Agora foram quatro

By koralreis

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Quando Nina volta para sua cidade natal ela sabe que está indo de encontro a antigos demônios, o que ela não... More

Notas da autora
A quarta vez - Capítulo um
Capítulo dois
Capítulo três
Capítulo quatro
Capítulo cinco
Capítulo seis
Capítulo sete
Capítulo oito
Capítulo nove
Capítulo dez
Capítulo onze

Capítulo doze

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By koralreis

Quando acordo e não a encontro na cama me convenço de que foi um sonho. Muito bom e muito realista. Mas um sonho.

Sento, me tornando ciente de minha nudez. O gosto de Nina ainda está em minha boca, seus fluidos ainda estão no meu corpo. As embalagens de camisinha ainda estão na mesa de cabeceira.

Vazias.

Respiro fundo. Perfume e sexo.

Sorrio feito um idiota e jogo as costas contra o colchão.

Levou só duas décadas, mas finalmente aconteceu. Pude provar Nina, seus beijos, seu corpo, seu sexo. Que mulher deliciosa.

Meu pau reage com a já familiar ereção matinal, mas encaro o teto sentindo um frio no estômago e o coração acelerado, velhas sensações que há muito tempo não davam as caras por aqui.

Levanto determinado a viver o dia como se eu não tivesse experimentado a experiência mais avassaladora da minha vida na noite passada. E quando estou escovando meus dentes a porta do banheiro se abre, me assustando.

Nina se escora no batente da porta e me oferece um sorriso gentil enquanto me analisa de cima a baixo. Retribuo o olhar, notando que ela está com outra roupa.

O bom dia que murmura é me olhando nos olhos e de repente todo o oxigênio do mundo parece pouco.

— Vem comer — ela diz, girando nos calcanhares e saindo por onde veio, deixando a porta aberta.

Largo a escova na pia e lavo a boca com pressa, me secando na barra da camiseta.

Nina está em minha cozinha, investigando armários em busca de xícaras e pratos. A mesa está cheia de sacos da padaria e o cheiro de pão fresco faz meu estômago roncar.

— Foi até tua mãe? — pergunto com a garganta arranhando. Tentando soar casual.

— Eu tentei te acordar, mas esqueci como teu sono era pesado. — Nina vem até a mesa distribuindo louças lado a lado. — E eu precisava muito tomar um banho.

Seus dedos se embrenham pelo meu cabelo molhado que ainda pinga gelado por minhas costas e rosto.

Pela primeira vez sinto medo.

De não saber o que fazer, de fazer a coisa errada, de me precipitar e perder Nina outra vez.

Fecho os olhos para seu carinho e apoio delicadamente os dedos em sua cintura. Testando o quanto de ontem ainda nos resta hoje.

Nina dá um passo a frente, encurtando a distância entre nós e antes que eu possa abrir meus olhos para saber o que ela vai fazer a seguir, seus lábios estão nos meus.

Inspiro fundo envolvendo seu corpo em meus braços e prendendo-a em um abraço necessitado, aprofundando o beijo.

Não sei quanto tempo ficamos ali, mas Nina geme e meu pau desperta. Ela ri contra minha boca e beijo seus dentes expostos esfregando minha ereção nela.

— Preciso comer.

— Eu também... — digo sugestivamente, mordendo seu lábio inferior.

— Eu trouxe sonho de doce-de-leite pra ti. — Ela tenta me distrair. Mas nada me distrai de seu carinho lento em minha nuca.

— Vai ser difícil te deixar ir — digo beijando seu pescoço antes de me afastar, ajustando o volume dentro da cueca.

Nina ri, parece menos preocupada do que eu, o que me sugere que talvez ela não esteja envolvida emocionalmente no mesmo nível que eu, e isso claramente vai me machucar.

— A gente ainda tem quase doze horas pra aproveitar, tu vai é cansar.

— Impossível me cansar de ti — respondo, me sentando ao seu lado.

Tento ignorar o amargor de pensar que mais tarde irei me despedir de Nina outra vez. Na mesma rodoviária, com o mesmo sentimento sufocante de que dali um tempo perderemos contato e que agora será mil vezes mais difícil apagar as lembranças dela. Nina marcou minha mente, minha casa, meu corpo.

Mas me recuso a destruir as poucas horas que tenho com ela me lamentando. Já que estou no inferno, vou sentar logo no colo do capeta.

— O que tu quer fazer hoje? — pergunto.

— É um domingo em São Chico, tem alguma coisa pra fazer?

— Além de deitar ali no sofá, assistir um filme e foder a tarde inteira? — pergunto, malicioso. Na verdade, deliciado com o rubor nas bochechas de Nina.

— Melhor colocar meu celular pra despertar, não posso perder o horário do ônibus.

Nina não está brincando, ela realmente pega o celular, desbloqueia a tela e adiciona um alarme novo.

— Quer saber, a gente pode ir lá pegar tua mala na tua mãe e deixar aqui, isso nos dá uns vinte minutos a mais — sugiro.

— Vinte minutos e uma rapidinha no banho — ela concorda alterando o despertador.

— Rapidinha? — me ofendo.

Nina me olha com a respiração vacilante. Seus olhos alternam dos meus olhos para meus lábios e me inclino para beijar sua boca.

Eu tô fodido pra caralho.

Nina encara os próprios pés e se parece muito com a jovem de 18 anos de quem me despedi uma vez. O que me faz pensar que apesar do tempo e da experiência que adquirimos, ainda somos frágeis por dentro. Como se existisse esse espaço interno que o tempo não toca.

Eu não deveria estar surpreso com isso, visto que o tempo não conseguiu apagar Nina para mim. Mas me surpreendo que, talvez, Nina esteja me colocando dentro desse mesmo espaço agora, o que me enche de expectativas.

— Quanto tempo até me esquecer de novo? — pergunto mais para sondar a situação.

Ela faz uma careta e chuta meu pé, se aproximando, me dando a oportunidade de envolver sua cintura e apertá-la com o rosto enfiado em seu pescoço.

Ela olha ao redor, como se estivesse preocupada com quem nos vê e tenho certeza que ela se esqueceu que já temos 33 anos e não devemos satisfação a ninguém. No entanto, me divirto a provocando, a beijo com um tesão desvairado. Não é como se não tivéssemos aproveitando bem o pouco tempo junto, mas sinto que estou antecipando todo o tempo restante que teremos separados.

— Posso voltar no final de semana que vem — ela diz baixinho, com as duas mãos enfiadas no meu cabelo.

— Quer fazer isso? — pergunto com a voz trêmula de nervoso.

— Confesso que não tava planejando voltar tão cedo, mas...

— Não — interrompo com um sorriso idiota no rosto. — Quer mesmo fazer isso... — aperto-a firme contra mim. Minhas mãos suam e a voz ameaça falhar, mas me esforço para dizer as palavras seguintes. — Quer um relacionamento?

A expressão de Nina suaviza, acho que ela percebe que estou mil vezes mais nervoso que ela e proporcionalmente disposto a topar essa ideia de jerico.

— Nunca pensei em ter um relacionamento a distância, isso me soa tão cansativo e inútil. — Suas palavras afundam em meu peito, tornando a saliva grossa e ácida ao engolir.

Perco o ar dos pulmões e minhas narinas ardem.

Mas seus atos seguintes não condizem com suas palavras, porque logo sua língua invade minha boca, quente e carinhosa, como se não houvesse lugar mais óbvio para ela estar.

— Mas as coisas sempre soaram mais divertidas e possíveis quando eram contigo...

— Nina, Nina... Isso é um sim?

— Isso é um sim. Nós vamos tentar fazer isso. — Ela se estica nas pontas dos pés, tocando seu nariz no meu.

— Das duas uma ou tu vai se arrepender muito dessa decisão quando perceber que vai ser um saco sobreviver à distância. Ou vai ser a melhor coisa que já te aconteceu porque toda vez que a gente se encontrar... — Aperto seu corpo contra o meu, nossos olhos fixos um no outro, presos em uma promessa inaudível, que atravessa do meu peito para o dela, conectados pelo bater de nossos corações.

— Não faça eu me arrepender, Benhur — ela me interrompe. Selando nosso destino.

Pela segunda vez me despeço de Nina sentindo que ela está levando um pedaço de mim junto. Mas dessa vez, ao invés de sentir um buraco no peito, um vazio torturante, sinto que ela também está deixando uma parte dela comigo.

Vou cuidar bem de Nina. Me apaixonei tantas vezes por ela, só quero que ela se apaixone por mim uma única vez e, com sorte, não precisaremos nos apaixonar por mais ninguém.

E agora foram quatro vezes que Benhur se apaixonou por Nina <3

Eu sei que esse conto foi um pouco diferente dos outros que já postei aqui, mas foi um conto que eu queria muito que vocês conhecessem. Espero que vocês tenham gostado.

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