Seguro a flor com firmeza, pressiono a tesoura no caule da rosa e corto, assim repito a mesma ação nas de mais.
Após cortar a última, jogo os cabos cheios de espinhos no lixo. Pego o resto das rosas e arranco pétalas por pétalas. Essas não são descarto no lixo, coloco em uma pequena tigela.
Irei eterniza-las.
Coloco a tesoura de volta na gaveta. Pego a tigela e caminho para fora do quarto, assim que chego na metade da escadas, deparo-me com Hadassa retirando o avental e colocando na bancada.
── Demorou, seu café já esfriou.── murmura ligando a torneira e lavando as mãos na pia.
── Torta? ── respiro fundo sentindo o cheiro de framboesa.
── Sim, acordei cedo e fui em uma padaria próxima, esperei você levantar para tomarmos café juntas.
Olho para o relógio pendurada na parede próxima aos armários.
Exatamente, onze horas e quarenta minutos.
── Não precisava esperar, já está tarde.
Olho para a mesa, aproximo e sento-me na ponta. Estico a mão pegando um pedaço de torta já cortada.
Assim que mastigo, o sabor explode. Antes os alimentos quase não haviam gostos, agora me deleitava com o sabor de framboesa.
── Que isso, Evangeline? ── Hadassa me olha assustada, sentando-se na cadeira ao lado da minha.
Engulo de uma vez, estico a mão pegando outro pedaço.
── Ficou desacordada por dois dias, se soubesse que acordaria morrendo de fome, teria comprado mais comida.
Hadassa enche um copo com suco e coloca em minha frente.
── Dois dias? ── pergunto com a boca cheia.
── Sim.
Seguro o riso. Hadassa me olhava horrorizada.
Quero aproveitar, passei dias sem comer coisas gostosas.
"Você foi a minha comida." - assusto-me quando ouço a voz de Anthony.
"E garanto que estava muito gostosa." - Damon solta uma risada.
── Então, fiquei de falar isso ontem mais esqueci.── Desvio o olhar para Hadassa que educadamente colocava um pedaço da torta no prato.
Com uma mão pego mais um pedaço da torta, com a outra direciono o copo com suco para meus lábios.
── Seus dias letivos acabaram antes de ontem e você reprovou por falta.
Engasgo com o suco.
── É brincadeira. ── Hadassa dá dois tapinhas em minhas costas. ── Suas notas já haviam cobrindo o que precisava, mas o diretor reclamou das suas faltas.
Acabou a tortura.
── Seu professor de filosofia queria reprovar você por um décimo, mas dinheiro compra as pessoas, não é? ── Hadassa lança um olhar debochado.
── Você pagou para ele me passar? ── olho incrédula.
── Foram apenas dois mil dólares. ── Hadassa revira os olhos. ── Está em uma nova etapa da vida.
Antes que possa começar minha crise existencial e raciocinar que agora tenho dezenove anos. Sinto minhas costas arderem um pouco.
── O que você acha que eu fizesse uma tatuagem? ── dou um pequeno sorriso forçado.
── Nada, teria que achar alguma coisa?── Hadassa levanta a sobrancelha.
── Talvez eu tenha feito uma.── minto.
Hadassa me olha surpresa.
── Deixe-me ver.
Viro lentamente as costas para ela, sinto suas mãos quentes subindo minha blusa.
── Não estou vendo.── murmura.
── No ombro.
Ela sobe mais a blusa.
── Ah.── Hadassa demora alguns segundos para falar. ── Muito linda. Tem significado?
── Tem. ── respondo rapidamente. ── Na verdade não tem não. ── desminto logo em seguida.
Hadassa solta uma risada baixa e balança a cabeça.
── Pretende fazer outras?
Bom, não pretendo que outro desenho apareça do nada em meu corpo, mas faria alguma tatuagens.
── Sim.
── Quando for fazer, leve-me. Sentir vontade de fazer uma também.
Balanço a cabeça concordando.
── Vou descansar mais um pouco, não esqueça do nosso passeio. ── Hadassa pega o copo e prato e caminha até a pia.── Vamos ao parque uma hora, preciso voltar mais cedo para resolver algumas coisas com meu advogado.
Espero Hadassa começar a subir as escadas para que eu possa me levantar logo em seguida.
Preciso conversar com Rachel.
Levanto-me e pego o copo colocando-o na pia. Tampo a torta e fecho a garrafa de suco, levo os dois para geladeira.
Subo rapidamente para o meu quarto, assim que chego encontro minha cama antes arrumada, agora bagunçada. A janela estava aberta.
Logo na direção do banheiro, a porta estava aberta.
── Boo. ── viro-me rapidamente com o impulso do um tapa em Agnes.
── Desculpa.── coloco a mão na boca.
── Tudo bem, não doeu.── Agnes faz um bico.── Enfim, eu e minha meia irmã, estávamos pensando algumas coisinhas.
Abaixo o olhar, eu sabia que as duas estavam aprontando.
── Oliver, Anthony e Damon estão por aí em algum lugar e nós estamos sozinhas.── Agens abre um sorriso sapeca.
── Não, nem pensar.── sinto novamente a marca arder. ── Eles sabem exatamente onde estou, o que penso, o que vejo.
── Isso impede você de ir em uma baladinha? ── Agnes balança as mãos para os lados.
── Quantos anos você tem mesmo? ── solto uma risada irônica.
── Vivo a setenta e oito anos, demônios envelhecem de forma diferente.
Meu sorriso se fecha.
── E olha que eu sou a mais nova.── Agnes vira as costas e analisa meu quarto.
── Quantos anos tem Damon e Anthony?── pergunto assustada.
── Acho melhor perguntar para eles, vai adorar a resposta.── Agnes solta um sorriso e se vira novamente para mim.── Inclusive, você deve ter uns doze anos.
── Isso é estranho.
── Não. A idade humana é estranha, quando estiver no inferno, verá que é diferente.
Pisco lentamente.
── Então, onde fica essa balada?── mudo de assunto.
── Não sei, Rachel que deu a ideia.── Agnes sentasse no chão e cruza as pernas.
── Irei pensar sobre, mas acho perigoso.── não sei ainda o que aconteceu comigo, posso acabar perdendo o controle.
── Eu sei o que aconteceu com você.── Agnes abre um sorriso estranho.
Franzo a sobrancelha.
── Olhou para os Cães e foi jogada na fogueira. Se ainda vive, é algo bom.── completa.
── O que sabe sobre? ── um arrepio me percorrer quando lembro-me.
── Só os meninos podem responder sua pergunta. O que eu sei é que você não é normal, podendo ser ou não um perigo.
Minha respiração fica travada.
── Só tome cuidado. Ivan e Cordélia uma hora vão saber, e não irão gostar nem um pouco.── a expressão de Agens muda.── Preciso ir.
Antes que possa fazer algo, Agnes simplesmente desaparece.
── Evangeline, já está na hora de se arrumar ── ouço Hadassa berrar do quarto ao lado.
── Que?── desvio o olhar para o relógio que estava na mesinha.
Meio dia e meia.