias inclinou-se e fechou uma de suas mãos enormes na alça da sacola, levantando-a como se não pesasse mais que algumas gramas — eu a assustei?

Visto de tão perto, o sorriso cheio de dentes tortos e amarelados do homem era ainda mais perturbador. Ceylin sentiu um aroma conhecido lhe invadindo as narinas - uma mistura de suor, cigarro e óleo de motor.

Em uma fração de segundo, reviu-se atada a uma cadeira no galpão escuro. Seus olhos estiveram vendados, mas sentira movimentos firmes e bruscos conforme alguém amarrada suas mãos. E aquele exato cheiro...

O que apenas poderia significar que o mesmo homem que a fitava sorrindo sinistramente havia estado lá quando Ceylin fora sequestrada em Ancara.

Sentindo uma onda de náusea que fez a bile subir até sua garganta, Ceylin levantou o rosto para o homem e o questionou com uma coragem que não sentia.

— O que você quer comigo? Me deixe em paz! — Ela exigiu, puxando de volta a sacola que o homem segurava. Apesar da força que imprimiu em seu movimento, o brutamontes mal precisou se mexer para impedir que ela retomasse suas compras.

— O que eu quero? — Ele riu com desdém, percorrendo os olhos por todo o corpo da advogada — me disseram que era uma moça esperta, Sra. Advogada — ele completou, obviamente se comprazendo ao atormentá-la — mas não se preocupe. Meu Chefe é um homem generoso. Quando ele terminar de lidar com você, certamente vai deixar que eu me divirta um pouco em sua companhia...

O pânico tomou conta de Ceylin.

— Pra quem você trabalha? — A advogada esforçou-se para ignorar a insinuação criminosa do estranho, a forma lasciva com que ele a fitava lhe despertando asco. Precisava sair dali o mais rápido possível — por que está me seguindo?

— Você já vai descobrir — ele afirmou aproximando o rosto dela antes de fechar a mão livre no braço de Ceylin e puxá-la com força na direção de um carro parado em um canto mais deserto.

— NÃO! — Ceylin resistiu, olhando ao seu redor na esperança de que alguém visse que estava sendo levada contra sua vontade, mas as pessoas pareciam muito absortas em seus celulares ou nas companhias ao seu redor, andando apressadamente sem ao menos olhar para o lado — ME SOLTE! — ela exigiu, desesperada.

— Senhorita Ceylin, esqueceu sua sacola com as... — A porta do mercado se abriu e o mesmo senhor franzino que havia ajudado Ceylin no interior do estabelecimento aproximou-se dela, franzindo a testa ao avistar o que acontecia do lado de fora — está tudo bem, senhorita? — Ele perguntou, desconfiado, desviando os olhos do brutamontes para o rosto da moça.

— Está sim, Senhor Can — Ceylin desvencilhou-se do estranho com um movimento brusco do braço e tomou de volta sua sacola de compras — você pode me ajudar a chamar um táxi? — ela improvisou, vendo no rosto carrancudo de seu sequestrador que ele estava extremamente irritado de ter seus planos interrompidos.

— Claro que sim — o funcionário a ajudou com suas sacolas — venha comigo, senhorita — ele a guiou, olhando com censura para o homem que a cercara. Haviam dado alguns passos na direção do mercado quando o idoso sussurrou — precisa que eu chame a polícia?

— Não — Ceylin respondeu, forçando-se a permanecer calma e racional. Lágrimas queimavam seus olhos e sua garganta parecia ter um nó enorme, mas não podia se dar ao luxo de se desesperar — um taxi será suficiente, Senhor Can.

O homem assentiu com a cabeça, preocupado, mas fez conforme a advogada o instruiu e conseguiu um carro para ela.

Ceylin estava tão atordoada que não conseguiu aceitar a ideia de voltar para seu escritório e ficar sozinha enquanto esperava Ilgaz. Ao ver que o brutamontes que a acostara permanecera parado na esquina do mercado, deu ao motorista o endereço da casa do promotor.

A advogada ainda tremia quando fechou a porta da frente do apartamento usando a chave que Ilgaz lhe emprestara. Ceylin tentou controlar sua respiração conforme despejou as sacolas de compras na mesa da cozinha e checou todas as janelas do apartamento.

Estava apavorada com o que havia acontecido, mas o que lhe dava mais medo era saber que tomara todos os cuidados para garantir que não estava sendo seguida e ainda assim havia sido abordada. Ceylin não fazia ideia de como aqueles homens haviam descoberto seu paradeiro, e a vulnerabilidade que a situação a colocava tirou a advogada dos eixos.

Apesar de todo o nervosismo, conseguiu mandar uma mensagem de texto para llgaz explicando que havia ido para casa. Sabia que ele desaprovaria sua decisão de sair do escritório desacompanhada, e por um momento ponderou se deveria contar a ele a respeito do ocorrido.

Ceylin chegou até cogitar esconder a verdade do promotor para poupá-lo, pois sabia que Ilgaz ficaria tão assustado quanto furioso, porém duvidava que conseguisse manter segredo ou fingir que tudo estava bem. Conhecendo Ilgaz, ele rapidamente perceberia o seu estado e chegaria à conclusão de que algo havia acontecido.

Os quarenta minutos em que esperou sozinha no apartamento pela chegada do promotor pareceram uma eternidade.

Assim que ele cruzou a porta, Ceylin viu em seu semblante que Ilgaz estava preparado para lhe dar um sermão. No entanto, após ver sua expressão de medo e culpa, o promotor franziu a testa, confuso.

— Ceylin? — Ilgaz começou de forma vacilante. Não fazia ideia do porquê a advogada havia contrariado sua ordem de permanecer em seu escritório até que pudesse ir buscá-la, mas podia ver na expressão aterrorizada no rosto dela que algo sério havia se passado — Ceylin, o que houve? Você está bem?

— Não — Ceylin respondeu com a voz embargada.

Bastou apenas uma fração de segundo após reparar no tom óbvio de preocupação dele e encontrar o olhar acolhedor de Ilgaz para acabar com toda determinação de Ceylin de manter a compostura. De forma impulsiva, a advogada pôs fim à distancia física entre eles com três largos passos e envolveu o pescoço de Ilgaz com os braços de forma a quase sufocá-lo.

— Ceylin? — Ilgaz foi pego de surpresa com a atitude mas não se afastou. Ao enlaçar um de seus braços em volta do corpo da advogada, reparou que ela estava tremendo — O que foi? — ele perguntou, preocupado — o que aconteceu?

Ao ver a dificuldade que ela tinha em responder sua pergunta, Ilgaz tomou consciência do quão abalada a mulher em seus braços estava. Ao invés de exigir uma resposta, o promotor a apertou mais firmemente em seus braços, buscando transmitir com o seu corpo tudo que não conseguia expressar com palavras.

Ceylin fechou os olhos em uma tentativa inútil de conter as grossas lágrimas que escorriam de seus olhos. Detestava perder o controle daquela forma, mas não conseguira evitar. Pensar no que poderia ter acontecido caso o simpático funcionário do mercado não a tivesse resgatado a deixava em pânico.

Simplesmente não conseguira evitar buscar refúgio. O abraço de Ilgaz era o lugar mais seguro do mundo. Sempre havia sido assim para ela, e Ceylin suspeitava que sempre seria.

— O que houve? — Ilgaz repetiu sua pergunta pacientemente e levou uma das mãos até os cabelos dela, acariciando-os em uma tentativa de acalmá-la — você está chorando — ele se deu conta, sentindo seu coração mais apertado. Nenhuma outra cena o deixava tão incomodado quanto ver aquela sombra de tristeza e medo nos olhos da mulher à sua frente. Bem mais temoroso, Ilgaz sentiu que estava suplicando — alguém a machucou? Fizeram alguma coisa com você?

Ceylin sacudiu a cabeça em negação. Podia praticamente ver o alívio no semblante dele, mas não por muito tempo, pois logo em seguida confessou.

— O homem que estava me seguindo na rua naquela noite em que entrei no seu carro retornou, Ilgaz — Ceylin afastou-se dele apenas o suficiente para olhá-lo nos olhos — vou contar o que aconteceu.

Ceylin passou os minutos seguintes descrevendo tudo que vivenciara desde o momento em que saíra de seu escritório. Ilgaz a interrompeu apenas duas vezes, em ambas vezes para reforçar que contrariar o combinado de jamais sair sozinha havia sido uma péssima ideia.

— Eu já não sei mais o que fazer — Ceylin confessou, aflita — não sei mais o que pensar... Ilgaz, eu juro pelo que é mais sagrado. Não havia ninguém me seguindo — a advogada afirmou. Tinha certeza do que estava dizendo — e então, como num passe de mágica, esse homem surgiu atrás de mim. Eu não faço idea de como ele chegou até lá.

Ceylin acabara de dar-se conta de que, por mais cautelosa que fosse, ainda assim estava completamente à mercê de pessoas que queriam lhe fazer mal. Era apenas uma questão de tempo até que conseguissem atingi-la. Já quase haviam conseguido por duas vezes, e ela havia se safado apenas por sorte.

Ceylin sabia como pessoas como aquelas operavam. Ela duvidava seriamente que permitissem que o mesmo erro fosse cometido uma terceira vez.

— Eu também não sei como ele chegou até você, mas temos que ser práticos e considerar o óbvio — Ilgaz respondeu de forma racional — a hipótese mais provável é que ele a estivesse seguindo o tempo todo e você não o viu — o promotor considerou, vendo no rosto da advogada que tal possibilidade a angustiara — não seria a primeira a passar por isso, Ceylin — Ilgaz pontuou — conheço policiais treinados que já falharam em reconhecer que estavam sendo seguidos. Nesse mercado obscuro, há homens especializados que são treinados em táticas de guerrilhas. A maioria recebe treinamento no leste — O promotor explicou — são profissionais contratados para propósitos específicos. Já tive contato com muitos durante minha carreira.

— O homem mencionou ter um chefe — Ceylin ponderou. O que Ilgaz dizia fazia bastante sentido.

O promotor assentiu em silêncio, convencido.

Horas depois, após já terem jantado, Ceylin retornou para a sala recém saída do chuveiro. Ilgaz reparou nos cabelos ainda úmidos que ela secara parcialmente com uma toalha. A calça larga escura e a camiseta com o símbolo da universidade na qual estudara faziam um bom trabalho em esconder o corpo esbelto da advogada. Mas a manga curta da blusa deixava o braço dela parcialmente exposto.

Contrastando com a pele muito clara de Ceylin, Ilgaz pôde perfeitamente distinguir uma marca roxa que ele tinha certeza não ter estado lá na noite anterior. O que certamente significava que ela a adquirira naquele dia.

A evidência era bastante óbvia. O homem que tentara sequestrar Ceylin a havia puxado pelo braço, e a tentativa de levá-la a força havia lesionado o corpo dela.

O dano emocional que haviam lhe causado era o suficiente para tirar Ilgaz do sério, mas ver com seus próprios olhos que também a haviam ferido fazia surgir no promotor sentimentos coléricos que ele mesmo desconhecia. Não sabia como, mas tinha certeza de que, se pudesse colocar as mãos no homem que fizera aquilo com Ceylin, garantiria que o homem jamais pudesse encostar nela novamente.

Ilgaz podia ver como ela estava assustada no semblante abatido da advogada e na forma com que Ceylin parecia temer até a própria sombra. Haviam passado a maior parte da noite em silêncio, ambos absortos em seus próprios pensamentos. Na primeira oportunidade que teve, Ceylin retornou ao sofá que um dia considerara um porto seguro e cobriu-se até o queixo.

Da poltrona onde se sentava com uma xícara na mão e um laptop a tiracolo, Ilgaz a fitou de relance. Ele detestava que ela estivesse passando por isso. Tal noção apenas o deixava mais determinado para trazer justiça a todos os envolvidos.

Imaginando que ela queria descansar, o promotor colocou a xícara de chá pela metade em uma mesinha ao lado do sofá e levantou-se, disposto a ir para o seu quarto para dar privacidade a Ceylin.

Ao sentir a movimentação próxima a si, a advogada imediatamente abriu os olhos.

— Você já está indo dormir? — Ela perguntou com olhos arregalados.

— Sim — Ilgaz sacudiu a cabeça — quero dizer, estou indo pra cama, mas ainda tenho algum trabalho a fazer — ele apontou para o computador com os olhos.

— Não pode trabalhar aqui? — Ceylin perguntou de forma hesitante. Ela engoliu em seco e desviou os olhos dele timidamente.

Ficou bastante claro para Ilgaz que, após os eventos daquele dia, Ceylin não queria ficar sozinha.

O promotor respirou fundo e soltou o ar lentamente. Detestaria que ela percebesse como estava afetado. Precisava aparentar serenidade e calma, pois era o único que poderia oferecer um pouco de estabilidade para Ceylin no momento. Por mais que estivesse nervoso e preocupado, não poderia se dar ao luxo de fraquejar. Ela era quem precisava de mais apoio no momento.

Suas próprias emoções poderiam esperar.

— Acho que sim — Ilgaz respondeu casualmente, incerto de aquela era realmente uma boa ideia — mas não quero atrapalhar seu descanso.

Ceylin permaneceu em silêncio. Seus olhos escanearam todos os móveis da sala antes de finalmente se voltarem para ele.

— Por favor, fique — ela engoliu em seco, fazendo um esforço enorme para conter suas emoções. Ilgaz acomodou-se novamente na poltrona que ocupara, atendendo o pedido dela sem precisar dizer uma só palavra. Apenas quando ele já estava com o laptop aberto no colo, Ceylin reuniu coragem para completar — vai ficar aqui até eu dormir?

Ilgaz imediatamente reparou que não era uma pergunta, mas sim um pedido.

Comovido, o promotor a fitou com um olhar amoroso e não pensou duas vezes antes de responder.

— Claro que sim.

.

Ilgaz coçou os olhos antes de reparar no marcador digital em seu computador. O relógio o informava que já passavam das duas da manhã. Apesar de seu corpo cansado, sua mente não mostrava quaisquer sinais que iria desacelerar.

Naquela noite testemunhara como Ceylin estava abalada com tudo que estava acontecendo recentemente. Foi justamente por não querer alarmá-la ainda mais que não comentou nada sobre as suspeitas que levantara.

Ilgaz havia passado o dia todo no escritório se aprofundando nas investigações sobre as empresas que Ceylin mencionara. Seu acesso ao sistema judicial lhe permitia checar detalhes que não seriam facilmente acessíveis para a advogada ou um investigador privado.

A essa altura da vida, Ilgaz já havia aprendido a confiar em seus instintos. Não conseguia lembrar-se da última vez que eles haviam falhado. Fora exatamente por esse motivo que, ao invés de focar sua investigação na Lira, o promotor havia decidido checar a Tigris, o enorme escritório de advocacia que contratara Ceylin pouco tempo depois que haviam se divorciado.

Após uma busca rápida, Ilgaz havia reparado em algo que o deixou perturbado.

Nos últimos cinco anos, dois outros advogados haviam ocupado o mesmo cargo que Ceylin no setor de direito corporativo da empresa. Segundo registros trabalhistas, o primeiro havia sido demitido após envolver-se em um caso extraconjugal com uma outra funcionária. O segundo advogado deixara a empresa após trabalhar por apenas nove meses, aparentemente para assumir um cargo de maior prestígio em uma firma em Istambul.

Para o completo choque de Ilgaz, descobrira que atualmente, os dois profissionais encontravam-se mortos.

O primeiro homem havia sofrido um acidente de carro, e o segundo morrera devido a um infarto fulminante.

Ilgaz sabia que estatisticamente, apesar de possíveis, tais cenários eram extremamente improváveis. Era coincidência demais que ambos homens estivessem mortos, e agora a vida de Ceylin estivesse ameaçada.

O promotor mais uma vez levantou os olhos para fitá-la e seu coração se apertou em um misto de medo, saudades, e desejo de mantê-la segura. Agora que dormia profundamente, o rosto de Ceylin não tinha qualquer linha de expressão. Ela parecia muito mais serena e tranquila do que se sentia, e Ilgaz assustou-se ao pensar que não hesitaria em fazer qualquer coisa para garantir que ela realmente estivesse a salvo.

Lembrou-se mais uma vez do desespero no rosto dela ao encontrá-la em casa mais cedo. Ilgaz retornara ao seu apartamento determinado a iniciar uma discussão com ela por ter saído sozinha do escritório, mas rapidamente baixara a guarda após ver como ela estava abalada.

Estava em uma situação péssima. Ao mesmo tempo que queria garantir a segurança da advogada, não queria deixá-la ainda mais assustada. Para isso, tinha que garantir que todas as possibilidades fossem examinadas.

Após cuidadosamente averiguar a documentação da morte do segundo advogado, Ilgaz reparara que, apesar da certidão de óbito listar infarto agudo do miocárdio como causa de morte, o homem não tinha qualquer relato de doença cardíaca listada em seu histórico médico. Também não havia um laudo de autópsia anexado na pasta do caso.

Com suas suspeitas aumentadas, Ilgaz imediatamente solicitara a exumação do corpo e agora aguardava toda a burocracia legal para ter o corpo re-examinado por um patologista forense. Apesar de já fazer pouco mais de dois anos desde a morte do advogado, talvez ainda pudessem extrair alguma informação de seus restos mortais.

Durante sua carreira como promotor, Ilgaz já havia visto de tudo um pouco. Não seria nada surpreendente para ele se suas investigações apontassem que a empresa que contratara Ceylin vivesse de uma reputação sólida mas por trás dos panos representasse empresas corruptas, ligadas à atividades criminosas.

O dono da Tigris, um empresário grego dono de diversas outras companhias em Ancara, era notório por estar sempre na companhia de políticos e chefes de organizações criminosas. Ilgaz o investigara também, e descobrira que apesar de responder a diversos processos e ser algo de inúmeras investigações, nada nunca havia sido provado contra o homem.

O promotor queria esperar até ter certeza de qualquer coisa antes de divulgar sua desconfiança para Ceylin. As coisas já estavam ruins o suficientes para ela. Ele sabia que a advogada já suspeitara que a Tigris pudesse estar envolvida, mas ela provavelmente se sentiria ainda pior caso descobrisse que fora usada como uma peça de xadrez pela empresa.

Ao invés de estar contribuindo para punir empresas malfeitoras como imaginara, Ceylin na verdade estivera ajudando a aniquilar a competição ao derrubar adversários políticos de gente muito poderosa.

Ilgaz imaginava que os dois advogados que ocuparam o cargo antes dela em algum momento haviam se dado conta das operações ilícitas das empresas que representavam. Ambos homens não tinham fichas criminais e nunca pareciam ter se envolvido com qualquer atividade suspeita. Assim como Ceylin, provavelmente tinham se afastado da empresa após descobrirem a verdade.

E se Ilgaz tivesse que adivinhar, apostaria que nenhuma das duas mortes fora tão acidental quanto aparentavam ser.

Mas palpites e suposições não tinham lugar em um ambiente jurídico. Para provar qualquer coisa e proteger Ceylin, Ilgaz precisava de provas.

Ele as conseguiria. Mesmo que isso significasse trabalhar durante todo o dia no Tribunal e à noite em seu próprio computador.

Por Ceylin, Ilgaz não mediria esforços.

Mais uma vez, ele não iria parar até que toda a verdade se revelasse.

.

Ceylin andou de um lado para o outro. Já havia memorizado quantos passos eram necessários para cruzar a sala do apartamento de Ilgaz em todas as direções possíveis. Sabia quantos azulejos havia em cada parede do banheiro.

E por mais que tentasse manter sua mente ocupada, a hora parecia não passar.

Ceylin não havia ido para seu escritório naquele dia pois não tinha nada a fazer por lá. Ainda tinha poucos casos, e não havia nada urgente para ser resolvido. Em circunstâncias normais, trabalharia para ativamente captar novos clientes, mas devido ao risco que corria, era melhor que mantivesse a maior discrição possível.

Ilgaz, por outro lado, estava mais atarefado que o usual com seus próprios casos. Naquela manhã, o promotor iria até a sede da Lira interrogar os diretores da empresa a respeito da denúncia que a mesma enfrentava.

Ceylin mal conseguia conter a ansiedade. Desejava estar na linha de frente, ativamente ajudando Ilgaz a desvendar a verdade, porém não tinha recursos legais para envolver-se na investigação. A sensação de impotência que tomava conta dela contribuía para deixar a advogada cada vez mais desanimada.

Checava o celular a cada trinta segundos na esperança de que Ilgaz ligasse para atualizá-la. Mas quando o aparelho tocou, foi a imagem do Professor Sinan que apareceu na tela.

— Ceylin — o homem falou com uma voz abafada assim que a advogada atendeu sua chamada de vídeo — está sozinha?

A advogada levou o telefone até a sala e sentou-se no sofá com o computador aberto.

— Estou — ela confirmou, tentando entender porque seu ex-chefe checava seus próprios arredores continuamente, como se quisesse se certificar de que ninguém podia vê-lo ou ouvi-lo — está tudo bem? Por que está falando tão baixo?

— Escute, eu não tenho muito tempo — O Professor Sinan falou com a respiração acelerada — Ezel pode entrar aqui a qualquer minuto e não quero que ela escute o que vou lhe contar — o homem mais uma vez checou seus arredores e então respirou fundo, aparentemente tentando se acalmar — Ceylin, eu disse que daria uma olhada nos papéis que você me mandou e foi o que fiz — ele aproximou o rosto ainda mais da tela e sussurrou — andei dando uma bisbilhotada em pastas antigas na sala de arquivos e acho que encontrei algo que pode ser de valor — ele piscou quase imperceptivelmente, dando a entender que havia encontrado informações valiosas. Então, um movimento no ambiente do professor o fez pigarrear e alterar completamente o tom de voz, agindo como se estivesse falando com um cliente — como eu estava dizendo, há toda uma burocracia para se transferir o controle acionário. Precisaremos nos encontrar pessoalmente em um futuro próximo para discutir os termos da aquisição.

Ceylin ouviu um som abafado no fundo da sala do professor e entendeu que ele não estava mais sozinho. O Professor Sinan disfarçara o conteúdo da conversa deles utilizando termos e jargões de seu dia a dia para que a conversa parecesse uma reunião casual com um cliente.

— Enviei todos os termos que discutimos para o seu email — o homem acrescentou sugestivamente.

Ceylin sabia instantaneamente o que tinha que fazer.

Ela agradeceu com um aceno de cabeça, não querendo arriscar a possibilidade da secretária de seu ex-chefe reconhecer sua voz.

Assim que desconectaram a ligação, Ceylin imediatamente acessou sua caixa de email. Seu coração parecia bater em sua garganta, todos os seus sentidos aflorados ante a possibilidade de deparar-se com algo concreto que poderia ativamente contribuir para livrá-la da situação em que se encontrava.

E, em poucos segundos, Ceylin obteve o que queria.

Documentos antigos escaneados pelo Professor Sinan mostravam contratos e cópias de conversas entre os diretores nacionais da Lira e políticos de Ancara e Istambul, em sua maioria tratando de acordos para contratação de serviços públicos que apontavam diversas irregularidades. A empresa Cruzeiro do Sul também era mencionada diversas vezes nos arquivos.  

Ainda sentindo seu pulso acelerado e sua respiração arfante, Ceylin pegou o celular ao mesmo tempo que imprimia todos os documentos enviados pelo seu antigo chefe.

Sua primeira ligação para Ilgaz caiu na caixa postal, fazendo Ceylin presumir que ele estivesse ocupado. Após aguardar por dez minutos que pareceram uma hora, a advogada fez duas novas tentativas, ambas sem sucesso.

Sentindo sua pouca paciência se esgotando rapidamente, Ceylin tentou o celular de Eren, na esperança de que talvez ele estivesse na companhia do promotor. Novamente, tudo que conseguiu foi a caixa postal.

Sem pensar duas vezes, Ceylin enfiou os impressos dentro de um envelope pardo grosso, jogou o celular de qualquer jeito na bolsa e pegou o par de chaves reserva que deixara na gaveta do aparador da sala.

.

Ceylin conseguiu manter a calma durante todo o trajeto de táxi desde o apartamento de Ilgaz até a sede da empresa Lira. Tentou ligar para Ilgaz mais quatro outras vezes, obtendo o mesmo resultado.

Ainda sentia os nervos à flor da pele quando desceu e encarou a construção à sua frente.

A advogada não sabia bem o que esperara encontrar, mas a opulência do enorme prédio a pegou desprevenida. Ceylin cerrou os olhos para estudar melhor o ambiente. A sede corporativa da Lira tinha apenas três andares, mas estes estendiam-se por corredores tão compridos que poderia perdê-los de vista.

Parecia um prédio grande demais para uma empresa de pequeno porte, mas Ceylin imaginou que talvez o estabelecimento fosse compartilhado com outras empresas. Dando de ombros, adiantou-se para a recepção.

A maioria das pessoas teria dificuldades em passar pela segurança sem um crachá de identificação ou um compromisso agendado com algum executivo, mas com sua personalidade carismática e seu jeito persuasivo, Ceylin facilmente contornou a recepcionista esgueirando-se dentre um grupo de funcionários que retornavam do horário de almoço. Aquela etapa do processo havia sido relativamente fácil.

A parte realmente desafiadora seria encontrar Ilgaz dentre as inúmeras salas daquele prédio enorme.

Ceylin sabia que a melhor forma de não chamar atenção em um ambiente era agir como se pertencesse ao lugar e foi exatamente o que ela fez. A advogada se controlou para não parecer perdida. Ao invés disso, vagou pelos prédios com a propriedade de quem parecia saber exatamente onde pisava.

Conforme deslocava-se de corredor a corredor, percorrendo cada um dos andares da Lira, Ceylin manteve-se mentalmente alerta buscando qualquer placa ou sinalização que indicasse onde encontrava-se a sala da diretoria.

Não esperava encontrar nenhum rosto familiar por ali, motivo pelo qual Ceylin congelou ao avistar o mesmo homem de meia idade com a barba distintamente branca que estivera dentro do carro preto na noite em que fora perseguida ao sair da delegacia.

Aparentemente, ele ainda não a avistara. Mas a julgar pela forma com que caminhava pelos corredores olhando cada cantinho dos arredores, o homem estava procurando alguma coisa.

Engolindo em seco, Ceylin subitamente se deu conta de que havia uma enorme chance da alguma coisa ser ela mesma.

Havia entrado com as próprias pernas no território do inimigo, colocando-se diretamente em risco. A advogada percebeu, talvez tarde demais, que agira impulsivamente ao ir até a sede da empresa, pois as chances de encontrar Ilgaz naquele prédio enorme eram pequenas. Nem sabia ao certo se ele ainda estava lá.

Enquanto dava passos apressados pelo corredor, caminhando o mais rápido possível sem chamar atenção, Ceylin perguntou-se mais uma vez como aqueles homens a haviam localizado.

Tinha certeza de que ninguém seguira o taxi no qual estava e não havia se identificado na portaria. A única possibilidade na qual conseguia pensar era alguém ter visto seu rosto e a reconhecido através de uma das câmeras de segurança, mas isso parecia bem improvável visto que os inimigos que a procuravam trabalhavam para a Cruzeiro do Sul, e não para a Lira.

Ceylin moveu-se pelos corredores da forma mais sorrateira que pôde, evitando o olhar do homem. Caminhava desesperadamente buscando a saída, e foi em uma curva do corredor principal da empresa que esbarrou em algo sólido e quase perdeu o equilíbrio. Sua bolsa caiu no chão, diversos objetos pessoais rolando para todos os lados.

A advogada podia sentir seu coração pulsando em sua garganta. Olhou para cima com pânico no olhar, mas em uma fração de segundo todo seu medo se dissolveu ao encontrar o rosto familiar de Ilgaz.

— Ceylin! — O promotor se assustou com a presença dela ali — Por Deus, o que você está fazendo aqui?! — Ele perguntou com tom severo — não acredito que saiu de casa sozinha de novo!

Ceylin estava tão aliviada de encontrar Ilgaz que poderia até mesmo abraçá-lo. Ela reuniu seus pertences com a ajuda dele, e explicou de forma apressada o que a levara até ali e como reconhecera o rosto familiar que parecia buscá-la ativamente.

Assim que ela terminou de reunir tudo em sua bolsa, Ilgaz a puxou pelo cotovelo, alarmando a advogada.

— Venha comigo — ele sussurrou em um tom sério.

Ceylin engoliu em seco ao reparar que ele não estava pedindo, mas sim exigindo.

Ilgaz não tivera muito tempo para elaborar, mas ao mesmo tempo que ouvia o relato de Ceylin, estudava o ambiente ao redor. Poucos segundos foram o suficiente para o promotor avistar a presença de duas câmeras e reparar que, além do homem de barba branca descrito por Ceylin, um outro rapaz vestido com roupas de funcionários também parecia procurar alguém nos corredores.

Ambos pareciam tão absortos em sua busca quanto na tela de seus celulares.

Rapidamente entendo o que estava acontecendo, Ilgaz puxou Ceylin para um corredor estreito, tentando despistar os dois malfeitores.

— O que está esperando? — Ceylin o questionou, aflita — por que você não dá voz de prisão àquele sujeito?

— Sob qual pretexto? — Ilgaz franziu a testa para ela de forma rabugenta —Não tenho motivos concretos para prender o homem, e além disso, a última coisa de que preciso é ter que focar minha atenção nele e arriscar perder você vista. Já se esqueceu que ele não está sozinho?

Ceylin suspirou, frustrada. Como sempre, a racionalidade cuidadosa de Ilgaz se provava uma estratégia melhor do que suas reações impulsivas.

O promotor não teve tempo para processar os mesmos pensamentos que ela, pois com o canto do olho avistou uma movimentação na entrada oposta do corredor onde se encontravam.

Ilgaz não era nenhum novato naquela profissão. Já tivera sua cota de situações onde o orgulho de usar um distintivo o fazia querer prevalecer sobre aqueles que desafiavam a lei. Mas depois de mais de uma década no ofício, já aprendera a dosar quando era seguro encarar de frente o inimigo, e quando era mais vantajoso recuar.

O promotor sabia que, caso decidisse confrontar os homens que perseguiam Ceylin, estaria arriscando não apenas a vida dela como também a sua. Sempre existia a chance de saberem que era um promotor público, algo que talvez inibisse os sujeitos de tentarem qualquer coisa contra ele, mas não tinha como garantir o mesmo em relação a Ceylin.

Antecipando que muito em breve seriam encurralados, Ilgaz fechou os dedos em volta do punho de Ceylin e a puxou para dentro da primeira porta à esquerda no corredor.

Somente quando estavam lá dentro, Ceylin deu-se conta de que haviam entrado no banheiro masculino.

— Ilgaz...! — Ela reclamou veementemente mas seu protesto foi interrompido por uma mão enorme cobrindo sua boca.

— Shhh — Ilgaz a silenciou, encarando-a de forma severa — venha comigo e não diga uma palavra — ele ordenou, porém não tirou a mão da boca de Ceylin, como se não confiasse nela o suficiente para garantir que a rebelde advogada fosse capaz de manter a discrição — eles virão para cá — o promotor previu.

Em seguida, Ilgaz a puxou para dentro de uma das cabines do banheiro e trancou a porta.

Ceylin mal tivera tempo para processar o reduzido espaço que estava sendo forçada a compartilhar com o promotor quando, sem qualquer aviso prévio, Ilgaz enganchou as mãos por trás de suas coxas e a ergueu do chão ao mesmo tempo que a forçou contra a parte de dentro da porta do banheiro.

A saia que Ceylin vestia deslizou quase que completamente para cima, expondo muito mais do que seria apropriado em qualquer ambiente que não o quarto de um casal.

O som do pequeno gemido de surpresa da advogada foi abafado pelo pescoço de Ilgaz, uma vez que a proximidade física entre eles praticamente impedia Ceylin de se mover.

Ela agora tinha as pernas enroscadas em volta dos quadris dele e podia sentir cada centímetro do tronco e abdome do promotor firmemente pressionados contra o seu. O rosto dele estava tão próximo que suas respirações se misturavam.

— Ilgaz... — Ceylin sentiu uma onda de calor espalhando-se por todo seu baixo ventre.

— Shhh — Ilgaz mais uma vez exigiu.

A forma intensa com que os olhos dele fitaram os seus fez Ceylin perder completamente o ar. Suas pupilas dilatadas denunciavam a resposta de seu corpo. Por mais que tentasse, a advogada não conseguiu disfarçar.

Ilgaz reparou na forma com que Ceylin umedeceu de leve o lábio inferior com a ponta da língua antes de baixar os lábios para a boca dele. Ilgaz grunhiu baixinho em resposta, atormentado pelas respostas de seu próprio corpo. Antes que se desse conta, uma de suas mãos deslizou na parte de trás da coxa dela, apertando-a firmemente contra si.

Ceylin queria perguntar o que estava acontecendo mas ouviu o som de passos abafados dentro do banheiro e tudo imediatamente fez sentido.

Ilgaz a arrastara até ali e erguera suas pernas para que quem estivesse do outro lado da cabine não conseguisse ver seus pés através da fresta inferior da porta. O promotor ainda a pressionara contra a superfície de madeira no intuito de esconder sua presença, garantindo que ela não ficasse visível até mesmo se um dos invasores se atrevesse a espiar por entre as frestas onde estavam as dobradiças.

— Há alguém aqui? — Um dos homens perguntou com a voz rouca antes de silenciar o outro — vamos fechar esse banheiro para manutenção. Todos devem sair agora — ele arriscou, porém sua voz não parecia muito segura.

Ceylin levantou a cabeça e encontrou o olhar de Ilgaz. Ela estava assustada e sua respiração acelerada deixava seu estado bem óbvio, mas Ilgaz parecia perfeitamente calmo e controlado quando respondeu, dirigindo-se aos homens lá fora.

— Vai ter que esperar se quiser fazer qualquer reparo aqui, irmão — o promotor usou o mesmo tom informal que os homens, fazendo-se passar por um funcionário da empresa — estou no meu horário de almoço e essa é minha única hora de paz do dia. Você não vai estragá-la para mim. Eu vou terminar de ler meu jornal antes de sair daqui.

O homem mais novo riu, mas foi prontamente silenciado pelo olhar severo do mais velho.

— Escute, irmão, viu uma mulher entrando aqui?

— Uma mulher? — Ilgaz incutiu indignação na voz — está ciente de que está no banheiro masculino, não é?

Ceylin não conseguiu distinguir o burburinho dos dois homens lá fora enquanto eles discutiam o próximo passo. Ilgaz lentamente baixou o olhar e encontrou o seu. Ele não precisou de palavras para lhe assegurar que tudo iria ficar bem, ao mesmo tempo que silenciosamente lhe suplicou que permanecesse imóvel e calada, não fazendo nada que pudesse comprometê-los.

— Está bem, irmão, desculpe por interromper sua leitura — o sujeito mais novo concedeu.

Antes que eles saíssem, Ilgaz ainda os ouviu murmurar algo sobre acompanhar os passos dela pela tela.

O promotor deu-se conta de que Ceylin já se preparava para deixar a posição e imediatamente a censurou com o olhar, aumentando a pressão de seu próprio corpo contra o dela para mantê-la presa entre ele e a porta.

— Ainda não — Ilgaz sussurrou de forma quase inaudível — eles podem estar lá fora esperando.

Ceylin engoliu em seco e assentiu em silêncio.

Não sabia o que a deixava mais nervosa: a possibilidade de ser flagrada por um daqueles homens, ou a proximidade física com Ilgaz.

O promotor escolheu aquele exato momento para ajustar a posição deles. Ilgaz deslizou as mãos pela parte de trás de suas pernas e usou seus dedos longos para envolver as nádegas de Ceylin com as mãos, impedindo que ela deslizasse na superfície da porta. O dedão dele inadvertidamente afastou o elástico de sua calcinha ao mesmo tempo que Ceylin sentiu a resposta do corpo dele pressionada contra o meio de suas pernas.

Uma nova onda de calor percorreu todos os terminais nervosos de Ceylin. Aquela era uma das situações mais eróticas que já experimentara.

Já fazia muito tempo desde a última vez que sentira o corpo de Ilgaz tão firmemente pressionado contra o seu. A única diferença era que, na ocasião, não houvera uma barreira de roupas entre eles.

Pensar sobre aquilo deixou Ceylin ainda mais nervosa.

Mas mesmo sem o contato direto com a pele de Ilgaz, a advogada podia sentir o ritmo firme das batidas do coração do promotor. Ceylin fechou os olhos, esforçando-se ao máximo para conter seus impulsos. Seus braços estavam enroscados em volta do ombro de Ilgaz e ela prendia-se a ele como se sua vida dependesse daquilo.

Seu rosto estava praticamente colado no pescoço dele... A urgência de sentir a textura da pele do promotor com seus lábios estava roubando o fôlego de Ceylin.

Tentando afastar a tentação de seus pensamentos, a advogada afastou de leve a cabeça e forçou-se a encarar o homem que ocupava a maioria dos seus pensamentos.

— Você reparou que aqueles sujeitos estavam olhando alguma coisa em seus telefones ?

— Sim — Ilgaz confirmou, satisfeito que ela seguia a mesma trilha de pensamento que ele.

— São as câmeras de segurança, não é? — Ceylin suspirou, abatida — é assim que eles controlam meus passos? Provavelmente por isso aparecem de forma tão aleatória?

— Não — Ilgaz afirmou com propriedade. Ele viu a confusão no olhar da advogada e esclareceu — eu também pensei isso inicialmente, mas não pode ser. Eles não tem como controlar todas as câmeras de Istambul para seguir cada passo seu.

— Então como fazem isso? — Ceylin estranhou. Estava óbvio para ela que Ilgaz tinha uma teoria — como parecem saber onde estou e surgem assim, tão repentinamente?

— Assim que sairmos daqui eu lhe mostrarei e confirmaremos minha suspeita — o promotor falou de forma misteriosa.

Ceylin estava prestes a protestar e exigir que ele compartilhasse seus pensamentos com ela, mas o som insuportavelmente alto de uma sirene lá fora assustou os dois.

— É o alarme de incêndio — a advogada deu-se conta, aflita — acha que pode ser só um exercício de treinamento ou realmente pode haver fogo no prédio?

A intuição de Ilgaz dizia que aquilo provavelmente era uma armadilha. Os homens deviam saber que Ceylin estava escondida no prédio e estavam tentando a todo custo forçá-la a sair. Ilgaz não tinha ideia se estavam apenas em dois ou se havia outros os ajudando.

De qualquer forma, não poderiam ficar mais naquele banheiro. Apesar de suas suspeitas, Ilgaz não tinha como ter cem por cento de certeza de que estavam seguros ali dentro. Caso realmente houvesse uma emergência lá fora, jamais se perdoaria por arriscar a vida de Ceylin.

A contragosto, Ilgaz lentamente soltou o corpo da advogada, gentilmente permitindo que ela apoiasse os pés no chão de novo. Seu corpo protestou a perda de contato com o dela, mas o promotor não se permitiu focar em tais sensações por muito tempo.

— Vista isso — ele tirou o paletó e ajudou Ceylin a entrar na peça — vamos tentar ocultá-la o tanto quanto for possível — Ilgaz assentiu em aprovação ao ver o paletó engolir a figura delicada de Ceylin — assim que sairmos daqui, não pare por nada, está bem? — Ele olhou a advogada diretamente nos olhos — não solte a minha mão, nem pare para falar com ninguém — Ilgaz a instruiu, assistindo conforme Ceylin concordou com um aceno de cabeça — sairemos daqui diretamente para o meu carro. Se você achar que estamos sendo seguidos, aperte o passo mas não corra ou faça algo que deixe óbvio que você é quem eles procuram. É provável que haja um fluxo grande de funcionários evacuando o prédio devido ao alarme. Vamos tentar nos camuflar no meio deles para chegarmos ao estacionamento.

Ceylin concordou com o plano imediatamente. Seu coração palpitava dentro de seu peito, mas não se deu a chance de pensar muito. Sabia que o plano de Ilgaz era a melhor chance que tinham de sairem dali ilesos.

Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Ilgaz esgueirou-se pela porta de saída do banheiro e rapidamente checou o corredor antes de permitir que Ceylin saísse atrás dele.

O promotor caminhou agilmente pelos corredores, infiltrando-se no primeiro grupo de pessoas que avistava. Apesar das instruções de Ilgaz, Ceylin não pode conter o impulso de olhar por cima do ombro algumas vezes, apavorada com a possibilidade de estarem sendo seguidos sem que ela percebesse.

Somente quando cruzaram a porta de saída da empresa, Ceylin permitiu-se soltar a respiração que estivera prendendo. Pela primeira vez desde que entrara naquele prédio, sentia que tinha a chance de sair ilesa.

Devido ao alívio precoce que experimentou, Ceylin permitiu-se baixar a guarda por um segundo, e por isso não viu um homem de casaco escuro aproximando-se dela por trás.

Apesar da distração da advogada, Ilgaz mantinha-se atento a todos os ângulos. Ele reparou que o homem que caminhava próximo a eles no meio dos funcionários se aproximava casualmente com cada passo que dava.

O promotor e a advogada estavam a apenas alguns metros do carro de Ilgaz quando ele pressentiu o ataque iminente do estranho.

Antes que Ceylin se desse conta do que estava acontecendo, Ilgaz a puxou pela cintura, detendo-a em seus braços para inconscientemente protegê-la usando seu próprio corpo.

Conforme o fez, o promotor colocou-se diretamente na mira do sujeito que os estivera perseguindo desde cedo.

O homem passou por eles justamente quando Ilgaz posicionou-se ao redor de Ceylin. Ao colidir com o infrator, Ilgaz sentiu uma pressão aguda na parte inferior de seu abdome, rápida o suficiente para que ele não tirasse os olhos do homem, mas intensa o suficiente para o promotor fazer uma careta de dor.

E foi apenas depois que homem já desaparecera de vista dentre a multidão que se apressava para fora do prédio que Ilgaz olhou para o próprio corpo, assistindo conforme uma mancha vermelha aumentava, tingindo de sangue sua blusa imaculadamente branca no exato ponto onde acabara de ser apunhalado. 


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Está oficialmente aberta a temporada de "Mas, Orion, cadê o capítulo 6? Preciso já!" 😂

E aí, alguém arrisca uma teoria? 

Se não são as câmeras, qual é a suspeita de Ilgaz em relação à forma com que Ceylin é constantemente abordada? 

Vai ficar tudo bem com o promotor? 🔪🔪🔪  Ele vive? Ele morre? 

Já que a Sema só adia essa plot, alguém tinha que fazer alguma coisa!  😂 

brincadeirinhaaa... Em breve volto aqui! Quem puder deixa uma estrelinha pra mim, e se você tiver alguma coisa pra dizer, vou adorar te ouvir (no caso, ler) 🤍 

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