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By lantsovz

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By lantsovz

CAPÍTULO NOVE
CORES


















DESDE QUE ERA UMA CRIANÇA, MEADOW IMAGINAVA COMO SERIA VIVER em um mundo que não fosse preto e branco. Viver uma realidade em que ela não fosse apenas uma telespectadora de sua própria história, em que ela não precisasse sentir como se estivesse rastejando em baixo de sua própria pele.

Sua vida nunca passou de uma peça de teatro regida por um roteiro repleto de instruções. Então, tudo que ela podia fazer era sonhar. Sonhar sobre como o mundo real era, longe da bolha que seus pais a prendiam. Sonhar com pessoas reais, longe da encenação que a cercava. Sonhar com as cores que ela desconhecia, com as emoções que ela não acreditavam que podiam existir.

Meadow encontrou o amarelo em Aria. O amarelo do armário em que sua irmã a trancava quando os gritos começavam. O amarelo que sua voz emanava quando ela cantava, pedindo para Meadow prestar atenção apenas em sua voz. Aria era amarelo, como um raio de Sol.

Era amarelo o mundo que Aria havia criado para ela dentro daquele armário. Um mundo em que ela não precisava lutar contra o monstro do quarto ao lado. Um mundo em que seus machucados eram suas cicatrizes de batalha.

─ Eu sei que foi uma ideia idiota. ─ Spencer quebrou o silêncio entre eles, a tirando de seus pensamentos. Ele estava sentado na maca da enfermaria, arranhões e ferimentos leves por todo o seu corpo. ─ Eu só queria ajudar. ─ Ele admitiu, abaixando a cabeça, a tristeza em sua voz.

Quando Tara entrou bruscamente na enfermaria, avisando que o Monroe mais novo estava ferido, foi como se o tempo tivesse parado por alguns instantes, como se todas as lembranças que eles compartilhavam a invadissem de uma vez só.

Desde muito jovem, Meadow foi ensinada sobre a principal norma que ela deveria seguir. Ela não poderia permitir que alguém se aproximasse demais, que alguém chegasse tão perto a ponto de enxergar os segredos que sua família se esforçava tanto para esconder.

Mas, no momento que ela conheceu o menino da casa ao lado, Meadow soube que não havia regra que poderia pará-la.

Ela encontrou o laranja em Spencer. O calor, o aconchego. Era laranja que ela enxergava em seu sorriso. Era laranja a felicidade que ele transmitia, a esperança que ele representava. Spencer era laranja. Ele a ensinou sobre os sentimentos que ela não conhecia, ele a fez acreditar que seu destino não precisava ser o que haviam escolhido para ela.

Então, com o passar dos anos, os sonhos de Meadow se tornaram planos. Planos de deixar tudo para trás, de mergulhar em uma realidade em que ninguém a conhecia, na qual seu nome não significava nada. Planos de viver pela primeira vez. Mas, quando ela perdeu Aria, ela entendeu que não havia saída. Não havia escapatória. Seu destino sempre seria o preto e o branco.

─ Me desculpa, Meadow. ─ Spencer pediu, encostando sua testa no torso da médica. Ela limpava delicadamente seus machucados, preparando os curativos. ─ Não só por hoje.

O estado físico de Spencer era consequência de uma tentativa falha de tentar afastar os caminhantes para longe de Alexandria. O Monroe mais novo havia tentado atravessar, por meio de uma corda, até a torre que ficava do lado de fora da comunidade. Mas a corda cedeu e, se não fosse por Tara e Rick, o filho de Deanna teria sido devorado.

Era visível o cansaço na feição de Meadow. Os olhos inchados, a preocupação estampada em sua face. Ela havia passado a noite toda na torre de vigia, esperando por um sinal. Por qualquer coisa. E, durante toda a madrugada, as palavras de Spencer ecoavam em sua mente.

─ Eu sou um covarde. ─ Ele declarou, envolvendo a cintura da Hart em seus braços. ─ Eu 'tava com medo de morrer, com medo de te perder... ─ Spencer confessou. ─ ...Ontem, quando eu congelei lá fora e você 'tava aqui, protegendo todo mundo, eu percebi uma coisa, Meadow. ─ Ele afirmou, voltando seu olhar para a médica, encontrando os seus olhos escuros. ─ Eu não consigo te proteger. Você precisava de mim e eu não fiz nada. ─ Spencer concluiu, as lágrimas se formando em seus olhos.

Quando Spencer a olhava, era como se ela conseguisse voltar no tempo. Ela enxergava a garotinha assustada, a adolescente rebelde, a adulta quebrada. Ele esteve lá durante toda a sua história, ele estava em todas as suas lembranças. E Meadow se perguntava se era aquilo que ele via quando a olhava. Ela questionava se ela ainda era um reflexo de seu passado.

Meadow suspirou, passando sua mão pelo cabelo de Spencer. Durante todos esses anos, Spencer tinha sido um escape. Uma fuga de sua realidade. Ele era como um sonho, mas ela sempre acordava. Ela sempre voltava para o incolor.

─ Eu não devia ter falado sobre a Aria, eu sei disso. ─ Spencer continuou. ─ E eu entendo que essas pessoas são importantes 'pra você, então elas são importante 'pra mim também. ─ Ele falou. ─ Não existe desculpa 'pro que eu fiz e eu não vou culpar a bebida.

─ Mas é horrível, Meadow. ─ Ele contou, as lágrimas começando a escapar de seus olhos. ─ É horrível não ser a pessoa que você precisa. ─ Spencer confessou. ─ Eu sinto que 'tô perdendo tudo porque eu não consigo me adaptar a esse mundo. E eu não posso te perder.

Spencer havia perdido seu irmão mais velho, havia assistido seu pai ser assassinado e, agora, parecia que ele estava perdendo tudo que amava, pouco a pouco. Meadow pegou a cadeira que estava à sua direita, se sentando na frente do Monroe, segurando as mãos de seu noivo com as suas. ─ Você 'tá certo. ─ A Hart o respondeu. ─ O mundo mudou e a gente precisa se adaptar.

─ Mas isso não significa que você precisa estar lá fora cuidando dos mortos ou que você precisa aprender a lutar do dia 'pra noite. ─ Meadow declarou. ─ Sim, você precisa saber se defender, mas você é importante aqui dentro de outros jeitos, Spence. ─ Ela afirmou. ─ Quem você é ainda importa e importa muito.

Ela limpou uma lágrima que escorreu pela bochecha do Monroe. ─ Eu não posso te prometer que nada vai acontecer comigo, Spence. ─ A médica confessou. ─ Mas eu posso te prometer que vou estar aqui por você, como você sempre esteve por mim. ─ Meadow contou. ─ E Enid, Glenn, Daryl... nós somos uma família agora e precisamos cuidar um do outro. Do mesmo jeito que o Rick e a Tara cuidaram de você hoje.

Spencer encostou sua testa na de Meadow, um gesto que fazia desde que eram crianças. ─ Você é o que eu preciso, Spence. Você sempre foi. ─ Meadow disse, arrancando um sorriso de lado do Monroe. Ela aproximou seus lábios do ouvido de seu noivo. ─ E agora eu preciso que você tire a camiseta 'pra eu cuidar dos seus machucados. ─ Ela afirmou, escutando uma gargalhada de Spencer.

─ Você só quer uma desculpa 'pra me ver sem roupa, Dra. Hart. ─ Ele a respondeu, retirando a parte de cima de suas vestes.

─ É uma vantagem, não vou negar. ─ Ela confessou, piscando para o Monroe. A médica passou atenciosamente o líquido ardente pelas feridas de Spencer, fazendo um curativo nos cortes mais profundos.

Quando os mortos se levantaram, a vida passou a ser sobre sobrevivência. Não existia mais um amanhã para sonhar, porque o presente poderia acabar a qualquer momento. Mas, para Meadow, foi como se nada tivesse mudado. Ela já era uma sobrevivente. Ela já havia encontrado a morte há muito tempo. A diferença era que, no novo mundo, o monstro era outro.

"É horrível não ser a pessoa que você precisa", a frase de Spencer soou em sua memória. Ele sempre havia sido. Desde o primeiro momento em que ele mostrou sua gentileza para a criança que ele nem conhecia, desde o instante que ele se tornou a rota de fuga de uma adolescente que só buscava saídas, desde o segundo em que ele amou a adulta que desconhecia o que era esse sentimento. O que Meadow precisava, afinal?

Talvez ela só descobriria a resposta para sua pergunta quando sentisse pela primeira vez. Porque você não pode sentir falta do que nunca teve. Talvez ela só saberia quando alguém a trouxesse de volta à vida, quando ela enxergasse todas as cores. Quando, pela primeira vez, Meadow vivesse.

Quando, pela primeira vez, seu mundo deixasse de ser preto e branco.

MEADOW SEMPRE GOSTOU DE AZUL. ELA GOSTAVA DO AZUL DO OCEANO, da melancolia que as águas pareciam carregar, da tranquilidade que ela sentia toda vez que escutava as ondas irem de encontro à costa. Ela gostava do azul que emanava do lago que ficava no centro de Alexandria e, agora, enquanto olhava para o brilho reluzente do azul daquelas águas, ela se lembrou de outro azul.

O azul nos olhos de Daryl. Ela se lembrava do momento que o viu pela primeira vez, aquele azul claro, encará-lo era como mergulhar dentro de um mar desconhecido, era como nadar em águas tempestuosas mas que, ao mesmo tempo, não poderiam ser mais calmas. Era como estar diante de um abismo sem temer a queda.

Era um azul que sempre estava escondido atrás dos fios castanhos do cabelo do arqueiro. O azul que transmitia sua timidez, o azul que, no meio de seu silêncio, parecia dizer as palavras que ele não encontrava. Mas Daryl não era azul.

Meadow caminhou até a parte do muro que estava sendo reforçada. Seus olhos pararam em Rick, enquanto o xerife conversava com Deanna. Quando ele viu a médica, abaixou seu olhar, negando com a cabeça. A Hart entendeu o que ele quis dizer. Ainda não havia sinal de nenhum deles.

Era agonizante toda vez que ela recebia uma resposta negativa de Rick. Era doloroso, como, nas últimas horas, sua mente havia se tornado sua própria armadilha, a torturando com a possibilidade de que, as pessoas que ela esperava tanto ver atravessar o portão de Alexandria, não voltariam mais.

─ Meadow! ─ Ela escutou o grito de Maggie, encontrando a Rhee no posto de vigia. Ela seguiu o olhar da esposa de Glenn, seus olhos se voltando para o céu.

Foi quando Meadow viu o sinal que ela estava esperando. Um sorriso escapou de seus lábios, seus batimentos acelerados. Ela enxergou os balões verdes que flutuavam no ar. Enid amava balões.

Aquele verde era a cor da esperança para Meadow. O verde que ela viu a primeira vez que encontrou Enid vagando sozinha pelas estradas de Washington. O verde que ela enxergava todos os dias quando tentava construir o mundo que ela queria que Enid tivesse. Enid era esperança. Enid era verde.

Então, aquela som invadiu seus ouvidos. O barulho que vinha da torre do lado de fora, a poucos metros de distância da médica. E, quando ela voltou seu olhar para a origem do som, Meadow entendeu o que aquele ruído significava. A torre estava desabando.

Antes que a estrutura pudesse atingi-la, ela sentiu um par de braços a envolver, a puxando para longe, fazendo com que seu corpo se chocasse contra o chão.

Alexandria estava caindo.

O MURO HAVIA DESMORONADO. UMA CORTINA DE POEIRA percorria toda a comunidade. Sua visão estava embaçada, sua audição tentava assimilar todos os ruídos que adentravam em seus ouvidos ao mesmo tempo.

Sua respiração ofegante, como se seus pulmões estivessem lutando por ar. Ela sentiu a dor latejante dos machucados que estavam espalhados por todo seu corpo. Meadow ainda se encontrava no chão e, aos poucos, conseguiu ver o muro caído, os vultos que caminhavam no meio da névoa.

Ela procurou com seu olhar quem tinha a salvado, se deparando com Rick recobrando a consciência ao seu lado, a mão do xerife ainda estava em baixo da cabeça da médica, tendo impedido que o crânio de Hart colidisse com o chão.

Tiros, gritos e aquele som que ela conhecia tão bem. O som da morte. Os vultos começaram a ter forma, revelando os milhares de caminhantes que invadiam Alexandria.

Antes que Meadow pudesse se levantar, um dos mortos caiu em cima dela. Seus dentes a centímetros de distância de seu rosto. Seus olhos sem vida, sua face apodrecida. Ela o empurrava com seus braços, até que uma bala atingiu a testa do zumbi.

─ Precisamos voltar! ─ Deanna exclamou, atirando nos mortos que se aproximavam. Ela estendeu uma mão para Meadow, ajudando a médica se levantar, enquanto o xerife as acompanhava.

Meadow sacou sua arma. Os caminhantes estavam por toda a parte. ─ Voltem 'pra suas casas! ─ Rick gritou para os moradores que conseguiam escutá-lo. ─ Agora!

Os três começaram a correr em direção às casas da comunidade, tentando abrir caminho pelos mortos. Meadow conseguia sentir as mãos que a tocavam, falhando em agarrá-la. O hálito em seu pescoço, o cheiro repugnante da morte.

─ Meadow! ─ A voz de Deanna soou atrás de si, pedindo por ajuda. A líder da Alexandria estava cercada por dois caminhantes que a seguravam bruscamente, fazendo com que ela caísse em cima de uma serra. A lâmina afiada perfurando sua perna.

Rick atirou nos mortos e Meadow levantou Deanna, colocando o braço da Monroe em volta de seu pescoço, a carregando. Ela escutava os gemidos de dor da matriarca, o sangue escorrendo pela sua calça.

Michonne apareceu para ajudá-los, sendo seguida por Carl e Ron. ─ Venham! ─ Jessie exclamou. Ela estava em sua varanda, ajudando a limpar o caminho para o grupo com sua arma. ─ Eu 'tô com a Judith. ─ Ela avisou, tranquilizando o xerife.

Ao entrar na casa, Rick ajustou o outro braço de Deanna, auxiliando a Hart a carregá-la até o andar de cima. Eles repousaram a líder de Alexandria em uma cama e, antes que começasse a tratar de seus ferimentos, os olhos de Meadow foram de encontro com a janela, encontrando a imagem aterrorizante que, agora, era o reflexo de seu lar.

O muro destruído, a poeira no ar, o oceano de mortos que os cercavam. E, no céu, distante dela, os balões verdes. A esperança.

COM AS GAZES E O ANTISSÉPTICO QUE HAVIA ENCONTRADO NA CASA DE JESSIE, Meadow tentava fazer um curativo improvisado na coxa de Deanna. O corte era profundo e a médica precisava evitar que uma hemorragia acontecesse.

─ Como ela 'tá? ─ Rick perguntou, entrando no quarto. Meadow começou a amarrar uma faixa em volta do ferimento, notando os gritos de dor que a Monroe se esforçava para conter.

─ Seja o que for que você esteja fazendo, Meadow. ─ Deanna suspirou. Ela apresentava dificuldade para falar, sua respiração estava falha e o suor escorria pela sua face. ─ Está doendo 'pra caramba. ─ Ela afirmou, se esforçando para esboçar um leve sorriso.

─ Eu terminei a perna. ─ Meadow informou o xerife. A Hart levou sua mão até a mancha de sangue fresco na camiseta de Deanna. ─ Esse corte parece um pouco pior. ─ Ela constatou, ao notar a quantidade de sangue, levantando o tecido delicadamente.

Mas, quando se deparou com o ferimento na parte inferior do abdômen da Monroe, ela sentiu o sentimento doloroso que se espalhou por cada centímetro de seu corpo. Seu coração parecia estar tão acelerado que causava pontadas em seu peito, as lágrimas se formavam na mesma rapidez que escapavam de seus olhos. Era uma mordida.

Sendo guiada por seu desespero, Meadow passou suas mãos pelo machucado, o pressionando, tentando impedir com que mais sangue saísse. ─ Não. ─ A Hart negou. ─ Não! ─ Ela exclamou. ─ Talvez eu consiga cortar essa parte... ─ Meadow tentou achar uma solução. ─ Você precisa me ajudar a levar ela até a enfermaria. ─ Ela voltou seu olhar para o Grimes. ─ A gente precisa fazer alguma coisa. Por favor. ─ Sua voz falhava, ela sentia como se não houvesse oxigênio nenhum atingindo seus pulmões.

Rick abaixou seu olhar, a tristeza em sua expressão. Era como se ele não quisesse dizer à ela que era uma opção impossível, mesmo a médica estando ciente disso. ─ Minha filha. ─ Deanna a chamou, passando, com dificuldade, sua mão no rosto da Hart, fazendo com que Meadow a olhasse. A Monroe acariciou as bochechas da médica com seus dedos, negando com a cabeça. Não havia solução. Não havia nada que ela pudesse fazer.

E, então, ela desabou. Sem se importar com o sangue que encharcava sua roupa, enquanto sentia como se seu coração estivesse sendo arrancado de seu peito. Porque perder Deanna era exatamente isso, era perder uma parte de sua história, era perder uma parte dela mesma, um pedaço de si que ela nunca seria capaz de preencher novamente.

MEADOW CONHECEU O VIOLETA EM DEANNA. O violeta que irradiava de sua sabedoria, o violeta que ela enxergou em sua liderança. O violeta que ela sentiu em todas as vezes que a Monroe foi a mãe que ela nunca teve, em todos os momentos que Deanna acreditou em Meadow, mesmo quando ela não acreditava. Deanna era violeta. Ela era compaixão, ela era gentileza.

Meadow estava sentada em uma cadeira ao lado da cama em que a líder de Alexandria se encontrava. A médica se recusava a sair de perto de Deanna, mantendo sua mão agarrada à mão da Monroe.

─ Eu... ─ Deanna começou. Ela apresentava dificuldade para falar, seu suor havia aumentado e os calafrios estavam mais constantes. ─ ... Me desculpa por não ter contado sobre o Pete. ─ A Monroe pediu.

─ Você não precisa... ─ Meadow tentou intervir, mas Deanna a interrompeu.

─ Eu não consegui fazer desse lugar um mundo melhor. ─ Ela continuou. ─ Mas você vai. ─ A Monroe afirmou, retirando um pedaço de papel de seu bolso, o entregando para a médica. ─ Você é o que esse mundo precisa, Meadow.

A Hart desdobrou a folha, algumas manchas de sangue nas bordas do papel, se deparando com uma planta de Alexandria. Deanna havia desenhado onde seriam as plantações de alimentos e quais deveriam ser plantados, havia escrito os locais onde o muro deveria ser ampliado e onde mais casas seriam construídas. E, no canto inferior da folha, a frase em latim que ela tanto conhecia. "Essa dor será útil para você um dia."

─ Não importa o que aconteça, filha. ─ Deanna disse. ─ Alexandria vai ter um amanhã.

─ Eu não vou conseguir sem você. ─ Meadow confessou, uma de suas lágrimas molhando a folha em suas mãos. ─ Eles precisam de você. ─ A Hart garantiu. ─ Eu preciso de você.

Deanna sorriu de lado. Era como se ela conseguisse ver a Hart criança na sua frente. ─ Eu tenho muito orgulho da pessoa que você se tornou, Meadow. ─ Ela contou. ─ Mas o que você deseja? ─ A Monroe a questionou.

─ Eu quero que esse lugar dê certo. ─ A médica respondeu, sem precisar pensar mais de uma vez para ter sua resposta.

─ Não, Meadow. ─ Deanna negou. ─ O que você deseja 'pra si mesma? ─ Ela perguntou.

A Hart abriu a boca algumas vezes, esperando que as palavras escapassem naturalmente de seus lábios, mas isso não aconteceu. O que ela desejava? Meadow não sabia responder, talvez ela nunca tivesse cogitado pensar naquela pergunta. ─ Eu não sei. ─ Ela confessou, por fim.

─ É de você que eles precisam, filha. Não da pessoa que você acha que eles precisam. Não da pessoa que você acha que precisa ser. ─ Deanna contou, a tosse a impedindo de continuar por alguns segundos. ─ Então descubra, Meadow. ─ A Monroe pediu. ─ E vá atrás do que você deseja.

OS RAIOS SOLARES COMEÇAVAM A DIMINUIR lentamente, os sintomas de Deanna pioravam cada vez mais rápido e Meadow sabia que seu tempo estava acabando. A médica havia arranjando uma folha e uma caneta para que a líder de Alexandria deixasse suas últimas palavras escritas para Spencer e Maggie.

E, agora, a Monroe contava piadas, seu bom humor sobrevivendo até no momento em que sua vida se esgotava. Meadow segurava Judith em seus braços ─ Deanna queria vê-la uma última vez ─, enquanto Rick estava encostado na janela do cômodo, próximo à cama.

─ Rick. ─ Deanna o chamou, fazendo o olhar do xerife se voltar para ela. ─ Você vai cuidar dela? ─ Ela o questionou, olhando para Meadow, que brincava com a criança em seus braços. ─ Vai cuidar do Spencer? Como se eles fossem parte do seu grupo? ─ Era um pedido, o Grimes havia entendido.

Rick assentiu e a Monroe continuou. ─ Porque eles são todos seus agora, Rick. ─ Ela afirmou. ─ Todos eles.

─ Não tivemos chance de chegar nisso. ─ O xerife disse.

─ Mas vai ser assim agora. ─ Deanna contou. ─ Eu não te ajudei 'lá fora porque te acho um homem bom e um bom pai. ─ Ela falou. ─ Ou porque tem uma barba bonita. ─ Deanna arrancou uma leve risada do xerife. ─ Mas porque você é um de nós. Essa é a resposta certa. ─ Ela afirmou.

─ Eu sei que você vai cuidar desse lugar. ─ Deanna continuou. ─ Sei que vai transformar Alexandria no que eu sempre sonhei. ─ Ela sorriu. ─ E Meadow... ─ O Grimes olhou para a médica. ─ ... Meadow é a pessoa certa 'pra te ajudar com isso.

Naquele momento, Rick Grimes se tornou o novo líder de Alexandria. A comunidade em ruínas, mas, agora, ele tinha um lugar pelo qual valia a pena lutar. Um lar.

QUANDO OS GRITOS DE MICHONNE POR RICK CHEGARAM NO ANDAR DE CIMA, Meadow sabia que o que ela temia havia acontecido. As portas não eram fortes o suficiente para segurar a quantidade de mortos que os cercavam. Eles começaram quebrando as janelas e, através do vidro na porta, entraram dentro da casa.

Eles haviam conseguido posicionar o sofá no início da escada, impedindo que os mortos chegassem no segundo piso da residência, mas era uma estratégia que não duraria. Então, o Grimes explicou o seu plano.

Rick arrastou os cadáveres de dois caminhantes, os abrindo. Michonne cortou alguns lençóis e cobertas para serem usados como capas. Eles deveriam se cobrir com as entranhas dos mortos para passarem despercebidos entre a horda, seu cheiro seria camuflado pelo cheiro da morte. E, em seguida, eles precisavam chegar ao arsenal para buscar mais sinalizadores e, quando conseguissem atingir a saída da comunidade, iriam atrair os mortos para longe do local.

Antes de seguir com o plano de Rick, Meadow voltou para o quarto que Deanna repousava. Ela ainda estava acordada. Ela ainda era humana. ─ O que 'tá acontecendo ai fora? ─ A Monroe perguntou.

─ Eles estão entrando. ─ Meadow a respondeu. ─ Nós vamos precisar sair daqui. ─ A médica contou. ─ Mas eu não quero te deixar. Não assim. ─ Ela confessou, as lágrimas enchendo seus olhos novamente.

Deanna levantou sua pistola, a mostrando para a Hart. ─ Eu vou cuidar disso quando estiver pronta. ─ Ela declarou. ─ E vou levar o máximo deles comigo.

Meadow assentiu, abraçando Deanna, encostando sua cabeça no ombro da Monroe enquanto chorava. ─ Cuide do Spencer para mim, Meadow. ─ Ela pediu. ─ E ache o que você deseja. ─ Ela falou, segurando o rosto da Hart com suas mãos e depositando um beijo delicado na testa da médica.

Antes que pudesse caminhar em direção à porta, Deanna agarrou sua mão, seus olhos se encontrando pela última vez. ─ Confie no Rick. ─ A Monroe afirmou, seu tom soando mais como uma ordem do que como um conselho. ─ Sempre confie nele.

Rick era o novo líder e Meadow, a partir daquele momento, seria sua mais leal soldada. Era uma promessa.

A MORTE NÃO ERA AUSENTE DE COR. A MORTE NÃO ERA UM CAMINHO REPLETO DE ESCURIDÃO. Enquanto andava entre os mortos, enquanto sentia a morte esgueirando em cada curva, ela soube que a morte era vermelha. O vermelho vivo que ela enxergava no sangue que cobria suas vestes, o vermelho escarlate que ela encontrava nos olhos sem vida dos caminhantes que esbarravam em seu corpo, o vermelho bordô que parecia se formar na névoa de poeira que cobria as ruas da comunidade.

Sua mão segurava fortemente a de Rick e a outra estava entrelaçada aos dedos de Carl. Meadow se esforçava para desacelerar seus batimentos, para manter a calma em sua respiração. Eles eram seguidos por Michonne, Jessie e seus dois filhos.

A Hart havia convencido Rick de confiar Judith ao Padre Gabriel. O homem prometeu que a levaria até a igreja de Alexandria, onde se encontravam outros moradores e que a protegeria com sua vida. Ela havia tentado o mesmo com o filho mais novo de Jessie, Sam era jovem demais para enfrentar a morte de tão perto, mas ele havia recusado soltar a mão de sua mãe.

Não havia mais Sol. A luz que irradiava da lua cheia era a única que os guiava. Meadow sentia os hálitos próximos de sua face, a forma como eles a cheiravam. Ela escutava seus gemidos, era uma melodia calma, o concerto da morte. Mas, quando os passos de Carl cessaram, Meadow foi forçada a parar.

Quando olhou para trás, se deparou com Sam parado no meio da rua da comunidade, sua mãe tentando convencê-lo a continuar. ─ Você consegue, Sam. ─ Jessie sussurrou. Ele estava assustado, seus músculos tremiam. Sam estava em choque. Todos continuavam a encorajá-lo, mas quando o grito de Jessie soou em seus ouvidos, era tarde demais.

Sam estava sendo devorado por dois caminhantes, seu choro havia estrago seu disfarce. Os gritos de sua mãe continuavam, as lágrimas escorriam pelo seu rosto. Os mortos se aproximaram da mulher, a mordendo. ─ Não! ─ Ela escutou o lamento do xerife.

Carl tentava se soltar de Jessie, mas ela ainda o segurava com força. Ele morreria se não conseguisse se soltar. Então, Rick, com o pequeno machado que segurava, começou a cortar o pulso da mulher bruscamente, até arrancar a mão de seu corpo que era devorado.

O Grimes puxou seu filho. Eles precisavam continuar. Eles não podiam demonstrar seu desespero, não podiam deixar que a morte os pegasse. Até que o som do gatilho que soou atrás deles fez com que seus movimentos parassem mais uma vez.

Ron, o filho mais velho de Jessie, apontava sua pistola para Rick. Sua mão tremia, era visível a dor em seus olhos. ─ Ron, não. ─ Meadow disse, tentando fazer com que ele abaixasse sua arma.

─ Você. ─ Ele afirmou, seu olhar preso na figura de Rick. Ron iria atirar. Ele culpava o xerife por tudo que havia perdido. Mas, antes que seu dedo apertasse o gatilho, Michonne perfurou suas costas com a lâmina de sua espada, rasgando seu abdômen.

Meadow levou sua mão até seus lábios, tentando conter o gemido de lamento que queria sair. Ron era apenas uma criança. Uma criança traumatizada. Uma criança que não teria uma segunda chance. A Hart escutou quando a arma de Ron disparou acidentalmente, atraindo mais caminhantes em sua direção.

─ Pai. ─ Ela escutou a voz de Carl e, quando seu olhar a levou até ele, ela viu o vermelho. O vermelho que escorria de seu olho direito, o vermelho no buraco que havia formado em sua face.

O tiro havia atingido Carl Grimes em seu olho.

E, quando o corpo do filho de Rick caiu no chão, seu pai o pegou nos braços rapidamente. ─ A enfermaria. ─ Meadow avisou. ─ Agora! ─ Ela exclamou, retirando suas facas de sua calça.

A morte não o levaria. Meadow não permitiria. Ela e Michonne corriam na frente de Rick, abrindo caminho entre os mortos. A luz da enfermaria foi acesa e as portas foram abertas para eles assim que se aproximaram do local.

Denise, Spencer e Heath estavam no cômodo. Meadow não pode abraçá-lo, não pode sentir o alívio de ver seu noivo a salvo. Carl era a prioridade. Ele precisava dela.

A maca já estava preparada quando o xerife repousou seu filho. ─ É um ferimento de bala. Pistola, de perto. ─ Meadow avisou Denise.

─ Salve meu filho. ─ Ela escutou Rick. ─ Por favor. ─ A dor em sua voz.

─ Spencer, eu preciso de toalhas limpas e de uma bacia. ─ Meadow ordenou. ─ A bala não atravessou e ficou presa no olho. ─ A Hart constatou, analisando o ferimento. Era uma notícia boa, o cérebro de Carl não havia sido atingido. ─ Eu vou precisar de você, Denise. ─ A outra médica suspirou, buscando se acalmar, assentindo para a Hart. ─ Ele precisa da gente.

E, do lado de fora, a quantidade de mortos aumentava. A luz da enfermaria os atraia. Rick lutava, lutava para proteger seu filho, lutava para ter uma chance de salvá-lo.

Os moradores, que antes estavam escondidos, se colocaram ao lado do xerife, lutando ao seu lado. Eles lutavam pelo seu lar. Eles lutavam pela chance de um amanhã.

O exército dos mortos era gigantesco. Eles não conseguiriam vencê-los, mas não os impediu de tentar. Não os impediu de ter esperança. Até que um caminhão passou pelo portão e um lança foguetes foi usado no lago da comunidade, atraindo todos os caminhantes para a fogueira que havia se formado.

E, do lado de dentro, Meadow também lutava. Ela lutava por Carl. Lutava pelo amanhã que ela queria Carl tivesse. Ela não perderia, ela não cederia para o vermelho da morte. Não de novo.

ALEXANDRIA HAVIA SOBREVIVIDO. O AMANHÃ HAVIA CHEGADO para a comunidade em ruínas. Os primeiros raios solares invadiam a janela da enfermaria, repousando no peito desnudo do jovem que dormia profundamente em uma das camas do local. Seu olho estava enfaixado, seu corpo era nutrido através de um soro.

A cirurgia de Carl havia durado horas e a bala havia sido removida sem danificar os tecidos que já estavam comprometidos. O filho do xerife havia perdido seu olho, mas seu coração ainda batia.

Quando finalizou os pontos e cobriu o ferimento de Carl com um curativo, Meadow descansou nos braços de Spencer, entregando à ele a carta de Deanna. Ela assistiu seu noivo desabar, o viu sair correndo da enfermaria, ainda tendo esperança de encontrar sua mãe viva.

O grupo de Rick esperava do lado de fora por notícias. O cansaço, a preocupação, o medo. E, agora, Meadow se encontrava sentada ao lado do xerife, passando uma pomada em sua mão.

─ Ele vai acordar. ─ Meadow prometeu, colocando uma faixa na mão de Rick, amarrando para que ficasse imobilizada. O Grimes havia a fraturado quando protegeu Meadow da queda da torre. ─ É a criança mais forte que eu conheço. ─ A Hart confessou.

─ Obrigado. ─ Ele disse. ─ Obrigado, Meadow. ─ Ela viu a sinceridade em seus olhos, na forma em que ele acariciou seu ombro e, ao finalizar seu curativo, Meadow saiu do local. Ele precisava de um tempo à sos com seu filho.

Quando Meadow chegou do lado de fora, todos os olhares se voltaram para ela e, o sorriso que ela esboçou, foi como uma onda de alívio para todos. Mas, no meio daquelas pessoas, algumas figuras chamaram sua atenção. Glenn estava abraçado com sua esposa e, ao lado deles, Meadow viu Enid.

Ela correu até a menina, ficando de joelhos em sua frente, a envolvendo em um abraço. Ela sentiu as lágrimas de Enid caírem em si. ─ Me desculpa. ─ Enid pediu. Ela queria pedir desculpas por ter fugido, queria pedir desculpas por não ter acreditado naquele lugar.

A Hart apenas a abraçou mais forte e, em seguida, passou os dedos pela sua pele exposta, garantindo que Enid não tinha nenhum ferimento grave. ─ Posso ver ele? ─ Ela perguntou e Meadow assentiu, se levantando.

Quando Enid sumiu de seu campo de visão  e seus olhos mudaram de direção, ela encontrou o azul. Aquele azul que ela havia procurado tanto. Aquele azul que ela, desesperadamente, queria ver mais uma vez.

Ela viu Daryl. Ela viu os olhos azuis dele a encarando. Ela viu seu cabelo molhado pelo suor, seus braços que apresentavam queimaduras, os machucados espalhados pelo seu corpo. E, então, Meadow correu.

Ela correu até ele, o abraçando, permitindo que lágrimas escapassem de seus olhos quando sua cabeça encontrou o ombro do arqueiro.

Daryl permaneceu imóvel por alguns instantes, ele não era acostumado com aquele tipo de afeto. Meadow mantinha seus braços presos nele e, mesmo que seu corpo doesse mais em razão disso, ele não se importou. Ele não se importou com os ferimentos que sangravam ou com a dor latejante que parecia se espalhar.

Ele apenas a abraçou de volta, encostando sua mão nos cabelos de Meadow. Ele a abraçou com cautela, como se segurasse o ser mais delicado do mundo em seus braços.

E, mesmo sem perceber naquele momento, abraçar Daryl era como abraçar um arco-íris. Abraçar Daryl era como enxergar todas as cores de uma vez só. Abraçá-lo era como ver o mundo colorido pela primeira vez.

E Carol, que assistia o reencontro de Meadow e Daryl a poucos metros de distância, concluiu que ela havia entendido errado. Quando ela viu o olhar de Meadow ao ver o arqueiro, quando ela enxergou a forma que ela o abraçou, Carol compreendeu.

Daryl era o misto de sentimentos que Meadow nunca havia conhecido. Daryl era o mundo colorido que ela nunca havia visto. Daryl era vida. Daryl era todas as cores.

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