The Rain - Malila

By povcley

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Noiva há 3 anos, Maraísa é pressionada pela família para se casar, porém a mesma começa a se questionar sobre... More

Prólogo.
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By povcley


POV Maraísa

3 dias depois...

Sexta-feira, 3 de julho de 2015.

Havia acordado mais cedo que o habitual na manhã de hoje.

Por se tratar de véspera de feriado as ruas ficavam ainda mais cheias que o normal e o movimento de pessoas parecia triplicar.

Era um inferno.

Porém, mesmo tendo programado meu despertador para uma hora mais cedo, o que significava que eu teria que sair de casa bem antes do horário usual, não consegui me livrar do trânsito nova-iorquino.

O som de buzinas era muito presente na rua onde eu estava parada e o cheiro de fumaça queimada que saía pelo escapamento do carro parado bem na minha frente estava contribuindo para que minha cabeça começasse a doer.

Meu celular, que estava conectado ao painel do carro, começou a tocar e eu levei um susto com o som alto ecoando por dentro do veículo.

O apelido de Maiara estava brilhando no visor.

O que ela queria a essa hora?

— Caiu da cama? — perguntei ao atender a chamada.

— ONDE VOCÊ ESTÁ? — ela gritou do outro lado da linha.

— Presa na porra do trânsito enquanto tento chegar à loja de vestidos. Por que você está gritando?

— VOCÊ VIU O JORNAL? — ela continuou a gritar.

Que jornal, CheeChee? — engatei a marcha para poder andar com o carro.

QUE JORNAL? O TIMES, CARALHO! NOSSAS FOTOS ESTÃO NA PRIMEIRA PÁGINA!

Freei o carro com tudo, o que fez o pneu patinar sobre o asfalto, causando um ruído agudo enquanto meu corpo ia para frente com tudo.

O QUE? — gritei de volta.

Recebi buzinas como resposta à minha ação.

SE ESTÁ COM PRESSA PASSA POR CIMA, FILHO DA PUTA! — coloquei minha cabeça para o lado de fora da janela e gritei. — Maiara, me explica isso.

Manda esse cara ir se foder! — ela deu risada. — Não tem o que explicar, Maraísa! Nós estamos na capa! Na primeira folha! Em tudo!

Minha cabeça parecia que iria explodir a qualquer momento e só um nome ecoava por todos os meus pensamentos.

Marília.

Isso é incrível, CheeChee! Nosso trabalho está na capa do Times! — comecei a rir sem acreditar no que estava acontecendo.

SIM, PORRA! DO TIMES! NÓS SOMOS FODAS!

Eu preciso ver esse jornal! — falei enquanto voltava a andar com o carro.

VEJA! Agora eu preciso ir, Chancho. Louise disse que quer me fazer um convite, torça para que seja para conhecer as Ilhas Maldivas. Eu te amo, se cuide.

Torcendo aqui por você. — dei risada de seu comentário — Também te amo! Beijos.

Fiquei presa por mais alguns minutos no trânsito até que finalmente virei na rua da loja de vestidos.

Mais trânsito.

Decidi estacionar meu carro à duas quadras de distância e ir andando até meu trabalho, afinal, eu ainda estava dentro do horário e além disso havia uma banquinha de jornal a caminho de lá.

Tranquei o veículo e comecei a caminhar, atravessando as ruas e passando por entre os carros.

Minha velocidade estava anos luz maior que a de todos eles.

Comecei a rir sozinha enquanto me aproximava da banquinha de jornal, onde uma senhora de cabelos grisalhos ajeitava algumas revistas.

— Bom dia, senhora! — falei educadamente.

— Oh! Bom dia, senhorita! Como posso ajudá-la? — ela respondeu com um sorriso simpático no rosto.

— Eu gostaria do jornal de hoje, por favor. — pedi.

— Claro! Irei pegar para você!

A senhora se afastou das revistas e foi até uma pilha de jornais do lado oposto ao que ela estava anteriormente.

Segundos depois ela retornou com as folhas acinzentadas em mãos e me entregou.

— Quanto é? — perguntei.

— Um dólar, senhorita. — ela sorriu.

Olhei para a capa do jornal e vi que ali estavam duas fotos ocupando toda a folha.

A da esquerda era uma foto tirada por mim e a da direita era uma foto tirada por Maiara.

Embaixo de cada uma delas havia os créditos com nossos nomes acompanhado do ano e mês do evento.

Henrique, M. (Photographer) June, 2015.

Meus olhos brilharam ao ler as letras miúdas embaixo da minha foto.

Trouxe o jornal para perto do meu peito e o abracei, fechando os olhos e sentindo as folhas amassarem ao entrar em contato com meu corpo.

Assim que soltei o jornal, voltando a segurá-lo como um ser humano normal faz, percebi que a senhora olhava curiosamente para mim.

— Minha foto saiu na capa do jornal. — expliquei.

— Jura, querida?! Que incrível! — ela falou. — Meus parabéns!

— Obrigada!

Peguei minha carteira dentro da bolsa que carregava comigo e tirei uma nota de cinco dólares de lá, estendendo-a para a senhora no instante seguinte.

— Oh! Fique com seu dinheiro, querida. Considere um presente! — ela falou.

— Por favor, eu faço questão! Pode ficar com o troco. — respondi.

A senhora sorriu e pegou a nota da minha mão, seguindo para dentro do caixa da banquinha e retornando segundos depois.

— Eu espero que a senhorita consiga sair na capa do New York Times muitas vezes ainda! — ela desejou.

— Eu também espero. — ri. — Muito obrigada! Tenha um bom dia!

A senhora agradeceu e acenou com a cabeça para mim enquanto eu voltava a caminhar em direção à loja.

Alguns minutos depois a fachada prateada já estava em meu campo de visão.

Subi os degraus que levavam à entrada da loja e assim que entrei fui recebida por Ruth, que caminhou na minha direção com um sorriso de orelha a orelha.

— Meus parabéns, querida! — ela desejou, abrindo os braços e me envolvendo em um abraço. — Eu sabia que você iria conseguir!

Abracei a mulher de volta e depois de alguns segundos nós nos soltamos.

— Muito obrigada, Srta. Dias! — respondi.

— Deixe de formalidades! Já te falei que pode me chamar de Ruth!

— Tudo bem, então. Muito obrigada, Srta. Ruth! — ri, consertando minha fala.

— Bem melhor! — ela riu também.

— Marília já chegou?

— Já sim! Ela está lá em cima no escritório.

— Obrigada! — sorri e me afastei da mulher, seguindo em direção até as escadas.

Minha empolgação era tanta que nem sequer cogitei a ideia de usar o elevador. Subi as escadas correndo e quando percebi já estava no andar onde o escritório de Marília ficava.

Caminhei até a porta branca e bati apressadamente.

— Pode entrar! — a voz rouca soou do outro lado da porta.

Girei a maçaneta da forma mais rápida que consegui e entrei na sala como um furacão, caminhando diretamente até a mesa de Marília, que me olhou assustada devido à minha velocidade.

— O que aconteceu, Carla? — ela perguntou preocupada se levantando e contornando a mesa.

ISSO AQUI ACONTECEU! — gritei enquanto apontava para o jornal.

— Ahhhh, então você já viu... — ela fez um semblante triste. — Eu queria fazer surpresa.

MARÍLIA! — minhas bochechas estavam começando a doer de tanto sorrir.

SURPRESA! — ela gritou também.

Sem pensar duas vezes, coloquei o jornal sobre a mesa de Marília e me virei para ela, envolvendo seu pescoço e impulsionando meu corpo para cima logo em seguida.

Senti suas mãos segurarem minhas coxas com firmeza enquanto eu entrelaçava minhas pernas ao redor de seu corpo.

Olhei para o seu rosto e notei seu sorriso de orelha a orelha. Alguns fios do meu cabelo caíram sobre meu rosto, mas ainda assim eu conseguia vê-la.

Marília girou comigo em seu colo, o que nos fez rir contra a boca uma da outra.

Seu hálito estava refrescante, como se tivesse acabado de escovar os dentes ou mascado um chiclete de menta.

Com cuidado ela caminhou até o sofá que havia em sua sala e se sentou, me deixando sobre seu colo.

Ainda mantendo o contato visual, seus dedos tiraram os fios rebeldes que estavam sobre meu rosto e os levaram até atrás da minha orelha.

Lentamente aproximei meu rosto do seu e a beijei.

O gosto de hortelã presente em sua língua logo invadiu minha boca, o que me fez soltar um suspiro.

Ela começou a acariciar minha cintura e eu repeti o gesto, porém em sua nuca.

Sorri em meio ao beijo, o que a fez sorrir também.

Era inexplicável o quanto eu adorava ter o sorriso dela contra minha boca.

Finalizei o beijo com alguns selinhos e afastei nossos rostos, olhando diretamente para os olhos castanhos, que estavam brilhando.

— Como você fez isso? — perguntei.

— Fiz o quê? — ela respondeu como se não soubesse do que eu estava falando.

— Marília! — bati fraquinho em seu braço. — Você sabe!

— Hmmm... — ela franziu as sobrancelhas, como se pensasse. — Eu sei?

Cruzei os braços embaixo dos meus seios e a olhei com cara de birra.

— Meu Deus, como você fica linda brava! — ela falou e me roubou um selinho. — Tudo bem, eu falo.

— Estou esperando. — cerrei o olhar em sua direção enquanto tentava segurar o riso.

— Ethan é o diretor geral de fotografia, certo?

— Certo...

— Para atingi-lo, eu teria que ir em alguém superior a ele. — ela explicou. — E eu fui. Falei com o diretor geral do The New York Times, o cara que dá o crivo final para todas as matérias e coordena todos os outros departamentos, e ameacei cancelar o contrato milionário que o jornal tem com a empresa do meu pai se não tivesse explicações sobre o cargo de Ethan.

— Você fez o quê? — arregalei os olhos.

Shhhh... — ela levou o indicador até a minha boca. — Espera que a história vai ficar melhor.

Juntei meu indicador com meu dedão e os aproximei da minha boca, fazendo um gesto como se estivesse fechando um zíper.

— Foi conversando com ele que acabei descobrindo que o Ethan esteve sob investigação durante os últimos três meses, já que a diretoria geral do The New York Times começou a notar alguns plágios em matérias criadas por outros jornalistas, além de um desvio enorme de dinheiro do jornal para contas pessoais dele.

MENTIRA! — falei. — Meu Deus, esse cara é um filho da puta!

— Pois é! — ela concordou. — Mas eu ainda não terminei.

— E tem mais?

— Muito mais. — ela olhou para o relógio fixado no alto da sala. — No momento ele provavelmente já deve estar recebendo a notícia de que está sendo desligado permanentemente do jornal e sendo encaminhado para a delegacia, onde vai responder por tudo o que fez. E além disso tudo, a senhorita tem uma entrevista marcada com o diretor geral do Times na segunda-feira. — ela levou as mãos até a gola da minha blusa e me puxou para perto. — Agora eu acabei.

— Você é a mulher mais incrível do mundo. — sussurrei contra seus lábios antes de beijá-la.

As mãos de Marília subiram para minha nuca, onde se encontraram com os fios do meu cabelo enquanto as minhas continuaram em seu pescoço.

Nossas línguas voltaram a deslizar uma sobre a outra e, procurando por mais contato, comecei a rebolar devagar em seu colo.

Ouvimos batidas na porta e logo em seguida o barulho da maçaneta sendo girada.

Rapidamente saí do colo de Marília, me jogando ao lado dela no sofá e quase caindo no chão no meio do processo.

Olhei para cima e vi que a pessoa que havia entrado na sala era Ruth.

Senti meu rosto queimar na hora enquanto meu peito subia e descia, tentando encontrar o ritmo normal da minha respiração de volta.

A mulher parou na entrada do escritório e analisou a cena, intercalando o olhar entre Marília e eu por alguns segundos, fechando os olhos e balançando a cabeça negativamente enquanto sorria.

— Está tudo bem por aqui? — ela perguntou.

— Sim. — Marília respondeu e me olhou.

— Tudo ótimo. — sorri nervosa.

— Que bom, meninas! Marília, está tudo certo para amanhã?

— Já liguei para a vovó e o vovô, eles disseram que vão ligar para o resto do pessoal.

— Seus avós... — Ruth riu. — Eles disseram algo sobre que horas vão chegar?

Mantive meu olhar fixo ao chão enquanto tentava estabilizar meus batimentos cardíacos.

Ruth quase havia pego nós duas se beijando. Eu me sentia como uma adolescente novamente.

— Provavelmente bem de manhãzinha, como em todos os anos. — a voz de Marília soou longe.

E se ela tivesse visto algo? Seria engraçado.

Comecei a rir sozinha com meus pensamentos e só voltei para a realidade quando senti a mão de Marília sobre minha perna.

— Tudo bem aí? — ela perguntou e eu afirmei com a cabeça. — Minha mãe está te chamando há um tempão.

— Perdão, Srta. Ruth! Eu acabei me perdendo em pensamentos. — ri sem graça.

— Está tudo bem, querida. Eu estava te chamando porque queria saber se tem algo planejado para este final de semana.

— Olha, que eu me recorde não tenho nada programado. — respondi enquanto tentava me lembrar de algum possível compromisso.

— O que acha de passar o feriado com a gente? — ela sorriu.

[...]

Casa dos pais da Maraísa, Nova Iorque - 05h00 P.M

Estacionei meu carro em frente a casa dos meus pais e pude notar que algumas luzes estavam acesas.

Ótimo!

Saí do carro e o tranquei, atravessei a rua calma e sem movimento e entrei pelo portão feito de madeira. Segui em direção à porta e toquei a campainha.

Segundos depois meu pai apareceu na porta com um pano de prato sobre o ombro.

Hija?! Que surpresa boa! — ele abriu os braços me chamando para um abraço.

— Pai! Que saudade de você! — falei enquanto o abraçava.

— Venha, vamos entrar! Estou tentando fazer uma surpresa para a sua mãe.

Ele caminhou pelo corredor indo em direção à cozinha enquanto eu fechei a porta e tirei minha jaqueta, deixando-a junto com as outras blusas no suporte atrás da porta.

Ri de sua fala e segui até a cozinha.

— Meu Deus do céu, o que aconteceu aqui? — meu riso aumentou.

A cozinha parecia um cenário de guerra.

Alguns ingredientes estavam abertos sobre o balcão, as portas dos armários e gavetas estavam completamente abertas, algumas frutas estavam cortadas e descascadas e por todo o ambiente havia muita, muita farinha.

— Eu tentei fazer um bolo. Assim, quando ela chegasse em casa e quisesse tomar um café, viria que o acompanhamento seria um bolo quentinho recém tirado do forno. — ele falou e esfregou a testa, sujando-a com farinha.

Comecei a rir.

— Ai, pai! Por que não me ligou? Eu te passava alguma receita ou algo do tipo.

— Você acha que eu não tentei seguir nenhuma receita? — ele perguntou pegando o caderninho de receitas da minha mãe e sacudindo. — Isso aqui está em outra língua!

— Eu não acredito que nem com a receita do lado esse bolo não saiu! — brinquei.

— Carla Maraísa Henrique Pereira, você vai mesmo tirar sarro do seu pai?

— Jamais! Eu vou te ajudar! — falei. — Mas primeiro vamos arrumar essa bagunça aqui.

Fiquei de pé e comecei a fechar alguns ingredientes que tinha certeza que não faziam parte da receita. Meu pai se aproximou e começou a me ajudar.

— Onde está minha mãe? — perguntei.

— Ela ainda está na cafeteria, mas daqui a pouquinho chega aqui.

— E Giulia?

— Estava aqui embaixo até agora de pouco, mas subiu correndo falando que arrumaria uma mala.

— Ah, então ela já está arrumando a mala dela? Que ótimo! Achei que chegaria aqui e teria que dar uma bronca nela. — comecei a guardar os ingredientes a mais dentro do armário.

— Vocês vão viajar juntas?

— Vamos sim. A mãe da Marília me chamou para passar o feriado com eles e como a Alexia e a Giulia não se desgrudam, o convite se estendeu para ela também.

— Sua irmã não tem jeito mesmo. Então quer dizer que esse ano vocês vão deixar sua mãe e seu pai sozinhos nessa casa enorme? — ele fez um semblante triste.

— Sério que vocês vão ficar tristes? — virei-me para ele.

— Claro que não! Já faz muito tempo desde a última vez em que eu e sua mãe tivemos um tempinho a sós...

— Poupe-me dos detalhes, por favor! — comecei a rir. — Aproveitem o final de semana, então!

— Nós vamos! Inclusive, sua mãe e eu estávamos querendo conversar com você sobre uma coisa.

Senti meu coração começar a acelerar.

— Jura? — tentei parecer tranquila. — Sobre o quê?

— Vou adiantar o assunto para não te deixar preocupada. É sobre seu casamento, filha. Está tudo bem com você e o Ulysses?

Suspirei.

— Não, pai. — desviei o olhar.

— Quer conversar sobre isso? — senti seu olhar preocupado me analisando.

— Sinceramente? — olhei-o. — Não agora. Eu estou muito feliz com tudo o que está acontecendo na minha vida, pai. Muito mesmo. Mas em relação a esse assunto, podemos conversar depois que eu voltar de viagem?

Ele soltou os objetos que estava segurando e me puxou para um abraço.

— Claro que podemos, hija. — senti seus braços me apertarem forte. — Você sabe que eu sempre vou te apoiar em todas as suas decisões, não sabe?

— Sei sim. E eu te agradeço muito por isso. — suspirei aliviada em seus braços.

— Eu te amo, filha. — ele deu um beijo na minha testa.

— Eu te amo, pai. — sorri.

[...]

Depois de ajudar meu pai a preparar um rápido, prático e fácil bolo de cenoura, subi até o quarto de Giulia e ajudei-a a levar as malas até o meu carro.

— Você realmente precisa de tudo isso? — perguntei enquanto colocava a última mala da minha irmã ao lado da minha. — É só um final de semana, Giulia.

— Claro que eu preciso. Eu não sei se vai fazer frio ou calor. — ela respondeu.

— Eu também não sei e só estou levando uma mala com ambos os tipos de roupas. — retruquei.

— Não enche, Maraísa.

— Não fala assim com a sua irmã, Giulia. Ela só está sendo legal com você. — meu pai brigou com ela e eu soltei uma gargalhada.

Abracei meu pai e em seguida caminhei até onde minha mãe estava, abraçando-a também.

— Façam uma boa viagem, queridas! — ela desejou, se juntando ao meu pai e abraçando-o pela cintura.

— Pode deixar, mãe! Tenham um bom final de semana por aqui.

Meu pai olhou para ela e balançou as sobrancelhas, o que me fez rir.

— Colocou o cinto? — perguntei para minha irmã, que estava ao meu lado, no banco do passageiro.

— Sim, senhora. — ela respondeu.

— Ótimo.

Saindo da casa dos meus pais, segui em direção até o apartamento de Marília, onde nos encontraríamos com ela e Alexia.

Giulia ficou responsável pela playlist de músicas durante o caminho enquanto conversávamos casualmente sobre os últimos acontecimentos em nossas vidas.

— Então você e Ale se resolveram? — perguntei.

— Mais ou menos. Nós resolvemos deixar as coisas sérias, porém sem anunciar para a nossa família ainda. — ela respondeu.

— Os pais dela já sabem?

— Sim! Os únicos que não sabem ainda são a mamãe e o papai. — ela me olhou. — E você e a Marília, como estão?

— Nós estamos muito bem. — olhei-a. — Deixando acontecer naturalmente, sabe?

— Achei que já estivessem namorando. — ela riu.

— Quase isso. Não sei. Não nos rotulamos ainda. — falei.

— Pois deveriam agilizar isso logo. Vocês são lindas juntas.

Olhei para ela e balancei a cabeça enquanto ria.

[...]

Assim que chegamos em frente ao prédio de Marília, nós seguimos em direção à portaria onde nossa entrada já estava liberada.

Subimos até o último andar e tocamos a campainha ao lado da única porta ali presente.

— Vocês vieram rápido! — Alexia falou ao abrir a porta.

Nos cumprimentamos e logo entramos no enorme apartamento, onde pude ver Marília passando de um lado para o outro com certa pressa.

— Ale, você já pegou tudo? — ela perguntou para a irmã enquanto entrava em seu quarto.

— Já, Marília... — a mais nova respondeu.

Assim que Marília saiu do quarto e entrou no corredor seu olhar cruzou com o meu e o sorriso perfeitamente alinhado tomou conta de seu rosto.

— Carla! — ela se aproximou de mim e selou nossos lábios. — Faz muito tempo que vocês chegaram? Eu não ouvi nada.

— Acabamos de chegar, princesa. — sorri.

Nossas irmãs observavam a cena sem falar nada, apenas com sorriso no rosto.

— Você já começou a levar as coisas para o carro? Se quiser eu posso te ajudar. — sugeri.

— Eu já levei as minhas coisas, faltam as malas da Alexia e as de vocês.

— Como assim as nossas? — perguntei confusa.

— Nós vamos no meu carro. — ela falou como se fosse óbvio. — Ou você realmente achou que iríamos separadas?

— Eu pensei que fôssemos em carros separados. — ri. — Mas a sua ideia parece bem melhor.

[...]

(Inicie: moonlight - dhruv)

Depois de colocar todas as malas no carro de Marília e reclamar com nossas irmãs pelo fato delas carregarem o mundo atrás delas, finalmente pegamos a estrada.

Alexia e Giulia ficaram juntas no banco de trás, enquanto Marília e eu ficamos na parte da frente do carro.

A casa de campo da família Mendonça ficava no interior de Nova Iorque, em uma cidadezinha bem calma, afastada de todo o agito e loucura da cidade que nunca dorme.

Confesso que passar o final de semana ao lado de Marília e toda a sua família seria algo novo pra mim, já que estaria cercada por pessoas que gostavam da minha presença e companhia, coisa que nunca experimentei quando ainda estava com Ulysses.

Mantemos uma conversa divertida com nossas irmãs até metade do trajeto, mas depois disso as duas adormeceram.

Marília e eu, pelo contrário, ficamos acordadas a noite toda. Minha mão permaneceu em sua coxa por todo o trajeto e hora ou outra trocávamos olhares cúmplices, o que nos fazia rir.

Eu era tão feliz quando estava com ela.

Felizmente o trânsito só nos acompanhou na primeira parte do trajeto. Agora, a estrada já estava bem vazia e era iluminada apenas pelos faróis do carro e a luz da lua sobre nós.

Já se aproximava da meia noite e meia quando Marília entrou em uma rua feita completamente por cascalhos e cercada por árvores enormes.

Seguimos por esse caminho até avistarmos uma casa grande e iluminada em meio a todo o verde escuro da vegetação que cercava o lugar.

Assim que Marília estacionou o carro em uma das garagens cobertas próximas à casa, as duas garotas no banco de trás de remexeram, provavelmente se dando conta de que havíamos chegado.

— Bom dia, belas adormecidas. — virei para trás e observei o despertar das duas.

Marília deu risada e saiu do carro, indo até o porta-malas. Repeti seu gesto e a ajudei a tirar as bolsas, colocando-as sobre o chão de pedrinhas.

— Acho que vamos precisar de algumas viagens até esvaziar o carro. — Marília falou ao olhar para a quantidade de malas no chão.

— Não vamos não, amor. — falei. — Giulia, vem aqui!

Giulia apareceu segundos depois com o rosto marcado pelo sono.

— Você quis trazer o mundo atrás de você e agora vai ajudar a carregar. — peguei uma das malas do chão. — Toma aqui.

Minha irmã pegou a mala da minha mão e junto com Alexia juntaram todas suas coisas, começando a caminhar em direção à casa.

— Eu não queria ser sua irmã, não. — Marília falou. — Você é muito brava.

Olhei-a e juntas começamos a rir.

— Ainda bem que você não é. — sorri e pisquei para ela.

Marília se aproximou de mim e me envolveu com seu braço, começando a caminhar ao meu lado enquanto levávamos nossas malas até a casa.

— Meninas! Como foi a viagem? Vocês vieram rápido! — Ruth falou ao perceber nossa presença na varanda.

— Foi bem tranquila, Srta. Ruth! A estrada estava ótima, super vazia! — respondi.

— Maraísa, querida. — a mulher mais velha se aproximou de mim. — Vamos combinar uma coisa?

Engoli em seco.

— Claro! — respondi tentando não demonstrar meu nervosismo.

— Iremos passar o final de semana juntas, certo? — ela perguntou.

— Certo.

— Você é minha convidada, querida. Não precisa me chamar como se estivéssemos trabalhando na loja, ok? — ela riu.

— É o costume. — ri. — Mas tudo bem. Ruth, então.

— Exato! — ela apertou minha bochecha.

— Posso roubar a Maraísa um pouquinho? — Marília se aproximou por trás de mim e envolveu minha cintura com os braços. — Quero mostrar onde vamos dormir.

— Com certeza, filha. Se divirtam. — a mulher mais velha desejou enquanto sorria abertamente.

Marília segurou minha mão e me puxou até uma escada de madeira que levava para o segundo andar da casa.

— Sua mãe sabe sobre nós? — perguntei.

— Se não sabe, desconfia. — ela respondeu. — Mas depois de eu ter te abraçado por trás, com certeza ela sabe.

— Você não existe. — balancei a cabeça.

No andar de cima havia um enorme corredor com várias portas de madeira envernizadas. Viramos para a esquerda e caminhamos até uma das primeiras portas, onde havia uma placa colada.

Entrada Proibida. — li.

— A Marília adolescente teve sua fase rebelde. — ela respondeu enquanto girava a maçaneta e abria a porta. — Seja bem-vinda ao meu quarto!

Foi impossível não ficar impressionada com o que vi ao entrar naquele espaço.

As paredes do quarto de Marília eram brancas e em sua maioria continham alguns pôsteres de banda de rock, porém, a parede que ficava de frente para a cama de casal era completamente preta e além de ser inteiramente desenhada com algo que supus ser giz, abrigava em seu centro um mapa mundi que parecia ter sido desenhado à mão.

Me aproximei da parede escura e olhei para o mapa, onde pude observar algumas tachinhas coloridas presas em pontos específicos.

— Seu quarto é incrível! — falei impressionada.

— Até que eu tinha bom gosto quando era mais nova. — ela riu.

— O que é isso? — perguntei apontando para o mapa.

— São lugares que eu quero conhecer. — ela respondeu.

— E você já foi a algum deles?

— Ainda não. Já saí de Nova Iorque, mas infelizmente meu destino não foi para nenhum dos lugares que estão marcados ali. Eu fiz isso quando tinha uns quinze anos.

— Eu também fiz um desse, só que o meu mapa não ficou tão bonito quanto o seu. — ri.

— Jura?! E por que você nunca me contou?

— Porque eu não sabia que você também tinha o desejo de conhecer o mundo. — empurrei-a com o braço.

— Justo. — ela sorriu. — Quando voltarmos vou querer conhecer o seu mapa.

— Você vai. — pisquei.

— Agora o que você acha de pegarmos aquelas malas lá embaixo, tomar um banho quente e irmos dormir?

[...]

Depois de termos carregado as malas para o quarto de Marília e tomar um banho, deitei-me na cama de casal que já estava devidamente forrada com o lençol branco.

Chequei minhas mensagens e vi que duas eram da minha mãe desejando um excelente final de semana para mim e para Giulia e outras milhões de Maiara.

Lembra que eu te contei que a Louise ia me convidar para alguma coisa? — Cheechee, 23:10.

Pois é, ela me convidou. — Cheechee, 23:10.

Infelizmente não para as Ilhas Maldivas, mas sim para passar o feriado com a família da Marília, o que é quase a mesma coisa, já que sua namorada é rica. — Cheechee, 23:11.

E eu sei que a senhorita já está aí, não adianta fugir ou pedir para ir embora. Você vai ter que me aturar o final de semana inteiro. — Cheechee, 23:12.

Nos vemos amanhã de manhã, bunduda. — CheeChee, 23:12.

Boa noite de sexo! — Cheechee, 23:13.

Ops, sono* — Cheechee, 23:13.

Esse meu corretor... — Cheechee, 23:13.

Observei Marília sair do banheiro e caminhar até a cama, deitando-se ao meu lado.

Bloqueei meu celular e virei-me para ela, observando seu rosto e levando meus dedos até as pontas molhadas de seu cabelo.

— Acabei de ler trocentas mensagens que Maiara mandou falando que vai passar o feriado com a gente também. — falei.

— Eu falei pra Louise convidar ela. As outras meninas também vão vir. — ela sorriu. — Temos o costume de passar o feriado juntas todos os anos.

— Deve ser incrível!

— E é! — ela sorriu. — Espero que você goste.

— Já estou gostando!

Aproximei meus lábios dos seus e os selei calmamente.

— Sua família também vai vir, não vai? — perguntei.

— Sim! Meus avós, tios e alguns primos.

Arregalei os olhos.

— Não se preocupe. Todos eles vão amar você, eu te garanto. — ela deu risada.

Balancei a cabeça negativamente enquanto olhava em seus olhos.

— Vamos dormir, vai! Eu preciso me preparar psicologicamente para esse encontro. — brinquei.

— Tudo bem, gatinha. Vamos dormir. — ela respondeu.

Virei-me de costas para ela e não demorou muito para sentir seu rosto encontrando com meu pescoço e seus braços envolvendo minha cintura.

— Boa noite, Marília. — sussurrei.

Senti sua perna se apoiar em cima das minhas e sua mão me puxar ainda mais para perto, colando totalmente nossos corpos.

— Agora sim. — ela beijou meu pescoço. — Boa noite, Carla!

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