𝐌𝐀𝐒𝐓𝐄𝐑𝐏𝐈𝐄𝐂𝐄, harry...

By catratonks

200K 15.7K 86.9K

𝐚𝐫𝐭𝐞. substantivo feminino ? १ 𝐢. produção consciente de obras, formas ou objetos voltada para a concret... More

𝐏𝐑𝐄𝐒𝐄𝐍𝐓𝐀𝐓𝐈𝐎𝐍𝐒
𝐏𝐑𝐎𝐋𝐎𝐆𝐔𝐄
𝐘𝐄𝐀𝐑 𝐅𝐎𝐔𝐑
𝐘𝟒: Quidditch World Cup
𝐘𝟒: The Triwizard Tournament
𝐘𝟒: The Four Champions
𝐘𝟒: Potter Stinks
𝐘𝟒: The First Task
𝐘𝟒: Will You Dance With Me?
𝐘𝟒: Yule Ball
𝐘𝟒: The Golden Egg
𝐘𝟒: The Second Task
𝐘𝟒: Truth Or Dare
𝐘𝟒: The Third Task
𝐘𝟒: Everything Changes
𝐘𝐄𝐀𝐑 𝐅𝐈𝐕𝐄
𝐘𝟓: Grimmauld Place
𝐘𝟓: The Silver Dress
𝐘𝟓: The Prank
𝐘𝟓: Dolores Umbridge
𝐘𝟓: Firefly Conversations
𝐘𝟓: Harry, My Harry
𝐘𝟓: The Astronomy Tower
𝐘𝟓: The High Inquisitor
𝐘𝟓: The Revenge
𝐘𝟓: The Reunion
𝐘𝟓: Midnight Talking
𝐘𝟓: Dumbledore's Army
𝐘𝟓: Weasley Is Our King
𝐘𝟓: Love Potion
𝐘𝟓: Nightmares
𝐘𝟓: Holly Jolly Christmas
𝐘𝟓: Maddie's Birthday Party
𝐘𝟓: Happy New Year!
𝐘𝟓: Fireworks
𝐘𝟓: Draco Malfoy
𝐘𝟓: Honeycomb Butterflies
𝐘𝟓: Expecto Patronum
𝐘𝟓: The New Seeker
𝐘𝟓: Breakdown
𝐘𝟓: A Whole New Perspective
𝐘𝐄𝐀𝐑 𝐒𝐈𝐗
𝐘𝟔: Horace Slughorn
𝐘𝟔: The Burrow
𝐘𝟔: Weasley's Wizard Wheezes
𝐘𝟔: August 11th
𝐘𝟔: Back to Hogwarts
𝐘𝟔: Amortentia
𝐘𝟔: The Quidditch Captain
𝐘𝟔: Draco?
𝐘𝟔: Falling Apart
𝐘𝟔: The Bookstore of Mysteries
𝐘𝟔: The Curse
𝐘𝟔: Slug Club
𝐘𝟔: Champagne Problems
𝐘𝟔: Dirty Little Secret
𝐘𝟔: Sign Of The Times
𝐘𝟔: Road Trip
𝐘𝟔: Whispers and Secrets
𝐘𝟔: Shopping Day
𝐘𝟔: Rufus Scrimgeour
𝐘𝟔: The Hunt
𝐘𝟔: Valentine's Day
𝐘𝟔: Quidditch Disaster
𝐘𝟔: Sixteenth Birthday
𝐘𝟔: Liquid Luck
𝐘𝟔: Sectumsempra
𝐘𝟔: The Cave
𝐘𝟔: What Starts, Ends
𝐘𝐄𝐀𝐑 𝐒𝐄𝐕𝐄𝐍
𝐘𝟕: The Seven Potter's
𝐘𝟕: The Wedding
𝐘𝟕: The Murderer
𝐘𝟕: September 1st
𝐘𝟕: The Sins Of Tragedy
𝐘𝟕: Body and Soul
𝐘𝟕: Slytherin's Locket
𝐘𝟕: The Depths Of Fall
𝐘𝟕: Breaking Hearts
𝐘𝟕: Godric's Hollow
𝐘𝟕: The Sword
𝐘𝟕: The Deathly Hallows
𝐘𝟕: Bellatrix's Vengeance
𝐘𝟕: Highs And Lows
𝐘𝟕: The Talk
𝐘𝟕: The Plan
𝐘𝟕: Knives? Sure!
𝐘𝟕: The Boy Who Lived
𝐘𝟕: When Nightmares Come to Life
𝐘𝟕: Blood And Bone
𝐘𝟕: Voids
𝐘𝟕: Death Comes
𝐘𝟕: Sunflowers
𝐘𝟕: Turning Page
𝐘𝟕: Intertwined Fates
𝐀𝐅𝐓𝐄𝐑 𝐓𝐇𝐄 𝐖𝐀𝐑
I. Surprises
II. Soft Kisses And Bad Dreams
III. Death's Lullaby
IV. WARNING: DANGER!
V. Hunting Season
VI. The Corner Of The Lost Souls
VII. The Letter
VIII. Sex On The Beach

𝐘𝟕: The Birthday Party

1.1K 92 478
By catratonks

— Precisamos saber onde começar a procurá-las — disse Ron, a respeito das Horcruxes. — Têm alguma ideia?

— Não — admitiu Harry.

Naquele momento, nos reuníamos no quarto de Ron, encarregados de limpar uns livros velhos que deveriam ser encaixotados. Estava escuro: se mantivéssemos as luzes acesas, a Sra. Weasley saberia de nossa presença ali, algo que não deveria acontecer. Desde que chegamos à Toca, a mulher fez o possível para nos manter ocupados. Não queria que conversássemos porque achava que planejávamos uma fuga.

De certa forma, estava certa. Com a eminência de uma guerra, tínhamos que agir logo após o casamento de Gui e Fleur. Ou seja: rápido.

A mãe de Ron tentou extrair informações de nós, antes de forçar nosso afastamento. Perguntou se íamos viajar; respondemos que sim. Com isso, quis saber para quê pretendíamos abandonar nossa educação, insistindo com afinco à menção do nome de Dumbledore, mas não obteve resultados. Portanto, seu novo passatempo favorito era mandar Ron lavar a louça manualmente, enquanto, no lado oposto, Harry arrumava as camas da casa. Hermione e eu a ajudávamos com a limpeza; por mais juntas que estivéssemos, não poderíamos comentar sobre as Horcruxes sob a vigília da Sra. Weasley.

Confesso que as atitudes dela me irritavam, porque sempre odiei ser supervisionada e controlada, mas não era como se tivesse escolha no momento. Mamãe e Dorcas estavam ocupadas, cuidando de uns assuntos da Ordem, enquanto Remus fora oficialmente nomeado "designer do jardim da frente": montara uma enorme tenda branca que conectava a Toca ao restante. Os que podiam usar magia ajudaram. Maddie, sob outro aspecto, ia e vinha em companhia de Fred e George, que precisavam cuidar da Gemialidades Weasley. Acho que só fazia isso para sair de casa: minha irmã nunca gostou muito de ficar parada.

Portanto, quando finalmente conseguimos nos livrar dos olhares da Sra. Weasley, corremos para nos esconder no quarto de Ron. Tínhamos que discutir acerca dos preparativos da viagem com urgência.

— O rastreador de Harry perderá a validade no dia trinta e um — disse Hermione. — O casamento é no primeiro de agosto. Devemos partir nesse dia.

— Com ele desativado, será perigoso ficar aqui por mais tempo — contrapôs Harry. — Principalmente quando a barreira for aberta para a recepção dos convidados.

— Não podemos perder a festa — disse Ron, sério. — Minha mãe nunca nos perdoaria. E sinceramente, tenho mais medo dela que de Voldemort.

Não fazia muito tempo que ele aprendera a dizer o nome sem medo de pronunciá-lo, mas eu estava orgulhosa.

— Além disso, não posso perder a oportunidade de usar meu vestido novo — confessei, o que fez o ruivo rir.

Hermione começou a analisar alguns livros no momento em que ficamos em silêncio, separando-os em pilhas. Ron arqueou as sobrancelhas:

— Não deveríamos guardar todos?

— Estou vendo se algum desses pode nos ser útil, durante a viagem — informou. — S/N e eu estamos arrumando nossas malas. Roupas, um pouco de comida, materiais de pesquisa...

— Para quê?

— Logicamente porque viver sem fontes de informação é assustador e terrível.

— Ah, claro, porque com certeza vamos derrotar Voldemort com uma biblioteca móvel...

Hermione ignorou-o.

— Será que precisaremos traduzir runas antigas? Pensando bem, é melhor levá-lo, pode ser útil. Também não podemos nos esquecer do de Feitiços Avançados, será necessário fazer encantamentos para proteção...

— Isso não vai dar certo — disse Harry, balançando a cabeça. O encaramos, sem entender. — Temos milhares de problemas, dentre eles, este: S/A ainda não é maior de idade. Não vai poder aparatar, usar magia ou qualquer coisa do gênero antes dos dezessete.

— Basta sermos rápidos — falei.

— Não será preciso — disse Hermione. — Andei estudando sobre rastreadores, e acho que encontrei uma maneira de enfeitiçar o de S/N para que ninguém detecte sua presença. Tenho certeza de que consigo terminar meus estudos até o dia do casamento, e então poderei aplicar o encantamento sobre ela. É poderoso o bastante para que possamos usar magia e aparatar sem maiores complicações.

— Nossa, você se superou — comentei, surpresa.

— Bem, obrigada. A verdade é que se trata de uma magia complexa, porque tecnicamente é ilegal, visto que vai contra as normas do Ministério da Magia, mas estamos lutando por um bem maior.

Uau — espantou-se Ron. — Nunca pensei que fosse viver para ver Hermione Granger agindo contra as leis do Ministério.

— Honestamente? Nem eu estou acreditando muito — confessou Hermione.

— Escutem, vocês sabem que estão correndo perigo, não sabem? — disse Harry, preocupado. — Não quero que se machuquem por minha causa.

— Lá vem — resmungou Ron.

— Isso não é sobre você, Harry — afirmou Hermione, séria. — É sobre o futuro da humanidade. Também é sobre mim, que sou nascida trouxa. Preciso lutar por meus diretos. Acha mesmo que vão poupar minha vida, caso Voldemort ascenda e permaneça no poder?

Harry, aparentemente, não tinha respostas para esse questionamento.

— Isso já foi decidido há meses, amor — falei. Seu olhar voltou-se para o meu, surpreso com o apelido que saiu de meus lábios. — Na verdade, há anos. Desde nossas primeiras aventuras, quando éramos crianças. Nós quatro somos um time, esqueceu?

Ron assentiu, concordando comigo.

— Até que a morte nos separe.

— Exatamente — afirmou Mione. Então, subitamente, seus olhos encheram-se de lágrimas. — Sabe, Harry, todos estamos nos sacrificando em prol dessa missão que Dumbledore lhe incumbiu. Caçar Horcruxes. Mas, principalmente, estamos nos entregando de coração aberto para você. Ron e eu, como seus irmãos, e S/N, como seu amor. Queremos que saiba que pode confiar em nós, tudo bem?

— Sei que posso — afirmou Harry.

— Não precisa se sentir culpado caso nos machuquemos — continuou Hermione. — Sei que vamos conseguir. Vamos sobreviver, porque não deixaremos ninguém para trás, nunca. Mesmo durante uma perseguição, seguraremos as mãos uns dos outros.

— Já está tudo combinado — disse Ron, voltando-se para o amigo. — Conversei com o vampiro que mora no sótão, e ele vai se mudar para meu quarto, quando fugirmos. Tingi o cabelo dele de laranja, porque fingirá ser eu, e ficará acamado para fazer de conta que está com um vírus muito contagiante: sarapintose. Parece que as forças de Voldemort estão começando a se infiltrar em Hogwarts, então querem obrigar todo mundo a entrar. Imagino que seja um meio de ter certeza de que você e S/N comparecerão às aulas.

Ron tinha, de fato, um vampiro no sótão da própria casa. Tudo o que ele sabia fazer era babar e resmungar, mas talvez a recompensa de mudar-se para o quarto do ruivo fosse suficiente para que ficasse quieto.

— Eles nos matariam no primeiro momento — falei.

— É. De qualquer modo, sarapintose é um vírus perigoso, por isso não vão querer se aproximar muito do vampiro para ver se sou mesmo eu.

— Sua mãe está sabendo disso? — perguntou Harry.

— Não, mas papai está, e Fred e George também. Foram eles que fizeram umas mudanças no vampiro, para que parecesse abatido e doente. Prometeram que só contariam à mamãe quando partíssemos.

— Seu pai não ficou chateado?

— Um pouco, porque detesta esconder as coisas de minha mãe, mas entendeu que é por um bem maior.

Harry, então virou-se para Hermione.

— E quanto aos seus pais? Que vamos fazer quando notarem seu sumiço? E Remus e Lene?

— Mamãe sabe que eu nunca abandonaria você — respondi. — Quanto a Remus... Ele é racional. Por mais que nos ame, sabe que estaremos melhores sozinhos, em um pequeno grupo de quatro. Menos pessoas significa menos problemas.

— Exatamente — disse Hermione. — E sobre meus pais... Não precisamos nos preocupar. Não moro mais com eles.

— Você saiu de casa? — perguntei, chocada.

As lágrimas que ela tanto lutava para guardar consigo finalmente escaparam, e Mione caiu no choro.

— Apaguei as m-memórias deles — confessou. — Acham que se chamam Wendell e Monica Wilkins. Em uma semana, partirão para a Austrália, onde montarão um consultório de ortodontia especializada. Não há mais nada que os prenda aqui, visto que não sabem que têm uma filha, entendem.

Harry e eu trocamos olhares, sem saber como reagir, enquanto Ron a abraçava, fazendo carinho em seus cabelos. Eu acharia a cena muito fofa se não estivesse chocada com a revelação.

— Eu não fazia ideia... Sinto muito, Hermione — pediu Harry, arrependido.

— Não precisa sentir muito — disse ela, aceitando o lencinho que Ron lhe estendia. — Obrigada, Ron. Escute, Harry, não culpamos você. A única coisa que realmente esperamos é que aceite nossa ajuda sem protestar. Não adianta tentar fazer as coisas sozinho se não tem ideia de qual caminho seguir primeiro. E mesmo que você conseguisse destruir todas as Horcruxes sem ajuda, demoraria demais. Quando voltasse, estaríamos todos mortos.

— Faça isso por S/N, se não quer fazer pela gente — pediu Ron. — Sua melhor chance de mantê-la viva é com ela perto de você. Ao menos, assim, podemos nos divertir espancando quem tentar levá-la embora. Vai ser divertido.

— Ah, sim, quanto a isso não tenho dúvidas — afirmou Harry, dando um sorriso.

— Credo — falei. — Vocês estão parecendo um bando de carniceiros.

— Falou a assassina — replicou Ron, arrancando uma risada engasgada de Hermione, que tampou a boca com a mão.

— Desculpem, eu não deveria estar rindo disso.

Dei de ombros.

— Na verdade, deveria, sim. Se o Comensal que matei tivesse feito o que fiz, em meu lugar, estaria se acabando de tanto gargalhar. E nem se daria o trabalho de tentar se sentir culpado.

Depois desse nosso diálogo, Harry realmente pareceu relaxar, deixando as insistências para que ficássemos longe de lado. Até pensei em segurar sua mão, mas tive medo de que se afastasse, então contentei-me com o contato mínimo entre nossos joelhos. Estar com Harry daquela forma era melhor que não estar com ele de jeito nenhum.

Hermione tinha razão: tínhamos tanto a sacrificar. Parte de mim ainda pensava em como iria fazer para despedir-me de todos. Quanto tempo passaria sem vê-los? A ideia de deixar Pads não me agradava. Abandonar Remus, mamãe, Dorcas e Maddie também não.

— Voltando ao assunto do medalhão — disse Ron, após um tempo — , precisamos descobrir seu paradeiro. Será que o tal do R.A.B. conseguiu destruí-lo?

Ao som do nome, senti um friozinho na barriga: eu havia sonhado com ele, semanas atrás, mas não fazia ideia do que significava. Decidi ficar quieta a respeito, e tentei não pensar muito. Caso contrário, Harry sentiria.

— Bem, precisamos sair procurando — concluiu Hermione. — Vocês têm algum lugar em mente para começarmos nossa busca?

— Hm... Godric's Hallow? — sugeriu Harry. — É onde Voldemort assassinou meus pais. Também é onde S/A e eu nos vimos pela primeira vez. Éramos vizinhos, afinal de contas. Deve significar alguma coisa.

— Acho que Voldemort não está muito interessado no romance de vocês, sinceramente — disse Ron com franqueza. — Argh, nunca me acostumei com dizer o nome dele em voz alta. Estou tentando, mas é difícil.

— Isso é besteira, Ronald. É apenas um nome — observou Hermione.

— Você também pensava da mesma forma, uns anos atrás! Não tem o direito de me julgar.

— É verdade — concordou Harry. Hermione olhou-o com raiva. — Quê? Estou mentindo?

— De qualquer forma — interrompi — , temos que saber como vamos destruir as outras Horcruxes, quando as encontrarmos. E, bem, o medalhão, caso R.A.B. não tenha concluído a tarefa. Pensei um pouco, e não podemos usar sangue de basilisco. Dumbledore disse que o veneno que corre em suas veias é poderoso o bastante para romper com os pedaços de alma de Voldemort, mas não temos esse recurso disponível.

Ron me encarou, contemplativo.

— Deve haver outro jeito.

— E há — disse Hermione. Nós a encaramos com surpresa, e ela encolheu um pouco os ombros. — Quê? Andei pesquisando.

— Como? Não havia livros sobre Horcruxes na biblioteca — disse Harry.

— Não, não havia — minha melhor amiga ficou um pouco vermelha. — Dumbledore retirou todos, mas não os destruiu.

— E como foi que você os conseguiu?

— Eu... Não foi roubando! — exclamou, com desespero. — Aposto que queria que puséssemos as mãos neles, senão teria dificultado as coisas...

— Não fique enrolando! — exclamou Ron, ansioso.

Hermione deu um suspiro.

— Bem, foi fácil. Usei o Feitiço Convocatório, e os livros vieram voando do escritório de Dumbledore até o dormitório das garotas.

— E quando foi isso?

— Depois... Depois do funeral. Fiquei pensando muito na missão que tínhamos concordado em seguir, e senti que precisávamos saber mais. Por isso, peguei os livros... Mas devo dizer, são terríveis. Este aqui, por exemplo — a garota nos mostrou um de capa escura e frágil — , ensina todos os passos de como fragmentar a alma. É assustador. Quanto mais li, mais absurdo me pareceu que Voldemort tenha, de fato, dividido a si próprio sete vezes.

— Aposto que foi desse livro que Tom Riddle aprendeu a fazer essas coisas — disse Harry. — Por mais que tenha ido perguntar ao Prof. Slughorn sobre o assunto, já devia ter tido acesso às instruções antes. Talvez só quisesse entender o passo a passo mais claramente.

— Talvez — disse Hermione, pensativa. — O livro não diz exatamente que substâncias devem ser utilizadas para destruir uma Horcrux, mas afirma que deve ser algo poderoso o suficiente para que seja impossível de desfazer. Exatamente como o veneno de basilisco, por exemplo. O único antídoto eficiente, muito raro de se achar...

— ... lágrimas de fênix — completou Harry, compreendendo.

— Precisamente — afirmou Hermione. — Acredito que nossas melhores opções sejam conseguir o máximo de Horcruxes que pudermos, aparatarmos em Hogwarts, descermos até a Câmara Secreta e usarmos as presas do basilisco que Harry matou, no segundo ano, para perfurá-las.

— Nessas horas, a espada de Gryffindor seria útil — observei. — Dumbledore disse que era imune ao veneno de basilisco, lembram? Faz sentido procurarmos por ela. Talvez venha a calhar.

Nesse momento, a Sra. Weasley apareceu, escancarando a porta. Quando nos viu reunidos em círculo, de modo conspiratório, arqueou as sobrancelhas, as mãos na cintura.

— Que estão fazendo? — perguntou, desconfiada.

— Empilhando os livros que a senhora pediu que organizássemos — disse Hermione, com inocência. Não deixava de ser verdade.

— Ah, sim, claro... Harry, querido, você está disponível? Imagino que sim. Tenho uma tarefa para você. E para você também, Ron...

Ela fez um sinal para que os garotos a acompanhassem. Eles não protestaram: a mulher provavelmente inventaria uma coisa qualquer com a qual ocupá-los, a fim de nos separar. Depois, era provável que retornasse a fim de requisitar o mesmo de nós.

Nada que a Sra. Weasley fizesse mudaria nosso destino, no entanto.

.˚﹟ 𓂅 ♡ ᵎ ˖ ˙ Ϟ 𐄹 १

No dia trinta e um, quando acordei, após uma noite mal dormida, não saí da cama de imediato. Permaneci sob as cobertas, confortável, com Pads deitado ao meu lado, sem querer mexer os músculos. Hermione não estava lá.

Era aniversário de Harry, e eu não sabia como olharia para ele quando o visse. Ou o que faria. Além disso, ainda estava triste por tê-lo encontrado planejando uma fuga em plena madrugada, quando chegamos à Toca. Fiquei muito brava porque foi o meio que encontrei de lidar com o medo de perdê-lo. Precisava pedir desculpas por ter surtado, mas sabia que acabaria fazendo alguma besteira. Minha capacidade de autocontrole estava se esvaindo.

Não pude sair para comprar nada, porque mamãe e Remus me proibiram de sair de casa desde que descobriram que Bellatrix estava me caçando, então precisei improvisar. Pintei um quadro para ele, retratando Hogwarts e suas paisagens floridas, com o Lago Negro brilhando atrás de alguns carvalhos e arbustos verdes. Esperava muito que gostasse: foi uma de minhas melhores obras até então.

Eu pensava justamente nisso quando a porta do quarto que estava dividindo com Hermione se abriu, revelando ninguém menos do que Maddie. Diante do barulho mínimo, Pads ergueu a cabeça.

— Nossa, como aqui está escuro. Já amanheceu, sabia?

— Estou com preguiça — falei, escondendo a cabeça sob as cobertas. Senti o olhar de Padfoot sobre mim, enquanto entortava a cabeça em confusão e abanava o rabo.

Àquela altura, Hermione deveria estar ajudando os outros com os preparativos para a pequena comemoração de aniversário de Harry, que aconteceria à noite. Me perguntei, outra vez, como reagiria ao receber meu presente.

O casamento de Gui e Fleur aconteceria no dia seguinte, portanto os pais dela também compareceriam à festa de Harry. A responsabilidade de recepcionar as visitas estava estressando a Sra. Weasley; e isso acabou sendo um ponto positivo porque permitiu que Ron, Hermione, Harry e eu planejássemos os últimos detalhes de nossa busca pelas Horcruxes.

De todo modo, pensar nessas coisas não anulava o fato de que eu tinha que levantar da cama.

— Não, nada disso — falou Maddie. — São onze e meia. O almoço está sendo preparado, e você aí dormindo, como se nada estivesse acontecendo.

— Claro que tem alguma coisa acontecendo. Só não quer dizer que preciso fazer parte dela.

— Precisa, sim. É aniversário do seu namorado.

— Ele não é mais meu namorado — resmunguei.

— Deixe de besteira, claro que é. Harry só está fazendo drama — disse Maddie, balançando uma das mãos com descaso. — Vamos, vai ser legal. Quem sabe você até não ganha uns beijos dele?

Quase comecei a rir.

— Até parece.

— Eu não duvidaria. Harry é louco por você.

— É exatamente com isso que me preocupo — murmurei, baixinho.

— Besteira — falou minha irmã, caminhando até mim e tirando as cobertas da minha cara. Pads latiu, feliz. — Escute, por mais que haja essa questão entre vocês, nós duas sabemos que Harry te ama muito. Você é a única pessoa com a qual ele realmente faz questão de comemorar o décimo sétimo aniversário. Tome um banho, troque de roupas e desça, certo? Harry está com Ron, jogando vôlei no jardim.

Arqueei as sobrancelhas.

— Desde quando Ron joga vôlei?

— Desde hoje, aparentemente. Os garotos acharam uma bola nas coisas do Sr. Weasley e começaram a treinar.

Harry e eu sempre jogávamos vôlei juntos, nas férias de verão. Modéstia à parte, eu era muito boa.

— Tudo bem — aceitei, por fim. — Estou indo.

Quando minha irmã saiu, criei coragem e me levantei. Pads ficou dormindo, e admito que senti inveja dele. Tomei um banho rápido, vesti um shorts de academia e um blusão branco, que era de Harry, prendendo meu cabelo, depois. Desci as escadas descalça mesmo, com a sensação do geladinho do piso impregnando em minha pele.

Encontrei-os lá fora. Harry tentava ensinar Ron a sacar, batendo na bola com força. Achei que fosse impossível achá-lo ainda mais atraente, mas, pelo visto, estava enganada. Pareciam tão concentrados que só notaram minha presença quando comentei:

— Você é péssimo, Ron.

O ruivo tomou um susto bem na hora em que Harry sacou para que ele defendesse. A bola voou para o lado oposto, quase quebrando uma janela.

— Bom dia para você também — resmungou.

Dei uma risada, me aproximando de Harry. Antes que ele assimilasse, ou que eu desistisse, por causa do nervosismo, beijei sua bochecha.

— Feliz dezessete — desejei. — Posso jogar?

Ele sorriu, as bochechas levemente vermelhas.

— Obrigado.

— Depende — respondeu Ron à minha pergunta. — Você é boa?

— Sim.

— Então não, não pode.

— Pare com isso — disse Harry a Ron. Então, voltou-se para mim: — Claro que você pode, amor.

Jogamos por mais ou menos uma hora, quando Hermione saiu da Toca a fim de nos chamar para almoçar. Ela usava uma calça jeans e um moletom vermelho, e trazia nas mãos três toalhas.

— Enxuguem o suor — pediu. — Vamos almoçar primeiro, e só então poderão tomar banho.

— Ué, por quê? — perguntei.

— Algo sobre o horário de almoço dos pais de Fleur — Hermione deu de ombros. — Na França é diferente.

— Honestamente, ainda bem — disse Ron, aliviado. — Nunca fui tão humilhado em toda a minha vida quanto agora.

— Não foi tão ruim, vai.

— Não, não foi, mas vocês são péssimos professores.

— Ou você que é um péssimo aluno.

— Dizer que sou um péssimo aluno faz de você uma péssima professora, S/N!

— Isso é verdade — concordou Hermione, as bochechas ficando vermelhas por ter defendido o ruivo.

Revirei os olhos, mas não contestei. Não era que eu não sabia (ou não queria) ensinar, mas não tinha paciência. E não somente em relação ao vôlei: era um problema geral.

Assim que entramos, no entanto, demos de cara com Rufus Scrimgeour, que conversava sem muito ânimo com a Sra. Weasley e Maddie. Até Hermione pareceu entrar em choque.

— Não olhem para mim — disse ela quando a encaramos de súbito. — O ministro não estava aqui quando fui chamar vocês. Deve ter entrado pelo outro lado.

— O que será que ele quer? — questionou Harry.

— Não sei, mas deve ser importante.

Ao notar nossa presença na cozinha, Scrimgeour interrompeu a própria fala.

— Perdoem-me pela intromissão — pediu. — Vejo que estão atarefados. É seu aniversário, não é, Potter?

— É — respondeu Harry.

— Muitos anos de vida.

— Obrigado.

— Preciso de uma palavrinha com você em particular — disse. — Com Weasley, Granger e McKinnon Black também.

— Nós? — perguntou Ron, surpreso. — De que se trata?

— Discutiremos em outro lugar, sim? Podemos usar sua sala de estar, Molly?

— Claro — confirmou a Sra. Weasley. Maddie olhou para o homem com desconfiança. — Fique à vontade...

— Ótimo — disse Scrimgeour, voltando-se para nós. Parte de mim não conseguiu não lembrar de nossa última conversa, quando o ministro pedira que Harry e eu trabalhássemos em favor do Ministério. — Vamos?

Concordamos. Seguimos com o homem até a sala, os quatro de nós sentando-se no sofá. Fiquei entre Hermione e Harry, que estava ao lado de Ron. Rufus Scrimgeour sentou-se à frente, de modo que pudesse encarar nossos rostos.

— Tenho umas perguntas para fazer a vocês — começou. — Se puderem aguardar lá em cima, enquanto converso com cada um separadamente...

— Não vamos a lugar algum — falei, firme. — Pode dizer o que quiser na frente de todos.

O homem nos avaliou por alguns segundos, medindo nossas expressões. Por fim, mesmo que contra sua vontade, concordou.

— Muito bem — disse ele. — Bem, imagino que saibam que estou aqui por causa do testamento de Alvo Dumbledore.

Meus amigos e eu nos entreolhamos.

— Pelo visto é surpresa! — exclamou Scrimgeour. — Não sabiam que Dumbledore deixou artefatos para vocês?

— Para nós quatro? — perguntou Ron, abismado, como se não acreditasse nas palavras do homem.

— Sim. A todos.

— Dumbledore morreu há mais de um mês — disse Harry, desconfiado. — Por que não fomos avisados antes?

Hermione deixou escapar uma exclamação de desgosto.

— Não é óbvio? Eles queriam examinar tudo antes — ela olhou para Scrimgeour com raiva. — O senhor não tinha esse direito!

— Tinha, sim — rebateu o ministro. — O Decreto sobre Confisco Justificável...

— ... foi criado para analisar objetos enfeitiçados por meio das Artes das Trevas — completou Hermione. — A não ser que o senhor queira dizer que Dumbledore estava tentando nos passar objetos malditos, ministro, não teria motivos para apreendê-los.

— Foi uma questão de precaução, Srta. Granger.

— E imagino que só tenham liberado o testamento porque o prazo de trinta e um dias estabelecido pela lei se deu por encerrado, e o Ministério da Magia não encontrou indícios de que apresentasse ameaças.

— Você diria que era próximo de Dumbledore, Ronald? — perguntou Scrimgeour, ignorando Hermione totalmente.

Minha melhor amiga olhou-o com indignação.

— Eu?! — espantou-se Ron. — Não. Não nos falávamos muito.

— Se não eram próximos, por que motivo imagina que ele tenha te passado parte de seu testamento?

— Bem, eu... Eu não sei ao certo. Me achava legal, suponho.

— Não seja modesto — disse Hermione. — Dumbledore gostava muito de você.

Isso era um pouco de exagero, visto que eles nunca conversaram por um tempo considerável, mas Hermione provavelmente o disse apenas porque quis espantar as perguntas de Scrimgeour.

O ministro deu um suspiro. De dentro da maleta que trazia consigo, retirou um rolo de pergaminho. Abriu-o, lendo em voz alta:

— "Últimas vontades de Alvo Percival Wulfrico Brian Dumbledore. A Ronald Weasley, deixo meu desiluminador, na esperança de que encontre a luz mesmo nas horas mais sombrias".

Scrimgeour pegou um pequeno objeto de dentro da maleta, que assemelhava-se a um isqueiro de prata, e entregou-o a Ron. O ruivo recebeu-o com uma expressão confusa no rosto.

— Dumbledore deve ter tido milhares de alunos, e no entanto vocês quatro foram os únicos mencionados em seu testamento. Têm alguma ideia do porquê? O que será que ele pensou que você faria com um desiluminador, Sr. Weasley?

Ron apertou o pequeno botão do isqueiro, e as fontes de luz próximas apagaram-se, parecendo ser "sugadas" pelo objeto metálico. Depois, apertou-o novamente, revertendo o processo.

— Apagar e acender luzes? — respondeu, em tom de dúvida.

Visto que o garoto não parecia disposto a dar mais explicações, Scrimgeour voltou-se outra vez para o pergaminho. Leu em voz alta, como antes:

"Para a Srta. Hermione Granger, deixo meu exemplar de Os Contos de Beedle, o Bardo, na esperança de que ache divertido e instrutivo" — Scrimgeour apanhou, então, na bolsa, um livro antigo, com o título em runas cravado em alto relevo, e deu-o a ela. Uma lágrima escorreu dos olhos de Hermione, caindo sobre a capa que descolava em algumas partes. — Por que Dumbledore lhe deixou este livro, Srta. Granger?

— Ele... Ele sabia que eu gostava de ler.

— Mas por que este em especial?

— Não sei. Deve ter pensado que eu gostaria.

— Alguma vez discutiu códigos ou outros meios de transmitir mensagens secretas com Dumbledore? — insistiu o ministro.

— Nunca.

Esse homem é muito chato, pensei comigo mesma.

Muito, concordou Harry, em minha mente. Eu não havia percebido que estava falando com ele, até que respondesse.

Nós dois trocamos um olhar rápido, e Harry tentou esconder um sorrisinho, lembrando dos velhos tempos em que conversávamos por telepatia, durante as aulas entediantes de História da Magia.

Ainda bem que Scrimgeour não percebeu. Ele voltou a revirar o interior de sua maleta. Para minha surpresa, segurava um pomo de ouro.

"A Harry Potter, deixo o pomo de ouro que ele capturou em seu primeiro jogo de quadribol em Hogwarts, para lembrar-lhe das recompensas da perseverança e da competência".

Harry encarou o pomo com uma expressão que não pude definir bem. Talvez nostalgia.

— Por que Dumbledore lhe deixou isto? — quis saber Scrimgeour.

— Não faço ideia — respondeu Harry.

— Então você acha que é apenas simbólico?

— Suponho que sim. Que mais poderia ser?

— Sou eu quem vai fazer as perguntas por aqui, Potter — disse o ministro, sério. — Um pomo seria um lugar excelente para esconder um pequeno objeto. A Srta. Granger certamente deve saber por quê.

Olhamos para Hermione. Ela timidamente falou:

— Porque pomos de ouro guardam na memória o toque humano.

— Exatamente — concordou Scrimgeour. — Um pomo não é tocado nem mesmo por seu fabricante, que usa luvas, para preservá-lo até a partida. É uma magia útil quando se quer saber que apanhador encostou nele primeiro, no caso de um "empate". Portanto, este pomo se lembrará de seu toque, Potter, para sempre. Dumbledore deve tê-lo enfeitiçado para que se abra quando você o segurar.

Harry trincou o maxilar, o coração batendo rápido. Um pequeno sorriso insinuante preencheu os lábios do ministro.

— Não está respondendo. Sabe o que o pomo carrega, então?

— Não — disse Harry, sincero. — Não faço ideia.

— Então pegue-o.

Os momentos seguintes foram tensos, porque Harry não teve escolha senão obedecer. Todos pareceram prender a respiração quando seus dedos fecharam-se em torno do pomo de ouro, sua palma encostando em cada centímetro. Nada aconteceu.

— Essa foi dramática — comentou Harry, e nós rimos. — Pelo visto, é apenas um pomo, ministro. Nada demais.

À contragosto, Scrimgeour concordou.

— É. Imagino que sim.

— E quanto ao pedaço do testamento de S/N? — quis saber Ron, de súbito. — O senhor deixou-o por último. Por quê?

Uma sombra indecifrável banhou o rosto de Rufus Scrimgeour. Ele voltou a olhar para o pergaminho amarelado.

— Confesso que fiquei bastante intrigado quanto a essa parte: "A S/N McKinnon Black, deixo a espada que pertenceu a Godric Gryffindor, e um segredo. A Morte serpenteia em meio às Sombras, e a espada absorve aquilo que a fortalece".

— Ele me deixou uma espada?! — perguntei, incrédula. — Onde está?

— Infelizmente, não pertencia a Dumbledore para que se dispusesse dela. A espada de Godric Gryffindor é uma relíquia histórica, e tal como pertence às propriedades da escola. A pergunta é: por quê?

— Por que o quê?

— Por que Dumbledore lhe deixaria uma arma?

— Sou colecionadora — brinquei.

— Muito engraçado — ironizou Scrimgeour. — Bem, temos conhecimento de que tentou assassinar Fenrir Greyback, pela própria segurança. Vamos supor que tenha gostado. Dumbledore não iria querer aproveitar-se disso?

— De que adiantaria ter uma assassina à disposição se ele está morto? — perguntei. — Não tenho contra o quê usar uma espada.

— Não tem, ou não quer dizer?

— Não tenho.

— E quanto a "A Morte serpenteia em meio às Sombras"? Que isso significa?

Eu tinha minhas suspeitas, principalmente depois de ter dizimado um exército inteiro de mortos-vivos, antes das férias de verão, mas decidi fingir demência.

— Também não sei.

— Teria ele lhe dado aquela espada porque acha que, com ela, poderá ajudar o Sr. Potter a derrotar Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado? Ou, quem sabe, usá-la em benefício próprio, agindo como uma espiã da Ordem da Fênix?

— Uma teoria interessante — falei, sem me conter. — Já tentou transpassar Voldemort com uma espada? O Ministério deveria perder tempo com isso, ao invés de encobrindo fugas em massa de Azkaban. Porque convenhamos, ministro, é sobre isso que todos falam ultimamente. Às vezes me pergunto se é o que anda fazendo quando ninguém está olhando: trancando-se no próprio gabinete para tentar abrir pomos de ouro enquanto milhares de pessoas morrem em ataques de Comensais da Morte. Ainda espera que cooperemos com o senhor, francamente!

Scrimgeour ficou muito irritado. Na verdade, estava assim havia um tempo, senão há meses, quando Harry e eu recusamos sua proposta. Ele pôs-se de pé e sacou a própria varinha. Nos levantamos também.

— Basta! — exclamou, elevando o próprio tom de voz e apontando a varinha para mim. Quase tropecei, percebendo, tarde demais, que o feitiço contido chamuscara minha camisa. — Eu tomaria cuidado, se fosse você.

— Olhe como fala com ela — ameaçou Harry, sacando a própria varinha e apontando-a para o ministro.

— Cuidado, Harry — avisou Hermione, cautelosa. — Não dê a ele um motivo para nos prender.

— Lembraram de que não estão na escola, não é? — sibilou Scrimgeour entre dentes. — Lembraram de que não sou Dumbledore, e de que não perdoarei sua insolência ou insubordinação? Não cabe a uma garota de dezesseis anos me dizer como agir no Ministério. Está mais do que na hora de aprenderem a ter um pouco de respeito.

— E do senhor a merecê-lo — falou Harry, sério.

Bem nesse instante, a Sra. Weasley entrou na sala, acompanhada pelo marido (Maddie deve ter saído para resolver alguma questão da festa de Harry). Scrimgeour recolheu a varinha quando os viu, embora não tivesse se dado o trabalho de esconder a expressão de desgosto que inundava sua face.

— Está tudo bem? — perguntou a Sra. Weasley. — Pensamos ter ouvido uma confusão.

— Não foi nada, Molly — disse o ministro, passando as mãos pelas próprias vestes. — Eu já estava de saída.

Arthur, o pai de Ron, acompanhou-o até a porta. Permiti-me respirar, aliviada, e larguei-me no sofá.

— Que aconteceu? — quis saber a mulher, preocupada, nos encarando.

— Scrimgeour queria nos entregar os objetos deixados para nós, no testamento de Dumbledore, mas não soube ser gentil — expliquei.

— É, nem um pouco — concordou Ron.

A visita do ministro deixou a Sra. Weasley tão desnorteada que pareceu fazê-la esquecer de que não queria que meus amigos e eu ficássemos a sós por muito tempo. Ela retornou para a cozinha, onde os preparativos da festa de aniversário de Harry estavam sendo feitos, parecendo esquecer-se totalmente do almoço. Olhei-o, então.

— Obrigada por me defender.

— Sempre farei isso — disse Harry, dando um sorrisinho fofo. Pena que não era mais meu.

Hermione ia dizer alguma coisa, mas deteve-se quando checou o relógio de pulso de Ron com o canto do olho.

— Nossa, precisamos correr! — ela me encarou, depois: — Tome banho o mais rápido que puder. Te encontro na cozinha em dez minutos.

Dez? Só?

— Sim.

— Tudo bem, mas eu queria hidratar meu cabelo...

— Faça depois.

Revirei os olhos, mas concordei. Hermione tinha dito que deveríamos almoçar primeiro, minutos atrás, mas, pelo visto, a refeição atrasaria um pouco.

— Certo, só porque nosso motivo é importante.

— Do que estão falando? — perguntou Harry, erguendo as sobrancelhas.

Hermione e eu trocamos olhares misteriosos.

— Mais tarde você descobre — falei, me levantando. — Vou tomar banho, desço daqui a pouco. Ainda estou suada. Convenhamos, humilhar os outros no vôlei às vezes é cansativo.

Ron ainda teve tempo de murmurar, antes que eu saísse:

— Desumilde.

.˚﹟ 𓂅 ♡ ᵎ ˖ ˙ Ϟ 𐄹 १

Quando terminamos de aprontar tudo para a festa de aniversário de Harry, pude me preparar com calma. Tomei outro banho, pois me sujei com ingredientes de cozinha, e hidratei meus cabelos com uma máscara capilar de gengibre e mel. Ardia nos olhos, mas fez com que meus fios ficassem macios quando usei o secador. Após isso, passei desodorante e perfume e pus o vestido que havia reservado para aquela noite: longo e laranja, fazia um degradê com vermelho e vinho, transmitindo a lembrança do pôr-do-sol.

Decidi dispensar a etapa da maquiagem e calcei saltos que combinavam com o vestido. De acessórios, permaneci com os que Harry me dera ao longo de nosso quinto ano: colar e brincos de diamante, pulseira que brilhava de acordo com meu humor e meu anel de compromisso em forma de borboleta, que encaixava-se no dele. Eu nunca o tirara e, pelo que percebi, após nosso reencontro, Harry também não.

Fui a última a descer. No jardim, pessoas comiam, bebiam, conversavam. Confesso que foi estranho comparecer a uma festa em que todos os meus amigos podiam beber legalmente, como adultos, exceto eu. Fazia com que me sentisse muito mais nova, embora a diferença não fosse tanta.

Somado aos preparativos para o casamento, a postos para o dia seguinte, pequenas luzinhas foram postas em arbustos e árvores, assim como enormes balões prateados, enfeitiçados para que flutuassem. Não havia muitos convidados porque isso não seria seguro; portanto o clima era familiar e confortável. De casa. Quase morri quando vi Harry. Ele estava com Ron e Hermione, lindo como os primeiros raios da manhã que destroem o crepúsculo e a noite.

E meu coração.

Usava uma calça preta e sapatos da mesma cor, com uma blusa social branca, sem gravata. As mangas estavam puxadas até os cotovelos, os antebraços à mostra. Harry riu de alguma coisa que Ron disse, segurando um copo de whisky de fogo com despreocupação. Meu estômago deu mil cambalhotas, mas continuei caminhando até eles com o fio de dignidade que me restava. Se é que ainda me restava qualquer coisa.

Ron cutucou-o, e em seguida me indicou com o queixo. Harry olhou. Cada centímetro meu pegou fogo em suas íris, como uma fênix, fazendo jus a meu vestido em degradê de fogo. Ele empertigou a coluna, como se para não deixar-se intimidar — porque eu parecia muito naquele momento para absorver, sim. Li seus milhões de pensamentos: devastadora como o crepúsculo, como fogueiras medievais, como a Morte. Não havia outras; apenas eu. Sempre seria a única que queimaria em seus olhos.

Harry afrouxou a gola da camisa, engolindo em seco. Um sorriso involuntário preencheu meus lábios.

— Oi. A decoração ficou linda.

— Obrigada — disse Hermione. — Ajudei o Sr. Weasley com tudo.

— Enquanto a senhorita estava se arrumando — disse Ron, dando ênfase na palavra "senhorita". — Sério, S/N, você demora muito.

— Em compensação estou muito mais bonita que você — respondi.

Ron fez uma careta, fingindo ultraje. Harry continuou me encarando como se quisesse muito dizer alguma coisa, mas não soubesse por onde ou como começar. Meu coração bateu mais rápido, em expectativa.

Antes que pudéssemos dar continuidade a nosso diálogo, os pais de Fleur vieram até nós, de braços dados com um garoto que deveria ser um ou dois anos mais velho que eu. Reconheci-o de fotos: Fleur disse mesmo que um primo seu, vindo de longe, chegaria antes que todos os outros; talvez no dia anterior ao casamento.

Pardon pela interrupção — pediu a Sra. Delacour. Era bonita, e tinha um sotaque francês bem carregado. — Tudo bem, S/N?

— Tudo. A senhora se lembra de meus amigos? Ron, Hermione e meu... Harry.

— Seu Harry?

Mordi o lábio.

— É.

— Claro que sei quem são, sua boba. Estamos hospedados aqui, afinal, não estamos? Eu soube de seu pai. Sinto muitíssimo.

— Tudo bem.

A Sra. Delacour virou-se para Harry.

— E você?

Enchantée, mademoiselle — cumprimentou ele, ao meu lado. — Ça va très bien.

— Ah! Tu parles français?!

— Falo.

— Que espetáculo! — exclamou o Sr. Delacour. — Mas bem, não foi por isso que viemos aqui, certo, Apolline? Nosso sobrinho, Adrien, ainda não conhece ninguém. Fala inglês, mas é um homem sem atitudes...

— Não é verdade! — protestou Adrien, olhando feio para o homem. — Não liguem para ele, papai bem que me avisou que meu tio gosta de fazer os outros passarem vergonha.

— ... se puderem conversar com ele, serei eternamente grato — continuou Monsieur Delacour. — Ah, vejam, Molly está nos chamando. Vamos, querida, precisamos ajudá-la com o jantar... É seu aniversário, não é, meu rapaz?

— É — respondeu Harry.

— Parabéns, então!

— Obrigado.

E então eles nos deixaram a sós com Adrien, que parecia morto de vergonha.

— Desculpem novamente. Meus tios são impossíveis.

— Sem problemas — ri. — Foi engraçado.

Adrien usava um terno cinza elegante. Tinha olhos de um tom intenso de azul-elétrico, cabelos dourados e nariz fino, de ponta arrebitada. Escaneou meus amigos primeiro, dirigindo cumprimentos a todos. Parecia bem-educado. Seu olhar deteve-se em mim, então, e queimou como brasa.

— Qual é seu nome? — perguntou.

— S/N — respondi.

— Você é muito bonita. Parece uma princesa.

O elogio não surtiu efeitos. Harry, por outro lado, parecia determinado a assassiná-lo com o olhar.

— Obrigada — falei.

— Quantos anos tem?

— Dezesseis.

— Tenho dezoito. Fiz há pouco, será meu último ano como estudante. Para você vai demorar mais, né?

— Na verdade, eu sou adiantada, então será meu último ano também — menti. Meus amigos e eu não frequentaríamos mais a escola.

— Sério? Isso é bom — disse. — O assunto flui mais fácil, então. Já sabe quando vai estudar sobre o Feitiço do Patrono? É uma magia avançada. Meus amigos não sabem falar de outra coisa.

— Na verdade, S/A já sabe produzir um — interrompeu Harry, com um pouco de amargura na voz. Tive que me esforçar muito para não rir: ele estava morrendo de ciúmes.

— Puxa! Verdade?!

Assenti.

— Sim. Meu padrasto nos ensinou. A Harry e eu, quero dizer. Nos conhecemos desde a infância.

— Ah, isso é legal. Vocês moram juntos, ou coisa do tipo?

— Temos uma casa — respondeu Harry, sem expressão. — Eventualmente iremos para lá, quando a guerra tiver acabado.

Senti um embrulho ruim no estômago. Eu queria tanto que esse dia chegasse. Só de pensar que Harry tinha comprado uma casa inteira para que construíssemos nossa família e futuro dentro, meu peito se contraía. Eu não sabia se conseguiríamos. Talvez nunca nem chegássemos a pisar lá.

Adrien pareceu desanimar um pouco.

— Entendo — disse. — Então vocês...?

— É complicado — afirmei. — Honestamente, eu queria que não fosse.

Era verdade: eu queria que Harry aceitasse logo que nosso afastamento não era a solução para todos os problemas do mundo. Queria tanto que me deixasse voltar para ele. Minha casa, onde pertencia. Dava vontade de chorar toda vez.

Às vezes eu achava que Harry fazia isso porque queria punir a si próprio pelas mortes que aconteceram nos últimos anos. Como se seu castigo fosse ficar sem mim, da mesma forma que Amos Diggory sofria com a ausência do filho; passando pelo desespero excruciante de desejar o inalcançável. Só que essa política também me afetava.

— Então você não se importa se eu pegar uma bebida para ela? — quis saber Adrien, esperançoso, encarando Harry.

Antes que Hazz fosse rude, falei:

— Tenho certeza de que não.

Na verdade, só disse isso porque queria me livrar de Adrien por uns minutos. Eu não estava com cabeça para lidar com os flertes de alguém que não fosse Harry no momento. Quando o primo de Fleur saiu, permiti-me suspirar de alívio.

— Finalmente.

— Gostei dele. Simpático — comentou Ron, achando graça.

— Pois eu não — disse Harry, carrancudo. — Garoto ridículo.

Hermione segurou um risinho.

— Alguém está com ciúmes.

— E se estiver? — desafiou Harry.

— Acho que é fofo de sua parte — falei.

Harry me olhou na mesma hora, a expressão de raiva desfazendo-se.

— Tenho permissão para assassiná-lo?

— Claro que não.

— Por quê? Não é você quem ama um cenário dramático?

— Tenho meus momentos — ri.

Ele pareceu ficar desapontado. Dei uma risada, abraçando-o pela cintura e beijando o canto de sua boca. Harry ficou tenso, como se ansiasse por mais. Fiquei feliz que não desviou de meu toque, apesar de que, normalmente, sua reação seria me beijar, pouco ligando se os outros podiam ou não nos ver.

Era ingênuo de minha parte não guardar mágoas de nossa última briga, quando Harry tentou fugir na calada da noite, sem avisar a ninguém. Mas eu não conseguia; estava apaixonada demais. Para falar a verdade, eu entendia por que motivo Ron e Hermione nos olhavam como se fôssemos uma incógnita, em momentos como aquele: Harry e eu éramos imãs que atraíam-se e repeliam-se na mesma proporção. Não estávamos juntos, mas ainda usávamos anéis de compromisso. Não trocávamos beijos, mas nos abraçávamos como se fôssemos amantes. Nosso jogo era contraditório, doloroso, visceral. Parecíamos torturar um ao outro para ver quem baixaria a guarda primeiro. Não era exatamente proposital, mas também não fazíamos sem querer.

Eu o queria e mostrava isso sempre, dando a ele meu coração sem proteção, sem nada. Sofria golpes, morria e no entanto continuava vivendo, sucumbindo ao desespero. Doía, mas eu ignorava. E Harry fingia que conseguia suportar, sofrendo pelos dois de nós ao mesmo tempo: com o próprio desejo e com meu sofrimento.

— Não deveríamos...

— Cale a boca.

— Tudo bem.

Acho que intimamente ficou feliz por eu ter dito isso.

O primo de Fleur retornou pouco depois com duas bebidas em mãos: whisky de fogo para ele, suco de frutas para mim. Senti-me genuinamente atacada, porque Harry com certeza buscaria a mesma coisa para nós dois, como parceiros e iguais. Por outro lado, era injusto comparar qualquer um a Harry porque ele era insubstituível.

— Obrigada — falei, pegando o copo de whisky de fogo antes que Adrien me oferecesse o de suco e dando um gole. Harry removeu os braços de meu entorno para que eu pudesse me movimentar melhor.

Adrien espantou-se.

— Eu não sabia que você bebia.

— Gosto de degustar — comentei. — Acho que puxei isso de meu pai. Ele era um apreciador nato de vinhos.

— Remus? Falei com ele, quando cheguei.

Harry e eu trocamos olhares.

— Mais ou menos. Remus é meu padrasto — respondi. — Meu pai de verdade morreu, no ano passado. Eles eram casados.

— Ah, é por isso que minha tia estava falando dele? Sinto muito.

— Tudo bem — falei, embora não soubesse se era verdade. — Sabe, às vezes é estranho conhecer alguém que não saiba quem sou. Engraçado.

— Eu deveria saber, então.

— É, mas prefiro assim — concluí, pensando em meu sobrenome, e na sentença que ele carregava. — Simplifica as coisas.

— Com que profissão quer trabalhar, Adrien? — perguntou Hermione, entrando na conversa.

— Andei pensando em Direito da Magia. Gosto de burocracias.

Harry ergueu as sobrancelhas, e disse para que só eu pudesse ouvir:

— Ou seja, o cara é insuportável mesmo.

Mordi o lábio para não rir.

Até que tentei discutir com eles sobre o assunto, mas não tinha muito o que falar: eu queria ser auror para trabalhar com a parte investigativa e estratégica, saindo em missões de vez em quando, de preferência com Harry ao meu meu lado, como meu marido. Sempre gostei muito de desvendar casos criminais. Queria seguir os passos de papai, obviamente, que fora um dos homens que mais admirei na vida.

O jantar foi servido mais ou menos às dez, e os presentes, abertos em seguida. Fiquei um pouco envergonhada por não ter posto o quadro que pintara para Harry junto aos demais embrulhos, mas queria que fosse surpresa, e que fosse entregue quando estivéssemos sozinhos. Os Weasley deram um relógio a ele; Hagrid, uma bolsinha que permitia que apenas o dono do objeto retirasse coisas de dentro (algo bem útil para nossa missão). Mamãe e Dorcas compraram para ele perfumes franceses; Remus, um abajur egípcio do séc. XIX. De Maddie, recebeu sapatos da Gucci, enquanto Ron e Hermione lhe deram um livro bonito e um tabuleiro de xadrez de bruxo artesanal, respectivamente.

Na hora dos parabéns, a Sra. Weasley trouxe o bolo do interior da cozinha. Era enorme, feito para parecer um pomo de ouro. Harry prendeu a respiração quando o viu.

— Puxa, não precisava! — exclamou, dando um sorriso feliz.

A Sra. Weasley sorriu.

— Não há de quê, querido. Hermione e eu cuidamos da parte realmente menos complicada. A moldagem artística do bolo e a tonalidade certa das cores... Foi tudo obra de S/N.

— Sério? — perguntou Harry, olhando para mim.

Concordei timidamente.

— Sim.

Harry deu um sorriso, despindo minha alma. Senti-me nua em sua frente, apesar das roupas, mas não me importei. Não quando era o único que podia me fazer sentir o borbulhar do estômago, relevando quanto tempo se passasse. O decorrer dos dias não afetava nossos corações, nunca.

E quando cantamos parabéns e Harry assoprou a vela, extinguindo a chama, não foi para o glacê dourado do bolo, ou para o fogo que oscilava conforme os ventos e a mudança de temperatura que olhou. Mas para mim.

.˚﹟ 𓂅 ♡ ᵎ ˖ ˙ Ϟ 𐄹 १

Com o fim da festa, a Sra. Weasley incorporou sua personalidade restrita e ágil de mãe novamente e coordenou a arrumação da casa, já que, no dia seguinte, haveria a tão esperada cerimônia de casamento de Gui e Fleur. Por ser aniversário de Harry, ele foi liberado dos serviços impostos pela mulher; mas fez questão mesmo assim, porque não queria ficar parado.

Havia umas caixas que deveriam ser carregadas até o sótão, provenientes de restos de decoração portáteis. Fleur ficou responsável por levá-las, mas propositalmente passou a tarefa para Harry e eu, dizendo que tinha de "tratar de alguns assuntos do casamento".

— Amanhã vamos acordar cedo — instruiu ela. — Como você e Hermione serão minhas madrinhas...

— Oi?! — perguntei, chocada. — Como assim?

— Te avisei há séculos, não lembra? Foi por isso que, naquela última carta que mandei, sugeri que usasse um vestido escuro, para contrastar com a decoração, que será branca e prateada. Você me pediu uma opinião sobre que tons usar, por isso dei as dicas...

Por um momento, apenas pisquei, transtornada. Eu provavelmente havia esquecido de ler a carta. Por sorte, meu vestido era realmente escuro, então eu ainda podia dizer que lembrava.

— Ah, sim, estou me lembrando — menti.

— Ótimo! Bem, então pode me fazer esse favor? Levar as caixas para o sótão com Harry? — pediu Fleur. — O vampiro deve ter saído para caçar, ou sei lá. Ron disse que ele às vezes escapa, mas que não tarda a retornar quando chega o dia.

— Isso não tem a ver com o fato de que Harry e eu estamos "afastados", e você está querendo bancar a cupido, ou tem?

Fleur se fez de desentendida, dando um sorrisinho antes de se retirar. Ou seja, era exatamente por isso que pedia.

— Coincidência do destino.

— Aham. Tá bom.

— É verdade — afirmou. — Mas façam as pazes se tiverem a chance, ok? Precisarão ficar perto um do outro durante a cerimônia mesmo.

Não estávamos brigados para precisarmos "fazer as pazes", mas ao mesmo tempo tínhamos que nos resolver, sim. De qualquer modo, aceitei a tarefa que nos foi incumbida, e chamei Harry assim que ele retornou da cozinha, após usar magia para lavar alguns pratos. Não julguei-o por isso, porque provavelmente era o que eu faria se tivesse dezessete anos e já conseguisse usar magia sem que fosse detectada.

Uma por uma, levamos todas as caixas para o andar de cima. Eram grandes e pesadas, e Harry não era tão bom com o Feitiço de Levitação quanto Hermione; portanto utilizamos força braçal. Por fim, paramos, cansados, em meio à poeira do sótão. O vampiro, conforme dito por Fleur, estava fora do alcance de nossa vista; o ambiente, muito quieto.

Harry e eu apenas nos encaramos naquela fração de instante, sob a luz tênue da lua que propagava-se através da janela do telhado. Pequenas estrelas podiam ser observadas no céu azul-escuro, quase preto.

Permanecemos em silêncio por uns segundos, sem nos importarmos. Uma quietude com Harry nunca era exagerada, nunca incomodava. Na verdade, talvez fosse nesses momentos em que mais nos entendíamos: nossas mentes misturando-se às Sombras.

— Não pude te comprar um presente como os outros — comecei. — Era perigoso sair de casa.

— Não tem problema. Você sabe que não ligo para essas coisas.

— É, mas eu ligo. Eu não podia simplesmente deixar que a data passasse em branco, então preparei-o eu mesma — falei, nervosa. — Você quer ver?

Harry assentiu na mesma hora.

— Quero.

Fomos, então, até o quarto que eu dividia com Hermione. As cortinas estavam fechadas, e a cama, feita. Fechei a porta ao passarmos, seguindo até onde eu deixara algumas roupas à minha espera. Harry sentou-se na cama.

— Você se importa se eu trocar de roupas primeiro? É rápido.

— Tenho toda a paciência do mundo para você.

A tensão não se desfez de meus ombros, mas permiti-me sorrir. Intimamente, pensava em qual seria sua reação quando pusesse os olhos no presente que eu mesma fizera. Pensava nisso desde o começo do dia.

Assenti. Não me dei o trabalho de seguir até o banheiro, até porque Harry já me vira nua antes, diversas vezes. Senti-o encarando minhas costas com intensidade, o olhar ardendo como brasa quando despi meu vestido de pôr-do-sol, depois os saltos, e pus uma blusa branca e um shorts de tecido leve, ótimo para dormir. Não coloquei nada que cobrisse meus seios por baixo da camisa, por questões de conforto, embora tivesse consciência de que branco não era a cor menos transparente do mundo.

Peguei o quadro que pintara para ele, sobre a escrivaninha, e andei até a cama, sentando-me ao seu lado. Nem mesmo um embrulho eu preparara, mas para isso tinha desculpas: poderia desgastar a tinta da pintura, que retratava Hogwarts e seus arredores.

— Feliz aniversário mais uma vez — desejei, entregando-lhe o quadro. — Não pude fazer melhor, mas achei que fosse gostar. Para quando sentir saudades de casa. Hogwarts serviu-nos de lar por tanto tempo.

Harry não respondeu de imediato, admirando a obra de arte. Seus olhos brilharam, nostalgia banhando sua face. Havia a possibilidade de nunca mais visitarmos o castelo porque não sabíamos se as forças de Voldemort não o destruiriam até lá.

— Obrigado — disse ele, com sinceridade. — Ficou lindo. Um presente comprado não poderia nunca ter sido melhor do que este.

Dei um sorrisinho tenso, abraçando-o como resposta. Harry retribuiu o ato, deixando a obra de lado, na mesa de cabeceira. Montei em seu colo para envolvê-lo melhor.

— Amor.

— Não se preocupe, é só um abraço — falei, baixinho, apoiando a cabeça confortavelmente em seu pescoço.

Harry não pareceu se incomodar. Ficamos assim por um bom tempo, durante minutos que dissolveram-se como água. Seus dedos fizeram círculos reconfortantes em minha lombar, por baixo de minha blusa. Dei um pequeno beijo em seu pescoço.

— Sinto muito por brigar com você, quando te vi fugindo — pedi.

Harry não demorou muito para responder.

— Tudo bem, eu estava errado.

— Fiquei com medo de não te ver de novo — confessei. — Entrei em pânico.

— Eu sei. Sinto muito.

Afastei-me um pouco, a fim de olhar em seus olhos. Mas ainda assim estávamos perto.

— Não podemos mesmo voltar? — perguntei, esperançosa.

Ele balançou a cabeça.

— Eu já lhe disse, amor. Não quero que corra mais riscos.

— E eu já disse que não me importo.

— Mas eu me importo, meu bem. Muito mais do que você pensa.

Dei um suspiro, encarando os lábios dele. Também pude sentir seu olhar sobre os meus. Engoli em seco. Comecei, então, a passar o indicador pelas linhas de seu maxilar, descendo pela curva de seu pescoço distraidamente, observando o ritmo de sua respiração mudar.

— Senti saudades — admiti. Meu dedo percorreu sua clavícula, depois foi deslizando novamente para seu pescoço. Abracei-o totalmente, encostando sua testa à minha. Nossos narizes pressionaram um ao outro, as respirações se misturando. — Minha cama fica tão vazia sem você.

— Também senti sua falta.

— Por que não respondeu às minhas chamadas, através da mente? Seria em segredo.

— Temi que Voldemort pudesse acessar sua cabeça, através de mim.

Seus lábios roçaram contra os meus. Harry estremeceu. Senti seu coração batendo muito forte, para dentro e para fora do peito, conforme o meu.

— Você precisa parar com esses pensamentos negativos — sussurrei. — Estamos bem, não estamos?

Ele não respondeu. E eu o beijei.

A princípio, foi apenas um selinho. Depois outro. E mais um. Mas Harry não se aguentou, aprofundando o beijo, sucumbindo ao desejo e à saudade. Sua língua contra a minha me fez gemer em sua boca, sentindo seus dedos começarem a entremear-se a meus fios de cabelo que provavelmente estavam uma bagunça. Meu estômago se revirou de tantas borboletas.

Mexi-me um pouco em seu colo, procurando por uma posição melhor. Harry segurou meus quadris com firmeza, mordiscando meus lábios. Minhas mãos talvez estivessem tremendo, tentando segurar o suficiente dele, mas falhei. A grandiosidade de Harry era enorme demais para que tê-lo de qualquer forma fosse o bastante; meu corpo começava a convulsionar devido aos pequenos espasmos.

Comecei a desabotoar sua camisa, às pressas. Senti-o enrijecer sob mim, a respiração misturando-se à minha. Suas íris verde-esmeralda escureceram, tomadas pela dilatação das pupilas. Fios de cabelo grudavam-lhe na testa.

No entanto, um pedacinho de consciência falou mais alto, fazendo-o se afastar com dificuldade, em meio aos beijos.

Por um momento, apenas nos encaramos, nossos corações acelerados. Nunca estive tão desnorteada na vida. Depois, quando Harry não fez mais nada senão me encarar  de forma intensa, inclinei-me para beijá-lo novamente, puxando seus cabelos sem força, como sempre fazia.

Para minha infelicidade, Harry desviou.

— O qu...?

— Sinto muito — pediu, sem fôlego. — Não podemos, amor.

Cuidadosamente, ele me tirou de seu colo, colocando-me ao seu lado, na cama. Mordi o lábio, na esperança de que aquela pressão de dentes contra carne fosse minimamente parecida com sua boca na minha. Foi em vão.

Senti uma urgência assustadora de chorar. Olhei para minhas próprias mãos, esperando encontrar consolo.

— Você não quer que tudo volte a ser como antes? — perguntei, baixinho.

Harry me encarou com desespero.

— É claro que quero, S/A! É tudo o que mais quero no mundo. Mas não podemos — ele segurou minhas mãos, me fazendo olhá-lo. Quando o fiz, uma pequena lágrima escorreu por minha bochecha. — Não chore, meu amor. Eu te amo. É exatamente por isso que preciso te proteger.

— É mesmo? — quis saber. — Ou está apenas tentando enganar a si próprio?

— Como assim?

— Você diz que precisa proteger quem ama. Tudo bem, entendo e sinto isso, apesar de não concordar. Não é assim que os relacionamentos, tanto os amorosos quanto os amistosos, funcionam. Mas às vezes acho que todo esse papo de cuidar de nós também é um meio que você encontrou de consolar o próprio coração. De lidar com a culpa, que por sinal já afirmei que você não tem.

— É claro que tenho...

— Por favor, não vamos com esse assunto de novo.

— Foi você quem começou — disse Harry, chateado. — Coloque-se em meu lugar por um momento, S/A. É complicado.

— Me coloco em seu lugar todos os dias, e entendo por que motivo se sente culpado. Só estou dizendo que não precisa ser assim.

— Cedric morreu porque insisti que pegasse a Taça Tribruxo ao mesmo tempo que eu! — exclamou. — Sei o que vai dizer. Sei que acha que tenho mania de bancar o herói, é o que todos acham...

— Isso apenas significa que é uma pessoa boa. Não acho que tem mania...

— ... se eu tivesse sido egoísta uma vez na vida, e aceitado a verdade de que havia vencido sozinho, Cedric estaria vivo.

— Harry. Pare.

— Meus pais foram assassinados para me proteger, Dumbledore foi morto porque não percebi que Snape era um traidor e Moody despencou do céu porque permiti que armassem aquela missão de salvamento estúpida que deixou George sem orelha e matou Edwiges. E Sirius...

Senti meu coração se contrair.

— Não. Por favor.

— ... morreu porque não aprendi Oclumência direito. Poderia ter sido evitado. Poderia...

PARE! — exclamei. Minha cabeça doía, lágrimas escorriam. — Pare de tentar consertar tudo. Tem coisas que são melhores quando quebradas. Papai não iria querer que você se sentisse assim. Se ele morreu, foi por nós. Não esqueça de que Remus segurou a mão dele no último momento, tanto que achei que tivesse poupado a vida dele, mas o destino foi cruel demais. Se você sente culpa por ter sonhado com o que não devia, como acha que Moony está hoje? Ele literalmente tinha o destino do amor da vida dele em mãos, e deixou que escapasse.

Harry fechou os olhos com força, depois abriu-os de novo. Havia dor genuína ali.

— É exatamente por isso que não podemos ficar juntos, amor. Porque não quero que escape.

— Não vou escapar! Não vou para canto nenhum, não vou...

— Não. Não posso perder você também.

Essa foi a gota d'água.

Eu detestava brigar com Harry, mas quebrava meu coração saber que ele estava disposto a arriscar o que construímos para meu bem-estar.  Entendi seu ponto, obviamente, mas doeu como milhares de facas cravadas em meu peito.

Não era drama. Eu apenas tinha a sensação de que não seríamos felizes com o final daquela guerra. Estávamos perdendo tempo, e olha que não tínhamos muito.

— Fique comigo hoje — pedi. Talvez fosse me arrepender depois, ou mesmo quebrar o coração de novo, mas não liguei. Se fosse com Harry, valeria cada minuto. — Durma aqui.

— Você sabe que...

— Não precisa ser do jeito que está pensando — apressei-me em dizer. — Só... Deite-se comigo. Hermione não vai se importar. Ela pode dormir no quarto de Ron.

Harry encarou-me por um momento, contemplativo. Involuntariamente, os dedos de sua mão afastaram uns cabelos de meu rosto.

— Como consegue não me odiar? — perguntou, como se sussurrasse um segredo.

Dei de ombros.

— Não sei — admiti, me deitando. — Mas não conseguiria mesmo que quisesse.

Quando adormeci, e Harry foi embora na ponta dos pés para não me acordar, após ficar fazendo cafuné em meus cabelos até que eu pegasse no sono, não pude deixar de pensar que nos desentendíamos por amor e fazíamos as pazes pelo mesmo motivo, embora nossas ações se assemelhassem às de dois amantes.

——————————————

notas da autora:

oiiii gente!! esse capítulo doeu muito em mim, quase não consegui acabar de escrever por isso kkkkkkkkk 😕 meu professor se atrasou muito hoje, então consegui postar no meio da tarde... mas não posso demorar muito escrevendo as notas, então peço desculpas. o que acharam?

Continue Reading

You'll Also Like

322K 35.2K 117
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ╰ angels like you can't ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤfly down hell with me . . . Phoenix foi amaldiçoada na barriga de sua mãe biológica a viver como um monst...
150K 12.8K 35
LEMBRE| lembre de mim... Sirius Black foi seu desejo inconsolável ela sabia desde o momento em que ele salvou sua vida, aquele homem seria sua dina...
493K 34.1K 79
🏆 #1 em Vampiro - 02/01/2018 🏆 Livro 1 Flávia Jenner se muda para Mystery Spell com a sua melhor amiga Anna Harper, para começar os seus estudos na...
2K 242 3
"Querida Sparks, Se você estiver lendo essa carta, significa que eu consegui reunir toda a coragem que estive juntando, nas últimas semanas, e tomar...