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By lantsovz

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CAPÍTULO SETE
GRATIDÃO



















O MEDO PARECIA PERCORRER AS RUAS VAZIAS DE ALEXANDRIA. Era possível sentir o pânico que se propagava entre os moradores. O desespero era um sentimento novo para os Alexandrinos e, agora, a morte parecia estar usando o local como residência temporária. E, para os residentes, todos os acontecimentos desastrosos das últimas semanas estavam relacionados aos recém chegados: o grupo de Rick Grimes.

Eles sussurravam entre si como sua líder havia cometido um erro ao abrir o portão para selvagens. Eles comentavam como Aaron e Meadow estavam cegos em razão de sua lealdade inquestionável à matriarca dos Monroe. Eles diziam que Deanna havia perdido a cabeça após a morte de seu filho mais velho e de seu marido.

Eles temiam Rick. Eles temiam o poder que ele conquistava a cada dia. E a Hart não poderia fingir que essa preocupação não a invadia ocasionalmente. Apesar de Deanna ter escondido a verdade sobre o Dr. Pete, a médica confiava nas decisões da Monroe, mas a morena havia observado o xerife.

Meadow notou a forma como Rick olhava para os Alexandrinos. O modo como os analisava discretamente. A maneira como ele sempre parecia estar esperando por algo. Algo que ele sabia que chegaria mais cedo ou mais tarde. E, então, Meadow entendeu.

Ela entendeu que o Grimes os enxergava como cadáveres que ele teria que enterrar. Como pessoas que não seriam capazes de sobreviver. Como pessoas que haviam passado tempo demais sem vivenciar os horrores da nova ordem mundial.

Todos os moradores se encontravam na sala de estar de Deanna Monroe, enquanto Rick se mantinha no centro do cômodo, discursando para todos. Os olhares assustados, as mãos trêmulas, a maioria dos residentes esboçava a mesma reação quando o Grimes anunciou a horda de zumbis que poderia atingir a comunidade a qualquer momento.

Rick contou como ele e Morgan encontraram a horda quando saíram para enterrar o falecido médico. Ele explicou as centenas de mortos que estavam presos em uma cratera por caminhões que logo cederiam. Ele discursou sobre como os caminhantes viriam na direção de seu lar.

─ A minha equipe... nós vimos logo no começo. ─ Heath começou, um dos principais responsáveis por buscar suprimentos para Alexandria. ─ Era um acampamento lá em baixo. ─ Ele explicou, se referindo a horda encontrada em o que parecia ser uma cratera. ─ As pessoas devem ter bloqueado as saídas com os caminhões quando as coisas ficaram ruins. ─ Heath afirmou. ─ Não passavam de doze pessoas.

Meadow sentiu a mão de Spencer apertar a sua, buscando conforto. Eles estavam de pé, encostados próximo a uma grande janela no meio do local. Ela voltou seu olhar para seu noivo, notando o medo que se escondia em seus olhos. Ela não podia dizer que aquilo não a assustava.

A médica analisou atentamente as pessoas à sua volta. Deanna estava próxima do casal, sua atenção fixa na janela, as palavras de Rick não pareciam atingi-la. A Hart desviou seu olhar ao se lembrar que não falava com a Monroe desde a discussão que tiveram.

Ela viu o grupo de Rick, todos próximos uns dos outros. Glenn estava acompanhado de sua esposa, seu rosto repleto de curativos. Nicholas estava na frente deles, seu nariz fraturado, o que fez Meadow sorrir levemente. Aaron e Eric estavam de mãos dadas no fundo, com Daryl sentado no sofá grudado a janela ao lado deles.

─ Ninguém voltou desde então? ─ Maggie questionou. A nova moradora estava no sofá do lado de seu marido.

Heath negou com a cabeça. ─ Não. ─ Ele confessou. ─ Todas as cidades que valem a pena vasculhar estão lado oposto. E eu não sou afim de fazer um piquenique perto de um acampamento que se devorou.

─ E nesse tempo todo, os zumbis chegam lá pelo barulho. ─ Michonne se pronunciou. ─ E fazem mais barulho e atraem mais zumbis.

─ E aqui estamos nós. ─ Rick disse. ─ Agora o que eu to propondo... eu sei que é um risco. ─ Ele continuou, sua face ainda repleta de curativos em razão de seus machucados da briga com Pete. ─ Mas os zumbis já estão escapando pelas saídas e um dos caminhões que mantém eles presos pode cair da beira a qualquer momento, talvez depois de uma chuva forte ou sei lá. ─ O Grimes contou. ─ Aquela saída manda eles 'pro leste. Todos. Direto 'pra cá.

Meadow sabia que ele estava certo. Os muros não eram capazes de protegê-los de tantos mortos. E, mesmo se fossem, eles ficariam presos em Alexandria, incapazes de abrir os portões devido aos caminhantes.

─ A questão agora não é mas "se" e sim "quando" isso vai acontecer. ─ O xerife declarou. ─ Por isso temos que fazer isso logo.

─ Isso é... nem tem outra palavra 'pra isso. ─ Carol começou, Meadow notando que seu olhar não parecia seguir a sua feição assustada. ─ É apavorante. Tudo isso. Mas acho que não tem outro jeito. ─ A mulher suspirou e os moradores começaram a trocar algumas palavras entre si.

─ Talvez haja. ─ Carter, um dos membros da equipe de construção, afirmou, chamando os olhares curiosos para sua direção. ─ Não podemos fortificar as partes mais fracas? Eu posso planejar porque trabalhei nos muros com o Reg. ─ Ele argumentou.

─ Mesmo que a gente puder, o barulho dos zumbis está atraindo cada vez mais. Todo dia. ─ O Grimes o respondeu. ─ Fortificar as saídas não vai mudar isso. Então, quem vai? ─ Rick questionou. Os residentes mais antigos da comunidade abaixaram suas cabeças, era visível o medo que sentiam, não apenas dos mortos, mas de Rick também. Eles não confiavam no novo grupo.

Alguns membros do grupo do xerife ofereceram sua ajuda. ─ Quem mais? Precisamos de mais. ─ Rick afirmou.

─ Tem que ter outro jeito. ─ Carter voltou a se manifestar, voltando seu olhar para os moradores. ─ Não dá 'pra controlar tantos deles assim.

─ Eu já falei antes. ─ Rick disse, visivelmente irritado, seu tom hostil. ─ Os zumbis fazem bandos, seguirão um rumo se alguma coisa atraí-los. É assim que vamos levar todos.

─ E somos obrigados a acreditar na sua palavra? ─ Carter perguntou. ─ Temos que seguir em filas atrás de você depois de ter andado armado, gritando, apontando ela 'pras pessoas. ─ Meadow suspirou, olhou para a chefe da família Monroe, mas Deanna parecia não escutar a briga que se formava. ─ Depois de você atirar na cabeça de um homem!

A Hart notou os olhares desesperados dos moradores que se direcionavam à ela. Esperando que ela fizesse alguma coisa. Mas aquele não era o seu papel, ela não era uma líder.

Antes que Rick pudesse avançar para cima do homem, Meadow se colocou rapidamente entre os dois. ─ Eu sei que estão com medo. ─ A Hart afirmou, voltando seus olhos para os residentes. ─ Eu sei que tudo isso é novo e assustador 'pra vocês. É 'pra mim também. ─ Ela confessou. ─ Mas nós construímos esse lugar, nós tornamos esse lugar forte e, agora, precisamos proteger ele. ─ Meadow afirmou, recebendo a atenção dos moradores. ─ Rick é o único que pode fazer isso dar certo e eu confio nele. Vocês precisam confiar nele também 'pra que isso dê certo. ─ Ela disse, encarando o xerife, que a olhava com uma feição surpresa. ─ Eu vou ajudar. ─ A Hart declarou, levantando uma de suas mãos. Seu ato sendo seguido por diversas outras pessoas.

O peso das palavras de Meadow não passou despercebido. Rick percebeu a influência que a médica tinha na comunidade, os residentes pareciam buscar as respostas que procuravam nas falas de Hart. E Deanna, que ainda se mantinha de costas para a conversa, sorriu discretamente ao enxergar, pela primeira vez, a liderança que Meadow carregava em seu sangue.

O CEMITÉRIO DE ALEXANDRIA HAVIA SE TORNADO O SEU REFÚGIO nos últimos dias. O local parecia chamá-la constantemente e ela não se importava em ceder a esse desejo. Ela buscava as soluções para suas angústias nos túmulos de Reg e Aiden Monroe, ansiando escutar os conselhos do patriarca e as risadas do ex-militar.

Depois de repassar o plano de defesa contra a horda de caminhantes com Rick, Michonne, Eugene e Morgan, a médica se sentou em frente aos túmulos de seus entes queridos, passando delicadamente os dedos no colar que carregava em seu pescoço. Ela se perguntava se as estratégias do xerife funcionariam, se ela tinha tomado a decisão certa, se Alexandria continuaria em pé.

─ Eu sabia que ia te encontrar aqui. ─ A voz de Spencer soou atrás de si. O Monroe se sentou ao seu lado, depositando um selinho em sua testa.

Meadow encostou sua cabeça no ombro de seu noivo e ele a abraçou, a puxando para mais perto de si. ─ Eu sinto muito a falta deles. ─ Spencer confessou. ─ Às vezes eu fico esperando o Aiden aparecer no portão, rindo, me chamando de idiota por pensar que ele não ia voltar.

O Monroe soltou uma leve risada, sendo acompanhado por Meadow. ─ Ele com certeza faria alguma piada com isso. ─ A médica afirmou, se lembrando do bom humor que Aiden sempre carregava.

─ Lembra quando a gente era criança e eu quebrei a perna correndo de vocês dois? ─ Spencer pediu, rindo, um olhar nostálgico em seus olhos. A Hart assentiu, um sorriso se formou em seus lábios. ─ Ele me zoou tanto aquele dia. ─ O Monroe continuou, voltando seu olhar para a médica. ─ E você ficou cuidando de mim. ─ O homem disse. ─ Desde esse dia, foi você. Sempre foi você.

Meadow continuou o olhando. ─ Eu contei isso 'pro Aiden uns anos depois, disse 'pra ele que eu ia me casar com você um dia. ─ Spencer contou, as lágrimas aparecendo em seus olhos, entrelaçando seus dedos nos dedos da Hart. ─ Ele riu e falou que eu não ia conseguir uma garota como você, que eu era muito irritante. ─ Spencer continuou, a imagem de seu irmão adolescente sendo revivida em sua memória. ─ Ele disse que eu ia precisar me esforçar muito 'pra ser o cara que você merecia. ─ O Monroe declarou. ─ Então eu me esforcei. ─ Ele passou o dedo pelo anel no dedo de Meadow, analisando o delicado diamante. ─ E eu ainda não acredito que deu certo. ─ Ele sorriu de lado.

Meadow encostou sua testa na de Spencer, limpando a lágrima que escorreu pela sua bochecha. ─ Você nunca precisou se esforçar, Spence. ─ Meadow confessou, passando seus dedos pela face de seu noivo.

Meadow não sabia qual rumo sua vida teria tomado se o menino da casa ao lado não tivesse a salvado em seus piores momentos. Não era uma possibilidade que ela gostava de pensar. Ela era grata a Spencer. Grata pela pessoa que ele era. Grata por tudo que ele havia feito.

Spencer foi seu porto seguro em seus piores dias. Ele foi seu salvador em suas piores noites. Quando ela achou que sua vida estava fadada a ser uma sequência de infelicidade e sofrimento, o Monroe a mostrou todos os sentimentos bons que ela desconhecia.

Ela que precisou se esforçar. Ela que precisava, diariamente, lutar contra seus fantasmas para que eles não se tornassem o fardo de Spencer também. Ela não permitiria que ele visse sua dor. Não apenas porque queria protegê-lo, mas porque, secretamente, ela temia que ele não a olharia da mesma forma.

Ela era grata a Spencer porque ele a amou, mesmo quando ela não acreditava que esse sentimento poderia existir.

─ Mas o Aiden 'tava certo sobre uma coisa. ─ Meadow disse e seu noivo a questionou com o olhar. ─ Você era muito irritante. ─ Spencer gargalhou, encostando seus lábios nos da Hart.

A feição do Monroe ficou séria e ele soltou um suspiro. ─ Eu não devia ficar de vigia, devia ir 'lá fora com você. Te proteger. ─ Ele confessou, se referindo ao plano contra a horda, e a médica negou com a cabeça.

─ A gente não pode deixar esse lugar desprotegido. ─ Meadow argumentou. ─ Você e a Rosita precisam ficar aqui. ─ Ela disse, mas a Hart não podia negar que se sentia mais segura sabendo que Spencer estava protegido pelos muros.

O Monroe manteve sua expressão e sua noiva entendeu que algo ainda o incomodava. ─ Qual o problema? ─ Meadow perguntou.

Spencer suspirou. ─ Não acho que devemos confiar no Rick. ─ Ele contou. ─ Minha mãe 'tá praticamente entregando Alexandria na mão dele.

─ Eu confio nela. ─ Meadow interviu. ─ Ela vê algo nele. ─ A Hart argumentou. ─ E eu acho que ele é um cara legal. Só deve ser assombrado pelas coisas que passou lá fora.

─ Você e sua mania de sempre tentar ver o melhor nas pessoas. ─ O homem murmurou. ─ Eu só vejo um cara desequilibrado que ainda não entendeu que não é o líder desse lugar. ─ O Monroe afirmou, seu desgosto pelo xerife era visível.

─ 'Tá com medo de perder seu posto de futuro líder de Alexandria? ─ Meadow pediu, provocando seu noivo enquanto ria.

─ Eu posso ser o próximo líder deles, mas é em você que eles confiam. ─ Spencer disse, seu olhar se voltou para baixo. ─ Não em mim.

Da varanda da residência de Rick, Daryl encostava o cigarro em seus lábios, exalando a fumaça enquanto observava o casal abraçado no cemitério da comunidade. Ele não sabia porque, por mais que ele não  quisesse, seu olhar se mantinha preso naquela cena.

Ele pensava em como aquilo era algo que ele nunca teria. Um sentimento que ele nunca teve, uma emoção que ele nem ao menos sabia como era. Aquilo era amor? A forma como eles se olhavam, a forma como se tocavam? Daryl não tinha as respostas para suas próprias perguntas e nem entendia porque elas haviam surgido em primeiro lugar.

Carol estava atrás do arqueiro, analisando a cena por alguns instantes. ─ Ela é uma boa pessoa. ─ A mulher afirmou, chamando a atenção de Dixon, parando ao lado de seu amigo. ─ Não existem mais tantas pessoas assim. ─ Carol disse e os olhos azuis do arqueiro ainda estavam presos na Hart.

Daryl encostou o cigarro em sua boca mais uma vez. ─ Você merece uma pessoa boa assim. ─ A Peletier continuou. ─ E eu quero que você a encontre. Quero de verdade. ─ Ela confessou. ─ Mas a Meadow não é ela.

─ Não é assim. ─ Daryl a respondeu. ─ Não mesmo. ─ Ele disse, negando as insinuações de sua amiga. Ele não enxergava Meadow dessa forma.

─ Eu sei. ─ Carol contou. ─ Não é assim agora, mas essa proximidade de vocês... se isso continuar, as coisas podem mudar. Você não pode deixar que isso aconteça. ─ Ela afirmou, encostando sua mão no ombro do arqueiro. ─ A Meadow já achou a pessoa dela.

Daryl suspirou, olhando uma última vez para Meadow, sem entender o motivo das palavras de sua amiga. Ele não era capaz de se sentir assim pela Hart e, mesmo se fosse, ela nunca o olharia, não desse jeito. Ele era velho, um caipira que não entendia as palavras difíceis que ela usava na enfermaria, um ninguém. E Meadow... Meadow era gentil, inteligente, a primeira pessoa daquele lugar que não o olhou como se ele fosse um animal selvagem.

"Eu te veria em qualquer lugar, Daryl Dixon", a voz da Hart invadiu seus pensamentos. Mas ele sabia que aquelas palavras não poderiam ser verdadeiras. Ela nunca o veria. Pessoas como Meadow não enxergavam pessoas como Daryl.

Pessoas como ele não eram merecedoras de pessoas como a Meadow.

Daryl jogou seu cigarro no chão, saindo da residência. A Peletier assistiu seu amigo sair de seu campo de visão. Ela sabia que as palavras dela tinham afetado ele. Mas ela não poderia permitir que ele se machucasse. Não dessa forma. Porque ela tinha certeza que a maior queda seria a de Daryl.

─ ACHO QUE EU NÃO PRECISO PERGUNTAR como você conseguiu esse machucado. ─ Meadow afirmou, encarando a ferida na perna da jovem sentada em seu sofá. A menina se manteve em silêncio enquanto a médica começou a limpar seu ferimento. ─ O Carl 'tava com você? ─ A Hart perguntou, recebendo um olhar de reprovação de Enid.

─ O que? Eu vejo as coisas. ─ Meadow continuou. ─ Ele é um bom menino e eu fico mais tranquila sabendo que você não 'tá lá fora sozinha. ─ A Hart contou, a segurança de Enid era uma constante preocupação em seus pensamentos. ─ Não foi tão fundo. ─ A médica declarou, começando o curativo. ─ Mas vai ser difícil escalar por alguns dias. ─ A jovem fechou seus olhos ao sentir o antisséptico entrar em contato com sua pele, segurando um gemido de dor.

─ Sei que já falamos sobre isso, Enid. ─ Meadow começou. ─ Mas eu preciso que você fique aqui dentro agora. ─ Ela pediu. ─ As coisas estão mudando.

─ Mudando? ─ Enid a questionou.

A Hart assentiu. ─ O Rick achou uma horda não muito longe daqui. Nós temos um plano 'pra afastar eles de Alexandria. ─ Meadow contou. ─ E quando eu 'tava lá fora com o Daryl... a gente viu umas coisas estranhas. ─ Ela disse, se lembrando dos mortos carregando um "W" em suas testas.

Meadow terminou o curativo na perna de Enid e caminhou até a cômoda da sala, retirando uma pistola da última gaveta. ─ Quero que fique com isso. ─ Ela entregou para a jovem, sabendo que Enid não era inexperiente com armas.

─ Por que? ─ Enid perguntou, seu olhar demonstrava sua incerteza com a decisão da médica.

─ Porque eu não vou estar sempre aqui. ─ A Hart a respondeu. ─ E se algum dia acontecer alguma coisa, se alguém tentar te machucar, você atira, sem pensar duas vezes, ok? ─ Enid assentiu.

─ Armas são proibidas aqui dentro. ─ A jovem argumentou e Meadow sorriu de lado.

A médica deu de ombros. ─ Eu nunca fui muito de seguir as regras. ─ Ela afirmou. ─ E nem você.

"Só sobreviva de alguma forma", Enid pensou enquanto seus dedos analisavam a arma. "Só sobreviva, Meadow."

O PLANO DE RICK GRIMES CONSISTIA NA CONSTRUÇÃO de muros com placas de metal na estrada que cercava a comunidade, com o objetivo de guiar os mortos para longe, sem que eles tenham espaço para se dispersar. Então, agora, Meadow se encontrava fora de Alexandria, cercada por vários moradores, enquanto todos contribuíam da forma que conseguiam para a construção da estrutura.

Meadow cavava buracos na terra, onde seriam inseridos troncos de madeira que ajudariam na sustentação dos muros. A médica parou por alguns minutos, usando a pá como apoio, passando a mão em sua testa para limpar o suor que começava a escorrer.

Ela enxergou Daryl passar por ela carregando alguns materiais de construção. Meadow sorriu, acenando para ele, recebendo apenas um balanço de cabeça e um desvio de olhar como resposta.

─ Eu não tive a chance de te dizer isso antes, mas... ─ Ela olhou para o lado, encontrando o xerife. Suas roupas estavam sujas de terra, seu cabelo molhado em razão do Sol que parecia não descansar nem por um segundo e sua barba levemente crescida. ─ ... Eu sinto muito pelo Reg.

Meadow esboçou um pequeno sorriso como resposta e Rick continuou. ─ E eu queria te agradecer por me ajudar antes. ─ Ele admitiu. ─ Na reunião. ─ Ele contou, se referindo ao incidente com Carter.

A Hart soltou a pá que segurava, cruzando seus braços. ─ Eles tem os motivos deles 'pra estarem com medo. ─ Meadow confessou. ─ E não 'tô falando do que aconteceu com o Pete, ele mereceu o fim que teve. ─ Ela declarou. ─ E o jeito que você olha 'pra gente não ajuda.

Rick a encarou, confuso. ─ Como se soubesse que a gente fosse morrer. ─ Meadow falou, as palavras da médica surpreendendo o xerife. ─ Sei que nos acha fracos, que fomos sortudos até agora. ─ Ela continuou. ─ E você não 'tá errado, mas essas pessoas abriram os portões 'pra você. ─ A Hart desabafou. ─ Você pode treinar eles, acreditar neles, como eles estão acreditando em você.

Antes que o Grimes pudesse respondê-la, Deanna parou entre os dois, analisando o trabalho dos residentes, sua feição demonstrava como ela ainda estava indecisa em relação ao plano. ─ Foi a decisão certa. ─ Rick afirmou, voltando seu olhar para a Monroe. ─ Precisamos disso.

─ O que mais? ─ Deanna questionou, sabendo que o Grimes tinha mais planos para a comunidade.

─ As pessoas precisam andar armadas lá dentro. ─ Ele confessou e, quando seus olhos repousaram na figura de Meadow mais uma vez, ele continuou. ─ E elas precisam ser treinadas. Todo mundo. ─ Ele propôs, arrancando um sorriso de aprovação da médica, ela não esperava que o Grimes realmente escutaria o que ela havia dito.

─ O que você acha, Meadow? ─ Deanna questionou sua nora.

Meadow concordou com a cabeça. ─ Rick tem razão. ─ A Hart respondeu. ─ Se algo acontecer, eles precisam estar preparados.

O barulho dos mortos se aproximando fizeram com que Meadow colocasse seu corpo em frente do de Deanna, a protegendo. Os caminhantes estavam saindo da floresta, se aproximando dos moradores de Alexandria que trabalhavam no muro sem que eles percebessem.

Meadow agarrou sua pá, se preparando para atacá-los, mas foi parada pela mão de Rick. ─ Para! ─ Ele exclamou e a Hart o olhou confusa. ─ Carter, cuidado! ─ Ele exclamou para o morador, que rapidamente jogou seus equipamentos no chão ao notar que ele e seus companheiros estavam sendo cercados.

O grupo de Rick se reuniu em volta da confusão, todos com suas armas na mão, mas o Grimes fez um sinal para que eles não fizessem nada. ─ O que você 'tá fazendo?! ─ Meadow questionou, mas o xerife a ignorou.

─ Usem as enxadas. ─ Rick instruiu os moradores. ─ Armas só vão atrair mais deles.

─ Ajuda a gente! ─ Carter pediu, o medo era visível em seus olhos.

─ Você consegue. ─ Rick garantiu. ─ Vocês precisam. Todos vocês. ─ Ele disse. ─ Precisam aprender.

Os mortos se aproximavam cada vez mais rápido, mais deles saindo do meio das árvores. O grupo de Alexandrinos clamava por ajuda e, quando um morto agarrou o braço de Carter, fazendo com que ele derrubasse sua arma, Meadow empurrou o braço de Rick.

─ Meadow, não! ─ Rick declarou, mas a médica ignorou os protestos do xerife, matando o caminhante com sua pá. A atitude de Meadow foi seguida por outros membros do grupo de Grimes.

Ela retirou a faca de sua calça, enfiando a lâmina na cabeça de um morto, mas não sentiu o caminhante que se aproximava de seu pescoço. Quando ela percebeu a presença do zumbi, viu a flecha que o atingiu na cabeça, o matando.

Meadow olhou para a direção que a flecha veio, encontrando Daryl segurando sua besta. Ela o agradeceu com o olhar e o arqueiro entendeu. Não era a primeira vez que ela o olhava daquela forma.

Quando todos os mortos se encontravam no chão, a Hart sentiu o sangue dos caminhantes que respingou em sua face. Seus olhos encontraram os de Rick e ela passou ao seu lado, esbarrando seu ombro no dele. ─ É assim que quer treinar eles?! ─ Ela pediu, dando as costas para o xerife, seus punhos fechados e, mais uma vez, a raiva que a habitava secretamente implorava para ser liberada.

DESDE O PRIMEIRO DIA QUE O GRUPO DE RICK colocou os pés em Alexandria, parecia existir algo ligando Meadow a Daryl. Desde que ela escutou a voz do arqueiro naquela fita, parecia que algo havia os conectado. Uma similaridade desconhecida para ambos que fazia com que, intencionalmente, um acabasse encontrando um caminho de volta para o outro, sem com que algum deles ao menos percebesse.

Meadow subiu as escadas da estrutura de vigia do portão, se deparando com o arqueiro que mantinha seus olhos atentos para o lado de fora, até notar a médica ao seu lado. ─ Glenn disse que eu ia te achar aqui. ─ Ela contou, sorrindo para o Dixon, que continuou com sua feição séria, esperando o que a Hart tinha a dizer.

Ela havia dito ao Rhee que estava atrás do arqueiro para agradecer por ele ter a salvo do caminhante mais cedo. E ela realmente estava. Mas Meadow podia agradecê-lo a qualquer momento, por que ela queria vê-lo ainda naquela noite? Por que conversar com Daryl parecia ser a solução de suas preocupações naquele dia?

─ Obrigada por hoje. ─ Meadow agradeceu, se sentando ao lado do Dixon. ─ Acho que já perdi as contas de quantas vezes você já teve que me salvar. ─ Ela confessou, soltando uma leve risada. ─ Espero que você não se canse desse trabalho.

─ Não foi nada. ─ Ele respondeu, sua cabeça baixa, seu cabelo escondendo o azul de seus olhos.

─ Foi mais do que só um nada 'pra mim, Daryl. ─ Meadow afirmou, o olhando. Mesmo sem conhecê-la, o arqueiro já havia colocado sua vida em risco para salvá-la. Já esteve disposto a se sacrificar para que ela voltasse pra casa e, depois de tudo isso, ele continuava agindo como se fosse o anjo da guarda particular da Hart.

Ela se perguntava porque ele não mostrava esse lado dele. Se perguntava se ele não permitia as pessoas se aproximarem a tempo de o enxergarem ou se elas eram cegas demais para verem como ele realmente era.

─ Quando a gente estiver lá fora... ─ Meadow começou. ─ ... Quando você for levar a horda 'pra longe daqui...─ Ela disse, se referindo que o Dixon recebeu no plano, ele teria que guiar os mortos até um lugar afastado da comunidade.

Meadow sabia o que queria dizer, mas parecia que as palavras se recusavam em se transformarem em frases. ─ ... Só se cuida. ─ Ela disse, por fim. ─ Só volta 'pra casa, tá bom? ─ Ela pediu.

Daryl a olhou, assentindo, a garantindo em seu silêncio que ele voltaria. Voltar para casa, ele pensou. Ele nunca havia pensando em Alexandria como seu lar, o seu grupo havia sido sua casa desde o início do fim do mundo, mas, agora, ele havia mais um motivo para ficar. Mais uma pessoa para quem retornar.

Os dois permaneceram em silêncio, apreciando a noite que os cercava, as estrelas que brilhavam delicadamente, presos em seus próprios pensamentos, sem perceber que, a alguns metros de distância, Spencer os observava atentamente, sentindo um medo que o assombrava muito antes dos mortos se levantarem, o medo de perder Meadow.

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