TW: MENÇÕES DE SANGUE, EXPOSIÇÃO DE CADÁVERES, PALAVRAS DE BAIXO CALÃO.
#01. CHAPTER ONE :
❛...O que vem pela frente❜
✶ ✶ ✶
AGOSTO DE 2003
PAST
𝐀 𝐏𝐋𝐀𝐓𝐄𝐈𝐀 ia a loucura, alguns murmuravam decepcionados e outros pulavam de felicidade.
Ao lado da mulher, Joel gritava entusiasmado, Sarah havia marcado gol, o segundo gol especificamente.
━━━ Isso! ━━━ Olivia grita.
━━━ Essa é minha filha!
━━━ Só dois minutos. ━━━ Lizzie olha para o relógio ansiosa.
A garota havia passado a bola para outro integrante do time, eles estavam perto do gol, todos estavam apreensivos nos minutos finais.
O placar marcava 2×1, cada toque de bola do time adversário Olivia caía em gargalhadas por conta dos apelidos nada carinhosos que Joel dava para as crianças.
━━━ Você não presta. ━━━ Ela dá um leve empurrão no homem.
━━━ Dezenove segundos! ━━━ Lizzia grita.
O juiz não esperou, logo o som alto do apito pôde ser escutado. Os torcedores foram parabenizar os jogares dentro do campo, a maioria pais e filhos.
Sarah não parava de tagarelar o quanto estava nervosa e com medo do outro time ganhar, lizzie deu um longo abraço na amiga e a parabenizou. Joel e Olivia foram depois.
A foto foi tirada por Tommy, que chegou logo depois. Os três estavam sorrindo enquanto Sarah segurava o troféu do time.
Aquele dia ficou guardado nas lembranças de Olivia, mesmo depois de tanto tempo.
Ela nunca se permitiu esquecer.
𝐕𝐈𝐍𝐓𝐄 𝐀𝐍𝐎𝐒 𝐃𝐄𝐏𝐎𝐈𝐒
2023
𝐕𝐀𝐆𝐀𝐑 por aí sozinha se tornou rotina para Olivia, a mulher contrabandista que entregava algumas coisas para pessoas que residiam fora dos muros da FEDRA. Dessa vez, ela ficou encarregada de uma pequena entrega, mas de grande importância.
Eram documentos confidenciais vindos de outra base da FEDRA, segundo Wheleer, um velho mandão, os documentos pertenciam a uma possível "salvação" para a humanidade.
É claro que Olivia o chamou de louco e se recusou, mas após ver o que ganharia em troca, aceitou sem pestanejar.
Ela havia saído dos muros a mais ou menos dois dias, para sua sorte, não teve de lidar com muitos infectados, um corredor ali ou outro, nada que ela não consiga lidar.
Para alguns desinformados, o que tinha de pior atrás dos muros eram os dontes, infectados, mas Olivia sabia que o que realmente devia temer eram os caçadores.
Grupos que cercavam áreas da cidade, saqueavam e matavam pessoas pelo próprio entretenimento. A mulher teve o azar de cruzar com um grupo deles há um tempo, eles a saquearam e por pouco não a mataram.
Olivia conseguiu fugir na calada da noite, e por sorte, teve uma pequena intuição de que algo estava errado horas antes, guardou algumas coisas para sobrevivência em uma pequena loja no centro abandonado.
Welsh já estava exausta, mas não podia parar, não agora. O sol quase desaparecia no céu, ela precisava aproveitá-lo o máximo possível, a noite era um perigo eminente, pouca visão e muitos infectados.
As lojas ao redor estavam com vidraças quebradas e prateleiras vazias, não era estranho, muitas pessoas passaram aqui antes dela e ela sabia disso, só não podia afirmar se era bom ou ruim.
O barulho da bota surrada em contato com folhas secas era ouvido, a brisa gelada começava a aumentar, era melhor achar um abrigo antes do último raio de sol.
As casas em conjunto já eram visíveis de longe, Olivia odiava essa parte, normalmente ela passava direto por elas, quando as entregas eram perto, mas agora ela teria que checar cada uma delas, pela própria segurança. Eram quatro no total.
A primeira casa estava completamente acabada, havia um buraco enorme na antiga sala de estar, a cozinha tinha janelas quebradas e um cheiro horrível, os dois quartos superiores estavam trancados, os banheiros estavam cheios de entulhos. Aquela definitivamente não era adequada para passar a noite.
A mulher nem perdeu tempo com a próxima, só pelo cheiro ela soube que ali tinha restos mortais, não que ela fosse fresca ou algo assim, mas quem dorme com cadáveres?
A terceira casa estava com a porta principal trancada, as janelas estavam lacradas por tábuas, mas nenhum sinal de alguém. Olivia teve que pular o muro do quintal para ter acesso à porta dos fundos, que para sua sorte estava destrancada.
Aparentemente ninguém teria tentado entrar ali, exceto a poeira, que fez Olivia pigarrear algumas vezes.
A cozinha estava parcialmente arrumada, a camada grossa de pó estava presente na bancada, a mulher não reparou muito no local até terminar de checar tudo. Parece que hoje era um dia de sorte, tudo estava calmo.
No segundo andar, tinha apenas dois quartos, um era um tipo de escritório com estantes de livros e uma escrivaninha, o outro era uma suíte normal com uma cama de casal, armários e um banheiro.
Os lençóis estavam feitos, os armários bem arrumados, o banheiro estava limpo, na parte de cima não tinha nenhum indício de abandono, era como se alguém ainda morasse ali.
Merda.
━━━ Parada.
A sensação do cano de metal na parte superior de suas costas era horrível, ela estava vulnerável para seja lá quem fosse atrás dela.
━━━ Vire-se!
Olivia girou seu corpo lentamente para a pessoa. O rosto dócil não combinava com o objeto que segurava, os olhos ardiam em uma espécie de preocupação e medo.
Era uma garota.
━━━ Não quero machucar ninguém.━━━ Olivia levantou as mãos em rendição
━━━ Só estava procurando abrigo para essa noite...
━━━ Me disseram isso da última vez. Não acabou muito bem. ━━━ A menina rosnou.
━━━ Eu só estava procurando abrigo, me deixe ir embora, não verá minha cara nunca mais. ━━━ A mulher exclamou com ombros tensos.
━━━ De onde você veio? Tem mais gente com você? Vai mandar eles atrás de mim? ━━━ Ela apertou a arma com mais força.
━━━ Eu fugi da base da FEDRA, eu estou procurando um amigo. Não tem mais gente comigo.
━━━Saiba que se estiver mentindo, não vou hesitar em puxar o gatilho. ━━━ Disse firme.
Após longos cinco segundos, a menina finalmente cedeu, mas a face desconfiada não desapareceu de seu rosto.
Olivia abaixou os braços suspirando.
━━━ Está aqui a quanto tempo? ━━━ A mulher olhou ao redor.
━━━ Não muito. ━━━ A menina semicerrou os olhos.
━━━ É um milagre um deles não ter revirado isso aqui. ━━━ Olivia a encarou percebendo que ela estava confusa. ━━━ Os caçadores.
━━━ Não sei quem são. Não me importo. ━━━ A carranca não a deixava. ━━━ Pode passar a noite aqui, evite fazer barulho, tem muitas dessas coisas vagando por aí.
━━━ Qual é o seu nome? ━━━ A mulher muda de assunto.
━━━ Isso importa?
━━━ Tudo bem. ━━━ Olivia suspira derrotada ━━━ Posso ficar com o sofá.
A mulher se dirige para a parte inferior da casa, o sofá não era tão grande, mas era melhor que o chão duro e gelado.
Impressionantemente não estava com cheiro de mofo ou coisa assim, a TV ainda estava lá, mas obviamente não tinha energia para isso.
Olivia certificou uma última vez a rua pelas frestas das tábuas, o breu era a única paisagem.
A luz alaranjada vinha da escadaria, provavelmente a menina havia ascendido uma vela ou algo do tipo.
A mulher ligou sua lanterna uma única vez para checar o mapa do percurso que iria seguir, eram longos dias inteiros para chegar a metade do caminho. Como isso era provável sem um carro? Ela morreria antes de chegar lá.
Uma lâmpada se ascendeu na cabeça de Olivia, um antigo amigo morava por ali e coincidentemente ele tinha uma dívida com ela.
Ela não teve pesadelos naquela noite, dormiu e acordou bem descansada.
━━━ Você fala dormindo. ━━━ Uma voz se fez presente da cozinha.
━━━ Bom dia para você também. ━━━ Olivia esfregou os olhos.
A menina batia as portas dos armários constantemente, parecia procurar algo.
━━━ Merda... ━━━ sussurrou.
Olivia já estava de pé, checando sua mochila e suas munições
━━━ Algo errado? ━━━ Ela questionou.
━━━ Preciso reabastecer. Não tenho comida para os próximos dias... ━━━ A menina bufou.
━━━ Acho que está com sorte. ━━━ A mulher diz sem manter contato visual enquanto colocava a arma de volta ao coldre. ━━━ Vou passar pelo centro antes de seguir, pode vir comigo.
━━━ Não quero ir com você. ━━━ A menina olhou indiferente.
━━━ Então não venha. ━━━ Olivia mostrou desinteresse ━━━ Não estou obrigando ninguém, quem sabe os errantes te ofereçam comida. Sabe, eles são bem simpáticos.
Ajeitando a mochila, Olivia se dirigiu até os fundos.
━━━ Obrigada pela estadia. - Fez uma falsa reverência ━━━ Quem sabe eu te dê cinco estrelas.
A menina continuou apoiada na bancada, parecia pensar em algo.
━━━ Merda. ━━━ Suspirou ━━━ Espere um minuto.
A garota correu para o segundo andar, e não demorou muito para voltar com uma mochila.
━━━ Pronto. ━━━ Fechou a porta atrás de si e passou pela mulher.
O centro comercial mais próximo dali ficava há cinco horas de distância daquela residência, o caminho não era difícil, era repleto de carros abandonados no meio da antiga pista, não tinha muitos infectados.
O trajeto foi quase todo em silêncio, um comentário aqui ou ali sobre coisas banais.
━━━ Por que fugiu da base? ━━━ A mais nova corta o silêncio.
━━━ Eu meio que estou sendo procurada. ━━━ Olivia da de ombros.
━━━ Mais uma anotação no diário: atravessei uma cidade com uma criminosa. ━━━ Ela Ironizou.
━━━ Ei! - Olivia se finge ofendida. ━━━ Não sou necessariamente uma criminosa, mas fiz algumas coisas... erradas.
━━━ Matou alguém?
━━━ Da FEDRA não. ━━━ Olivia encarava o horizonte.
━━━ Ok, estou começando a rever minhas escolhas. ━━━ Ela olha também.
━━━ Por que ficou naquela casa? ━━━ A mulher a encarou.
A menina pareceu hesitar um pouco, novamente revendo suas escolhas, mas não demorou para responder.
━━━ Meu pai fugiu comigo quando eu ainda era pequena, me levou para' lá e me ensinou a me defender, dizia que os federais não eram justos e os tratavam feito animais. ━━━ Suspirou novamente ━━━ Não sei o que ele tinha na cabeça para fugir de uma base com uma quase recém-nascida, fomos passando a morar em várias casas provisórias, mas chegou um dia que ele simplesmente sumiu. Deixou um bilhete e se foi. Eu esperei por ele, esperei muito.
━━━ Eu sinto muito, ele não disse para onde iria? ━━━ Olivia questionou.
━━━ Só disse que iria fazer o certo e que voltaria logo. ━━━ A menina a encarou. ━━━ Isso faz quatro anos.
Olivia não tinha uma resposta para aquilo, só lançou-lhe um olhar de conforto e se calou.
━━━ Me chamo Madison, aliás.
━━━ Olivia.
As nuvens cinza se faziam presentes no céu, o clima estava esfriando, logo cairia uma tempestade.
━━━ Temos que procurar abrigo.
As duas mulheres se dirigiram até uma conveniência que ficava perto, não estava nas melhores condições, mas dava para esperar a chuva ali dentro.
A noite já havia chegado e nada da chuva parar, parecia que a cada minuto ela aumentava, os trovões faziam estrondos assustadores no céu e eram acompanhados por raios que o iluminavam.
━━━ Odeio chuva. ━━━ Madison comentou encostando a cabeça no balcão do caixa.
━━━ Odeio trovões. ━━━ Olivia suspirou.
O resto foi conversa jogada fora, assuntos normais que qualquer pessoa conversaria. Madison caiu no sono antes de Olivia, ainda encostada no balcão.
A mulher acordou no meio da noite, com um barulho vindo da porta da frente, ela não demorou para acordar a garota.
Olivia pegou a arma enquanto Madison agarrou sua faca.
As duas andaram silenciosamente entre as prateleiras, uma em cada lado.
A porta batia por conta do vento forte, o sino que ficava em cima tocava frequentemente. A loja era parcialmente grande, tinha quatro prateleiras grandes espalhadas.
Olivia se abaixou por impulso quando ouviu um grunhido.
O grunhido vindo de um estalador, os mesmos que não enxergavam, um estágio avançado da infecção. Uma respiração desregular era ouvida por eles e eles eram atraídos pelo som, tem como piorar?
Olivia andou devagar até o final da prateleira e o encarou. O barulho agudo debaixo se seus pés se instalou pela loja, cacos de vidro.
Sim, Olivia, tem como piorar.
O infectado começou a grunhir mais, se virou para Olivia e a mesma pôde ver, o fungo já estava visível em sua cabeça.
Ele correu em sua direção, mas Olivia foi mais rápida, a mesma correu abaixada para trás de outra prateleira, o impossibilitando de "vê-la".
Eles eram cegos, de fato, mas era como se eles "enxergassem" pelo som. Uma vez que ele te ouve e você está em sua frente, ele provavelmente saberá sua localização exata.
A mulher sabia que atirar naquele local só atrairia mais deles. Uma única saída e um único estralador, não era impossível.
A mulher viu Madison se aproximando de relance, também agachada. A menina olhava para ela com as sobrancelhas franzidas, perguntando o que fazer.
Olivia pensou rápido, apontou com a cabeça para o balcão, que estava a poucas prateleiras dali.
Madison entendeu rápido, se dirigiu ao balcão rapidamente enquanto Olivia pensava.
A mulher viu uma espécie de garrafa no lado direito de seu corpo, longe o suficiente para estar na frente do infectado. Era isso ou nada.
Ele estava a poucos centímetros de onde ela estava, ou ela era rápida o suficiente, ou ela era rápida o suficiente.
Olivia estendeu o braço em direção a garrafa, o estalador pareceu ouvi-la, ele deu mais um passo para frente.
A mulher agarrou a garrafa e a jogou do outro lado da loja.
O estalador fez barulhos altos, esperou um pouco e seguiu o som.
As duas correram para fora da loja e se direcionaram para longe.
━━━ Caralho, o que era aquilo? ━━━ Madison pergunta ofegante com as mãos nos joelhos.
━━━ Os chamam de estaladores.━━━ Olivia limpa o suor.
━━━ Também odeio essas coisas. ━━━ Ela pontua.
- HONEYMOON
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