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By franchaels

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โœž ๐Ž๐๐€๐„. | All men are sinners, the fathers of the faith teach us. Em um tempo onde o ressentimento s... More

๐Ÿ—ก๏ธ | Of Bones and Embers.
GRAPHICS GALLERY.
โ™›. ๐Ÿฌ๐Ÿฌ๐Ÿฌ โ” PROLOGUE.
โ™ฑ ACT I โ”€โ”€โ”€ Before I Wake.
โ™›. ๐Ÿฌ๐Ÿฌ๐Ÿญ โ” BORN OF BRONZE.
โ™›. ๐Ÿฌ๐Ÿฌ๐Ÿฎ โ” SWEET LIES.

โ™›. ๐Ÿฌ๐Ÿฌ๐Ÿฏ โ” DEAD IN HER EYES.

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By franchaels

🐉. OF BONES AND EMBERS.
━━━ CHAPTER THREE:
A morte nos olhos dela.

📍. 115 DC, Pedrarruna.


Hera tinha recém completado dez luas assim que firmou-se sobre o chão pela primeira vez, pequenos passos lentos e desengonçados. Até o presente momento, ela rastejava obstinadamente por tapetes de tecido almofadado que eram desenrolados no chão e forneciam a suavidade que lhe era necessária para quando seu eventual equilíbrio fraquejasse.

E, ao começar a andar, não demorou muito para que Ayssa a ensinasse a correr.

Ela dava volta pelas poltronas e era inteligente o suficiente para se aproveitar de brechas que alguns dos servos concediam com as portas abertas para deslizar ao longo dos corredores. Amava a sensação do calor ao ponto de chorar incontrolavelmente quando lhe era negado a aproximação com uma lareira (um rigor convencionado por Rhea, afinal, Hera não possuía a mesma compreensão semelhante a deles de que não poderia puramente espichar as mãozinhas para as chamas que consumiam-se), contudo, a garotinha parecia se satisfazer com a ausência do fogo, apenas observando os restos carbonizados de madeira impregnada no cimento escuro. Havia um fascínio questionável em seus olhos ao mirar as labaredas alaranjadas escaldando-se, volteando-se...

Um verão longo afundou entre a terra e dois anos se passaram como uma torrente selvagem das Terras Fluviais.

Com dois dias de seu nome, ela já falava tanto que Meistre Rainer a considerava uma menininha de atitudes proeminentes a uma excelente oratória. Antes disso, como uma estrada sinuosa que externou um empenho considerável para ser erguida, existiu um longo rastro de balbucios. Lyssa e 'Mamãe' pareciam ser as favoritas em seu vocabulário.

Ela optou por realizar a iniciação de suas palavras com o Idioma Comum. Foi uma decisão tomada pensando com cuidado em seu doutrinamento, considerando que para compreender a língua rúnica prescrita em cada canto de Pedrarruna, Hera deveria ser ensinada a leitura primária.

Mas, por um breve momento... Rhea oscilou no pensamento se poderia designar um mentor valiriano — se fosse o desejo de sua filha em idade adequada — pois fortalecer ainda mais os laços com Daemon não era algo que a senhora desejava. Entretanto, era sua cultura, parte de sua ascendência.

Os cabelos de Hera se esticaram até a nuca em ondas suaves e escureceram comparados à palidez a princípio, os traços do nariz se acentuaram ainda mais com os de Rhea e seus olhos tornaram-se mais compenetrados. Porém, não houve alteração no tom. Os mesmos lilases pálidos.

E o amor que Rhea nutria por sua filha era como uma avalanche forte, a coisa mais poderosa e sólida que ela havia experimentado em toda sua vida; e, de repente, os sacrifícios que precisou acatar para tê-la não pareciam nada comparados a felicidade que agora vivenciava.

Ela estava completa.

━━━━━━

O príncipe rebelde soube que sua doce sobrinha casou-se com sor Laenor Velaryon através de Corlys. A notícia fora como um golpe duro em suas costelas, capaz de ceifar-lhe o ar; ele deveria ser o marido de Rhaenyra e esteve tão perto de conseguir isso. Ela sempre pareceu encantada consigo, seu pequeno dragão, vibrando a cada presente que ele lhe dera e sua vaidade cantando com cada elogio que fizera a respeito de sua beleza, seus longos cabelos claros que escorriam em cachos volumosos, sua fisionomia encorpada. Os beijos emocionados que ela desferiu em sua maçãs do rosto quando ele a presenteava.

Agradar Rhaenyra sempre fora seu desígnio — encante-a, torne-a cobiçosa com sua pessoa —, porém suas palavras não eram apenas futilidades maledicentes.

Ela era o Deleite do Reino por mérito próprio, traços tão belos que poderiam ser inseridos em uma ode de romantização estúpida sobre donzelas. A mulher mais bela aos seus olhos e que o ergueria na posição de, ao menos, um consorte. 

Seus prospectos foram arruinados.

Ela estava grávida, mostrando-se fértil rapidamente após seu matrimônio selado. Um casamento consumado, desfeito apenas com a morte.

E a outra musa de seu interesse… Mysaria enroscou-se em um mártir de segredos aveludados. A última vez que tivera qualquer notícia dela fora a missiva informando sobre seu aborto e que ela não desejava mais ser perturbada pelas questões da coroa. Daemon não podia culpá-la já que, em muito, ele a utilizou para importunar Viserys e seu estúpido Lorde Mão.

Daemon sentia falta dela — sempre pensaram em concordância.

O Targaryen sabia que tornara-se um príncipe preso às suas próprias correntes, como se a coroa que orgulhosamente depositou em sua cabeça quando teve o domínio dos Degraus em suas mãos fosse feita de agulhas e mais se assemelhasse a uma penitência do que conquista em si.

A um abismo de distância, uma criança proclamada sua crescia a cada dia.

Ele supunha que seus pais, olhando por ele, julgavam-lhe com um escrutínio descontente e desapontado; a família era a prioridade de Baelon e Alyssa Targaryen. Os sorrisos dos filhos acalentavam seus corações, enquanto tentavam educá-los da melhor forma para que ambos crescessem pessoas decentes.

Não deu muito certo, Daemon qualificou, amargamente.

Talvez, ter buscado replicar seus pais, tentado recriar o escopo da relação amorosa e companheira que possuíram e empenhar tantas expectativas em nutrir do mesmo, que agora tudo acabou daquela forma tão falha e miserável. Nunca teria uma senhora que seria sua amiga, nunca teria aquele instinto paternal explodindo de maneira que, caso olhassem em sua direção, soubessem que ele era completo.

Porque ele não se importava com algo que deveria ser sua responsabilidade.

A crua realidade que abraçou. E que degradava mais a visão que depositavam nele.

Provou-se ser útil o fato de que ele nunca se importou com o que pensavam de si.

━━━━━━

Tão logo que Hera completou dois anos e meio, Rhea introduziu a levá-la junto consigo para cavalgar, enrolada em panos e presa ao seu peito — ela já não chorava mais e era suscetível a manter-se serena, contentando-se em frequentar o que até então, lhe era incomum.

Ela esperava que isso vinculasse a garotinha com suas raízes maternas, observando os enormes campos verdejantes e as montanhas escarpadas. Embora houvesse uma comitiva arrastando-se atrás de ambas discretamente, elas tomavam um caminho à beira-mar, onde as ondas quebravam cheias de espumas e as patas do garanhão deixavam um rastro na areia pulverizada, fascinando Hera. Seguiam por entre as terras empoeiradas de montanhas, constatando gravuras de rochas oriundas.

━━━━━━

Saudosa irmã,

Tenho satisfação em estar a par do crescimento de minha querida sobrinha. Anseio, com grande expectativa, pelo privilégio de conhecê-la em pessoa, ainda que compreenda as demandas que exijam sua presença. Uma visita seria motivo de sincera alegria para mim e a rainha, pois nutrimos um afeto natural pela pequena.

Seria de meu grande gosto tomar tal iniciativa, mas creio que tenha sido informada sobre a gravidez de minha esposa. Prezo por estar ao lado dela em tão auspicioso momento, tal como o de minha Rhaenyra! Os deuses me abençoaram com a oportunidade de observar concomitantemente minha bela esposa e filha carregarem suas crianças.

Por suposto, confio que os presentes enviados por minha consorte tenham alcançado vossas mãos.

Ao notar vossa apreensão quanto ao desenvolvimento do dragão em vossas terras, coloco-me à disposição para enviar outro Guardião versado no dialeto valiriano. Poderia, inclusive, trazê-lo à capital para resguardá-lo, se assim o desejardes. Contudo, saliento que a permanência em Pedrarruna seria benéfica para minha sobrinha, especialmente dado o nascimento do dragão em seu berço. Na nossa linhagem, existe a velha tradição de estabelecer um vínculo prematuramente.

Estarei aguardando sua resposta e envio-lhe as mais bem-intencionadas novas.

Porto Real, vigésimo quinto dia da quinta lua do ano 114 Após a Conquista.

Rei Viserys I da Casa Targaryen, Rei dos Ândalos, dos Roinares e dos Primeiros Homens, Senhor dos Sete Reinos e Protetor do Território.

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O dragão poderia facilmente se assemelhar em tamanho a um cachorro. Dois chifres brancos e longos se erguiam de forma retorcida sobre a cabeça e escamas que poderiam ter seu tom identificado como ametista cobriam todo o corpo — embora sua pigmentação fosse um pouco desbotada na região de seu pescoço longo, atuando mais como um violáceo delicado — e tinha uma mandíbula forte em pouco tamanho e experiência. As asas outrora translúcidas e violetas trouxeram a Rhea a memória de que, muito em breve, nos próximos anos modificaram-se ao couro. Os olhos eram contornados por uma auréola prata e suas pupilas pretas eram como losangos largos.

Mesmo com a ameaça de Caraxes pairando em seus terrenos — com a criatura tendo um temperamento tão semelhante ao do montador, o que facilmente poderia lhe ser um perigo —, Rhea nunca se amedrontou com dragões. Ela sabia que a vontade de Daemon era, muito provavelmente, queimá-la viva, mas ele mostrou-se inteligente o suficiente para preservar sua reputação e não ser recordado como o homem que torrou sua esposa. Seu homicídio seria visto como o pior dos crimes que já assolaram Westeros, assassinando sua cônjuge covardemente.

Portanto, morrer por fogo do dragão era uma possibilidade anulada em seus pesadelos.

Criaturas selvagens não a intimidavam. Aprendendo a caçar desde viçosa idade, partilhava de preceitos essenciais; se a estupidez não lhe acometesse em um ato de bravura precipitada, sua cabeça ainda permaneceria ligada ao pescoço e seu corpo intacto. Diante daquele pequeno dragão, ela imaginou que seu temperamento seria como o de um auroque, mas seu bater de asas e silvos estridentes eram a coisa mais ofensiva que ele poderia proferir.

— Mamãe, posso tocar nele? — Tendo sua atenção raptada pela filha, notou os olhos da menina resplendendo de fascinação.

Rhea abriu a boca para recusar-lhe ferrenhamente, mas calou-se com destreza e permitiu-se refletir. Ela própria sempre tivera grande gosto por criaturas selvagens, mitos sobre os unicórnios em montanhas, o formidável dragão do mar situado nas Ilhas de Ferro... e ela sabia que não poderia privar Hera de ter aquele contato com algo que a maioria de sua família paterna experimentou, desde os tempos em que o Império de Valíria sustentava-se glorioso.

Ela não era uma mulher desditosa como imaginava que alguns homens pressupunham — que hodiernamente eram minoria, afinal, sob sua condução perspicaz que emoldurou com gracejo Pedrarruna, muitos murmurinhos declinaram ao longo do tempo, ainda que a vigilância constante dos conservadores extremados estivessem à espreita. Seu desígnio não almejava nublar a perspectiva de sua filha com sua afeição pelo outro lado da família, pois mesmo que o próprio pai não a quisesse, o tio sempre soava entusiasmado com a menina. Para além de agradar aos súditos de suas terras, empreendia que os olhares de todos os reinos se fixavam sobre ela desde o momento em que, anos após o matrimônio, deu à luz uma filha. Hera, sobrinha de um monarca, filha de um príncipe.

— Ele não a fará mal, minha senhora. — O Guardião de Dragão, Valarr, garantiu com muita certeza em sua voz de barítono. Seus cabelos eram tingidos de um excêntrico turquesa e as roupas que usava eram repletas de camadas de couro, uma garantia extra para caso se vissem atingidos pelo sopro fervente das criaturinhas, ademais de uma túnica amarelada que fora sobreposta ao resto dos tecidos.

Em sua mão esquerda, erguia-se uma enorme lança talhada a ferro, a ponta afiada e estreita. O outro Guardião que o rei mencionara na carta viera — e seu nome era Hadeon. Por suas características físicas, ela pensou que ele poderia ter vínculos com Yi Ti — segurava um par de correntes que mantinha o dragão preso pelas garras. Seu pescoço alongou-se, os ruídos rançosos saindo-lhe da mandíbula.

Rhea soou firme e sucinta quando decretou que uma espécie de fosso fosse erguido — não uma cúpula redonda, enorme e repleta de locais subterrâneos como o de Porto Real — mas um espaço quadriculado amplo, não muito longe dos estábulos, para abrigar a coisinha. As paredes eram de um cinza opaco, o cimento mal acabado devido às pressas em que fora apartado. Haviam diversas lareiras espalhadas calculadamente  pelo local que queimavam ininterruptamente para manter o ambiente quente — o que ela podia sentir pela forma como o suor brotava em gotas em sua testa. Não resistiu a compadecer-se pelos pobres homens naquele amontoado de roupas. O piso era de uma cerâmica simplória, porém constantemente cuidada.

Em seu colo, Hera remexeu-se, evidenciando sua inquietação. A mulher olhou calorosamente para a menininha, vendo seus olhos brilhantes a encararem com expectativa. A franjinha derramava-se em sua testa e ela expôs os pequenos dentinhos em um sorriso desajeitado, deitando a cabeça contra a curvatura do ombro da mãe.

— Hera compreende se mamãe não deixar. — Ela sussurrou timidamente.

O tom enervado por uma pitada de tristeza fez seu coração doer. Ela passou as mãos pelas costinhas da menina, antes de virar-se para Valarr, que aguardava com resiliência e paciência a resposta da senhora.

— Possuo sua garantia de que isso pode ser sucedido em segurança? — Receosa, o coração aflito e palpitando, ela redarguiu, prendendo o canto da boca entre os dentes.

Ele a sente. A partir do momento que eclodiu. Ainda não atingiu uma fase temperamental e estará sob nossa supervisão o tempo todo. — Interveio, suas palavras transparecendo clareza, gesticulando com os dedos.

Rhea passou os dedos cuidadosamente na nuca de Hera, até a menininha fitá-la, curiosa.

— Você compreende que ele não é um animal, certo? Como a Meraxes de Alyssa. — “Meraxes” era o nome da gatinha alaranjada que sua sobrinha mantinha o tempo inteiro enlaçada nas pernas. Era uma coisinha arisca e com uma orelha cortada, mas suas crianças pareceram rapidamente apegadas a ela. O nome partiu do gosto que Aly possuía pela rainha Rhaenys, a Conquistadora. — Valarr afirma que eles são muitos inteligentes e possuem consciência.

Animais também. Espertos. — Ela retrucou, tombando a cabeça para o lado. Sissi, ao seu lado, soltou uma risada carinhosa.

Rhea soube que não adiantaria corrigí-la.

— Sim, sim, amor. — Ela olhou para Valarr, que acenou para Hadeon. O homem cuidadosamente arrastou o dragão, que prontamente abriu as asas; as envergaduras delicadas despontaram como um leque, translúcidas.

Hera arrulhou e bateu palmas, até que a mãe, grata pela roupa de equitação que formatava seu corpo, agachou-se com a criança em seus braços. Valarr se aproximou, abandonando a lança e se agachando também, a altura do dragão. Rhea sentiu, conforme ele se aproximava, arrastando-se pelo piso e guiado por Hadeon, o sopro de mormaço quente que exalava de suas narinas amplas.

Quase recuou, apertando os braços nas costas de Hera, que estreitava os olhos desesperadamente conforme a criatura se aproximava.

Lykirī, Byka. — O Guardião Valarr ordenou em Alto Valiriano. A Royce inclinou uma sobrancelha, receosa pela falta de conhecimento de qual era a tradução daquela frase. Pela forma como o dragão parecia se amansar, presumiu que fossem comandos.

Assim que Rhea colocou Hera no chão, a menina, com um brilho nos olhos, esticou delicadamente o braço em direção ao dragão. Este, por sua vez, parecia responder de forma serena, suas asas flexionando-se graciosamente. Hadeon mantinha-se atento, controlando a criatura com as correntes, enquanto Valarr permanecia ao lado de Rhea, pronto para intervir, se necessário.

A pequena mão de Hera tocou suavemente as escamas ametistas do dragão. A criatura, como se estivesse entusiasmada, enrolou delicadamente a cauda no braço da criança e permitiu que Hera explorasse seu corpo. A menina riu e balbuciou, expressando sua surpresa e encanto.

— Mamãe, ele é macio como os tecidos das nossas cortinas! — Hera exclamou, bastante feliz. Seus olhos estavam arregalados pelo contato, seus dedinhos gordos escorrendo pela estrutura escamosa.

Rhea apenas concordou, mas não retrucou seu pensamento de que suas escamas deveriam ser muito ásperas.

— Ele já a reconhece, princesa. — A menina virou-se, os cachos perolados balançando com ela. Ela balançou a cabeça vertiginosamente e o homem riu, prosseguindo. — Quando você estiver velha, deve nomeá-lo. Todos os dragões têm nome. O de seu pai fora chamado de Caraxes.

Ela piscou, de repente assustada. Eram poucas as vezes que qualquer pessoa em Pedrarruna ousasse mencionar Daemon em voz alta, ou afirmar que ele era o pai dela. Hera sabia que era uma princesa, uma princesa dourada e digna da linhagem Targaryen, recebendo mimos que condiziam com sua posição, entretanto, ela nunca viu o homem que ajudou a dar-lhe a vida e que chamavam de irmão do rei.

Por um momento, a senhora de Pedrarruna temeu que perguntas a respeito do homem fossem lançadas em sua voz infantil e trêmula. Sentiu-se um pouco desgostosa com Valarr, mesmo que ele não possuísse culpa por seus problemas conjugais.

Hera até deu a mãe um olhar enviesado, confusa, mas, ao invés disso, ela se aproximou mais do dragão, coçando seu pescoço.

— Ca… — Ela iniciou, antes de tomar uma pausa. Quando prosseguiu, sua voz estava mais incisiva, firme. — Caxes?

Caraxes, princesa. — Valarr corrigiu, suavizando a voz conforme falava com ela e achando graça na maneira como a menininha ainda não sabia dizer o nome por completo. Parecia alheio ao desconforto que seu comentário causara. — E, sim. Isso. — O Guardião de Dragão acrescentou gentilmente, alheio aos temores da mãe. Rhea olhou por cima do ombro, observando que Sissi possuía um mesmo olhar contemplativo. — Um Deus da Velha Valíria. O Deus da Guerra.

A menininha empertigou-se, dando um pulinho onde estava. Sua fascinação por Valíria iniciara-se a partir do momento que a mãe sussurrava para ela, antes de dormir, sobre o lugar onde sua família Targaryen viera. Erguido sobre cadeias vulcânicas e um império dracônico onde a maioria das pessoas montavam dragões, o céu tomado por eles, mas que encerrou-se em uma perdição de fogo.

— Quero que ele também tenha o nome de um Deus Valiriano, senhor. — Hera retrucou, afastando uma das mãos e deixando-a cair ao lado do corpo. Desviou os olhos para a mãe, buscando por um apoio singelo. — Mamãe, diga algum.

Rhea riu, acariciando as pontas de seu cabelo, feliz que ela não fizera nenhuma pergunta sobre o pai — embora como bem conhecia Hera, não duvidava que seu interior se incendiava com curiosidade. Certamente, a coisinha que ela tanto temeu contato com sua garotinha era o que desanuviava sua mente, temporariamente, acerca disso.

— Eu não os conheço corretamente, meu amor. Mas como Valarr mencionou, podes nomea-lo à sua vontade ao atingir uma idade adequada.

Hera colocou um dedinho ao lado do queixo, ponderando. Seus olhos permaneceram semicerrados até que ela assentiu, em concordância, e sorriu.

Mas eu sou grande.

Rhea fora rápida em se mover para o lado da filha, beijando o topo da sua cabeça.

— Eu não discordo.

Mais tarde, naquela noite, enquanto Rhea colocava Hera para dormir na caminha que fora substituída pelo berço — embora fosse tão suntuosa quanto, construída de mogno e envolvida com entalhes dourados e vermelhos, com pequenos dragões nas beiradas e uma cabeceira plana que carregava bonequinhas de pano. As peles que cobriam a cama eram pretas, bordadas com bordô nas pontas — sua filha trouxe a pergunta que ela tanto temeu, pestanejou; Daemon Targaryen.

— Por que meu pai não está aqui?

Ela piscou os grandes olhos para a mãe. Embora o quarto estivesse envolvido pelo calor da lareira octagonal, envolvendo o aposento com mormaço, Rhea sentiu a brisa fria soprada pela fresta da janela açoitar sua derme.

O que ela deveria dizer? Não era sua culpa as decisões arrogantes e prepotentes de Daemon que levaram seu casamento à ruína a partir do momento que se conheceram; ele era bonito, forte e arrojado, não seria difícil para ela gostar dele. Embora, para Daemon, considerá-la agradável era como se estivessem queimando seus olhos com fogo vivo. Ela tentou ser condizente, ceder às suas vontades, mas nada apaziguaria, no coração de seu marido, o ódio que ele sentia por ser menor do que ela. Casado com alguém que não era nem o poder supremo do Vale.

Pensou que, na noite que Hera fora concebida, as coisas se transformariam. Talvez ele amenizasse sua personalidade impertinente, seus costumes superiores. Não era a fidelidade que a mulher aguardava, sabia que jamais teria isso. Mas queria o respeito dele como uma igual.

Então, Daemon rapidamente retornou aos costumes libertinos e depravados. Torrando a mesada mensal que recebia da coroa, frequentando os estabelecimentos mais insalubres do Vale, tudo para envergonhá-la.

E quando a filha deles nasceu, a primeira vontade que ele sentiu foi de montar o dorso de seu dragão e se perder no céu.

Mas não seria ela a contar isso a Hera. Não agora, pelo menos. Ela mal possuía três anos. Era um bebê. Um bebê que percebia a presença paternalista do tio Roderick na vida de sua amiga, Alyssa, e que percebia que não havia nenhuma como tal na sua.

— Seu pai está na guerra. — Ela optou por uma mentira, que escondia seu fundo de verdade. Daemon lutava nos Degraus, conquistando um reino mirrado que satisfazia sua ambição, temporariamente.

— Com Caxes? — A garotinha perguntou, animadamente.

Rhea achava graça da forma que, mesmo quando corrigida, sua pronúncia sobre o Wyrm de Sangue mantinha-se errônea. O reservatório de vidro ao lado da cama que guardava uma chama acesa iluminava parcialmente a metade de seu rosto pálido, enquanto ela brincava com os dedos da mão.

Sim, com Caraxes.

— E ele vai demorar a retornar? — Hera indagou, encarando-a. Às vezes, ela se questionava como em tão tenra idade sua filha já possuía um olhar tão perfurante.

— Eu não sei, meu amor. — Acho que nunca. — Guerras são imprevisíveis. Às vezes a maré favorece um lado, às vezes o outro… é impossível dizer com certeza.

Hera se calou por um instante.

— Espero que ela esteja bem. — Sua voz estava baixa quando ela desviou os olhos da mãe, encarando as chamas crepitando através do vidro. — E que volte logo.

Ah, querida como ela diria para sua filha que, se ele tivesse a oportunidade em mãos, jamais a teria concebido? Nunca optaria por vê-la? A rejeição para com ela nunca a importunou, não profundamente, embora muitas vezes tenha se questionado se sua aparência era realmente desagradável.

Mas ver sua própria criança revendo tal rejeição… a destroçava.

Curvando os lábios em um sorriso trêmulo, ela beijou a testa da filha.

— Você deve dormir agora. — Hera abriu a boca para protestar, mas um bocejo esvalou-se dos lábios em uma clara rendição.

Rhea apertou suas mãozinhas delicadas, antes de desocupar o lugar sentada aos pés da menina.

— Sonhe com o paraíso, meu pequeno dragão. — Hera abriu um sorriso, antes de lançar um beijo no ar para a mãe. Rhea fingiu pegá-lo, levando-o direto para seu coração. A menininha bateu palmas em alegria, antes dos olhinhos fecharem-se.

━━━━━━

Rhea ostentava uma besta em suas mãos ao cavalgar em seu cavalo pela floresta cheia de caminhos sinuosos e árvores entortadas. O ar úmido subia pelo ar e a brisa gélida escorregava em sua expressão endurecida.

Ela estava com Roderick quando aconteceu. Estavam caçando. Era comum, era rotineiro; mas a vegetação estava alta, oculta demais. Ela não percebeu a presença da serpente silvando até que seu cavalo estivesse assustado demais e reclinasse para trás, amedrontado, derrubando-a no chão sem ao menos lhe dar a chance de acalentá-lo.

Roderick fora incapaz de alcançar Rhea a tempo ou amenizar seu impacto ao vê-la escorregar da cela e bater com a cabeça em uma rocha. O sangue golfou de forma abundante na pedra cinzenta à medida que ensopava a nuca da mulher caída.

Desfez-se da própria cela e correu em direção a ela, chamando por seu nome e não recebendo nada em resposta. Deveria estar desacordada, pela mãe... Rhea, aguente.

Quando ele finalmente a segurou entre os braços, o líquido avermelhado deixou suas mãos grudentas a medida que Roderick desesperadamente as pressionava em seu crânio. O corpo da cunhada estava flácido, a respiração tão abatida e lânguida...

— Deuses sejam misericordiosos... — Seu sussurro fora envolvido antes que o homem começasse a gritar.

✧┊01 ➤ Quem é vivo sempre aparece, não? E apareço super envergonhada, porque literalmente falta um mês e poucos dias pra completar um ano sem atualização de OBAE. Confesso que o motivo que me fez atrasar tanto foi um bloqueio criativo terrível — principalmente por esse capítulo retratar a relação da Rhea com a Hera antes dela ir de arrasta e não ser meu desejo deixar qualquer gostinho de superficialidade — além de que eu acabei priorizando outras histórias minhas.

✧┊02 ➤ Quero especialmente agradecer a minha diva querida, Rhys (khaleesisword) por esse novo gif impecável <3 Inclusive, o Gif Shop dela está aberto, então aproveitem para realizar seus pedidos!

✧┊03 ➤ Sei que prometi uma uma árvore genealógica dos Royce na linha temporal de OBAE, mas eu não tive tempo KKKKKKKKKKMMMMMKKKKKKKKKKK prometo que tento agilizar isso para o próximo capítulo. Me contem suas opiniões, aliás, sobre esse, vou adorar saber 🫶🏻 Mais uma vez, peço desculpas pelo sumiço e garanto que essa história não será abandonada.

ATUALIZADO DIA 24/02/2024.

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