Eroda - Como Se Fosse A Últim...

By batmanlouco

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Eroda, a cidade das tempestades. Nessa cidade onde o sol mal aparece, e as nuvens carregadas tomam conta de... More

Importante!
Prólogo
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epílogo

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By batmanlouco

Episódio:Amor e Poe.

O ensino médio é um grande circo.

No palco, toda semana alguém novo estará sob a mira das luzes, com um brilhante nariz vermelho e maquiagem branca escondendo a vergonha ou a solidão estampadad como um hematoma em seus rostos. Atrás dos panos, uma história velha sempre irá resurgir e borbulhar como uma grande quantidade de pipocas quentinhas estourando em manteiga e caramelo, com sua aparência convidativa a novos consumidores famintos.

Mas os espectadores, sedentos por um espetáculo, ainda era o pior daquela grande armação.

Naquele dia, Louis com certeza vestia uma grande nariz vermelho.

Cada passo dentro daquele ambiente escolar( ou humorístico) era como atrair cada vez mais espectadores para seu show.

Louis apertava seu livro preto e velho, se desculpando mentalmente com o falecido Allan Poe por tamanha agressividade logo de manhã.

Aquela era a primeira vez que Louis aparecia na escola após um longo período de tempo.

Especulações corriam soltas. Cochichos e sussurros discretos preenchiam os corredores. Comentários não tão discretos rodeavam os ouvidos de Louis como um felino faminto prestes a atacar.

Com a intenção de se proteger de um ataque em conjunto, Louis prendeu rapidamente com as mãos geladas e pálidas fones em seus ouvidos.

Em um segundo, o barulho foi abafado pelas notas suaves dos primeiros momentos de Poison de Alice Cooper.

Louis ainda via e sentia os olhares direcionados a si, mas o barulho sufocante das pessoas foram sufocados pela voz melódica de Vince Furnier.

Ali ele pode respirar.

Levou o velho livro de contos ao peito, e seguiu seu caminho até a sala de literatura.

Como previsto, os espectadores daquele grande circo de horrores prenderam os olhares em seu andar.

Ou no grande nariz escarlate em seu rosto.

Louis se sentou no lugar habitual, ainda com os fones no ouvido.

Observou por alguns minutos a janela, com a esperança de proteger seus olhos daquela caça às bruxas. O céu cinza costumeiro não o confortou naquele dia.

De repente, o céu cinza apático se transformou numa grande floresta iluminada pelos primeiros indícios de luz em um dia quente.

Harry sorriu sem dentes, com os olhos verde floresta brilhando.

_ Bom dia, Capitão.

Louis supôs que foi isso que ele disse, baseado na leitura labial que ele fez da boca macia do cacheado.

Algo estava diferente nele. Algo que Louis não sabia dizer o que era.

As covinhas habituais continuavam as mesmas e adoráveis em sua bochecha. A pele branca e leitosa ainda parecia macia e quente. O pequeno pingente de cruz pendia de seu pescoço com a mesma delicadeza de sempre. Assim como os pequenos anéis adornavam seus dedos grandes.

Talvez fossem as roupas, algo que Louis não estava acostumado a ver em seu Harry. A jaqueta de couro preta lhe caia bem, uma grande estrela do rock provavelmente aprovaria o visual do mais novo.

Mas Louis ainda não tinha certeza se era aquela a pequena diferença.

Talvez fossem seus cachos cor de chocolate que estavam bem moldados e caiam suave em seu rosto, tão grande que quase encostavam no ombro de Harry. Ele não se lembrava de ver o cabelo do mais novo tão grande. Nem faziam muitos dias desde que eles se viram pela última vez.

É.

Talvez fossem os cachos.

_ Bom dia, Anjo. Mas acho que "capitão" já não é tão apropriado. - respondeu finalmente, com a voz rouca pelo pouco uso, tirando os fones.

Atrás de Harry, surgiram Niall, Liam, Zayn e Eleanor.

O que foi uma surpresa, mas ele não iria comentar.

_ O título não vai ficar tão longe de você, Louis. - Niall disse se acomodando em seu lugar.

_ Ele tem razão. - Eleanor proferiu. Seu rosto bem cuidado e gentil de sempre deu a Louis alguma sensação de conforto. Mesmo que não admitisse, sentiu falta de ter a amizade de Calder. - Ouvi pelas meninas que ninguém está suportando Clifford como capitão.

Louis responderia que sequer tinha condições de voltar a jogar, muito menos de comandar um time inteiro. Mas a voz irritantemente fina daquela alma velha que habitava o corpo de uma professora estremeceu até as células do garoto.

Sentia vontade de colocar seus fones novamente.

Alguns minutos mais tarde, se esforçando para não dormir sobre o livro de literatura, um Harry cuidadoso cutucou seu ombro.

_ Eu acho que você devia tentar voltar para o time. - comentou quase inaudível. - Capitão combina com você.

Louis sentiu suas batidas se acelerando e o rubor em suas bochechas se agravando como um pequeno farol.

Poderia desmaiar ali mesmo.

-∆-

"Eu, vivendo dentro do meu próprio coração, e viciado, de corpo e alma, nas mais intensas e dolorosas reflexões; ela, vagando despreocupadamente pela vida, sem pensar sobre as sombras em seu caminho ou no voo silencioso das horas negras. Berenice! Chamo seu nome. Berenice!..."

Louis lia Berenice, com o mesmo fascínio de quando lera pela primeira vez. Aquela poderia ser a centésima vez que ele mergulhava naquelas palavras, naquela angústia.

Fazia frio.

Eroda parecia ter um alvo sobre si onde as nuvens mais pesadas derramavam seus pesares.

Os olhos azuis de Louis ora percorria as páginas velhas e já rabiscadas de seu livro, ora admirava a chuva que batia forte contra a janela de seu quarto.

"E, das ruínas cinzentas da memória, mil lembranças tumultuosas assustam-se com o som! Ah, sua imagem está vividamente à minha frente,neste momento, como na época em que era tranquila e alegre!" 

Um pequeno flash de luz iluminou por completo o quarto cinza, sendo seguido por um pequeno estrondo do trovão.

Algo dentro de Louis se mexia inquieto. Não sabia se era fome ou o incomodo que a pequena solidão lhe causava. Poderia muito bem ser os dois.

Talvez fosse.

A chuva despencava lá fora, mas não impediu que Louis sem nem pensar se levantasse e calçasse seu all star esfarrapado, dirigindo-se até sua BMW com o livro de contos aberto em Berenice.

Não se importava se o cabelo não estava penteado perfeitamente. Estava limpo. Pelo menos.

E tinha certeza que Harry não se importaria.

Pensar no garoto de cachos sempre o arrancaria um sorriso triste.

Não sabia exatamente o que faria assim que chegasse no Café Alaska, mas esperava que seus instintos o guiassem. E não o fizesse parecer um idiota apaixonado.

Mesmo que ele fosse com completo idiota apaixonado.

Pensava sobre Berenice. Como se conhecesse cada palavra, como se ele mesmo tivesse escrito aquilo. Suas frases favoritas riscadas e desenhadas por todo o livro.

Egeu, o personagem narrador, não mostrava amor em si, à Berenice. No mínimo alguma paixão platônica por sua pessoa.

"Na estranha anomalia de minha existência, meus sentimentos jamais foram do coração, e minhas paixões sempre foram da mente"

Como ele mesmo contara.

Apesar de toda a temática sombria da obra, Louis ainda assim, amava tudo aquilo. Amava como Poe contava toda uma tragédia, como falava de amor e como ele sempre resultaria em horror.

Talvez se apegou tanto ao amor trágico de Poe que o aplicara em sua própria vida.

A fachada do Alaska encheu seus olhos, fazendo-o perceber que não percebeu nada no caminho. Preso demais em amor e Poe.

Desceu do carro, protegendo o livro com seu próprio corpo dos pingos violentos de chuva que, agora, caiam mais ainda.

Abriu a porta com o rosto baixo, assim que o pequeno sino soou e ele fechou a porta sobre si, levantou o rosto.

E como se tudo ficasse em silêncio.

A chuva não existia mais. Nem a tempestade de vento, nem o trânsito ou os passos apressados de pessoas em seus guarda chuvas.

O frio não cortava sua pele. Pelo contrário, estava quente ali.

O cheiro de terra molhada substituída pelo cheiro forte e quente do café preencheu Louis rapidamente.

E Harry. Ali.

Vestia um suéter bege, por cima, um avental branco manchado de vermelho.  Seus olhos verde vidrados, apertadinhos pelo pequeno sorriso tímido de seus lábios. E uma touca de lá escura escondendo seus cachos. Ou quase todos, visto que alguns teimosos pulavam pra fora do lugar.

Lindo pra caralho.

Com passos vacilantes, Louis caminhou até o balcão, apoiando as mãos sobre o livro no vidro.

Sentia que seu coração podia delatar seu nervosismo e ansiedade ao garoto a sua frente.

_ Oi, Anjo. - disse com a voz quase sussurrada.

_ Oi, Tomlinson. - Harry respondeu no mesmo tom. - O que veio fazer aqui? 

Sorriu.

Louis sorriu também. Era inevitável. Como Thanos.

_ Eu vim comprar um café. - Respondeu mais alto.

As bochechas de Harry atingiram um vermelho adorável. Ele coçou o nariz e olhou pra baixo rapidamente.

_ Saiu de sua casa no meio de uma tempestade pra vir comprar café?

E como Thanos, Louis desejava sumir com um estalo, naquele instante.

Riu sem graça, sentindo-se quente.

_ Me pegou, Anjo. Mas eu quero mesmo um café. Grande, por favor.

Harry concordou levemente com a cabeça, e se virou a procura de um dos copos de isopor.

Louis se sentia um completo idiota.

Pareciam que eles eram dois desconhecidos naquele momento. E talvez fossem.

Desconhecidos apaixonados, mas ainda desconhecidos.

Louis observou Harry voltar como um gatinho tímido, se contendo para não andar apressado demais e derrubar todo o café. O colocou em frente Louis, e guardou o dinheiro que o outro o entregou.

_ O que temos aqui hoje? - Perguntou com aqueles olhos verdes curiosos percorrendo a capa gasta do livro de Louis.

_ Poe. O de sempre.  - Louis respondeu, dando um pequeno gole na bebida quente.

Harry observou em volta.

A chuva caia agressivamente lá fora, e não havia ninguém ali dentro além dos dois garotos.

Piscou lento ao voltar sua atenção à Louis.

_ Não acho que muitas pessoas virão aqui nessa chuva em busca de café. - Disse com o sorriso se alargando. - O que acha de me contar algo?

Louis concordou de imediato.

Se sentaram na mesa de sempre. Nas posições de sempre. Com a animação de sempre. E a timidez nova.

Como se a fita tivesse sido rebobinada.

Como se fosse a última vez.

Louis tomou fôlego, e iria tomar mais um gole de seu café mas Harry foi mais rápido. Sorrindo após tomar um pouco da bebida.

Louis nada disse, apenas começou...

" A infelicidade assume vários aspectos. A desgraça terrena vem em diversas formas. Estendendo-se por todo o amplo horizonte, como um arco-íris, seus tons tão variados como os do arco - e também tão distintos, e tão intimamente misturados. ..."

Mesmo que por poucos minutos, tudo parecia igual. Os dois estavam envoltos na leitura de outro clássico do horror. Tão imersos que nada era diferente ou doloroso. Eram apenas Harry e Louis, os amigos apaixonados. Eram apenas eles, e nada mais.

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