Espero o garoto sair do quartel e desço do carro de uns dos seguranças do Rogê, coloco um óculos entre meus cabelos e me olho na janela do carro, estava com um visual muito diferente do meu costume. Passo por ele no ponto de ônibus, vou até a esquina e volto, me viro pra ele e chego mais perto.
Hanna: Boa tarde, você sabe me dizer, qual ônibus eu pego para o centro?
Ryan: eu não sei, não costumo andar muito de ônibus- forcei um sorriso pra ele e fiquei na minha, olhei meu celular e respirei fundo fingindo uma frustração.
Hanna: Desculpa, mas o que você está fazendo aqui no ponto então?
Ryan: esperando meu carro de aplicativo chegar.
Hanna: Você consegue pedir um para mim? Eu não tenho o aplicativo e não sei andar muito por aqui.
Ryan: eu moro no centro, se não se incomodar em dividir a viagem..- concordei com sua fala.
Hanna: não tem problema algum.
Ryan: aonde você vai ir? Assim eu coloco parada.
Hanna: Mar Irlanda, é um condomínio, conhece?
Ryan: sim sim, é perto do meu. Eu sou do Paraíso tropical.
Hanna: não tenho noção de como chegar lá..- sorri ajeitando meu cabelo.
Ryan: está a dois minutos.. qual seu nome mesmo?
Hanna: Vitória.
Ryan: dois minutos vitória.- concordei com a cabeça, pensando em quais seria minha forma de arrancar alguma coisa dele nessa viajem.
Meu celular vibra e recebo um " perfeito, continua" apago a notificação assim que o possível carro de aplicativo chega.
Ryan: você é carioca não é?- concordei sorrindo. Fala depois de uns minutos.
Hanna: tá tão na cara?- coloquei minha atenção nele sorrindo- quantos minutos mais ou menos a gente chega.
Ryan: vinte a trinta minutos.
Hanna: uau, que longe.
Ryan: como você parou cá do outro lado do centro - falou me zoando e eu fingi risada.
Hanna: Vim do Rio com blablaca, aqueles carros de viagem que paga bem mais barato sabe? Eu dormi e quando acordei pedi pra que eles me deixassem ali, só que tinha esquecido que não sabia andar aqui- ele levantou as sombrancelha surpreso e sorriu.- Tinha cliente para hoje, se eu viesse de ônibus, não iria dar tempo de lhe atender.
Ryan: e você trabalha de que?
Hanna: Sou design de sombrancelha, unha, cílios e tal. Confesso que me acho bem no meio da moda
Ryan: minha mãe que se amarra nessas paradas. Você veio pra morar ou só passar um tempo?
Hanna: tenho parentes no condomínio que irei ficar, é aniversário de um tio muito especial pra mim e juntei o útil com agradável. Na verdade, eu já morei aqui no espírito santo, só não conhecia essa cidade.
Ryan: pra turistas é bem complicado mesmo, com esse tanto de morro- dei risada concordando- Mas me passa seu contato, quem sabe eu falo de você pra minha mãe- anotei o número do celular e chip que eles me deram e já recebi um "oi" dele.
Hanna: Vou salvar.- falei anotando seu nome em seguida- Falei muito de mim que nem deixei você falar- ele sorriu, ele é muito lindinho. Seu rosto mostrava mesmo que sua idade não passava dos 18, uma gracinha mesmo.
Ryan: eu trabalho no guarda Mirim, é uma das vontades do meu pai que eu siga esse caminho, então meio que já me acostumei com esse trajeto todo dia.
Hanna: mas você quer fazer parte do exército?
Ryan: querer não é a palavra que definiria, mas meu pai faz tanto por mim, que não custa nada.
Hanna: fazer uma profissão contra sua vontade não é bom- o motorista me olhou- não é moço?- ele concordou sorrindo- por experiência própria. Você não consegue fazer o trabalho direito, você não fica feliz, e afinal quem vai trabalhar é você ou seu pai?- o garoto sorriu e olhou pra frente - olha Ryan..
Ryan: eu falei meu nome?- falou antes que eu pudesse terminar minha fala. Sua pergunta me faz gelar e pra não me entregar eu respondi em seguida.
Hanna: seu nomezinho na camisa entrega- ele sorriu concordando e começou a zoar.
Fomos conversando sobre algumas coisas aleatórias, outras que ficaram mais profundas, e consegui bastante informações. O condomínio que eu ia ficar era um pouco antes do dele, então eu tirei uma nota de cinquenta e entreguei na sua mão.
Ryan: obrigado, bom te conhecer vitória, a gente se esbarra.
Hanna: obrigada Ryan, me chama no WhatsApp, quem sabe a gente não marca algo - ele concordou e eu desci do carro com a mochila pesada.
Entrei no condomínio com minha digital e caminhei até o estacionamento, o mesmo carro que eu deixei estava lá. Finalmente tirei o microfone que estava me apertando minha orelha. Tirei o brinco colocando em cima.do porta luvas e prestando atenção no caminho. A casa que iria ficar era bem mais pra dentro do condomínio, então obviamente iria de carro.
Rogê: mandou bem pra caralho- me receberam e eu sorri.
Russo: braba, tava botando fé em você não, mas tirou onda.- começou a explicar meu próximo passo. Prestava atenção enquanto comia a pizza e recebendo suas mensagens.
Logo mais chegando a noite, compraram churrasco em marmita, eu comi com força. Enquanto observava as brincadeiras deles. Por mais brincadeira mínima, estavam todos tensos e focados.
Hanna: o que vocês vão fazer com o muleque?- perguntei botando mais carne no meu prato- achei ele tão de boa sabe, não merece pagar por um bagulho que o pai fez.
Russo: loira, você só teve um diálogo com ele, ele soltou o que queria que você soubesse.
Rogê: ele já tentou estrupar uma menina de 13 anos em uma resenha. A última namorada dele fez denuncia contra ele, só não tá preso é por ser de menor.
Russo: mesmo assim, caso fosse de maior, o pai ia interferir nisso. Tem coisa pra caralho que a gente te poupou loira, se engana não.
Levantei a sombrancelha surpresa e continuei comendo, já nem me surpreendo mais com as coisas que eu achava absurdo cometer, e hoje por estar nesse meio, acho normal.
Russo: papo é que essa parada tem que tá resolvida até quarta, porque se não as coisas pode fugir do controle..- olhei olhei pra ele seria e pensativa.
Os seguranças que vieram começaram a comer, e eu me despedi indo pro quarto que eu ia dormir. Eu tô tão em alerta que eu quase dormi com um olho aberto e outro fechado.
Na manhã seguinte as seis eu já estava levantando, tomei banho, enrolei meus cabelos em um coque e coloquei a lace do dia anterior. Coloquei também um look da Vitória, procurando a mochilinha com as coisas.Eu tinha experiência mesmo era com unha apenas, sombrancelha eu até sabia me virar, só que em mim.
Andei ate a cozinha com os dois conversando sobre alguma coisa baixo, e quando entrei pararam. Desejei bom dia e coloquei uma xícara de café com leite.
Russo: foi o mínimo que eu consegui encontrar- me entregou um negócinho bem pequeno, tentei enfiar o máximo possível para que não desse para enxergar, minha lace ajudava muito, graças a deus.
Rogê: cafofo vai te levar- olhei pro cafofo na hora, que era um pretinho lindo, mas eu nunca vi sorrindo nem nada, ele é muito sério. Não sei se é um personagem comigo ou realmente é na dele- vai te deixar um prédio antes da portaria. Você vai pedir um Uber e vai até o- estalou o dedo em forma d e fazer lembrar- Paraíso tropical- concordei.
Hanna: já entendi, se ficar repassando muito eu esqueço.
Russo: Loira é pra não dá vacilo, lá também tem seguranças, então tenta parecer o mais tranquila possível.
Hanna: tá bom.
Tomei um café da manhã pique hotel tá, eles não poupam com comida não , ainda mais se eu quero alguma coisa. Acho que é a forma deles de me deixar o mais a vontade possível, mas eu sempre acho que tô atrapalhando.
Russo: tenta colher o máximo de coisa que você conseguir.
Terminei de tomar o café da manhã, um pouco nervosa e calculando as perguntas que iria fazer sem ser tão invasiva. Não sabia se como era a mãe dele, sua personalidade, mas pra ser educado com estranhos daquele jeito, so deve ter puxado a mãe.