Dizer que eu estava nervosa era um eufemismo, o que me deixou com raiva, já que eu não estava no controle da minha vida nesse momento. Eu não estava no controle dessa jogada e nem das próximas. O que eu e Draco podíamos fazer era manipular as ações de terceiros para que favorecessem a nós dois e, por consequência, à nossa família.
Deixar o lorde das trevas nos marcar como malditos porcos estava deixando um gostinho amargo, e, pelo canto do olho, eu vi que não era a única a degustar esse sabor. Draco tinha um olhar estóico e indiferente, mas eu o conhecia há sete anos. No fundo dos seus olhos, eu podia ver o orgulho dele rachando, a indignidade batendo nas portas que ele tão meticulosamente criou para se proteger.
— Vocês dois — Severus disse com um suspiro assim que chegamos ao foyer. — Joguem todos os sentimentos e raiva que estão sentindo no canto mais profundo de suas mentes. Vocês dois não podem demonstrar fraqueza.
— Não ajam como bebês chorões, o lorde só vai fazer doer mais — Bellatrix disse, nos olhando de cima a baixo.
— Bella tem razão, garotos. Se vocês demonstrarem sentir dor, ele só vai aumentar a angústia de vocês — Rodolphus disse, massageando as têmporas.
— Não somos idiotas, sabemos que ele é um sádico esquisito — Draco disse, revirando os olhos.
— Draco — Bellatrix chiou, indignada.
Logo, a porta da mansão foi aberta e Antônio Dolohov passou por ela, parando à nossa frente.
— O lorde quer todos na sala de jantar — Ele disse com um largo sorriso.
Sem mais o que dizer, seguimos todos para a sala de jantar, que eu, particularmente, acho que deveria ser chamada de centro operacional a partir de agora, já que aquele ambiente não era mais para refeições.
Ficamos esperando um bom tempo pelo lorde das trevas, o que era uma falta de respeito e um atiçador ainda pior para a minha ansiedade. Eu queria receber logo essa maldita marca para poder ir direto para a ala leste e me sentir mais ou menos segura; pelo menos lá não tinha esse tanto de gente circulando.
Não muito tempo depois, o lorde das trevas apareceu. Ele carregava no olhar uma felicidade sinistra e parecia que até mesmo a temperatura da sala caiu alguns graus.
— Hoje é um dia especial, porque nesta noite nosso círculo receberá dois integrantes novos. Acredito que a jovialidade do senhor e da senhora Malfoy será muito apreciada por mim e por vocês. Essa nova geração nos levará à vitória que tanto almejamos: a extinção dos sangues ruins e, claro, dos seus apoiadores — O lorde disse, sério.
Um discurso que soou patético aos meus ouvidos, mas que mostrava o que ele realmente queria: armas novas que podiam chegar a onde eles não podiam ir ainda.
— Bom, eu não vou demorar mais, até porque temos outros compromissos esta noite, e quero a participação de vocês, já que este é um presente atrasado de casamento e de boas-vindas — O lorde terminou de dizer com um sorriso.
— Bem... Como de costume, damas primeiro — Disse o lorde, levantando-se.
Draco ficou ainda mais rígido ao meu lado, ao qual eu dei um rápido tapinha em sua mão por debaixo da mesa; eu não iria me intimidar, minhas emoções estavam muito bem trancadas. A dor poderia ser excruciante, mas eu não daria o gostinho a ele de derramar uma única lágrima.
Assim que me aproximei dele, estendi o braço esquerdo, que ele agarrou com força. Com a ponta da varinha tocando o meu antebraço, começou a surgir a marca negra.
Ela queimava; eu podia jurar que até mesmo minha alma estava sendo marcada. Sentia-me como se minha cabeça fosse explodir a qualquer momento. Eu não sei se estava demonstrando algo, mas tinha certeza de que estava vermelha de dor, já que eu estava apertando com todas as minhas forças os meus lábios. Meus dentes estavam estalando e minhas pernas estavam bambas, e um zumbido se iniciava em meus ouvidos. Eu agora podia jurar que aquele momento com a professora Trelawney foi brincadeira de criança comparado a isso.
Então, ele soltou meu braço com uma leve carranca, mas ainda assim satisfeito com a dor que me infligiu.
— Me sinto honrada, lorde — Disse, sentindo-me orgulhosa por não gaguejar, enquanto passava a mão na marca negra que agora jazia no meu braço.
— Draco — O lorde disse, desviando o seu olhar de mim para Draco.
Eu me sentei e ele se levantou, tocando rapidamente meu ombro. Também dediquei um olhar a Severus, que já me olhava, dedicando um aceno de cabeça, o que me deixou mais tranquila, já que eu não sabia se tinha demonstrado algo, porque, no meu interior, me senti como no fogo do inferno.
Draco caminhou tranquilamente até o lorde, o que me deixou orgulhosa. Se ele queria nos quebrar, teria que fazer muito melhor.
Ele também pegou o braço esquerdo de Draco, apontando sua varinha com firmeza contra a pele pálida de Draco. Eu soube que a queimação se iniciou assim que Draco se tornou ainda mais rígido, apertando o punho contra a lateral do seu próprio corpo, e uma leve vermelhidão se iniciou no seu pescoço. Então tudo acabou, e o lorde o soltou. Menos de dez segundos, que em nossa mente pareceram dez minutos.
— Também me sinto honrado de finalmente fazer parte do círculo interno de comensais da morte, lorde — Draco disse com um aceno de cabeça, também olhando para seu braço.
Logo, Draco veio a se juntar a mim novamente na mesa, ao qual apertamos firmemente nossas mãos, nos ancorando um ao outro; Severus também dedicou a ele um leve aceno de cabeça, que Draco retribuiu.
— Ótimo, como eu disse antes, tenho um presente para vocês dois — Ele disse com um sorriso — Vamos todos para a sala de estar.
Caminhamos logo atrás dele, e quando chegamos à sala de estar da ala norte, havia duas pessoas ajoelhadas no chão, um casal.
— Aqui está... uma abominação. Ela, uma bruxa puro-sangue, e ele, um nascido trouxa. Eles se casaram há três semanas atrás — O lorde disse com nojo. — Draco, Lynx, aqui está seu presente... Acabem com essas escórias.
Escutei o hipócrita do lorde das trevas dizer, olhando com extremo nojo e desprezo para as duas pessoas ajoelhadas à nossa frente.