12 dias até minha morte

By faehrin

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Você já imaginou saber o dia de sua própria morte? É assim que começa a história de Lucas: um garoto de 16 an... More

Prólogo
Dia 1
Dia 2
Dia 3
Dia 3.5
Dia 4
Dia 5 ou algo assim
Dia 6
Domingo a noite.
Dia 7
Dia 7, noite.
Dia 8
Dia 9
Dia 11.
Dia 12.
Dia 13.

Dia 10

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By faehrin

BOM DIA DIÁRIO!

06:42 da manhã

Uau, acordar bem por três dias seguidos é fantástico! Meu corpo parece novo em folha!

Acordei relativamente cedo, de novo, mas tanto faz! Tenho que acordar o mais cedo possível nestes próximos dias, aproveitar cada momento, cada segundo!

Nesses próximos dias... Caramba.

Passou tudo tão rápido não é? Já estamos no décimo dia de diário.

Antes de começar a escrever, dei uma relida em tudo que aconteceu nesses últimos dez dias.

Que insano!

Primeiro, imaginei que minha vida tinha sido mais animada e feliz em 10 dias do que em todo o resto.

Mas aí, eu comecei a lembrar de antes do diário.

A sensação de me apaixonar pela Letícia, de passar aqueles quatro meses sem saber se estava doido ou loucamente gamado em uma garota que surgiu do nada na minha vida. Dos momentos bizarros e simples, como ver um filme da Disney e começar a chorar igual um bebê, das lutas de "sabre de luz", dos ficantes que ela contava que me deixavam "por algum motivo" muito agoniado. De tudo.

Lembrei de antes da Letícia. De como meus pais me empurravam para fazer as coisas, de como eles saíam comigo toda sexta feira para andar pela cidade, pelo centro, tomar um café, dar risadas de algum idoso na rua (pais e filho cruéis, eu sei), de tudo.

Sabe, pensei muito nisso agora de manhã. Talvez, estar perto da morte me fez ver o quanto a vida era boa comigo. Ainda bem que percebi isso a tempo.

Vamos juntos, leitor! Vamos ter os últimos melhores dias de todos!

Dia 10 de 12!

Comecei o dia tomando um banho quente. Nada melhor que começar o dia tomando um banho quente!

Passei um perfume adocicado que encontrei, por sorte, em cima da minha cabeceira, e baguncei o cabelo com a toalha. Por algum motivo, meu cabelo fica mais bonito bagunçado do que engomado e organizado. Só um fato curioso mesmo.

Coloquei uma calça de moletom preta, um tênis qualquer que combinasse e uma camisa branca com a marca detalhada no peito, do lado esquerdo. Uma roupa bonita, mas simples, para combinar com o dia.

Sorri para o espelho. Fazia tempo que não me olhava pensando que poderia fazer tudo. Acho que posso fazer tudo!

Agora, estou enrolando um pouco na cama, já que a mesa já está posta (eu estou um pouco ansioso, acontece) e meus pais ainda não acordaram. Que povo preguiçoso! Nem parece que já são quase seis da manhã!

Pensando bem, acho que vou começar a fazer a comida. Seria uma boa ter os ovos fritos já prontos, ao invés de fritar conversando com meus pais. Assim eu já saio direto e busco a Let na casa dela!

Aliás, sobre os planos de hoje: Vou levar minha bicicleta, como ela disse ontem, para caso resolvêssemos andar por aí agora pela manhã. E, de tarde, vamos ao parque de diversões! Ai meu deus, ir à um parque com o amor da minha vida? Vou surtar!

Imagina beijar em uma roda gigante?! Meu Deus!

Vou parar de fanficar e vou cuidar da minha vida, antes que sonhe acordado até morrer!

Até já, querido diário! Vou voltar quando conseguir, mas atualizo tudo em segundos!

12:43, almoço.

Tudo bem, acho que foi a manhã mais inesperada de todas.

Olá de novo leitor, acho que eu demorei um tanto para aparecer, certo? Pois é, aconteceu bastante coisa nova, tive que esperar voltar para casa e almoçar para conseguir atualizar tudo!

Por onde eu começo? Ah, sim!

Pequeno spoiler: Agora, acho que a Sofia vai aparecer um tanto mais por aqui (pois é).

Logo depois do café da manhã, bati um pouco de papo com meus pais e sai correndo buscar a bicicleta. Não posso enrolar muito nesses dias né.

Peguei a bicicleta, subi nela, acelerei e caí logo em seguida, de boca no chão. Ralei o joelho com força e tá ardendo até agora. Isso que dá ser burro.

Levantei, xinguei até a quinta geração da bicicleta e voltei a acelerar até a casa Let. Não caí mais, graças a Deus, e cheguei lá em uns 6 minutos. Ofegante e pingando, mas cheguei.

Não sei se estava nervoso por conta dos planos que tínhamos feito, ou pela ideia de que ela poderia ter encontrado algo para me ajudar, mas alguma coisa me fez ficar extremamente ansioso pela manhã.

Tão ansioso, que eu marretei a porta da coitada da Let. E, não obstante, berrei igual uma gralha enquanto batia palmas, chamando pela enrolada (não tinha demorado nem um minuto sequer).

Ouvi passos, acompanhados de um "PELO AMOR DE DEUS LUCAS" com um tom um tanto irritado, e já imaginei quem fosse.

— Bom dia, inferno. Não sabe bater na porta de alguém como um ser humano normal? — Disse Let, abrindo a porta com a maior fúria já vista na terra. Por mais que ela já estivesse arrumada, com um short jeans, uma camisa do Brasil e uma sandália preta linda, seus olhos estavam bastante cansados. Sonolentos. Parecia que ela não tinha dormido muito bem.

— Bom dia, marmota enfezada! Não fiz nada demais, só macetei sua porta até você atender! — ironizei, dando risadas e passando a mão na nuca — Tá tudo bem, Let? Você parece cansada...

— Nem me fale. Cansada é pouco. Você nem imagina quem veio no jantar de família.

— Hum? Prossiga... — questionei, curioso.

— "Jantar de família", pelo visto, era jantar com famílias. A família da Sofia veio passar a noite em casa. E, como a lógica, ela veio junto. — Disse, com um rosto... amigável? Ela pareceu feliz da Sofia ter passado a noite ali. Tem alguma coisa bem errada...

— A Sofia? Suas famílias são amigas assim?

— Bem, nossos pais trabalham juntos, não fiquei tão surpresa quanto deveria ficar. Mas, é, eles vieram, passaram umas boas horas conversando. E, por sinal, eu e ela ficamos em um cômodo separado durante um bom tempo. Um booom tempo.

Minha nossa senhora da bicicletinha sem freio. É, com certeza rolou uma terceira guerra mundial, uma catástrofe, xingamentos e maldições até a quinta geração da família de cada uma. Já imagino...

— E vocês brigaram muito? — Perguntei, já imaginando a resposta, mas...

— Não. Na verdade, a gente fez as pazes. Ah, e eu convidei ela 'pra' hoje a tarde também.

— QUE? VOCÊS QUE? QUE? — Indaguei na maior indignação da minha vida. Eu digo que o roteirista desse filme não bate bem na cabeça. COMO elas fizeram as pazes? Até ontem ela disse que iria "rosnar" uma para a outra?!

Letícia riu, enquanto olhava para minha cara, um tanto curiosa.

— A gente fez as pazes ué. Mulher é assim, se conversar bem, resolve. Tinha algumas coisas que eram pura birra, então só resolvemos deixar tudo quieto e, sabe, deixar o orgulho de lado. É bom às vezes...

— Então, de um dia para o outro, vocês PÁ, viraram amigas de novo? Simplesmente, puft, rolou?!

— Não de um dia para o outro né bobão. A gente é amiga, só estávamos meio brigadas, acontece. E outra, depois que vimos que o motivo da briga era besta, e que já estava resolvido, deixamos isso quieto.

— Calma, o motivo da briga? Se já está resolvido, então... — — respirei fundo, deixando toda a indignação de lado, concentrando toda minha curiosidade naquele único e específico momento:

— Qual era o motivo?! — perguntei, falando rápido demais, com o coração batendo para fora da boca.

— Ah, você né, seu cabeça oca.

— Hein?? — Questionei, sem entender nada.

Como assim o motivo era eu? Não fazia sentido, eu não tinha feito nada para as duas, e conheci a Let depois das duas se conhecerem. Elas brigaram, sei lá, dois meses depois que acabei conhecendo a Lê? E eu só conversei com a Sofia naquele dia no ginásio (eu sequer reconheci ela, por sinal...).

— Não faz sentido! Em que momento eu fiz alguma coisa? — Indaguei, agora menos ansioso, e bem mais confuso. Batia o pé esquerdo constantemente.

— Você não fez nada né, bocó! A gente brigou porque eu comecei a andar muito com você, e acabei "largando" ela de lado. E, bem, quando ela me disse isso, eu disse que ela só tinha inveja porque sempre teve uma queda por você. Aí ela ficou indignada. E discutimos.

— Ela o quê? A Sofia tem uma queda em mim? Pelo amor de Deus né? — Agora, EU estava indignado. Me meteram no meio de algo que eu não tinha nada haver!

— Você é muito panguão Luquitas, sério — debochou, e começou a rir, com aquele sorriso lindo, mas irritante, de sempre — Mas, sim, ela tinha uma queda em ti. E, acho que eu me irritei porque também tive uma queda.

— Por ela?

— Por você né! Pelo amor você é muito lerdo cara!

— Ahh! Entendi! Pera, você tinha uma queda em mim antes também?

— Ai minha santa senhora aparecida você é o ser humano mais burro que existiu na terra desde a criação do conceito burro. Vamos andar de bike logo vai, a gente conversa sobre isso com ela hoje a tarde.

— Então ela vai mesmo hoje a tarde? Achei que era um momento nosso, sei lá... — Disse, um pouco baixinho. A Sofia não me irritava, nem nada do tipo, mas, sabe, últimos dias de vida, queria ficar um pouco a sós com a Lê.

Ela me olhou, com uma carinha feliz, e disse:

— Ei, relaxa. Vai ser um momento nosso, mas ela tem algo que precisa te contar também. Algo importante, por sinal. Seria bom nós três falarmos sobre.

Tutorial de como aumentar minha curiosidade: O que ela teria para conversar comigo? Pelo menos, o que seria tão sério assim? Duvido muito que seja algo como, sei lá, "me dá meu casaco quero dormir na aula de amanhã".

— Tá bem, vamos andar logo. Que tal andar por aquele parque outro dia? Aquele, dos patinhos?! — Concordei, olhando nos olhos da Let. É impossível discordar de algo enquanto olho para alguém tão linda quanto ela. Sério, como pode? Até tinha me esquecido do que estávamos falando, na hora.

— Aquele maldito patinho — Repetiu, com uma cara enfezada — maior corta clima do Brasil.

Demos risada, enquanto pegávamos a bicicleta. Aquele pato vai ficar na história por muito, muito tempo.

Andar de bike em dupla é, sinceramente, muito mais divertido. Tudo parece mais vivo.

Fomos por dentro da cidade até certo ponto, quando viramos na mesma rua de antes e encontramos aquele pequeno trecho de natureza, que levava para aquele laguinho cheio de patos aterrorizantes.

Demos uma pausa, observamos os patinhos de novo, demos boas risadas lembrando de algumas cenas de terça— feira (Dia 8, para vocês leitores), joguei— a na grama e pulei em cima, rolando e brigando por algum motivo besta e engraçado, até que paramos na beira do lago, novamente, com as cabeças próximas da água. Olhava para cima. O sol batia diretamente no lago, e fazia frestas de luz dentre as folhas das árvores que caracterizavam o lugar como algo mágico. O vento batia nos cabelos, junto com algumas gotinhas de água aqui e ali. Caramba, que mundo incrível a gente vive.

Olhei para a Lê, que estava de olhos fechados aproveitando a brisa do vento. Ela estava linda, como sempre. O sol batendo em seu rosto, por algum motivo, deixava ele mil vezes mais atraente. Deus, como eu sou apaixonado nessa garota.

Antes de irmos, peguei um graveto aleatório que tinha encontrado no chão, e desenhei, na pedra (não consegui marcar uma árvore com um graveto né) próxima ao lago, um coração com dois L's escritos. Parando pra pensar, L & L fica meio estranho, mas na hora, estava lindo.

Sorrimos, ganhei um beijo na bochecha de presente, tentei não desmaiar, e voltamos correndo para casa, porque a fome batia com tanta força que parecia que eu estava prestes a virar um buraco negro.

Combinamos de nos encontrar no parque de diversões às 15:00, e Letícia disse que iria avisar Sofia.

Voltei para casa, e aqui estou, almoçando, mastigando o mesmo pedaço de batata por 20 minutos, enquanto sonho acordado com cada coisinha que aconteceu pela manhã, e cada coisinha que pode acontecer agora à tarde.

Sabe, tenho vários pensamentos na cabeça. Muitas dúvidas, admito. Mas a maioria delas devem passar agora à tarde.

Só que, pensando agora, eu tenho uma observação: Não acho que a Letícia tenha só desculpado tudo e resolvido do jeito que ela disse. Acho que alguma coisa maior interferiu.

Não sei, parece besteira, eu sei. Mas, sabem, alguma coisa na minha cabeça diz que elas se resolveram por algum motivo grande, maior do que uma briga. Será que a Letícia contou que eu vou morrer? Ou, sei lá, isso interferiu em algo na conversa das duas?

Essa é minha maior dúvida. Essa, e qual o recheio dessa batata que eu to comendo agora. Sério, não faz sentido, tem tantos gostos diferentes?!

Enfim, vou terminar de almoçar, me arrumar, tomar mais um banho, e volto à noite para atualizar o caderno. Vapt— Vupt!

1:27 da madrugada.

Caramba.

Acabei de deitar na minha cama. Respirei fundo, peguei na caneta e comecei a escrever.

Eu tenho tantas dúvidas, tantas perguntas. Tantos medos, agora.

Um dia tão espetacular, momentos tão lindos e espetaculares. Mas, com apenas quatro minutos, virou o motivo de tanto medo. De tanto receio.

Tá, vamos com calma:

Cheguei no parque de diversões alguns minutos atrasado. Estava com uma camiseta estampada vermelha, outra calça preta e outro tênis similar. Praticamente, só a camisa tinha mudado.

Esperei perto da barraca de algodão doce, até que avistei Letícia e Sofia, juntas, vindo na minha direção.

Letícia usava uma calça de moletom rosa com um top branco, que combinava muito com ela. E combinava bastante com o parque, por sinal. Já Sofia, usava o mesmo estilo de roupa, mas com uma calça e um top pretos. Um tanto dark para a situação, mas também combinava com ela.

— Eai gente! Essa situação continua muito estranha para mim... — Cumprimentei as duas, abraçando a Let com força, e dando um leve abraço na Sofia, só de precaução.

— Bem, eu ainda não acostumei! — Disse Sofia, rindo, enquanto balançava os braços — Mas, que bom que agora podemos conversar nós três. Senti falta de falar com a Lê numa boa.

— Vocês dois são muito dramáticos! — Contestou Let, dando risada.

Por alguma coincidência, eu e Sofia falámos ao mesmo tempo, em coro:

— Olha quem fala! — E ambos caímos no riso.

— Tudo bem, tudo bem! Não sou a pessoa mais certa para julgar! Vamos lá, em que brinquedo querem ir primeiro?! — Exclamou, demonstrando sua animação.

— Uai, como assim? Já? — Indaguei, sem entender nada — Vocês não queriam conversar sobre alguma coisa? Não seria melhor fazer isso antes de passar mal nos brinquedos?

As duas se entreolharam, olharam para mim, se olharam de novo, riram, confirmaram com a cabeça, e então:

— Melhor deixar 'pra' depois — Afirmou Let — Complicado.

— É, pois é — Confirmou Sofia — Foda.

— Vocês duas ainda vão me matar! — Que piada horrível logo EU fui fazer né — Vamos logo vai, quero ir no Barco Viking primeiro, é o mais tranquilo.

— Ahh você é muito panguão! — Reclamou Lê, abraçando minhas costas e caminhando comigo em direção ao barco.

— E vocês dois são muito melosos. — Disse Sofia, correndo até a fila.

Fomos em uma ordem crescente de brinquedos: do mais tranquilo até o mais radical. Admito, nunca tinha sequer pensado em subir em QUAISQUER um destes que fui hoje. Achei que era coisa de gente idiota. E é, mas é a coisa idiota mais incrível que eu fiz em toda minha vida!

O Barco Viking abriu o jogo, balançando de um lado para o outro, me fazendo gritar como um doido logo no primeiro. Nesse, o enjoo ainda não tinha começado. Em seguida, fomos em um que dava um looping em volta de si mesmo. Aquele troço balançou tanto que meu estômago se confundiu com meu rim e eles trocaram de lugar. O enjoo já ia aumentando.

Por ordem, fomos numa montanha russa, antes de ir no pior brinquedo que eu já vi na terra.

A montanha russa era legal, mas achei que, como nos filmes, ela seria mais rápida. O parque de diversões pequeno tem dessas coisas, a única montanha russa era relativamente tranquila. Falo isso agora que meu corpo voltou ao normal, mas na hora eu berrava como um completo maluco. Foi divertido.

Mas, sem comparações, o forte do parque era a Queda Livre. Sabe aquele brinquedo que te sobe devagar até a altura de um prédio, e depois te larga dali de cima pronto para te esbofetear no chão com toda a força do mundo? Pois é, esse mesmo.

A experiência foi FANTÁSTICA. Nunca senti tanta adrenalina correndo pelo meu corpo. Aquele negócio deveria ter, sei lá, uns 30 metros? Até mais! É simplesmente ENORME! A subida foi uma tortura, senti minha alma indo embora aos poucos, com medo de cair daquele troço.

Eu literalmente sei o dia que eu vou morrer, mas tive medo de cair daquele negócio. Para vocês verem como não é para amadores.

Lá em cima, o maldito do maquinista ainda esperou uns 5 segundos antes de me mandar para baixo com uma velocidade absurda. Nesses 5 segundos, observei a vista do lugar, que era simplesmente espetacular. O sol batia no meu rosto, e eu sentia seu calor a cada segundo, por mais que lá em cima estivesse frio. O mundo é definitivamente um lugar maravilhoso.

Antes de descer, olhei para Letícia, que olhou para mim na mesma hora. Sorri aliviado. Parecia que a vida, de novo, era infinita. E que aquele momento viveria por milénios e milénios. Não tinha como estar mais feliz.

Ali, eu pensei que seria uma boa hora para me abrir. Deixar aquilo tudo mais especial do que já estava. Tornar aquela memória algo único.

— Letícia — Disse, olhando em seus olhos, enquanto sorria, e sentia o calor do sol iluminando nossos rostos — — Eu... Eu te amOOOOOOOOOOOOO!!!!

E o INFELIZ do maquinista decidiu descer o brinquedo nesse EXATO SEGUNDO! Só pode ser brincadeira comigo cara.

Desci aquele maldito brinquedo parecendo um imbecil, gritando "ooooh" e perdendo minha alma aos poucos.

Na hora que descemos daquele monstro horrível e incrível, a Lê me olhou, sorrindo, e segurou minha mão para andarmos pelo parque. De vez em quando, abraçava minha cintura ou mexia nos meus cabelos. Eu estava no céu.

Depois de momentos radicais e morte cerebral instantânea, sentamos em uma das mesas do parque e pegamos um picolé cada. Parecia o momento perfeito para conversar, e acabou sendo.

— Caras, aquela montanha russa foi decepcionante — Disse Sofia, enquanto mordia com raiva seu picolé de uva.

— Decepcionante é pouco, parecia que estávamos andando de ré, horrível! — Exclamou Lê, e as duas caíram nas risadas.

Definitivamente, não me acostumei com isso. Mas eu gosto, é divertido ver as duas felizes novamente.

— Então, gente, que conversa séria é essa que nós precisamos ter? — Questionei, já morrendo de curiosidade.

— Ah, sobre isso, então... — Balbuciou Sofia, que parecia surpreendida pelo assunto repentino.

— Ela sabe da sua morte. Pelo menos, boa parte dos detalhes dela. — Cortou Letícia, rispidamente.

— EI! Você disse que ia me deixar contar! — Exclamou Sofia, inconformada.

— Você é muito enrolada! Só falar direto uai! — Debateu Let, rindo e fazendo careta.

Eu não sabia como reagir. Sinceramente, não sei detalhar uma reação. Quando a Letícia soube que eu iria morrer, fiquei em pânico em como ela poderia reagir, em como eu poderia ter estragado tudo, em pânico com inúmeras coisas. Agora, na hora, eu estava confuso. Não sabia se a Sofia ter descoberto era algo bom, ruim ou apenas neutro. Não sei se ela contou para alguém. Muito menos, se ela, sei lá, achou graça da minha cara. O idiota que acha que vai morrer amanhã. Como ela teria descoberto? Eu só contei para a Lê, que não teria falado isso para ninguém tão facilmente, e para o diá...

— Você que pegou meu caderno! — Exclamei, quando descobri e lembrei deste fato. Por algum motivo, eu tinha deletado essa informação da minha cabeça: alguém tinha pego meu caderno e rasgado algumas folhas. Não achei que essa pessoa teria lido, afinal, parece um caderno de escola simples e minha letra não é uma das melhores. Só achei que, sei lá, a pessoa teria devolvido por ver meu nome, e pegado algumas páginas para algo em específico. Inocente? talvez, mas acho que foi um mecanismo de defesa de preocupação. Sabe, para me preocupar apenas com minha vida, e não com coisas desse tipo?

— Fui eu, foi mal. Você jogou ele atrás da lixeira, e bateu na minha testa. Por sinal, você parecia um tanto irritado na hora e nem percebeu. — Afirmou, rindo da provável memória do caderno acertando-a.

— Na testa? Foi mal... Mas, então, você sabe de tudo? Cada coisa que escrevi? — Questionei, me sentindo um tanto desconfortável com a situação.

— Desculpa... Eu abri o caderno para ver o quê era, e acabei lendo o "prólogo". Ali, eu fiquei muito preocupada, não sabia como reagir. Eu escrevi nos dois dias que você não estava, inclusive. Sua história merecia uma continuação e, sei lá, achei que seria estranho pular do dia 4 para o 7 do nada. — Observou, abaixando a cabeça, em sentido de desculpas.

Me senti um tanto observado na hora. Sabe, como se todos meus segredos tivessem sido revelados. Mas, pensando bem, minha maior preocupação era a Let saber sobre algo que escrevi antes da hora. Afinal, este caderno é dela. Para ela. E para quem deseja mostrar minha história depois de tudo acabar.

Respirei fundo, confuso, e mordi mais uma vez meu picolé de morango. Olhei para a Lê, preocupado.

— Eu não sei o quê você escreveu, relaxa. — Afirmou, tentando me acalmar — A Sofia não quis me contar, e disse que eu deveria descobrir na hora certa. Então, vou esperar a hora certa. Mas quero ler ainda, viu?

— Tá, tudo bem... — sussurrei. Não sabia como reagir. Todos meus segredos, observações, pensamentos, durante os primeiros quatro dias, tinham sido expostos. Minhas mãos começaram a tremer.

— Ei, Lucas, desculpa. De verdade. Eu acabei lendo de curiosidade, e depois percebi que era estúpido fazer o que fiz. Perdão. — Afirmava Sofia, que parecia realmente arrependida por ter lido.

— Não, tá tudo bem. É só que, sei lá, eu nunca me abri tanto assim em tão pouco tempo. Falar sobre minha morte para a Let e agora você sabe, sei lá, não queria preocupar vocês por minha causa. — Senti meus olhos enchendo de lágrimas. Estava pronto para chorar.

— Mas preocupa né besta! — As duas falaram em coro.

— Não é questão de se preocupar, você é importante 'pra' mim, como eu não poderia me preocupar sabendo que você iria morrer?! Nem tudo você tem que enfrentar sozinho, panaca. — Exclamou Letícia, brava pela minha afirmação, mas claramente mostrando preocupação.

— Lucas, eu nunca li algo tão amável quanto sua escrita. Como você começou a descrever a vida, a Lê, é algo seu! Qualquer um que ler, vai se preocupar, e vai buscar seu bem no final. Você causa isso nas pessoas.

— Uhum. Foi por isso que fizemos as pazes, inclusive — Afirmou Let, com um sorriso no rosto. Olhei para ela, curioso, com os olhos cheios de lágrimas — Ela me contou que sabia sobre isso, e concordamos que seria melhor parar de discutir por coisas bobas. — Disse, enquanto enxugava minhas lágrimas.

— E também porque eu vi o quanto você ama ela. E o quanto você quer estar com ela. — Disse Sofia, mordendo mais um pedaço de sorvete.

Nessa hora eu já tinha quebrado. Era confusão, risada, paz, e agora, timidez. Pô Sofia olha o quê você fala justo naquela hora? Fiquei completamente vermelho, roxo, parecendo que ia explodir.

Todos demos risadas. Ri de nervoso? Sim, mas estava ficando mais calmo aos poucos. Afinal, Sofia saber sobre tudo não parecia tão ruim. Ela poderia até ajudar a Let quando eu morrer. Sei lá, uma ter a outra, parece uma ideia legal.

— Eu sei que ele me ama. — Afirmou Let, enquanto fazia carinho no meu cabelo. Havia sentado do meu lado, e agora estava com a cabeça deitada no meu ombro, me abraçando e acariciando com o braço esquerdo.

Me encontrava completamente morto mortinho na hora, simplesmente desmaiei, fui para o céu e voltei. Meu Deus. Como pode um ser humano mexer tanto comigo?

Entrei em pânico, e comecei a rir de nervoso.

— Ah, vocês dois são muito melosos meu Deus. Vamos para a roda gigante logo para finalizar o dia? Você não tinha que ir mais cedo Lê? — Questionou Sofia, levantando do banco. Como assim ir mais cedo?

— Aí Sofia deixa eu contar as coisas, cara! — Exclamou, jogando um papel na Sofia, que dava risadas — Eu vou ter que ir ajudar meus pais em alguma coisa de trabalho agora a noite, de novo. Não aguento mais ter que voltar para casa tão cedo todo dia!

— Tudo bem, sem problemas — Afirmei, sorrindo, agora abraçando-a — O dia foi incrível. E sei que amanhã vai ser ainda mais incrível.

Me olhava, sorrindo, mas com um olhar preocupado. Amanhã. O último dia antes da data certa. O dia 11. Só de pensar, eu me desespero. Era fácil dizer que minha morte não me causava tanto medo alguns dias atrás, ela ainda parecia distante.

Levantamos todos, e caminhamos em direção à roda gigante. O sol já ia passando, devagar, pronto para desaparecer. Um belo fim de tarde, por sinal, para observar pela montanha russa.

Subimos na mesma cabine, claro. Admito que gostaria de ficar sozinho com a Lê numa cabine só nossa, mas não iria deixar a Sofia sozinha lá fora, esperando. Ela que fique de vela alí.

E o brinquedo começou a rodar. Nessa hora, numa quinta feira, tinha só nosso grupo na roda gigante. Bem, nosso grupo e duas idosas que pediram que o brinquedo fosse o mais devagar possível, na cabine logo ao lado.

E rodava extremamente devagar, assim como as duas velhinhas tinham pedido. Devagar o suficiente para apreciar a vista da cidade, e de um belo pôr do sol.

E, destaque especial em belo. As nuvens, que acompanhavam a solidão do astro rei, eram iluminadas por um magnífico alaranjado de fim de tarde. O céu estava caracterizado, parecia uma pintura. A mistura do azul vívido com o amarelo resultou uma paleta de cor digna de ser gravada por Van Gogh, que vinha decaindo até o torno do sol, que tornava sua volta detalhada e clara. E, aos poucos, essa luminosidade linda, com uma mistura de cores fantástica, ia desaparecendo.

E, assim, mais um dia da minha história ia terminando.

A sensação era reconfortante. Ver, sentir, viver tudo aquilo. Uau. Tenho certeza de que, se tivesse mais tempo, escreveria muito mais sobre o céu. Sobre como ele é fantástico. Acho que, sobre a natureza no geral.

Pensando nisso, pensei em um tópico que quebraria o gelo da cabine.

— Sabem, eu nunca tinha pensado no que eu gostaria de ser, caso eu ficasse vivo por mais tempo. Agora, eu acho que sei. — Disse, ainda observando o céu, abraçado em Letícia.

— E o que é? — Questionou Lê, curiosa, enquanto Sofia apenas observava.

— Escritor. Acho que tenho uma certa habilidade para isso. E gostaria muito de descrever o céu várias vezes. Sei lá, é reconfortante.

Afirmei, e o silêncio na cabine ficou ainda maior. As duas pareciam não saber o que responder. Sofia apenas me olhou, com um olhar espantado. Já Letícia me abraçou mais forte. Deitou a cabeça no meu peito, permitindo-me sentir o perfume do seu cabelo, que, por sinal, estava bom como sempre. Acariciava minha nuca e abraçava minha cintura. Me senti amado. Muito amado.

E logo, o passeio terminou.

Descemos do brinquedo, ainda quietos, o clima estava muito pesado. O ar estava pesado. A sensação que tinha, no momento, era de despedida. Parecia, por mais que ainda faltasse certo tempo, que eu iria me despedir ali mesmo.

Letícia me abraçou por mais um tempo, até que teve de ir embora. Me deu um beijo na bochecha, um carinho no cabelo, e me sussurrou as seguintes palavras:

— Vai ficar tudo bem. Você vai crescer e virar o melhor escritor de todos.

E, com isso, partiu, andando até a saída do parque.

Não sei porque não acompanhei-a até em casa. Ou porque ela sabia que eu não iria acompanhar. Mas, no fim, parecia que o certo era me despedir ali, para não parecer que seria a última vez. E, ao ver ela ao longe, o caos voltava para minha cabeça. No fim, em algum momento, eu vou ter de me despedir.

— Lucas. — Disse Sofia, quebrando meus pensamentos.

— Ah, oi, desculpa. Viajei aqui.

— A Letícia tem uma ideia de como salvar você. E ela pretende pôr em prática. — Disse Sofia, com uma cara extremamente séria.

Uma ideia de como me salvar? Por em prática? Mas, se ela sabia sobre qualquer coisa do tipo, teria me contado.

Fiquei em silêncio por alguns segundos, deixando-a falar.

— E você não pode deixar ela tentar. Por favor.

Quê? Como assim? Eu não posso deixar o amor da minha vida tentar me deixar vivo??

— Que? Você tá doida? Porquê eu não poderia?

— Porque ela encontrou algo, algum maluco, que diz que existem "eventos de marco", algo do tipo. Supostamente, você seria um "evento de marco", algo que marcou o espaço— tempo de uma forma que, em algum momento, seria corrigida. Ela acha que é por isso que você sabe que vai morrer. — Afirmou, com o tom mais sério do planeta.

Evento de marco? Isso realmente existe em qualquer área da física? Calma, espaço-tempo?! Einstein! Por isso ela disse sobre Einstein, ela se ligou que estava falando demais, e parou naquele ponto!

— Mas, o que tem demais? Como ela pretende corrigir esse "evento de marco"?

— Causando algo de peso igual. Que, supostamente, iria compensar a sua morte. Ela disse que, se ela "parecer que vai morrer" pra ti, pode fazer com que o evento passe, e você saia vivo.

— QUE? Ela tá completamente biruta? Ela quer tentar morrer para ter uma mínima chance de se salvar? Qual o sentido dessa merda?

— Se desse certo, vocês dois sairiam vivos. Mas, além de ser algo que ninguém sabe se vai dar certo, ela pode não sair viva.

Ela é simplesmente maluca. Doida, psicótica. Não faz sentido NENHUM nada do que ela pensou, nada!

Simplesmente é tudo confuso! Como ela poderia tentar fazer algo tão arriscado só por minha causa? Sem saber nem se o quê ela ta falando é verdade?!

É desespero para me deixar vivo? Eu entendo, muito, mas chegar a esse ponto?! Jamais. Eu não vou deixar.

— Tá, qual é o plano dela? — Questionei, já decidido que eu não deixaria nada acontecer.

— Vocês supostamente iriam estar "no lugar de vocês", não sei bem onde é isso. E, então, ela iria conseguir com que Gabriel fosse lá atrapalhar, e acabasse empurrando ela, pensando ser você. Assim, ela cairia em algum lugar e você iria achar que ela tinha caído mesmo.

— É impossível. Ela é maluca, aquele lugar tem uma queda absurda, tem muita chance de dar merda.

— Eu sei, por isso, eu to te contando. Ela vai me matar depois, mas, Lucas, você não pode deixar ela tentar. Se der errado, vocês dois morrem. Eu estou procurando alguma coisa que possa te salvar, então, nesse meio tempo, não desiste ainda. Pode ser que tenha alguma chance.

Respirei fundo. Tá, tá legal. Pode ser que eu tenha uma chance, ou não, foda-se! A Letícia quer se arriscar por minha causa, e eu não vou deixar isso acontecer. Jamais.

Combinei algumas coisas com a Sofia, e logo me despedi. Precisava vir para casa pensar, respirar, olhar para tudo de outro foco.

Eu não sei o quê fazer, Diário. Eu estou com medo. Muito medo.

Vou morrer. Isso é quase certo. E eu to desesperado. Nunca amei tanto a vida quanto a amo agora, porque tem de ser desse jeito? Desse maldito jeito?

E, a única coisa que teria uma mínima chance de me salvar é absurda. Jamais, nunca vai acontecer.

Eu estou em cacos. Não sei o quê pensar, não sei como agir.

Não quero mais escrever, minha mão dói, meu braço já está cansado. Mas, mesmo assim, se eu não escrever, eu surto! Não consigo guardar tudo para mim.

Preciso falar com alguém. Preciso fazer alguma coisa. Não posso morrer tão rápido, tão de repente. Eu ainda nem disse para a Letícia que eu a amo. Ainda nem beijei seus lábios.

Como pode, Universo, Deus, ou quaisquer entidades que existir aí em cima ser tão cruel?! Tantos outros no mundo, porque eu fui o escolhido?!

Não sei mais o quê fazer. Não tenho mais ideias.

Não sei como tornar amanhã um dia maravilhoso para a Letícia, sendo que esse era o plano original.

Eu tenho medo, leitor. Eu tenho medo de tudo acabar tão rápido.

Medo—

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