A cura

By PG2022

211 40 30

Um conto de fantasia e mistério, no qual a vida de uma criança dependerá das visitas misteriosas de uma estra... More

Nota da autora
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12

Capítulo 4

15 3 0
By PG2022


Uma onda de irritação e preguiça tomou conta do corpo do conde quando a figura elegante e bem vestida de Clara Windsor passou pela porta. O cabelo escuro e brilhante, penteado com esmero e elegância, contrastava com a pele clara. Os olhos castanhos ignoraram todos na sala com exceção de Erick e o fixaram como uma águia, enquanto os lábios vermelhos se abriam em um sorriso sedutor.

-- Erick! É tão bom ver seu rosto bonito novamente. Não nos encontramos desde a minha festa de aniversário. Faz tempo demais!

Clara andou até o conde com a mão estendida e ele se ergueu para recebê-la. Segurou sua mão e fez uma pequena referência à contra gosto.

-- Bem-vinda, Srta. Windsor. – ele disse educadamente e apontou para a mãe. – Lembra da minha mãe?

-- Ora, me chame de Clara... e é claro que eu lembro da Condessa de Cicekler, uma amiga adorável.

-- Bem-vinda, Clara. Fico feliz que tenha aceitado nosso convite. Gostaria de nos acompanhar no café-da-manhã? – a condessa respondeu com um sorriso polido.

-- Oh, não. Nunca como pela manhã. Preciso manter a forma. – Clara respondeu rapidamente e se voltou para Erick com um sorriso sedutor. – Mas adoraria dar um passeio a cavalo.

-- Talvez mais tarde, Srta. Windsor. A senhorita acabou de chegar, deve estar cansada. Espero que nosso quarto de hóspede lhe proporcione um bom descanso. – o conde fez uma reverência educada e começou a se encaminhar para a porta. – Se me derem licença, preciso checar o inventário de alguma das fazendas.

O conde não esperou por uma resposta e saiu. Antes de ir para o escritório ele passou no quarto da filha e verificou seu estado. Ela dormia tranquilamente, mas a face pálida não permitia que ele esquecesse o ocorrido da noite anterior.

Depois de algum tempo velando o sono da filha, ele foi para o escritório e encontrou o administrador à sua espera. Duas horas e tudo estava resolvido. Não faltaria suprimentos para as fazendas naquele inverno.

Ele se jogou na poltrona assim que o administrador saiu do cômodo, mas não conseguiu relaxar. Mesmo durante o trabalho sua mente viaja para as lembranças de sua filha gritando de dor, ou para a sensação de que sua mãe escondia algo, ou, ainda, para as dúvidas que rodeavam Ayla.

Ayla era... peculiar. Ele havia acreditado que ela trabalhava para o médico e quando percebeu que estava enganado, ela havia curado sua filha de algum modo. Ao menos temporariamente. Agora, sentia-se em dívida com uma completa estranha. Ele precisava descobrir quem era ela.

Uma batida na porta desconcentrou seus pensamentos e Alfred surgiu no escritório.

-- Com licença, vossa graça. Devo servir seu almoço aqui ou o senhor irá fazer sua refeição com as damas?

-- A quais damas se refere, Alfred? – o conde perguntou, ácido.

Ligeiramente desconcertado, o mordomo respondeu:

-- Vossa graça, a Condessa Viúva, e Srta. Windsor.

Erick não respondeu, apenas ficou mais carrancudo.

Alfred o conhecia desde criança, então arriscou uma impertinência:

-- Esperava que houvesse uma terceira dama, senhor?

Erick o encarou espantado. Não esperava essa sinceridade, e impertinência, do mordomo. Contudo, o conhecia tão bem, que sabia que ele não faria isso se não achasse importante. Alfred estava na casa há mais tempo que sua mãe. Ele conhecia tudo sobre Erick e tinha ganho o direito de intimidades ocasionais.

-- Ela me intriga, Alfred. – o conde respondeu simplesmente. – Não sei o que pensar...

-- Ela é uma estranha... – Alfred comentou.

-- Sim.

-- Mas parece saber cuidar da doença da pequena patroa mais do que qualquer outra pessoa... – o mordomo completou.

-- Exato.

-- Quer confiar nela e não sabe se pode. – Alfred concluiu.

O conde o olhou preocupado.

-- Eu não faço ideia de quem ela é, mas já estou em dívida com ela. Eu me preocupo, pois já confio nela, mesmo sabendo que isso é imprudente. Faz algum sentido?

Alfred pigarreou e inclinou levemente o rosto em uma rara demonstração de carinho.

-- Ela tirou a dor da pequena patroa, prometeu voltar para vê-la. É normal que se sinta grato..., senhor.

-- E ela não quis usufruir da hospedagem. Qualquer outra pessoa faria isso. – Erick disse pensativo. – Ou ela tem um senso de dignidade muito forte ou está fugindo de qualquer contato.

Alfred pigarreou novamente.

-- Sem querer ser inoportuno, senhor... mas minha opinião é de que ela talvez esteja fugindo do contato. Fiz-lhe várias perguntas e ela se esquivou de quase todas...

-- E o que descobriu, Alfred? – o conde se mexeu na cadeira, curioso.

-- A Srta. Ayla, não descobri o sobrenome, tem vinte e um anos, vasto conhecimento sobre ervas e plantas medicinais e vive do outro lado da floresta. Disse que a avisaram de que a pequena patroa estava convalescendo e veio tentar ajudar.

-- Como alguém saberia da convalescência de Alice? Ontem foi a primeira vez que vimos acontecer.

-- Não sei, patrão. Sempre que eu entrava em alguma questão mais descritiva das atividades dela, algo a minha volta acontecia e eu precisava encerrar a conversa para resolver a questão. Temo não ter tido muitas oportunidades para abordá-la.

-- Você já fez muito, Alfred. Não se preocupe. Vou ficar de olho nela, de qualquer forma. Me informe quando ela chegar hoje, por favor.

O mordomo assentiu, mas hesitou ao sair.

-- Vou almoçar com as damas... – o conde confirmou com um suspiro desanimado.

À tarde, após o almoço, o conde foi cavalgar com Srta. Clara, concedendo a um novo pedido dela. Não era o tipo de passeio que ele considerava ideal para aquele momento, mas sua educação o obrigava a seguir em frente, independente da companhia. E ele acreditava que não faria diferença o modo como ele se comportasse. Qualquer atitude, civilizada ou não, da parte dele não afastaria Clara de Windsor de sua determinação de tornar-se uma condessa.

Um ano depois da morte de Eleonor, o pai de Erick também faleceu, deixando-lhe o título de Conde de Cicekler. Eleonor, portanto, nunca usufruíra do título de condessa e isso parecia ser um incentivo a mais às investidas das jovens solteiras. Srta. Clara de Windsor era a mais atrevida e insistente de todas. Ela gozava de duas qualidades importantes para a alta sociedade: terras e fortuna herdadas de seu pai; e contato direto com a Condessa Viúva. No leito de morte, a mãe de Clara de Windsor pediu que sua filha fosse assistida pela amiga e, assim. ela se tornara afilhada da condessa há aproximadamente dois anos. Um título de nobreza era a única coisa que faltava para completar suas "qualidades".

-- No que pensa, Erick? Não disse uma palavra desde que saímos. – Srta. Clara perguntou de repente, em um murmúrio ofendido.

-- Eu estava pensando em Alice. Vou visitá-la assim que nosso passeio terminar.

-- Pensei que ela já tinha melhorado. O médico não resolveu o problema? – ela retrucou ligeiramente impaciente.

-- O médico não serviu de muita ajuda. Uma... enfermeira virá mais tarde para acompanhá-la. Por isso, talvez seja melhor encerrarmos o passeio.

-- Mas não faz nem meia hora que saímos... Não é possível que Alice precise de cuidados em tão pouco tempo. Isso é só uma forma de me evitar. – a moça novamente fez questão de se mostrar ofendida.

O conde respirou pesado e a encarou com altivez.

-- Srta. Windsor, entendo que queira atenção na sua estadia, mas infelizmente ela coincidiu com a enfermidade da minha filha e Alice certamente é minha prioridade.

-- Me chame de Clara, já disse isso. – ela respondeu irritada, mas em seguida abriu um sorriso gentil. – Certamente que sua prioridade é a pequena Alice, querido. Será a minha também. Ficarei aqui até que eu tenha certeza de que ela esteja melhor.

Erick não conseguiu evitar um revirar de olhos. Deus estava lhe dando provações para ser paciente. Só poderia ser isso.

O conde virou o cavalo e começou o caminho de volta às estrebarias.

-- Vamos realmente voltar?! – Clara olhou para ele genuinamente espantada.

Erick não soube o que dizer. Aquela mulher não era capaz nem de manter o personagem dentro da própria narrativa. Certamente ele não permitiria que ela ocupasse o lugar de Eleonor ao seu lado. Ele fechou a cara e atiçou o cavalo, transformando o trote em uma galopada. Em pouco tempo, ambos chegaram às estrebarias. O conde desceu de seu cavalo e pediu a um dos cavalariços que a ajudassem e entrou no castelo.

Ao entrar no quarto de Alice, a encontrou brincando com uma boneca sobre a cama. Ela parecia muito bem, como se nada tivesse ocorrido na noite anterior.

Quando Alice viu o pai, deu um gritinho de alegria e estendeu os braços. O conde a pegou no colo e sentiu a temperatura morna do corpinho.

-- Que bom que está melhor. Você sente alguma coisa?

Alice balançou a cabeça em negativa.

-- Lembra do que aconteceu ontem?

-- Lembro de um sonho ruim. – Alice disse com os olhos arregalados. – Estava muito escuro e frio, e eu estava com medo. Mas então um anjo veio me ajudar e não fiquei mais com medo. Acho que sonhei com a mamãe.

-- Você acha que a mamãe era o anjo?

Alice balançou a cabeça em negativa de novo e respondeu:

-- Não. Mamãe apareceu depois do anjo. O anjo era uma moça loira e tinha um rosto muito bonito. E eu gostei da voz dela.

O conde sorriu. Tudo parecia bem até Erick ouvir a voz da Srta. Clara no corredor, perguntando a direção do quarto de Alice. A criança olhou para o pai e fez uma careta.

-- A Srta. Clara está aqui?

-- Sim. Não quer vê-la? – a criança balançou a cabeça em negativa.

-- Não gosta dela?

Alice hesitou por alguns segundos, temerosa de uma bronca, mas acabou confessando que não, com um movimento de cabeça.

Erick riu e disse:

– Então tenho uma ideia. Faça o que eu mandar.

Poucos segundos depois, a Srta. Clara entrou no cômodo dizendo em uma voz alegre:

-- Como está a minha criança favor...

--- Pssiiiuu! – interrompeu o conde apontando o dedo para a cama onde a criança dormia calmamente.

-- Acorde-a, Erick! Ela não pode ficar o dia todo dormindo. — Srta. Clara disse impaciente.

-- Não. Ela precisa de repouso. Vou ficar com ela mais um pouco e depois descerei. Tenho certeza que minha mãe ficará feliz com a sua companhia na sala de visitas.

A Srta. Clara segurou a saia do vestido na mão e desceu as escadas resmungando algo sobre perder seu tempo.

O conde deu uma leve beliscada no braço da criança e essa levantou rindo.

-- Podemos fazer isso mais vezes?

-- Gostaria de não ser preciso... – o conde suspirou.

-- Pai?

-- Sim?

-- Você acha que o anjo vai voltar hoje a noite?

-- Sim, querida. Ela vai...

Continue Reading

You'll Also Like

760 160 77
A mais de setecentos anos atrás uma tragédia mudou para sempre a vida de Jacob . sua esposa Katrina foi vítima de uma grande tragédia sem precedentes...
110K 9.9K 14
Após ser expulso do paraíso, James teve que levar a vida como um mortal, tentando a todo custo voltar para o lugar de onde o mandaram embora. Rachel...
12.9K 673 43
Em seu primeiro ano no internato Crossfield, Adrian M. Lindenberg, um jovem inteligente e carismático, vive dias felizes ao lado de seus melhores ami...
1.1M 157K 93
Trilogia COMPLETA ⚠ ATENÇÃO! Este é o segundo livro da trilogia A RESISTÊNCIA, a sinopse pode conter spoilers. Após descobrir que Emily faz parte da...