Mais um dia nessa Cidade em Ruínas, na verdade, tenho tido bastante tempo para andar por aí, já que não tenho que me preocupar com trabalho, contas a pagar ou todas as outras coisas inconvenientes necessárias para uma sociedade funcionar, acho que a falta de televisão e videogames também ajuda.
Sem as nossas caixas mágicas de entretenimento acabo passando muito mais tempo do lado de fora de casa, se bem que morar nessa cidade pode ser bem entediante às vezes, afinal a maioria dos androids está no acampamento da resistência e as ruas estão cheias de máquinas assassinas, mas não posso reclamar a companhia que tenho, Devola, Popola, 11B e os PODs.
Falando nos PODs, eles estavam me acompanhando no momento, nós três estávamos andando por aí, em busca de algo para fazer, 11B disse que ia buscar alguma forma de entrar em contato com 16D, já Devola e Popola estão explorando a cidade.
Não vou mentir, às vezes sinto-me preocupado por não ter nenhuma delas perto de mim para me ajudar caso eu encontre alguma máquina perigosa demais para mim, mas, por outro lado, eu deixei claro que não gostaria de ser acompanhado e protegido a todos os momentos, também, fico feliz por elas estarem aprendendo sozinhas, androides podem ficar focados demais em seu trabalho, é bom distrair a mente ocasionalmente.
Falando em distrair a mente... Estou completamente entediado! No momento não tenho nenhuma ideia para o assunto do próximo episódio, nada de diferente tem acontecido na cidade. O que eu deveria fazer? Gravar um episódio respondendo perguntas? Não, gostaria de dar mais tempo para os androides pensarem no que perguntar.
"PODs, vocês têm alguma sugestão de algo divertido para fazermos agora?" Perguntei para os PODs.
"Sugestão: Poderíamos pescar novamente Administrador Alan." POD 000 sugeriu.
"Observação: A atividade conhecida como pesca já foi realizada uma quantidade considerável de vezes." POD 001 respondeu.
Suspirei "Obrigado pelas sugestões PODs, pensarei em algo."
"Sugestão: Administrador Alan poderia gravar um novo episódio sobre humanos, comportamentos, culturas, história." POD 001 disse repentinamente.
"De onde veio a súbita curiosidade POD?" Perguntei para POD 001, POD 000 apenas "encarou" POD 001.
Antes que o POD pudesse responder, nós fomos interrompidos por um barulho vindo de um beco ao nosso lado.
FFFFSSSSHHHH!
Parecia o som de um Spray? Nós três nos viramos para a entrada do beco e vimos alguém lá dentro, era um andróide com certeza, ele ou ela usava botas pretas, calças marrons, um casaco cinza com o capuz cobrindo sua cabeça. O android tinha uma bolsa ao seu lado e em sua mão o android segurava uma lata de tinta spray e borrifava na parede do beco.
"Olá?" Disse para o android enquanto acenava da entrada do beco.
O andróide parou o que estava fazendo e olhou em minha direção, seu rosto estava coberto por uma máscara cirúrgica e óculos escuros.
"O que você está fazendo?" Perguntei.
O andróide rapidamente guardou a lata de spray em sua bolsa, colocou a bolsa por cima do ombro e correu para dentro do beco.
"Espere!" Mas o androide não parou, ele desapareceu pelos becos da cidade, não me dei ao trabalho de perseguir.
"O que esse androide estava fazendo aqui?" Perguntei enquanto andava para dentro do beco com os PODs me acompanhando.
Parei em frente à parede onde o android estava, meus olhos se arregalaram com o que vi.
"WOW!" Era lindo.
"Administrador Alan, o que é isso?" POD 001 perguntou.
"Observação: Parece um tipo de pintura." POD 000 respondeu.
"Isso PODs, é um grafite, não confunda com pichação." Disse enquanto dava alguns passos para trás e observava a arte em minha frente.
Era um andróide fazendo um sinal de paz, seus olhos estavam fechados e havia um sorriso de tranquilidade em seu rosto, de suas costas havia um par de asas feitas de metal, aos pés do andróide havia várias armas e munições jogadas no chão junto a máquinas destruídas, atrás do anjo androide havia lápides e em cada uma das lápides um número de série.
Não havia título para o grafite, apenas uma assinatura no canto e eu não conseguia entender a assinatura, parecia letra de médico.
"Pergunta: Qual a diferença entre grafite e pichação?" POD 001 perguntou.
"Que bom que você perguntou POD! Pichação está relacionada com escrita e é geralmente feita com tinta preta, às vezes pichação sofre de preconceito sendo considerada vandalismo, não sou nenhum especialista, mas acredito que isso se deve por que algumas pessoas fazem pichações que são apenas palavrões ou frases preconceituosas, já grafite tem mais a ver com desenhos. Ambos são formas de arte, mas dependendo de como são utilizados podem acabar virando vandalismo."
"Afirmativo: Anotação realizada." POD 001 respondeu.
"PODs, tenho uma sugestão. Que tal explorarmos um pouco e vermos se conseguimos encontrar mais algum grafite?"
"Afirmação: Uma ótima sugestão." POD 000 disse.
"Afirmação: Acredito que isso pode ser uma ótima fonte de informação sobre arte humana." POD 001 disse.
"Fico feliz que vocês concordam, mas antes..."
O que fizemos a seguir foi uma série de fotos ao lado do grafite, primeiro uma foto somente do grafite, depois uma foto minha ao lado do grafite, uma foto só com POD 000, depois só com POD 0001, eu com POD 000 e eu com POD 001.
"PODs! Salvem essa foto na galeria de fotos, já que o autor não deixou o título, então vamos nomeá-la como 'Anjo Artificial'. O que acham?"
"Afirmação: Um ótimo título." POD 000 disse.
"Afirmação: Um título excelente." POD 001 disse.
"Bem, então está decidido! Vamos atrás de nosso artista misterioso!"
Então começamos nossa busca, andamos por becos, lojas, prédios de apartamentos, mercados até que encontramos o android misterioso mais uma vez, dessa vez ele estava fazendo um grafite na parede de um hotel.
O andróide pareceu me perceber ao me aproximar, ele rapidamente parou de pintar e se virou para mim.
"Escute, eu só quero conversar..." Mas o androide não esperou que eu terminasse, ele rapidamente arrumou suas coisas e correu para longe.
"Espere!" Mas o android já havia desaparecido pelas ruas da cidade.
"Droga! Bem, vejamos o que esse androide pintou dessa vez." Me aproximei da parede do hotel e fiquei impressionado com o que vi.
Era um grafite representando o espaço, um vazio negro cheio de estrelas, na parte de baixo do grafite havia o planeta Terra, os continentes pintados de verde e a água de azul, mas acima no grafite dando uma perspectiva de distância estava à lua branca, olhando com mais atenção vi pequenas silhuetas na superfície da lua, os humanos que supostamente vivem lá.
O grafite é maravilhoso, mas fico um pouco triste com o que ele representa. Humanidade... Pergunto-me se algum dia eles saberão... Deixe para lá.
"PODs vamos tirar mais algumas fotos." Disse para os PODs.
"Afirmativo." POD 000 disse.
Repetimos o mesmo processo de antes, tirando várias fotos em frente ao grafite.
"Pergunta: Qual nome Administrador Alan deseja dar à pintura?" POD 001 perguntou.
"Hm... Deixe-me pensar. Que tal 'Aqueles Que Esperam'?"
"Afirmação: Um título aceitável." POD 001 respondeu.
"Sugestão: Esse título deve ser mantido até que uma opção melhor surja." POD 000 respondeu.
"Hm! O título não é ótimo, não é mesmo?"
"Afirmativo." POD 000 disse.
"Continuemos, veremos se dessa vez o androide ouvirá o que tenho a dizer."
Encontramos o android misterioso novamente, dessa vez estava fazendo o grafite na parede de um armazém.
Novamente ele fugiu a me ver, nem tive a oportunidade de falar dessa vez, fazer o que, veremos o que o android fez dessa vez.
Era um grafite representando Yorha, o bunker estava no espaço ao fundo, havia algo saindo do bunker, acho que são as cápsulas enviando os androides em direção a superfície do planeta, mais baixo no grafite havia um campo de batalha, do lado esquerdo os androides de Yorha e do lado direito as forma de vida de máquina, os dois exércitos ficavam frente a frente.
"Não sei quem é esse androide misterioso, mas estou gostando da arte que ele está fazendo. Uma homenagem a todos que morreram durante essa guerra. PODs, acho que vocês já sabem o que fazer."
"Afirmativo." Ambos os PODs responderam.
Após uma sequência de fotos decidi pensar em um nome para essa obra de arte.
"Vamos ver, qual nome devo dar para essa obra de arte?"
"Sugestão: Que tal 'Nossa História'?" POD 000 sugeriu.
"Bom nome POD!" Disse enquanto acariciava o POD na parte de cima de sua cabeça. Percebi que POD 001 'encarando', decidi fazer o mesmo no POD 001 antes que ele fique com ciúme. Há! Ciúme, imagino se os PODs conseguem sentir isso.
"Encontramo-nos novamente." Disse para o android misterioso em minha frente, dessa vez o androide não fugiu imediatamente a me ver, nós estávamos numa biblioteca abandonada, boa parte do prédio havia desabado deixando apenas algumas paredes e estantes cheias de livros.
"Escute, sei que não começamos muito bem e que eu não causei uma boa primeira impressão, mas gostaria de conversar com você. Que tal eu me apresentar primeiro? Chamo-me Alan." Disse para o android em minha frente.
O andróide apenas acenou com sua cabeça e apontou para uma parede à sua esquerda, quando olhei para onde o androide apontava, meus olhos se arregalaram com o que vi.
Era eu.
O grafite mostrava um chão em forma de meio círculo, eu estava caminhando por esse meio círculo da esquerda para a direita, em minha frente havia POD 001 e atrás de mim POD 000, ao fundo havia diversos cenários, cidades, desertos, florestas, e sendo levado pelo vento havia folhas de papel com algo escrito nelas, essas folhas estavam saindo de minhas costas e sendo pegas por andróides que caminhavam atrás de mim.
"Esse... Esse sou eu?" Perguntei para o android misterioso.
Ele acenou que sim com a cabeça.
"Obrigado!" Disse enquanto sorria para o android.
O andróide acenou novamente e caminhou para fora da biblioteca, comecei a olhar melhor para o grafite, esse tinha um título "O Andarilho."
"PODs, tirem algumas fotos, por favor."
"Afirmativo." Os PODs responderam.
Durante todo esse tempo o sorriso não saiu de meu rosto, acho que farei uma visita ao acampamento da resistência.
Os PODs e eu nos aproximamos do acampamento da resistência, no caminho encontramos alguns androides perto de máquinas destruídas, eram dois andróides, um masculino e um feminino, todos eles usavam o uniforme da resistência e carregavam AK-47.
"Ei, tudo bem por aqui?" Perguntei para o android que estava mais a frente.
O andróide parou de chutar a máquina perfurada por balas que estava no chão e me encarou.
"Sim, apenas algumas máquinas que chegaram perto demais do acampamento. Diga-me, você me parece familiar. Já não vi você antes?" O andróide me perguntou.
"Ei, esse não é o androide que fica realizando as gravações?" A androide feminina perguntou.
O androide em minha frente me encarou com mais atenção "Oh! Você está certa! Assisto suas gravações às vezes. Você está ficando famoso sabia?" O andróide disse com um sorriso.
"Fico feliz por você estar gostando do meu programa, mas não é exatamente minha intenção ficar famoso." Disse envergonhado.
"Não se preocupe com isso, as coisas tem ficado mais animadas no acampamento desde que você começou a fazer as gravações, ajuda a quebrar o tédio usual." O andróide masculino disse.
"Vamos dizer que os androides do acampamento adquiriram novos passatempos e graças a isso o acampamento mudou um pouco." A androide feminina disse.
"O que você quer dizer com isso?" Perguntei.
"Basta entrar no acampamento e ver por si mesmo." O andróide disse enquanto apontava para o acampamento com um polegar por cima do ombro.
"Certo, vocês virão também?"
"Não, estamos vigiando a entrada do acampamento, só voltaremos durante a mudança de turno." A androide feminina respondeu.
"Bem, vejo vocês depois." Disse para os androides enquanto passava por eles e ia em direção ao acampamento.
"Claro, até a próxima!" O andróide masculino disse enquanto acenava.
Acenei de volta e voltei a andar em direção ao acampamento quando de repente...
BANG!
O som de um tiro ecoou pela região, POD 000 imediatamente criou um escudo ao meu redor e POD 001 preparou para disparar em qualquer ameaça próxima.
Quando olhei para trás, avistei a androide feminina apontando sua arma com o cano fumegante em direção a cabeça de uma máquina que estava no chão.
"Ele se mexeu!" A androide feminina gritou.
"Eu disse para você verificar se essas coisas estavam mortas!" O andróide masculino respondeu.
"Mas eu verifiquei!"
"Então como..."
E os dois androides começaram a discutir, ignorei a discussão dos dois e me aproximei da entrada do acampamento.
Como sempre a entrada ficava no beco entre dois prédios, havia dois andróides na entrada do beco, um de cada lado, também percebi que mais acima nas janelas dos prédios havia androides com rifles de sniper vigiando a área, esse lugar parece mais reforçado do que da última vez.
Ao andar pelo beco que levava para dentro do acampamento, percebi que as paredes do beco estavam pintadas com grafites dos mais diversos tipos, paisagens e androides cobriam as paredes em diversos estilos de arte, surrealismo, cubismo, expressionismo, também vi versões parodiadas de pinturas famosas, uma Mona Lisa com metade do rosto sem pele revelando o interior de um rosto de android, uma versão de O Grito com uma máquina no lugar da pessoa que gritava.
Les Demoiselles d'Avignon, mas com androides da resistência posando no lugar das mulheres, também vi uma Pop Art com o rosto de Anemone repetido em diversas tonalidades de amarelo.
Os androides fizeram tudo isso devido a meu programa? Se sim, então estou impressionado, não esperava que eles fossem realmente fazer o que eu mostrava em meu programa.
Ao entrar no acampamento uma das primeiras coisas que vi foi uma estátua de metal no centro do acampamento, era uma estátua semelhante à imagem dos soldados erguendo uma bandeira em Iwo Jima na Segunda Guerra Mundial, mas no lugar dos soldados havia androides erguendo uma bandeira com o símbolo do exército da humanidade e em vez de uma colina havia uma pilha de máquinas abaixo dos pés dos soldados.
"Impressionante!" Disse enquanto me aproximava da estátua, parecia ter sido feita de ferro-velho, mas seja lá quem a construiu fez um ótimo trabalho, estendi minha mão para tocar a estátua, mas fui parado pelo grito de um andróide.
"Ei, nada de tocar em minha obra de arte!"
Saltei para trás com o grito, olhando para onde o grito veio vi um androide familiar, era Salieri.
"Sua obra de arte? Você construiu essa estátua?" Perguntei para Salieri enquanto me aproximava.
Salieri estufou o peito com orgulho e apontou para si "Pode apostar que sim! Sou o melhor escultor em todo o mundo!"
"Quando você é o único escultor no mundo, então é claro que você é o melhor, afinal não há mais ninguém para comparar seu trabalho." Olhando para o lado vi um androide saindo da multidão, era Florence.
Salieri se encolheu com a resposta que recebeu de Florence.
"Bom ver você Alan." Florence disse para mim enquanto sorria.
"Bom ver você Florence, e você também Salieri." Disse para os dois androides à minha frente.
"Saudações." Os PODs disseram para os androides.
"O que traz você aqui hoje Alan?" Florence me perguntou.
"Também estou curioso para saber, você sumiu por algum tempo." Salieri disse.
"Estou procurando um android, mas não sei como ele se parece. Para explicar melhor, enquanto eu andava pela cidade encontrei um androide pintando grafites nas paredes dos prédios, tentei falar com o android, mas ele sempre fugia quando eu chegava perto. Vocês sabem quem é esse android? Tirei algumas fotos de seus grafites, mostrei para eles POD."
POD 000 exibiu uma tela holográfica e nela apareceram os grafites pintados pelo androide misterioso.
Florence e Salieri olharam para as fotos admirados.
"Admito, os grafites são incríveis, mas não faço a mínima ideia de quem os fez." Salieri disse.
"Talvez outro androide no acampamento saiba?" Florence perguntou.
Hm! Talvez, mas mesmo assim obrigado. A propósito Salieri, sua estátua é incrível, estou ansioso para ver o que mais você consegue fazer."
Salieri olhou para longe envergonhado "Obrigado." Salieri sussurrou.
"Vamos lá, não precisa ficar envergonhado, você merece o elogio." Florence disse enquanto dava um pequeno soco no ombro de Salieri.
"Vejo vocês depois!" Disse para os androides.
"Até a próxima Alan, espero nos vermos novamente." Florence disse.
"Tente não morrer aí fora, ficarei triste se souber que perdi um dos meus clientes." Salieri respondeu.
"Pode deixar comigo! Tomarei cuidado!" Disse enquanto me afastava.
Veremos se mais alguém sabe sobre o android misterioso.
Infelizmente minha busca não deu frutos, ninguém parecia saber quem era o androide mistérios, mas não foi tão ruim assim, pelo menos consegui ver algumas mudanças no acampamento da resistência, o acampamento estava mais arrumado, entulho foi removido, paredes foram pintadas, olhando para cima vi cordas ligando um prédio ao outro e pendurados nelas havia recortes de papel colorido representando pessoas, flores, animais, também percebi alguns vendedores vendendo pequenas estatuetas de madeira ou metal.
O acampamento havia melhorado com certeza, de repente ouvi música. Parecia estar vindo de cima? Olhando para cima vi Kokio apoiada em uma janela de um prédio de três andares, ela estava tocando uma Harmônica.
"Ei Kokio!" Gritei enquanto acenava para ela.
Kokio parou de tocar e harmônica e olhou em minha direção.
"Alan! O que você está fazendo aqui? Isso não importa, você pode entrar, a porta está destrancada!" Kokio disse enquanto apontava para a porta do prédio.
Dei de ombros e entrei no prédio, enquanto andava pelos corredores encontrei alguns androides, eles apenas me olharam estranho, deram de ombros e seguiram seu caminho, nos corredores havia diversas portas olhando rapidamente por uma delas vi ser um tipo de quarto, havia consegui ver dois beliches em cada lado do quarto, acho que entendi, então é aqui onde ficam os quartos de alguns androides do acampamento.
Bem saber, por um momento pensei que eles trabalhavam sem parar para descansar.
"Alan, aqui!"
Olhando para o lado, vi Kokio me chamando em uma escada que levava para cima.
Subi as escadas e me aproximei de Kokio "Olá Kokio, o que você..."
"Venha comigo!" Não consegui terminar já que Kokio agarrou meu braço e começou a me puxar escada acima.
"Kokio, espere um minuto!"
"Venha, tem algo que eu quero te mostrar!" Kokio respondeu.
Subimos até o terceiro andar, os androides saltaram para fora de nosso caminho enquanto corríamos até chegarmos a uma porta no final do corredor.
"Entre." Kokio disse para mim enquanto destrancou a porta.
"Você tem certeza?" Perguntei para Kokio.
"Sim, venha!" Kokio disse enquanto me puxava para dentro do quarto.
Quando entrei comecei a olhar em volta, o quarto era semelhante aos que vi nos andares de baixo, era um quarto mediano, em formato de um quadrado, havia dois beliches, um, na esquerda do quarto e outro na direita, na parede entre os dois beliches havia uma janela, onde Kokio estava antes tocando a harmônica.
"Belo quarto Kokio." Disse para Kokio.
"Não é tão bonito assim, afinal eu divido esse quarto com mais três andróides, mas esse daqui é o meu canto." Kokio disse enquanto apontava para a cama de baixo do beliche da direita.
Olhei melhor o beliche, vi que na parede ao lado da cama havia uma série de fotos presas na parede, fotos de paisagens, cartões de viagem, recortes de revista, formando uma espécie de mosaico na parede.
"Então, o que você queria me mostrar?" Perguntei para Kokio.
"Isso!" Kokio foi em direção a sua cama e tirou uma caixa de papelão debaixo dela.
Percebi algo escrito na lateral da caixa "Propriedade de Kokio! Não toque ou eu te desmonto!"
"O que é isso Kokio?"
"Essa é a minha caixa de maravilhas! Aqui guardo todos os objetos do mundo humano que coletei pela cidade!" Kokio disse enquanto sorria e erguia a caixa acima de sua cabeça.
"Sério? Posso ver?"
"Claro! Afinal, é para isso que eu te chamei aqui, não faço a mínima ideia do que algumas dessas coisas são." Kokio disse enquanto colocava a caixa em cima da cama e começou a me mostrar seus conteúdos.
"Primeiro de tudo, o que é essa coisa?" Kokio perguntou enquanto me mostrava um objeto.
Era um objeto retangular preto com uma tela em cima e abaixo da tela vários botões em um formato circular, era um MP3 Player.
"Oh! Isso é um MP3."
"E para que ele serve?" Kokio me perguntou.
"Ele serve para armazenar e reproduzir arquivos de áudio no formato MP3."
"O quê?" Kokio me perguntou.
"Ele toca músicas gravadas em um formato específico."
"Oh! Será que consigo consertá-lo?"
"Duvido muito, mas você deveria tentar, só não tenho certeza onde você encontrará músicas em MP3 atualmente."
"Bem, me preocuparei com isso depois. O que é essa coisa?" Kokio disse enquanto me mostrava outro objeto.
O objeto possuía um formato levemente retangular de cor roxa, uma tela no centro e botões brancos dos lados, havia algo escrito logo abaixo da tela, mas foi apagado por um tempo.
G... B... A...
GBA? Um game boy advance? "HAHAHA! Nunca pensei que veria um desse novamente."
"O que é isso?" Kokio me perguntou.
"Um console portátil para jogar videogames." Disse enquanto analisava o objeto em minhas mãos, fui atingido por um sentimento de nostalgia, tantas memórias.
"Entendo, e como faço para ele funcionar?"
"Você precisaria de duas pilhas AA e do cartucho com o jogo."
"Acho que tenho alguns desses aqui, me dê um minuto." Kokio foi em direção a um armário no quarto e começou a revirá-lo até voltar com duas pilhas AA, ela me deu as pilhas e eu as coloquei dentro do Game Boy.
"E agora?" Kokio me perguntou.
"Agora precisamos do cartucho."
Kokio foi em direção até a caixa e retirou uma série de cartuchos de game boy e me entregou.
Peguei o cartucho, o encaixei no game boy e iniciei o console, a tela se acendeu e uma música familiar começou a tocar, meus olhos se arregalaram com a introdução que apareceu na tela, um gengar lutando contra um nidorino, um tempo depois a tela de título apareceu, Pokemon FireRed.
"Kokio, por quanto você me vende o game boy e os jogos?" Perguntei para a androide.
"Eles não estão à venda." Kokio disse enquanto cruzava os braços.
"Vamos, eu pago qualquer valor."
"Não, eu os encontrei, então eles são meus."
Suspirei "Está bem." Disse enquanto dava o console para Kokio, ela começou a observar as imagens na tela e apertar os botões aleatoriamente.
"Então isso é um vídeo game?" Kokio perguntou enquanto iniciava o jogo.
"Sim, os humanos o utilizavam como uma forma de entretenimento."
Olhando para a tela do Game Boy, o professor carvalho fez a famosa pergunta "Você é um menino ou menina?"
Após escolher seu personagem, a tela de nome apareceu.
"O que eu faço agora?" Kokio me perguntou.
"Agora você escreve seu nome."
Kokio colocou seu nome em seu personagem e o diálogo continuou, até chegar o momento de apresentar o rival.
"E agora?"
"Agora você escolhe o nome do seu rival, pode ser um nome pré-definido ou um escrito por você."
Kokio decidiu escrever um nome para o rival, e ela colocou meu nome, a partir daí a aventura de Kokio no mundo Pokémon começou. Enquanto Kokio jogava percebi havermos ficado em silêncio, a música do jogo sendo a única fonte de barulho.
"Então Kokio, percebi que você estava tocando a harmônica..."
"Oh! Isso, depois de seu programa sobre música alguns androides decidiram aprender a tocar algum instrumento, mas não há muitos instrumentos intactos por aqui, por isso a maioria foi improvisada, mas graças as minhas caminhadas pela cidade eu consegui encontrar um instrumento em perfeitas condições, a parte mais difícil foi aprender a tocar. Eu não queria simplesmente fazer o download de todas as informações de como tocar a harmônica em meus sistemas."
"Então você aprendeu por tentativa e erro?"
"Sim." Kokio disse com um sorriso.
"Há mais alguma coisa que você gostaria de me mostrar?"
"Na verdade, sim, tem essa revista que encontrei, mas eu não entendo a função dela." Kokio disse enquanto pausava seu jogo e retirava uma revista de sua caixa e me entregou.
Saltei para trás e meus olhos se arregalaram com o conteúdo da revista.
"Sinceramente, eu não entendo o porquê das mulheres dessa revista vestirem tão pouca roupa, elas estão quase nuas."
Enrolei a revista em minhas mãos até formar um cilindro e depois bati com a revista no topo da cabeça de Kokio.
"OUCH! Por quê?" Kokio perguntou enquanto agarrava o local que acertei.
"Escute aqui mocinha, essa revista não é para androides de sua idade! Eu não quero vê-la novamente com esse tipo de revista em suas mãos!"
"Mas... OUCH!" Não deixei Kokio terminar, a acertei novamente com a revista.
"Nada de, mas! Não quero vê-la novamente com essas coisas, você entendeu?"
"Sim senhor." Kokio disse enquanto olhava para baixo.
"Ótimo! E para garantir que isso não aconteça novamente guardarei a revista em um local seguro!"
POD 000 guardou a revista em seu armazenamento.
"Eu poderei ter a revista de volta?" Kokio perguntou.
"Pensarei sobre isso. E se eu encontrar você com uma dessas revistas novamente, eu deixarei você sem videogame por um mês." Disse para Kokio enquanto cruzava os braços.
"NÃO!" Kokio disse enquanto abraçava o game boy.
"Kokio que gritaria é essa?" Uma voz disse do outro lado da porta do quarto.
"Não é nada Cosmos." Kokio respondeu enquanto andava em direção a porta.
Cosmos? "Kokio, espere!"
Mas era tarde demais, Kokio havia aberto a porta e do outro lado estava a androide conhecida como Cosmos.
"Pessoas não gritam por nada Kokio, o que... VOCÊ!" Cosmos estava conversando com Kokio, mas infelizmente ela me percebeu.
"O que você está fazendo no nosso quarto?!" Cosmos disse enquanto apontava para mim.
"Nosso quarto? Você é colega de quarto de Kokio?" Disse enquanto recuava.
"Você pode apostar que sim!" Cosmos disse enquanto puxava Kokio para o lado.
"Cosmos, espere! Ele é meu amigo!" Kokio disse enquanto passava os braços ao redor de Cosmos a segurava no lugar.
"Amigos não ficam trancados sozinhos no quarto de uma garota!" Cosmos gritou enquanto tentava se soltar.
"Corre Alan, corre! Ela é ciumenta e super-protetora!" Kokio gritou para mim.
Não precisa dizer duas vezes! Corri em direção a janela do quarto com os PODs ao meu lado, olhando para trás vi que Cosmos havia se soltado e estava correndo em minha direção.
Sem pensar duas vezes saltei pela janela, enquanto caía cada POD agarrou um dos meus braços e eu lentamente flutuei em direção ao chão, enquanto descia vários objetos foram atirados em minha direção.
"Se eu ver sua cara aqui novamente, eu te jogo no compactador de lixo!" Cosmos gritou da janela enquanto atirava objetos em minha direção.
Assim que pousei na rua logo abaixo comecei a correr para longe com os PODs ao meu lado, no caminho os androides me encaravam confusos com o que estava acontecendo.
Acho que estou longe o suficiente, eu corri pelas ruas do acampamento, acredito que consegui despistar Cosmos, me sentei em um banco de madeira no acampamento para recuperar meu fôlego.
"Essa foi por pouco, não é mesmo PODs?"
"Afirmação: Administrador Alan deveria evitar a androide conhecida como Cosmos." POD 000 disse.
"Afirmação: Se as situações com a androide Cosmos continuarem, os androides do acampamento podem ter a impressão errada." POD 001 disse.
"Nossa, obrigado pela confiança que vocês têm em mim." Disse para os PODs enquanto deitava minha cabeça na parte de trás do banco e fechava meus olhos. Até que esse dia foi divertido, o acampamento e seus androides mudaram com certeza e isso tudo devido a meu programa, pergunto-me como esse lugar ficará no futuro.
De repente ouvi alguém se aproximando e depois se sentando ao meu lado.
"Finalmente encontrei você." Uma voz feminina familiar disse ao meu lado.
Abrindo os meus olhos e olhando para a direção da voz, vi uma andróide familiar, um sorriso nervoso, mas feliz apareceu eu meu rosto.
"Olá, Anemone."
"Olá, Alan." Anemone disse com um sorriso.
FIM DO CAPÍTULO
Olá, obrigado por ler até aqui! Não tenho nenhum aviso para a história no momento, só gostaria de desejar para você leitor, um feliz natal. Então vamos...
UM FELIZ NATAL!
Até o próximo capítulo!