Anastasia
Desperto com um toque sutil no ombro. A comissária de bordo sorri para mim e avisa que vamos nos preparar para pousar.
Agradeço com um sorriso e me ajeito na poltrona, apertando o cinto ao redor da cintura. Olho rapidamente para o lado e vejo as minhas amigas conversando enquanto comem cookies de gotas de chocolate.
— Conseguiu descansar, Ana? — Mia sorri amavelmente e se estica para me entregar um cookie.
— Sim, obrigado. Agora eu só quero sair desse avião, correr para o hotel e tomar um banho. — murmuro com um suspiro e Kate faz um som de concordância.
— E depois... — ela lança um olhar cheio de expectativas para Mia e eu, os olhos verdes brilhando de excitação. — NOITE LOUCA EM VEGAS.
Eu cogito a possibilidade de recusar a proposta e somente me jogar na cama, mas porra, não.
É a minha despedida de solteira.
Em sete dias eu estarei dentro de um vestido horroroso que a minha mãe escolheu sem se importar com a minha opinião, sorrindo para pessoas que eu não suporto e jurando amor a um homem que consigo sentir no máximo empatia.
— Você não vai dar para trás, né? — Katherine Kavanagh e sua maldita habilidade de ler os meus pensamentos.
Suspiro e balanço a cabeça em negação, forçando um sorriso.
— Claro que não. É a minha despedida de solteira, lembra? O último momento da minha vida como uma mulher livre. — a minha resposta parece agradar e ambas batem palmas, empurrando os cookies pela garganta com mais champagne.
Nós fazemos uma descida tranquila no Harry Reid Airport. A Primeira Classe recebe a liberação antes dos demais passageiros das classes econômicas e nós finalmente pisamos em Nevada.
Mia e Kate parecem mais que felizes enquanto gritam e batem palmas como crianças diante da árvore na manhã de natal. Eu me limito a olhar ao redor, a noite começando a cair e colorindo o céu de azul, rosa e laranja.
— Lindo, não é? — Kate me abraça e deita a cabeça no meu ombro. Eu sorrio e assinto, abrindo os braços para envolver Mia num abraço.
— É maravilhoso. Prontas para serem piranhas ricas e inconsequentes em Las Vegas?
Elas gritam um sonoro sim e nós corremos para dentro do aeroporto. Novamente agradeço por viver num mundo de privilégios e sorrio para o empregado que nos espera no portão de desembarque com as nossas malas e carro particular esperando.
Entrego duzentos dólares para o rapaz que me agradece com um sorriso brilhante e deslizamos no banco de trás do SUV. O motorista bonito se apresenta como Ryan e avisa que estará à nossa disposição pelo fim de semana.
Ele rapidamente coloca o carro em movimento e deixamos Paradise em direção à Las Vegas.
A viagem é rápida e em vinte minutos estamos parando nas portas suntuosas do Bellagio Hotel & Casino.
Ryan abre a porta e me oferece a mão como apoio. Desço do SUV e fico na calçada, esperando as minhas amigas. As fontes na entrada do hotel se iluminam com a chegada da noite e um show de águas dançantes e luzes coloridas me fazem arfar.
É a porra da coisa mais incrível do mundo.
— Caralho, nós precisamos de uma foto. — Kate puxa o celular da bolsa e o desbloqueia, entregando-o para Ryan. — Você tira uma foto nossa, docinho?
Ele assente com um sorriso educado e ela nos puxa para mais perto, me colocando no meio.
— Não, espera. Isso está muito brega. — bagunço os meus cabelos e belisco as bochechas para deixá-las mais rosadas.
Kate e Mia fazem o mesmo, puxando os decotes para baixo de uma maneira nada discreta. Eu rio das duas e jogo um braço ao redor do ombro da Kate, levantando a perna para que Mia segure.
Nós nos atrapalhamos e começamos a rir como idiotas bêbadas — o que talvez nós sejamos de fato.
Eu grito para que o Ryan tire a foto antes de acontecer uma tragédia e o flash rapidamente ilumina a noite que começa a nascer.
A próxima pose que recriamos parece ainda mais estúpida do que a primeira. Kate apoia as mãos nos joelhos e eu subo nas costas da Mia. Ela se desequilibra um pouco e começamos a rir, mas Ryan é rápido o suficiente para conseguir captar o momento perfeito, sem maiores vergonhas.
Nos aventuramos pelo lobby luxuoso do hotel e Kate é quem toma frente, dando nomes e documentos para a recepcionista. Ela nos entrega três cartões com o número 3933 gravado e indica o elevador.
Um outro empregado sorri para nós e confere o número do quarto, um brilho de curiosidade surgindo sutilmente. Nos apertamos no elevador para que Ryan consiga entrar com as bagagens e as portas se fecham, o andar 36 se iluminando no painel dourado.
Fazemos uma subida rápida e tranquila, o elevador parando com um solavanco sutil.
— Para as senhoritas liberarem o elevador é só pressionar o cartão no painel. — eu faço como ele instrui e as portas deslizam abertas para um espaço espetacular.
As meninas suspiram nas minhas costas e me empurram para fora do elevador. O quarto é dividido entre sala de estar, bar e suíte. Janelas panorâmicas por todos os lados dando uma visão privilegiada da agitada e iluminada Las Vegas.
— O banheiro fica ali. — o rapaz aponta para uma porta à direita do bar. — O closet está ao lado. Espero que tenham uma boa estadia.
Ele sorri educadamente e eu coloco cem dólares na mão dele, acenando em despedida enquanto ele e Ryan entram no elevador novamente e as portas de fecham.
Olho sobre o ombro para a suíte mais impressionante que já vi na vida e sorrio, chutando meus saltos para longe antes de correr pelo carpete e me jogar na cama macia.
— Puta que pariu, olha para esse quarto. — eu grito animada e abro os braços sobre os lençóis brancos.
Kate e Mia dão gritinhos animados e se jogam ao meu lado, nós três sorrindo como bestas.
— Onde você achou esse lugar? — Mia pergunta para Kate e ela rola na cama, ficando de bruços.
— Estava pesquisando hotéis para reservar e esse apareceu no topo com as melhores avaliações. Tem piscinas, cinema particular e mais um monte de merda. — ela dá de ombros como se não fosse importante mas o sorriso traí a sua indiferença. — E também tem um cassino. Pelo o que eu li é um dos mais cobiçados da cidade, mas não é todo mundo consegue entrar. É uma coisa mais para hóspedes, bilionários e famosos.
— Ainda bem que somos hóspedes então porque caso contrário não passaríamos nem na porta. — murmuro com deboche e Kate bufa, batendo na minha barriga com um travesseiro.
— Nós somos mulheres ricas e poderosas, ok? E além do mais essa pode ser a nossa noite de sorte. — ela arqueia uma sobrancelha e morde o lábio inferior. — Quem sabe conseguimos atrair a atenção de bilionários quentes dispostos a gastar nas mesas de pôquer.
Definitivamente não, garota.
Eu estou fora desse ramo.
Eu faço um som de insatisfação e os olhos da Kate encontram os meus, as sobrancelhas subindo ainda mais.
— Você não está cagando nos nossos planos, certo?
— Não, claro que não. Só não vou fazer parte de todos eles. — ela geme e afunda o rosto no colchão, batendo os pés como uma criança birrenta.
— Ana, não começa com esse discurso de moralidade, pelo amor de Deus. — Kate murmura com a voz abafada e eu me arrasto até a cabeceira da cama, ficando sentada.
— Não é discurso moral, Kate, é só questão de bom senso. Eu não sou solteira, esqueceu? — meus olhos vão para o solitário que Jack me deu algumas semana atrás.
— Eu não entendo por que você se apega tanto a esse casamento. — Mia finalmente fala e não esconde a insatisfação na voz. — Todo mundo sabe que isso é pura fachada. Pior, todo mundo sabe que o Jack é gay e está se casando com você por pressão.
Espera, o quê?
Como assim todo mundo sabe?
Olho para a Mia e ela revira os olhos, também rolando de bruços.
— Alguém viu ele com outro homem? — pergunto temerosa.
Ser traída já seria uma humilhação enorme, nas circunstâncias das coisas seria o meu fim.
— Não que eu saiba mas qual é, Ana? Não precisa ser um super observador para perceber que o seu noivo está mais disposto a transar com o seu segurança do que com você. — engulo em seco e abaixo a cabeça, a luz do quarto refletindo no diamante obsceno.
Por que diabos eu estou fazendo isso mesmo?
Para a gradar a minha família?
A mesma família que nunca me apoiou em merda nenhuma?
Estou fazendo isso para ser aceita no círculo de amizade dos meus pais?
O mesmo círculo de amizades que sempre me julgou estranha e deslocada?
Estou fazendo isso para apagar da minha mente lembranças dolorosas de um homem que eu tento odiar todos os dias mas que só desperta em mim o sentimento contrário?
Sim, talvez seja isso.
Talvez as minhas amigas estejam certas, afinal.
Talvez — mas apenas talvez — eu tenha medo de ficar sozinha.
As mãos da Kate cobrem as minhas, tapando o anel. Eu pisco e olho para ela enquanto sinto uma lágrima rolar pelo meu rosto.
Ela suspira e se arrasta pelo colchão até estar sentada e me puxa para um abraço. Deito a cabeça no seu peito e sinto os braços da Mia envolverem a nós duas.
— Você nunca estará sozinha, Ana. Nós sempre vamos estar do seu lado, tirando todas as pedras possíveis do seu caminho e oferecendo apoio todas as vezes que você cair.
Eu sorrio para ela e limpo as minhas lágrimas.
— Amigas para sempre? — Kate e Mia falam juntas, os olhos também molhados de lágrimas.
— Amigas para sempre.
◕ ◕ ◕
Se o espaço hoteleiro do Bellagio já é impressionante, o cassino é dez vezes mais.
Tapeçaria persa, lustres de cristal, pessoas bem vestidas, bebidas e música. Vermelho, azul royal e dourado por toda parte, cada centímetro gritando luxo e dinheiro.
Passo as mãos pelo meu vestido longo preto e sorrio, encarando meu reflexo em um dos muitos espelhos espalhados pelo cassino.
Depois do nosso momento best friends forever, Mia e Kate me arrastaram para o banheiro e brincaram de Barbie comigo.
Elas soltaram os meus cabelos em ondas clássicas pelas minhas costas, escureceram a maquiagem e reaplicaram o batom vermelho. O último passo foi o vestido preto de cetim com decote e fenda na perna esquerda e Louboutins clássico também pretos.
Elas também ficaram espetaculares com vestidos parecidos com o meu, Mia de verde e Kate de marsala.
Nós ignoramos os olhares e cantadas baratas de alguns homens ao redor, nos dedicando somente a tomar champagne e escolher onde deixaríamos pequenas fortunas.
Perder dois mil dólares nas máquinas caça-níqueis me fizeram questionar se foi realmente uma boa ideia vir para Las Vegas.
Mas como a frase clichê já dizia; só se vive uma vez.
— Onde nós vamos agora? — Kate murmura já meio bêbada e eu olho ao redor, sendo atraída pela multidão ao redor de uma mesa específica.
— Que tal ali? — indico a direção e ela seguram os meus braços, uma de cada lado.
Nos esprememos entre as pessoas até conseguirmos chegar na mesa. O dealer espera que um casal faça sua aposta e joga os dados, ambos somando seis pontos.
O casal faz uma careta e eu sorrio.
7-eleven, é claro.
— Quem será o próximo?
— Eu. — sorrio para ele e tiro algumas fichas da bolsa, colocando-as sobre o feltro verde.
— Mil dólares, senhorita? — eu assinto.
— Quero o pass. — ele franze um pouco as sobrancelhas, talvez surpreso pela minha confiança mas desvia os olhos para as outras pessoas ao redor da mesa.
— A senhorita colocou mil dólares na mesa. Algum cavalheiro corajoso o suficiente para cobrir a aposta?
Um homem de cabelos grisalhos e com um braço firmemente ao redor da cintura de uma mulher que deve ser mais nova do que eu sorri e coloca dois mil dólares na mesa.
— O senhor ficará com o don't pass, tudo bem? Mais alguma oferta?
Todos continuam em silêncio e o dealer dá as apostas por encerradas, colocando os dados dentro do copo.
Ele balança e vira o bocal sobre o feltro, levantando-o com um suspense exagerado. Todos se inclinam, curiosos para saber o resultado dos dados e eu sorrio abertamente, orgulhosa de mim mesma.
— Onze. A senhorita acaba de ganhar três mil dólares.
O meu adversário faz uma careta e dá as costas, puxando a garota para longe.
— Bom, tem pessoas que não sabem perder. — dou de ombros e puxo as fichas do homem para junto das minhas. — Aumento a minha aposta para três mil e continuo com o pass.
O dealer sorri sutilmente e olha ao redor, procurando por outro apostador disposto a tentar a sorte nos dados.
— Eu aposto cinco mil. — uma voz masculina firme e sensual murmura à minha direita.
Ouço Mia arfar nas minhas costas e olho na direção da voz.
Que decisão de merda.
Minhas pernas ficam bambas na hora, meu coração acelerando no peito.
Aperto as laterais de madeira da mesa forte o suficiente para os meus dedos ficarem brancos, minha garganta ficando seca e áspera.
Porra.
[•••]
Eu tô me tremendo toda.
😯🤯