Agnar tira seus óculos quando Scorpia fecha a porta do carro, o motorista da limusine do vampiro dirige em silêncio.
Jade observa o homem sentado na sua frente, ele desliza a mão para dentro do seu bolso e tira de lá um maço de cigarros de maconha, ele toma seu tempo ao acender um deles e fuma-lo devagar.
Ele exala a fumaça e diz:
— Eu achei que nós tínhamos entrado num acordo na última vez que nos vimos Jade — Ele abre levemente a janela pra que a fumaça saia por ela — Eu não fui claro o suficiente?
— Você foi — Jade diz, sem rodeios.
Ele ergue uma sobrancelha.
— Não é o que me parece — Ele diz — Aquela prostitua esfriando nas águas do rio me diz o contrário.
— Não — Jade diz, mantendo a calma, tudo o que ela não precisava no momento era iniciar uma discussão — Te diz exatamente o que você precisa saber: que quem quer que tenha tirado sua vida, foi desleixado e incontrolado.
— O que é exatamente o contrário de tudo que Jade é — Scorpia complementa.
Os olhos dourados de Agnar se desviam devagar para Scorpia, tudo em sua expressão é um mistério, nesse momento, Jade não faz a menor ideia do que se passa na mente de sue criador.
— Eu ia dizer que se parece muito com a morte de uma certa camponesa — Agnar diz — Séculos atrás, que morreu pelas mãos de uma incontrolável Jade — Ele apoia seus cotovelos nos joelhos e abre um sorriso, inclinando a cabeça — Me diga querida, você se lembra o nome dela?
Jade se inclina e a centímetros de Agnar.
— Eu não matei aquela mulher — Ela diz, olhando seriamente para ele, Agnar analisa o rosto de Jade por um minuto antes de se afastar e tirar algo de dentro de uma bolsa na lateral do carro.
Ele joga um saco plástico na direção dela, que o segura no ar.
— Seus irmãos — Ele diz, se referindo aos outros vampiros do coven que foram criados por Agnar — Encontraram isto perto do corpo esta manhã, apenas alguns minutos antes de sua irmã Scorpia passar por ali — Ele olha para a irmã de Jade, criando um novo interesse na mulher — O que me fez pensar que talvez, você possa ter sido responsável por isto, mas eu sei que apenas uma pessoa no mundo inteiro tem itens tão únicos como estes.
Jade olha para o saco plástico e sente sua alma da um salto em si.
Dentro do saco, há duas alianças de prata, antigas, sujas de sangue.
As alianças de casamento de Kit e Jade, ao qual Jade acreditava terem sido perdidas para sempre no incêndio em seu escritório.
Incêndio que Agnar começou.
De repente, algo estala no fundo da mente de Jade, um pensamento frio e perigoso.
Mas antes de chegar a quaisquer conclusões, ela decide testar sua teoria.
— Onde você achou isso?
Agnar ri e volta a fumar.
— Eu acabei de dizer Jade, não me faça repetir.
— Estas alianças estavam dentro de um cofre no fundo do meu escritório — Ela diz — E graças a você, absolutamente tudo lá se transformou em cinzas ou metal derretido, incluindo o cofre, então eu vou perguntar novamente, como conseguiu isso?
Agnar olha para ela como um gato arisco.
— O que você está insinuando?
Jade coloca as alianças no seu bolso.
— Que uma de suas crias está tentando enganar você a faze-lo acreditar que eu, sua primeira criação, desobedeceria uma de suas regras mais importantes — Ela diz — E aparentemente, quem quer que seja, está atingindo seu objetivo com sucesso.
Agnar abre um sorriso sinistro, suas presas se projetando para fora, ali carregam um dos venenos mais letais e perigosos do mundo, e vê-las num sorriso nunca era boa coisa.
— Você deve me achar um estúpido — Ele diz e olha pela janela, ele respira fundo, Jade consegue ver mil pensamentos passando pela mente do homem, mas não consegue adivinhar nenhum deles.
Agnar finalmente se vira, e seu rosto está tão vazio quanto sua alma.
— Muito bem — Ele diz e dá uma batida na janela de vidro entre o motorista e a parte de trás do carro, o homem encosta o carro — Eu resolverei problemas à minha maneira, saiam.
Jade hesita.
O quê?
Agnar nunca foi do tipo de desistir tão fácil, o que diz a ela que ele não acredita em uma palavra que saia de sua boca, o que diz a ela, que ele fará algo estúpido.
— Eu disse para saírem.— Ele repete.
Scorpia abre a porta, pulando pra fora.
Jade hesita antes de sair, ela se vira para ele e com nada além de desolação em seus olhos, ela diz:
— Quando foi que seu coração se tornou tão ferido que você perdeu completamente sua confiança em mim?
Por um minuto, Agnar parece baixar suas guardas e Jade tem acesso ao verdadeiro Agnar.
— Talvez quando você começou a traí-la — Ele diz, olhando pra ela.
Jade suspira.
— Eu nunca trai você Agnar — Ela diz em um tom triste — Eu apenas me apaixonei.
— Exatamente — Ele diz antes de voltar a tragar seu cigarro, encerrando a conversa.
Jade sai do carro, fechando a porta, o motorista desaparece pela rua, deixando Scorpia e Jade completamente sozinhas.
Ela se vira para Scorpia e diz:
— Você deveria ligar para Boorman e os outros e pedir que eles saiam da cidade — Seus olhos encontram os de Scorpia — Imediatamente.
Quando ela se vira, Jade escuta Scorpia perguntar:
— Aonde você vai?
— Vou atrás de Kit— Ela responde — Eu tenho a impressão de que ele fará algo terrível.
+++
Kit liga para Ross mais uma vez, a garota não atendeu em nenhuma das sete vezes anteriores.
Ela solta um grunhido, Ross deve estar com uma ressaca muito forte pra sequer atender o telefone.
Jade também não atendia, então ela resolve sair do apartamento, dar uma volta e comprar algo para comer.
Kit vai até o supermercado, que milagrosamente parece vazio quando ela entra, ela pega uma cesta e arrasta seus pés pelo chão, ela ainda veste o moletom e as calças de Jade, assim como o tênis.
Kit entra na sessão de cereais e bolachas, ela coloca alguns pacotes de cookies de gotas de chocolate e se direciona para sessão de bebidas.
Um homem alto e sério passa por ela, a encarando fixamente, ela automaticamente se sente desconfortável, Kit puxa o capuz do moletom sobre sua cabeça e continua andar pelo corredor, colocando uma garrafa de suco na cesta.
Ela percebe que algo está errado quando, ao virar para o corredor de pães e encontrar outro homem ali, igualmente sinistro, que assim como o outro, não tira os olhos dela.
Quando ela vê que o pote de manteiga de amendoim que está nas mãos dele, que ele "supostamente estava lendo" está de ponta cabeça, ela imediatamente sabe que ela deveria fugir, rápido.
Kit sabia o que fazer, ela já fora perseguida por homens predadores antes, quando ela morava com seus pais, essa foi a razão que sua mãe insistiu que Kit fizesse aulas de luta e manejo de armas, anos atrás.
Kit continua a andar, sem parar e sem parecer suspeita.
Ela está quase fora do correndo, indo em direção às caixas registradoras, quando um par de mãos ásperas a puxam com tudo, ela se prepara pra gritar, mas uma das mãos cobre sua boca.
Kit entra me pânico e se debate, lutando com tudo o que tem para se libertar, ela sente seu coração acelerar e desgosto cobrir seu corpo, ela morde a mão do homem, fazendo-o chiar.
Então ele acerta Kit na cabeça, com força, e o corpo dela se torna maleável como gelatina ao passo que a mesma perde a consciência, as câmeras de segurança quebradas não captam quando o homem a arrasta para o fundo do mercado, e direto para o estacionamento, e os guardas não veem quando a garota é amarrada e posta no porta-malas de um carro e os dois homens sinistros vão embora.
E ninguém vê quando eles se livram do celular e os pertences de Kit, os lançando numa caçamba de lixo na rua.