Thaís
Sábado, Borússia, Alemanha
09:15am
Desperto sentindo muita luz entrando pela janela do meu quarto. Quem mandou eu não fechar a janela? É nisso que dá.
E já agora, como eu vim parar aqui?
Tento levantar mas sou impedida pela horrível dor de cabeça que eu sinto, deito mais uma vez e na segunda tentativa, pelo menos eu consigo me manter em pé.
Vou pro banheiro e....
QUE PORRA ACONTECEU COM O MEU CABELO?
São cachos pra um lado, cachos pra o outro, pra cima, pra baixo...resumindo, meu cabelo ta todo ele cacheado e só me dá vontade de fazer uma coisa...
— AHHHHHH — Grito com minhas mãos na cabeça. Como meu cabelo ficou assim da noite pro dia? Eu não acredito.
Pego uma escova e tento pentear, mas assim os malditos cachos só aumentam.
— quê que aconteceu? — ouço meu irmão da porta de meu quarto.
— meu cabelo — olhei pra ele — olha como ta meu cabelo, Lewis.
— Thaís, eu não acredito que você me fez saltar da cama por isso — ele me olhou com tédio.
— por isso? — falo indignada e ele fica ali com as mãos na cintura — meu cabelo tá só cachos e você manda um "por isso"?
— e o que tem teu cabelo estar só cachos? — pegou meus ombros e me fez olhar no espelho de novo — esse é seu cabelo Thaís, e ele é absolutamente lindo. — senti minha garganta formar um nó — para de querer o mudar, para de tentar fazer ele ser diferente...— suspirou e olhou meus olhos pelo reflexo do espelho— você é linda de morrer, valoriza e cuida de seu cabelo, minha princesa.
— pra você é fácil falar porque o seu não é assim, né? — uma lágrima rolou pelo meu rosto — você melhor que ninguém aqui, sabe porque eu deixo meu cabelo liso, você viu e por mais que seu cabelo não seja cacheado você tem a mesma cor que a minha e sabe do que eu falo. — me virei e olhei pra ele — não é que eu queira ter cabelo liso, ou não goste dele assim...é que — suspirei — eu tenho medo, de viver tudo aquilo de novo, de ouvir todos aqueles comentários de novo... Então...
Eu nem terminei e ele me abraçou forte, só apoiei minha testa em seu peito e chorei baixinho.
— seu cabelo é lindo, lembra sempre disso...
— tá...obrigada — limpei minhas lágrimas — agora eu preciso arrumar isso aqui.
— boa sorte então.
— não quer me ajudar? — sorri pra ele e pisquei meus cílios, funcionava sempre quando éramos mais novos.
— ah ah, nem vem com esse pisca pisca ai...eu vou dormir...quando você gritou eu pensei que fosse um ladrão e vim correndo — eu ri — tô mortinho da Silva, boa sorte aí pra você — falou e saiu.
Me olho no espelho e já estou com preguiça.
Enfim, tomo um banho, lavo meu cabelo, hidrato e depois passo prancha, o deixando todo liso.
Sai do quarto e fui logo procurar algum remédio pra minha dor de cabeça.
Alguém me lembra de nunca mais beber assim.
O resto do dia foi só na preguiça e na ressaca e eu só espero que na segunda eu esteja bem melhor pra trabalhar.
Segunda feira, Borussia, Alemanha
07:00am
Eu já disse que odeio segunda feira? Na verdade eu pergunto quem gosta e se gosta porque gosta?
Porque eu, particularmente, acordo super desmoralizada na segunda, é como se o final de semana não tivesse sido suficiente ou ainda tivesse me tirado mais energias.
Enfim, chego ao CT e me deparo com Stéphane em sua secretária.
— bom dia — a cumprimento.
— oi, como esta? — diz sorridente. Nossa relação ta melhor que o primeiro dia, pelo menos.
— muito bem, obrigada. — falei e segui pra minha sala.
Hoje eu organizei sessões pra três jogadores, como tenho feito sempre.
Comecei pelo Raphael que eu super amo porque falo português mesmo. O segundo foi o Gio, ele ainda não esta totalmente aberto comigo, tudo que fala é sempre muito profissional e quando pessoal sempre muito superficial, o que não é de todo mau, já que eu sou terapeuta do clube, só que eu acho que há aí mais alguma coisa que eu preciso saber e eu vou descobrir.
O terceiro e último é o Jude. Assim que ouço as batidas eu vou abrir a porta.
— boa tarde — ele cumprimenta passando por mim e deixando um rasto muito gostoso de seu perfume.
Não era suposto ele tar cheirando suor?
— oi — sentou se.
— como esta se sentido hoje? — perguntei já sentada em minha cadeira.
— bem — me olhou e depois ficou mais confortável na cadeira — então? Hoje nós vamos partilhar mais verdades?
— talvez — dei uma risada fraca pra ele — mas...
— mas....
Ri. Porque eu tô rindo tanto com ele?
— mas antes, eu tenho que ver seu tornozelo, eu vi o jogo e...achei que foi uma entrada dura e digna de um amarelo que o arbitro não mostrou... — ele riu — é sério, enfim, você saiu mancando, quero ver se pode ser algo mais grave.
— tá, mas eu já não sinto muita dor.
Eu fui parar a sua frente e ele percebeu que era pra virar, virou e eu agachei em sua frente. Toquei em seu pé e fui fazendo movimentos circulares.
— dói? — olhei pra ele.
— não — continuei meus movimentos mas eu sentia seu olhar em mim.
Olhei pra cima e ele encarou meus olhos de uma maneira que me fez arrepiar dos pés à cabeça.
— o que foi? — perguntei— ta doendo?
— não, é só a visão que eu tô tendo daqui — franzi o cenho — você ajoelhada em minha frente.
— é?
— é — não sei porque mas os meus toques em seu pé ficaram diferentes. — sua imaginação vagou?
— você nem imagina o quanto — prendeu o lábio inferior.
— quer me contar? — me apoiei em suas coxas.
— prefiro que você imagine — aquele maldito sorrisinho de lado dele.
Levantei e fui me sentar no meu estufado.
— seu tornozelo vai melhorar, gelo, massagens e exercícios e em menos de uma semana você ta como novo.
— obrigado, doutora...— virou e me olhou — agora é a hora das verdades?
— porque eu sinto que você pensa nisso desde que chegou?
— não sei, impressão sua talvez. — deu de ombros.
— aham, sei...fala, qual é a verdade de hoje?
— eu quero começar com você.
— e desde quando você decide isso.
— Ahh, para de ser chata, bonita. — não me chama de bonita que eu gosto.
— tá...pergunta, doutor Jude — debochei e ele riu.
— na sexta, seu cabelo não tava assim...
— claro que tava — apoiei meus cotovelos na mesa.
— não, depois...— meu coração falhou uma batida. Será que ele viu meu cabelo natural? Mas não tem como embora eu não lembre de quase nada que tenha acontecido naquela noite.
— ele tava com cachos. — fiquei calada olhando pra ele.
— como você viu isso?
— tem muita coisa daquela noite que você provavelmente não lembre. — depois disso eu tô assustada.
— como por exemplo?
— você não vai querer lembrar agora, ou vai? — colocou seus cotovelos na mesa também.
— porque, não?
— porque o assunto agora não é esse.
— e qual é o assunto?
— seu cabelo?
— você ficaria com alguém com o cabelo igual ao como o meu estava? — puta que pariu. De onde eu tirei essa pergunta?
Ele riu e se aproximou ainda mais. Eu tenho certeza que se alguém nos olhasse assim pensaria que estamos prestes a nos beijar, já que até a respiração dele eu consigo sentir.
Seus olhos percorreram todo meu rosto parando em minha boca, assim como eu fiz.
— essa pergunta eu já respondi.
—————
Deixa fingir que eu não sumi por mais de dois meses 😎😎
Meta pra o próximo capítulo:
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