E aqui estou em uma social aleatória na casa da Ingrid com os amigos dela gritando alto derrubando bebida no chão, isso aqui tem destruído meus poucos neurônios que ainda sobraram depois de tanto tempo andando com os amigos da Olivia.
Eu não queria estar aqui, mas novamente estou pra agradar a Olivia e também estou tentando ficar o máximo que posso perto dela ainda mais depois de tudo que aconteceu esses dias.
Fico no canto apenas olhando Olivia rindo junto deles até que todos tem a atenção tomada pela campainha tocando, Ingrid sai saltitante pra atender a porta e eu viro as costas andando pra longe sem querer saber quem é até que ouço uma voz simpática e com um timbre que eu conheço muito bem...
Sadie.
Olho pra trás e lá está ela entrando pela porta cumprimentando Ingrid sorridente, meu queixo cai e fico com o pescoço virado olhando pra ela ali entrando na casa vestindo uma camiseta preta do Nirvana que está por dentro de uma calça jeans um pouco larga de cintura alta, um colar dourado com uma bolinha redonda na ponta e claro o clássico all-star branco surrado, o cabelo dela está lindo, nunca o vi tão natural assim, tão ondulado.
— Y/n? — Olivia me chama e viro pra ela.
— Olivia, o que a Sadie tá fazendo aqui? — Gesticulo rápido.
— Não sei — Ela dá de ombros — Ela é amiga da Ingrid também, por que a preocupação?
— Mas eu não sou mais amiga dela! — Digo e olho rapidamente pra trás vendo os olhos de Sadie bem em mim, volto o olhar pra Olivia rapidamente.
— Mas a Ingrid é — Ela levanta as mãos sem entender — Amor, vocês brigaram feio quando você conversou com ela?
— Uh, meio que sim, não queria ver ela — Aperto os lábios e desvio o olhar.
— É só não conversar com ela — Olivia passa mão no meu braço e eu pego a mão dela deixando um beijo no topo.
Olho pra trás e vejo Sadie de costas conversando com a Ingrid e mais dois meninos, balanço a cabeça tentando afastar os pensamentos.
Espero que eu aprenda de vez a respeitar minhas próprias decisões.
Fico distante o tempo todo de Sadie, parece até que ela tem alguma doença e que eu estou fugindo dela porque toda vez que ela andava na casa e chegava se quer um pouco perto de mim eu saia rápido pra outro lugar, ela me olhava de relance e eu sempre desviando o olhar pra qualquer outra coisa que não fosse esses olhos malditos que com certeza me fariam se arrepender de me afastar dela.
Comecei a beber pra ver se essa tortura passasse mais rápido, agora estou encostada na parede bebendo já não sei qual número de cerveja e olhando Sadie rindo e conversando com o Mike e Ingrid. Olivia saiu para buscar lanches com a Hannah e com outro garoto que eu acho que nome dele é Evan, eu quase implorei pra ir com eles, mas não me deixaram ir porque disseram que eu estava "muito bêbada". O que é uma grande mentira.
Respiro fundo cansada olhando pra Sadie, cada passo dela, cada sorriso aberto, o jeito que ela balança a cabeça ouvindo as pessoas falando, como ela conversa mexendo sempre as mãos. Eu decorei tantas coisas dela em tão pouco tempo.
Isso me incomoda ao mesmo tempo que me faz soltar um sorriso pequeno contido.
Desço meu olhar pelo seu braço devagar olhando sua mão com as veias levemente saltadas e os ossos da mão visíveis na pele, aperto meu maxilar com força olhando fixamente.
É proibido meus mais internos pensamentos que passam pela minha mente agora.
Meu deus, estou de verdade secando a mão da Sadie? Acho que eu estou enlouquecendo de algum modo ou de outro.
Volto meu olhar pra cima e encontro Sadie me encarando, meu coração acelera rápido que sinto como um ataque fulminante, ela continua me encarando parada dessa forma que eu não consigo desconectar meus olhos do dela.
Até que sou empurrada por Mike que começa a falar tão alto no meu ouvido que não entendo uma palavra.
Ouço um início de música que conheço muito bem invadir toda a festa com o grave da batida, Blinding lights do The Weeknd.
Mike me empurra pra onde está Sadie e paro na frente dela olhando pra ela com os olhos meio arregalados assustada pela proximidade, eu fugi dela a noite toda pra que isso não acontecesse.
— I'm going through withdrawals you don't even be a to do too much — Mike canta alto perto de mim me puxando pela mão dançando comigo.
Se eu estou bêbada, o Mike então está em outro planeta já.
Sou puxada pra frente e pra trás por ele e coloco minha cerveja em cima da mesa de centro da sala meio balançando derrubando um pouco no chão.
— Dança Y/n — Ele balança meus braços segurando minhas mãos e eu começo a rir.
Giro ele e ele faz o mesmo comigo, a música termina e seguro ele pelos ombros porque ele ameaçou de cair depois de tanto girar, coloco ele no lugar e afasto rindo. On my own do Darci começa a tocar muito alto e o grave mexe com as janelas da casa.
Sinto uma mão pegando meu braço gentilmente e vejo Sadie.
— Sadie — Digo o mais alto pra ser ouvida.
Vejo sua boca mexer, mas não ouço nada além de ruidos da sua voz, não entendo nada a música está muito alta.
Faço um gesto com o dedo indicador levantando apontando pro meu ouvido e depois balançando o dedo em negação.
Ela balança a cabeça em negação e levanta as mãos colocando elas nas minha nuca, me afasto um pouco assustada pelo toque, mas ela me puxa com força pra frente de volta e coloca sua boca perto do meu ouvido.
— Eu tô falando se tá tudo bem com você — Ouço sua voz alta no meu ouvido e sua respiração batendo no meu pescoço enquanto ela fala.
Engulo em seco e aperto os lábios, empurro ela de leve pelos ombros, mas ela não tira as mãos da minha nuca, agora nossos corpos estão perigosamente perto. Tiro minhas mãos dos ombros dela abaixando meus braços passando por dentro dos dela, fico numa situação um pouco desconfortável com ela me segurando dessa forma tão perto de mim quase encostando seu corpo no meu e eu aqui com os braços retos ao lado do corpo paralisada.
— Eu tô bem — Me aproximo pouco e grito torcendo pra que ela tenha ouvido.
— Tem certeza? — Ela fala de onde está e que bom que eu entendo.
Balanço a cabeça concordando e sinto os dedos de Sadie mexendo na minha nuca e levemente puxando meu cabelo. Paro de respirar por uns segundos e quase engasgo comigo mesma, meu coração já bate tão forte que eu sinto mais ele do que as batidas fortes da música.
— Sadie por favor para de mexer na minha nuca — Me aproximo um pouco falando perto dela — E me solta.
Peço, mas não movo um músculo pra sair dali.
— Por quê? Você está tão bêbada que nem vai se lembrar disso — Ela sorri levemente fechado e eu levanto as sobrancelhas surpresa por ela ter falado isso.
Talvez ela esteja bêbada também.
— Só para por favor — Falo mais pra mim do que pra ela e aperto meu maxilar com força desviando o olhar.
Eu queria ter forças pra sair daqui, eu queria, mas não consigo. As luzes se apagam e só ouço a música alta e os gritos histéricos de Ingrid e o Mike dançando.
Sinto o quadril de Sadie se mexer roçando em mim se ajeitando e fecho os olhos tentando me controlar, parece que a cada segundo ela está mais colada em mim. Preciso sair daqui, dou cinco segundos de sanidade e puxo meu corpo pra trás saindo dos braços dela, olho pra ela com as sobrancelhas franzidas em uma expressão irritada e balanço a cabeça em negação a repreendendo com o olhar.
Passo por ela subindo as escadas da casa rápido e entro no quarto de Ingrid indo em direção a janela e abrindo, saio e fico sentada no telhado observando a rua vazia.
Passo as mãos no cabelo respirando pesadamente. Fecho os olhos e coloco as palmas da mão nos olhos.
Meu deus, eu vou enlouquecer se já não estou.
Ouço passos atrás de mim e olho rápido assustada vendo Ingrid, ela sorri tímida e passa pela janela sentando do meu lado no telhado.
— Oi Y/n, tá tudo bem? — Ela pergunta olhando pra frente.
— Eu acho que sim — Apoio a mão na cabeça abaixando.
Ficamos em silêncio e ouço Ingrid pegar algo e depois ouço barulhos de um isqueiro, levanto o olhar observando ela acender um baseado de maconha.
— Quer? — Ela me oferece com o baseado entre os dedos.
Balanço a cabeça aceitando e pego tragando, solto a fumaça junto de uma longa respiração exausta. Talvez seja a última coisa que possa me ajudar agora é fumar, mas talvez seja a única coisa que eu tenha pra me ajudar agora.
— O que aconteceu lá embaixo? — Ingrid pergunta me olhando
— Do que você diz exatamente? — Olho pra ela e devolvo o baseado.
— Você e Sadie.
Ouço quieta e olho pra Ingrid que me encara atenta esperando uma resposta, levanto a mão pedindo o baseado de volta e trago soltando a fumaça pro alto.
Não sei se posso confiar nela, mas se eu não confiar em alguém em quem eu vou?
Nessa altura eu não confio nem mais em mim.