entre gêmeos e luas | vmin

By namudinha

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O pensamento de ser pai de um casal de gêmeos aos 26 anos nunca passou pela cabeça de Taehyung durante toda a... More

★ apresentação ★
01. entre bicicletas e cristais
02. entre castigos e visitas
03. entre brigas e pingentes
04. entre pôneis e pula-pulas
05. entre passeios e cupcakes
06. entre pés torcidos e mensagens
07. entre sorvetes e reencontros
08. entre corredores e varandas
09. entre restaurantes e balas de amendoim

10. entre amores e recomeços

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By namudinha


Olá!

Primeiro de tudo, feliz ano novo :) Espero que 2023 seja um ano de muitas realizações!

Depois de mais de 1 ano, egel finalmente está de volta!

Sei que a demora foi enorme, e peço desculpas por isso, mas agradeço imensamente por todo carinho, paciência e confiança.

Esse décimo capítulo contém mais de 10k de palavras, coincidentemente. Ao longo delas, inicia-se uma nova e essencial etapa na história

Sem mais delongas... Boa leitura!

.•°★°•.

#CatapimbaBruxinho

Ao contrário da maior parte das pessoas, Yoongi e Namjoon nunca viram necessidade em dar um nome àquilo que tinham. No final, dizia respeito apenas a eles e mais ninguém.

O que fazia a ligação de Kim Namjoon e Min Yoongi ser tão forte era justamente a ponte que os uniu: a fé. Seus corações não batiam no plano da terra, mas sim no espiritual, e juntos — protegidos abaixo dos amuletos que ambos carregavam em seus corpos.

Além disso, outro ponto fundamental em toda aquela dinâmica era ninguém mais, ninguém menos, que Jimin. E no pulso esquerdo de cada um dos três habitava o símbolo de tudo – da amizade, do amor e da união do trio de almas.

Foi assim que tudo começou, através da união desses dois fatores distintos e convergentes. Não no primeiro momento, não à primeira vista, mas no primeiro sentir.

Quando os corações fizeram tumtumtumtum. Quando os lábios sorriram de um jeito diferente e os olhos se recusaram a piscar para não perder um milésimo de segundo da imagem do outro.

Se alguém perguntasse, eles não saberiam dizer em que momento isso ocorreu. Pelo menos não a primeira vez. Mas por sorte, havia uma testemunha.

— Não é possível! Como você não lembra da carinha apaixonada dele, hyung? — o professor exclamou, erguendo o corpo para olhar na direção dos melhores amigos. — Eu nunca tinha visto os olhos dele brilhando daquele jeito, juro. Lembro de pensar: "pela Deusa, Min Yoongi está apaixonado!"

— Que exagero, Jiminie… — Yoongi revirou os olhos. — Joonie, não escute o que ele está dizendo. Esse bruxo mente!

— Como é que é?!

— Isso mesmo que você ouviu!

— Será que vocês dois não conseguem ficar um minuto no mesmo cômodo sem brigar? — foi a vez de Namjoon dizer. Seus dedos acariciando o pingente que sempre usava.

Jimin encarou o mais alto e apoiou o queixo nas costas do sofá. Yoongi acariciou sutilmente a panturrilha alheia sobre seu colo.

— O seu olhar foi exatamente esse, Namu-hyung – disse Jimin, sorrindo. – Consigo visualizar direitinho a imagem na minha mente. Você olhando pro amuleto, depois pro hyung e as covinhas aparecendo.

— Acho que fiquei tão feliz que mal me lembro do momento, só da sensação. – Ao seu lado, Yoongi concordou. – E você está certo, Chim, foi naquele dia. Como alguns descrevem, foi o meu click.

— O meu também – confessou Yoongi. – Lembro de ter ensaiado aquele momento por dias, pensando em como faria pra te dar o amuleto. Não queria que você entendesse errado, já que tinha o Jimin no meio da história e tudo mais, então minha cabeça estava uma pilha de nervos.

— Bom, não sei se dentro do papel de ex me cabe falar esse tipo de coisa… – Jimin brincou, arrancando risadas dos outros dois. – Mas vocês são uma gracinha. Digo isso como ex, como melhor amigo, como membro do nosso coven e como futuro padrinho!

Namjoon riu ao ouvir o som do estalo do tapa.

— Jimin, vai limpar o seu altar e vê se me deixa em paz! — ralhou Yoongi, com as orelhas vermelhas. 

— Pois saiba, hyung, que meu altar está lindíssimo. — Jimin cruzou os braços, pronto para se defender daquela acusação gravíssima. — O seu mais parece uma zona de guerra! Se eu ver mais algum besourinho no meio das suas ervas eu juro que…

— Pela Deusa, hyung! Eu já te disse que é melhor guardar essas coisas na geladeira. — Namjoon retirou as pernas do colo de Yoongi em um ato de indignação. Já estava acostumado com o jeito do bruxo mais velho, mas isso não significava que era algo que apreciava. — Como você consegue manter a qualidade das coisas, hein?

— Ai, Joonie, não fala assim… Eu cuido das minhas coisinhas, ok? Até pareceu que eu teria coragem de ser desleixado desse jeito.

— Mentira! — acusou Jimin. — Você não energiza seus cristais há mais de um mês!

Ya! Park Jimin!

Era naquele caos — no meio da gritaria e inspirando o aroma da vela aromatizada —, que Namjoon se encontrava. A sua casa, o seu lar, era onde aqueles outros dois estivessem.

Mesmo com as brigas, mesmo com as provocações e mesmo com os milhares de motivos que tinham para simplesmente não se darem bem uns com os outros, aquela ligação que possuíam era muito maior que isso.

Jimin, Yoongi e Namjoon eram filhos da lua.

Todos estavam parados como estátuas na sala de estar. No colo do pai, Mirae alternava o olhar entre seu avô e Taehyung, enquanto o próprio sentia o corpo tremendo levemente. Dakho não moveu um músculo, sustentando a troca de olhares com o filho.

Passos foram ouvidos na cozinha e os três mudaram o foco da atenção para a entrada do cômodo, de onde Ahri surgiu, carregando uma xícara de chá. Ela andou calmamente até a mesa, depositou o objeto sobre ela e, enfim, olhou para Taehyung.

A ausência de um sorriso em seu rosto trouxe mais agonia ao clima pesado.

A porta principal foi aberta mais uma vez, e por ela entraram Jiwoo, Seokjin e Jungkook — este carregava Minjun nos braços e assumiu uma expressão confusa ao ver dois estranhos no apartamento de seu vizinho.

— O que está acontecendo? — Jiwoo perguntou, mesmo que já tivesse uma noção da resposta.

— Antes que comecem a me acusar, saibam que fui praticamente arrastado — foi o que Dakho resolveu dizer.

Taehyung não levou um segundo para responder:

— E eu não te quero aqui dentro nem arrastado, nem amarrado, nem carregado!

Em seu cantinho, observando tudo atentamente do jeito que sempre fazia, Jungkook apertou um pouco mais Minjun em seus braços ao notar a expressão quase assustada do menino. Ele trocou um breve olhar com Seokjin.

— Tae, não diz isso.

— Não te quero na minha casa! – Taehyung não parou e deu um passo à frente. — Eu fui bem claro quando te mandei embora.

— Filho, você entendeu tudo erra…

— Eu o chamei — Ahri interrompeu. Todos fizeram silêncio novamente. Ela trocou um breve olhar com os dois Kim, pai e filho, para então desviar sua atenção para Jungkook. — Pode olhar as crianças um pouquinho, por favor… Jungkook?

Ele demorou um pouco para entender que o pedido havia sido direcionado a si, ainda focado em tentar desvendar o que estava acontecendo. Seokjin o olhou enquanto assentia com a cabeça, como se dissesse que não havia motivos para se preocupar.

Com a mente mais clara — e um pouco mais seguro de que o apartamento em frente ao seu não se tornaria uma zona de guerra assim que pisasse do lado de fora —, Jungkook se aproximou de Taehyung para segurar Mirae com seu braço livre. Então, após dizer um breve "até logo, pessoal", saiu com os gêmeos no colo.

No momento que a porta bateu, indicando que havia sido fechada, Ahri se livrou do semblante simpático que usou para falar com Jungkook e, com uma carranca estressada — cenho franzido, mandíbula travada e olhar duro —, apontou para a mesa.

— Os quatro. Agora.

Ninguém ousou desobedecer.

Sentados ao redor da mesa de seis lugares — Taehyung em uma das pontas, com Seokjin e Jiwoo ao seu lado; Dakho na oposta —, os adultos aguardavam a próxima fala — comando, pergunta, ação, qualquer coisa — de Ahri, que optou por permanecer de pé, observando todos por cima, com os braços cruzados.

Até que Taehyung cansou de esperar.

— Eu agradeceria muito se alguém me explicasse qual é o propósito disso.

— Eu cansei. Nós cansamos. É isso que você precisa entender.

Ao ouvir a resposta de Ahri, Taehyung olhou de relance para seus melhores amigos, que ao devolverem o olhar, sorriram envergonhados.

Mas não negaram.

— Filho, eu… — Dakho tentou falar, mas como esperado, foi interrompido.

— Tinha que ser aqui? Logo na minha casa? — Taehyung voltou a questionar, evidentemente nervoso. — Minha filha acabou de receber alta depois de passar a noite em um hospital, o Minjun virou a madrugada ardendo em febre… Eu nem dormi!

— Querido — Ahri chamou. — Eu viria de qualquer jeito. Se não fosse pela chuva, eu sairia de casa no momento que Seokjin me ligou para avisar o que aconteceu.

— Você não incomodaria, noona. Nunca — afirmou Taehyung. — Mas não entendi o motivo de trazê-lo também.

— Na verdade, essa nem era a minha intenção, a princípio — disse simples. Seu rosto estava menos tenso.

— Hã?

— Eu pedi para vir. Fui eu que… Eu quis vir. — Ao concluir a frase, Dakho encarou a mesa.

Taehyung piscou uma, duas, três vezes. Estava desacreditado. Incrédulo.

Após alguns segundos de silêncio, a mão de Jiwoo tocou a sua e, só então, ele percebeu que sua vista estava embaçada.

— Como você tem coragem de dizer isso com essa cara lavada? — Taehyung segurou um soluço. O cansaço físico e mental de dias somado ao caos da última madrugada pareciam evidenciar ainda mais seu emocional. — Uma coisa seria se ela tivesse te obrigado a vir, como você mesmo disse há alguns minutos, porque mesmo que eu ainda fosse contra, Ahri ainda seria a culpada, e com isso eu posso lidar. Mas escolher aparecer na minha casa por livre e espontânea vontade depois de eu dizer com todas as palavras que sua presença não é bem vinda aqui só mostra o quão sem noção você é.

— Tae…

— O que foi, hyung? Eu estou errado por reforçar quem eu quero e não quero dentro da minha própria casa?

— Ele é seu pai, Taehyung!

— E eu sou filho dele, Seokjin! Só que isso não me impediu de ser expulso ou de quase perder a guarda dos meus filhos! Que diferença faz o laço familiar e sanguíneo, então?

E pela primeira vez em muito tempo — mais precisamente, quatro anos — o rosto de Seokjin foi tomado por um tom vibrante de vermelho ao que sua mão atingiu a superfície da mesa, causando um som alto e balançando um vaso com plantas de plástico posicionado ao centro dela.

Vê-lo perder a paciência e o jeito cordial de sempre era raríssimo, então não foi difícil surpreender todos os presentes no cômodo. Cada um assumiu uma expressão surpresa diferente, mas todos os quatro pares de olhos arregalados se voltaram para Seokjin.

— Chega! Pelo amor de Deus, da Deusa, de qualquer divindade! Chega! – Sua voz saiu em um tom alto e irritadiço, totalmente fora do habitual. Além disso, a maneira como rangeu os dentes e, logo em seguida, fechou as mãos em um punho, assustou-os.

— Jinnie? — Jiwoo o chamou, com o tom mais calmo e pacífico possível, receosa.

Seokjin jogou a cabeça para trás e fechou os olhos com força, ignorando o chamado. Ele pôs as mãos no rosto e, em sequência, esfregou as têmporas com as pontas dos dedos.

— Desculpa — disse, quando aparentou estar mais calmo. — Eu só… É demais pra mim. Vocês não se escutam, um fala por cima do outro e depois ninguém quer dar o braço a torcer! — Sua fala ainda era rápida, e o tom seguia levemente alto. Ninguém ousou interromper — Se tivessem feito isso antes, Ahri e eu não precisaríamos armar todo um plano apenas para conseguir enfiar os dois no mesmo cômodo.

— Mas hyung, não tem mais nada a ser dito.

— Você pode não ter nada a dizer, mas garanto que tem muito a ouvir. — Puxou o ar profundamente antes de encarar cada um dos presentes com um olhar indecifrável. — A começar por mim.

— Hyung…

— Não, Taehyung. Eu cansei, Jiwoo cansou, Ahri cansou, e vocês dois também.

A frase veio como uma confissão envolvida pela sobrecarga dos sentimentos acumulados ao longo de todo aquele tempo.

E era verdade, estavam cansados.

— Quando tudo isso começou, eu prometi a mim mesmo que não me envolveria porque era um assunto de família — em meio ao silêncio contínuo, Seokjin voltou a dizer. — Mas é impossível manter uma promessa como essa quando você está presente em todos os acontecimentos.

Seokjin viu a construção, a queda e a recuperação de tudo. Sua presença em cada etapa o trouxe àquele momento: o tão aguardado desabafo.

— Taehyung, seu pai não te expulsou de casa. — Enfim, colocou para fora o que tanto esperou para falar e observou a mão do melhor amigo sendo acariciada por Ahri. — Você sabe disso, mas nunca quis aceitar que na verdade foi tudo um mal entendido ridículo que poderia ter sido resolvido há anos.

— Hyung, eles quis tirar os meus filhos de mim!

— Eu nunca quis isso! — foi a vez de Dakho dizer.

Espera… chorando?

Kim Dakho tinha lágrimas grossas nos olhos, que traçavam um caminho ao caírem uma a uma pelo rosto de mais idade. A cena deixou todos surpresos, mas Taehyung foi o mais afetado.

— Pai? — chamou, suavizando tanto a expressão quanto o tom de voz. O quê de preocupação fez Ahri, Jiwoo e Seokjin trocarem olhares entre si.

— Não, eu… — Ele tentou cobrir o rosto ao perceber a atenção que recebia, sentindo-se ainda mais tenso e vulnerável.

Dakho sentiu o coração palpitando, a respiração começando a falhar e sua vista ficando mais e mais embaçada. Seokjin perguntou se estava tudo bem, mas não obteve resposta.

Todos observaram quando o homem se afastou da mesa e ficou de pé. Estavam prontos para mais uma discussão dramática.

Mas eles não faziam ideia do estado da mente de Dakho.

Ao tirar as mãos do rosto, seus olhos se encontraram com os de Taehyung e, por um segundo, tudo parou.

Naquele momento, os dois se encaravam como se conseguissem compartilhar todos os pensamentos um com o outro.

E doía, doía muito.

O olhar machucado de Taehyung e o choro de remorso de Dakho deixavam ainda mais densa toda a atmosfera criada em volta deles.

A mesma atmosfera que foi quebrada quando os joelhos de Kim Dakho foram de encontro ao chão.

Jiwoo foi a primeira a levantar, pronta para acudir o avô das crianças. Seokjin e Ahri fizeram o mesmo em seguida, mas quem praticamente correu até Dakho foi Taehyung.

— Pai?! O que aconteceu? — Perguntou, afobado, enquanto tentava erguer o corpo trêmulo. — Ei, pai! 'Tá me ouvindo? Noona, chama uma ambulân…

Um abraço interrompeu sua fala. O impacto foi tão forte que Taehyung quase caiu para trás.

Ainda atônito, sentiu a garganta queimar ao ouvir o sussurro quebrado do pai:

Me d-desculpa, filho.

Nenhum deles percebeu quando os outros três deixaram o apartamento. Estavam presos novamente naquela atmosfera.

Ali, abraçados no chão, pai e filho se despiram de todas a armadura de raiva, rancor, tristeza e arrependimento que envolvia seus corações e mentes.

— Me desculpa, me desculpa, me des…

— Você não precisa fazer isso.

— Preciso! — quase implorou. —  Eu preciso tanto, filho…

Taehyung não respondeu — não sabia o que dizer diante daquela situação. Ele sentiu o corpo sendo liberado do abraço para logo depois ter seus ombros segurados com carinho pelas mãos de Dakho. Seu lábio começou a tremer.

— Sua mãe teria tanto orgulho do garotinho dela, Taehyung.

E bastou essa simples frase para que as lágrimas inundassem os olhos de Taehyung e um soluço escapasse por sua garganta.

— Depois que ela se foi, eu perdi uma parte minha também. — confessou ao enxugar o rosto de Tae com os dedos. — Mas eu não tinha o direito de descontar a minha dor em você, filho. Eu fui egoísta, babaca, teimoso e tantas outras coisas contigo, com a Ahri… Até com Jiwoo e Hoseok, que eu considero como se também fossem meus filhos.

A última frase pareceu atingir Dakho em cheio, como se dizer aquilo em voz alta pesasse ainda mais a sua consciência.

— Me desculpe por todas as vezes que eu te julguei como um péssimo pai. Eu estava completamente errado. Se tem alguém que deve receber esse título, sou eu.

Mesmo atordoado pelo misto de emoções e pensamentos rondando sua mente, Taehyung encontrou forças para, finalmente, fazer a pergunta que tanto o atordoou:

— Por quê? Por que, pai? — Um soluço quebrado. — Por que você demorou tanto tempo pra me dizer tudo isso? Por que você fez tudo isso?

— Eu não sei, Taehyung. Você não merece uma resposta como essa, mas é a verdade: eu não sei. — Ele encarou as próprias mãos, observando o anel que ainda usava no anelar esquerdo. — Aconteceu tudo tão rápido… Yiseo morreu, Jiwoo estava grávida do meu filho e, de repente, eu estava em um tribunal e você estava fora de casa. Virei viúvo e avô em um período tão curto de tempo e… Eu não soube lidar. 

— Você quis tirá-los de mim.

— Você, mais do que ninguém, sabe que não foi assim. Eu nunca faria isso, mas as coisas foram longe demais.

Taehyung se encolheu e abraçou as próprias pernas. Com a cabeça jogada para trás, observou um dos quadros espalhados pelo cômodo.

Mirae e Minjun, com um ano de vida, se abraçando.

— Pai, seja sincero.

— Com o quê?

— Você me culpa? — perguntou, tomando coragem de olhar nos olhos de Dakho. — Hein?

— Eu me culpo, filho.

— Mas…

— Você só estava tão desesperado quanto qualquer um ficaria na sua situação e, pior ainda, sozinho. Se eu não estivesse tão cego pela minha dor, eu poderia ter te ajudado, mas ao invés disso só passei todos esses anos esfregando suas atitudes passadas no seu rosto como se isso fosse algum tipo de justificativa.

— Então… Eu não sou um pai ruim por já… — Taehyung começou, mas foi interrompido antes que concluísse. 

— Na sua cabeça, era a melhor opção pra eles. — Dakho afirmou, levantando a mão para que não fosse interrompido com uma objeção. — Sempre foi assim, filho: eles em primeiro lugar. Além disso, você voltou atrás na sua decisão. Eu que decidi ser teimoso. Pensava que, de alguma forma, a minha atitude serviria para mostrar minha resiliência e responsabilidade, mas só serviu pra nos afastar.

Taehyung balançou a cabeça e desviou o olhar. A gola de sua camisa estava começando a sufocá-lo e, de repente, aquele lugar parecia apertado e quente demais.

Percebendo a agonia do mais novo, Dakho se aproximou e tocou o joelho alheio com cuidado, chamando a atenção para si.

— Pode falar, filho. Não vou te…

— A minha sexualidade é realmente um problema?

O corpo do homem mais velho travou. Parado, demorou alguns segundos observando a figura de Taehyung e, por um instante, lembrou de quando ele era apenas um garotinho.

Encolhido, Taehyung passava exatamente essa imagem: a de uma criança pequena e vulnerável. O que, no fundo, era como ele se sentia. Pequeno.

Nenhum dos dois estava preparado para ter aquela conversa naquele dia, daquela forma, mas ambos, silenciosamente e em segredo, decidiram agarrar a oportunidade para colocar todas as cartas na mesa.

Afinal, eles não eram os únicos envolvidos em tudo aquilo.

— Se lembra da cicatriz que sua mãe tinha no dorso da mão? — Dakho questionou com cautela. Taehyung levou alguns segundos para processar a pergunta, mas assentiu.

— Ela me disse que foi consequência de uma briga. Quando menor, achava que ela tinha participado de uma gangue adolescente.

Pela primeira vez em muito tempo, pai e filho riram juntos.

— Yiseo te repreenderia por ter essa imagem da própria mãe. — Aproveitou a quebra da tensão para acariciar o topo da cabeça de Taehyung, tendo o toque recebido de bom grado. — Mas sabe qual é a verdadeira história?

— Não, ela nunca contou.

— Foi enquanto defendia uma amiga.

— Sério? Então foi realmente durante a adolescência?

O sinal negativo de Dakho deixou Taehyung confuso.

— Como você sabe, Ahri foi a primeira pessoa que conhecemos quando chegamos de Daegu…

— O que a noona…

— Acontece, Taehyung, que nós não sabíamos nada sobre ela. Éramos três jovens muito amigos, mas Ahri era misteriosa. Mesmo alegre, era perceptível que algo estava errado. — Suspirou, mexido com as lembranças. — Sua mãe e eu decidimos que, se tinha alguma coisa ali, Ahri deveria estar confortável o suficiente para nos contar, então não tentamos ir muito a fundo.

Dakho segurou as mãos de Taehyung, cujos dedos não paravam quietos.

— Um dia, Yiseo me acordou desesperada no meio da madrugada. Assim que levantei, já fui capaz de ouvir os gritos e sons altos vindos da casa de Ahri. Nós fomos até lá e, logo de cara, notamos que a porta estava aberta, então entramos e…

— Não. Não me diga que…

— Encontramos Ahri no chão da sala, tentando se proteger do próprio pai. E sabe quem estava ao dela?

Taehyung engoliu em seco, já sentindo as lágrimas se acumulando nos olhos.

— Eunmi-noona.

— Exatamente. Sua mãe e eu nem pensamos direito, apenas vimos a cena e avançamos naquele… Naquele monstro.

— O que ele fez? O que aconteceu?

— Ele não nos conhecia, então achou que éramos ladrões ou algo do tipo. De qualquer forma, não estávamos ali para conversar, e sim para proteger nossa amiga e Eunmi, que não fazíamos ideia de quem poderia ser.

— Foi pelo motivo que eu estou pensando, 'né?

Ao ver o pai assentindo, Taehyung sentiu o peito apertando e as lágrimas molhando seu rosto mais uma vez.

— Infelizmente, sim. — Dakho também sentiu os olhos ardendo ao imaginar o filho no lugar da melhor amiga. — Eu o segurei e sua mãe foi na direção delas pra tentar ajudá-las. Foi tudo muito rápido. Ele pareceu entender que estávamos ali para impedi-lo e, de repente, eu levei um soco no estômago. Foi nessa hora que ele pegou um vaso e o atirou em sua mãe.

— Não é possível! Ninguém chamou a polícia?

— A gente sabia que não daria em nada. Ainda mais se ele abrisse a boca e dissesse o porquê de estar ali. — disse, com um pouco de descontentamento na voz. — De todo jeito, acho que ele ter feito aquilo com sua mãe foi o ápice para Ahri. Ela levantou e praticamente voou em cima dele. Foi nessa hora que entendemos o que estava acontecendo.

— Por quê?

— Porque ele disse coisas que eu, sinceramente, não gosto nem de lembrar. Foram tantos xingamentos e palavras de ódio que minha única reação foi ignorar a dor e devolver o soco. — Ele olhou novamente para a aliança em seu dedo. — Yiseo protegeu os ouvidos de Eunmi quando aquele verme começou a ofendê-la também e a dizer que o destino delas era o inferno.

— Eu não acredito que isso aconteceu.

— Pois é, às vezes penso que foi só um pesadelo. E é melhor assim. — Forçou um sorriso. — No final de tudo, conseguimos expulsá-lo de lá. Ahri agradeceu pela ajuda e, junto com Eunmi, cuidou dos nossos ferimentos. Sua mãe as convidou para ficar na nossa casa durante um tempo e algumas semanas depois Eunmi voltou para a cidade natal delas, Daegu.

— E-espera… É por isso que, até hoje, elas não moram juntas? Foi o trauma?

— Não posso te dar uma resposta sobre isso porque não cabe a mim, mas com certeza tem a ver. Elas parecem estar tentando superar, pelo visto, lembra que comentamos sobre isso na casa dos Jung?

— Sim, mas… Dói, pai. Me machuca saber o que elas passaram por serem como… eu.

Os braços de Dakho envolveram Taehyung novamente em uma tentativa de consolá-lo.

Fazia muito tempo que não tinham um momento como aquele.

— Filho.

— Hum?

— Desculpa por te deixar assim, não era minha intenção. Eu só te contei essa história pra mostrar que, assim como em relação a Ahri, eu não sinto nada de ruim sobre sua sexualidade. — Taehyung deitou a cabeça no ombro do pai para abafar o choro que se tornou ainda mais alto. — Sei que nunca tivemos uma conversa sobre isso, mas eu realmente achei que não era necessário. Na minha visão, sua mãe e eu sempre deixamos bem claro que te aceitamos de qualquer jeito.

— Eu também pensava assim, pai. — Comentou. — Só que depois daquela nossa última briga eu me senti traído. Sua reação trouxe de volta tantos pesadelos meus e…

— Se você tivesse me dado um tempinho pra te responder, isso não teria acontecido. — Dakho o interrompeu. — Eu não estava me referindo a isso.

— Agora, sei que não, mas você foi muito específico quando disse que sabia sobre minha conversa com Ahri naquela época.

— Eu estava falando sobre outra conversa.

Alguns segundos de silêncio até que a mente de Taehyung fizesse um estalo.

Ah.

Aquela conversa.

— É. — Eles suspiraram juntos, rindo baixo ao notarem. — Me desculpa, filho. Se eu tivesse conversado contigo depois de ouvir atrás da porta, talvez nós pudéssemos ter esclarecido as coisas mais cedo.

Dakho levou um susto quando, de repente, Taehyung se afastou e ficou de pé.

— Sabe de uma coisa, pai?

— O quê?

— Acho que você nunca conheceu minha casa direito.

O senhor encarou a mão estendida à sua frente com um brilho singular nos olhos ao ouvir a proposta. Sem pensar duas vezes, usou-a para conseguir se levantar e, com um sorriso raramente visto por Taehyung, disse:

— Estou pronto pra conhecê-la.

Alguns minutos depois, no apartamento vizinho, Seokjin respira aliviado ao receber uma mensagem do melhor amigo:

"Acho que você não vai precisar socar alguém por um bom tempo :)"

— Jimin, tem uma pessoa te esperando na sua sala.

Já era segunda, depois de mais uma manhã de aula. O professor desviou a atenção da apostila que segurava e olhou para uma de suas colegas de trabalho, também professora.

— Quem? Alguma criança esqueceu alguma coisa? Jurei que tinha checado a sala depois que elas foram embora.

A mulher riu, apoiando o corpo no batente da porta. Jimin colocou a apostila dentro do armário que era reservado para seus materiais.

— Acho que é um dos responsáveis dos gêmeos.

Jimin fez o melhor que pôde para disfarçar o quanto aquela simples frase o afetou.

Com cuidado, ele trancou a porta do armário e agradeceu pelo aviso antes de sair da sala dos professores.

Pensativo, aproveitou um dos espelhos do corredor para ajeitar os óculos de grau e arrumar os fios roxos sempre tão travessos.

"Você está sendo ridículo. Kim Taehyung não vai te morder." — pensou consigo mesmo, respirando fundo.

Ao abrir a porta de sua sala, no entanto, não encontrou Taehyung.

— Jiwoo-ssi?

— Olá, professor Park. — Sorriu gentilmente, voltando a observar o mural repleto de desenhos que cobria uma das paredes. — Te atrapalhei?

Jimin piscou três vezes, desfazendo-se do choque inicial, e se aproximou.

— Não, não. Os pais dos alunos também são minha prioridade, logo depois das crianças, é claro.

Jiwoo tirou uma foto do mural, especificamente dos trabalhos dos filhos, dispostos lado a lado, e virou-se para Jimin.

— Bom, obrigada por me receber, então.

— Sem problemas… Sobre o que quer falar? Aconteceu alguma coisa?

— Na verdade, vim agradecer. — respondeu enquanto abria a bolsa e retirava um pequeno envelope de dentro dela. — Seokjin me contou sobre como você fez questão de dirigir até o hospital no sábado e, além disso, eu vi com meus próprios olhos o carinho que você sente pelos meus filhos. É bom saber que eles estão em boas mãos.

O sorriso genuíno em formato de coração se fez presente no rosto bonito e Jimin pensou: "Ah, já sei de quem eles herdaram os sorrisos."

— Não foi nada, Jiwoo-ssi. Era o mínimo que eu poderia fazer.

— Mesmo assim, faço questão de agradecer. — Estendeu o envelope. — Aqui, um pequeno presente.

A primeira reação de Jimin foi balançar a cabeça para os lados, negando.

— Entendo que esteja grata, mas não é necessário. — O sorriso gentil continuou. — Recebi uma mensagem de Taehyung hoje sobre o estado da Mirae e, pra mim, saber que ela está bem é o bastante.

Jiwoo sorriu ainda mais. Jimin estranhou.

— Acho que meu presente será perfeito, então. Peço que aceite, Jimin-ssi.

Mesmo desconfiado, o professor resolveu pegar o envelope, levando um susto quando Jiwoo bateu palmas, animada.

Com cuidado, retirou o lacre e retirou dois… ingressos?

 — O que é isso?

— Exatamente o que você está vendo. Ingressos para a exposição que está acontecendo essa semana na Namsan Tower.

— Não acredito! Como você conseguiu? Eu queria muito ir, mas os ingressos tinham acabado.

— Segredo. — Riu. — Pelo visto, acertei seu gosto. Tem duas entradas, então sinta-se à vontade para convidar quem quiser.

— Muito obrigado, Jiwoo-ssi!

— Já disse que é apenas uma retribuição pela sua ajuda. — Ela checou o horário na tela do celular. — Bom, eu vim aqui só para te entregar isso mesmo. Mas antes de ir, gostaria de dizer que foi um prazer te conhecer! Fico realmente muito grata por tudo que fez pelas crianças.

Jimin sentiu uma sensação boa no peito, orgulhoso de si mesmo e feliz pelo elogio. Era bom saber que seu trabalho estava sendo reconhecido daquela forma.

— Também foi um prazer te conhecer! Posso te contar um segredo?

— O quê?

— Sempre tive curiosidade de saber quem era a mãe dos gêmeos. — Confessou. — Na verdade, também conheci o pai deles depois de muito tempo.

— Sério? Bom, acho que foi até um pouco de sorte nós termos nos encontrado. Não é sempre que tenho a oportunidade de voltar.

— Eu imagino. Minjun sempre comenta sobre você morar fora do país. — O professor apontou para um dos desenhos no mural. Na folha de papel, era possível enxergar uma família de bonecos de palito. — Esse foi um dos primeiros trabalhos que fizemos em sala. A proposta era que cada um desenhasse sua família. Lembro que quando perguntei a ele quem era quem no desenho, ele disse: "Essa aqui é minha omma! Ela mora na Alemanha, sabia?". Foi tão fofo.

— Eles são adoráveis. — Jiwoo sorriu. Jimin notou um brilho emocionado em seus olhos. — Os dias passaram muito rápido. Nem acredito que vou embora hoje.

Distraída pelo encanto de observar os desenhos dos filhos novamente, Jiwoo se assustou ao ser arrancada dessa bolha de amor quando sentiu seu corpo sendo abraçado.

Eu tenho certeza que eles vão entender melhor, um dia. — Jimin sussurrou em seu ouvido. A mãe dos gêmeos precisou abanar o rosto com uma das mãos para conter o choro que queria ser liberado.

O abraço de Jimin era confortável como usar um cobertor em um dia frio. A própria presença dele já era acolhedora em muitos sentidos, mas sentir aquilo de maneira mais física trouxe uma espécie de alívio para Jiwoo.

Park Jimin era especial.

Eles desfizeram o abraço, que não durou muito tempo.

— Ainda tenho algumas coisas pra fazer hoje, então infelizmente já deu minha hora. — Anunciou, logo depois. — Mais uma vez, obrigada.

— E mais uma vez, não há de quê.

A mãe babona tirou mais uma foto dos desenhos antes de andar até a porta, sendo acompanhada pelo professor.

— Tchau, Jiwoo-ssi. Boa viagem!

— Até mais, professor. — Ela se afastou, saindo da sala. Mas antes que Jimin se virasse para pegar o envelope deixado na mesa, ouviu novamente a voz de Jiwoo. — Ah, antes que eu me esqueça!

— Sim?

Taehyung também adora exposições. — Piscou um dos olhos, sorrindo travessa. — Tchauzinho!

E pronto, ela conseguiu alugar um triplex na cabeça de Jimin com essa simples informação.

Depois de dez minutos pensando e pensando, o bruxo saiu da sala com o coração ansioso e uma decisão tomada.

— Seokjin, você tem que me prometer que não vai largar esse menino. — Jiwoo falou baixo, apenas para Seokjin ouvir.

Já era noite, e todos estavam no aeroporto.

Enquanto aguardavam a chamada do vôo, Jungkook entregou uma caixa pequena repleta de doces para Jiwoo degustar durante a viagem. 

— Jungkook, me avise quando for abrir uma filial da sua confeitaria na Europa. Vou virar sua sócia. Vou sentir falta dessas maravilhas. 

— Obrigado, noona. — Agradeceu, envergonhado. Seokjin acariciou sua mão discretamente. — Vou sentir falta da minha degustadora favorita.

Eles se abraçaram rapidamente. Jiwoo se apaixonou pelo jeito adorável de Jungkook, e ele ficou encantado pela personalidade carismática dela. Durante o tempo que ficaram juntos, formaram uma boa dupla.

— Voltamos! — Avisou Taehyung, segurando as mãos dos gêmeos. — Quase me perdi procurando o banheiro.

— Papai não sabia usar a pia. — Mirae comentou, fazendo todos rirem.

— Em minha defesa, aquele sensor é horrível!

— Você não mudou nadinha mesmo. — Foi a vez da mãe dos irmãos Jung comentar. — Continua todo atrapalhado.

— Lembra de quando ele quebrou um porta retrato e ficou uma semana pedindo desculpas?

— Ele era adorável, pai. — Hoseok disse. — Agora é mais chato.

— Ele é pai, Hoseok, faz parte do pacote. — brincou Ahri. — Mas continua sendo meu garotinho.

Envergonhado por, de repente, ser o tópico da conversa, Taehyung ignorou os comentários e pegou o celular. O objetivo era só olhar a hora, mas…

1 Mensagem Não Lida

Park Jimin

> Você vai buscar as
crianças amanhã?

— Com quem você 'tá falando pra ter ficado com essa cara, Taehyung? — Jiwoo perguntou, mesmo que tivesse uma suspeita da resposta.

— Ah, foi o… — Suspirou, sabendo com o que lidaria depois de responder. — Jimin.

Jungkook bateu palmas bem animadas, assim como Seokjin, que quase esticou o pescoço para poder ler a mensagem, mas foi impedido por Taehyung. Mirae e Minjun se olharam, tentando entender o porquê da menção ao nome do professor.

— O titio Park? — Minjun perguntou, curioso. Taehyung assentiu.

— Por que o professor mandou mensagem, filho? Aconteceu alguma coisa? — Foi a vez de Dakho perguntar.

— Não, é só… — Pigarreou. Estava nervoso. — Ele me perguntou se vou buscar as crianças amanhã.

Ele não perde tempo mesmo. — Seokjin comentou um pouco mais baixo. Jungkook bateu em seu braço. — Ai.

Fica quieto.

— Ah, deve ser porque eu busquei eles hoje. — falou Dakho. — Ele até ficou surpreso ao me ver.

— É, pai. Deve ser isso…

Os mais velhos voltaram a conversar entre si. Ainda sob o olhar dos amigos, Taehyung voltou a abrir o chat de conversas.

Você

Amanhã eles vão pra casa do
meu pai depois da aula. Então
e

le vai levar e buscar. Por quê?


Park Jimin

> Quero te ver :)

Por um momento, Taehyung pôde jurar que sentiu o coração parar de bater.

> Tenho uma proposta.

Você

Que seria?

Park Jimin

> Surpresa :)

> Te busco às 19h.

> E diga à Jiwoo-ssi que
eu entendi o recado.

> Até amanhã, Taehyung <3

— Noona, o que você fez? — ainda sem tirar os olhos da tela, Taehyung perguntou.

Seokjin e Jungkook desviaram a atenção para Jiwoo, que apenas sorriu como uma criança travessa.

— Me agradeça depois, amor.

— Ah, sua esper…

"Passageiros do voo QTR oito cinco nove, encaminhem-se ao portão de embarque."

Após ser interrompido pelo aviso emitido pelos alto-falantes, Taehyung pareceu até mesmo ter esquecido sobre o que estava falando. Sua primeira reação foi se aproximar de Jiwoo e apertá-la em um abraço, tendo sua ação repetida por Seokjin e Hoseok.

Minjun achou graça da cena, mas Mirae observou tudo em silêncio.

Depois de se desvencilhar dos melhores amigos e do irmão, Jiwoo foi até os pais para se despedir. Ao contrário da primeira vez, ninguém chorava — já estavam acostumados com as despedidas.

Ahri entregou um envelope para Jiwoo, pedindo que ela abrisse somente no avião. Logo depois, foi a vez de Dakho, que a abraçou com carinho, sussurrando uma única frase em seu ouvido:

Obrigado por cuidar dele.

Jiwoo beijou as mãos do mais velho. Estava feliz por poder ir embora sabendo que os Kim estavam resolvidos.

— Aqui, gatinhos. Hora de dar tchau pra mamãe.

Taehyung segurava os filhos no colo, um em cada braço. Mirae continuava sem expressão alguma no rosto, mas Minjun já possuía o brilho nos olhos que os pais tanto conheciam.

— Gatinho, não chora… — Jiwoo disse, já sentindo a garganta queimar.

— Não 'tô cholando — insistiu Minjun, fungando logo em seguida. Taehyung esfregou o nariz em sua bochecha, acariciando-o.

— Vem cá, Jun. — Jiwoo o puxou e olhou para Mirae. — Você também, Mimi.

Aquele momento sempre seria o mais complicado para Taehyung: vê-los se despedir. O aperto no peito que demorava a ir embora, os choros baixinhos que ouvia durante a volta para casa e, principalmente, o humor alterado no dia seguinte.

Mas a cada nova despedida, a cada novo "tchau, mamãe", eles cresciam. E, aos poucos, a duração de cada uma dessas etapas diminuía.

Taehyung decidiu dar espaço para os três e pegou as malas da amiga. Hoseok, Jungkook e Seokjin seguiram com os quatro até o portão de embarque, enquanto Ahri e os avós das crianças voltavam para suas respectivas casas.

Ao, enfim, chegarem na área restrita aos passageiros, Jiwoo deu um beijo em cada um dos filhos antes de devolvê-los ao pai e pegar suas malas.

— Vou sentir muita saudade, gatinhos. — Ela sorriu na direção deles, fingindo que não estava prestes a chorar. — Mamãe ama vocês. Muito.

— Também te amo. — Mirae disse, quase sussurrando.

— É, eu também! — Minjun concordou, já sem sinais de um possível choro.

— Eu também! — Hoseok se incluiu, puxando a irmã para mais um abraço. — Tchau, maninha.

Enquanto era abraçada pelo irmão, Jiwoo olhou para cada um dos três amigos, parando somente em Taehyung, que a encarava de volta, com os gêmeos no colo.

Obrigada. — Silabou, sem emitir som algum.

Taehyung respondeu beijando o rosto das crianças. Ela entendeu.

Sempre por eles.

A chamada para o embarque foi feita novamente. Hoseok se separou de Jiwoo e todos começaram a acenar em sua direção.

Ela deu uma última olhada enquanto caminhava pelo corredor, guardando na memória a imagem de seus dois filhos acenando agarrados ao pai. Por fim, entrou no portão.

Sentiria saudades de casa.

— Jimin, pela milésima vez, você está ótimo.

Yoongi estava prestes a arrancar todos os fios de cabelo do melhor amigo com uma pinça. Havia passado o dia anterior todinho ajudando Jimin a escolher uma roupa, o que se mostrou ter sido em vão quando, na manhã seguinte, o professor chegou desesperado em casa.

— Hyung, eu juro que quando vi essa roupinha na vitrine ela era linda! — exclamou Jimin, se avaliando no espelho.

— Mas ela é mesmo, não entendi o problema. — Namjoon comentou, sentado na cama de Jimin, assim como Yoongi.

— Ele 'tá nervoso, Joonie, esse é o problema. — o bruxo mais velho voltou a dizer. — Jimin, é sério, você está lindo. E vai ficar ainda mais quando se arrumar de verdade. Agora tira essa roupa e vai comer.

— Ai, gente. — Gemeu, choroso. — Será que foi mesmo uma boa ideia? Ele nem me mandou mais mensagem…

— Acho que só o fato de ele ter te respondido já deve ser considerado como uma vitória. — brincou Namjoon. — Você deve ter quebrado o bichinho, tadinho.

— Nem me fala isso, hyung. Eu fico imaginando a carinha dele quando leu meu convite…

— Chega, não aguento essas coisas! — Yoongi se levantou em um pulo. Namjoon gargalhou. — Ainda bem que vocês vão sair, ninguém aguenta mais toda essa coisa.

— Você fala isso como se não fosse pior com o Namu-hyung.

— Não me venha com essa! Nunca irei me comparar a vocês!

Decidindo ignorar mais uma das milhares mini discussões entre os amigos, Namjoon saiu do quarto rindo e foi para a sala.

Sentado no chão, perto do sofá, Yeonjun usava a mesa de centro para apoiar seu almoço enquanto assistia uma série que Namjoon não identificou.

— E aí, criança? Pronto pra passar o resto do dia com a gente?

— Vocês são legais, meu hyung que é doido. — murmurou. — Falando nele, o que 'tá rolando? Ele não parou quieto desde que chegou.

— Coisa de adulto. — disse, sabendo que aquilo deixaria o adolescente ainda mais curioso. — Já escolheu a saga que vamos maratonar? Yoongi-hyung vai pedir pizza mais tarde.

— Ai, que maravilha. Amo vocês. — Yeonjun comentou, animado, e pegou o controle para abrir em um dos canais de streaming. — Olha, eu 'tava querendo assistir…

Na casa de Taehyung, as coisas não pareciam tão diferentes.

Jungkook e Seokjin estavam sentados no sofá enquanto Taehyung experimentava a sétima combinação de roupas — eles contaram.

— Acho que a calça preta fica melhor. — Seokjin opinou, com a mão no queixo. — Bota aquela corrente também.

— Isso! — Jungkook concordou. — Vai ficar legal com o blazer. É a sua cara.

— Ui, todo de preto.

— Será que não é demais? — Taehyung suspirou. — Eu não sei aonde ele vai me levar.

— Confia em mim, eu sei o que estou dizendo. — disse Seokjin, piscando para o melhor amigo, que abriu a boca em choque.

— Você sabe?! Me conta!

— Yoongi me fez prometer que eu ficaria em silêncio. — justificou. — Portanto, eu estou e continuarei em silêncio.

— Jungkook, faça alguma coisa!

— Desculpa, hyung. Eu não quero estragar a surpresa.

Você também? Eu sou o único que não sabe?

Sim. — Jungkook e Seokjin responderam, juntos.

— Isso é um complô! Um absurdo!

Taehyung se retirou da sala ainda mais nervoso, quase batendo os pés no chão, tentando ignorar as risadas altas de Seokjin e Jungkook.

Chegando em seu quarto, pegou o celular para checar se havia alguma mensagem de Jimin, mas acabou se distraindo ao ver a notificação da conversa com Dakho.

O vídeo de Mirae e Minjun dormindo abraçados na cama do avô foi mais que suficiente para trazer um pouco de calma ao coração tão agitado de Taehyung.

Ele deu play novamente no vídeo e respirou fundo.

Não via a hora da noite chegar.

(...)

O céu lá fora estava escuro.

No elevador, Taehyung não conseguia parar de ajeitar o cabelo em frente ao espelho. Seokjin, ao seu lado, o olhava com uma expressão de tédio no rosto.

— Você tem certeza que consegue ficar sozinho dentro de um carro com ele? — implicou.

— Seu número é um dos meus contatos de emergência. — Taehyung respondeu, dessa vez chegando o horário no relógio em seu pulso. — Se eu ligar, já sabe.

— Hyung, para com isso. — Jungkook resolveu intervir. — Vai dar tudo certo! Nós vamos esperar até que ele chegue e, depois, você vai entrar naquele carro e ser feliz, okay?

Taehyung ficou sem palavras por um instante, parecendo ter finalmente saído do transe causado pelo nervosismo. Ele olhou para Jungkook, que respirou fundo, incentivando-o a fazer o mesmo.

A porta do elevador se abriu e Seokjin empurrou os dois para fora. Na entrada do prédio, o porteiro cumprimentou os três rapazes por quem nutria um grande apreço.

Seokjin e Jungkook também tinham um encontro, mas fizeram questão de continuar com Taehyung, apenas para aguardar Jimin.

No fundo, a curiosidade de Jungkook também era um dos motivos. Assim como o medo que Seokjin tinha de ver o melhor amigo desmaiando de nervoso.

— Ok, ele acabou de mandar uma mensagem dizendo que está chegando. — Taehyung anunciou. — Ok, ok, muita calma.

— Você é o único que não está calmo aqui.

— Shiu!

Seokjin faria mais um comentário, porém acabou sendo interrompido quando avistou um carro parando logo em frente ao portão do edifício.

Dentro do automóvel, Jimin ajeitou os óculos no rosto e tocou, por cima da roupa, o pingente do amuleto que sempre usava. Sorriu de um jeito bobo, mentalizando um "calma, bruxinho" antes de desligar o carro e abrir a porta.

Quase ao mesmo tempo, o portão do prédio foi aberto. E quase ao mesmo tempo, Jimin e Taehyung quiseram sair correndo e gritando.

O professor reprimiu a vontade de pedir ajuda em voz alta para a lua, deixando para fazer isso mentalmente. A visão de Taehyung vestido inteiramente de preto era algo novo, e ele adorou. Mas o que mais chamou sua atenção foi o brilho da corrente que adornava perfeitamente o pescoço já muitas vezes admirado pelo bruxo.

Para Taehyung, cada novo visual de Jimin era algo incrível. Dessa vez, o encanto da vestimenta era o cardigã vermelho e felpudo que cobria todo o seu corpo… menos o maldito ombro esquerdo. Por baixo dele, as roupas também eram inteiramente pretas, desde o sapato até a regata que usava.

Os dois caminharam pelo que pareceram horas — mas não passaram de segundos — até estarem frente a frente. O mesmo brilho nos olhos.

— Oi… Taehyung.

— Oi… Jimin.

— Quanto tempo, querido! — Seokjin interrompeu o momento, não aguentando mais o constrangimento que era estar perto da bolha daqueles dois.

— Seokjin-hyung! — Jimin o cumprimentou, saindo da bolha. — Tudo bem?

— Sim, e espero que com você também.

Jimin olhou novamente para Taehyung antes de dizer:

— Tudo ótimo.

Seokjin sorriu para o amigo, se segurando muito para não fazer uma piada da situação. Taehyung, no entanto, continuava imerso em seu próprio mundo, sorrindo para o nada.

— Você eu não conheço…

— Ah. — Taehyung, enfim, acordou para a vida. — Quase esqueci. Jimin, esse é o Jungkook, meu vizinho. Jungkook, esse é o professor das crianças.

— É um prazer, Jimin-ssi. — Jungkook sorriu do jeitinho adorável de sempre, derretendo o coração de Jimin. — Ouvi muito sobre você!

— Ouviu, é? — Jimin virou-se para Taehyung. — Você falou de mim pro prédio inteiro?

Taehyung quis enfiar a cabeça no primeiro buraco que visse.

— Acho melhor vocês irem logo, antes que ele quebre. — Seokjin não perdeu a oportunidade de dizer. — Nós vamos indo. Bom te ver de novo, Jimin!

— Digo o mesmo, hyung! Foi um prazer, Jungkook-ssi!

Os outros dois acenaram para eles e seguiram andando com os braços entrelaçados até a esquina enquanto Jimin e Taehyung se dirigiram ao carro.

Jimin abriu a porta para Taehyung, deixando-o ainda mais tímido, e precisou dar a volta no veículo para poder sentar no banco do motorista.

Enfim, sentados, os dois precisaram de alguns segundos para afivelar seus respectivos cintos — utilizando desse tempo precioso para pensar no que dizer.

— Então… — surpreendentemente, Taehyung começou. — Aonde vamos?

— Já falei que é surpresa — Jimin sorriu e deu partida. — Mas você pode tentar adivinhar.

— Primeiro de tudo, sou péssimo com essas coisas. E isso é uma injustiça! — Cruzou os braços. — Até Seokjin-hyung sabe!

— Bom, aí a culpa já não é minha. Yoongi-hyung deve ter aberto aquela boca fofoqueira quando foi devolver o carro. — Explicou. — Falando nele… Seria ele o responsável por você também estar todo de preto? Ou é uma coincidência?

Taehyung tirou um tempo para analisar a fala de Jimin, só então se dando conta que, de fato, estavam com cores combinando.

— Se não fosse pelo cardigã, poderíamos facilmente dizer que estamos usando aquelas roupas de casal. — comentou, sem pensar, observando a vista da janela.

— Nós ainda podemos, na verdade.

Jimin riu novamente quando Taehyung se engasgou com o ar.

— Você ainda vai me matar.

— Só se você pedir. — O olhar desesperado do outro o fez rir ainda mais alto. O carro fez mais uma curva. — Okay, okay. Parei.

— Eu agradeço.

— Enfim… Acho que você vai gostar. Me deram uma garantia, então espero que dê certo.

— Se essa garantia tem alguma coisa a ver com Jung Jiwoo, saiba que ela é bem espertinha.

— Isso é verdade. — concordou, lembrando do dia anterior. — Mas se não fosse por ela, eu ainda estaria arrumando uma desculpa pra te chamar pra sair, então… Acho que vale a pena correr o risco.

Taehyung olhou para Jimin, observando a figura do professor dirigir atentamente. Ele correu os olhos desde os fios roxos até as mãos que seguravam o volante.

— Jimin.

— Sim?

— Você é lindo.

O bruxo reprimiu mais uma vontade: a de puxar Taehyung para um beijo. Sentiu as borboletas voando livremente em seu estômago, sem rumo algum. Foi inevitável sorrir.

Você ainda vai me matar. — Repetiu a frase dita por Taehyung, que riu e voltou a olhar através da janela.

Eles permaneceram imersos em um silêncio confortável durante todo o resto do trajeto, apenas apreciando a presença um do outro e a atmosfera gostosa que se formava quando estavam juntos. Às vezes, riam de algo que o outro disse, ou simplesmente por estarem tão animados que tudo era motivo para dar risada.

Era bom.

Taehyung não contou o tempo que levaram para chegar, até porque já tinha conhecimento sobre sua dificuldade de compreender a passagem do tempo quando estava com Jimin. Mas ele achou que havia sido bem rápido.

O professor avisou que estacionaria o carro um pouco antes do destino final, e foi isso que fez. Mas Taehyung mal precisou abrir a porta para saber onde estavam.

— Não acredito.

— Hã? — Jimin ficou confuso ao ouvi-lo enquanto ainda saía do carro, mas bastou que olhasse para o mesmo ponto que Taehyung e tudo fez sentido. — Ah. — Riu. — Surpresa!

É claro que Taehyung saberia onde estavam. Apesar de ser um lugar mais afastado, a placa chamativa na entrada deixava óbvio.

— Você me trouxe pra Namsan Tower! — Taehyung quase gritou, animado. — Como você conseguiu? Os ingressos pra exposição estavam esgotados!

— Jiwoo. — respondeu, sem mais explicações.

— Aquela pilantra! — exclamou Taehyung. — Noona, eu te amo.

Jimin riu da animação de Taehyung. Ele estava adorável, com um sorriso que não saía por nada do rosto, e aquilo encantou ainda mais o professor.

Taehyung estava tão anestesiado pela alegria que sequer percebeu quando Jimin o segurou pelos ombros e começou a guiá-lo em direção à entrada do ponto turístico tão famoso.

Ao contrário do que aconteceria em um dia normal, o balcão de venda de ingressos e todo o espaço estavam relativamente vazios. A exposição ocasionou o fechamento temporário da torre durante toda a semana para que o local fosse de uso exclusivo do evento.

Um homem vestido com roupas tradicionais recebeu os ingressos e checou os detalhes antes de entregar duas pulseiras de papel para eles. Jimin ajudou Taehyung a colocá-la e vice-versa.

— Dirijam-se ao próximo andar e aguardem o próximo teleférico, por favor — o recepcionista instruiu. — É por ali.

Não era a primeira vez que visitavam a Namsan Tower, então não foi difícil se localizar e saber por onde ir. Atrás deles, um grupo de quatro pessoas ia pelo mesmo caminho.

O teleférico nada mais era que um dos meios de transporte para chegar à área principal do local, que assim como muitas partes do país ficava no topo de uma montanha. Por sorte, já havia um parado quando eles chegaram, e um condutor os aguardava para dar as instruções de segurança, mas Taehyung não prestou atenção em uma única palavra dita por ele, pois sentiu a mão de Jimin o tocando em um chamado silencioso.

— Você se importaria se eu… — Apontou para o braço de Taehyung, um pouco constrangido. — Tenho acrofobia.

— O quê?

— Altura. Eu… — Ficou ainda mais constrangido. — Tenho medo de altura.

Jimin decidiu desviar o olhar, acabando por perder o momento que Taehyung sorriu em sua direção e entrelaçou seus braços antes de puxá-lo para dentro do teleférico. O professor só percebeu que estavam lá dentro quando a porta do cubículo fechou.

Ele cometeu o grande erro de olhar para baixo quando aquela coisa começou a subir, e precisou se segurar em uma das barras de apoio. Taehyung, preocupado, tocou seu rosto, aproveitando que as outras pessoas estavam ocupadas demais apreciando a vista do lado de fora.

— 'Tá tudo bem?

— Sim, é só… — Jimin assentiu, fechando os olhos. — Não sai de perto, por favor.

Se afastar nunca foi uma opção para Taehyung, então continuar ali, de braços dados com Jimin, não foi sacrifício algum, muito pelo contrário.

Apesar de rápido, o trajeto até a parte mais alta era suficiente para se ter um gostinho da vista que os aguardava no topo. Mas durante aqueles minutos, Taehyung não olhou para as janelas de vidro por um segundo sequer.

Quando o percurso foi encerrado e as portas se abriram novamente, Jimin soltou um suspiro de alívio. Ele abriu os olhos e encontrou os de Taehyung.

Obrigado — agradeceu em sussurro, mesmo que àquela altura já soubesse que não era necessário.

Dessa vez, quem os recebeu foi uma mulher, também usando as vestimentas tradicionais. Em suas mãos havia uma certa quantidade de folhetos, que foram entregues ao grupo, um a um.

— Sejam bem vindos e tenham uma ótima experiência — desejou, não sem antes lembrar que flashs eram proibidos.

A mulher os guiou até a área principal, de onde era possível ver a entrada para o observatório da torre e que também abrigava o inventário da exposição.

O lugar, que era famoso por ter uma vista perfeita do pôr do sol, estava parcialmente coberto por uma tenda branca. Jimin e Taehyung subiram mais uma escada e, por alguns instantes, pararam para observar.

As luzes espalhadas pelo espaço faziam um contraste com a escuridão da noite, fazendo uma alusão às estrelas que eram raramente vistas por conta da poluição. Jimin avistou a lua e sorriu.

— Vamos? — Taehyung o chamou. Jimin assentiu e firmou um pouco mais o contato entre eles.

O evento abordava a história da cidade, trazendo destaque às mudanças ocorridas em sua estrutura e como isso afetou os hábitos e costumes da cultura local. O espaço estava repleto de miniaturas e maquetes de lugares históricos e importantes durante o desenvolvimento da capital, assim como fotos e quadros que ilustravam esses tópicos.

Logo de cara, um trecho que trazia fotos do céu visto por pontos distintos chamou a atenção de Jimin. O mural de imagens era formado por retratos que iam desde o nascer do sol até o céu escurecido pela noite, formando um degradê suave entre as transições.

— Qual é o seu horário favorito? — Jimin perguntou, parecendo analisar cada fotografia com um ar de especialista.

— Como assim?

— Eu gosto do pôr do sol, mas meu horário favorito é a meia noite, quando a lua se destaca. — Jimin explicou com um brilho diferente nos olhos. — E você?

—- Hum… — Taehyung alternou o olhar entre as imagens enquanto pensava na resposta, até que pareceu lembrar de algo. — O nascer do sol. Sempre achei um pouco mágico. Tem algo sobre o pensamento de que, junto com o nascimento dele, um novo dia começa.

— Seu sorriso me diz que tem algo a mais… Estou certo?

— Mirae e Minjun nasceram nesse horário. Praticamente juntos com o sol.

Jimin não saberia pôr em palavras o que sentiu ao ouvir aquilo. Foi algo tão bom que o tomou por inteiro, prenchendo seu peito com um sentimento gostoso e acolhedor.

Aquelas pequenas coisas o puxavam cada vez mais e mais na direção de Taehyung, e eles estavam apenas no início.

Os dois homens rodaram toda a tenda e observaram algumas partes mais de uma vez. Ao longo da noite, acabaram se soltando um do outro — o que não impediu de continuarem quase grudados. Taehyung poderia ouvir Jimin falar por horas e horas sobre curiosidades históricas, assim como Jimin jurou a si mesmo que nunca cansaria de falar sobre fotografias e pinturas, desde que fosse com Taehyung.

— …e foi assim que essa foto surgiu — encerrou Taehyung, depois de contar toda a história de uma de suas imagens favoritas na exposição. Jimin bateu palmas sem fazer muito barulho, impressionado.

— Você realmente gosta disso, não é? — comentou. — Dá pra ver nos seus olhos.

— É, acho que sim. Gosto dessa área desde mais novo, mas não cheguei a me tornar um profissional porque… Bom, você sabe.

— Eu imagino… Mas nunca é tarde! Só pelo jeito que você fala, já dá pra saber que realmente entende do assunto.

— A teoria é diferente da prática — argumentou.

Jimin ajeitou os óculos no rosto e pôs a mão no queixo, pensativo. Ele observou uma das entradas da tenda e disse:

— Acho que acabamos por aqui, certo?

— Tenho certeza que vimos tudo. — Taehyung o encarou. — Por quê? Quer ir embora?

O outro negou imediatamente.

— Tecnicamente, a exposição não termina aqui — lembrou. — O lugar inteiro faz parte da experiência, então pensei em irmos ao…

— Observatório! — Taehyung o interrompeu, mostrando a mesma animação de antes. — Vamos!

Antes que percebesse, Jimin já estava sendo puxado para o lado de fora da tenda.

Não que isso fosse ruim.

Tae apressou o passo, obrigando Jimin a tentar acompanhá-lo no mesmo ritmo e ocasionando uma corrida com ar um pouco infantil. Se lembraram de quando visitaram aquele lugar ainda crianças, tempo em que sentiam a liberdade de correr livremente por aí.

— Espera — pediu Jimin ao passarem por uma das passagens que ligava a área principal ao prédio do observatório.

Atendendo o pedido, Taehyung diminuiu o ritmo e virou-se na direção de Jimin, só então percebendo onde estavam.

Rodeados pelos inúmeros cadeados, um dos maiores símbolos daquele lugar, Jimin e Taehyung se olharam profundamente mais uma vez naquela noite. Era difícil não sentir tantas coisas quando o próprio ambiente estimulava esse sentir.

— Algum deles é seu? — perguntou Jimin, olhando para os cadeados.

— Não — respondeu Taehyung. — Tem algum seu por aqui?

— Também não. Mas gosto da simbologia.

Uma pausa. Jimin olhou para Taehyung.

— Meus pais me trouxeram aqui quando eu era criança. Eu lembro de quando meu pai pendurou uma fita com os nomes deles bem aqui. — Apontou para uma parte específica da grade. — Naquela época, eu achava que era um dos maiores símbolos de amor. Colocar os nomes na ponte.

— E agora? Não acha mais?

Ele negou.

— O amor ganhou outros significados pra mim. — Tocou o peito por cima da blusa. — Outros símbolos.

Taehyung checou os arredores.

Ninguém por perto. Ele deu dois passos à frente.

— E quais são os símbolos do amor para Park Jimin?

O que é o amor de Park Jimin?

— Taehyung.

— Sim?

— Você tem certeza disso? — O tom de voz era diferente. Havia receio.

— Quer que eu seja sincero? — Jimin assentiu. Taehyung sorriu. — Não.

Quê? — O professor deu um passo para trás, confuso.

Você tem certeza?

Jimin não estava pronto para aquela pergunta.

Mas passado o choque inicial e mais alguns segundos, ele balançou a cabeça para os lados.

Somos dois, então — respondeu, soltando um riso fraco, sem vida. Falso.

— Somos.

Um grupo de pessoas riu ao fundo. Bem alto. Camuflando o som dos passos de Taehyung.

— Mesmo assim, estamos aqui.

Levando um susto pela aproximação repentina, Jimin precisou apoiar as mãos na grade atrás de si ao perceber a presença de Taehyung tão, tão, perto. Perto demais.

Dessa vez, o som dos corações batendo camuflou qualquer som externo.

— Quer que eu te mostre meus símbolos?

Taehyung reparou que o sorriso de Jimin conseguia brilhar mais que as luzes em volta deles.

— E eu te mostro os meus.

O bruxo olhou ao redor, não encontrando ninguém. Estavam sozinhos.

— Então… — A mão de Jimin finalmente tocou o corpo alheio, subindo delicadamente até encontrar a nuca e, ali, permanecer.

Seus rostos estavam tão próximos que já não era necessário falar mais alto que um sussurro para conseguirem se ouvir. Da mesma forma que não havia como distinguir suas respirações, que se misturavam cada vez mais.

Jimin passeou os olhos pelo rosto de Taehyung, indo da boca até os olhos e prendendo-se neles como se estivesse hipnotizado.

Talvez estivesse.

— Então?

Me mostre.

Quem seria Taehyung para não obedecer?

E foi o que ele fez: obedeceu.

Novamente, debaixo da luz da lua, Jimin e Taehyung se beijaram.

Uma das mãos de Taehyung foi direto para a cintura de Jimin enquanto a outra ia de encontro ao seu rosto, acariciando com tanto apreço que fez com que o outro prendesse um suspiro.

Era tão bom, tão diferente, tão novo.

Como da primeira vez, as sensações se misturavam e, juntas, pareciam querer fazê-los explodir em cores vibrantes. Ao mesmo tempo, os toques passavam o oposto: leveza.

Aquele contraste parecia ativar algo dentro deles. Bem no fundo. Aumentando a frequência cardíaca e desregulando todo o resto.

Se a mistura de preto com branco resulta em cinza, qual seria o resultado de Park Jimin com Kim Taehyung?

— Ei — depois de um tempo, Jimin chamou. A boca avermelhada brilhava. — Você ainda quer subir para o observatório?

Ainda sem pensar direito, Taehyung balançou a cabeça, negando. Suas mãos ajeitaram os óculos de Jimin, que riu.

— Quando estávamos na tenda, só conseguia pensar em como você parece muito intelectual com eles — comentou com a respiração levemente ofegante.

— O fato de eu ser professor não é intelectual o bastante?

— É diferente…

Jimin selou os lábios de Taehyung novamente, bem rápido.

— O que foi isso?

— Desculpa, você me quebra às vezes.

Taehyung não conseguiu conter a risada.

— Você vai ficar rindo da minha cara mesmo ou vamos sair daqui de uma vez?

— Aonde quer ir?

Aonde quer me levar?

Uma brisa suave bateu, fazendo os fios roxos de Jimin cobrirem seus olhos. Enquanto ele lutava para retirá-los dali, Taehyung pensava.

E pensando, pensou.

— Acho que você já sabe meu endereço.

Seokjin ria tão alto que todo o seu abdome doía.

A mesa repleta de garrafas de bebida, água e suco era uma das que pertenciam ao espaço de Jungkook, sua própria confeitaria.

— Você deveria ter me apresentado a elas antes — Seokjin comentou enquanto procurava um copo.

— Exatamente! — Uma das mulheres presentes concordou, entregando uma garrafa de soju pela metade a Seokjin.

— Vocês falam como se não tivessem chegado há pouquíssimo tempo — Jungkook revirou os olhos. — Mas fico feliz que tenham se dado bem.

Aquela noite estava sendo muito especial para Jungkook, em diversos aspectos. Foi a primeira vez que Seokjin viu o Sweet Jagi com os próprios olhos e pôde ter uma visão mais ampliada de como aquele lugar ficaria em um futuro não tão distante. Além disso, também foi a primeira vez que pôde apresentá-lo às suas duas melhores amigas — e sócias: Sana e Dua.

— Dua, você precisa me ensinar a receita dessa tal… Kunafa? Falei certo?

— Isso! E pode deixar, vou te passar todas as receitas da minha família.

Jungkook e Dua se conheceram no ensino médio, quando ela e sua família se mudaram do Egito para a Coreia do Sul. Na época, se tornaram amigos e, desde então, possuem um laço forte entre si.

Com Sana, aconteceu depois, na faculdade. Jungkook e a japonesa estudavam no mesmo curso — economia — quando se viram pela primeira vez, até que o confeiteiro decidiu seguir seu sonho. Sana e Dua se conheceram graças a ele. Juntos, formaram uma bela amizade que, com o talento de Jungkook, a criatividade de Dua e o conhecimento de Sana, deu à luz a ideia de construir a Sweet Jagi.

— Vamos te levar para conhecer nossa casa, apenas espere pelo convite — Sana avisou.

— Como foi a chegada de vocês? Jungkook comentou que acabaram de voltar do Japão.

— Ah, foi bem cansativa — Dua disse, bebericando seu copo de suco. — Fomos visitar a família da Sana e eu pude, finalmente, conhecer o país.

— Engraçado que quando eu quero viajar, ninguém quer — Jungkook reclamou em um tom de brincadeira.

— Pede pro seu namorado te levar, aposto que vocês ficariam muito fofos na Disney de Tóquio.

Seokjin pensou em dizer que eles não eram namorados, mas não abriu a boca. Sana e Dua trocaram olhares, compartilhando do mesmo pensamento.

— Imagina ficar preso em um avião com o hyung, cruzes! Ele não me deixa em paz no chão, imagina no ar!

— Até parece que até dois minutos atrás não estava todo animadinho dando doces na boca dele. — Dua riu e ajeitou seu Hijab, lenço que cobria toda a sua cabeça e pescoço. — Vocês são muito fofos.

— Ele é mesmo — Seokjin virou-se para Jungkook e apertou as bochechas vermelhas pelo álcool. — Não é, Jungkookie? Awn. Uma gracinha!

O som do tapa veio acompanhado de mais risadas. Seokjin, como vingança, deu um selar rápido em Jungkook, sabendo que isso renderia um surto por parte das outras duas.

Aquela noite de terça feira foi assim.

Bochechas vermelhas, risadas, corações batendo e laços sendo feitos e re-feitos.

O amanhã chegava, e todos estavam prontos para dizer "olá".

••••••••••

Espero que tenham gostado :)

Até a próxima!



























































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