Waiting For You

Da BiaBetteher

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Às vezes a vida não é um conto de fadas que termina como nós queremos. Um príncipe encantado não chega e o fi... Altro

Capítulo 01
Capítulo 03
"Kim Namjoon"
Capítulo 04

Capítulo 02

549 91 202
Da BiaBetteher

Ótima leitura

"Você foi embora, deixou seus sentimentos comigo e levou os meus. E eu senti falta dos seus toques e ainda os sinto como da última vez. Eu só te peço por favor, eu preciso senti-los novamente..."

Ellen S.

- Park Jimin -

Acordei pela manhã e Namjoon já não estava, ele sempre acorda cedo e sabe que eu nunca levanto antes das 9, então sempre sai sem que eu perceba.

Levantei e depois de todo meu ritual matinal me arrumo para que eu possa sair. Preciso comprar umas bebidas e alguns petiscos e passar na casa do Hobi para deixar lá, caso me atrase eu não deixarei ninguém com fome.

Antes de pegar o elevador faço uma parada em frente a porta do meu casal favorito, aperto a campainha e espero.

- Oi Jimin, bom dia, vem, está frio aqui fora hoje. - Senhora Han me cumprimenta com um sorriso largo no rosto.

Havia um movimento diferente na casa dos Han, da porta eu conseguia ouvir o falatório animado que estava lá dentro.

- Bom dia senhora Han, eu agradeço mas só passei para deixar esses biscoitos que fiz ontem a noite. Me desculpem mas hoje eu estarei bem ocupado e talvez não poderei tomar café com vocês.

- Não se preocupe meu rapaz. Meus filhos, os dois estão aqui com as suas famílias. Eu nem acreditei quando chegaram hoje pela manhã, nos fizeram uma surpresa e tanto.

Era nítida a sua alegria, depois de um longo tempo sem ver os filhos, com certeza essa era uma grande surpresa. Ela pega o prato de minhas mãos e me faz abaixar para que pudesse me dar um beijo casto na testa.

- Você nos trouxe sorte, e agora eu desejo que o universo traga tudo o que desejar de melhor para o próximo ano. Só confia e acredita, tá bom?

Eu não consegui responder como queria, apenas retribui o beijo casto e me despedi indo em direção ao elevador. Confesso que acordei um pouco sensível demais, e é assim em todos os anos.

O último dia sempre é difícil para mim.

Sei que para algumas pessoas isso pode parecer tolo, que já se passaram anos e eu deveria apenas esquecer e seguir em frente. Mas a verdade é que ninguém pode editar a vontade das próprias lembranças.

Eu simplesmente amei o Jungkook antes da gente namorar, amei enquanto estávamos namorando e ainda amo mesmo agora quando ele já não está aqui.

E eu não posso simplesmente arrancar as memórias boas que tivemos juntos, e eu não o culpo por isso. Ele me perguntou e me deixou ciente dos possíveis fins, mas quando estamos apaixonados não queremos pensar no que vem depois, porque o que importa é a oportunidade que estamos tendo no momento.

Depois que ele me confirmou que voltou com o ex eu simplesmente aceitei que nós nunca mais seríamos nada além de amigos.

Até que nos dois primeiros anos eu simplesmente esperava que ele voltasse nos finais de ano para que pudéssemos ter aquele momento entre amigos que sempre tivemos. Mas ele simplesmente arrumava uma desculpa qualquer e não vinha.

Era óbvio que a prioridade dele no momento era seu atual relacionamento, e a cada dia, mês e ano que passavam nós tínhamos menos contato e sabíamos menos de sua vida. Até chegar esse ano, ele simplesmente não deu nenhum sinal de vida, nem uma desculpa, apenas o silêncio.

Claro que isso me afetou mais do que os outros, mas eu tenho a teoria de que lamentar uma dor passada no presente, é criar outra dor e sofrer novamente.

Então eu apenas tento seguir em frente da melhor maneira que eu puder. Por mais que meus sentimentos pelo Jungkook sejam fortes, eu hoje trabalho o meu psicológico o máximo possível para acreditar que eu e ele somos apenas amigos e nada mais. Acho que o fato de imaginar que ele não pretende mais voltar e a possibilidade de nos reencontrar novamente seja pouca, me faz acreditar que isso é verdade.

Ficar tanto tempo distante de uma pessoa faz você congelar certos sentimentos, porque se eu não vejo eu não sinto e é sobre isso.

O que sinto não morre mas também não evolui.

Antes de ir para a casa dos meus amigos comprei bebidas e alguns petiscos e depois de algum tempo eu já tocava a campainha do apartamento de luxo, o que não demorou muito para um dos dois vir me atender.

- Jimin amigo, entra. Deixa eu te ajudar com essas sacolas. - Tae pega algumas de minhas mãos e entra me fazendo seguir até a sala de estar. - Amor o Jimin chegou. - Avisou ao Hobi.

Olhei em volta e o apartamento já estava uma bagunça organizada. Algumas mesas fora do lugar de costume para abrir mais espaço, balões dourados, confetes e muito brilho.

Meus amigos se empolgam nessa época, sempre foram assim e a cada ano se superam, é como se quisessem competir com eles mesmo todos os anos, fazendo algo melhor e maior.

- Fique a vontade Jimin, vou levar essas bebidas até o freezer e ver o que o Hobi está aprontando que ainda não veio.

Eu amo a relação dos dois, eles são perfeitos um para o outro.

De pé ao centro da sala de estar observando a decoração que ainda estava sendo montada, e um cantinho em especial me chamou atenção.

Andei até lá e com um meio sorriso observei que haviam alguns portas retratos postos em sequência. Neles estavam todas as fotos que tiramos em todos os nossos réveillon. Sempre no mesmo lugar, na sacada com o brilho dos fogos atrás.

Mas assim que me deparei com as últimas senti a dor da falta que Jungkook me fez todos esses anos. Por um momento queria voltar no tempo para o ter ao meu lado, mas será que ele ainda seria o mesmo?

Com um toque sutil em meus ombros, Hobi chega e me desperta dos meus pensamentos.

- Desculpa a demora, você sabe que eu sou péssimo na cozinha, estava tentando preparar algo mas acho que deu super errado, o Tae está tentando consertar.

- Ai amigo, já disse que algumas aulas de culinária não te mataria. Tadinho do Tae.

- Tadinho nada, casou sabendo que teria que cozinhar o resto da vida para nós, em troca eu o recompenso de outras formas.

- E vejo que está recompensando muito bem, sempre que os vejo o Tae está cada dia mais apaixonado. Mesmo assim acho que ele merecia o prêmio de marido do ano.

- Toda ação gera uma reação, ele enche meu buxinho e eu o encho de...

- Não, por favor me poupe detalhes, não quero saber.

Com algumas gargalhadas vamos até o único sofá que não estava lotado de coisas e sentamos.

- Está animado para a noite Jimin?

- Sim, como todos os anos.

- Tem certeza?

- Sim Hobi, não me vejo comemorar a passagem do ano sem estar ao lado de vocês.

- Não vai mesmo perguntar esse ano qual foi a desculpa que ele deu?

Eu amo meu amigo, mas mexer nesse assunto é sempre uma merda.

- Pelo o que entendi ele nem deu uma desculpa. Se ele está bem lá, tudo bem.

É nítido como meu humor muda quando o assunto é Jungkook. Uma coisa é eu ter que lidar com esse sentimento dentro de mim, lutando dia após dia para ele não me derrotar. A outra é ter que explicar e dar satisfações a outras pessoas de como me sinto.

Quero mostrar que superei, que estou bem e que o fato de não ter mais nenhuma informação não me afeta, mas ele é o meu ponto fraco e eu não sei esconder isso.

Hobi me olha e quer mais do que uma simples explicação, então me virei totalmente para ele e segurei as suas mãos.

- Amigo não se preocupe comigo, juro que eu estou bem. Está tudo se encaminhando em minha vida e já tem um tempo que eu aprendi que vai ter um certo momento em que devemos saber a hora de levantar e ir embora. Ele soube o momento dele e eu soube o meu momento.

- No começo eu me preocupei quando Jungkook foi embora e logo depois voltou com aquele projeto de ex. Eu vi como você ficou e só nós sabemos o quanto isso machucou e machuca você. Depois que o Namjoon entrou em sua vida eu fiquei mais aliviado, vocês eram lindos juntos e ainda são, mas agora com você sozinho novamente eu me preocupo.

- Não precisa amigo, e o Nam sempre está comigo, tanto que ele dormiu lá em casa essa noite.

- Ele chegou? Nossa eu fico muito mais aliviado quando ele está por perto. Eu sei que ele cuida muito bem de você Jimin, te protege e não deixa nada nem ninguém te machucar. - Hobi faz uma pausa e se vira totalmente para mim para que eu tenha sua total atenção. - Porque você não dá uma oportunidade a ele, se entrega de corpo e alma a isso que vocês tem e vai ser feliz com alguém que valoriza a sua presença?

Olhei meio sem entender aquela pergunta, Hobi nunca foi de se intrometer na minha vida pessoal e ver ele falar sobre isso me afetou. Talvez eu realmente esteja perdendo alguém que só me fez e faz o bem.

Mas também não é justo prender o Namjoon a mim, eu o amo e tenho certeza disso, mas é um amor mais fraternal, um sentimento de carinho muito forte, de dedicação, de interesse pela pessoa que ele é.

- Desculpe eu tocar nesse assunto agora Jimin, mas mais um fim de ano chega e não consigo ver algo que tenha mudado em sua vida. Não que você tenha estagnado, sei que está indo muito bem na sua vida profissional, mas para e pensa, é só isso. Depois que tudo aconteceu a anos atrás você tem se dedicado muito ao seu trabalho transmitindo a sua forma de amor em cada peça feita. - Hobi pausa e se vira para apontar uma peça feita por mim sobre um aparador em sua sala de estar - Aquele jarro de estrutura única e com uma arte linda feita a mão, mostra exatamente o amor, carinho e companheirismo que eu e o Taehyung temos um pelo outro. Você sempre fala sobre o amor, em seu trabalho e em como trata seus poucos e verdadeiros amigos, mas do que adianta falar se você não o vive?

Por mais que o Hobi tenha razão, não é fácil me envolver sentimentalmente com alguém que não me faz sentir tudo o que um dia pude provar com um outro alguém.

Com certeza o Nam é o homem que qualquer pessoa desejaria ter, mas e se, somente "se" eu desse essa chance, será que eu conseguiria me entregar de corpo e alma e iria conseguir o fazer feliz como ele merece? Ou apenas iria repetir mais uma vez o mesmo erro?

- Você está certo em tudo o que disse Hobi, mas eu tenho medo.

- Desculpe amigo, mas isso é algo que eu não consigo entender. Como uma pessoa tem medo de ser feliz?

- Eu não tenho medo de ser feliz, não foi isso o que quis dizer.

- Mas é isso que vejo. Namjoon é um cara incrível e eu sei que entre tantos, hoje, ele é o único que pode e vai te fazer verdadeiramente feliz.

Mais que caralho! O que o Hobi quer com essa conversa?

Eu estava ficando nervoso e ansioso com todo esse papo, mas além de tudo estava realmente olhando essa situação com o Namjoon com outros olhos.

Quando tento responder, Tae entra na sala com alguns petiscos em mãos, três taças e uma garrafa de vinho branco. Hobi sussurra que continuaremos a conversa depois e se levanta apressado para ajudar o marido a pôr as coisas em alguma mesa disponível na sala.

- Que tal começarmos a comemorar a partir de agora? - Tae pergunta enchendo metade de uma taça e a entregando para mim.

Também com uma taça em mãos, Hobi concorda feliz. Comemos, conversamos muito e as horas passaram rapidamente.

Tendo que fazer algumas tarefas em casa antes de ter que sair novamente, pego minhas coisas e me despeço com um até logo dos meus amigos. Chegando em casa me jogo no sofá desinquieto, pois as falas do meu hyung não saiam da minha cabeça.

A verdade é que eu estava pensando em tantas coisas ao mesmo tempo que parecia que eu ia enlouquecer.

Quando eu comecei a namorar o Namjoon tudo aconteceu tão naturalmente, não foi nada forçado, não teve um pedido formal, apenas foi a junção de duas pessoas que se completavam em muitas coisas.

Então quando nos demos conta ele já passava a maioria do tempo em minha casa e fazíamos praticamente tudo juntos, e quando nos perguntaram a primeira vez foi muito natural como olhamos um para o outro e o Nam falou como se me perguntasse: Namorados? E eu apenas balancei a cabeça em forma de afirmativa com um sorriso no rosto.

E do mesmo jeito que começou, terminou.

Depois de dois anos juntos sabíamos que o status de namorados não combinava mais com o que estávamos vivendo. Namjoon sempre soube tudo sobre mim, e sim ele também sabe tudo sobre o Jungkook e como tudo aconteceu.

Sempre lembro do que me disse quando decidimos juntos que não ficaríamos mais.

"Eu te amo e sei que me ama também, mas também sei que o idiota do tal Jungkook tirou de mim a oportunidade de te ter por mais tempo em meus braços."

E infelizmente eu hoje entendo que nós não amamos as pessoas pelas qualidades que elas têm, porque o amor não obedece a razão.

Eu amo como o Namjoon é um homem educado, se veste bem, intelectual, gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, ama livros e obras de artes com gostos duvidosos. Mas isso são só referências.

Porque na verdade a gente ama pelo cheiro, pela paz que o outro nos dá ou no meu caso pelo tormento que provoca. Amamos pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam ou até mesmo pela fragilidade que se revela quando menos se espera.

Como eu queria que ao invés de um sentimento o amor fosse uma equação matemática, onde eu quebrado, mais Namjoon a cura, fosse igual a dois apaixonados, só que não funciona assim.

Mas e se eu tentar? O amor nos dá escolhas inusitadas, o Nam pode ser quem meus sentimentos procuram mesmo que eu não sinta e esteja preso ao passado.

Então depois de muito pensar eu me sento, tiro meu celular do bolso e faço uma ligação para o Namjoon e no quinto toque ele me atende.

- Quando uma pessoa que detesta falar por ligação te liga, é sinal de que eu precisamos ficar apreensivo?

- É sinal que você é uma pessoa importante e que tem o privilégio de ouvir a minha voz sexy pelo telefone.

Namjoon sorri do outro lado da linha.

- Me diz, o que é de tão importante que fez você ligar para mim?

- As vezes detesto a maneira de como você me conhece tão bem, sabia? Mas eu queria saber se tem como você chegar um pouco mais cedo na casa do Hobi, eu queria conversar sobre algo importante com você.

- Sabia, mas não vai me dizer sobre o que é?

- Não, eu prefiro falar pessoalmente. Tenta não se atrasar, eu queria passar essa virada já com esse assunto resolvido.

- Ok eu vou fazer o possível tá bom? Sabe como são as minhas tias, depois que meus pais voltaram para o Japão viraram um grude só. Mas não se preocupe, eu estarei lá.

- Então está bem, se cuida eu te amo.

- Também te amo.

A ligação foi finalizada e mais tranquilo consigo relaxar.

Na verdade não muito, era muita pressão sobre meus ombros, tomei uma decisão que poderia mudar o meu destino e eu não poderia voltar atrás.

Porque eu decidi viver histórias sem arrependimentos.

As horas iam passando e a cada passar do ponteiro do meu relógio mais próximo ficava o momento do fim/novo começo. Mas já havia alguns anos que para mim não fazia muita diferença, nada iria mudar a não ser o número e o tema do calendário que ficava sobre a bancada da minha cozinha.

Já eram 20 horas e eu ainda estava deitado em minha banheira curtindo um dos meus discos LPs com aquela vibe mais blues que amo.

Por mais que seja um ritual estar ao lado dos meus amigos nesse momento, talvez eu queira apenas esse ano passar assim, no meu canto, na minha bolha, sem ter que passar por frustrações de imagens do passado toda vez que aqueles fogos começam a explodir no céu.

A luz baixa, o som ambiente e o conforto da água quente era tudo o que eu queria no momento e pensar que tenho que apenas me levantar, pôr uma máscara de pessoa feliz e simpática e sair era doloroso.

Mas sem ter muito o que fazer eu apenas levanto e coloco meu roupão. Vou em direção ao meu quarto e ao entrar parei em frente a minha cama olhando a roupa que vou usar.

Diferente dos outros anos, não usarei branco, mas sim uma camisa com um tom claro de verde. Nas superstições diz algo como esperança e equilíbrio, não que eu me apegue a esses tipos de coisa, mas quero fazer diferente. Quem sabe o próximo ano me dê mais esperanças nas coisas boas, me leve para lugares certos e me afaste de certas dores.

Já pronto ensaiei um sorriso simpático e saí, indo rumo a casa do Hobi.

Atravessei a cidade e mais uma vez estava em frente a porta do apartamento dos meus amigos.

Olhei no relógio e quando o ponteiro marcou 21:30 apertei a campainha. Então meu sorriso logo se abre quando vejo Yoong todo animado com uma taça de champanhe em mãos. Me abraça e me puxando pelos ombros me leva pro interior do apartamento.

- Olha quem chegou na hora? - falou enquanto nos aproximamos da mesa onde estava meu casal favorito.

- Nossa, realmente não se atrasou dessa vez e também não está de branco, que evolução. Será um presságio de que algo bom vem aí? - Tae brinca enquanto vem em minha direção me abraçar. - Você está lindo Jimin, que bom que veio. Hoseok foi ao banheiro e já volta.

- Como é bobo. Se me atraso reclamam, se sou pontual ficam de gracinha, não entendo vocês. - Digo com um tom sarcástico.

- Uau, como ele está lindo de verde. - Me viro para olhar o Hobi vindo em minha direção.

Com um abraço caloroso ele me aperta e consigo constatar que ele já está alegrinho demais.

Meu amigo é fraco para a bebida só pra constar.

- Aqui Jimin. - Yoon me entrega uma taça. - Não quero ver ninguém sóbrio quando chegar o momento da virada.

- E o Namjoon? Que horas ele vem? - Tae pergunta.

- Falei com ele à tarde, me prometeu que não iria se atrasar esse ano. Então a qualquer momento ele aparece por aí.

Namjoon, Tae e Yoon são muito amigos. Se completam e quando se juntam ficam horas conversando sobre tudo. E isso foi um dos motivos para que eu ficasse dois anos com ele. Meus amigos o aceitaram e o receberam de braços abertos, acho que eu não saberia ter uma relação saudável com alguém que não fosse bem aceito por eles.

E então as horas foram passando, e passou depressa. Agora faltava apenas uma hora para a passagem do ano e nada do Nam chegar. Até tentei ligar mas a voz eletrônica apenas comunicava que o telefone estava fora da área de cobertura.

Eu queria e precisava tanto conversar com ele, queria tanto falar tudo o que tinha para falar antes do ano virar, mas nada, meia hora se passaram e nem sinal dele.

Meus amigos estavam animados. A playlist de gosto duvidoso tocava várias músicas aleatórias, o Yoon já bem animado arriscou uns passinhos o que fez nós três rir muito.

Quando olhei no relógio e vi que faltavam apenas quinze minutos me levantei, completei a minha taça e fui até a sacada.

Mais uma virada de ano, e não sei explicar mas eu estava ansioso demais, muito mais que os outros anos. Talvez pela conversa que quero ter com o Nam, ou pelo simples fato da possibilidade de não o ter aqui comigo quando o relógio marcar zero horas.

Mas eu sei que ele vem, sei que ele estará aqui.

De repente como se fosse um sinal dos céus, faltando apenas um minuto, começa a tocar a música que mais ouvi esse ano, e que me instiga a pensar nos desafios monótonos da minha vida, ou melhor, reflete as emoções profundas que eu experimento todos os dias.

"Sabe aqueles dias

Aqueles dias em que você está triste sem motivo

E parece que todos, exceto você

Estão muito ocupados e empenhados"

Sua melodia suave me encoraja a perseverar e encontrar a felicidade, mesmo nos meus momentos mais difíceis.

- Falta apenas um minuto. - Hobi se aproxima e para ao meu lado sendo seguido por Tae e Yoon.

Mas minha atenção ainda estava na letra da canção.

"Eu chego em casa

Deito na cama

E tento pensar

Se foi minha culpa

Uma noite inquietante

De repente, eu olho para o relógio

Quase meia-noite"

Zero O'clock é uma hora que tudo é reinicializado, pronto para começar novamente. E eu estava pronto, pronto para dar um passo diferente na minha vida na esperança que dias melhores estão por vir.

Mas a minha atenção foi roubada quando inesperadamente a campainha tocou.

Sorrindo olhei para o Hobi e indiquei que iria abrir.

Eu sabia que Namjoon não iria me deixar sozinho nesse momento. eu sabia que ele estaria aqui eu sabia que...

Então ao abrir a porta eu apenas parei.

Tudo virou apenas nada e só conseguia ouvir a música que tocava ao longe.

"Algo mudará?

Eu duvido

Mas, pelo menos, este dia

Terminará

Quando o ponteiro dos segundos e dos minutos se sobrepõem

O mundo segura sua respiração por um breve momento

Meia-noite"

E como na música por alguns segundos senti minha respiração parar ao ver aqueles olhos que brilhavam junto ao clarear dos fogos que preenchiam o céu.

Meu corpo não teve reação, mas sentia que meus olhos já não suportariam mais. Porque ali, somente a alguns centímetros de distância estava ele, eu não queria acreditar mas era ele.

O amor da minha vida, a minha dor por muitos anos e a pessoa por quem eu sempre esperei nesse exato momento quando o relógio marca zero horas.

Jeon Jungkook.

- Eu não acredito no que estou vendo!

Me desperto somente quando vejo Hobi passar animado por mim e o abraçar com força.

Ainda desnorteado eu caminho até onde está as bebidas quentes, peguei uma garrafa de Whisky Jack Daniels e a levei a boca, e com goles generosos eu tentava substituir a explosão de sentimentos que eu estava sentindo com o gosto amargo da bebida.

O que não foi possível é claro.

Voltei para a sacada e com os fogos ainda iluminando o céu me perdi novamente em pensamentos. Olhei discretamente para trás e desviei o olhar rapidamente voltando a olhar para os fogos quando constatei que era ele mesmo que estava ali.

De repente a virada de ano já não era tão importante para nenhuma das pessoas que estavam ali. Os três estavam em volta de Jungkook o abraçando e fazendo inúmeras perguntas. E eu apenas sentia medo. Medo de ter que o encarar depois de tanto tempo, medo de sua aproximação, medo dos meus próprios sentimentos.

E antes do fim do show de fogos no céu, ouço Tae mandar os três vir até a sacada para que pudéssemos tirar a foto para registrarmos mais uma chegada de ano novo.

Me virei e não tive coragem de o encarar, mas sentia que enquanto vinha em direção a sacada seus olhos me queimavam por inteiro.

Hobi se apressou e se posicionou ao meu lado, e com as mãos em meus ombros olhou para mim e perguntou se eu estava bem, e com apenas um balançar de cabeça respondi que sim.

Taehyung posicionou o celular no tripé e praticamente correndo veio em nossa direção. A foto foi tirada numa sequência de alguns flashes, indicando que mais de uma foi registrada. Quando parou, Hobi foi buscar o celular para vermos como tinham ficado, e enquanto ele ia passando, era nítido o movimento que era feito pelo Jungkook, o que me deixou mais apreensivo quando na última foto dava para ver perfeitamente que ele olhava diretamente para mim.

Me virei e me encostei no parapeito mais uma vez observando os últimos fogos que explodiam.

Hobi, Tae e Yoong vão para o interior do apartamento e o que eu mais temia aconteceu, mesmo sabendo que não teria como fugir disso, eu não estava preparado, mas não tinha como fugir.

Sentindo que ele se aproximava eu tento controlar minha respiração com medo de que ele percebesse o quão nervoso eu estava.

- Posso? - Perguntou se posicionando ao meu lado.

- Sim, claro. - Respondi com a voz um pouco falha.

- Pensei que não iria falar comigo.

E eu realmente não iria.

- Claro que eu iria, eu só estava esperando os meninos terminarem de te cumprimentar. Eles estavam morrendo de saudades.

- E você?

- Eu? O que tem eu?

- Também estava com saudades?

Merda Jungkook, não faça isso.

- C-claro, eu estava sim.

- Então porque não foi me abraçar também?

Porque você está fazendo isso comigo Jungkook?

- Eu posso? - Perguntei.

- Deve.

Ele se virou e tentando controlar minha respiração que ainda estava descompassada também me virei em sua direção, e caralho quando meu olhar se levantou e encontrou com o dele novamente, eu não soube disfarçar o quão abalado eu estava, e me amaldiçoei por ser tão fraco.

E então em um movimento rápido ele veio até mim e me abraçou.

E eu posso até estar me iludindo demais, mas foi um abraço poderoso que me trouxe sensação de proteção, segurança e amor.

Seu cheiro não havia mudado, era a mesma essência, o mesmo perfume amadeirado quente e intenso como sândalo.

- Eu senti sua falta Park Jimin. - Sussurrou em meu ouvido enquanto fazia um carinho gostoso em minha nuca.

E como se fosse automático minhas mãos também se levantaram e então nosso abraço estava completo. Agora já era impossível disfarçar o quanto eu estava abalado com sua presença, porque meu corpo reagiu ao sentir seu toque.

O pânico penetrando a carne, as lágrimas querendo brotar como flores, o desespero e a angústia, o esforço respiratório ofegante me fez dissolver em seus braços.

Deito meu rosto em seu peito e aperto com força sua camisa por trás.

Seu cheiro e seu abraço parecem uma droga das boas que me relaxou e me levou para outra dimensão.

E eu não conseguia dizer nada, só queria poder morar nesse abraço e poder viver feliz na utopia criada em minha mente.

- Me desculpa. - Ouço sua voz novamente adentrar aos meus ouvidos.

Jungkook precisava calar a merda da boca.

Eu não posso ser tão fraco, eu não posso me entregar tão facilmente, mas o escudo que eu pensei que tinha criado contra todo esse sentimento era fraco demais.

- A gente precisa conversar. Sobre nós.

Nós? Ainda existe nós?

Só que eu não quero. Eu não quero ouvir que tudo o que tivemos foi importante mas que agora ele estava bem com outra pessoa. Posso parecer egoísta mas não quero saber o tanto que ele está feliz. Não quero saber de suas histórias românticas vivendo ao lado de alguém que eu invejo, de alguém que não é eu.

Eu sentia que o ar não entrava mais em meus pulmões, eu teria muito o que dizer se a minha garganta não estivesse fechada.

Gostaria de ter esquecido, gostaria de não pensar, mas não consigo.

E então penso que nada disso é justo, não agora. Porque voltou?

E simplesmente lutando contra toda minha real vontade eu me afasto de seus braços, e tento apenas sair de sua presença. Mas suas mãos não me soltam totalmente e ainda segurando um de meus braços me faz o olhar novamente.

- Eu voltei por você.

Eu poderia estar sentindo qualquer sentimento naquele momento, amor, felicidade, alegria, mas na verdade eu estava com raiva.

Jungkook não pode sumir por anos, ficar sem dar notícias por meses e simplesmente voltar dizendo meias palavras e achar que eu irei escutar.

O pior é que eu ainda o amo e meu Deus como eu amo.

Mas ele tem alguém que ama, que o faz feliz, e aquelas poucas fotos no Instagram são a prova de que nunca fui eu, sempre foi ele.

Eu estava a ponto de surtar.

E quando eu iria me pronunciar a campainha toca novamente.

Agora tendo a certeza que o Namjoon havia chegado eu me desprendo de suas mãos e vou em direção a porta.

Ao abrir por impulso eu apenas me jogo em seus braços. Eu precisava me sentir bem novamente, eu precisava voltar ao controle.

- Ei, o que foi? Me desculpe pelo atraso eu... - Enquanto falava ia caminhando comigo para dentro do apartamento, mas para assim que avista Jungkook no centro da sala nos olhando. - Merda, agora eu entendi.

Me solto de seus braços e fico ao seu lado.

- Cara eu pensei que você iria chegar apenas na virada de 2023. - Yoong comenta com um ar brincalhão enquanto se aproxima para abraçar o Nam.

- Eu até que saí cedo da casa das minhas tias, mas o pneu do carro simplesmente resolveu furar no caminho. Fiquei sem área e depois sem carga na bateria. Foi um caos.

- Feliz Ano novo meu amigo. - Tae também o abraça.

- Ah, vem aqui grandão, deixa eu também te abraçar. - Hobi o abraça apertado. - Tudo bem não se preocupe, o importante é que agora está aqui. Vem, deixa eu te apresentar uma pessoa.

Hobi segura Namjoon pelas mãos e o aproxima de Jungkook.

E porra eu senti um frio na espinha quando percebi o quanto os dois se encaravam firmemente sem esboçar nenhuma reação de contentamento em se conhecer.

Ambas as mãos se levantaram e os dois se cumprimentaram.

- Jungkook esse é o Kim Namjoon, nosso amigo e... - E de repente Nam interrompe a fala do Hobi.

- Namorado do Jimin.

Jungkook solta uma pequena risada e sem hesitar rebate a fala de Namjoon, ainda segurando firme a mão do meu amigo.

- Bom, pelo o que eu saiba vocês já não são namorados a algum tempo.

Fico surpreso quando ouço Jungkook mencionar isso. Ele sabia? Como?

Eu não estava gostando daquela situação. Então Namjoon sorriu e retrucou.

- Porque as pessoas só ficam sabendo o que a gente quer que elas saibam.

Que merda é essa Nam?

O clima na sala está pesado, os dois ainda se seguram pelas mãos e dava para ver que era um aperto forte.

Tentando acabar com essa situação, eu vou até os dois e seguro pelo braço do Nam.

- Namjoon eu estou cansado vamos para casa?

Jungkook me olha meio que desapontado e solta a mão de Namjoon.

- Sim, me deixa só ir ao banheiro pois estou apertado e já vamos.

Nam se retira e começo a me despedir dos meus amigos. Eles não reclamaram sobre minha decisão pois sabiam que aquela conversa poderia não terminar bem.

Então Jungkook mais uma vez vem até mim.

- Porque parece que está fugindo de mim? Eu quero muito conversar com você Jimin e esclarecer algumas coisas.

- Eu não sei se é uma boa ideia Jungkook.

- Por causa dele? Vocês realmente estão juntos?

- Não, não é por ele e nem por ninguém, é apenas por mim mesmo.

Ele se aproxima um pouco mais e me segura pelos braços me fazendo arrepiar novamente pelos seus toques.

- Só me dá mais uma chance e fica mais um pouco, eu prometo explicar tudo. Só me escolhe mais uma vez.

Seus olhos brilhavam e pareciam desesperados, mas eu não estava pronto para aquela conversa.

- Prometo que teremos outra oportunidade antes de você ir embora Jungkook, mas agora eu preciso ir.

- Mas é sobre isso que também quero te explicar, eu não vou vol...

- Vamos Jimin? - Nam me chama.

Volto meu olhar para o homem à minha frente e apenas me despeço.

- Até logo, Jungkook.

Me viro e com as mãos do Nam em meus ombros saio do apartamento sem olhar para trás.

Eu tinha feito uma escolha, e não era sobre voltar ao passado.

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