Misty (Girl's Love)

By LidFlower

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(Obra Em Andamento) Títulos da obra: Misty; Nebuloso. Autora: LidFlower. Gêneros: Drama, fantasia, romance, a... More

Aviso
1 - O azul dos olhos medonhos
2 - A maciez daqueles belos lábios
3 - Vermelho como o vinho
4 - Os padrões espiralados
5 - As criaturas da montanha
5.1 - Extra: As íris azuis na pele alva
6 - Bondade justificada
7 - A pele morena refletida sob a luz
8 - O brilho cintilante das estrelas
8.1 - Extra: Os traços negros como azeviche
9 - O sorriso da beleza
10 - O homem espalhafatoso
12 - Lembranças
12.1 - Extra: Sacrifício
13 - Artefato
14 - Os brincos perolados
14.1 - Extra 4: Treinamento
15 - Luz e água
16 - A beleza da natureza

11 - Desenterrando memórias

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By LidFlower

Caminhamos apressadamente em direção à saída do bordel, as marcas em meus braços começaram a queimar. Mordi o lábio com força, suportando a dor enquanto seguia Meish.

Finalmente, fomos saudadas pelas ruas já pouco movimentadas da cidade, o vento frio ainda soprando de vez em quando em meu rosto, contrastando fortemente com a dor ardente que me atormentava. Comecei a suar frio e não consegui evitar fazer uma careta de dor, Meish percebeu o meu estado e parou de caminhar.

"As dores voltaram?" Ela se virou de frente para mim.

"Sim." Espremi a palavra por entre os dentes cerrados, fazia um tempo que as marcas não estavam mais ardendo, mas hoje o pesadelo havia voltado.

Meish refletiu por alguns segundos que para mim pareceram horas, cada instante de dor era como uma faca abrasante tocando a minha pele violentamente, queimando cada centímetro do meu corpo e quase arrancando-me gemidos de dor. Cerrei os punhos e apertei os olhos com força, minhas pernas começaram a vacilar, o tremor tomando conta do meu corpo, e eu me senti lentamente perdendo as forças.

As lembranças de tormenta vieram à tona em minha mente de súbito, eu sabia que não podia escapar daquilo, os poucos dias de paz que tive haviam se esvaído. Logo, eu não consegui mais me manter de pé, e lentamente a minha resistência se foi, meu corpo cedeu, e a minha cabeça tombou para o lado enquanto eu caía, me preparei para a dor da queda, como havia ocorrido em todas as outras vezes.

A dor sempre surgia de repente, roubava-me as forças, e eu teria que procurar um lugar seguro para cair no chão e me encolher, suportando-a até que ela resolvesse me deixar. E depois, com o corpo mole e fraco, eu ficaria por horas, tentando em vão me recuperar, e finalmente, alguma força voltaria, apenas o suficiente para que eu me levantasse a caminhasse alguns poucos metros.

Mas dessa vez foi diferente, antes que meu corpo se chocasse contra o chão, alguém me segurou, eu não precisava pensar muito para saber quem era. O toque era quente, não como a dor que queimava a minha alma, era suave e aconchegante.

Senti um ligeiro alívio tomar conta de mim, e eu fui levada para algum lugar mais escuro e vazio da cidade, não conseguia discernir precisamente onde ou como Meish me levou até lá.

Depois, fui envolvida com algo macio e grosso, e mãos tocaram os meus braços, abri os olhos e vi novamente a bela luz dourada emanando das marcas, e junto com o brilho que se reunía para se direcionar às mãos de Meish, a dor também estava indo embora, me ajudando a raciocinar mais lucidamente.

Quando meu corpo parou com o tremor, consegui finalmente movê-lo, e eu me inclinei na direção de Meish. Olhei ao redor, eu estava sentada em cima de um cobertor, e outro estava cobrindo-me por trás, eu estava suada e ainda ofegante, o cansaço ainda presente tornava os meus movimentos exaustivos e rígidos.

Meish me observou por um tempo e retirou as mãos dos meus braços. "Está melhor? Consegue se levantar?" Os olhos escuros fitaram os meus.

"Sim" Minha voz saiu rouca e fraca, não era difícil notar o quão exausta eu estava.

Ela então me ajudou a levantar, envolvendo um dos braços em minha cintura e o meu braço em seu pescoço, apoiei todo o meu peso nela, não queria fazer isso, era um pouco rude, mas não tive escolha, não tinha forças para fazer praticamente nada. Meish foi paciente e me deixou encostar a cabeça na sua, embora o movimento fizesse meu pescoço doer um pouco, afinal, eu era um pouco mais alta do que ela, mas eu gostava da sensação.

Daquela forma, nós caminhamos lentamente, passo por passo, até a pousada, vez ou outra Meish sussurrava em meu ouvido, assegurando-me que estávamos chegando. A cidade já estava quase vazia na madrugada fria, e finalmente, adentramos o amplo espaço da pousada e subimos para o quarto que foi reservado.

Meish me carregou como se eu não pesasse nada e colocou meu corpo deitado na cama, depois me deu água, tomei cada gole devagar, sentindo a água molhar minha garganta seca e aliviar a sede que surgiu com a queimação anterior. Então, Meish pegou outro copo de água e o depositou no criado-mudo próximo, suas mãos fizeram alguns movimentos delicados, e a água no copo seguiu o seu ritmo, subindo e rodopiando no ar, algumas ondas se formaram e foram direcionadas para o meu corpo, ela sussurrou algumas palavras que eu não consegui entender, e a água se tornou cintilante.

Senti o cansaço em meu corpo se aliviar aos poucos, e quanto mais Meish sussurrava, maior era o alívio, e mais eu me sentia disposta, até que ela parou, eu já estava me sentindo bem.

"Essa é a primeira coisa que você precisa saber sobre mim." Ela direcionou a água para o copo novamente. "Eu sou uma manipuladora da água."

Eu dei um sorriso fraco, de alguma forma, aquilo não me surpreendia, eu esperava qualquer coisa dela. Já sabia algumas poucas coisas sobre ela: não havia como ela ser humana - ela já havia admitido que não era -, ela podia absorver energia, e eu tinha certeza de que ela não era fraca, pela forma como me carregou mais cedo.

Ela pode manipular pessoas, emoções, como havia feito comigo na estalagem e provavelmente fez com o estalajadeiro e com as pessoas no bordel. Eram coisas, no mínimo, curiosas, especialmente para mim, alguém com pouca experiência e pouca habilidade.

"Há mais algo que queira me contar?" Inquiri. "Você sabe, eu quero ser útil de alguma forma, deixar você absorver a energia da maldição não é suficiente, eu quero fazer algo de verdade, o que estiver no meu alcance, eu vou fazer sem hesitar." Continuei, eu precisava convencê-la de que eu podia aprender novas coisas, que eu era capaz de ajudá-la no que pudesse.

"Hum..." Ela pareceu cogitar. "Depois vamos decidir a respeito disso, mas antes, acho que você não pode mais ficar no escuro. O que eu vou contar agora é algo que absolutamente ninguém sabe, ninguém além dos oxers, e quero que saiba que só vou deixá-la saber disso porque confio em sua vontade de viver, sei que sem mim, você não será capaz de suportar a maldição por muito tempo, então, quero que pense com cuidado antes de sequer cogitar me trair." Sua voz aumentou em um tom ameaçador.

Era a primeira vez que ela falava daquela forma comigo, brusca e ameaçadoramente, com isso, eu podia facilmente perceber o quanto aquilo deveria ser importante para ela, era algo que eu deveria guardar comigo até o fim. Respirei fundo e assenti, me preparando para o que quer que ela fosse me dizer a seguir.

"Há muito tempo atrás, eu tive uma família, mas todos eles foram mortos, exceto por uma irmã, que está viva em algum lugar do mundo. Eu era forte, mais do que você possa imaginar, mas descobri esse poder da pior forma possível, então, muitas pessoas poderosas se voltaram contra mim, e juntos, eles fizeram um sacrifício de sangue para selar o meu poder.

Por muitos anos eu fiquei presa, esperei por séculos e séculos, toda e qualquer magia enfraquece com o passar do tempo, assim como a sua maldição, assim, eu precisava apenas aguardar o enfraquecimento do selo para conseguir rompê-lo."

Ela parou por um tempo, seus olhos desfocados, encarando o nada, como se estivesse viajando pelas próprias memórias e revivendo-as uma a uma.

"Zhekish se apaixonou por minha irmã, é por isso que ele me ajudou a conseguir a liberdade. E foi aí que eu te encontrei, sabe? Acho que já estávamos destinadas a nos encontrar, sem você, eu ainda estaria presa naquele lugar monótono, e você teria morrido sem mim, somos dependentes uma da outra." Um pequeno sorriso formou-se em seus lábios.

"Quem é Zhekish?" Eu quis saber.

"O oxer que você viu na montanha, ele é o único com olhos azuis, diziam que os oxers eram seres sem emoções, mas Zhekish é diferente, ele tem sentimentos. A verdade é que as montanhas do oeste não existem para o resto do mundo, você só ouviu falar delas através do bardo, e só conseguiu entrar nelas porque Zhekish permitiu, há uma camada de magia antiga ao redor da montanha que a torna invisível para qualquer um, e mesmo aqueles que passam por perto, evitam inconscientemente se aproximar demais devido aos arranjos de magia mental." Ela revelou, me deixando atordoada.

Dessa vez, eu não senti revolta ao ouvi-la falar, me senti enganada, mas não estava com raiva ou irritada, eu gostava do fato de que ela estava me contando aquelas coisas, eu já havia aceitado que precisava dela, e por isso eu não tinha escolha a não ser confiar nela, e eu não tinha dúvidas de que para ela era o mesmo. Aguardei pacientemente que ela continuasse.

"Vez ou outra eu trocava algumas poucas mensagens com Zhekish, não podia ser muito, ou os outros descobririam, Zhekish não era capaz de destruir as algemas, apenas eu conseguiria fazer aquilo, eu só precisava da energia necessária para isso. E então, ele te encontrou, descobriu sobre a sua maldição e percebeu que isso poderia ser útil para mim, ele não podia deixar a montanha, então se comunicava com o bardo através de magia mental, assim ele te guiou para que você chegasse até mim, todos os passos que você deu depois do dia em que soube das montanhas do oeste foram premeditados por ele, apenas para que eu pudesse absorver a sua maldição."

Ela parou novamente por um tempo, parecendo reorganizar as informações. "Mas quando eu te vi, descobri que havia uma condição para absorver a quantidade de energia que eu queria, quanto mais contato físico, mais rápido eu posso absorver, eu não havia descoberto isso antes porque nunca havia precisado de tanta energia. E foi por isso que eu beijei você naquela noite, foi necessário, e é por isso que eu preciso tocar seus braços para absorver a maldição. Acho que é isso o que eu tenho a dizer, por enquanto."

Ficamos quietas por um tempo, ela terminou de falar e esperou pela minha reação. Eu não disse nada, estava processando todas aquelas informações em minha mente, eu sabia que não havia como ser coincidência o que o bardo tinha dito. Como eu tinha chegado naquele lugar também tinha sido estranho, eu já desconfiava disso, mas ainda era informação demais para a minha cabeça.

E assim se passaram mais de uma hora, com Meish me encarando e eu, pensativa e desnorteada. Finalmente, eu consegui falar alguma coisa. "Tenho muitas perguntas para fazer, mas antes disso, se possível, quero saber o que vamos fazer a seguir."

Prontamente, ela me respondeu. "Agora que estou livre, tenho dois objetivos em mente: vou encontrar os descendentes daqueles que me selaram, provavelmente alguns ainda estão vivos, não vou deixá-los ter uma boa vida." Seu tom de voz se tornou ameaçador novamente enquanto as palavras deixavam a sua boca friamente. "Em segundo, vou encontrar a minha irmã desaparecida. E por fim, resolvi ter um terceiro objetivo, quero descobrir quem está te amaldiçoando, dado o poder da maldição, não é uma pessoa comum que está fazendo isso, se essa pessoa é alguém verdadeiramente poderosa, a sua existência não pode ser trivial, e nós vamos descobrir de onde isso veio."

Eu sorri com suas palavras, gostava de saber que ela me tinha em mente, mesmo se apenas por curiosidade. "E como você pretende encontrá-los?" Prossegui.

"Vamos começar pelo Conselho de Magia da capital, pretendo fazer o teste para a escola de magia." Ela disse.

Não pude evitar ficar surpresa, ela iria para a capital? Eu nunca havia estado naquele lugar antes, dizia-se que era muito bonito e todos os dias haviam turistas, a maior parte dos mercadores se concentravam nas ruas de lá, e o mais comentado entre as pessoas: a escola de magia.

Era lugar onde se treinavam os magos, as pessoas falavam muito a respeito. Quando ainda estava no orfanato, eu frequentemente sonhava com um belo futuro, sonhava em ter poderes sobrenaturais e aprender magia, mas era apenas isso, um sonho, e com o tempo eu aceitei que alguém como eu nunca poderia ter tal oportunidade, era algo que apenas os ricos poderiam conseguir.

Engoli a animação que comecei a sentir e questionei Meish. "Como você vai chegar na capital exatamente? Ouvi falar que é necessária uma grande quantia de dinheiro para submeter a inscrição."

"Não se preocupe com isso." Ela me tranquilizou. "Haverão problemas piores que esse no futuro, mas por ora, temos tudo sob controle."

"Entendi, e... Meish?" Chamei-a por seu nome pela primeira vez, fazendo-a arregalar os olhos levemente.

"Sim?"

"Quantos anos você tem?"

"Hum..." Ela tocou o queixo em reflexão. "Eu não sei. Mil anos, talvez? Deve ser mais... Eu não tinha muita noção do passar dos anos naquele lugar, minha única referência de tempo eram os oxers tentando fortalecer o selo a cada cem anos, mas em algum momento devo ter perdido a conta."

Olhei para ela completamente atordoada, ela havia dito que passou séculos aprisionada, mas foi um pouco mais assustador quando ela tentou falar a idade exata. Quantos anos eu tinha? Dezenove apenas, quantos anos ela era mais velha do que eu? Eu era apenas uma criança ao seu olhar?

Por isso ela me tratava e me acalmava como se estivesse lidando com uma criança? Eu não gostava desse pensamento, mas não consegui evitar pensar nisso ao tentar calcular nossa diferença de idade.

"Assustada com a minha idade?" Ela riu levemente.

"Sim." Eu disse inconscientemente. "Você é velha."

Ao ouvir isso, ela ficou séria, e depois riu novamente em uma gargalhada contida e doce, eu ri junto com ela. "Desculpe, espero não ter ofendido." Me desculpei com culpada.

"Não." Ela segurava o peito enquanto ria. "Você está certa, eu sou velha, muito velha."

"Mas você parece ter apenas vinte anos, as senhoras de famílias ricas que gastam uma fortuna com produtos de beleza morreriam de inveja." Adicionei.

"Devo levar isso como um elogio?"

"Creio que sim."

"Então, obrigada, Lyna."

Dei um sorriso sincero com o seu agradecimento, eu tinha que admitir, estava gostando de conviver com ela. Não estava acostumada a interagir com as pessoas por tempo demais, mas estava começando a gostar de sua companhia, e ela parecia... cuidar de mim. Eu gostava da sensação de ter alguém para me ajudar quando as dores surgissem, era acalentador.

"Então..." Mudei de assunto. "Quando nós iremos partir? Acho que em breve vai amanhecer."

"Ao crepúsculo do dia seguinte. Enquanto isso, você deve dormir bem e descansar, seu corpo pode não suportar a viagem." Meish se levantou e esticou o cobertor para cobrir o meu corpo. "Durma bem." Sua voz hipnótica instantaneamente fez meus olhos pesarem, e em alguns minutos o sono me venceu.

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