~4 meses depois~
Pov's Nyx
A primeira neve do inverno caía lá fora.
Eu não queria sair da cama, estava quentinho e aconchegante.
E talvez tivesse ficado deitado até um pouco mais tarde, se Seli, que estava deitada como uma bolinha ao meu lado, não tivesse levantado repentinamente e corrido para o banheiro.
Corri atrás dela e a encontrei já de joelhos diante do vaso, vomitando todo o jantar da noite anterior.
Afastei seus cabelos, os levando para trás para que não sujassem e fiz movimentos circulares em suas costas com a mão livre.
A barriga de minha parceira agora podia ser comparada ao tamanho de uma manga.
E eu conseguia ouvir o coraçãozinho do meu filho.
Era o som mais belo que eu já havia ouvido.
Agora com cinco meses, eu esperava que o bebê já conseguisse ouvir quando falassem com ele, então tomei o hábito de contar meu dia a ele todas as noites antes de dormir.
Selene soltou um longo suspiro e se sentou no chão depois de limpar a boca com a toalha que lhe estendi.
Ela acordava pelo menos três vezes na semana, e eu fazia questão de ajudá-la, mesmo que não quisesse.
- Estou pensando em não jantar hoje, só pra ver se passo mal amanhã de manhã...
- Assim você vai passar mal por não ter nada no estômago, querida.- ela revirou os olhos e eu a abraçei por trás.- Só mais seis meses acordando assim, Lua Querida.
- Pra depois acordar de madrugada com alguém chorando no seu ouvido.- Ela se levantou devagar.- Você também vai acudir o bebê, não quero nem saber! Eu já vou ter que parir e amamentar, o mínimo que pode fazer é cuidar da tua cria pra mim dormir!
Selene falou levemente irritada, havia percebido que com o passar das semanas ela havia ficado mais sensível a tudo.
Qualquer coisa a irritava ou a fazia chorar, as vezes os dois.
Eu também havia aprendido a não questioná-la do pôr que dá irritação e do choro, só concordava e as vezes ria internamente.
- É claro, minha querida e magnífica parceira e mãe do meu filhote!- fiz uma reverência exagerada. Selene revirou os olhos, tentando esconder um sorrisinho.
Minha parceira saiu do banheiro, indo em direção ao closet.
Eu usava apenas uma calça de moletom cinza e mesmo com o aquecimento da casa, estava com um pouquinho de frio.
Fui atrás de minha parceira quando a lembrança de que havíamos marcado uma consulta com Madja daqui a duas horas, não podíamos nos atrasar.
Talvez hoje ela já conseguisse ver se o bebê tem asas ou não!
E falando em bebês, tia Nestha podia dar a luz a qualquer momento.
Ela também fora orientada por Madja a ficar em repouso, proibida de carregar muitos livros, ir até a biblioteca abaixo da Casa do Vento, de treinar e até mesmo de ser carregada num vôo até Velaris.
A gestação de minha tia era um tanto quanto mais complicada por conta de serem gêmeos e de ambos terem asas.
Encontrei Selene vestindo uma calça preta larguinha e a blusa azul de gola alta estava levantada, ela olhava para o espelho, para a barriga exposta, e a acariciava.
- Mamãe te ama, mas por favor, não seja enjoado como seu pai e pare de me fazer vomitar todas as manhãs!
Eu não pude deixar de rir baixinho.
Fui até minha parceira e a abraçei por trás, colocando minhas mãos sobre sua barriga. Senti o bebê se mexer.
- Ele se mexe mais quando você coloca a mão, sabia?- ela falou olhando para nossas mãos sobre o ventre.
- Sério?
Ela balançou a cabeça em concordância e a deitou em meu ombro logo em seguida.
- Não esqueça que vamos para a Estival depois do almoço, Lua Querida. E Amren nos esganaria se recusássemos o convite.
- Tem praia e calor, não iria recusar um convite desses!
- Pensei que quisesse ficar em casa, já que recusou meu convite para sairmos jantar ontem a noite.
- Estava frio, e concorde comigo, jantar em casa foi muito melhor!
- Foi mesmo, principalmente porque não teria como você fazer aquele macarrão se saíssemos!
Minha parceira gargalhou.
Eu amava ouvi-la e vê-la feliz.
- Vou fazer seu chá...- falei e depositei um beijo em seu pescoço antes de sair.
•
- E então?- perguntei nervoso.
Estávamos no consultório de Madja e eu segurava a mão de Selene enquanto a curandeira visualizava o bebê no ventre de minha parceira.
Ela retirou a mão de cima da barriga de Selene.
- Está saudável, se desenvolvendo muito bem...- ela sorriu para nós dois.- E tem asas.
Selene riu e acariciou a barriga levemente inchada. Eu apertei ainda mais sua mão e o sorriso que eu já tinha em meu rosto, apenas se intensificou.
Eu ensinaria essa criança a voar, a seguraria quando caísse e a levaria até entre as nuvens, como meus pais fizeram comigo um dia.
- Isso pode interferir em alguma coisa durante a gestação?- minha parceira perguntou.
- Seguirá normal, apenas recomendo que tome uma dose um pouco maior de vitaminas.- a curandeira respondeu.
Selene assentiu e se levantou devagar.
Mesmo estando apenas na metade da gestação, o tamanho médio de sua barriga já a impedia de realizar certas coisas ou as deixavam difíceis de se fazer.
E sempre que estava por perto (quase todo o tempo), fazia questão de ajudá-la como podia.
Sanamos algumas pequenas dúvidas com a curandeira antes de sair e pegamos a nova receita de vitaminas que minha parceira teria de tomar.
Havíamos acabado de chegar no portão de casa quando Nair chegou eufórica, quase não conseguindo pousar a tempo de colidir contra a cerca.
- Meus deuses! Calma, Nana!- Selene disse segurando os braços de minha prima.
- Minha mãe entrou em trabalho de parto! Eu não sei onde o meu pai está!- ela praticamente gritou.
- Quem está lá em cima com a sua mãe?- minha parceira perguntou.
- Elide e Lyssandra... Não achei Lily na Casa...
- Nyx, me leve até a Casa e vá procurar Cassian e Lynae!- Seli falou e a peguei no colo no segundo seguinte.
Ela já havia feito um parto antes, esperava que não tivesse problemas em fazer mais um.
Aterrissamos em frente a grande porta de madeira entreaberta e pude ouvir as reclamações de minha tia.
- Eu vou subir até o meu quarto, não quero nem sab... Ai caralho!
Nestha estava nos primeiros cinco degraus em direção ao quarto, e eu sabia que ela subiria até lá e ninguém a impediria.
- Nestha, consegue contar quantos segundos entre uma contrato e outra?- minha parceira foi até minha tia. Nestha assentiu tentando controlar a respiração.
Reparei que havia líquido amniótico desde a sala de jantar até às escadas. Segundo Nair, a bolsa havia estourado a vinte minutos.
O que elas fizeram antes de vir buscar ajuda, não queria nem perguntar.
- Tia, sabe onde Cassian pode ter ido?- perguntei com calma.
- Sei lá! Eles saíram em grupo pra treinar em algum lugar, eu espero que não muito longe!- ela falou e cerrou os dentes, contendo mais um urro de dor.- Um minuto e trinta e sete, Selene.- falou assim que conseguiu.
- Não tá perto ainda.- minha parceira falou.
Tia Ness deu mais um passo, subindo mais um degrau da escada.
- Eu te levo até lá em cima.- falei já passando uma mão por trás do joelho de minha tia e a outra em suas costas.
- Valeu, pequeno...- ela apertou meu ombro e sorriu.
A deixei sentada a beira da cama, para que Selene e Elide a ajudassem a se deitar. Nair estava meio pálida ao lado da porta.
- Venha comigo, Nair.- Lyssandra falou segurando minha prima pelos ombros e a levando para fora.- Me ajude a esquentar água e trazer toalhas.
- Eu volto em alguns minutos com Cassian e Lynae!- falei antes de sair correndo pela porta e voar até os céus em busca de meu tio e minha prima.
•
Pov's Selene
Talvez aquilo tenha me causado um certo déjà vú.
Nestha deitada na cama, na mesma posição que minha mãe um dia esteve, a neve caindo de leve lá fora.
A diferença era que Nestha não morreria e nem eu a ajudaria sozinha.
Madja chegou dez minutos após meu parceiro sair. Feyre, Gwyn e Emerie entraram correndo no quarto para ajudar como podiam.
Nana parecia nunca ter visto um parto, então tivemos que tirá-la do quarto ou a mesma iria desmaiar a qualquer momento.
Minha família foi chegando aos poucos, e se aglomerando na saleta ao lado do quarto, apenas esperando até o nascimento dos gêmeos.
Já haviam se passado uma hora quando Cassian e Lynae escancararam as portas do cômodo.
O general apenas se sentou atrás da parceira, fazendo com que Nestha tivesse apoio mais firme na hora de fazer força ou quando precisasse "relaxar" e jogar a cabeça para trás.
- Onde você estava?- Nestha perguntou ofegante.
- Illyrianos. Não estava nos planos ir até lá hoje. Desculpa Ness...- ele deu um beijo na cabeça da parceira.
- Não precisa pedir desculpas, Cassian...- Nestha parecia querer falar mais alguma coisa, mas uma contração a interrompeu, fazendo com que gritasse e apertasse as mãos de Cassian.
- Estou vendo a cabeça do primeiro!- Madja gritou.
Eu achava impressionante como essa família tinha tendência a dar a luz rápido... Fazia apenas quase duas horas que a bolsa de Nestha havia estourado. Ou talvez a dilatação delas já se iniciasse antas da bolsa estourar.
Eu esperava que o meu fosse rápido também.
•
Pov's Lynae
Já estávamos na metade do caminho de volta para casa quando Nyx apareceu eufórico a nossa procura, mesmo tendo nos chamado mentalmente, ele viera voando para garantir que tínhamos conhecimento do que estava acontecendo.
Eu já havia visto minha mãe daquele jeito uma vez, e não era algo que eu tinha gostado.
Meu pai já estava ao lado dela antes mesmo que eu percebesse. Seli e Madja incentivavam minha mãe e a examinavam, então eu corri atrás de toalhas limpas e mais água.
Minha mãe gritou e gemeu de dor por mais uma hora.
Madja havia dito que a cabeça tinha ficado visível em algum momento, mas o bebê havia se retraído novamente.
Eu via minha mãe extremamente exausta, meu pai preocupado, nenhuma das outras duas vezes havia passado de uma hora e meia.
- Eu não consigo...- minha mãe falou com a respiração entrecortada.
- Ness...- meu pai sussurrou algo em seu ouvido e ela balançou a cabeça negativamente.
- Você vai conseguir!- Selene gritou. Ela estava meio pálida, talvez isso tivesse trazido péssimas lembranças para ela...- Agora você vai fazer força e jogar esses bebês para fora! Eu quero aquela Nestha que eu conheci, aquela que eu cresci ouvindo histórias sobre como fazia cabeças rolarem e destruia deuses com uma espada!
Minha mãe olhou para Seli e se ajeitou na cama, pronta para dar toda a força que tinha. Meu pai apertou suas mãos, lhe dando apoio enquanto eu peguei uma toalha e fiquei ao lado, pois sabia que nasceriam agora.
Então ela fez força, gritou, gemeu e rangeu os dentes e aos poucos uma cabeça apareceu e logo em seguida um corpinho pequeno e asas negras sujas de sangue.
O bebê não chorou até que a curandeira o segurasse e passasse um pano úmido sobre seu rosto para limpá-lo.
Era um menino.
E estava aos berros quando foi estendido a mim, para enrolá-lo na toalha.
- É um menino, mamãe!- o levei até ela, esticando os braços para que meus pais pudessem vê-lo.
- Oi meu amor!- minha mãe disse ao neném, acariciando de leve sua bochecha.- E a sua cara, Cassian...- para mim ele ainda tinha cara de joelho, e teria até uns dois meses.
Meu pai passou a mão pelos cabelos úmidos de meu irmãozinho e apenas balançou a cabeça em concordância. Deu um beijo na bochecha de minha mãe logo em seguida.
- Já tem nome, Nestha?- tia Feyre perguntou ao meu lado, segurando uma outra toalha para quando o segundo bebê nascesse.
- Atlas...- minha mãe sorriu. Mas durou segundos, pois uma nova contratação a atingiu com força, a fazendo gritar.
Levei Atlas para fora do quarto, daria um banho nele. Com ajuda de Amren, é claro.
Assim que fechei a porta atrás de mim, um aglomerado de feéricos se juntou a minha volta. Tio Rhys foi o primeiro a se aproximar.
- É menino...- falei sentindo uma lágrima escorrer por minha bochecha.
- É a cara do Cass... Coitado.- Rhysand falou com um sorrisinho no rosto e eu não pude deixar de rir.
Após uma pequena seção de apresentação para a família, levei meu irmãozinho até o quarto ao lado, onde uma banheirinha com água morna já o esperava.
No lugar de Amren, quem me ajudou foi Gwyn já que a morena disse não saber como lidar com as asinhas.
O banho foi rápido e em questão de minutos ele já estava limpinho.
Ainda era possível ouvir os gritos de minha mãe, o segundo estava se demorando para vir.
Atlas já estava voltando a resmungar, provavelmente de fome, então para tentar acalmá-lo e não deixar que se esguelasse novamente fiquei ali na saleta o embalando e acariciando.
- Shhh... Mamãe já vem, morceguinho.- falei baixinho para ele.
Silenciosamente, Nair veio até mim e fez sinal que queria segurar o bebê também. O passei com cuidado para ela, que seguiu para o corredor onde era mais silêncio.
Eu observava minha irmã o embalando, e sentia que estava sendo observada também.
Ele vinha me observando muito nas últimas semanas.
É claro, eu havia me afastado um pouco dele...
Quando voltei para casa na noite do meu aniversário já eram quase meia-noite ele ainda estava acordado, não me esperando no quarto para meu completo alívio.
Ele fora extremamente fofo comigo, perguntando se eu estava bem e se tinha me divertido, mas também perguntou como nós dois ficaríamos...
Escolhi o afastamento. Por nossa segurança e talvez até mesmo pela saúde emocional. Não deveríamos nos envolver dessa maneira novamente.
E assim foi. Owen respeitou sem questionar minhas escolhas.
Não trocávamos mais palavras do que as necessárias nos últimos meses e evitava contato físico, pois sabia que libertaria algo que estava me controlando para reprimir desde então.
Os gritos de minha mãe pararam e não respirei por alguns segundos até que escutasse um choro estridente de bebê ecoar pela casa.
Chamei Nair para que entrasse no quarto comigo, tínhamos de conhecer o novo bebê e levar Atlas até minha mãe.
Ao entrar no cômodo, minha mãe já segurava o bebê embrulhado em uma toalha fofinha, e sorria para a nova vida que havia gerado.
Mais uma lágrima escorregou pelo meu rosto.
Mamãe notou nossa aproximação e estendeu a mão trêmula para nós. Ela sorriu e notei que seus olhos brilhavam, apesar do cansaço.
Estava bem e era isso que importava.
Não sabia o que seria de mim se minha mãe partisse.
Eu e minha irmã nos aproximamos para conhecer o novo bebê.
- Conheçam a Naomi!- ela disse erguendo a pequena em nossa direção. Ela também tinha pequena asinhas.
- É a sua cara, Ness!- meu pai disse para minha mãe enquanto a abraçava.
Dei uma boa olhada para minha nova irmãzinha... Ela também tinha cara de joelho.
Mais os dois eram uma gracinha e extremamente fofos bem gordinhos para gêmeos.
- Venham cá, meninas...- mamãe chamou dando batidinhas nos dois lados da cama.
Dei a volta enquanto Nair se acomodava do outro lado com Atlas. Me sentei, ainda segurando Naomi e senti meu pai apertar carinhosamente meu ombro e minha mãe segurar minha mão e a de Nana.
- Eu tenho as fêmeas mais lindas do mundo na minha vida! E agora um machinho também!- meu pai disse animado.
- Amo vocês duas, minhas meninas. Meus eternos bebês.- ela apertou nossas mãos.- Você também, Cassian. Meu bebezão illyriano.
Ela se afundou no colo de meu pai, minha irmã e eu também nos aproximamos dois dois, quase deitando em cima de nosso pai.
Era bom ficar assim com eles.
Isso era casa.
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Boa noite!!
Chegamos no melhor mês do ano!! (Sim, meu aniversário é em março!!)
Eu tô com esse capítulo pronto a três dias e tinha esquecido de postar 🙃 desculpas :)
Fofíssimos esses gêmeos!!
E os saltos temporais deram meio grandinhos assim nos próximos, não tenho criatividade pra tanto tempo assim.
Espero que tenham gostado do capítulo!
Beijos da tia Isa ❤️