OUTSIDER

Від Thsiol

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A jovem Lauren está prestes a ir presa, quando uma mulher mais velha e com excelentes condições lhe faz uma p... Більше

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Від Thsiol

OLHA QUEM ESTÁ AQUI, PORRA!

Voltei pra trazer o último capítulo.

Nem demorei, né? 🥴

Brincadeiras a parte, eu espero que gostem.

Nada mais, nada menos do que 32K de palavras então sentem e aproveitem.

Me sigam no twitter: @thaynasioli

E comentem com a famosa hashtag: #OutsiderCs pra eu ver o que cês tão falando e interagir.

Beijos, até as notas finais.

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• POV Psi. Allyson Hernandez •


São exatamente quatro e seis da tarde. 

Eu estou em pé na janela, respirando o ar não puro e fresco que adentra por ela. Camila está aqui. Chegou há dez minutos. Sempre pontual. Ela olha com insistência para o relógio de pulso e o caimento dos seus ombros mostra total frustração com aquilo. Eu sei o que parece. Seu coração teme que a jovem pela qual se apaixonou não venha. O medo é compreensível, em seu lugar eu também teria.

— Se você preferir podemos esperar um pouco. — eu sugiro, tentando lhe oferecer um pouco de conforto naquele momento.

Lauren, se você não aparecer nesse consultório em trinta segundos eu acabo com sua vida.

Meu lado amigo confia nisso. Meu lado amigo conhece Lauren como a palma das minhas mãos. Ela virá. Ela definitivamente virá. Ela não é louca de perder a vida por minhas mãos. São pequenas sim, e fortes também.

— Você pode ligar para ela, ou…

— Não vai ser necessário. — a porta do meu consultório se abre, antes que Camila consiga responder. — Eu acabei parando no outro andar, mas já cheguei. Me desculpem fazer vocês esperarem.

Ela se senta, tomando a distância segura que os casais tomam quando me procuram. A situação parece mais séria do que eu pensei, pois suas costas parecem rígidas de tão eretas na presença da outra.

Concordo em silêncio. É hora de vestir minha capa de "super heroína" e entender o que está passando na cabeça dessas duas mulheres. Caminho até o meu lugar padrão e me sento.

Psicóloga de casais.

Já ouviram a frase "Para enxergar a ilha é necessário sair da ilha?"

Eu fazia exatamente isso. Dois anos me especializando para resolver pendências matrimoniais de pessoas que não conseguiam se enxergar num casamento, numa parceria de vida. Eu assumia o olhar narrativo de terceira pessoa e juntava as peças para trilhar caminhos e soluções para um casal com algum problema em comum.

A vida a dois nunca foi sinônimo de facilidade e felizmente jamais será. Tenho uma opinião pessoal: Brigas acontecem, queira você ou não. Você vai se desentender muito com a pessoa que ama. Muito mesmo. O porém da situação, e justamente onde entra minha visão profissional é: o que vão fazer com isso se não dá pra evitar o inevitável?

Quando não sabem a resposta, aqui entro eu.

Psicóloga Allyson Hernández.

— É tão bom vê-las. — disse ao me sentar na poltrona a frente do divã onde elas estavam.

Camila do meu lado esquerdo e Lauren do lado direito. Havia um muro de distância entre elas, dava pra notar de longe e eu nem sequer estava falando sobre cada uma estar sentada em uma ponta. O muro era emocional. Até o final eu esperava que apenas um toque sutil acontecesse, uma aproximação, um olhar. Qualquer coisa.

— Não no meu consultório, é claro. Geralmente quando casais me procuram é porque optaram a mim do que a polícia ou um carro funerário…

Tive um devaneio e ri sozinha. Contenha-se, Allyson. Não é hora para isso.

— Bom, vamos ler o que as trouxe aqui. — peguei uma pequeno papel onde anotei algumas coisas que Camila havia me passado. — A princípio vocês não querem sessões semanais. Estão com uma falta de comunicação que gera brigas que nunca de fato são esclarecidas e tendem a aumentar para proporções mais sérias. 

As olhei. Elas pareciam tão parceiras a princípio que isso chegava a me assustar, confesso. Nem tudo é flores depois que a gente conhece os defeitos alheios. Quando as máscaras caem e nos mostramos os seres cheios de falha como somos, fica difícil manter a vida a dois.

— Vocês tem alguma pergunta antes de continuar?

Camila foi a primeira a levantar a mão, como se estivesse esperando alguma deixa para falar. Elegante como sempre, bem vestida e educada. Aquele corte de cabelo valorizou sua imagem de mulher madura. Sua fala era quase um sussurro de tão serena. Pelo menos fora de casa. Para Lauren estar emburrada significa que algo ruim aconteceu e que existe um lado da moeda que eu ainda não pude ser apresentada.

— Confio em você e no seu trabalho, Allyson, e obrigada por aceitar nos atender. Ainda assim quero garantir que sua relação com Lauren fora desse consultório não vá atrapalhar seu"julgamento como profissional.

Concordei de imediato. Água e óleo jamais se misturaram, assim como minhas duas vidas. Aqui eu era ajuda profissional e jamais um ombro amigo. Aqui não importava se eu conhecia elas lá fora. Dentro do meu consultório não havia espaço para amizade.

— Compreendo o sentimento da sua dúvida. — sorri para acalmá-la. — Fique tranquila. Aqui dentro eu sou a psicóloga, não amiga de vocês.

Camila assentiu e sorriu, mais tranquila. Olhei pra Lauren que encarava a fundo a placa com meu nome que estava na mesa de centro ao lado dos lenços de papel.

— Lauren, e você? — chamei a sua atenção com um gesto. — Deseja me perguntar alguma coisa antes de começarmos?

— Sim.

Ela cruzou os braços e cerrou os olhos. Sinal de pergunta séria. Seu corpo se moveu para frente e meu coração acelerou.

— Por que Hernandez e não Brooke?

Acho que quase em sincronia, Camila e eu olhamos para ela para compreender melhor aquela questão levantada.

— O que? — que pergunta era aquela?

Lauren tinha um foco péssimo. Como amiga, depois eu falaria para ela procurar algum possível diagnóstico para isso. Ela dificilmente focava no real assunto. Não por mal, no entanto acabava por atrapalhar um pouco.

Ela vira minha placa para mim e aponta para o meu sobrenome. Em seguida aqueles olhos verdes me questionam antes de suas palavras. Agora entendo o que ela quer dizer.

— Você colocou Hernandez na placa de identificação, Ally. Não era Brooke?

Allyson. — a corrigi lentamente. Eu não era sua amiga naquele momento. — E respondendo a uma dúvida que muitos tem, meu sobrenome é Hernandez. Brooke é meu nome composto.

— Não pode ser. — ela realmente parecia chocada, assim como todo mundo quando descobria. 

A quantidade de pessoas que se referiam a mim como "senhora Brooke" era gigantesca. Sério, maior do que possam imaginar.

— Certo, então porque não Ogletree? Afinal, você e Troy se casaram. — ergueu os ombros, bastante curiosa.

— Quem se formou em psicologia fui eu, não meu esposo. E Hernandez-Ogletree não soa tão bem quanto seu sobrenome de casada. — ela mordeu os lábios, prendendo o riso. — E a pergunta era a respeito da consulta, senhora Cabello-Jauregui.

— Oh, não. — voltou a encostar no divã. — Nenhuma. Minha esposa perguntou o que eu queria saber também, e no fim já imaginava sua posição em relação a isso.

— Certo, então vou começar questionando individualmente. — analisei as duas, e como Lauren estava na reta da conversa decidi começar por ela. — Lauren, no ponto de vista de uma mulher casada, pode me dizer o que a trouxe aqui?

— Posso. — assentiu confiante. Seus ombros subiram na respirada funda que ela deu antes de continuar. — Na realidade eu nunca imaginei que estaria numa terapia de casais, porém já que aqui me encontro, é bom que eu coloque todos os meus sentimentos para fora e assim farei. Estou sentindo falta de muita coisa que acontecia no começo do meu relacionamento com Camila. Uma delas é a compreensão e paciência que minha mulher tinha comigo. Hoje ela parece respirar fundo a cada vez que falho e me dói ter o divórcio citado duas vezes em menos de duas semanas quando essa ideia nunca sequer passou pela minha cabeça.

Não pude evitar olhar para Camila. A mulher, de pernas cruzadas, apenas abaixou o olhar e em silêncio encarou suas unhas vermelhas. Não precisava estar próxima a ela para perceber que seus olhos estavam tristes e cansados.

— Certo. Me explique melhor seu conceito sobre a compreensão citada. A Lauren que aceitou se casar com Camila se sentia mais abraçada por sua companheira?

— Parecia que a gente se entendia mais no início. — ela inclina a cabeça buscando memórias passadas. — A Camila de antes me aceitava da forma que eu era e hoje eu sinto que de pouco a pouco ela quer me moldar para alguém que sei que não sou ou consigo ser. Tenho medo de perder minha identidade tentando não falhar para não perdê-la. Quando eu não a agrado em algo surge uma personalidade que quer controlar a tudo e todos e isso sinceramente não me agrada. Não nessas horas.

Eu balanço a cabeça, focando em noventa e nove por cento do que foi dito e movendo para escanteio a fala de conotação sexual que Lauren falou.

— Entendi.

Anotei em meu caderno o primeiro ponto que elas não estavam conseguindo visualizar juntas: o cair das máscaras, como bem suspeitava.

— Camila, você concorda com o que sua esposa sente? Lembrando que, aqui é um espaço para vocês se sentirem confiantes em colocar para fora tudo o que incomoda. Sem qualquer tipo de represália.

Camila respira fundo antes de responder. Ela gira a aliança de casada nos dedos e em seguida olha para mim. Sinal claro de quem se sente incomodado e aflito com a situação. O corpo mente menos que nossos lábios, basta a gente estar disposto a lê-los.

— Não há como eu discordar ou concordar sobre algo que não sinto, Allyson. Se minha esposa está se sentindo assim, há de ter seus motivos.

— E qual é a sua visão dos fatos? Como esposa, por que sente que me procurou?

Ela respira fundo outra vez e seus ombros voltam a uma postura normal. Camila me olha nos olhos e dá início ao seu ponto de vista da história.

— É verdade que Lauren e eu não estamos conseguindo nos comunicar como acontecia no começo. Isso me agoniza um pouco, sendo bem sincera. É meu segundo casamento e eu sei que esse sinal não é bom e talvez por isso minha personalidade de querer tudo da minha maneira com medo de que eu a perca, acaba afastando ao invés de trazê-la para perto. No meu antigo relacionamento eu implorava pelo mínimo. Hoje eu não aceito mais fazer isso. Vou deixando ela confortável e seguindo como está. Se ela acha que está bom, quem sou eu para contestar alguma coisa? — ergueu o ombro. — Só aceito e continuo caminhando, mas você deve imaginar que numa hora isso se junta e tudo se explode num mar de emoção que eu não gostaria.

Evitei sorrir para continuar em minha vestimenta profissional. Era tão nítido na visão da psicologia o que estava acontecendo ali.

— Eu sou a psicóloga de vocês que irá juntar meios de como montar uma ponte para que decidam como e principalmente, se vão atravessar. Logo agora no início eu percebo que não é apenas a comunicação que está abalada como também a compreensão do que é conversado. Os que vieram antes de nós, nos ensinaram que temos duas orelhas e apenas uma boca pela razão de precisarmos ouvir mais e falar menos.

Você ouve ou compreende de fato o que seu parceiro está dizendo? Como ele está dizendo e porque está dizendo?

Hoje muitos pensam que apenas a ação de ouvir é mais que o suficiente para construir uma relação. Ouvir é essencial, no entanto processar as informações que lhe foram ditas no intuito de acolher o parceiro, e não julgá-lo é primordial para a caminhada a dois.

Por isso as brigas no casamento se torna comuns. As pessoas apenas ouvem o parceiro. A informação entra por um ouvido e no processo de caminhada para sair do outro, não há acolhimento e sim um pensamento rápido para rebater aquela fala e assim, sair por cima. "O que o meu cônjuge está tentando me dizer com isso?". Isto é acolher. Caminhar devagar e compreender o que lhe foi dito.

As duas assentiram.

— Camila, na sua opinião há alguma razão da Lauren afirmar que de alguma forma você possa estar querendo moldá-la? Essa questão me intriga bastante.

Camila ergueu o ombro.

— Algumas de nossas brigas são porque ela tem tido um comportamento inadequado e quase que… não, quase não. Completamente irresponsável com nosso casamento. É algo que se repete e como eu citei, vou ficando calada por tentar não invadir o espaço dela. O problema surge quando eu explodo e exponho o que está me machucando. Minhas palavras acabam por sair mais duras do que eu tinha intenção. A verdade é que tudo o que sinto vindo dela, é que não sou mais relevante como as outras coisas.

— Compreendo. — olhei para a outra esposa. — Você concorda que ultimamente esteja negligenciando o seu casamento, Lauren?

— Bom… — ela ergueu os ombros, acanhada em dar a resposta. — Agora que ela falou… Sim? Antes eu achava que se eu estivesse cansada ou indisposta para lhe dar atenção ela entenderia. Hoje eu vejo que estava enganada sobre isso. Então, concordo que muitas vezes deixei a desejar como esposa.

— Muitas vezes? — a sua esposa se vira para ela com um olhar magoado. — Para estar com seus colegas de curso você nunca se sente "cansada ou indisposta" e comigo quer usar essa desculpa. — Camila replicou. — Posso concluir que o problema sou eu, então?

— Desculpa? Você fala como se eu estivesse fazendo de propósito. Não é algo que eu esteja fazendo para te atingir, Camila. Depois que eu virei sua esposa tenho que viver em sua função?

Não eram elas falando ali. Era a mágoa. Quando a mágoa fala por nós, nos vemos em situações exatamente como essas. Não há diálogo, apenas ataque.

Era melhor eu acabar com aquela discussão antes que ela virasse uma bola de neve, antes que elas esquecessem que o foco ali era entender o ponto de vista uma da outra.

— Para uma discussão entre um casal funcionar um deles tem que estar certo, correto? — eu entro no meio com uma pergunta coringa, e funciona. As duas param de se olhar e me encaram.

— É claro que sim. — Lauren responde inclinando o corpo pra frente.

— Exatamente. — Camila me diz, cruzando as pernas. — Um ponto certo e um ponto errado. Como um quebra cabeça que forma uma imagem.

— Na teoria, sim. Na prática, errado. Muito errado, eu diria.

As duas arqueiam a sobrancelha quando eu acabo de falar. Não como dúvida, não como uma falta de compreensão e sim como puro desafio onde o alvo acaba virando: eu. Todos os casais faziam o mesmo. O ego do ser humano é alto, e geralmente a queda que ele proporciona também.

Quem era eu para dizer que elas estavam erradas quando o egocentrismo insistia em dizer que o ponto de vista que havia se instalado em suas mentes era o único, o exclusivo, e limitado a ser validado.

— Estão enganadas. — ergo meus ombros. — O que faz a gente pensar que o outro está errado e nós estamos certos é o nosso ego que na maioria das vezes é responsável por pequenas discussões que acabam em crises matrimoniais. Muitas vezes até em divórcio. — eu explico. — Não existe certo ou errado num casamento. É uma comunhão entre duas pessoas que se tornaram uma só, e sendo uma só não há possibilidade de estar certo ou errado. A questão é o problema. Apenas ele. O fato da Camila estar certa não significa que Lauren esteja errada. O fato de Lauren estar certa não significa que Camila esteja errada. Isso não é um jogo de disputa para saber quem vai dormir com a razão. É o casamento de vocês, a comunhão de duas vidas. Deveriam pensar nisso antes de tentarem vestir uma roupa que muita das vezes, não cabe a ninguém.

Elas pareciam não ter entendido nada. Eu teria que lutar com o narcisismo delas naquele instante. 

— Em outras palavras, ao invés de tentarem atacar a outra "eu estou certa", "você fez isso", "você não fez aquilo", precisamos parar e analisar o que há no meio: o problema. Não é uma contra a outra, são as duas contra o problema. É para ele que vocês não devem dar poder, razão ou algo assim.

— Não compreendo. — Camila cruzou as pernas. — O problema é apenas um problema. O debate entre o certo ou errado é justamente solucionar algo.

— E eu entendi menos ainda agora. — e foi a vez de Lauren cruzar os braços. — Não existe o lado da moeda de cada uma? Isso não faz o menor sentido, afinal, um lado falso não faz uma moeda ser legítima e verdadeira.

— Esqueça as moedas, foque num barco. As duas estão num barco. — eu meljoro, já em desespero interno. Controle-se Allyson. — O barco é a relação de vocês e ele está navegando em alto mar. De repente, as duas percebem que no lado em que a outra está, há um buraco. A água começa a invadir. Para que o barco não afunde, vocês precisam trabalhar juntas e evitar que a água continue entrando, tampando os vazamentos. Depois, tirá-la do barco, e não ficar apontando o dedo para a outra com afirmações de "se você tivesse visto primeiro, a água não estaria nos tornozelos". Isso pode até ter um fundo de verdade, só que não anula o fatos: Primeiro é que a água já está ali, independente do culpado. E segundo, que se vocês não trabalharem juntas, irão afundar. Esses buracos são inevitáveis num casamento. Sempre vão aparecer. O primeiro deles é quando a fase apaixonada acaba.

— Sabe que você só piorou a situação na minha cabeça, não é? — Lauren cruzou as pernas e inclinou o corpo pra frente. — Allyson, eu sou universitária. Deixo todos os meus neurônios naquele prédio. Os que estão aqui agora são enfeites. Os exemplos da moeda estavam ao menos fazendo a engrenagem rodar.

— Preciso concordar que também não entendi muito bem. E como assim "paixão que acaba". Nós duas não estamos mais apaixonadas? Não é como se isso fizesse algum sentido pra mim. Se eu estou aqui, buscando mudança é porque tenho fortes sentimentos pela minha esposa. A paixão que sinto por ela não acabou.

— Me escutem. — respirei fundo e pedi com calma. Eu precisava ser mais clara também. Clara como água. — Não quero que se assustem com o que tenho para falar antes de eu explicar tudo, principalmente você, Camila. Sei que não é isso que quer escutar, mas sim, a fase da paixão de vocês acabou e precisarão se amar muito para continuar a partir de agora.

As duas me olharam como se eu estivesse louca, o que era bem comum de acontecer.

— Paixão é bom, mas não se prendam nela. Ela dura entre seis a dois anos, no máximo. É a parte em que até os defeitos do outro são maravilhosos, em que as diferenças se encaixam e que tudo é quente, profundo e bonito da forma que é. A sensação do frio na barriga, do encaixe perfeito. Do conto de fadas. O triste é: essa fase acaba. É com ela que começam a surgir pequenos problemas no caminho, como os que levam a primeira sessão de terapia em casal, por exemplo.

— Então na visão profissional Camila e eu… — parou para digerir e pensar melhor. — Não nos amamos… ainda? Isso ainda vai acontecer.

Como amiga, meu eu interno quis revirar os olhos para as duas antas. Como profissional, minha eu externa apenas respirou fundo decidida a colocar um pouco de juízo naquelas cabecinhas.

— Eu jamais diria isso. Só de vocês estarem aqui isso mostra que se amam muito porque querem tentar consertar. Isso é a paixão se transformando em amor, mas haverá muitos problemas para permacerem nessa palavra tão bonita. E é exatamente a forma como vocês vão lidar com isso que vai ditar essa permanecia. O amor não é um mero sentimento como muitos pensam. De maneira profissional e também particular, eu considero o amor um estágio de permanência e escolha, acima do sentimento. Por isso, vemos muitas pessoas que se amam se separando.

— A paixão e o amor andam juntos, correto? Ou pelo menos é assim que deveria ser.

— Digamos que sim, Camila. Ótima observação, inclusive. Acho que podemos aprofundar melhor essa ideia. Vejamos…— pensei num exemplo rápido que geralmente sempre funcionava. — Fechem os olhos por favor, e imagine tudo o que vou falar.

Elas fizeram e eu me levantei. Era hora de soltar minha imaginação e fazer aquelas duas enxergarem o que para mim era óbvio.

— A paixão são ondas. — Enquanto caminhava, percebi que elas franziram a sobrancelha ao mesmo tempo, possivelmente não entendendo onde eu queria chegar. — Ondas do mar mesmo. Aquela onda que te atinge, te traz aquela sensação refrescante que gela nossa barriga. O som da onda nos transmite paz e um dia na praia é gracioso demais. O amor… — me encostei na mesa do computador e sorri pra mim mesma. — O amor é um oceano. Vocês devem estar pensando "mas é a mesma coisa", só que eu posso provar que não. Há amor na paixão, mas dificilmente a paixão alcança o amor. Quando eu digo que o oceano é o amor, eu quero dizer que a profundeza e complexidade dele mostram quem nasceu para o mar aberto. Não há apoio para os pés, é um dos mistérios mais belos da natureza e quanto mais fundo, mais descobertas e ao mesmo tempo, mais medo, mais problemas também. Não dá medo imaginar a gente afundando, afundando e afundando? Conhecendo coisas que nossos olhos nunca viram, sentindo nossos pés não alcançarem uma base de areia e ainda sim… — era a melhor parte dessa metáfora. — Ainda sim escolher ficar porque você ama tudo o que vê ainda que a superfície esteja longe e seus pés não toquem o chão?

O silêncio se instalou naquela consulta. O silêncio confortável, gentil, amoroso. O silêncio de duas almas que estavam acalmando seus demônios, calando seus medos e mandando para longe a insegurança.

As duas abriram os olhos ao mesmo tempo, se encararam timidamente e dirigiram seus olhares para mim. Eu voltei a me sentar em frente a elas.

— A paixão é você mergulhar nas ondas e nadar, nadar, nadar. Você confia que sempre que parar para respirar vai ter onde pôr os pés. É seguro voltar para a superfície. É confortável, porém não há tanta vida. A gente nada e quando percebe, nossa visão não alcança mais o início daquela praia. Tudo é um mar calmo em volta. Muitas pessoas tratam essa parte do relacionamento como tediosa, parece que o fogo ardente acabou. E quando nossos pés percebem que não há mais chão, nosso corpo começa a descobrir aquele oceano. É lindo, mas para os olhos dos leigos é totalmente assustador. Ou você nada de volta a praia, ou decide viver tudo aquilo que seus olhos estão conhecendo. Isso é amor. O amor faz a gente se assustar com o que vê, e não porque o que vemos é ruim. Às vezes é só diferente, desconhecido. Amor é escolher ficar. Dar uma chance ao que seu coração não conhece. Uma vez que amamos, estaremos apaixonados a vida toda, e é aí que o amor e paixão andam juntos.

Lauren deu um movimento no divã. Tímido e arriscado, eu diria. Mais próximo da sua esposa. De cabeça baixa, parecia usar o olhar periférico para encarar Camila. Isso era bom, ainda que houvesse medo da aproximação. Um sorriso sutil apareceu nos lábios de Camila naquele momento. Continue, Allyson. Continue.

— Então, voltando ao aqui e o agora. Camila… — voltei a me sentar e olhei em seus olhos. — Não adianta que você guarde todas as suas frustrações e incômodos esperando que Lauren perceba. Quando a gente não verbaliza o que sente, não damos ao outro a oportunidade de melhorar. E expressar o que incomoda jamais vai balançar sentimento verdadeiro.

Ela assente, interpretando o que quero dizer. Seu olhar flutua pelo ambiente. As próximas palavras serão suas inseguranças falando por ela.

— Eu não quero assumir o papel de mãe de uma mulher que sabe exatamente o que faz. Por isso, achei melhor muitas vezes deixar pra lá.

— A questão não é assumir o papel de mãe e sim compreender que nem tudo o que pode estar claro para você, pode estar para ela. Você está no segundo casamento e Lauren é a primeira vez que se encontra numa relação sólida e madura. Sei que você traz cansaços da sua antiga relação e não estou julgando, é completamente normal e comum isso acontecer, só que a Lauren é a sua esposa agora. Eu imagino que quando ela errar, ela queira ouvir isso para tentar resolver.

Lauren encarava as próprias mãos, perdidas em suas análises. Eu esperava que o que eu estava transmitindo em palavras ajudasse as duas.

— Certo. — Camila disse, de forma direta. — Eu posso começar a trabalhar nisso se for para melhorar nossa relação.

— Você concorda com isso, Lauren?

— Sim, claro.

— Devo te dizer que, concordar também é entender que não vai deixar o casamento apenas na mão de sua esposa. Ter que comunicar sempre é uma tarefa cansativa, e você precisa trabalhar melhor na sua percepção das coisas. Perguntar a si mesma "O que eu poderia ter feito de diferente?". E para funcionar é preciso que as duas trabalhem com esses dois pontos. Comunicação e auto-percepção.

As duas assentiram.

— O nosso parceiro não é adivinha, também temos o dever de analisar nós mesmos individualmente. De pensar antes de agir. De se colocar no lugar do outro e analisar por alguns segundos "como eu me sentiria em sua pele?". Eu imagino que com a diferença de idade seja inevitável alguns choques acontecerem, principalmente por coisas que uma já viveu e a outra ainda não. — olhei para Lauren. — O fato de você ter se casado com uma mulher mais velha, não anula as suas responsabilidades no casamento em que você aceitou estar. Você é tão parte disso quanto ela e deve se esforçar igual, compreender que a fase que você está vivendo hoje, ela já passou quando você sequer sabia andar direito. — agora era minha vez de olhar para Camila. — Por outro lado, casar com uma mulher mais nova traz desafios intensos. Lauren está conhecendo a vida adulta agora e muita coisa é novidade, e eu sei, é cansativo querer um dia tranquilo quando sua esposa parece estar ligada a uma tomada. — tomei um pouco de ar e voltei a falar. — Vocês devem achar o equilíbrio entre duas vivências, pois foi ele que deu o primeiro passo para que ambas se apaixonassem. A permanência do amor é daqui em diante. Compreender que o outro falhou, falha e falhará. Aceitar que nem tudo o que acontece é para nos ferir, nos derrubar. Amar tem como receita muito diálogo e esse diálogo é se abrir para um, assim como enxergar o que o coração do outro fala.

O pequeno relógio da mesinha tocou, mostrando que a consulta havia acabado. O tempo havia passado mais rápido do que percebemos e ainda mais rápido do que eu gostaria. Havia muita coisa a ser ensinado, mas eu não poderia oferecer a enciclopédia justamente por não estar no relacionamento. A história estava sendo escrita por duas almas cheias de defeitos que se amavam, apesar de tudo. Não seria difícil.

Elas iam conseguir.

Eu sei que iriam.

Ou eu não me chamo Allyson Brooke Hernández.

• POV Camila Cabello •

Estávamos  aguardando o elevador. Lado a lado em total silêncio. Minha visão periférica percebeu que ela estava de cabeça baixa e brincando com seus próprios dedos como uma criança tentando se encaixar num ambiente. Número quatro, cinco, seis, e felizmente sete. O barulho padrão ecoou quando o elevador abriu. Ainda em silêncio ela pediu que eu entrasse na frente. Assim eu fiz. Estávamos sozinha naquela caixa metálica agora.

Só o amor da minha vida, e eu.

Era como sentir uma criança interna implorando para brincar com a criança interna dela. Presas dentro de duas adultas moldadas por orgulho, ensinadas a nunca ceder. Quantos relacionamentos acabam dessa forma? A consulta que tivemos me fez pensar nisso. Não apenas no sentido amoroso, perdemos pessoas todos os dias por conta do orgulho de não nos entregarmos. Nossas experiências muitas vezes acabam virando bloqueios que nos impedem de dar o braço a torcer.

Eu não queria que isso acontecesse comigo e Lauren. Ela é importante. Não poderia ter medo. Tampouco deveria.

Dou um passo e ela não recua. Parece confiante em minha aproximação, no entanto ainda tem medo de oferecer o seu. Cheia de saudades, eu não resisto. Dou um passo maior, decisivo e longo. Aqueles olhos verdes me encaram assustada. Ela não fala nada e nem precisa. Sua mão se estende para mim. Encaixar nossos dedos após tantos dias longe é quase como matar a sede. Eu sorrio olhando para a cena e me derreto. Não quero mais ficar em pé. Meu único desejo naquele instante é me aprofundar no seu colo. Então eu a abraço e deito a cabeça em seu ombro. Percebo pelo espelho que ela usa a mão para apertar um botão e para o elevador. Respiro fundo e agradeço internamente por ela ter feito aquilo. Sinto o aroma da sua pele e dos seus cabelos soltos que vem de encontro com meu nariz. Nossos peitos se tocam e com isso posso sentir nosso coração na mesma sintonia.

— Me desculpe pelo atraso, Camz. — ela não fala, sussurra.

Há tanto arrependimento em sua voz.

— Por alguns minutos eu pensei que você não ia vir. — confesso, no mesmo volume. — Fiquei tão aliviada ao te ver entrar.

Ela dá uma risada curta e afaga meus cabelos com a ponta dos dedos. Gosto disso. Desse carinho, afeto. Gosto de tudo que vem dela.

— Eu jamais desistiria da mulher da minha vida.

Eu sorrio e afundo mais meu rosto na curva do seu pescoço. Suas mãos enlaçaram minha cintura e meu corpo ficou impossibilitado de se mexer. Seu abraço sempre foi o meu remédio favorito. Ficamos ali, por mais uns segundos que aproveito como horas. Eu acaricio seus ombros com a ponta dos dedos enquanto roço meu nariz por sua pele. Eu amo quando o perfume dela se funde ao seu cheiro natural. É minha essência favorita. Levanto a cabeça e olho nos seus olhos. Ela sorri e eu encosto meu nariz ao seu, fazendo o carinho que ela ama.

— Ainda sou sua menina?

Sua pergunta me pega de surpresa. Eu a olho e acaricio a maçã macia do seu rosto. Amo o tom pálido da sua carne. Essa branquitude é o que tem iluminado meus dias.

— Sempre será. — respondo, beijando com calma o canto dos seus lábios.

— Até quando eu tiver noventa e seis?

Ela brinca, descontraindo o ambiente. Que saudades eu estava de suas piadas bobas fora de hora.

— Eu não vou estar aqui, porém você vai continuar sendo.

— Para. — ela perde o sorriso no instante em que eu falo. Para ela o momento de piada chegou ao fim.  — Não fala isso, eu não gosto.

— Por que?

Beijo o canto dos seus lábios outra vez. Meu desejo sendo bem sincera, é beijá-la como se minha vida fosse depender disso.

— Porque você vai viver para sempre.

Ela me segura em seus braços com tanto apego que, por mais que eu esteja ciente que ela saiba que isso é impossível, eu acabo concordando para vê-la sorrir. Num mundo real, Lauren alcançaria essa idade sozinha pois eu não estaria no plano material para contemplá-la. Parte de mim quer entrar nessa ideia e ser sim imortal, para mesmo aos seus noventa e seis ela saber com minhas próprias palavras que sempre será minha menina.

Minha eterna menina.

Não num sentido ruim e errado. Não pela diferença de idade. Se ela fosse mais velha, ou até mais velha que eu, ainda seria a minha menina. Brincalhona, tem a visão leve da vida e enxerga bondade nas pessoas com a mesma pureza de uma criança. Uma doce menina. Desejo que esse lado dela nunca morra, nunca seja destruído pela dureza da vida. Eu espero, como quem espera a chuva após um dia quente, que Lauren seja uma eterna menina.

— Te amo, Camz. — ela beija minha testa. Eu me sinto boba como uma adolescente quando ela me chama assim. — Te amo muito.

— Eu te amo mais. — devolvo o beijo. — E te amei primeiro.

— Não venha com essa. — ela ri e olha pra cima, pensando em algo. Sei onde isso vai dar, já me preparando para a batalha. — Te amo a quantidade de vezes que a Dinah já atrapalhou uma transa nossa.

— Não vou debater isso. — eu gargalho. — Você sempre vence nessa brincadeira. Minha cabeça é limitada comparado ao tamanho da sua criatividade. Mas eu posso afirmar que amo mais do que a quantidade de vezes que mando a Sofia e a Dinah calarem a boca.

— Chegamos a um empate então. — ela por fim aceita. — É bom saber que nós nos amamos pra caralho.

Quando saímos do elevador, rumo ao estacionamento, eu desbloqueio o meu carro carro e olho para ela.

— Quer voltar comigo ou prefere me encontrar em casa?

— Prefiro voltar com você.

— Não quero apressar as coisas. Se você se sentir à vontade em ir com seu carro, tudo bem pra mim.

— Eu vim de Uber hoje. — sorri amarelo. — Perdi as chaves do carro dentro de casa e não queria me atrasar tanto procurando.

Arqueio minha sobrancelha e rio daquela situação.

— Entra, Lauren.

A ida para casa é tranquila. Houve pouco diálogo, no entanto nem de longe foi um silêncio desconfortável. O muro que parecia existir entre nós estava começando a ser demolido e isso deixava meu coração aliviado. Era gostoso saber que ela também estava se esforçando para derrubar aquele bloco gelado.

Quando chegamos, tomamos banho em banheiros separados e voltei a encontrá-la na cozinha. Ela estava com uma banana em mãos, uma calda de chocolate maltado na outra, tirando o momento saudável de comer uma fruta, e ah e tinha alguma panela no fogo. Cheiro doce no fogão.

— O que está preparando? — me aproximei, ficando frente a frente ao fogão.

— O jantar. — estendeu a banana na minha frente e eu dei uma pequena mordida. — Na verdade é uma tentativa de arroz con leche.

Quando ela falou "jantar" e "arroz con leche" na mesma frase eu quis cuspir a banana na qual eu mastigava.

— Você não está pensando em jantar isso, está?

— Estou com muita vontade. — apontou pra própria boca. — Não vê que estou até salivando?

— Lauren, não. — neguei de imediato ou ela não pararia. — Não há nenhuma situação no mundo que vá fazer você jantar isso. Fora de cogitação.

— Bom, tem arroz. Carboidrato. Leite… hum… proteína? Ou seja, é um jantar, mas, doce. — para ela aquilo fazia o maior sentido do mundo. — Oh, e leite tem cálcio também. Não me deixe esquecer o açúcar também. Fonte de energia.

Não. Ela não estava falando aquilo. Eu me recusava a acreditar.

— Amor, você é universitária. Uma má alimentação reflete diretamente na sua disposição e concentração nos estudos. Eu não vou permitir que seu desempenho acadêmico seja abalado por você estar com vontade de comer sobremesa na hora do jantar. — Me afastei pegando uma panela diferente. — Tudo bem se quer comer isso, mas irá jantar um pouco antes. — mexo o arroz con leche com a colher de silicone. — Estou com vontade de cozinhar e… porque há um risco na lateral interna da panela?

— Risco? Que risco? — sua voz afina como um falsete. — Oh, tem um risco aí, que coisa. Eu devo ter arranhado enquanto lavava.

Reto e fundo daquele jeito? Nunca.

— Essas panelas custam mais que seu seguro de vida e plano de saúde, acho bom começar a falar ou vai fazer isso do plano odontológico em breve.

— Talvez eu tenha feito. — sorriu, prendendo o cabelo.

— É nítido que alguém fez isso propositalmente. — respirei fundo. — Quero entender suas razões.

— Eu sempre perco muito tempo medindo um copo de 500ml que a receita pede.

— Continua.

Eu queria estar errada sobre o que viria a seguir.

— Então eu medi uma única vez e risquei a parte da panela onde batia as 500ml. — meus olhos tremeram.

Meus olhos literalmente tremeram ao ouvir aquilo. A minha esposa, por pura preguiça de abrir o armário e pegar o copo medidor, riscou a panela de indução que a unidade custava nada mais, nada menos que duzentos dólares.

Internamente eu estava calculando se algum advogado no mundo aceitaria me defender porque claramente eu tinha razões o suficiente para matá-la com minhas próprias mãos naquele momento.

— Melhor você sair do meu campo de visão.

— Quer ajuda? — ela alisou minhas costas, tentando me acalmar. — Sou mais útil viva do que morta.

Era fofo ela perguntar, no entanto Lauren e cozinha não era algo que combinava muito. Não por ela não saber cozinhar, afinal o básico ela se vira muito bem. O problema é que ela sujava três colheres, duas panelas e um copo apenas para fazer um arroz doce. E eu não estava exagerando.

— Pode sim. — olhei para a bagunça em cima do balcão. Hora de descontar minha raiva. — Essa louça aí é toda sua.

— Não sei se era essa ajuda que eu queria dar.

— Você pode me passar algumas coisas enquanto eu cozinho também. — falei enquanto colocava o avental. — ¿Quieres comer "ropa vieja"?

Testei seu espanhol. Ela estava se esforçando para falar minha outra língua então sempre que eu lembrava, lhe perguntava algo. Ela cerrou aqueles olhinhos verdes enquanto olhava pra mim repetindo mentalmente a pergunta e buscando compreendê-la.

¿Que es eso? "Ropa vieja"?

Sorri, orgulhosa. Me aproximei e lhe dei um selinho.

— É uma comida simples da culinária cubana. — expliquei quando ela começou a lavar a bagunça que tinha feito. — Roupa velha é o nome pois a carne fica tão desfiadinha que parece realmente um tecido desfiado e velho, mas é delicioso. Eu adorava quando minha mãe fazia. — fui até a geladeira começando a separar os ingredientes. — Ela com um molho de tomate e manjericão fica maravilhosa.

— Agora estou curiosa. — sorriu. — Acho que vou gostar.

A carne vermelha foi cortada em pequenos cubos que facilitariam o processo de desfiá-la. Temperei com o que tinha disponível e iniciei os preparativos. Em outra panela, feijão preto fresco e arroz também fresco para acompanhar.

— Toca "Celia", por favor.

Lauren pediu a assistente virtual e a cantora que ela tanto ouvia começou a tocar.

— Essa não é a menina que quebrou o nariz do paparazzo há uns meses? — pergunto enquanto refogo o alho e cebola.

— A mesma. — riu enquanto secava os talheres. — Gosto dela por conta disso. Não leva desaforo pra casa e fala tudo na lata.

— Bem que dizem: os ídolos são espelhos dos seus fãs.

 Dei continuidade ao arroz con leche que a minha esposa queria de sobremesa. 

— Ei! — exclamou. — A Crystal e eu só nos defendemos de pessoas imbecis.

— Usando o punho? — arqueei a sobrancelha, me virando para ela.

— Queria que fosse com abraços? O otário mereceu por ser xenófobo. Se eu fosse famosa, faria a mesma coisa.

Olhei para ela, que ria se divertindo daquela situação. De repente, Lauren parou e ficou séria. Não emburrada. Apenas séria, me encarando com um misto de curiosidade naqueles olhos.

— Como eu nunca percebi que você e a Crystal são a cara uma da outra?

— O que? — parei de refogar a carne para rir. — Lauren, não. Fumou maconha outra vez?

— Amor, é sério. — ela abriu o Instagram da artista às pressas e me entregou o aparelho. — O desenho do rosto é o mesmo, olhe bem. A única diferença é que agora você tem um cabelo curto.

Cerrei os olhos e afastei o celular para enxergar melhor. Aquele brilho no mínimo não me permitia ver muita coisa. Aumentei e neguei com a cabeça. Minha jovem esposa estava delirando. Tínhamos apenas alguns traços parecidos e nada mais.

— Não acha que são parecidas?

— Há alguns pontos que fazem eu me lembrar da minha juventude sim. Nada mais que isso.

— Pois eu acho vocês idênticas.

Depois do grande debate sobre eu parecer ou não a artista latina favorita da minha esposa, chamamos Henry para o jantar e sentamos os três juntos à mesa. Não era preciso falar que ela havia adorado a receita. Comida simples, caseira, bem temperada, feita com muito carinho, e o melhor, com muito amor para as duas pessoas mais importantes da minha vida.

Eu tinha terminado de concluir a receita do seu arroz con leche também. Um pouco de leite de coco, cravos e canela em pau para aromatizar. No fim da noite ela matou sua vontade pelo doce sem que pulasse o jantar.

Estávamos no sofá, jogadas. Ela estava no meio das minhas pernas e se deliciava com o segundo pote de sobremesa.

— Pensei em sairmos amanhã. — eu começo a falar enquanto acaricio seus braços. — Pelo período do dia eu escolho um lugar e o período da noite você escolhe.

— Amanhã? — ela vira o corpo pra mim. Tem a colher na boca e enquanto fala. — Amanhã eu tinha tirado o dia para estudar.

— Tudo bem, podemos marcar outro di-

— Eu disse "tinha". — ela me corta e eu sorrio ao ouvir isso. — Onde minha esposa quer ir?

— Ah, não sei. Sinto falta dos nossos passeios culturais. — minha cabeça se ilumina e volto a sorrir como criança. — Está tendo uma exposição de artes no centro, então, se você quiser ir…

— Não entendo nada de artes como você bem sabe, mas sou apaixonada na mulher que ama artes. — ela sorri e come mais. — A propósito, isso aqui está divino. Se eu tivesse que definir arte, definiria com isso aqui.

Ela aponta uma colher cheia na minha frente e eu abro a boca, recebendo uma colherada. Devo confessar que ficou realmente delicioso.

— Então podemos ir? — respondo depois de mastigar. Minha língua tem gosto de canela agora. — Podemos sair para almoçar também, já que essa boca adora mastigar.

— O Henry vai adorar. — limpo o cantinho da sua boca com a ponta dos dedos. — Preciso ganhar esse moleque na disputa de quem bebe coca mais rápido.

Ela parece animada ao dizer isso, porém ouvir o nome do meu filho naquele momento me faz torcer os lábios.

Eu sou muito grata pelo fato de Lauren amar meu filho como se fosse o dela, ainda que não queira títulos como madrasta nem nada semelhante. Ela é uma grande amiga, figura de consciência na medida do possível e sempre tenta incluí-lo em tudo, no entanto… aquela não era hora. Não me levem a mal, eu adorava estar com meu garoto, só que precisava de um tempo para minha esposa e eu.

Tempo que há muito tempo, a gente não tem.

— Você quer que seja apenas nós duas, não é?

Franzi meu nariz e soltei uma risada interna.

— Você realmente me conhece. — sorrio aliviada e seguro uma das pontas do seu cabelo, todo entre os dedos. — E é sábado de manhã. Acha mesmo que ele vai querer acordar para sair com a gente no seu dia de folga?

— Se eu perguntar capaz dele tacar um diabo na minha cara. — rimos juntas e ela deixa a tigela de cerâmica na mesa de centro. Ainda entre minhas pernas, se vira para mim. — Então, passeio entre esposas?

— Entre esposas. O dia será meu e seu. — beijei a ponta do seu nariz. — Obrigada por tirar um tempo para nós duas. Sei que você é uma aluna muito aplicada, Lauren. Não quero atrapalhar seus estudos. Mas não vou mentir, estou feliz que você tenha colocado ele em segundo plano para dar atenção ao nosso casamento.

— Um dia apenas não vai causar nenhum dano. — ela sorri e seus olhos brilham quando me olham. — Desculpa ter colocado você como última prioridade quando deveria ser a primeira. Sem você eu sequer estaria estudando e tendo essa oportunidade, Camz.

— Você está lá por mérito seu. — acariciei suas sobrancelhas com a ponta dos dedos. Eu amava cada detalhe daqueles fios negros. Poderia tocá-los para sempre. — E eu tenho muito orgulho de ser casada com uma menina tão dedicada, estudiosa e focada. Muito orgulho.

Eu cresci ouvindo isso dos meus pais. Sabia a importância que tinha para a construção de um ser humano confiante. Lauren teve quer ser sua própria rede de apoio desde que ficou sem os pais e pelo o que me conta, a situação na casa da sua tia não era tão familiar por ela se sentir deslocada e fora da família. Desde o primeiro dia eu a quis assim, confortável e sentindo que essa casa também era dela pois de fato, é.

— Obrigada. — ela agradece, deitando sua cabeça em meu ombro. Sua mão livre acaricia meu pescoço. — Obrigada por fazer que eu não me sinta mais sozinha no mundo. Você é meu lar, Camila.

— Não me agradeça. — eu pego sua mão e dou um beijo na ponta dos seus dedos. — Agora sua vez, mi amor.

— Hm?

— Sua vez. Vamos ter o resto da tarde e da noite livre, o que quer fazer?

— Ah, você pode escolher.

— Não vai ser justo se eu escolher. Quero saber o que você quer. É importante pra mim fazer coisas que te agradem também. Lembra do que Allyson disse? Equilíbrio.

— Ally é uma duas caras. Vem com esse papo de equilíbrio dentro do consultório e quando está fora faz o pobre do Troy de gato e sapato. Ai dele de não obedecer na primeira ordem dela.

Eu gargalho. Não posso ir contra esse argumento, ainda que a Allyson tenha sido bastante profissional.

— Vamos lá, Lauren. — volto ao assunto.

— Camila… — ela insiste em não escolher, e ainda fica manhosa.

— Lauren. — e eu respondo firme para que ela tome uma decisão.

— Tudo bem. — respirou fundo. Ela prende os lábios tal qual prendesse o riso. — Você não precisa aceitar, certo? É uma ideia meio louca, mas eu sempre, sempre, sempre, quis que você estivesse presente num desses momentos.

— Agora estou com medo, mas topo qualquer coisa.

— Qualquer coisa? — ela morde os lábios como uma criança travessa. — Tipo virar a noite na La Pluie com sua esposa?

— E o que seria isso?

— Uma casa… — ela ergue o ombro e eu sei que aquela frase tem complementos.

Uma casa…?

— De festas. Noturnas.

— Está me propondo uma noitada na balada? — não posso evitar não rir.

Logo eu, que chegava às nove horas da noite e já estava caindo de sono. Quais eram as chances de eu dormir na primeira poltrona que visse? Gigantes. Mas por ela, eu faria qualquer coisa.

— Tudo bem se você não quiser ir, certo? Podemos ir num barzinho, gente sentada e voltamos cedo pra casa. Será divertido da mesma forma.

Minha última noite de balada havia sido há quase dezesseis anos e eu não fazia ideia do que me esperava. Antigamente as pessoas iam mais para dançar e se divertir. Beijar na boca era consequência. Hoje em dia dançar e se divertir fica para outros momentos porque é do beijo para o sexo em apenas um cumprimento. 

— Me lembre de pedir um balde de Redbull, e não se arrependa caso eu me apaixone pela La Pluie. Você tem uma esposa muito baladeira, ela só está adormecida.

Confesso que naquela noite minha vontade de fazer amor com minha esposa era grande. Meu corpo pedia pelo dela como um solo seco pedia a chuva. Por outro lado, o ápice da intimidade e o momento mais delicioso do meu dia não foi ter seu corpo se mover contra o meu. No escuro da sala de estar, apenas nós. Conversando, juntas, nos conhecendo um pouco mais. Compartilhando memórias, medos e planos futuros.

Sexo era o que eu queria, mas ter minha menina em meus braços era o que eu verdadeiramente precisava.

No dia seguinte acordamos relativamente cedo. Quebrei minha própria regra e juntas, tomamos um preguiçoso café da manhã na cama. O que foi uma péssima ideia pois Lauren manchou o lençol com geleia de pimenta. Eu poderia ter ficado brava e impaciente pois a princípio sabia que isso ia acontecer, mas apenas entrei na brincadeira e começamos uma pequena guerra de comida. Sim. Camila Cabello numa regra de comida. No fim do café havia farelo de torrada por toda cama, ambas estavam sujas de geleia e nossas barrigas doíam de tantas risadas.

Era bom rir como criança algumas vezes.

Quem não achou nenhuma graça foi Emma, que havia trocado a roupa de cama na manhã passada. Ela não moveu um músculo para rir e ainda nos chamou de crianças, fixando aqueles olhos negros de gato noturno a minha pessoa. Talvez ela não esperasse esse tipo de comportamento vindo de mim.

Ter uma esposa alguns anos mais nova me permite voltar a ser uma menina junto a ela. E eu amava isso. As brincadeiras, as risadas, os apelidos bobos. Minha esposa renovava minha alma apenas por existir.

A transição de menina para mulher muda quando eu a vejo com um sobretudo cinza escuro, salto alto e suéter branco de gola alta. Seus cabelos estão lisos, sem nenhuma ondulação. Nas mãos, três anéis dourados e espalhados, contando com nossa aliança. Ela usa um colar de ouro também. Está radiante, um pouco maquiada. Não gosta muito de excessos e está certa, porque a simplicidade é o que a torna bela. 

Ela está parada em frente a um quadro e apesar de não ser tão apaixonada por artes como eu, parece encantada. É ali que ela se mostra tão mulher que meu único desejo é lhe arrancar a roupa e fazer amor com ela ali. 

Amá-la como a arte que ela é.

— Uma mulher asfixiada.

— Caralho, onde?! — ela pergunta e vira o pescoço, procurando a possível vítima.

Eu rio baixo, e abraço por trás. Acaricio sua cintura. Todo o seu cheiro entra por minhas narinas agora.

— Não. É o nome do quadro, olhe. Charles Desains é o pintor.

— É um anônimo? — suas sobrancelhas arquearam. — Eu nunca ouvi falar nesse homem.

— Eu sei, não é culpa sua. — interrompi nosso abraço e fico ao lado dela, contemplando a obra. — Ele é um pintor francês quase totalmente esquecido nos dias de hoje.

— E o que esse quadro quer dizer?

— Uma mulher asfixiada foi apresentada no Salão de Paris em 1822, onde recebeu honras dos críticos. Uma jovem mulher, vítima do fumo tóxico de um braseiro, deixou a cama e tentou desesperadamente abrir a janela. No século XIX, era muito comum que os pintores usassem temas científicos para que as suas pinturas mostrassem o perigo de algumas descobertas científicas. Alguns historiadores de arte acham que a mulher realmente tentou cometer suicídio depois de ler uma carta, que está no chão, mas depois arrependeu-se da sua tentativa e tentou fracamente salvar a sua vida. De fato, esta pintura é inspirada no movimento do Romantismo. Aqui, Charles Desains está a tentar concentrar-se no lado dramático do romantismo, quando outros pintores apenas representavam um romantismo idealizado. A jovem mulher, neste movimento sem esperança de abrir a janela, lembra uma pintura famosa de Fragonard, The Lock.* (*Fonte: DailyArt)

Quando eu paro de falar, eu coro ao perceber que seus olhos piscam graciosamente e parecem ter o brilho de pó das estrelas. Suas bochechas rosadas e ela carrega nos lábios o sorriso que dá quando se encanta com minhas palavras.

— Por que não virou artista plástica já que ama arte a um nível tão extraordinário?

— Vinte e dois anos atrás as coisas não eram tão fáceis quanto são hoje em dia.

— O que quer dizer? — ela segura em minha mão quando começamos a caminhar. — Você foi forçada a fazer publicidade ou algo assim?

— Não, definitivamente. Eu amo minha área e com ela posso me dividir entre a arte e um "curso sério" como meus pais esperavam. É patético e ultrapassado, eu sei. No entanto, não vou julgá-los. A era digital acontece nos dias atuais e acredite, os artistas estão muito mais valorizados nos dias de hoje. Há vinte anos os pais esperavam o melhor dos filhos, e com isso quero dizer a trindade dos cursos.

— Medicina, direito e engenharia?

— Exatamente. — concordo. — Nada contra, só nunca me senti encaixada com nenhum deles. Medicina talvez, mais por Grey's Anatomy. Nada mais. — eu falo e rimos juntas. — Na publicidade eu sinto que posso experimentar o melhor dos dois mundos. Claro, gostaria de estudar artes também. Apenas pelo prazer de me aprofundar.

— E porque não estuda? — ela parou na minha frente e me encarou com aqueles verdes desafiadores. — Seus olhos brilham só de estar num lugar como esses, você ama ler e já tem a experiência de uma faculdade.

— Lauren, por favor. Iniciar outra faculdade aos quarenta? Vou terminar com quase quarenta e cinco.

— E daí, Camila? — levou a mão na cintura. — De qualquer forma esses anos irão passar. Ao menos vão passar com você formada em algo que é apaixonada.

— Eu tenho mais cara de professora de artes do que aluna. — neguei.

— Oh, isso eu concordo. E se você quiser, pode me ensinar tudo o que aprender quando voltar das aulas.

Ela estende a mão pra mim e eu pego. Suas palavras, seu sorriso faz com que eu sinta mariposas em meu ventre. Eu desejo por um instante que essa garota seja apenas minha, e me alivio no próximo segundo quando percebo que ela já é.

— Faria mesmo isso por mim?

— Se você fizer isso por você, sim. — me puxou pra perto. Suas mãos acariciaram minha bochecha esquerda num toque gentil. — Com todo o prazer do mundo. Poxa, você me ensina todos os dias a não me limitar. Não aceito que faça o que tanto condena.

— Oh, mi amor. Não use minhas palavras contra mim. Você é uma menina que tem toda uma vida pela frente.

— Assim como você, Camila. — revirou os olhos. — Para de colocar essa ideia de velhice na sua cabeça. Você não é velha. A vida só está começando, para nós duas. Vai, se afasta do fim dessa luz imaginaria. Por você. Depois por mim.

— Você está quase me convencendo a cometer a loucura de uma segunda graduação.

— Até o fim do mês eu te convenço.

— Não vai desistir? — perguntei e ela mordeu os lábios. — Certo, já entendi que não. Eu vou pensar sobre, tá bom? Mas, vou pensar enquanto comemos uma massa.

— Comida italiana? Uma mulher sofisticada com um gosto ainda mais requintado. Camila Cabello não parece errar nunca.

— Oh! — me virei de repente e percebi aquele rosto que eu não via há dois anos. — Paul, que surpresa ver você.

Sempre educado, o homem estendeu a mão para mim e eu apertei, cumprimentando-o.

— Fiquei fora por uns longos meses e agora acabei voltando. Como tem passado?

— Muito bem, obrigada.

— Ainda trabalha na mesma agência? Sempre que vejo os anúncios do aplicativo em que nos conhecemos eu acabo me lembrando de você. Estão fazendo um excelente trabalho nas propagandas.

— Gentileza sua.

Olhei pro lado. Lauren nem sequer disfarça a cara de tédio misturado com ciúmes. De braços cruzados como uma criança emburrada, eu tinha medo que a veia que estava se formando em sua testa explodisse a qualquer momento e fizesse Paul engolir litros de sangue. Pelo o que eu conheço, era para isso que minha menina estava torcendo.

— Ah, eu lembro de você. — merda. Péssima ideia de cumprimentá-la com ela nesse estado. — Lorna, não é?

— Lorna Morello? Pra sua sorte, não. Lauren. — falou o nome devagar, como se estivesse ensinando a um quadrúpede. — Me chamo Lauren.

— Oh, Sim. Lauren! — ele estala os dedos ao se lembrar. — Amiga da Camila.

Que amig-

— Na verdade, a Lauren é a minha esposa. — eu apresentei, com bastante certeza e orgulho. Paul pareceu ter ficado surpreso. — Lauren é minha amiga sim, e muito além disso é a pessoa por quem sou apaixonada e me casei. Lauren é a minha mulher.

— Ah! Uau… Digo, que surpresa saber disso. — o homem colocou a mão no bolso e agora parecia sem palavras com o que tinha acabado de saber. — Eu achei que eram só amigas. Quero dizer, ainda bem que ainda são. É bom para todo casamento.

— Então é por isso que você é divorciado…?

Lauren abriu a boca, com aquele tom irônico e sem vergonha que ela tinha.

Abracei sua cintura para que ela não continuasse com as alfinetadas. Paul era um homem bom, mas minha mulher parecia ter ligado um foda-se bem grande para isso apenas pela pequena motivação do passado. Isso porque nem chegamos a ficar.

— É, tem muitas pessoas aqui na terra sem sorte no amor. — coçou a barba. — Eu sou um deles.

— O Wattpad está perdendo essa história. — eu a olhei, incrédula. Ela não para.

— Bom, de qualquer forma foi bom te ver viu, Paul? — Era melhor cortar aquele assunto antes que ficasse mais constrangedor do que estava. — Foi um prazer te ver.

— Fique bem, Camila. Está ótima como sempre. Até mais, para as duas.

Concordei com um sorriso e puxei Lauren comigo, obrigando-a a caminhar no meu ritmo. Seu corpo estava rígido e seu punho fechado como se fosse precisar quebrar um nariz. Coisa que jamais ia acontecer.

Não comigo ali.

Até mais, para as duas. — imitou, revirando os olhos. — Fala sério, o que você viu nesse velho?

— No Paul? — será que se eu me fingisse de sonsa ela mudava de assunto. — Oh, não sei… só… Pra que esse ciúme todo, mi amor?

Pffff! — abriu um sorriso falso e ergueu o ombro. — Não tenho ciúmes de quem não nasceu comigo. É apenas… sei lá, oras! Um ligeiro incômodo mesmo.

— Um ligeiro incômodo? — me aproximei. — Então tudo bem se eu convidá-lo para almoçar conosco?

— Vai, Camila. — ela cerrou os olhos. — Eu afogo ele com duas colheradas de vinho em cada nariz.

— Em cada narina, você quis dizer… — a corrigi, só pra implicar. — Nós só temos um nariz.

— Eu sei o que eu quis dizer.

— Minha menina. — dei um passo em sua direção. Haviam mais pessoas do lado de fora do museu, mas naquele momento eu não ligava para nada. A encostei no muro e mirei aqueles olhos que eu tanto amava. — Não há razões para sentir ciúmes quando tudo de mim só deseja a você. Deixe de bobagem, certo? Não confia na sua esposa?

— Eu confio. — ela ainda não me olhava. — É só que… sei lá. Tenho medo de te perder. Ele combina muito mais com você do que eu. Sinto medo disso desde o primeiro dia que você citou o nome dele na agência.

— Me perder? — acariciei seu pescoço com a ponta das unhas. — Tudo o que eu faço ao acordar até a hora de dormir é sonhar acordada contigo. Escolhi você para ser a minha companheira de vida. Você não vai me perder, mocinha. Vai ter que me aturar por bastante tempo. O que está pensando?! Eu sou sua mulher.

Ela queria rir, porém se segurava. Não gargalhar, apenas sorrir abertamente ao ouvir aquilo. Eu sabia o quanto ela adorava se sentir segura. E que tipo de pessoa eu seria caso não passasse a segurança que minha esposa merecia?

Minha esposa. — repetiu baixinho, orgulhosa. — Eu gosto disso. Minha esposa.

•••

Comida italiana era uma das minhas preferidas. Comer comida italiana ao lado de Lauren, aí sim era a coisa que eu mais amava em partilhar com ela. Bistrô praticamente vazio nos proporcionou um momento calmo e agradável durante o almoço. Massa e vinho tinto, e sua boa companhia.

Allyson estava certa. Havíamos perdido o gosto por momentos como esses. Estar juntas, conversando sobre a vida e planos futuros. Muitos pensam que o amor se mantém por si só, e hoje, eu que achava ter bastante experiência nisso, aprendo que não.

Amor é a conquista diária.

É a segurança de cuidar daquilo que é seu.

Inclui, compartilhar. Mostrar para a pessoa que ela faz parte de sua vida, da sua história.

Por alguns dias eu pensei que perderia a minha Lauren para sempre. Por várias noite cogitei que nosso casamento fosse afundar. No dia de hoje, podendo me apaixonar por cada detalhe seu, fico feliz que não.

Eu a amo, e não quero chamar por outro nome que não seja o dela.

Estou na sala, descansando do nosso passeio enquanto me distrario. Banho tomado, um vestido casual simples e confortável para ficar em casa. Pernas esticadas no sofá enquanto ouço uma música relaxante na TV. Lauren surge, caminhando em minha direção. Está sem maquiagem, livre de qualquer roupa pesada e cheirando a banho tomado. Ela se senta ao meu lado e eu coloco meus pés em cima das suas coxas.

— Queria te agradecer pelo dia. — ela sorri quando toca meus pés. — Adorei acordar ao seu lado, sair com você. Estava precisando desse momento. Me sinto até mais disposta para outros afazeres só por esse início de dia que tivemos. Obrigada, Camz. De verdade.

— Eu amo a sua companhia. — meu corpo inteiro relaxa quando ela começa a massagear meus pés. — Isso é bom. Que tal fazermos ao menos uma vez no mês? Melhor, duas.

— Massagens nos pés?

— Sair. — Corrijo, gargalhando. — Todo final de semana. Tirar um dia para cuidar do nosso casamento. Sair para jantar, assistir um filme no cinema, ver uma peça teatral ou ir a um barzinho.

— Vou adorar. Podemos ir ao cinema na próxima vez, já que é uma coisa que quase nunca fazemos.

— Eu topo. — sorrio, agraciada por suas mãos pegando no ponto certo. — Céus, isso é realmente uma delícia. Onde você aprendeu?

— Não sei, apenas aprendi. — ela sorri enquanto pressiona meu calcanhar. — Sou um livro de pequenas utilidades. Sei de tudo um pouco, não estava sabendo desse bônus?

— É sempre bom descobrir coisas novas nas pessoas, mas que minha esposa é uma massagista de mão cheia, ah… isso eu adorei. O salto novo acabou com meus pés, com minhas pernas. Só suas mãos já estão me ajudando e muito.

— Aprendi esses movimentos de massagem num vídeo do Tik Tok. — deslizou com certa pressão o dedo por minha panturrilha. — Não te machuca?

— Nenhum pouco. — minha voz sai baixa, e relaxada.

As mãos de Lauren estão a alguns centímetros do meu joelho quando ela sorri. Trocamos um olhar silencioso, mas significativo. Ela para os movimentos de suas mãos, no meio das minhas coxas. Desço o meu olhar por seus esverdeados. Seus lábios se pressionam. Percebo pela sua camisa que ela respira fundo, então ela me beija. Na parte interna das minhas coxas.

Meu corpo reage, incendeia com o único toque seus lábios. A respiração que sai por minha boca é pesada e longa, e Lauren parece perceber isso. Ela me olha, desafiadora e tentadora antes de passar a língua quente no mesmo local que havia beijado. Meu corpo de arrepia e minha boceta pulsa com o contato.

Com o restante de força que ainda me resta, eu a puxo pela camisa. Agora seu corpo está sobre o meu, e seu joelho no meio da saia que visto, pressionando com maestria o meu ponto sensível.

— É melhor você parar enquanto tem tempo. — eu ordeno, ainda com minha mão agarrando o colarinho de sua camisa.

Lauren não parece de importar com a minha ordem, pois toma meus lábios para si em seguida num beijo intenso e sem cerimônias onde sua língua busca de forma árdua a minha. Eu me derreto quase que literalmente. Enquanto nossas bocas encaixadas se movem uma contra a outra, ela agarra minha cintura puxando meu corpo para o seu. Minha pernas esquerda prende seu corpo. Preciso senti-la como se fossemos uma só. Suas mão desliza devagar da minha cintura por meu quadril, e enquanto ela me beija, a mão chega até minha coxa, marcando com uma pegada que só aquelas mãos tinham. O contato faz que minha boceta se encontre com seu joelho. Eu tremo, mordo seus lábios entre nosso beijo e olho no fundo daqueles olhos.

É nesta hora que eu me sinto a mulher mais desejada do mundo e é neste momento em que eu preciso deixar de ser mãe, filha, amiga de alguém e ser unicamente a mulher dela.

— Vamos subir? — sussurrei contra seus lábios. A essa altura, apenas com nosso beijo, eu estava muito excitada. — Eu preciso disso amor. — confessei em êxtase, enquanto era beijada no queixo, mandíbula. — Ah, Lauren. Eu preciso foder com você agora. E gozar pra você. Na sua boca, sim? Preciso que você me chupe.

— Subir pra que? — quando seus lábios molhados passaram por minha orelha e morderam o lóbulo, senti minha boceta contrair forte. — Eu quero você aqui, Camila.

— Aqui? — aquilo desperta  sentimento perigoso em mim. — Definitivamente fora de cogitaç-

Tentei me levantar.

— Eu disse — seus olhos se transformaram num mar esverdeado de dominância e ordem. Suas mãos seguraram no meu pescoço e assim como seu tom de voz, estavam duras. Do jeitinho que eu gostava. — que quero você aqui, agora. Eu vou te chupar, e você vai ficar bem caladinha pra sua mulher, não vai?

Mordo os lábios, completamente rendida pela mulher que ela havia se transformado naquele momento. No entanto, ainda tinha medo. Como que não teria? Meu filho poderia sair do quarto com fome e a caminho da cozinha, precisaria passar pela sala.

A sala onde a minha esposa agora abaixava a alça do meu vestido para passar de forma lenta e torturante, a língua quente e macia em meu mamilo. Mordi meus lábios, puxei seu cabelo. Eu precisaria expressar o meu prazer de outra forma, mas senti-la faminta daquela maneira não me ajudava. Isso é excitante. Ver como seu corpo reagia ao meu. Como meu corpo era uma necessidade para ela naquele momento. Lauren arrastou os dentes pela auréola dos meus seios, me causando as sensações mais infernais e deliciosas. Em cima de mim, sentia o seu peso, seu calor. Queria tirar aquela maldita blusa do Kiss do seu corpo. Muito tecido cobrindo seu corpo quando eu queria senti-lo contra o meu. Ela subiu minha alça outra vez. Amava que mesmo numa transa rápida, ela fazia questão de amar cada detalhe do meu corpo. Um beijo na área entre meus seios quase me fizerem gemer alto. Suas mãos vieram de encontro aos meus lábios, abafando meu som.

— Nada disso, amor. — ela me olhou. Seus lábios estavam vermelhos e um tanto inchados apenas por explorar o meu corpo. — Eu amo seus gemidos, porra, como eu amo. Te ouvir gemer pra mim acaba comigo. Você sabe disso.

Assenti, impossibilitada de falar qualquer coisa.

— Amo a forma que você geme gostoso quando estou te dando prazer. Mas hoje, você vai ficar caladinha, certo? — neguei com a cabeça e ela me interrompeu, fazendo que sim com a sua. — Oh, vai sim. Se não fizer, eu não continuo. E não é isso que queremos, não é?

Maldita.

— Quem você pensa que é?

Lauren se ergueu por uns segundos e sorriu daquela forma que eu amava antes de me beijar. Olhou no fundo dos meus olhos enquanto umedecia seus lábios e então sussurrou:

— Sou a sua mulher.

Foi tudo o que ela disse antes de abaixar novamente, mas foi mais que o suficiente para me queimar. Ergueu a base do meu vestido, não muito. Apenas o suficiente para que minhas pernas ficassem mais livres, então ela as abriu um pouco, e sem cerimônias ou qualquer tipo de enrolação, seus dois dedos puxaram minha calcinha para o lado direito e eu fui invadida pela sensação de ser recebida em seus lábios. Sua língua tocou minha vulva, começando de baixo para cima. De início ela ameaçou penetrar sua língua, mas logo subiu para meu clitóris onde seu toque certeiro quase me fez gemer o seu nome.

Oh! — expressei-me, jogando a cabeça para trás. — Que saudades disso. — sussurrei. — Que saudades de sentir essa boca gostosa em mim.

Agarrei no amontado de fios negros da sua cabeça e a puxei contra minha carne. Lauren segurou minhas coxas enquanto eu sentia sua língua quente descer e subir pela extensão da minha boceta molhada. O atrito dos seus lábios contra minha vulva fazia sons maravilhosos, agradáveis ao meu ouvido. Eu amava foder com ela, sentir ela se deliciar contra mim. Movi meu quadril, guiando-a para o ponto de mais necessidade. Minha esposa tremeu sua língua em meu clitóris antes de sugá-lo com delicadeza. Precisei morder os lábios com a força necessária para não gemer alto. Ela não queria isso e ainda sim fazia de tudo para que acontecesse. Filha da puta.

Sua chupada era precisa, suave e forte nos pontos certos. Ela havia confessado que era sua parte preferida em nosso sexo. Me chupar. Me sentir com a boca, ter o meu gosto em sua língua. E eu podia sentir por suas reações ao fazê-lo o quanto ela era apaixonada por essa ação. Chupava com gosto, molhando seus lábios, sugando meu sabor para si, até gemendo contra minha carne. O ato da foda era deliciosa, mas ter alguém sentindo prazer por lhe oferecer prazer, ah… isso era divino.

Por alguns instantes, ela parou o que fazia e sua língua foi substituída por seu dedo do meio. Ele deslizou até minha entrada, fazendo minha boceta se fechar contra o nada pela carícia sentida. Sua boca se entreabriu numa expressão safada e ousada. Acariciei suas costas com o meu pé enquanto esperava pacientemente ela parar de me admirar. Olhei em volta, sala vazia. Ainda tínhamos um tempo antes de sermos pegas. Bom, eu esperava que meu filho estivesse me entretido dentro daquele computador.

— Você está escorrendo. — sussurrou. Na sua fala havia tanto desejo. Movi meu quadril contra seus dedos para que continuássemos logo. — Eu amo sentir seu gosto, chupar tudinho o que você me dá.

Lauren me puxou contra seus lábios e me sugou outra vez, fazendo com o que eu tivesse que tapar minha própria boca para me calar.

— Sentir você assim, pulsando na minha língua é tentador. Delicioso. Ah, meu amor, você é tão gostosa… — aqueles olhos verdes, agora escuros, piscaram para mim. Sua boca estava brilhando, umidificada por minha lubrificação. O cabelo levemente despenteado pelos puxões que eu havia dado. — Você quer gozar agora, não quer? Quer gozar pra mim? Bem gostoso, na minha língua.

Assenti, louca pelo meu próprio tesão. Eu precisava desmanchar de prazer por seus lábios, sua língua, por sua boca inteira.

— Mas você não vai.

O que?!

— Se isso é algum tipo de piada e de péssimo gosto, saiba que não há graça alguma.

Minha voz sai trêmula. Não consigo decifrar se é de tesão ou ódio. Talvez uma mistura dos dois.

— Não é piada, meu amor. — se levantou e prendeu o cabelo num coque despojado. — Você só vai gozar quando eu quiser que goze, e não vai ser aqui nessa sala.

Com o ódio subindo por meu sangue, eu abaixei minha saia e mordi meus próprios lábios para controlar o desejo que eu tinha de xingar aquela filha da puta.

— Por que você começa se não termina? Eu não sou a porra de uma palhaça pra voc-

Antes que eu pudesse sequer falar mais alguma coisa, ela me puxou pelo queixo e roçou seus lábios nos meus, deixando um pouco do meu gosto tocar minha boca. Quando eu tinha em mente agarrá-la e fodê-la ali mesmo para mostrar que eu estava no comando, ela se afastou, me deixando com a expressão mais estúpida do mundo estampada na cara.

— Para que essa pressa toda se você vai subir daqui a pouco?  —  começou baixo, com a voz aveludada. — E aí nós vamos foder. — sussurrou pertinho. — A tarde inteira. Hm? O que me diz? De novo, e de novo.

— Eu vou subir agora.

— Daqui a pouco. — repetiu com a lentidão exata para que eu percebesse suas intenções. — Eu não demoro, seja paciente. Vai valer a pena. Caso não queira esperar, tenho uma longa lista de filmes que desejo assistir contigo. É isso que quer, Camila? — sorriu de lado.

Eu nada disse. Meu tesão e meu estresse me calaram naquele momento.

— Foi bem o que pensei.

Como se fosse a porra de uma vitoriosa, Lauren foi para nosso quarto aprontar sabe lá o que é eu tinha que ficar aqui na sala. Sozinha, abandonada, com a boceta escorrendo por causa dela. E sem gozar. Se ela não tivesse interrompido eu poderia estar relaxada e jogada no sofá, mas não.

No que ela puder fazer para me tirar do sério, ela não pensará duas vezes.

Respirei fundo, bem fundo mesmo. Quase reiniciando meus pulmões. Eu estava com desejo, vontade, precisando de sexo como uma planta precisa de água e a minha esposa resolveu começar com joguinhos naquele momento. Porra.

A campainha tocou, fazendo eu me assustar. Quem era agora naquele inferno?

Balanço minha cabeça, apagando meus próprios pensamentos. Ser casada com Lauren está me fazendo pegar boa parte do estresse e dos xingamentos que ela usa.

Levantei, quase marchando e quando abri a porta, meu corpo gelou ao encarar o homem de camisa de botão de cor azul marinho e calça rosada.

— Oh! — confesso que aquela visita repentina havia me surpreendido e muito. — Tom. Aconteceu alguma coisa?

— Não que eu saiba. — seus olhos vão de um lado a outro enquanto ele pensa.

Era terrivelmente constrangedor estar na frente do meu ex marido enquanto sentia meu corpo dar os últimos espasmos do orgasmo que Lauren ainda não tinha me proporcionado. Se esse homem chega há alguns minutos antes…

Não pense nisso, Camila. Não pense nisso agora.

— Vai me convidar para entrar ou…?

— Claro, entre.

Me afastei da porta, dando espaço para que o homem passasse. Enquanto ele estava de costas, ajeitei meu cabelo. Não por ele, claro. Eu com certeza deveria estar despenteada e minha cara entregava sexo.

— Henry não avisou que estava vindo para cá.

— Ele não sabe. Na realidade me comunicar com Henry está sendo uma missão impossível nos últimos meses. Sabe algo sobre?

— Está trancado no quarto. Não tenho absolutamente nada a ver com isso.

— Não, eu não estou pondo a culpa em você, eu só… bom. Preciso conversar com ele a respeito disso. Não me agrada em nada.

— Tudo bem, então. Converse e enfie juízo naquela cabeça oca.

Me movi até o pequeno bar e peguei um copo. Silenciosamente apontei e Tom assentiu. Dependendo da sua resposta ou farpa eu poderia colocar um laxante nesse destilado.

— Ele passa mais tempo lá do que eu gostaria, mas nada do que eu fale o arranca de lá, então… não há muito o que eu possa fazer mais do que faço. Numa hora ele vai ter que aprender a lidar com as escolhas que faz.

Dois copos com uma dose de uísque. Sentei ao seu lado e lhe entreguei o seu.

Ele me olhou como se eu fosse o ser mais louco que tinha visto.

— Camila, eu já disse que não estou reclamando. — girou a bebida no copo e sentiu o aroma. — É apenas um comentário. Ele é adolescente, já entendi que isso é comum, ainda que não ache saudável e concordo com você.

Suspeito demais. Apenas assenti e me sentei. Era estranho ficar fazendo sala para uma pessoa que conhece cada detalhe do seu corpo. Uma pessoa que um dia já foi seu grande amor.

— Desculpa aparecer sem avisar. — ele deu um pequeno gole enquanto olhava pro nada.

Eu não estava louca. Tom estava tão sem jeito quanto eu naquele momento. Ambos estavam constrangidos na presença do outro.

— Pode ir no quarto dele se quiser. — quebrei o gelo. — Você sabe onde é.

— Na realidade, quero falar com você primeiro. — enfiou a mão no bolso da camisa e tirou um pequeno papel branco.

Me entregou e eu abri, percebendo se tratar de um convite de casamento cujo noivo era meu ex esposo. A vida nos traz muitas surpresas, mas a que o senhor "não me contento com uma" fosse voltar a juntar as escovas de dentes… ah, isso para mim era uma novidade das boas.

— Então você vai se casar.

— Sim, bom… — ergueu os ombros. — Vou. Por isso vim entregar pessoalmente o convite.

— Henry ficará feliz por você. — comentei. — Ele não fala muito sobre sua namorada, mas parece ser gente boa.

— Ela é apaixonada por Henry e o trata como um filho.

Sorri. O que é melhor para uma mãe ouvir isso? Nunca fui e nunca serei o tipo de mãe que entra em bringas infindáveis com madastras. A atual do meu ex marido não é minha inimiga, e pelo o contrário. Se trata bem meu filho, ela é minha amiga.

— Se ela trata meu filho bem, só tenho coisas boas a desejar. O que me deixa surpresa mesmo é saber que alguém consegue te prender.

— Pensei estar velho demais para essa coisa de casamento. — se sentiu do meu lado. — Mas, com ela o recomeço não parece uma ideologia barata daqueles que se entregam de cabeça.

— Nunca é tarde para recomeçar. Te desejo felicidades, de verdade. E crescimento também. — se havia álcool, haveriam verdades também. — Principalmente para que os erros do nosso casamento não acabem se repetindo e a garra que criamos para nos defendermos não machuque quem não tem nada a ver com isso.

— É. — assentiu, trincando o maxilar. — E que erros, Camila.

— Vou torcer para que ela não caia nas próprias fraquezas, mas se cair que conte com sua mão para ajudá-la, e não para atirá-la num penhasco de desgraças.

— É assim que você se sente? — me questionou após um longos segundos de silêncio.

— E não acha que é assim que qualquer pessoa se sentiria? Suas traições não foram nada em comparação com sua deslealdade. Não ter você do meu lado quando eu tive que implorar por isso, me doeu de maneira que nenhuma palavra que saia por meus lábios consiga definir.

Eu me sinto fraca. Me sinto vulnerável e sensível ao desabafar aquilo com a pessoa que tanto me feriu. Ser machucada por Tom abriu uma ferida quase incurável em meu peito. Às vezes eu me sentia um pouco mal, por ter seguido minha vida, me casado outra vez com alguém que amo tanto, e ainda ficar sensível só de lembrar das coisas que passamos juntos.

Não deveria ser assim, parte de mim afirma. O outro lado mais racional diz "Tudo bem, é normal", afinal Tom e eu tivemos uma história juntos. História que me deu um filho. História que me marcou.

— Camila, eu sei que tivemos péssimos momentos em nosso casamento. — ele franze os lábios e respira fundo. Seus olhos se fecham por alguns segundos enquanto ele toma mais palavras. — E eu sinto muito pelo mal que te fiz nos anos em que tivemos casados. Espero que um dia, no fundo do seu coração, você possa me perdoar.

— E eu já te perdoei. — seu olhar pareceu surpreso agora. — Se eu pensar muito eu acabo chorando, só não se gabe. Choro porque certas coisas doem, não porque sinto falta.

— Não sei porque estou surpreso, afinal você sempre foi tão justa comigo e eu… — ergueu o ombro, engolindo as palavras. — Tão eu. Mesquinho, egoísta. Sempre disposto a criar uma caveira sua para nosso filho. Me envergonho ao lembrar disso. Você nunca fez o mesmo. 

— Isso só me igualaria a você, e quando fiz isso devolvendo a traição, não me senti bem. — fui sincera e a verdade parecia tê-lo machucado. — Eu nunca falei mal de você para Henry porque você é o homem que escolhi para ser pai do meu filho. Você era meu marido, meu melhor amigo também e me deu a pessoa que mais amo nessa vida. E apesar dos pesares, sempre foi um pai excelente que mataria por ele se assim fosse preciso. Eu nunca fui a pessoa a querer destruir o laço de afeto incondicional entre vocês dois. Ao contrário de você, como bem sabe e fico feliz que reconheça ainda que seja o mínimo.

— Eu realmente sinto muito por tudo o que te fiz sentir. — eu assenti.

— São águas passadas. Não podemos alterar nosso passado. Está tudo bem, Tom.

— Eu era mesmo o seu amigo? — a pergunta parece sair de forma arriscada por seus lábios.

— O meu melhor amigo. — eu afirmo, olhando em seus olhos. — Depois viramos apenas estranhos com memórias. Com memórias e um filho para criar juntos. Perder meu marido, tudo bem. Eu já tinha aceitado esse fato. Agora, perder meu amigo… ah, isso acabou comigo. A sensação de não ter seu ombro era como sentir meu coração sendo rasgado em pedaços e lançado ao fogo.

— Sinto muito. — seu maxilar se endurece e de repente ele parece estar desconfortável dentro de si. — Eu sei que nada do que eu disser vai mudar o que aconteceu.

— E não vai.

— Não vai. — concordou. — Não posso mudar o meu passado, Camila. Ninguém pode, na verdade. O que fiz já foi feito e isso acabou, não existe fórmula ou remédio para o leite que se derramou. O que posso fazer daqui pra frente é tentar ser uma pessoa melhor. E eu quero isso com você. — arregalei os olhos, não entendendo onde aquele assunto chegaria. — Não dessa forma. Talvez de pouco a pouco a gente possa, não sei, tentar se dar bem outra vez. Principalmente pelo nosso filho. É um laço de amor incondicional que temos em comum que nunca vai se romper.

Muitas palavras, muitas coisas a serem ditas. Álcool. Eu precisava de muito álcool para dar uma resposta para Tom. Em silêncio me levantei e caminhei até o meu bar. Mais gelo, mais álcool. Os passos apressados cresceram em meu ouvido e Lauren apareceu do nada, vindo reta em minha direção.

— Oh, não subiu porque está bebendo? — bebericou do meu copo. — Estou quase pronta.

O que responder?

O que responder quando sua esposa está vestindo seu longo hobby de seda vinho que céus, fica tão melhor nela. A pele branca e o contraste fechado da cor. Sinto que ela fez isso apenas para me provocar e o pior, está conseguindo.

— Amor… — engulo a saliva com dureza. É difícil falar enquanto a boca se enche de água e desejo. — Tom está aqui.

Ela olha para trás e não parece dar tanta importância.

— E aí, velho.

Ela o "cumprimentou", enchendo minha cara de vergonha. Lauren aprendeu a ignorar Tom como eu mesma nunca tinha sido capaz.

— Olá, Lauren. Boa tarde.

— Bem que senti cheiro de enxofre. — minha mulher dá outro gole no meu copo. — Veio ver seu mini diabinho?

— Se o mini diabinho em questão for meu filho, sim.

— Legal. — Lauren assentiu e voltou a atenção pra mim, baixando o volume da sua voz. — Não dá pra dispensar essa cara? Tem coisa lá em cima te esperando e pode apostar, muito melhor.

— Não seja rude, meu bem. Estou conversando com o pai do meu filho. — meus olhos deslizaram por seu decote. — Está precisando de alguma coisa?

— Sim, estou precisando dar igual uma vagabunda pra minha esposa, mas estou com medo de aparecer aqui na sala outra vez e estar a Dinah pronta pra adiar isso.

— Lauren. — olhei pros lados. Felizmente ela sabia ser discreta. Safada, mas uma safada discreta. — Você quer transar agora?

— Eu pensei que tivesse deixado isso bem explícito que queria você lá em cima, mas ter seu ex marido aqui faz minha boceta jorrar areia de tão seca.

— Eu subo em alguns instantes, certo?

— Te espero lá em cima. Vou pegar algo para a gente beber… Estou com sede de vinho.

Depois de sussurrar, ela se afastou e caminhou em direção a cozinha, passando por trás de Tom que estava no sofá. Lauren parou por alguns segundos, e alongou o pescoço, afastando seu cabelo e mostrando para mim a tatuagem em sua nuca. Girou o corpo e fixou seu olhar no meu ex esposo, garantindo que ele não percebesse. A maldita abriu o hobby. Desfez lentamente aquele laço que tinha na cintura. Lingerie branca, rendada. Fechei os olhos com força, não porque não queria ver e sim porque minha vontade, meu único desejo naquele momento era que Tom fosse embora. Ele precisava ir. O quanto antes!

Prendi o riso. De nervoso, é claro. Ela sorriu travessa pra mim enquanto fechava a roupa e dava a volta para ir a cozinha, como se nada tivesse acontecido.

— Você não se casou. Adotou uma segunda filha. — Tom comentou, de repente. — Velho… — resmungou. — Eu nem estou tão velho assim. Esses fios brancos são apenas o charme que a idade traz.

— Não ligue para as brincadeiras dela. Brincadeiras sinceras, desculpe. — ele estava velho mesmo. Muito mais do que eu.

Enquanto me aproximava, era observada por aqueles olhos escuros. Me enganei por anos ao achar que Henry não parecia com nenhum de nós. Quero dizer, até então ele não parecia. Agora que está crescendo percebo como está ficando como o pai. Os mesmos olhos, embora o olhar continue do avô materno.

— Então você quer voltar a ser o meu amigo. — me sentei ao seu lado, olhando no fundo daqueles castanhos escuros misteriosos. — Amigos apoiam um ao outro, reconhece isso não é?

— Sim, sei o que os amigos fazem. — pigarreou. — Quero deixar o passado tempestuoso para trás e tentar resgatar o mínimo de respeito que no fundo, ainda podemos ter pelo outro.

Acho que em anos nunca tinha ouvido palavras tão gentis saírem da sua boca. Aquilo me confortava. Perder um amor é doloroso, ainda mais quando um amigo se vai junto. Desde que tomei ciência disso minha vida mudou.

— E está disposto de verdade? — perguntei.

— Camila, se você não quiser por mim tudo bem e-

— Não disse isso. Apenas, bom… — respirei fundo, tentando explicar melhor. — Se você quer ser meu amigo outra vez, por mim tudo bem. Agora, se você quer muito, muito, muito ser meu amigo… tem como levar seu filho pra dar um passeio até segunda feira?

O homem inclinou sua cabeça e havia um ponto de interrogação gigante em sua testa.

— Não sei se entendi. 

Quando ele respondeu, Lauren passou pelo outro lado. Agora com o hobby completamente aberto, fazendo meus olhos a seguirem até onde foi possível. Vinho chileno. Apresentar o bom gosto para minha esposa surtiu excelentes resultados.

Eu precisava transar. Leia isso em meus olhos, Tom.

— Tom. — me aproximei mais e toquei seu ombro, conectando nosso olhar. — Você me entendeu muito bem. Vai levar seu filho para passear.

Enfim, livre.

Em trinta minutos eu convenci meu filho a sair do quarto e implorei, ou melhor, supliquei para que ele fizesse uma mochila de roupas e saísse um pouco com seu pai. Dinheiro? A quantia que ele precisar em meu cartão. Estoure o limite de precisar. Vá, se divirta.

E deixe a mamãe se divertir também.

 Eu precisava de privacidade com a minha esposa para gastar toda energia que foi estocada contra a minha vontade. Fechei a porta quando eles saíram, agradecendo a Deus por ter colocado meu ex marido na hora certa em meu caminho. Desliguei a fechadura eletrônica e todas as chaves comuns estavam dentro da minha casa. Se eles voltassem por algum motivo teriam que se virar na rua. Meu celular estava desligado também. Se Henry precisasse de alguma coisa, o pai que desse o seu jeito, afinal eu não fiz filho com meus dedos.

Livre e melhor, sozinha com a minha esposa, eu caminhei às pressas para meu quarto. Porta encostada, mas não havia sinal da minha mulher na cama, onde ela deveria estar me esperando.

Estava um sol gostoso do lado de fora, iluminando boa parte do ambiente. Um vento fresco fez as cortinas brancas balançarem, fazendo eu perceber que a porta da sacada estava aberta. Caminhei, sabendo que a encontraria ali. Distraída, saboreando o vinho. Os olhos fechados enquanto os raios de sol esquentavam sua pele.

Era raro, muito raro vê-la vestida daquela forma. Num geral, nossas formas de sedução eram completamente contrárias. Eu era do time mais vestida para matar. Lingeries bonitas, combinando, de bons tecidos e cores provocativas. Lauren geralmente estava com uma blusa de time até o meio da coxa, que cabia mais uma dela dentro, e uma calcinha minúscula. Ou acompanhada por um short que cobria apenas metade da sua bunda, felizmente para mim. Eu a achava o ser mais sexy e lindo da terra com aquelas camisas de time. De verdade. O lado esportivo dela sempre me trouxe um mar de possibilidades. Mas ela com aquele estilo, tão mulher provocadora. Porra… isso estava acabando comigo.

— Então vai ser assim?

Seus cabelos se viraram em minha direção antes do seu rosto. Com a borda da taça entre os dentes, ela sorriu e arqueou a sobrancelha para mim.

— A que se refere?

— A cidade toda está olhando para minha mulher. — e agora eu também estava. Perdendo o ar, a proposito. — Isso não me agrada, Lauren.

Contemplá-la de perto, observando os espaços vazios de sua lingerie rendada renovou cada célula de vida que habitava em mim. Era como encarar a mais bela escultura de gesso. Milimetricamente esculpida para ser perfeita. Aos meus olhos na verdade, a minha mulher era mais do que isso. Lauren me deixava tão segura com os incômodos que eu carrego em relação ao meu corpo que se esquecia de olhar para o seu com o mesmo carinho e desejo. E eu faria isso por ela sempre que fosse possível.

Linda? Oh, não, Camila. Sua mulher é muito mais que isso. Criarei um dicionário completo apenas para existirem adjetivos o suficiente para expressar em palavras a grandeza da sua beleza para mim.

— Está precisando de vinho. — foi para a pequena mesa que havíamos instalado na sacada. — Para dar uma relaxada nesse seu ciúme.

Encheu um terço da taça e  me entregou, focando seus olhos nos meus.

O nosso sexo começava muito antes do ato físico. Nos olhares, nas provocações, nas palavras. Ainda estávamos de roupa, ainda não estávamos ofegantes sobre a outra, mas era um fato: estávamos fazendo amor naquele momento.

E era delicioso aproveitar sem pressa cada etapa daquela foda.

— Ótima escolha de vinho. — bebi um pouco, sem tirar meu olhar do seu corpo. — Mas você escolheu a taça errada.

— Essa é de vinho.

— Branco. — corrigi com um sorriso triunfal.

— Está reclamando demais. — se aproximou de mim, me encurralando na parede. — Apenas aprecie o sabor.

Ao responder, Lauren bebeu de sua taça e de maneira articulada, deixou os lábios úmidos pelo líquido marsala. Respirei fundo, com a boca carregada de desejo, ansiosa por beijá-la de uma vez. Ela percebeu isso e repetiu o gesto, de maneira mais lenta.

Provocativa e dissimulada.

Após mais um gole em minha taça, a deixei de lado, fazendo com que as minhas mãos trouxessem Lauren para perto. Joguei seu cabelo pro lado, encaixando a palma da minha mão em seu maxilar. Com o dedão, fiz uma carícia nos seus lábios, desenhando o contorno deles. Ainda estavam levemente umedecidos pelo vinho que estava bebendo. Olhando em seus olhos, levei a ponta dedo a minha boca, apreciando o sabor de vinho com resquício dos seus lábios. Ela encarou a cena hipnotizada, sorriu de lado. Não disse nada e nem precisou. A respiração pesada que fez cair seus ombros era o suficiente para falar por ela.

— Excelente sabor. — disse baixo e olhei no fundo dos seus olhos. — E não estou falando do vinho.

Minha outra mão deslizou da sua cintura para sua bunda, forçando seu corpo a se encontrar com o meu. Seios com seios. A única coisa que nos separava naquele instante, eram nossas peças de roupa.

— Eu preciso de muito mais agora. — Ao me aproximar, senti nosso nariz se tocar. Seu hálito fresco com vinho tinto vinha de encontro ao meu. — E preciso mais ainda de você.

Quando eu me inclinei para beijá-la, Lauren desfez o nosso contato com um sorriso sutil no rosto. Alegre apenas para ela. Me desobedecer fora do quarto tudo bem, afinal, ela era dona de suas próprias vontades, mas aqui, não.

E ela sabe como eu fico quando sou desobedecida.

— Não me olhe assim, Camila. — se encostou na sacada, livremente. O movimento do seu corpo para trás fez o hobby se abrir, me dando total visão do seu corpo com a lingerie. 

— Assim como?

Minha pergunta saiu neutra, mas a forma como apertei minhas mãos não negava que eu estava puta pela recusa.

— Com essa cara perdida e raivosa de quem está perdendo o controle das coisas ao redor… — deu mais um gole. — Principalmente da sua mulher.

E riu. Após falar isso, ela simplesmente olhou pra mim e riu.

Dei um passo, com o sangue quente. Ela não ia brincar comigo daquela forma. "Brat", entre minhas ideologias sexuais, era claramente o meu menos favorito. Ela não ia começar com esse joguinho. Meu quarto era o meu reino.

Não havia democracia.

Tampouco duas rainhas.

Da porta para dentro, este quarto é meu império. E eu sou a única monarca absolutista aqui.

— É excitante, minha menina. — perto dela, conseguia sentir seu perfume. Meus olhos subiram dos seus seios até os seus olhos. — Ter você achando que pode mandar me excita muito. — sorrimos juntas, mas logo parei. — No entanto, preciso te lembrar que o controle é sempre meu.

Dar ou receber. Isso pouco me importava contanto que a última palavra fosse a minha.

Meu jeito. Apenas o meu jeito, ou de jeito nenhum.

— Você não está em condições de controlar nada aqui, meu amor. — suas falas me irritavam, só que ela falava com um sorriso no rosto. — Me deixou esperando, sozinha. Quase tomei essa garrafa de vinho toda a sua espera.

— Eu estava-

— Não importa o que estava fazendo. — um ombro do seu hobby caiu, deixando a pele branca e a alça do sutiã exposta. — Conversar com seu ex marido não deveria ser mais importante do que foder gostoso com sua mulher.

— Estou aqui agora, Lauren. — fui firme, voltei a me aproximar. Toquei seu ombro com a ponta dos dedos.

Eu queria ela na cama, deitada, terminando o que não concluiu naquele maldito sofá.

— Vamos voltar pro quarto. — beijei sua carne enquanto lhe ordenava. — Você vai tirar minha roupa. — a ouvi gemer quando meus lábios tocaram seu pescoço. Passei a língua pela área sensível recebendo um aperto na cintura como resposta. Chupei seu pescoço com leveza, apertando os fios da sua nuca. Como eu a desejava. — E vai me foder. Forte e bem gostoso como faz sempre.

Num impulso quente, tomei seus lábios e ela retribuiu com o mesmo desejo meu beijo. Arfei de desejo quando chupou minha língua enquanto nossas bocas disputavam uma batalha de movimentos, de um lado a outro em busca do nosso desejo em comum. Eu apertei seus cabelos contra meus dedos e ela fez o mesmo com a minha bunda, quase erguendo meu corpo contra o dela. Respirei fundo num milésimo intervalo que tivemos entre o beijo, tomando mais fôlego para voltar a beijá-la outra vez. Como era possível, apenas por tocar aqueles lábios com os meus, meu corpo acende como uma explosão de tesão por aquela mulher. Apenas o contato com seus lábios, com o gosto da sua boca fazia a minha boceta se contrair contra o nada e escorrer pelo meio das minhas pernas ansiando o momento em que eu fosse senti-la dentro de mim.

— Pro quarto. — mordi seu lábio inferior. — Vai, me leva pro quarto.

Virei as costas, e ela me puxou outra vez, tomando minha cintura e meus lábios num beijo mais forte que o anterior. Seu corpo tomou impulso e começou a caminhar. Imaginei estar indo para a cama, mas minhas costas com certa brutalidade se chocaram com a parede, o que não me incomodou, é claro. Apenas me causou surpresa.

— Você se esqueceu que não vai ditar as ordens agora, não é?

Lauren me perguntou enquanto segurava meu queixo com o dedo indicador e o do meio. Seu olhar estava sério e ela fielmente estava acreditando naquela loucura. Aquele jogo só podia ter uma vencedora. E não seria ela.

— Você não-

— Shhhh. — me interrompeu, tocando meus lábios com a ponta dos dedos. — Nada de questionar minhas escolhas. — me beijou, fazendo com que meus olhos se fechasse. — Vai, use essa boca linda pra outra coisa.

Nos encaramos em silêncio por alguns segundos e meu coração parou com suas próximas palavras.

— Se ajoelhe para mim.

Eu estava excitada, é claro que estava. Ainda sim, essa garota não tomaria o controle do meu reino para fazer o que bem quisesse. Em quarenta anos eu nunca me ajoelhei para ninguém. Sempre foi o contrário e não mudaria agora.

Sorri ao morder meus lábios. Seus olhos tinham grande expectativa e eu seria a realidade que ela não ia gostar de ter que lidar. Para acabar com aquele circo e de uma vez voltar para a ordem natural das coisas, eu ri. Apenas ri.

— Sua tentativa me deixa num estado que… — fechei os olhos ao respirar fundo. Lidar com todas aquelas sensações em minha boceta não estava me ajudando a raciocinar. — Só que isso nunca funcionou. E nem vai. Não vou ajoelhar pra ninguém.

Sua mão se ergueu mais rápido do que eu podia acompanhar, de encontro ao meu pescoço e me imobilizaram, me causando a gostosa sensação sexual de asfixia. Lauren olhou pros meus lábios e sorriu. Pensei que iria me beijar, mas não o fez. Seus lábios seguiram pela minha orelha, onde antes de falar ela respirou fundo, causando uma série de arrepios em minha pele.

— Ajoelha.

A ordem saiu baixa, lenta e reta. Tão reta que foi como ter me invadido e dado um xeque-mate na monarca que existia dentro de mim. Ela não brincava e isso me excitava mais. Seus olhos estavam sérios e confiantes de que eu a obedeceria e ela… porra, ela estava certa. 

Eu abriria mão do meu reinado por aquela mulher.

Sorri, mais para mim do que para ela. Seguiria seu jogo. Troquei de lugar, encostando na parede. Antes de continuar, me virei para o horizonte e peguei a minha taça de vinho, virando um pequeno gole em minha boca.

Se era me ver rendida que ela queria, era me ter rendida que ela teria. Até a página dois.

— Você é uma delícia assim, obediente.

Obediente. Sorri de canto ao ouvir as doces palavras saindo daqueles lábios moderadamente carnudos na qual eu era apaixonada.

Obediente em minha visão era a última coisa que eu era. Astuta, com certeza. Quem ela era para me achar obediente? Os obedientes se rendem, são submissos e essa palavra há tempo não existe em meu vocabulário pessoal.

Lauren estava ganhando a batalha. A guerra já tinha sua escolhida e era eu.

Ajoelhei, e pelo sorriso que minha mulher deu, ela parecia radiante em me ver naquela posição. A inocência das suas intenções com a mistura da sua falta de malícia dado pela idade não lhe permitia enxergar o que estava realmente acontecendo ali.

Eu nunca perdia. Só aceitava perder quando sabia que ganharia muito mais atrás da falsa derrota. Afinal de contas, me ter ajoelhada para ela era um controlar, para mim, a chave do paraíso que me proporciona muito mais tronos e coroas.

Era eu quem estava tendo a melhor visão, o melhor ângulo da mulher mais bela do mundo.

Quem se deliciaria pelo escorrer da sua boceta, sabendo que era a causa daquela excitação desesperada, era eu.

Eu beijaria aquelas coxas. Eu teria a visão do seu rosto se contorcendo de prazer. Eu, apenas eu.

Como ajoelhar me faria tão derrotada e submissa quando a dona do jogo se beneficiaria de forma colossal daquilo?

Alisei de forma delicada a pele de suas coxas, fazendo sua carne se arrepiar com o leve roçar dos meus dedos. Minhas mãos tocaram a barra da sua calcinha, e num movimento quase sem pressa eu abaixei. Senti seus olhos em mim. Na verdade era difícil não sentir o calor daqueles verdes, mas ela me olhava sozinha. Eu só tinha olhos para o que minha visão alcançava. Uma de minhas mãos tocou sua coxa esquerda, colocando em apoio em cima do meu ombro direito. Exposta para mim e tão bela. Beijei o interior das suas coxas, de lábios abertos e passando a língua em sua carne. Sua mão desceu, acariciando meus fios e apertando-os entre seus dedos. A cada contato que a pele dela tinha para com meus lábios, seu corpo reagia. Pequenos espasmos causados por mim.

Sua mulher.

Subi sem pressa os beijos, chegando em sua virilha e deslizando a língua por aquele percurso. Lauren mordeu os lábios e encostou a cabeça na parede, fechando seus olhos. Eu amava fazer isso. Sentir as diferentes texturas do seu corpo com a minha língua e vê-la reagir a cada contato. Amá-la sem pressa era necessário, excitante, provocador. Hoje eu não conseguiria me atentar tanto a isso. Hoje eu precisava dela. Fisicamente, entregue a mim, disposta a me dar e me proporcionar prazer. Por isso, quando minhas mãos se chocaram ao seu quadril, eu apenas me deliciei afundando minha língua e meus lábios em seu sexo.

— Camila… oh!

Ouvir seus lábios pronunciarem aquele longo gemido delicioso era como música para os meus ouvidos. Que saudades eu estava do seu gosto. Sua mão também reagiu, me puxando e forçando um contato mais bruto da minha língua em sua boceta. A suguei, lambi, chupei de cima a baixo a extensão molhada de sua carne. O gosto de Lauren era suave, adocicado, tão inebriante quanto o vinho que bebíamos em dias frios. Aquecia da mesma forma, da mesma maneira, na realidade me arrisco dizer, melhor. O vinho não gemia meu nome como ela fazia, tampouco inundava meus lábios com o gosto da minha mulher. Sendo assim, eu estava ali apreciando o melhor sabor que existe. E que apenas eu tenho acesso.

Eu aperto seu quadril com a mão livre, e com a outra guio para a entrada de sua boceta. Ela pulsa ao sentir meus dedos entrar, engolindo-os naquela fenda quente e apertada.

— Porra, assim. Oh! Continue assim. — implora entre sussurros. É visível que eu voltei ao meu comando sem sequer ter lutado contra. — Não para, por favor. Não para.

Eu poderia castigá-la. E deveria. Deveria mostrar que no meu quarto, no nosso sexo, quem mandava era eu. Mas deixaria isso para um outro momento. Numa outra razão que eu não estivesse sedenta por fazê-la jorrar ali para mim.

Os movimentos dos meus dedos aumentaram juntos as minhas chupadas. Quanto mais minha língua se movia por seu clitóris, mais ela fazia o seu quadril se chocar contra meus lábios. O som dos meus dedos entrando e saindo, se misturando a atmosfera da cidade e a melodia daqueles lábios que pareciam apenas reconhecer o meu nome como o melhor apelo do mundo. Oh sim, olhe para mim enquanto geme meu nome. Diga para essa cidade ouvir que só a sua mulher sabe te foder como você merece ser fodida. Uma de suas pernas enfraqueceu, e seu corpo apenas não despencou porque eu estava servindo de apoio. Seu quadril tremia em minha língua, forçando aquele contato gostoso. Quanto mais eu chupava, mais molhada ela ficava e melhor meus dedos deslizavam para dentro e fora dela.

— Vou gozar! — sua cabeça foi para trás, seus lábios se entreabriu e sua pele quente se arrepiou. Eu conhecia seu corpo e seus estímulos o suficiente para saber o quão sensível minha mulher estava agora. — Me fode assim, eu quero gozar pra você. Não para, ah! Não para, Camila.

Eu queria que ela me olhasse como eu a estava olhando. Queria que conectasse seus olhos nos meus enquanto gozasse para mim. Queria ver o meu reflexo naqueles olhos cristalinos enquanto seu corpo tremia contra o meus lábios. Quando aumentei meus movimentos, na expectativa que isso chamasse sua atenção e ela me olhasse, tudo o que ela fez foi usar a perna que estava no meu ombro para me puxar para mais perto do seu corpo e me prender ali. Eu sugava seu clitóris e enquanto ela gozava, estimulava seu ponto G com o movimento circular nos meus dedos. Lauren gemia, tremendo contra meu corpo. Minhas outra mão foi segurada por ela, trêmula e suada enquanto seu corpo respondia ao orgasmo.

— Que saudades da sua boceta. — me levantei sendo puxada por ela. Minha boca estava úmida pelo seu gozo então eu sabia o que ela queria.

Me beijar. E assim fez. Envolveu seus lábios nos meus, passando sua língua e limpando tudo o que havia sobrado. Eu amava todos os tipos de beijos que um casal poderia trocar, mas aqueles dados após uma chupada eram de longe os meus favoritos.

— Ainda não acabamos. — ouvir aquilo era música para os meus ouvidos. Ela move seu lábios para a pontinha da minha orelha e mordisca antes de continuar. — Agora você-

— Shhh. — sussurro próxima aos seus lábios. — Agora é a hora que eu volto a fazer o que eu quiser. — sua mão aperta minha bunda enquanto eu falo. Ela não se opõe e tampouco parece querer lutar. — Foi divertido ter sua mulher submissa assim? — seguro o seu rosto com uma só mão. Ela tenta me beijar mas eu recuso. — Oh não, pra que tanta pressa agora? Temos o restante da tarde livre. Quer gozar pra mim? — assente. Em seus olhos consigo ver o desejo por me ter outra vez.

Eu não tenho nenhum pouco de delicadeza e paciência quando a puxo para dentro do quarto. Meu desejo por ela escorre por minhas pernas e minha boceta mal pode aguentar para senti-la em mim. Eu a empurro, com um pouco de brutalidade. Lauren cai na cama e seu corpo é abraçado pelo edredom branco. Ela ainda está sem calcinha. Sua boceta brilha pelo líquido que por ela escorre. Eu admiro sua imagem em minha cama. Os cabelos jogados formando um único ponto negro, o hobby aberto. Seus seios ainda cobertos pelo sutiã e sua boceta lisa pronta para mim outra vez.

Arranco meu vestido do corpo. Ela ergue a cabeça para capturar aquele movimento. Só estou de calcinha e seus olhos se fixam em meus peitos. Eu amo quando ela me encara como se eu fosse uma pintura recém descoberta por aqueles olhos iniciantes no mundo da arte. Há sempre paixão, curiosidade, tesão de descobrir e explorar mais. Me sinto a mulher mais desejada que já pisou na terra por saber que meu corpo causa em minha mulher a mesma reação que a primeira vez.

— Você é deliciosa. — ela diz quando o peso do meu corpo cai sobre ela.

Seus lábios vão diretamente em meus seios. Eu fecho os olhos apreciando sua língua girar sobre meus mamilos endurecidos pelo tesão que ela me causa. Ela chupa, lambe, e arrasta os dentes maltratando de forma deliciosa aquela pele fina. Jogo minha cabeça para trás, me deliciando com a sensação de ser chupada por ela. Meu quadril se move contra o seu, buscando o contato e prazer contra seu corpo. Lauren agarra minha bunda quando move sua boca pro outro seio. Eu contraio meu quadril mais forte contra sua boceta, arrancando da sua garganta um gemido abafado por minha carne. Ela me dá um tapa na bunda. Estralado e certeiro. Minha pele reage num arrepio quente e minha boceta pulsa pela dor que se forma na área então eu só desejo senti-la mais. Minha calcinha está encharcada pela minha excitação e por seu gozo que escorre. Minha mão move para suas costas e tiram seu sutiã com facilidade. Acaricio e pressiono seus mamilos com a ponta dos dedos. Minha boca deseja senti-la também. É a minha vez. Deslizo minha língua em seu seio sentindo o gosto fresco da sua pele. Está tão quente e tão gostosa. Os seus peitos são uma das minhas partes favoritas em seu corpo.

 — Tira essa calcinha. — ela pede me interrompendo, enquanto sobe os beijos por minha clavícula. — Oh, eu preciso sentir você.

— Não vou tirar. — respondo decidida e pressiono meu corpo contra o seu outra vez. — Não está me sentindo o suficiente? — seus olhos se fecham pelo prazer que compartilhamos. — Não consegue sentir sua mulher enquanto ela rebola pra você?

— Ah… — arfa enquanto eu continuo minhas provocações. — Tira essa calcinha, Camila.

— Eu não vou, OH! — meu gemido sai como um grito. Eu mordo meus lábios e sorrio olhando em seus olhos pelo tapa mais forte que recebi. — Más fuerte. — inclino meu corpo no seu enquanto sussurro. — Sabes que me gusta muy fuerte.

O tapa dessa vez acerta minha cara, me fazendo escorrer mais. Eu quase rolo meus olhos pelo prazer me dado, mas minha mulher avança sobre meus lábios e me beija com ganância. Sua mão entrelaça nos fios da minha nuca tornando o beijo mais fugaz e quente. Língua, chupadas. Aquele tipo de beijo gostoso que só o amasso sexual nos proporciona. Aquele onde quero fazer de sua boca e a minha apenas uma. Minha bunda queima e sente cada dedo de duas mãos fazerem minha pele formigar e igualmente minha face naquele momento.

Sua mão apalpava minha bunda, me trazendo para mais perto do meu corpo. A outra desce por minhas costas e suas mãos se encontram na minha calcinha. O que ouço a seguir é o barulho da fibra do tecido ser rompida pelo rasgo que Lauren dá. Entreabro meus lábios, fraca com aquela cena. Seus olhos me encaram como se me desafiasse. Ela acha que recuperou o controle da situação. Nua sobre ela, estamos ofegantes e cheias de desejo pelo corpo uma da outra. Só a atmosfera daquele quarto é capaz sozinha, de me fazer gozar.

— Sei o que está pensando agora. — eu pego suas mãos e as prendo por cima da sua cabeça.

— Oh!!! — gememos juntas quando eu sento sobre sua boceta quente.

— Pensa que só porque consegue me controlar às vezes, vai ditar as ordens por aqui? — minha voz sai fraca enquanto me movo sobre ela, mas eu ainda consigo falar. — Que consegue fazer o que quer de mim e ah… confesso que isso é delicioso às vezes. — eu falo próximo a sua boca e ainda assim não permito que ela me beije. — Me diz, quem te faz gemer assim? — rebolo entre suas pernas e seu corpo reage. Ela não tem controle de nada naquele momento. — Quem consegue te deixar escorrendo? — acelero meus movimentos sobre ela. — Fala, fala pra mim, Lauren! Quem é a sua dona?

Oh, não!!! — o pouco controle que ela tem no corpo, ela usa para me negar. — Eu não tenho dona nenhuma. — e sorri tão facilmente quando diz aquilo. — Só pertenço a mim mesma.

Meu corpo ferve e dessa vez não é pelo tesão acumulado. É ódio, ira e boas pitadas do bom e velho ego ferido. Minha mão desce e segura em seu pescoço, segurando com firmeza. Lauren sorri outra vez enquanto sua face se contorce em prazer. Com minha outra mão eu elevo um pouco sua perna e com mais espaço consigo encaixar mais nossas bocetas molhadas. Eu fraquejo e sinto minha visão falhar. É tão fácil sentir ela por inteiro agora. Suas mãos apertam o travesseiro onde ela apoia a cabeça. Eu deito meu corpo sobre o seu e olho nos seus olhos. Ofegante e com a voz tomada por aquele prazer quente, eu repito a pergunta.

— Fala pra mim ouvir. — mesmo fraca, ainda consigo ser firme com minhas palavras. — Ahhhh, diga para mim quem é sua dona.

Estamos molhadas, deslizando sobre a outra e quente. O som que nossas bocetas fazem ao se tocar é arrepiante e torna aquele momento ainda mais delicioso. Uma das minhas posições favoritas. Sentir o corpo de uma mulher com o seu, na mesma sintonia. É fervente a sensação. Quente como uma febre que te faz pedir por mais e mais. Aperto mais meus dedos ao redor do seu pescoço, esperando a resposta. Ela fecha os olhos. Sei que está quase gozando então eu intensifico mais meus movimentos. Seus gemidos se tornam mais intensos e desesperados, mas ela não vai se dar ao luxo de gozar assim. Não sem olhar nos meus olhos e dizer.

— Quem é sua dona, Lauren? — seus olhos vacilam e se fecha outra vez. Eu pressiono nossos corpos e mais que o possível, nossas bocetas se encontram e deslizam uma contra a outra. — Oh, não. Olhe pra sua mulher enquanto ela está gozando pra você.

Eu ordeno e aperto mais meus dedos, deixando apenas um espaço livre para que ela consiga falar e gemer. Lauren abre os olhos. Está fraca e eu sei. Está quase gozando e eu sinto, e por isso eu acelero meus movimentos. É torturante para ela manter aqueles belos olhos abertos enquanto seu corpo recebe prazer e eu sei. Normalmente eu não ligo e até acho lindo a forma como ela precisa se desligar do mundo para gozar. Mas hoje não. Hoje eu quero que ela goze olhando nos meus olhos e dizendo que eu sou a única dona do seu prazer e do seu corpo.

— Quem é sua dona?

Dessa vez a minha voz sai fraca, inundada pela sensação que cresce em meu ventre. Meu corpo se arrepia quando sinto o orgasmo me atingir. A sensação se torna insuportavelmente deliciosos e ter a minha mulher olhando em meus olhos enquanto goza comigo… Ah, isso não tem preço.

— Camila… — ela é forte, mas responde a minha pergunta da forma como eu queria. Gemendo gostoso o meu nome por aqueles lábios avermelhados. — Camila, ahhhh! — continua e aquilo é música para meus ouvidos.

Nosso corpo sintoniza a mesma vibração. Gozar juntas me deixa fraca, em paz e ao redor tudo parece desaparecer, deixando em meu foco apenas a minha mulher abaixo de mim, se derramando em prazer e permitindo que eu sinta tudo por sua boceta quente. Aos poucos eu vou diminuindo, parando meus movimentos. Os espasmos pós-orgasmo ainda estão presentes em nosso corpo. Deito minha cabeça sobre seu ombro e ela me envolve num abraço. Nosso coração bate no mesmo ritmo. Estamos ofegantes e respirando constantemente para equilibrar todas as sensações no nosso corpo.

Saudades.

O sexo com saudades é um dos melhores e não haveria ninguém no mundo a me convencer do contrário.

Beijo seu rosto e a sinto sorrir. Suas mãos deslizam pelas minhas costas, desenhando os ossos da minha coluna. Aquele momento íntimo que eu aprecio e sequer estou falando do sexo. Quando ia sair de cima do seu corpo, senti suas mãos me pararam e aquele olhar obsceno de minha mulher me mostrou que a nossa tarde não acabaria ali.

Ainda bem por isso.

Selei nossa boca por um instante, parando para lhe ouvir. Aquelas bochechas rosadas não negavam o desejo dos lábios por expor uma vontade.

— Pode falar. — acariciei seu fios negros jogados pelo travesseiro.

— Como sabe que eu quero falar alguma coisa? — sua voz saiu quase um sussurro. Exausta, excitada e tímida com minha pergunta. Deliciosamente fraca.

Me enlouquecia o fato que nossa transa a deixava assim. Fraca. E fraca por mim.

— Como eu não saberia?

Deixei meu corpo cair sobre o seu outra vez. Ergui sua perna, separando-as novamente, fazendo nossas bocetas encharcadas e sensíveis se tocarem. Lauren fechou os olhos e entreabriu os lábios, soltando pela pequena fenda da boca um suspiro trêmulo.

— Camila… — meu nome soa por seus lábios outra vez. — Oh, que boceta gostosa. Porra…

— Como eu não saberia conhecer minha mulher? — Sussurrei em seus lábios, quase por gemer também.

Me movimentava devagar, para frente e para trás, deslizando contra ela. Estávamos suadas, quentes. Do jeito que eu amava. Duas amantes que viravam apenas lobas entre aqueles lençóis.

— Lembre-se de quantas vezes você entregou esse corpo para mim, nessa mesma cama. — fechei os olhos, sendo tomada pela onda de prazer que sua boceta me dava. — Nesse quarto. Oh, Lauren, nessa casa inteira. Quais paredes não te ouviram gemer o meu nome? Como acha que eu não saberia que você precisa de algo agora?

— Oh! — aqueles olhos enfraquecidos pela sensação gostosa se abriram, e então ela me olhou. — Eu quero tentar.

As palavras tímidas, porém certas me fizeram parar. Pisquei algumas vezes para que minha visão focasse naquele rosto vermelho e excitado. Havia tanta certeza em suas palavras que seus olhos ainda estavam nos meus.

Ela queria tentar.

Para alguns, uma simples frase com infinitas possibilidades.

Para mim… ah, eu tinha acabado de ganhar o meu dia.

— É o que estou pensando? — segurei em seu queixo. Lauren apenas afirmou em silêncio. — E isso foi de repente?

Negou ofegante.

— Eu pensei nisso há um tempo e não tive coragem de pedir.

— Deveria ter pedido. Sabe que eu não negaria nada a você, principalmente algo assim que também seria negado a mim.

— Podemos fazer? — mordiscou os lábios. — Eu quero realmente tentar. Agora.

— A-gora? — não pude deixar de não gaguejar. — Você sabe que isso não funciona dessa forma tão espontânea. Tem que ser algo combinado antes.

O sexo anal diferente do vaginal, não era resolvido da mesma forma. Não existia meios seguros e limpos de estar numa foda e de repente querer experimentar essa coisa nova. Não mesmo. Havia todo um preparo da pessoa que receberia. Mentalmente e fisicamente.

Fisicamente então… era primordial.

— A gente pode tentar outro dia sem nenhum problema e-

Suas mãos tocaram meus lábios, interrompendo minha fala. Lauren sorriu, se aproximou bem perto da minha boca.

— Eu resolvi tudo enquanto você estava lá embaixo, se é isso que está te preocupando.

— Resolveu? — meu sorriso estava estampado na minha boca. De orelha a orelha. — Então você está realmente decidida a isso?

Gentilmente me empurrou, fazendo que eu ficasse sentada na cama e se virou. De bruços, em minha direção. Aquele corpo nu, entre meus lençóis. Lauren pegou a minha mão e passou pela carne macia de sua nádega, fazendo minha boceta reagir apenas com aquilo. Porra.

— Se eu deixar mais claro, só se eu desenhar. — o cabelo caindo como uma cascata por suas costas era o charme. — Hoje você vai me foder por trás, como há tanto tempo quer.

O suficiente para me fazer pegar fogo.

Respira, Camila. Não vá com tanta fome ao pote. É a primeira vez dela. Delicadeza é a palavra. Não temer, é a frase.

Me levantei, indo em direção a gaveta onde eu guardava alguns dos meus brinquedos.

Lubrificante, ok.

Preservativo, ok.

Dildo sem cinta, duplo e em L. Ok.

Michelangelus não falhava nunca. Era engraçado, eu confesso. Meu amor pela arte falava mais alto até na hora do sexo. E porque não misturar? Para mim, fazia todo sentido. Existe expressão artistica mais bela do que um bom sexo feito por duas mulheres? Livre, sem cinta marcando a cintura, sem amarradas. Livre como Lauren e eu na nossa casa. Para fazermos o que bem queríamos. E duplo. O prazer que entregaria para ela, voltaria para mim, direto e reto ao meu ponto 

— Oh, como eu ia me esquecendo.

Abri a gaveta outra vez, trazendo um pequeno tubo de óleo nas mãos. Lauren cerrou os olhos e inclinou um pouco o corpo, me fitando confusa.

— Para que você precisa disso? — a jogada de cabeça se referia ao óleo. — Lavanda? Você não vai usar isso pra deslizar melhor, não é?

Não era possível!

— Deita. — ordenei antes que ela voltasse com suas perguntas.

— Primeiro me responde pra-

— Mandei você deitar.

Pedi firme e ela obedeceu. Sentei no meio de suas coxas e prendi seu cabelo num coque despojado, apenas para que não entrasse em contato com o óleo.

Esfreguei um pouco nas mãos e em seguida passei em meus seios. Mais um pouco nas mãos e logo, iniciei uma massagem leve por seus ombros.

— É sua primeira vez. — eu falei ao estar próxima do seu ouvido. — Mais além do sexo, quero que você relaxe para que esse momento seja agradável e tranquilo. — Me inclinei para beijar sua bochecha. Eu amava seu cheiro. — Quero que confie em mim. Quero que saiba que tudo o que eu fizer daqui em diante é para o seu prazer. E você pode me dizer caso não queira mais, e paramos. Entendeu?

De olhos fechados, ela respondeu.

— Acho que sim.

— Nada disso, minha menina. — sorri, expressando uma baixa gargalhada. — O que eu te ensinei, hum? Tudo é um não, até que o sim seja óbvio. Eu só irei prosseguir quando não houver dúvidas de que você está consentindo nesse momento. Você ainda quer?

— Eu quero.

Sorri, dando outro beijo em sua bochecha, agora mais perto do lóbulo de sua orelha. Apenas isso a estava relaxando.

— E vai me avisar se no meio do ato não quiser mais, não vai?

— Vou. Eu vou avisar. — respondeu.

Mais aliviada, voltei a me sentar sobre suas coxas. Óleo, minhas mãos deslizando por suas costas e descendo aos poucos por seu quadril. Eu ia arrastando sua tensão como um rodo expulsando a água. Para que esse momento fosse agradável, ela precisava estar assim. Era a primeira vez que iria experimentar o sexo anal, e longe de mim querer causar algum desconforto ou trauma na minha mulher. Minhas mãos chegaram até a sua bunda, apertando o soltando a carne de suas nádegas entre os dedos. A pele branca que facilmente ficava marcada por qualquer contato mais forte. Deslizei meu corpo. O óleo em meus seios facilitou. Ainda com minhas mãos em sua bunda, eu beijei de cada lado. De leve, apenas um roçar de lábios que a fez reagir e arrepiar.

De todas as curvas que eu apreciava em seu corpo, a bunda era o que eu mais amava. Nem grande, nem pequena. Tamanho ideal, e ainda sim volumosa num nível adaptável para seu corpo. Mais beijos. Adorá-la nunca seria demais para mim.

Peguei o travesseiro e forcei seu quadril a subir.

— Coloque embaixo de você. — ela o fez.

Embora ter a minha esposa de quatro me enfraquecesse de tão linda, atraente e sensual, eu não seria irresponsável em fazê-la ter a primeira vez anal numa posição como essa. De quatro e anal era apenas para quem estava muito acostumada. Com muita prática. Eu adorava, e quando fazíamos ela sabia agradar como ninguém, mas agora era o contrário. Não havia pressa. De bruços era o suficiente para mim. Sua bunda levemente mais empinada, e se ela abrisse as pernas um pouco como eu a fiz fazer… respire, Camila.

Ah, porra. Isso era lindo. Eu conseguia admirar sua boceta, brilhando e escorrendo de tão molhada pelo orgasmo que teve ainda há pouco.

Minhas mãos voltaram a caminhar por suas coxas, deslizando até a panturrilha. Eu precisava fazer meu toque chegar até os pés. Muitos não sabem a importância de não parar a massagem em qualquer lugar. Elimine a tensão na extremidade do corpo.

Preservativo. O dildo de silicone aveludado era delicioso sem, no entanto para sexo anal a segurança vinha em primeiro lugar. Abri a pequena caixa e escolhi o de embalagem dourada. Mais fino, porém mais lubrificado. Tudo para que ela experimentasse o melhor dessa experiência nova.

— Tudo bem? — pergunto mais uma vez, ao me posicionar entre suas coxas. Aliso seus cabelos. Lauren parece calada. — Você parece cansada.

— Pensei que você fosse me foder, amor. — seu tom de voz manhoso me faz rir. — Essa massagem me deixou com sono.

— Nada disso. — deitei em seu corpo apenas para beijar sua bochecha. — Eu não vou deixar a minha mulher na expectativa.

Ela apenas sorri, e nem precisa dizer nada. Eu conheço aquele sorriso de canto, aquela sobrancelha erguida. Se ela estava relaxada ao ponto de estar com sono, definitivamente aquilo não a acompanhava mais.

Eu pego a menor parte do dildo e abro minhas pernas, encaixando devagar em mim. A sensação sempre me arrebata, arrepia e eu preciso de uns segundos de respiração para não me concentrar tanto na onda de prazer que se choca contra meu corpo. Lauren está com a cabeça virada, olhando pra mim com ar de desejo. É a sua vez agora.

Pego o tubo de lubrificante e o abro, espalhando pela extensão do dildo.

— Você vai estranhar, pois é uma sensação diferente. Para uns é bom, para outros doloroso. Comigo é a mistura dos dois. Como experimentar o céu e o inferno no mesmo prato.

Sem aviso prévio, dois dedos meus escorregam por sua boceta. Lauren geme, de prazer e surpresa com aquele repentino contado. Percebo pela pele de suas costas que sua carne arrepia. Meus dedos estão úmidos pela sua lubrificação, mas para mim a quantidade não é o suficiente. Deslizo um pouco mais, saindo de sua entrada e alcançando seu clitóris que lateja em contato com meus dedos. A estimulação é leve, suave, apenas para lhe provocar. Seu quadril se empina mais para mim e eu vou ao inferno com a visão que tenho de sua deliciosa boceta. Na posição que ela está consigo enxergar cada detalhe que me alucina em minha mulher. Eu sou apaixonada por cada um deles. É inevitável não penetrá-la. Meus dedos querem sentir sua boceta quente escorregar por eles. Deito por cima do seu corpo e colo minha boca ao seu ouvido. Nossa respiração está ofegante que posso gozar só com aquilo.

— Eu amo a sua boceta. — empurro mais forte, fazendo seu corpo dar um pequeno espasmo e seu grito ecoa pelas paredes do nosso quarto. — Eu amo o que ela é capaz de fazer com meus dedos. Fodê-la é delicioso e suficiente para me deixar molhada por você.

— Não para. — ela suplica entre seus gemidos quando rebola entre meus dedos. — Faz o que quiser, mas não para.

E é óbvio que eu paro. Por mais que minha vontade seja de vê-la gozando e molhando nossa cama outra vez, esta não é a meta da noite. Sua respiração está descompassada. Ela move a cabeça para trás à medida que eu tiro meus dedos dentro dela. Estão melados, não apenas úmidos.

Minha boca se enche d'água e a tentação de não lamber até a última gota me corrói. É um bem necessário e aquela lubrificação será útil. Ajeito sua postura na cama. Agora suas pernas estão abertas o suficiente para que eu possa me encaixar entre elas. Ela não está de quatro, mas está empinada na cama. Consigo enxergar tudo e preciso me concentrar para não fraquejar. Isso que dá ser alguém tão visual no sexo. Eu movo meus dedos contra sua boceta outra vez e a sinto rebolar por eles. Encharcados, eu os guio até a outra entrada. O contato faz seu corpo reagir e dar uma pequena tremida. Lauren se relaxa em seguida. É importante para mim que ela esteja bem lubrificada, então eu espalho bem. Ainda não é o bastante mesmo que ela esteja bastante molhada por fora. Eu pego o tubo outra vez e aplico a mesma quantidade no dildo. Me aproximo mais. Uma mão em seu quadril, outra na base do dildo.

— Eu vou começar agora. — informo. — Vou ir devagar, no entanto sem pausas. Preciso que me avise sobre qualquer desconforto.

Ela assentiu, concordando. 

A ponta do dildo toca sua carne. Eu preciso de precisão agora. Empurro contra o orifício apertado. A vejo pressionar o lençol com os dedos e um som ardente escapa por seus lábios. Como prometido, vou devagar e sem pausa. Se eu parar, será pior. A cada momento em que ela é invadida pelo dildo seu corpo se arqueia, sua respiração se desregula. É uma imagem deliciosa tê-la assim.

— Ah! — ela arfou quando deito sobre seu corpo.

Estou totalmente dentro dela agora, pronta para lhe oferecer o outro lado do prazer.

— Você está bem? — sussurro preocupada, esperando sua resposta.

Seus olhos estão quase fechados. Sua mão  ainda aperta com força o nosso lençol. A respiração está audível e pesada. Conheço os sinais, reconheço o que ela está sentindo agora. É confuso, ardente e ainda sim excitador. Preciso dar um tempo para que seu corpo se habitue.

— Estou. — sua voz sai baixa e manhosa — Isso é… não sei… Difícil de descrever.

— Relaxa seu corpo. — eu sugiro, deixando um beijo nas suas costas. Movo um pouco meu quadril, causando um choque de prazer nas duas. — Oh. Solo disfruta este momento.

Volto a ficar na posição inicial. Minhas mãos estão apoiando seu quadril. Me movo outra vez, devagar, iniciando os movimentos de vem e vai dentro dela. É inevitável não ouvi-la. Agora seu gemido além de prazer carrega um pouco de dor. Não a ruim, aquela dor gostosa de sexo. Me concentrar em ouvi-la, foder aquela bunda gostosa e receber o prazer da parte do dildo que estava dentro de mim seria difícil, mas nada era impossível para mim. A imagem de tê-la assim, entregue, empinada. Movo meu quadril sem pressa. Quero que ela sinta tudo com calma, aprecie cada instante daquele momento. Suas costas arqueiam cada vez que nossos corpos se encontram. Esse encontro… ah! Como descrever além das palavras: delicioso? Impulsionar meu corpo contra o seu faz o dildo dentro de mim atingir em cheio o ponto sensível. Pelo recém orgasmo, cada estocada firme é uma onda de prazer que me invade. Eu jogo a cabeça para trás enquanto saio e entro nela.

— Mais perto. — ela pede, quase implorando por aquilo. — Quero te sentir, Camila. 

— Ahhh… Lauren!! — afasto seu cabelo e é inevitável não gemer próximo ao seu ouvido. — Está doendo? Diga pra mim.

Sua cabeça está encostada no travesseiro. Ela tem os olhos semi fechados e os lábios abertos, soltando pequenos sons. Tudo o que ela faz é concordar, afirmando minha pergunta.

— Oh, e você quer que eu pare?

— Não! Não para, Camila. — de repente ela sorri. Morde os lábios e sorri outra vez. — Só me fode. Me faz gozar… ohhh! Quero gozar outra vez.

Eu conheço os meus limites e reconheço os sinais que seu corpo dá também. É sua primeira vez e ela não iria gozar assim. Quero dizer, ela não iria gozar apenas com isso.

Eu chupo meus dedos do meio, umidificando o suficiente para que deslizam ainda mais por sua boceta. Minha movimentação sobre seu corpo faz com que o seu acabe impulsionando para frente. Nossas bocas soam gemidos de prazer versus dor e enquanto ela chama meu nome outra vez, eu consigo passar minha mão por baixo e chegar a sua boceta.

— Oh, isso! Isso! Isso! — ela reage da forma como imaginei quando eu começo a estimular seu clitóris. — Caralho, assim! Ahh, me fode assim.

Eu inicio movimentos rápidos, mas leves enquanto meus dedos massageiam seu nervo inchado e endurecido. Nossos corpos estão quentes, suados e deslizam um no outro. Acelero o movimento dos meus dedos e desço até sua entrada para umidificá-los mais. Suas mãos apertam os lençóis e ela quase grita enquanto eu a fodo daquela forma.

— Que bunda gostosa você tem. — arfo em sua orelha. — Sente como sua boceta está apenas por eu foder ela? — acelero meus movimentos nos dedos causando em minha mulher uma série de movimentos involuntários. — Oh, sim, Lauren!! Oh sim… Goza pra sua mulher, goze pra mim. Eu quero te sentir gozando em meus dedos.

Sou tomada pela sensação do orgasmo outra vez e enquanto estoco, seu corpo paralisa embaixo do meu. Lauren geme, arfa, treme abaixo de mim e eu sinto sua boceta se contrair embaixo dos meus dedos, ficando mais molhada. Ela está ofegante, exausta e o tronco relaxa a seguir. Respira fundo como se lhe faltasse ar nos pulmões. As costas sobem mostrando o quão fraca ela está pelo orgasmo recente. Eu relaxo meu corpo em cima do seu, juntando nossas mãos e acariciando sua pele. Mostrar que estou ali é importante.

Me movimento e consigo desencaixar a parte do dildo que estava dentro de mim. Está encharcado como imaginei que estaria desde a primeira vez que imaginei ter Lauren nessa posição.

— Escute. — acaricio uma de suas negadas. A área está avermelhada pela estocada e meus apertos. — Eu vou tirar agora, tudo bem? Continue relaxada.

Com as mãos firmes eu envolvo o dildo. Para tirar, a mesma coisa que para introduzi-lo. Sem parar e devagar. Quando o brinquedo começa a sair ela curva um pouco o corpo e eu a seguro para que não se machuque. Ele sai por completo e eu me levanto, tirando o preservativo e indo até o lixo do banheiro para descartá-lo. Volto para o quarto e minha mulher está na mesma posição. Quero tê-la pertinho de mim naquele instante, por isso quando me deito, puxo seu corpo para cima do meu. É quase como mover uma boneca de tão mole que ela fica quando goza. Maleável e caidinha, se recuperando.

— Mi cariño? — a chamei.

Minha parte favorita no cuidado pós sexo, era ter minha mulher rendida e relaxada nos meus braços, e assim ela se encontrava naquele instante. Deitada de bruços, entre minhas pernas e com a cabeça apoiada na minha barriga. Seus cabelos estavam jogados pela minha pele, fazendo pequenas cócegas todas as vezes que ela respirava mais fundo. Era um bom momento de silêncio, mas eu estava preocupada também.

— Lauren, está tudo bem? — perguntei outra vez. Puxei seu rosto para minha direção. — Olhe pra mim, minha menina. Você está machucada?

Seus olhos se abriram preguiçosamente e ela os piscou algumas vezes. Negou, me tranquilizando com um sorriso gostoso.

— Não. — voltou a fechar por alguns instantes, expressando em seus olhos uma face sem vergonha. — Estou bem, amor. Foi maravilhoso.

— Tem certeza que não te machuquei? — estava realmente preocupada. Tirei os fios de cabelo do seu rosto. — Pode me falar.

— Não martela sua cabeça com isso, tá bom? — pegou minha mão e beijou as costas, fazendo uma carícia na área logo após. — Eu adorei. Não como algo que eu vou querer sempre, é claro. — rimos juntas. — Talvez eu fique dolorida pelas próximas horas também, mas eu juro, nada que precise de preocupação. Obrigada pelo seu zelo.

— Pode ter certeza, você vai ficar muito dolorida. — precisava ser sincera. — Promete me contar se algo de errado acontecer? — sorri, alisando o cabelo dela.

— Prometo, amor. Eu prometo. — repetiu, se rendendo. 

Lauren sorriu de volta, agarrando as minhas coxas. Continuei acariciando seus cabelos enquanto suas mãos iniciaram uma corrida de dedos bem carinhosa pelas marcas que tinha em minhas pernas. Gentil, dócil e delicada. As mãos suaves desenhavam as estrias desenhadas em minha pele. Como toda mulher insegura com o corpo, eu me recolho e tiro sua mão. Isso parece preocupá-la e frustrá-la também.

— Desculpa. Te deixa desconfortável meu toque?

— O seu toque nunca. — a tranquilizo. — Insegurança de mulher, você sabe. Essas marcas no meu corpo. A gravidez e o vício que me faziam engordar e emagrecer a cada recaída me deixaram como um mapa, cheia de linhas fininhas ao redor do corpo.

Ela torce os lábios e permanece séria.

— Sabia que nenhum mapa é criado "por nada"? Todos, absolutamente todos, tem alguma finalidade? Com licença. — ela volta a passar a ponta dos dedos, seguindo as cicatrizes da pele enquanto fala. — Seu corpo, é a sua história. Cada marquinha que você odeia, é um capítulo da sua trajetória. Cada marquinha que te deixa insegura, fala um pouco mais sobre sua jornada até aqui. Você cresceu, seu corpo se desenvolveu na adolescência, gerou uma criança. Tem história em cada uma dessas linhas.

— Eu não gosto.

Ela sorri um pouco e guia seus lábios até a área do meu corpo, dando pequenos beijos. Não há malícia entre essa troca de energia. Apenas amor. O gesto me derrete, me faz querer explodir. Sinto que todas as borboletas em meu estômago criam vida e querem sair por minha boca. É um momento lindo, singelo e sincero. Meus olhos se enchem, e meu corpo recebe amor por aquela boca que me oferece beijos e palavras tão doces.

— Não fale assim. — ela engatinha aos poucos. Seus dedos continuam o percurso e ela beija cada marca que encontra. — Você é arte. Você é história. Não seja cruel com os detalhes que te fazem única. Não quero ser indiferente às suas inseguranças, certo? O que quero é que entenda que nada disso tira sua beleza pra mim. Eres la mujer más hermosa del mundo para .

Seguro em seu rosto, mirando aqueles olhinhos por um tempo, percebendo o quão sortuda sou. Ela é tão gentil, doce e minha. Meu coração se preenche e eu a puxo pro meu colo, deitando em meus braços como se o mundo estivesse desabando e ela precisasse do meu abrigo.

— Obrigada por amar até minhas inseguranças.

— Eu amo tudo em você, Camila. — selou nossos lábios e olhou para minha boca. — Menos quando você coloca defeito nesses dentinhos lindos.

— Oh não. — eu rio, cobrindo minha boca. — Eu odeio esses malditos dentes tortos. Você é louca por enxergar beleza nesse sorriso.

— Eles são o que mais gosto. — ela não sorri com a boca quando diz isso, mas seus olhos transparecem tanta doçura. — Seu sorriso é o que me torna mais forte em dias difíceis. Não são apenas bonitos. Significa muito pra mim. — sinto seus dedos acariciarem meu queixo.

Naquele momento tão íntimo, eu percebo o quão loucas as pessoas que não almejam isso para suas vidas são. Não me entenda mal, não estou dizendo que a felicidade e plenitude de um ser depende de outro ser humano. Em muitos momentos eu fui radiante sozinha e não há nada que goste mais do que ter a minha individualidade e privacidade, contemplar também meus momentos de solitude. Só que… ah! Isto o que tenho é tão magnífico.

Uma pessoa.

Não, não apenas uma pessoa. A minha pessoa. A pessoa mais extraordinária que a vida colocou em meus braços. Minha pessoa favorita no mundo.

Por muito tempo eu conquistei cada degrau desse mundo sozinha, e hoje não é diferente. Apenas meus pés podem me mover ao topo, no entanto, ter a mão da minha mulher me segurando, ter sua alma me fazendo companhia e a certeza do seu colo quando eu fraquejo, caio e preciso contar os degraus novamente. Isso não tinha preço.

Eu era rica. E o dinheiro era o menos importante nesta narrativa. A minha mulher era valiosa. Era a minha preciosidade. Um diamante bruto que se auto lapidava todos os dias.

A pessoa que eu tive que esperar anos para conhecer e sinto amar desde o primeiro momento. Quem diria? Depois de um casamento e de um divórcio dolorido, o amor sorri pra mim com um jeito espontâneo, puro e brincalhão de uma mulher que por mais que a vida tenha que lhe dado porradas, encara o problema como uma criança: suave e leve.

Meu medo é ir dormir sem mostrar a ela todos os dias o quão importante é. E não apenas para mim. Para a vida. A vida precisa de pessoas assim. Parte de mim deseja que todos tenham uma Lauren para si. A outra parte sorri, agradecendo por essa sorte ser só minha.

Diante daqueles olhos verdes e inocentes, daquele corpo e alma nu, eu percebo só agora.

Não importa quanto tempo tenha passado para mim e a temida idade tenha chegado. Quarenta, cinquenta, sessenta. Não importa. Com ela eu posso deixar os meus medos de lado e não preciso vestir a capa de mulher madura e destemida. Com Lauren, eu me sinto uma eterna menina.

— Você é amor da minha vida. — beijo a pontinha no seu nariz e ela o franze, agraciada pelo o carinho. — Eu te amo, Lauren.

É a última coisa que digo antes de encaixar nossos lábios com doçura e calmaria. Eu só preciso beijar a minha mulher.

• POV Lauren Jauregui •

Calça pantalona, cropped e blazer. Todas as peças pretas, trazendo a tradicionalidade para a cor que eu tanto amava, ainda sim, me ver vestida tão elegante mostra como o tempo foi bom para me ensinar certas coisas.

O tempo: Minha esposa.

A mulher que dizia que até para fazer exercícios era bom estar apresentável. Qualquer ocasião era um bom momento para se estar elegante. Esse era seu lema.

Com o tempo foi impossível não pegar alguma de suas manias. Eu ainda era totalmente adepta a camisetas de banda, de time, ou um visual mais despojado quando ficava em casa, no entanto quando eu precisava sair me transformava num projeto Camila Cabello da moda. Hoje em dia eu nem peço mais a sua ajuda, o que já é motivo de orgulho para ambas.

Meus fios estavam a apenas um palmo de distância da minha bunda. Cabelo grande era minha essência favorita em mim. Poder jogá-lo de um lado pro outro, modelar de mil e umas maneira. Essa semana o liso escorrido era minha finalização favorita. Pouco trabalho e ainda sim, muita sofisticação. Estava pronta. Maquiagem preta e marcante nos olhos. Batom vermelho, mas um tom fechado. Perfumada também. Nem é preciso dizer que pra quem cheirava apenas a sabonete no passado, agora era apaixonada por marcas famosas de perfume. E adivinha quem me ensinou? Se pensou na minha esposa, está certo.

Abro a gaveta da mesa de cabeceira que fica do meu lado da cama e pego alguns anéis. Distribuo por meus dedos e quando acabo, meus olhos batem na fotografia da minha mãe. A foto pertencia a Sofia. Anos se passaram e acreditar nessa coincidência do destino é bizarramente acolhedora pra mim. Pego a foto. Minha mãe está rodeada de alunos na sala de aula e sorri transparecendo alegria. Uma das crianças é minha cunhada, pequena e com cara de arteira. Ela gruda na minha professora preferida como se a mesma fosse fugir.

Segundo as palavras de Sofia, uma ótima professora. Doce e rígida na mesma proporção, apenas buscando o melhor para todos os alunos. Minhas memórias com ela sobressaem uma mulher mais pulso firme. Eu não deveria ser uma criança muito calma também, rio sozinha. Sinto saudades deles. Às vezes eu queria ter mais memórias.

É inevitável não pensar em como estaria minha vida se eles dois estivessem aqui. Teria tido outra, com certeza. Não em questão material, afinal isso nunca me encheu os olhos embora fosse bom e confortável não me preocupar hoje em dia em qual seria minha próxima refeição. Só que com meus pais aqui, talvez os erros que cometi no passado não tivessem acontecido. Talvez eu fosse alguém melhor na época onde minha vida não parecia andar para frente.

“— Oh! Que susto. — digo quando entro na cozinha. A irmã de Camila está com uma pequena garrafa de água na mão. — Pelo o que vejo não foi apenas eu quem sentiu sede.

— Acabei indo dormir e esqueci de levar. Não consigo ficar sem água no quarto. — ela toma um pouco e sorri pra mim. — E a minha irmã? Te dando muito trabalho no quarto ou apenas te dando?

Ela sorri sugestiva e eu sinto meu rosto esquentar, querendo rir também. Eu acabei de conhecer Sofia e já adoro ela. As irmãs Cabello possuem uma energia diferente, e ao mesmo tempo são muito parecidas.

— Na verdade nenhum dos dois. — sento no banquinho do balcão. — Camila está apagada faz uns trinta minutos. A fiz dormir.

— Você acaba de fazer o impossível, sabe disso não é? — eu franzi minhas sobrancelhas. — Levar minha irmã pro quarto e conseguir fazer aquela safada dormir é tipo… raro.

— Tenho meus dons. — brinquei. — Estou brincando. Ela está alcoolizada, não acho certo, entende? — ela faz que sim. — Por mais que ela tenha insistido, é claro. E eu sei que ela queria. Ainda assim… não me parece ser a forma ideal de acabar a noite.

— Você é encantadora. Por isso Camila se apaixonou por você assim como eu era por sua mãe.

— O que? — arqueei a sobrancelha. — Você… espera, o que?

Sofia riu e se sentou ao meu lado.

— Não da forma como está pensando, boba. De maneira inocente, coisa de criança. Eu era realmente apaixonada por sua mãe, pela forma que ela nos ensinava. — suspirou, parecendo ser de nostalgia. — Sabe que às vezes a memória dela me vem à cabeça? Há um tempo eu a procurei nas redes sociais e não encontrei nada. Escrevi o nome de todas as formas possíveis e até achei outros professores mas zero amigos com o nome Clara Jauregui. Isso me intrigou um pouco e quando entendi o porquê confesso que a notícia me deixou abalada.

— Pela forma carinhosa que você fala dela, minha mãe deve ter sido muito especial mesmo.

— Especial é pouco. Ela marcou minha vida. Conversava muito comigo, me deixava apagar a lousa e nem brigava quando eu esquecia de fazer os exercícios em casa. Na verdade ela tinha uma conversa bem séria então às vezes eu torcia para que brigasse, pois Clara falando sério era pior que broncas. Acho que no fundo ela entendeu que eu queria a ajuda dela. — seus olhos se iluminaram de repente. — Eu tenho uma foto dela, sabia?

E assim, os meus brilharam também. As fotos que existiam da minha mãe e do meu pai, estavam na casa dos meus tios. Eu não tinha acesso algum.

— Não está aqui. Provavelmente está na casa dos meus pais no amontado de álbuns que eles têm da infância de Camila e eu, mas posso procurar quando visitá-los.

— Você pode me mostrar?

— Te mostrar? A foto é sua, garota. — sorriu, me deixando sem jeito. — Sei que é importante para você.

— Isso é tão… uau. — emocionada, olhei para ela. — Você não acha bizarro, não é?

Sofia pareceu não ter me entendido.

— Digo, a respeito de Camila e eu estarmos juntas e há vinte anos ela meio que ter "me conhecido", não sei.

— Não, pf! Definitivamente, não. Bom, se a situação fosse outra do tipo, ela te ver crescer, conviver com você bebê, criança, adolescente enquanto ela já fosse uma adulta isso sim me deixaria preocupada. Foi um único contato, rápido. Não há nada de errado nisso.

— Também não acho. Sou maior de idade de qualquer forma. O que me preocupa é o que os outros vão pensar… Já falam bastante, na verdade.

— Eu imagino o que falam. Pela diferença de idade? — afirmei tímida. — Isso vai acontecer com mais frequência do que gostaria. Camila não se importa. Ela tem demônios mais fortes para se preocupar. Faça o mesmo, certo? O amor não tem idade… Dentro da lei, é claro. Então só aproveita e curte a vida ao lado da minha irmã. Ela pode ser meio difícil às vezes e querer tudo da forma dela, ainda assim é uma mulher que vale a pena ter do lado.

— Eu a amo. — falei pra sua irmã. — Não sei se é a primeira vez que amo alguém. Só sei que é a primeira que sinto algo tão forte.

De repente num impulso, meu corpo recebeu o abraço de Sofia. Eu retribui, um pouco tímida e acanhada, afinal, fazia algumas horas que eu a conhecia. Percebi que naquela troca de carinho havia muito agradecimento e até mesmo uma conexão também.

O sentimento puro pelo familiar da outra.

Ela por minha mãe, sua professora preferida. E eu por sua irmã, minha pessoa favorita.”

Não. Não. Não mesmo.

Quero dizer, sim, sim e sim! Camila estava divina. Uma verdadeira deusa. Eu era sortuda só de ter o dom da visão e contemplar aquele monumento concebido com tanto amor e tesão por meus sogros e sem dúvidas numa transa cheia de vontade. Só havia um problema nessa questão:

Os outros também iriam ver, e de longe, esta era a última coisa que eu queria.

Agora a parte de mim estava se perguntando se escolher levar Camila para um ambiente daqueles era a melhor opção. Eu poderia ter escolhido qualquer coisa. Absolutamente qualquer coisa. Um cruzeiro? Não, em cima da hora demais. Uma viagem? Impossível por conta da minha faculdade e do trabalho dela. Pra quê Lauren Jauregui, você foi escolher justamente a balada? Uma casa noturna cheia de solteiros dispostos a dar em cima da sua esposa?!

Parabéns. Você é o exemplo de burrice.

— Estou feia? — ela parecia decepcionada ao me perguntar. — Bom, achei que essa roupa estava combinando com  a noite que teremos.

— Meu amor. — me aproximei e acariciei sua cintura. — Você está mais linda do que meus olhos podem aguentar. 

— Isso é um elogio? — franziu as sobrancelhas.

— Você pode dar meia volta?

Ela não entendeu muito bem, pude ver pela expressão confusa em seu olhar, mas mesmo assim fez. Meu coração acelerou, assim como minha corrente sanguínea naquele instante em que meus olhos pousaram sobre sua bunda. O vestido preto de mangas longas, colado e com as costas à mostra, pareceu ter ficado ainda mais justo com aquela colossal bunda. Apertei meu próprio cabelo, nem ligando para estragar ou não a escova.

— Certo. — respirei fundo. — Pode dar uns cinco passos?

Ela ergueu o ombro e fez. Meu coração parou. O que ficou naquela sala era apenas a minha alma. Imaginem a cena da minha mulher, da minha Camila, andando livre e a droga daquele maldito vestido subindo cada vez mais?

Quero dizer, não imaginem porra nenhuma. Eu os proíbo.

— Não tem condições, Camz.

— Não entendi. — ela voltou caminhando. Seu salto era enorme e parecia ser bem pesado. Como alguém tão pequeno conseguia se equilibrar naquela plataforma? — O que não tem condições?

— Essa roupa. — mordi os lábios. Equilibrando meu tesão e meu nervosismo. — Não tem como você sair com esse meio milímetro de pano.

— É um vestido adequado para a ocasião, Lauren. — revirou os olhos. — Você não gostou, não é? 

— Não. Você está perfeita, Camila. — parte de mim está sexualmente desconcertada também. — Eu amei de verdade é que… Eu só… talvez se você trocasse e colocasse um mais longo, eu não sei. Nem precisa ser tão longo na verdade, quem sabe apen-

— Espera. — ela pediu calma com as mãos e deu dois passos. Voltou a olhar pra mim e agora uma de suas sobrancelhas estava erguida, quase alcançando o fim sua testa. — Você está sugerindo que eu troque minha roupa porque não aguenta alguém me olhando?

Ela fez aquilo soar ridículo.

— Isso mesmo.

Cruzei os braços e mantive a pose. Pra que mentir? Meu ciúme estava estampado para quem quisesse ver, assim como suas pernas gostosas naquele micro vestido.

— Não quero que minha esposa use esse vestidinho nanico. As pessoas vão olhar e eu não vou poder quebrar a cara de ninguém porque nossa, que tóxica eu seria. — usei de toda minha ironia na última frase.

Ela riu, num engasgo carregado de sarcasmo. A maldita riu na minha cara.

— Boa tentativa, mas não.

O que?

— Está pra nascer casamento que mude minha conduta, principalmente em relação ao meu guarda-roupa. Eu vou vestir o que eu quiser, como quiser e onde quiser, Lauren.

Suas mãos pegaram a barra do vestido, subindo, eu disse subindo um pouco mais!!!!! 

Que inferno de mulher!!!

E que inferno de boca minha que foi reclamar.

 Quando eu abri os lábios para protestar, ela cobriu minha boca com a ponta do seu dedo.

— Acho bom você abrir a boca só pra dizer o quão gostosa eu fiquei. — pisquei algumas vezes. Aquilo era sério? — Eu não sou sua propriedade. Sou sua mulher. Sua. Então não pegue neura se os outros vão olhar ou não.

Sua mão pegou a minha, colocando a sua bolsa preta brilhante por cima.

— Mas será que você não pod-

Não. Eu não posso. — respondeu ácida, entreabrindo os lábios. — Está achando ruim?

— Não. — abaixei a cabeça, respondendo baixo.

— Pensei que estivesse, agora vamos. E esse assunto se encerra aqui. Vamos logo antes que a noite acabe para nós duas e a única roupa que você vai me ver vestir é um pijama.

Que inferno!

Eu oficialmente havia virado cadela de mulher bonita. Com direito a diploma e tudo. Mais um pouco eu virava PhD nisso.

Não tinha como eu argumentar. E nem conseguiria, já que para Camila a última palavra era a minha, contanto que fosse "Tudo bem, amor. Você tem razão."

Descemos no prédio e parecendo combinado, as meninas chegaram. Camila e eu entramos e sentamos no banco traseiro onde Ally estava, com uma garrafa de vinho rose e detalhe, pela metade.

— Olha só, Lauren. Essa sua amiga bebe mais que carro velho. — Dinah nem me deu boa noite e já começou a reclamar no banco do carona. — Olha pra essa garota, vai dormir babando no sofá da área vip.

— Área vip? — franzi as sobrancelhas. — Não estava sabendo de nenhuma área vip.

— Sua esposa reservou, ela não te disse? — Normani me olhou através do espelho. — Ops. Era segredo?

— Não era bem um segredo… — a minha mulher afinou a voz. — Talvez eu tenha ficado entretida durante todo o dia e tenha por acidente omitido essa informação.

Não acreditava nisso.

— A área vip é muito cara, amor. — mordi os lábios. O que era para ser um momento de leveza se tornou um rio de dinheiro gasto.

— Fique tranquila, mi amor. — piscou. — Com meus dons publicitários não ficou tão caro assim, você sabe que sei negociar pois profissionalmente tenho muito a oferecer. Um acordo aqui, uma propaganda ali e o preço caiu bastante. E além disso, o que te ensinei sobre preço e valor?

— Vai começar a putaria de coach. — Dinah revirou os olhos e virou pra frente. — Eu não aguento quando a Camila abre a boca pra falar igual uma bilionária.

— Não me ofenda me comparando a uma bilionária. Eu sei cuidar do meu dinheiro, é diferente. — replicou a amiga. — Se o valor for mais alto que o preço que cobram, certamente é um bom negócio. Sofá, inúmeras garrafas de champanhe, acesso limitado para que a gente não fique esbarrando no suor alheio, aperitivos. Estou errada em querer o melhor para mim, para minhas amigas e principalmente para minha mulher?

— Eu concordo. — Normani ergueu os ombros. — Desculpa amor, mas a Mila está certa. Não temos sequer idade para ficarmos em pé até de manhã. O valor da área vip condiz com nossa condição etária atual.

— Certa vírgula. Até certo ponto talvez, considerando que há três mulheres na casa dos quarenta aqui, uma intermediária e uma piveta. Pode ter certeza que o que Lauren mais quer é ficar no meio da muvuca.

Ela não estava tão errada, afinal de contas eu nunca ia para uma balada pra ficar isolada do restante das pessoas. Queria curtir, conhecer gente nova, histórias novas e quem sabe cultivar amizades. Por outro lado, parte de mim entendia que a intenção de minha esposa fora das melhores e no fim das contas, ela estava certa. Não queria que ela tivesse nenhum incômodo físico. Ela já havia topado de virar a noite comigo, o mínimo que eu podia fazer era ficar agarradinha com ela, dançando juntas.

E com certeza, por causa daquele micro vestido eu viraria um só ser de tão colada a ela.

— Área vip é legal. — sorri, querendo dar o veredito. — Eu só não posso me acostumar. É caro pra caralho.

— Já olhou para sua mulher? — Ally me encarou. — Você pode tudo.

— E Allyson, me conte. Troy aceitou de boas ser o babá da Maddie? — minha esposa perguntou.

— Não aceitou porque eu não perguntei, eu informei que ele seria. — falou, causando uma série de risadas dentro do carro. — Que foi, gente? Não vou ficar dando mole pra homem não.

— E o equilíbrio que você tanto falou no consultório? — eu provoquei.

— Hm. — ela bebe um pouco mais. — Em casa de ferreiro o espeto é de pau, e se ele vir me contestar eu dou com o espeto na testa dele. Quer equilíbrio vai andar na corda bamba. — se divertia falando. — Estou brincando. Esses dias ele levou uns amigos pra casa e eu preparei algumas coisas para comerem. Ele achou que eu estava fazendo meu papel de esposa gentil, só que na verdade eu só queria que ele se divertisse com aquele bando de macho pra recuperar meu sono. Troy fala muito e fala mais do que a boca permite. Maddie vai aprender um vocabulário novo hoje.

— Ele adorou a minha filha, modéstia a parte. — Dinah sorriu como uma verdadeira mãe orgulhosa. — Quando estávamos lá já trocou uma fralda na minha frente, fez a mamadeira como ensinei. Maddie é adorável, não dá trabalho nenhum. E vai ser um ótimo treinamento para quando você tiver os seus filhos.

Ally cuspiu o vinho, respingando as gotas no estofado de couro.

— Definitivamente não. — a voz aguda mostrava desespero. — Já me engravidaram em quatro histórias. Chega, não?!

Quatro histórias? Do que aquela maldita bêbada estava falando?

— Que porra de quatro histórias é essa? — Dinah indagou com uma expressão de "essa porra está louca?"

— Eu não sei. — levou a garrafa na boca. — Só sei que não vão me engravidar nessa história também.

— Allyson, do que está falando? — Camila perguntou.

— Esse assunto também está me deixando preocupada. — Normani estava atenta ao trânsito e a sessão de loucura que acontecia no banco de trás.

— Vocês nunca pararam para pensar na teoria que diz que nós cinco especificamente somos personagens de histórias fictícias?

— Por Cristo, passa essa porra de garrafa pra cá. — Dinah virou pra trás e tomou a garrafa de vinho da minha amiga. — Quem inventou essa teoria? Os neurônios que o álcool não derreteu? Chega de bebida pra você. Enche o cu de vinho e fica falando merda.

— Vocês verão que faz tudo sentido quando enxergarem as coisas do ponto fictício. Camila e Lauren, as protagonistas que todo mundo ama e quer ver juntas. Normani é a única sensata entre todos os personagens e geralmente não se mete em confusão, só dá respostas boas e sempre é ovacionada pelo pelo público. Dinah, bom… ela é geralmente a amiga hilária de uma das protagonistas, o ponto cômico da trama e eu… a chaveirinho das lésbicas e bissexuais que sempre engravida de um homem de beleza mediana.

Todo mundo estava em silêncio. O silêncio era tanto que eu conseguia ouvir meus olhos piscando. Em choque, todas olhavam para Ally. Menos Normani que estava dirigindo, é claro. Mas isso não a impedia de olhar pelo espelho.

— Eu nem sei o que falar sobre isso. — minha mulher tinha a voz amedrontada. — Não entendo muito de psicologia, porém isso me parece um caso grave de dissociação.

— Liga o GPS e partiu manicômio mais próximo porque essa daí não está com os parafusos do cérebro lubrificado. — Dinah voltou a se virar pra frente. — Eu falei pra Normani que envelhecer vinho rose não funcionava tão bem quanto o tinto.

Às vezes eu olhava para Ally e concluía a teoria de que muitas pessoas ficavam melhores como pacientes da psicologia do que atuando nela.

— Vamos, meninas. Eu estou brincando. — a baixinha cruzou as pernas e ergueu um dedo. — As chances disso ser verdade é pouca… mas nunca zero.

— Daqui a pouco esse caralho vai inventar que saímos de uma girlband famosa. — Dinah olhou pra mim. — E eu achando que você era louca, Jauregui. Quem se junta com loucos branco veste.

— Girlband famosa e morta, tem isso também. — Normani ressaltou, desligando o veículo na porta da balada. — Ainda bem que chegamos viu, Allyson? Estava me deixando preocupada.

Saímos todas do carro, deixando o manobrista levar para o estacionamento. Camila lhe deu umas gorjetas boas antes de voltar para a grade onde esperávamos por ela. Era algo que eu admirava por completo nela. Se havia alguma pessoa lhe dando algum serviço, ela sempre ajudava pagando um extra.

Com a luz externa da La Pluie, eu conseguia ver melhor a roupa das meninas enquanto a segurança chegava nossos nomes.

Ally tinha um decote ousado naquela noite. Blusa preta de mangas cumpridas, mas que deixava o umbigo de fora. O pouco que ela mostrou em cima, deixou de mostrar embaixo, se equilibrando entre o sensual e o discreto marcado por uma calça jeans clara de cintura média e boca larga também. Havia uma bolsa branca, pequena e com poucos detalhes sendo carregada em sua mão. Perfumada e com maquiagem leve, mas o gloss era bem visível por seus lábios carnudos. Cabelo preso num rabo de cavalo no topo da cabeça. Salto médio, bico fino. Não soube identificar se era um preto ou azul marinho. Arrisco a dizer que era a mais elegante da noite.

Dinah não ficava para trás também. Seu cabelo estava completamente ondulado, volumoso e com bastante movimento. A cor dourada de sua pele contrastava com o blazer vermelho sangue que vestia. Ela sempre usava roupas onde podia esconder sua querida arma. Por dentro, um cropped de tecido rendado, branco com cobertura em bojo para evitar transparência. Ela escolheu bem a saia, também branca e justa até o meio das coxas, que ressaltava sua altura e corpo. Entre nós, de longe a mais preocupada com a academia. Um chute dessa mulher mandava qualquer maromba com três costelas quebradas para o hospital.

Assim como Camila, Normani pareceu ter saído de casa vestida para matar, e no caso as mortas seriam suas esposas. Com um vestido dourado de alça fina, a mulher estava com tanta curva exposta que era difícil não atrair a atenção por onde passava. Seus cachos batendo em suas costas e voando com a leve brisa que nos alcançava na noite. Salto agulha, tornozeleira de ouro com brilhantes no pé. Era surreal como a cor negra casava com o dourado. Estava uma legítima deusa.

— Você não fica com ciúmes? — de braços cruzados eu me aproximei de Dinah, apontando para Normani e Camila que cuidavam dos nomes na lista. — Elas estão… puta merda.

— Eu não tenho ciúmes. — Dinah trincou o maxilar. — Normani é uma mulher livre e ser casada com ela não me faz sua dona.

Cruzei os braços olhando de forma séria para aquela sonsa.

— Tudo bem, ela ameaçou me trancar dentro de casa e vir sozinha se eu reclamasse. — baixou a cabeça. — Ela não liga muito pra minha opinião a não ser quando é para beneficiá-la. Camila também é assim?

— Totalmente. — respiro fundo concluindo que nossas mulheres são a mesma pessoa em corpos diferentes — Mas tudo bem também. Não vou criar neura por isso.

— Como se eu não a conhecesse.

Camila se aproximou de nós, entregando para cada uma uma pequena pulseira de acrílico da La Pluie. Cor roxa, logo da empresa e acesso a área vip. Eu nunca sequer tinha colocado uma dessas no braço.

— Nossa área já está à nossa espera. — minha esposa falou. — Champanhe liberado, energético para Normani que está dirigindo e outras bebidas e drinks no bar.

— Você veio até aqui e não vai beber com a gente? — perguntei.

— Bom, alguém precisa dirigir. — sorriu se dando por satisfeita. — E com a amamentação de Maddie eu meio que perdi o gosto pela bebida. Qualquer coisa eu tomo uma taça. Meu foco mesmo é dançar, isso é algo que não faço há anos.

Juntas entramos. A La Pluie era uma balada de alto padrão próximo ao Upper East Side. Vocês já imaginam que tipo de jovens e adultos frequentavam aquele lugar: a elite. Bebidas caras, mulheres elegantes e sensuais, cartões de crédito sem limite e homens sempre dispostos a levarem alguém para suas coberturas.

Onde há dois anos eu pensaria estar frequentando um lugar desses? Nunca. Os colegas de curso frequentam e caso não queira ficar de fora das noitadas, eu acompanho. 

A casa está bem cheia como sempre está quando venho. No andar de baixo, chamado de piso comum, é onde costumo ficar. A música é bem mais alta daqui, quase impossibilitando qualquer tipo de diálogo a não ser a base do grito. A decoração é preta para dar contraste, e as luzes variam entre roxo e rosa, e piscam tão rápido ao ponto de causarem certa tontura se misturadas com bebidas alcoólicas.

A recepcionista nos guia até o segundo andar. A tão conhecida área vip. Formada por um mezanino em cada canto da balada. Quatro áreas. Apenas para quem pode pagar, pois barato não é. Sofá de couro, mesa, bacias de prata com espumante e energético. O banheiro é interligado às demais áreas vips, mas isso é o de menos. A visão de cima é mágica.

Não posso me acostumar com coisas boas.

— Que lugar fantástico! — Normani fala assim que chegamos. — Valeu cada centavo gasto. Respirem fundo e sintam o cheiro da plenitude.

— Me sinto uma rainha aqui de cima. — Camila se apoia na sacada e eu a abraço por trás. Ela cola seu corpo em mim. — É cedo demais para recuperar lembranças?

Sei a que ela se refere. Nós duas na sacada do seu quarto. Safada. Minhas mãos descem por sua cintura e chegam ao quadril, apertando-a contra mim.

— Pensou o mesmo que eu? — ela se vira e circula meus ombros com o braço.

Sua perna dobra propositalmente, encostando meu sexo por cima da calça. Ela sorri sugestiva enquanto aguarda minha resposta.

— Nós duas aqui? — pergunto e ela assente, mordendo os lábios. — Ah, pode ter certeza que eu pensei.

Camila me puxa, me dando um beijo gostoso e cheio de vontade. Minhas mãos escorregam do seu quadril para sua bunda, apertando a carne. Ela respira contra meus lábios e volta a encaixar nossas bocas, acariciando minha língua com a sua. Suas unhas passam por minha nuca me causando uma série de arrepios pelo corpo. Minha vontade é de arrastá-la para o banheiro para cessar esse fogo que acaba de nascer em nós.

— Eu sei que a pegação está gostosa, mas ninguém é obrigada a sentir o cheiro do cio de vocês. — a voz de Dinah nos interrompe. Ela está tão perto que parece que as três irão se beijar. — E se liguem, eu estou aqui. Vocês não vão transar.

— Vai se foder, Dinah. — Camila aproxima sua cabeça a da amiga para ser ouvida. — Se eu quiser transar com a minha mulher naquele sofá, não vai ter ninguém para me impedir.

— Oh, mas vai ter sim. — Normani está carregando duas taças com espumante que entrega a mim e Camila. — A lei. — pisca. — Atentado ao pudor. Sexo em público é crime.

— Me erra, delegada Hamilton.

— Não fale assim com a minha mulher. — Dinah ergue o dedo. — Ela pode prender você por destacado.

— Eu cuido da parte do prender, sim? — dou um selinho em Camila.

♪ (The Outfield – Your Love) ♪

Camila, Normani e Dinah se olham quando a música começa a tocar. As três em sincronia levantam suas taça e brindam, dando um gole e um grito feliz ao mesmo tempo.

— Porra, essa é do nosso tempo. — Dinah exalta feliz enquanto deixa a taça na mesa para puxar Normani para dançar.

Camila me entrega sua taça e me beija, e no instante do verso, eu canto contra seus lábios.

You know I like my girls a little bit older.

I just wanna use your love tonight. — ela completa o outro verso com um sorriso gostoso antes de ir dançar.

É um momento das três. Embora seja um clássico, elas viveram muito mais aquele momento que eu, então eu apenas me sento e as vejo dançar e se divertir.

A mesa de frios está cheia, mas eu pego um morango por ele casar perfeitamente com o espumante que a empresa oferece. Dou uma mordida e um gole para juntar o sabor. As pequenas bolhas fazem cócegas no interior da minha boca.

Minha visão é atraída de volta para a minha mulher que se diverte na companhia de suas amigas. Ela parece tão genuinamente feliz e solta que me arrependo de não tê-la convidado antes. Seus cabelos curtos se movem enquanto seu corpo se mexe de forma organizada junto às suas amigas. Porra, ela está radiante e percebo isso em cada verso cantado que sai por seus lábios. A luz baixa não impede que eu perceba seus detalhes. Seus olhos brilham quando ela virá em minha direção, quase que em câmera lenta sorri para mim. O sentimento que brota em meu peito é como se naquele milésimo de segundo entre nossa troca de olhar, eu tenha me apaixonado mais uma vez.

Minha barriga gela, meu sangue esquenta e meu coração acelera. Por aquela mulher que já é minha e que ainda assim, quero conquistar todos os dias.

— Como vocês estão? — Ally grita no meu ouvido, me assustando e me tirando do transe. 

Minha vontade é de enfiar aquele palitinho dentro dos seus olhos para igualar o estouro do meu tímpano.

— Ela está se divertindo e eu surda. — massageio meu ouvido. — A música não está tão alta aqui em cima, porra. Não precisa gritar.

— Desculpa. — ela ri e coloca um pedaço de queijo na boca. — Mas me responda.

— Nós estamos bem. — eu respondo, sem tirar os olhos da minha esposa. — Muito bem. Tenho até medo que isso não dure pra sempre, pra ser bem sincera.

— Não vai durar pra sempre mesmo. — ela fala. — Vocês são casadas, não há como fugir dos conflitos. O que dá é para vocês lembrarem do que eu falei na consulta.

— Que somos ela e eu contra o problema e não contra a outra? — Ally assente. — Na hora é tão difícil lembrar disso.

— Não é impossível. Eu confio em vocês.

— Queria que nós duas tivéssemos a plenitude de Normani e Dinah. Aquelas duas parecem ser queijo e goiabada de tão perfeitas uma para a outra.

— Não se engane com isso. — ela inclina seu corpo para falar. — Cada casal tem sua própria batalha. Se hoje elas estão assim é porque tiveram que passar por muitos momentos difíceis, muitas conversas exaustivas. As pessoas romantizam muito o relacionamento a dois, quando na verdade é tudo uma construção. Tijolo por tijolo.

— Você e Troy estão no caminho?

Ela assente e sorri.

— Tenho vontade de quebrar o tijolo nele às vezes, mas faz parte do processo. Já passamos por muitas coisas difíceis também. A plenitude de um casal não é apenas alcançar bodas de prata como muitos pensam. O caminho até lá é muito importante também. Mais importante que o resultado eu diria. Eu estou disposta a me permitir falhar e aceitar as falhas dele pois eu o amo. Normani e Dinah já tiveram muito dispostas também. E você para com Camila? Sente-se preparada?

— Não posso perder essa mulher. Os dias sem falar com ela foram terríveis. Sei que sou um pouco cabeça dura de vez em sempre, — a filha da puta assente. Não era para ela concordar. — Mas meu coração bate por ela. Ainda que tenha vezes que eu não saiba demonstrar como ela merece.

— Você vai aprender a sua língua do amor. — deu mais um gole e sorriu pra mim. — Assim como eu aprendi, e hoje sou poliglota na arte de amar.

Rimos juntas. Terminar um assunto sério com um papo besteirol era com a gente mesmo.

Minha mulher voltou, jogando o cabelo pro lado. Estava levemente suada e com pouco batom nos lábios. Pegou a sua taça que eu havia deixado na mesa e tomou um gole.

— Me mostra o caminho do banheiro? — se agachou para falar ao meu ouvido. — Preciso de uma toalha de papel e retocar esse batom. Foi todo pra taça.

Eu concordo e me levanto. Tomo a frente e Camila segura em minhas mãos. Atravessamos o pequeno corredor conectado às outras áreas e viramos a esquerda, rumo ao banheiro femininos. Quando abrimos a porta, havia um grupo de três mulheres em frente ao espelho. Elas nos olham, e ali eu percebo que era a última coisa que eu queria que elas tivessem feito.

Uma tem a narina recheada de uma substância branca que com certeza não é pó translúcido. A outra, um cartão bancário na mão que está longe de ser usado para sua verdadeira finalidade. A última tem um pequeno saquinho em mãos, com pílulas coloridas de sabe lá o que, só que a quantidade é suficiente para derrubar um gado inteiro.

Porra, não. Não!

— Vocês aceitam? — a que tem as pílulas estica a mão ao fazer a pergunta.

Ela estende e Camila solta a minha. A porta atrás de mim se fecha e eu percebo que tive a ideia mais burra ao sugerir vir pra cá.

Saio do banheiro às pressas mas não precisei correr. Camila ainda está no corretor. Algumas mulheres passam indo em direção ao banheiro, mas sei que ela está ali, com as costas apoiadas na parede olhando para o chão. Caminho com calma, com medo de assustá-la. Sei que minha esposa está vulnerável e o que eu menos espero naquele momento é lhe gerar mais desconforto.

Quando ela me olha, eu me recuo um pouco. Ela tem todos os motivos do mundo pra gritar e perguntar se eu sou algum tipo de idiota que não tem noção por trazer a esposa dependente a um ambiente onde todo mundo escolhe se viciar.

— Você está bem? — no entanto ela não faz isso. Ela pergunta se eu estou bem quando é ela que precisa de proteção.

Franzi as sobrancelhas e me aproximei. Seus lábios tremiam. Ela estava nitidamente incomodada e ainda sim colocava o meu bem estar em primeiro lugar.

— Eu estou. — respondo acanhada. Toco sua mão. — E você? — minha pergunta saiu em tom retórico.

— Eu estou. — e sua resposta saiu num tom de mentira. Ela queria me convencer como se eu não a conhecesse.

— Sei que não está. — eu respiro fundo antes de começar a retratar meu erro. — Vir até aqui foi impensável, ainda que inocente. Eu deveria ter me lembrado que esse ambiente pode lhe gerar gatilhos e… — respiro fundo. Me sinto derrotada por mim mesma agora. — Me perdoa, Camila.

— Não há razões para que eu te perdoe, pois você não errou em nada. — algumas pessoas continuam passando, e a gente não parece se incomodar com isso. — Não havia como você saber.

— Havia. É claro que havia. Eu frequento esse lugar, sei as coisas que rolam por aqui. Eu juro de verdade que quando te ofereci o convite não me lembrei disso. Me perdoa?

A elite burguesa de Manhattan. Pessoas de berço, famílias tradicionais e inúmeros zeros na herança carregavam também o vício por drogas pesadas. Não foram poucas as vezes que eu estive a frente disso tudo e não falo de agora. Meus colegas do gueto também usavam como se fosse água. Ficavam ligados por horas apenas pelo uso da cocaína. Nada mudou quando meu padrão de vida subiu, pelo contrário, arrisco dizer que até mesmo aumentou. Gente importante, filhos de gente importante. Não havia uma só pessoa que não cheirasse coca ou usasse heroína.

E quem acaba pagando por isso? Os menos privilegiados, é claro. Tachados como os marginais, usuários perigosos e jogado a um limbo de não-esperança.

— Pare de pedir perdão quando você não tem culpa do mundo ao seu redor, minha menina. — suas mãos seguraram meu queixo. O dedão acariciou minha pele. — Eu não nasci ontem. Eu sabia o que me esperava ao aceitar seu convite. Escolhi estar aqui porque a vida não pode parar por conta das minhas limitações. — seus olhos estavam um pouco cheios de lágrima e ainda assim ela tentava sorrir. — É claro, não vou mentir dizendo que isso não me gera gatilho, pois gera e muitos, mas eu estou bem. — respirou fundo. — De verdade. Não quero que nada estrague nossa noite que só está começando.

— Se você não estiver se sentindo bem, pode me falar, certo? — ela concordou, sorrindo. — A qualquer momento, a qualquer hora. Eu te pego nos braços e a gente entra no primeiro táxi que eu ver.

— Obrigada por cuidar de mim. — selou nossos lábios enquanto sua mão acariciava meu rosto.

— Cadê seu batom?

Ela abre a outra mão e me mostra o pequeno objeto preto. Eu pego e abro.

— O que está fazendo? — ela solta um riso gostoso. — Está escuro, você não vai enxergar.

— Vou sim. — seguro com firmeza o batom e aproximo meu rosto do seu. — Me deixe cuidar de você.

Eu apoio seu queixo entre meus dedos e com a outra mão começo a deslizar o batom por seus lábios, depositando a cor. Eu amo o desenho perfeito que sua boca faz. Quero me prender a aquele instante por mais tempo apenas para poder apreciar a curvatura dos seus lábios. Guardo minha vontade de beijá-la para que não estrague sua maquiagem, mesmo sendo uma tarefa difícil.

— Continua linda. — limpo o cantinho com a ponta dos dedos. — Eu te beijaria agora mas não vou porque-

Seus lábios cortam minha fala por me tomarem. Literalmente me tomam para si num beijo necessitado e fugaz. Camila geme contra minha boca, necessitada, e puxa meu blazer, fazendo com que nossos corpos se toquem. Ela está tão quente. Eu agarro sua cintura em minhas mãos e ela morde minha boca, puxando um pouquinho a carne. Trocamos olhares e sorrimos uma pra outra. Estamos falando que nos amamos apenas pelo contato dos olhos.

— Posso te pedir uma coisa? — sua voz sai suave e leve de repente. — É importante.

— Tudo o que você quiser.

— O quanto você puder se manter longe dessas coisas, você se manterá? — a pergunta sai tímida. Ela alisa meu blazer enquanto a faz.

Sei o que ela está me perguntando e sei a importância também.

— Sei que você gosta de fumar e nisso eu não vejo problema nenhum, caso seja em baixa frequência e com responsabilidade. Só que outras coisas… — ela fecha os olhos e franze os lábios. — Outras coisas que podem te levar para longe de mim… Isso não, amor. Não iria aguentar ver você passando pelo mesmo abismo que eu passei. O vício é um lugar obscuro e solitário. E por mais que você tivesse o meu apoio, pois você teria, ainda se sentiria sozinha. — ela toma um pouco de ar antes de voltar a falar. — Não chega perto disso não. Tá bom? Por você e por mim.

— Quanto a isso fique tranquila. — beijei a ponta do seu nariz. — Não tenho nenhum interesse em experimentar essas coisas. Alguns dos meus colegas de classe usam e… — ergo os ombros. — Bom, eu tento conversar só que não tenho controle pela vida do outro. Jamais faria isso comigo, nem com você e nem com nós.

— Eu amo você. — ela me beija nos lábios e parece querer morar naquele contato. — Obrigada por tanto.

Algo em meu coração diz que aquilo não é o suficiente por tudo o que ela me dá, me oferece e principalmente pela confiança que compartilha comigo. Camila merece o mundo.

— Eu vou parar de fumar. — falo e ela arregala os olhos, surpresa com o que eu disse. — Não vejo sentido em continuar usando dentro do nosso casamento.

— Você não preci-

Eu vou parar de fumar. — aperto sua cintura e repito lentamente, decidida. — Por nós. Sei que é uma questão legalizada, porém ainda é uma droga e… — neguei com a cabeça. — Não quero. Não quero nada disso perto da gente.

— Faria isso por mim? — suas mãos alisam minhas costas. — Não quero te obrigar. Se você gosta, com o cigarro eu não vejo problema, Lauren.

Não havia nada que eu não fizesse por aqueles castanhos brilhantes.

— Faria muito mais. — ajeitei sua franja. — Porque te amo. — beijei sua testa. — Porque quero seu bem. — desci o beijo para o nariz. — Porque eu faço qualquer coisa pelo nosso bem. Eu estou disposta a não continuar trazendo isso para nossa vida. Quero melhorar por nós. Não vou dizer que não vou mais errar daqui pra frente pois vou, e não porque quero e sim porque a vida é como é. Não vou prometer que nunca mais serei motivo do seu estresse pois altos e baixos sempre virão. O que estou prometendo é disposição para fazer isso dar certo. Lutar com você por nosso casamento.

— Com você ao meu lado, qualquer batalha é vencida. — me abraçou forte. Tão forte que por minha carne, eu conseguia sentir as batidas do seu coração. Acelerado e forte. — Obrigada por não desistir do caos que eu sou. — agora sua voz chegava aos meus ouvidos. — Eu sou tão viciada em você e nem me culpo por isso. Viciada em tudo o que você me proporciona.

Rimos juntas, íntimas e descontraindo aquele momento de casal.

— Não faça piadas com isso, amor. — ajeitei sua franja. — É sério.

— Oh, quer dizer que a mocinha pode ter um humor ácido e eu não? Você sabe o que dizem, mi amor: nós somos o que comemos. — ergueu a sobrancelha de forma sugestiva.

— Você não tem jeito, Camila. — rimos juntas outra vez. — Venha, vamos voltar. O diabo da Dinah já deve estar sentindo nossa falta.

Atravessamos juntas o corredor e quando chegamos a área vip, Dinah cuspiu o champanhe formando uma nuvem branca de bebida no ar. A explosão de risada ao olhar para nossa cara foi imediata.

— Eu falei! — ergueu o dedo atraindo a atenção das meninas para nossa direção. — Eu falei que elas estavam se pegando. Camila tem mais fogo na boceta que uma adolescente de quinze anos. Podia ao menos ter limpado a boca.

Ela e eu percebemos naquele instante que aquilo estava visível para todo mundo. Camila negou, se aproximando de mim e passando a mão por meus lábios e ao redor, para tirar as pequenas manchas de batom. Fez o mesmo com ela e depois retocou onde minha boca havia tirado.

— Normani está dormindo de calça, é? — revirei os olhos e lhe dei um pequeno chute para que chegasse pro lado. Aquele taseiro enorme ocupava metade do sofá. — Deixa a pegação alheia e vai cuidar da sua.

— Eu só estou comentando. — encheu minha taça, me dando. — Está na defensiva porque é verdade, cheiro de leite.

♪ (Doja Cat – Woman) ♪

Quando a música da Doja começou a tocar, meus ouvidos distanciaram a voz da Dinah e minha visão só parecia enxergar a mulher na minha frente que sensualmente começou a mover o quadril numa dança provocativa. Encostei no sofá, tomando uma distância para analisar aquilo tudo. Ela estava perto e não tinha a menor vontade de dançar para longe com a intenção de eu visse todos os seus movimentos de perto.

 A letra soa pelos auto-falantes e seu corpo dentro daquele micro vestido parece mais ainda tentador de ser admirado, olhado e sentido. Tenho vontade de tocá-la com minhas mãos para fazer daquela dança, minha.

Baby, worship my hips and waist. — quando ela se virou, seus lábios se moviam no verso da música.

Um passo à frente e ela estava grudada a mim. Corpo a corpo, guiou minhas mãos até o quadril. Inferno. Delicioso inferno. Sorri, olhando em seus olhos naquela luz roxa e rosada. Camila levou a taça a boca, tomando um gole do espumante e quando baixou, inclinou seu corpo ficando face a face comigo.

I touch your soul when you hear me say, girl. — mordeu os lábios. Quando eu a segurei para beijá-la, virou o rosto e continuou cantando para mim. — Let me be your woman, let me be your woman.

Aquela era a jovem baladeira que havia adormecido dentro da minha mulher. A que se solta, a que não se inibe, a que se diverte e tem a pista de dança apenas para ela. Enquanto eu era uma criança ela movimentava noites em Manhattan assim como movimentava o quadril em minha direção. Solta, leve. Naquele momento nenhum problema parecia ser tão relevante quanto a sua vontade de dançar.

Dance, meu amor. A vida é leve e toda sua.

— Para quem estava morrendo de ciúmes da minha roupa, você está adorando me ver rebolar. — se sentou em meu colo.

Minha esposa se inclinou para frente, pegando a garrafa de espumante do gelo. Sua bunda pressiona minha boceta e ainda que o tecido da minha calça não seja tão fino, eu consigo sentir tudo. Aperto o estofado. Ter aquela mulher se insinuando em meu colo e não poder fazer nada por estarmos em público é um castigo. Ela sabia o que estava me causando. Toquei suas costas nuas de jeito firme para que parasse, mas era de Camila que estávamos falando. Isso só a convidou para rebolar mais sobre mim.

— Seu ciúmes já passou? — se vira pra mim e enche minha taça também. — Alguns caras da área vip não param de me olhar.

— Que olhem. — bebi um pouco e acariciei o meio das suas coxas. — É bom que todos vejam que eu sou casada com a mulher mais linda dessa balada.

— Hummm, que mudança repentina de personalidade. — ela morde os lábios travessa e sela nossos lábios. — Não passou na sua cabeça que alguém pode mexer comigo?

♪ (Beyoncé feat. Jay-Z. – Crazy In Love) ♪

Normani gritou pelo nome de Camila. Mais um sucesso dos anos 2000. Era claro que as três iam querer aquele momento nostálgico de dança. E eu, como boa esposa, assistiria de camarote a minha mulher mover aquela bunda maravilhosa que ela tinha.

— Vá dançar, se divirta e não se preocupe com mais nada. — a tirei no meu colo e dei um tapa na sua bunda, lhe dando uma piscada e sorrindo. — Se alguém mexer, o problema é comigo.

Juntas na pista outra vez.

— Eu não sei como posso perder tempo com homem tendo tanta mulher bonita no mundo. — Ally que estava entre Dinah e eu, falou. Apontou e olhou para nós duas. — Olhe as duas.

— Realmente. — Dinah e eu respondemos juntas, quase que hipnotizadas.

Que tínhamos as mulheres mais bonitas, a gente sabia. Agora, que elas formavam uma dupla imbatível na pista de dança… ah, isso a gente sabia também, só que era sempre bom parar e observar. Os anos passaram e assim como essa música era eterna para qualquer pessoa, partes da coreografia pareciam estar presa em suas memórias. Camila movia a bunda com tanto controle enquanto agachava, e Normani atrás de si repetindo seus passos. Se estivéssemos na área comum todo mundo pararia para olhá-las. Obrigada, área vip.

Ally gravava alguns stories do local e quando eu olhei para a Dinah, seus olhos estavam petrificados em sua mulher. Na verdade, ela não era a única que olhava. Os caras que se faziam presentes nas outras áreas vips também ignoravam a existência de suas mulheres e acompanhantes para ficar em nossas esposas. Maldita área vip.

Normani ergueu as mãos para Ally e Dinah, que seguiram para o centro da área começando a dançar também.

Camila me olhou e sorriu decidida.

Ah, não.

Parecendo ler minha mente ela sorriu e estendeu a mão pra mim enquanto corria em minha direção.

— Não, sem chances. — eu gargalho. Sequer tenho ritmo para dançar essa música. — Camila, é sério.

— Vem, por favor. Sua mulher está pedindo.

Ela estampa uma expressão tão linda nos olhos que pra mim fica difícil negar.

— É que eu não sou de dançar… — tento convencê-la, só que ela já tem a decisão tomada.

— Comigo você vai.

Ela não aceita meu não como resposta. Ela me quer ali e me terá ali, na pista de dança, corpo a corpo com ela. O pós refrão inicia num momento perfeito. Camila faz com que eu abrace por trás e guia meu corpo em seus movimentos. É divertido sentir a minha cintura em sintonia com a sua, numa dança agitada onde nossas energias se misturam. Há sorrisos, clima de felicidade entre estar com pessoas que amo.

Quero poder parar o tempo e viver esse instante para sempre.

•••

Eu acabo com uma garrafa de água enquanto sinto os primeiros raios de sol amaciarem minha pele.

A bebida parece ter ressecado tudo o que havia dentro de mim, pois quinhentos mililitros não me parecem ser o suficiente para driblar minha sede. As meninas à minha volta parecem sentir a mesma coisa. Até Normani, que disse que não beberia essa noite. Felizmente não estamos alcoolizadas, o que gerou uma noite de danças, risadas, bebida na medida certa e certamente muitas memórias que só iremos substituir por outra noitada.

— Depois do álcool a água fica tão gostosa. — Ally falou, encostada no carro.

— Você não tem moral pra falar de água gostosa pois está com uma com gás. — Dinah rebate e ergue o dedo para Camila. — Nem abra sua boca, senhorita água tônica.

— E qual o problema? — ergueu os os ombros se defendendo. — A gente bebeu a madrugada inteira, não há mal nenhum eu começar o meu dia limpando meu organismo das toxinas que colocamos pra dentro. Nosso corpo é um templo e todo cuidado-

— Pelo amor de Deus, Camila. São sete horas da manhã! — Dinah pontuava a frase enquanto Ally, Normani e eu seguramos a risada. — Lauren, como você aguenta?

— Gosto da preocupação dela com a saúde. — beijei o rosto da minha mulher. — Não ligue pra ela, amor.

— Viu? Esteja com alguém que aguente suas chatices. — Normani cutuca a esposa que revira os olhos enquanto termina sua garrafa.

— Na visão da psicologia, quando estamos apaixonados-

— Cala a boca, Ally. — as quatro falam juntas.

— Se suas próximas palavras não forem "Freud afirmou que um pós balada deve ser recompensado com um bom café da manhã", melhor se manter quieta. — a loira ameaçou. — Eu estou com fome. Uma com papo de vida equilibrada, toxinas e a outra vem encher meu ouvido com papo de psicologia. Eu nem comi ainda.

Dinah e seu adorável jeito matinal. Impossível não amar, não é?

— É só fome, gente. É só fome. — Normani acaricia o ombro da esposa que tem um bico de pato estampado na cara.

— Certo, eu dirijo. — Ally pegou as chaves do carro de Normani. — Para onde querem ir?

Eu sorrio sozinha enquanto abro a porta para que Camila entre. Tenho uma ideia perfeita.

•••

Um bom filho à casa retorna.

A frase conhecida não é essa, mas faz muito mais sentido no contexto em que preciso quando colocamos assim. 

A padaria da Avenida 27.

O conhecido comércio que me levou para os braços da mulher que amo. Faziam dois anos e alguns meses que eu não pisava naquele local. Hoje eu volto com dinheiro no bolso o suficiente para pagar até a risada do atendente.

Abro a porta para Camila que agradece com um sorriso. Ally e Normani passam também, mas Dinah bate de cara no vidro quando tenta entrar e eu fecho. Gargalho alto, nem ligando para os demais presentes ali. Do lado de fora ela revira os olhos e acena o dedo do meio enquanto usa a outra mão para abrir a porta.

— Parecem duas crianças. — Ally chama Normani e Camila. — Dêem um jeito nas filhas de vocês.

— Garota estúpida do caralho, não respeita ninguém.

— A mim ela respeita. — minha mulher piscou e me abraçou. Sempre me defendendo de tudo e todos. — Não preciso nem perguntar o que quer comer, não é?

— Donuts. — Ally, Normani e Dinah respondem em couro e tom debochado.

— A vontade da mais nova prevalece. — pisco para as mais velhas, me sentindo vitoriosa.

Com um copo de café preto em mãos, fomos lá para fora para respirar ar puro enquanto Normani fazia os pedidos. Encostadas no carro eu percebia que água era a primeira melhor coisa para levantar um espírito tomado pelo álcool, pois a segunda era café. Com poucos goles eu já me sentia pronta para mais algumas taças de champanhe.

— Você parece exausta. — Camila se aproxima de mim. Sua maquiagem está um pouco borrada e ainda sim pelos meus olhos, ela parece a mulher mais linda. — Quero te agradecer porque também estou.

— Me agradecer porque está cansada? — ajeito seu cabelo que voa sobre o rosto.

— Sim. Eu nunca me diverti tanto numa noite só. Meus pés estão me matando? Com certeza, mas espero ter sua massagem quando a gente acordar mais tarde. — ela para e pensa. Sinto que esqueceu alguma coisa. — Depois de um longo banho.

— É claro. — eu rio, percebendo o que ela havia esquecido. — Obrigada você por me acompanhar. Está tudo bem? Nenhuma dor fora do normal?

Eu ainda me preocupada que sua rotina de sono atrapalhada acabasse lhe causando algum mal.

— Não, apenas exaustão física. Algumas horas de sono e estou recuperada, pronta para mais uma.

— Mais uma noitada? — é impossível não ficar surpresa com aquilo.

— Oh, não. — seus olhos se conectam aos meus e a partir dali, eu sei que o resto do nosso dia será muito bem aproveitado. — Para coisas melhores.

Eu a puxo para os meus braços e tomo seus lábios para mim. Não ligo se há outras pessoas passando e nos repreendendo com o olhar por estar de pegação em plena manhã na frente de uma padaria. Minha missão é mostrar para o mundo que cumprirei qualquer oportunidade de amar minha mulher.

— Meu Deus, essas duas não desgrudam. — Normani sai com a caixa cheia de donuts.

— Ainda bem que você chegou, pois estava a poucos segundos de tacar uma água. Parecem dois cachorros cruzando.

— Eu fiquei a noite toda de vela e não me incomodei com o cio de ninguém. — Ally brinca. — Deixem elas reviverem a paixão, meninas. São recém casadas.

E ali estamos. Na frente da padaria, abrindo a caixa de donuts no capô do carro. O cheio de recheios fresco faz a minha mente voltar ao dia do ocorrido. Não como uma memória ruim, na verdade. É até engraçado, a curda do tempo me faz pensar naquele dia como um momento divertido. Na hora não, óbvio. Na hora eu era apenas uma pessoa vulnerável que foi guiada pela fome e acabou em péssimos lençóis. Se eu fechar os olhos ainda consigo sentir o ferro da algema maltratando a carne dos meus pulsos.

Hoje eu rio e brinco. Faz parte de mim levar a vida com leveza pois já passei boa parte da minha história chorando. Piadas sobre momentos ruins me fazem ser o que sou. E não porque eu não sinta a dor e sim porque essa é a forma que encontrei para lidar com ela.

Hoje eu posso entrar num lugar como esses e pedir o que eu quiser sem ter a preocupação do dinheiro acabar e amanhã eu sentir fome. Posso comer relaxada sem precisar saber o momento perfeito de ir embora com gritos de que alguém saiu sem pagar.

Hoje eu tenho a oportunidade de estudar, para num futuro fazer com que muitas das Laurens dessa cidade tenham condições de preencher as mesas desse lugar. E sei que vou conseguir. É só questão de tempo.

A única coisa que não quero hoje, é vestir a roupa de mulher séria. Olhar para esses donuts me traz um sentimento de emoção que há muito eu não experimentava. A energia de molecagem de fazer o errado — agora dentro da lei.

Cada uma está com um donuts recheados nas mãos. Eu olho para a caixa que ainda está cheia. Sorrio para mim mesma me perguntando o quão xingada eu seria. Camila está mastigando e me olha, afinando o olhar, desconfiada. Ela consegue me ler, eu sei que consegue. Sua cabeça faz que não moderadamente, mas já é tarde.

Quando minha mente coloca uma ideia na cabeça, é difícil tirar.

Respiro fundo e minhas mãos pegam a caixa. Não dá pra voltar atrás e eu nem quero isso. Quero ir pra frente. Percorrer a avenida 27 com donuts roubados — dentro da lei, repito.

Meus pés entram novamente em atrito contra o afasto e a brisa daquela manhã se choca contra o meu rosto. Reviver aquele momento é perceber que dois anos atrás, entrar naquela padaria foi a melhor decisão da minha vida.

Eu conseguia ouvir os gritos das meninas atrás de mim. Dinah xingava até a pobre da minha mãe que estava há anos enterrada. Era difícil correr direito enquanto segurava uma caixa, mastigava e ria. Os passos atrás de mim se tornaram mais audíveis, mas dessa vez eu não precisei temer nenhuma autoridade.

Quero dizer, nenhuma autoridade que pudesse me colocar na cadeia 

A minha mulher estava ali.

A minha Camila toma minhas mãos em cumplicidade naquele ato de furto por pura diversão e intenção de irritar. Nossa barriga dói de rir e estamos com passos menos acelerados naquele momento, quase virando a rua. Dois anos depois, nos reencontramos na mesma situação. Paramos na esquina e eu abro a caixa para que ela pegue mais. Estamos ofegantes e as pessoas que passam nos encaram assustadas. A gente nem liga. É o nosso momento. Eu nem quero imaginar o quanto estamos sendo xingadas por nossas amigas 

— Você não tem juízo! — sua bronca sai em tom de piada. — E eu menos ainda para te acompanhar.

— Como você conseguiu me alcançar tão rápido com aquele salto enorme?

— Simples, eu os tirei. — ergueu os ombros.

Eu olho para seus pés e aquilo faz meu mundo explodir em risadas. Camila está descalça em plena calçada no centro da cidade. Em outro momento aquela ideia seria absurda para ela por conta de suas regras de higiene. Agora enxergo diversão em suas pupilas.

Enquanto eu ouço a risada da minha esposa, meus olhos se atraem pelas nuvens brancas no céu azul e isto me dá o sentimento de paz. Jamais imaginei poder alcançar essa plenitude. Me sinto no céu quando percebo tudo o que conquistei. Não apenas o que o dinheiro banca. Muito, muito além disso. A Lauren de antes tinha receio de viver por aí sem rumo, sozinha e sem qualquer tipo de perspectiva. Só seguia o fluxo de um riacho, sem seguir em direção a qualquer pedra para se agarrar, na longa espera da queda d'água para finalizar seus dias.

Um dia nessas ruas, uma pessoa me olhou quando eu não era minha melhor versão, quando eu não estava com minhas melhores roupas e certamente em caminhos errados. Ela apenas sorriu e acreditou em mim. Arrisco dizer que muito mais do que alguém tentou. Muito mais do que eu mesma acreditava.

Para a jovem que não tinha ideia se teria um lar, lhe foi oferecido muito mais do que isso naquele universo, dentro dos olhos castanhos mais belo que meus verdes contemplavam. Vê-la assim, encarando tudo para ficar ao meu lado num companheirismo infinito de mil e umas aventuras não me fazia questionar o quão alto eu tinha chegado.

Camila era minha proteção. Era o colo que eu corria quando o mundo desabava em minha cabeça.

O que destino me disse ser certo. Ao olhar nos seus olhos eu sinto que não há outro lugar no mundo em que eu caiba de forma tão perfeita.

Minha mais bela lição de amor. Quem me apresentou todos os significados dessa palavra.

Amá-la era como ser aquecida pelo sol, no amanhecer de uma fazenda. Quente, tranquilo e fortificante.

— Venha, minha menina. Hora de irmos pra casa.

Um dia eu almejei muita coisa. Hoje eu não preciso de mais nada.

Fim.

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Eu nem sei o que falar além de agradecer por todo apoio que vocês me dão. Nessa história então o apoio foi ABSURDO de grande.

Nunca imaginei que Outsider ia ser tão grandiosa quanto é. Nenhuma fic minha foi tão bem aceita de primeira quanto essa. Os números cresciam rápido demais e ver vocês comentando no twitter... Ah! Isso me deixa LOUCA DE FELICIDADE.

Meus amores, Outsider é para vocês. Pessoas que assim como eu, não se sentem encaixadas no mundo. Em algum momento a vida vai trazer para nós algo para chamarmos de lar, ou alguém para ser nosso lar.

Você não está sozinho (a).

Obrigada por cada pessoinha que curtiu, comentou e compartilhou. Obrigada por todo apoio no twitter.

Quero agradecer a minha leitora Esther por ser a primeira pessoa a me dar apoio para postar essa história. Você é atentada pra uma porra, mas eu te amo. Obrigada por me encorajar.


Até breve, pessoal. Continuem a nadar!

Obrigada por TUDO.

Beijinho,

Thayná Sioli.

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