Um Inquilino e Meio

By guqpjm

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[EM ANDAMENTO] [EM REVISÃO, ESTÁ SUJEITA A ERROS] Jimin se vê atolado de dívidas depois que o dinheiro que su... More

Apresentações
[1] Dívidas.
[2] Soluções.
[3] Reforma.
[4] Mudança.
[5] Lar.
[6] Amigos.
[7] Proteção.
[8] Jeon's.
[9] Sol.
[10] Invasão.
[11] Ciúmes?!
[12] Promessa.
[13] Próximos.
[14] Próximo passo.
[15] Depois.
[16] Fazenda.
[17] Frutas.
[18] Me conte.
[19] Eu e você.
[20] Você merece.
[21] Cuidar de você.
[22] Recomeçar.
[23] (re)começo.
[24] Importância.
[25] Barracas.
[26] Sem bandanas.
[28] Aprendizados.
[29] Aniversário?
[30] Ãn?
[31] Meu tchan.
[32] Um chuchu que colhi na vida.
[33] Futuro.
[34] Amor e seus significados.
[35] Novas sensações.
[36] Como quiser.
[37] Primeira vez.
[38] Fizemos amor!
[39] Abacaxi.
[40] De mentirinha.
[41] Descobertas. 2
[42] Ciclos.
PRÉ VENDA DE UIM!

[27] Único.

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By guqpjm


              #GarotoDasBandanas🌪

A noite nunca demorou tanto pra passar quanto naquele dia. Jungkook torcia para ver o sol raiando logo, não aguentava olhar em volta e enxergar somente a escuridão e o silêncio, que lhe fazia lembrar de tudo novamente, quando tudo que queria fazer era esquecer completamente.

Apertava Mike em seus braços, e chorava baixinho, com medo de acordar seu hyung. Mas sentia Park o puxando para mais perto, bagunçando seus cabelos e escondendo o rosto na curvatura do seu pescoço. 

Não se arrependia de dizer nada, mas havia um buraco tão grande em seu coração, que o fazia pensar que aquele vazio ficaria para sempre ali. E, nossa…era incrível a forma que Park achava de acalmá-lo até nessas horas, logo, o vazio era preenchido, apenas com uma simples fala do mais velho.

Park não pregou os olhos um só segundo, mesmo que às vezes sentisse o sono querendo lhe consumir, sua preocupação era ainda maior, e toda vez que ouvia Jeon fungando baixinho, aquela mesma sensação de desespero invadia seu peito e tomava conta de si.

Então, enquanto oferecia sua companhia e compreensão ao garoto, ele começou a pensar em algo que pudesse o animar, algo que fosse digno…sabia que nada iria tirar aquele vazio, pelo menos por agora, mas queria mostrar para Jeon que ainda havia magia na vida, que ainda existia uma pessoa disposta por ele, e que, mesmo sendo uma pessoa cheia de defeitos com quase nenhuma qualidade, estava disposto a ser o príncipe que um dia Jungkook imaginou.

Prometeu que o encanto seria para sempre, prometeu curar as feridas dele, e um dia alguém lhe disse que uma promessa não poderia ser quebrada, então manteria ela a todo custo.

Era boa aquela sensação de disposição, e estar disposto a lutar por algo, por alguém.

Se tivesse que enfrentar todos os traumas do passado de Jungkook, então, que fosse. Jimin tinha certeza que estava com as armas  certas para vencer aquela batalha, e nossa… era tão bom ter aquela confiança, aquela certeza, zero inseguranças e muita disposição.

Talvez nunca tivesse sentido essa sensação porque nunca esteve disposto a lutar por alguém dessa forma. Mas se fosse por Jungkook, estava disposto a fazer igual Davi e lutar com um gigante com apenas uma pedrinha na mão.

Quando notou os primeiros raios de sol se fazendo presente, Jimin ficou aliviado. Se remexeu na cama, acomodando Jungkook melhor em seus braços, pronto para sair de lá, mas o menino foi mais rápido e o puxou de volta, o abraçando com tanta força que chegou a lhe causar falta de ar.

— N-não me deixa aqui sozinho, hyung. Por favor… 

O pedido soou quase como uma súplica, a voz estava tão rouca, que chegava a ser irreconhecível, provavelmente por ter chorado a noite inteira. Os olhos que Jimin tanto amava, que emanavam alegria e positividade, agora estavam tristes, era possível notar o quanto Jungkook estava ruim, os olhinhos inchados e fundos, sem emoção alguma, sem analisar tudo à sua volta com curiosidade, como era de costume. O narizinho estava vermelho e inchado, tal como os olhos.

— Eu não vou sair daqui, príncipe. – Tranquilizou, voltando para a cama e passando os dedos de maneira delicada pela sobrancelha do garoto. Kook piscou de maneira lenta e preguiçosa, lutando contra o sono. — Você está bem?

— Estou.

— Tem certeza? – Park não gostou de como Jeon tentava mentir para enganar a própria dor. — Você…você chorou a noite toda.

Ele ficou em silêncio por alguns segundos.

— Você escutou… – Não foi uma pergunta e sim uma afirmação, no entanto, seu tom de voz de preocupação e decepção não passou despercebido pelo outro, como se ele não quisesse que Park tivesse percebido aquilo.

— Eu não deveria ter escutado? – Perguntou retoricamente, descendo o carinho para a bochecha. — Você deu um banho de lágrimas no Mike.

— Vou dar banho nele depois…

— A gente pode dar banho nele juntos depois, mas por agora, por que você não tenta dormir um pouco? – Disse de maneira suave e tranquila, enquanto passeava as mãos pelo rosto frágil do garoto.

Era visível o quanto Jungkook estava cansado.

— Eu quero tomar água, Ji. – Ignorou a pergunta anterior, o encarando com os olhos pidões.

— Vamos buscar, então. 

Em um ato repentino, Park o pegou no colo como se não fosse nada demais, para em seguida, começar a caminhar em passos rápidos com o menino pendurado em seu pescoço. Jeon mal teve tempo de raciocinar o que tinha acontecido, estava mole e sonolento, tentando lutar contra o sono que insistia em bater na porta, mesmo contra a sua vontade, não tinha forças nem para abrir a boca ou para tentar se debater para tentar sair.

A animação tão contagiante parecia ter ido embora, e isso deixava Park preocupado. 

E se Jungkook começasse a se fechar ou criasse uma barreira entre eles? 

Desejou muito ter que ouvir o falatório e os questionamentos aleatórios que Kook fazia logo de manhã, de ouvir sobre desenhos ou levar um sermão dele por falar algum palavrão… queria esse Jeon de volta, o Jeon que ele conhecia.

Mas sabia que tinha que dar tempo ao tempo. Não era como se fosse fácil voltar ao normal depois de relembrar de tudo aquilo que lhe atormentou por anos. Foi como passar álcool em um machucado aberto, e Jimin sabia o quanto era doloroso passar por isso, mesmo que as situações fossem diferentes, entendia muito bem.

Então, se houvesse outra realidade, Jimin desejava que ele e Jungkook se conhecessem na infância e fossem felizes para sempre, sem vilões ou sem dor e saudade, queria viver para sempre no paraíso junto com Kook. 

— Gelada ou natural? – Ele deixou Jungkook sentado em cima da mesa da cozinha assim que chegou, e se afastou apenas para perguntar.

— Misturada. – Mantinha a mesma expressão de antes, com os lábios secos como o deserto de Saara, no entanto, lhe ofereceu o melhor sorriso que conseguia dar naquelas condições. Piscava tão lento que tinha certeza que dormiria a qualquer momento.

Jimin caminhou até a geladeira, encheu o copo pela metade com água gelada, depois terminou de completar com um pouco de água da torneira.

— Você está com fome? – Perguntou-lhe entregando o copo cheio d'água.

— Não, hyung.

— Nada?

— Nada. – Tomou a água com tanta rapidez que deixou Jimin um tanto surpreso, o líquido parecia ser doce ao paladar de Jeon. Com o copo já completamente vazio, entregou de volta.

— Eu posso fazer alguma coisa pra você comer, se quiser.

— Hyung… – Abriu os braços, pedindo por um abraço com a voz manhosa e chorosa, e mais do que rapidamente, Jimin o tomou em um abraço carinhoso, encostou a cabeça de Jeon em seu peito, e começou um carinho suave na cabeleira. — Eu estou bem, não se preocupe. – Kook completou.

— Não quero que fique sem comer, Jungkook. – Repreendeu.

— Mas eu não estou com fome, hyung. – Disse quase com os olhos fechados. — Eu não consigo controlar isso, me desculpe. Não quero ser um peso pra você, hyung. Queria que todas as nossas memórias juntas fossem boas, mas tudo que estou fazendo é ficar assim. Eu…eu não quero que você pare sua vida por causa de mim, como fez com s-sua mãe, hyung.

Jimin precisou de um tempo para assimilar todas aquelas palavras. A voz de Jungkook era fraca, quase inaudível, porém, as falas carregavam certa culpa e certeza, como se o pensamento não fosse vago e impensável, era algo que estava em sua mente.

O loiro recapitulou tudo que já tinham passado juntos, todos os bons momentos, cada brincadeira e cada vez que ficaram apenas abraçados compartilhando memórias e informações um com o outro, e nossa…um sorriso tão grande se rasgou em seu rosto, que ele conseguiu sentir os olhos se encherem de lágrimas e seu coração bater mais forte que o normal. 

Kook, ali encostado no seu peito, conseguiu notar o quão rápido o coração do seu hyung batia. Ele colocou a mão naquele local, e fechou os olhos, sentindo os corações baterem em sincronia, como se apostassem uma corrida.

— Que tipo de amigo colorido você acha que eu sou? – Park disse com a voz firme, exalando confiança. Jeon franziu as sobrancelhas, e por um momento, se desesperou achando que estava estragando tudo novamente, mas Park foi mais rápido, e para o seu alívio, completou: — Tá achando que as coisas são assim? Que eu vou ficar com você só nos bons momentos?

— Não foi isso que eu quis dizer, hyung. É só que…eu sempre senti que era um peso pras pessoas que eu gostava, e eu não quero que com você seja assim. 

— Você desistiu de mim quando eu confessei que desejei a morte da minha própria mãe porque estava exausto? Ou quando eu te tratei mal e te disse palavras duras esperando que você parasse de gostar de mim? Eu fui um peso pra você, Jungkook? – Mais do que certo, Park sabia exatamente o que estava falando, e tinha certeza das próximas falas também. Respirou fundo, pegando Jeon em seu colo e caminhou com ele até estarem no sofá, onde o acomodou.

Jungkook ficou deitado no sofá, com algumas almofadas ao redor do seu corpo, e uma apenas para apoiar a cabeça, enquanto Park ficou ajoelhado no chão, cara a cara com o moreninho, ainda aguardando uma resposta.

Kook estava tão cansado que mal conseguia abrir a boca pra falar.

Seu cansaço era tanto, que parecia que tinha percorrido uma maratona inteira sem comer ou beber nada. Apesar disso, se esforçou para levar sua mão até o rosto de Park, onde fez um carinho suave, retribuindo o que ele tinha feito mais cedo.

— Você nunca foi um peso pra mim, H-hyung…

— Então, pode falar pra essa cabecinha paranóica que você não é um peso pra mim? – Soltou um riso soprado, apontando pra cabeça dele com o dedo indicador. — Nossas boas memórias nunca vão ser substituídas, o nosso recomeço foi apenas uma nova fase do que temos, não quero que você esqueça das boas memórias também. Você se lembra do nosso primeiro beijo?

O menino assentiu com a cabeça, piscando algumas vezes.

— Você disse que foi o pior beijo da sua vida. – Sorriu contido, e Park coçou a nuca enquanto revirava os olhos, envergonhado. — Depois me disse que eu parecia uma espécie de sereia sedutora.

— Eu fiquei sem saber o que fazer.

— Imagina eu que nunca tinha beijado, hyung. 

— Mas eu me senti como um BV de novo. – Disse e Kook espremeu os olhos, não entendendo muito bem onde ele queria chegar, já começava a ficar envergonhado em tocar nesse assunto, afinal, era algo que nunca iria se acostumar. E de maneira inevitável, suas bochechas ganharam uma tonalidade vermelha e ele mordeu os lábios, tentando descontar a timidez. Vendo sua cara de confusão, Park completou: — Quando nossos lábios se tocaram pela primeira vez, meu cérebro anulou qualquer memória minha beijado outra pessoa, eu nem sabia que isso poderia acontecer, mas eu não lembro como é beijar outras bocas, não lembro o que já fiz com elas, toda vez que fecho os olhos, só consigo lembrar de você e do seu beijo, como se nunca tivesse existido outras pessoas.

— Ah… – Ele levou as duas mãos para os olhos, esfregando o local para tentar dissipar a vontade incontrolável que lhe deu de chorar. Ficou em silêncio, sabendo que se dissesse algo, a voz provavelmente sairia falha, não quis arriscar.

A noite anterior tinha deixado Kook um pouco mais sensível do que o normal, era bastante notável, até porque mexer em algo que te machuca, exige muita coragem e confiança, duas coisas que ele não tinha, mas se dispôs a enfrentar aquele medo, porque confiou em Park e porque queria se livrar daquele peso das suas costas. Tudo isso só o tornava mais forte.

Era quase inevitável não ficar assim. E a fala de Park veio como uma flecha que atingiu seu peito em cheio, mas não de forma ruim.

Jungkook precisava tanto ouvir aquilo, porque sua cabeça trabalhou em inúmeras hipóteses negativas durante a noite.

— Jimin-shi… – Chamou, tentando segurar o choro. — Você vive dizendo que eu falo bonito e que você não sabe como responder a altura, mas quem está assim agora, sou eu.

— Consegui deixar Jeon Jungkook sem palavras? – Provocou fazendo uma cosquinha na barriga dele.

Goo se debateu até conseguir se livrar das mãos incrivelmente ágeis do seu hyung. Gargalhava alto, mas Jimin ainda percebeu que ele piscava de maneira preguiçosa e tinha um olhar cansado demais.

— Você sempre me deixa sem palavras, hyung. Eu gosto tanto da forma que você me trata agora.

— Bem diferente do Jimin antigo, né? – Disse de maneira descontraída, mas Kook podia notar o remorso em sua voz toda vez que o loiro tocava nesse assunto.

— Que Jimin antigo? – Fez uma falsa cara de surpresa, franzindo as sobrancelhas, como se realmente estivesse tentando lembrar. — Eu não lembro mais. Você não precisa ficar se sentindo culpado, hyung, nós já recomeçamos, lembra? Tenho tantas memórias boas com você, que elas já foram capazes de substituir as ruins.

— Obrigado por me entender. Você é muito lindo. – Elogiou, deslizando os dedos pelo nariz grandinho dele, grato por Jungkook ser alguém tão amável e compreensível. — Parece um príncipe.

Kook fechou os olhinhos.

— Qual?

— Qual o que?

— Qual príncipe da Disney, hyung?

O mais velho soltou um riso soprado enquanto se aproximava para deixar um beijinho na bochecha gordinha dele.

— Da Disney? Não… – Negou com a cabeça. — Esse príncipe aqui é meu.

O coração de Jungkook bateu tão forte, que ele conseguiu escutar perfeitamente o som dele esmurrando seu peito sem parar. Arregalou os olhos, esquecendo-se por um segundo que antes estava morrendo de sono, e deixou que seus olhos analisassem a expressão de calma do loiro.

Era sempre um momento novo e único quando era Jimin quem tomava atitude para dizer coisas assim.

— Você também é o meu príncipe, hyung. – Confessou, tímido. — Obrigado por estar aqui comigo. Eu juro que nunca, nunca, nunca vou conseguir me acostumar com tudo que estou vivendo agora. E-eu te daria um beijo agora, mas não escovei os dentes, Ji.

Park sorriu sem mostrar os dentes.

— Dorme um pouco, docinho. Eu vou te levar pra cama, tudo bem? – Ameaçou  pegá-lo no colo, mas Kook foi mais rápido e negou com a cabeça, se aconchegando um pouco mais no sofá.

— Eu quero dormir aqui, hyung. – Explicou. — Você não vai dormir comigo?

— Eu já dormi de noite. – Mentiu, porque o bem-estar de Jungkook, naquele momento, era muito mais importante do que seu sono desregulado. Jimin não queria que o menino se sentisse culpado por fazê-lo passar a noite em claro. — Fica quietinho aí. Seus olhos estão tão pesados…toda vez que você pisca, quase dorme. – Riu soprado, tirando o cabelo grandinho da testa dele. — O hyung vai tomar conta da nossa casa, fica tranquilo.

— E vai ficar comigo quando eu acordar?

Jimin aproximou-se e deixou um selar longo no pescoço dele, enquanto este fechava os olhos e colocava os dedos longos no ombro do seu hyung, quase dormindo ali mesmo.

— Eu vou. – Confirmou. — Não se preocupe. Dorme um pouco, bela adormecida, prometo que depois eu te desperto com um beijo. 

Antes que Jungkook dormisse, Jimin foi até o quarto e voltou com uma coberta fina e cobriu apenas a parte de baixo dele, para não correr o risco de deixá-lo passar frio.

E como Park já esperava, Jungkook adormeceu em poucos minutos após lhe agradecer. 

O mais velho ficou um tempo parado em frente ao sofá, apenas admirando a beleza surreal de Jungkook. Os olhinhos, a boca entreaberta deixando os dentinhos da frente à mostra, o cabelo bagunçado e impossível de arrumar, mesmo que Park colocasse ele atrás da orelha do garoto, uma mecha sempre acabava caindo novamente.

Tudo nele era lindo, cada parte, cada detalhe, e enquanto o analisava, inevitavelmente, Jimin se pegou pensando em como seria no futuro, quando eles fossem mais velhos ou quando Jungkook mudasse de casa, afinal, sabia que o menino não moraria ali para sempre, uma hora ele teria que seguir a vida, sabia que dinheiro não era problema e que Jeon poderia ter a casa que quisesse. Esses pensamentos o deixaram nervoso, preocupado e com medo. 

Era tão difícil imaginar um futuro onde Jeon Jungkook não estivesse ali. E, nossa… Jimin não tinha parado pra pensar no quanto aquele garoto deitado no sofá era importante para si a ponto de desejar passar cada minuto que lhe restasse de vida ao lado dele.

Um futuro sem Jungkook seria como um filme da Disney sem música.

E pensando em filmes, Park percebeu que ele era o diretor daquele conto de fadas entre ele e Jungkook, então poderia fazer o próprio roteiro, poderia planejar como seria o final…. E, sinceramente, gostava da frase clichê "felizes para sempre".

Durante o momento em que Jeon dormia, ele aproveitou para fazer algumas pesquisas na internet sobre como deveria agir em situações como aquela, com medo de fazer algo errado e acabar deixando o garoto mal e com pensamentos negativos.

Queria que Kook se sentisse especial, e queria saber dizer palavras de conforto que realmente o deixassem um pouco melhor.

Não era uma pessoa muito boa para lidar com os problemas dos outros, embora fosse um mestre em lidar com os seus, não saber o que a outra pessoa estava pensando ou passando, era muito pior. Quando eram os seus problemas, Jimin poderia ignorar ou lidar do seu jeito; afastando todo mundo, ou colocando um escudo imaginário, impedindo qualquer pessoa de entrar na sua vida até que estivesse melhor para ver outras pessoas sem sentir ódio de si mesmo. No entanto, não era isso que queria que Jeon fizesse, não mesmo.

Aquela atitude, além de magoar todos os lados possíveis, não condizia nenhum pouco com o que o menino acreditava e era.

Jungkook era alguém tão doce e amável e Park não queria que essa essência acabasse.

Queria saber como lidar com aquela situação, e sabia que era capaz de passar por cima daquele obstáculo.

                                💤

Era pouco depois das oito da manhã quando Jeon acordou. Ele abriu os olhos com lentidão, sua cabeça tentava processar o que tinha acontecido e porquê estava deitado no sofá ainda. Tudo parecia ter sido um pesadelo, e, quando as recordações começaram a surgir em sua mente, foi que levantou depressa.

A casa estava silenciosa, não havia um único som presente. Olhou ao redor, com o cabelo mais bagunçado do que antes, e os olhos inchados, tentando manter a calma, mas a única pessoa que parecia estar ali na casa, era ele.

Esperou que Jimin saísse de trás da cortina e lhe desse um beijo de bom dia dizendo que era uma brincadeira. No entanto, o vento que balançava as cortinas, deixando evidente que não havia ninguém ali atrás.

— Hyung? 

Ele decidiu levantar para procurá-lo,  tropeçando e quase caindo em alguns momentos. Se escorou nas paredes para conseguir chegar até onde queria sem correr o risco de cair. 

Olhou nos quartos, no banheiro, na sala, na cozinha, até mesmo no telhado, mas nada.

Não encontrou nada. Jimin parecia ter desaparecido.

E para piorar a situação, sua pressão baixou, e não demorou muito para ele começar a enxergar somente alguns borrões, estava tudo preto. Perdeu o controle de suas pernas, e já não sabia para onde estava indo ou como tinha chegado até ali, mas estava lá fora, cobrindo seus braços por causa do vento fresquinho. Conforme ia respirando, tentando manter a calma, parecia que alguém estava segurando sua garganta e pressionando forte, o impedindo de respirar, seu ar começava a faltar, e o coração batia tão forte, que começava a lhe causar desespero.

Caiu próximo a porta da entrada de casa, quando já não tinha mais voz para falar alguma coisa e se convencia de que Park tinha o deixado ali. Seu corpo ainda estava um pouco mole e sua voz parecia ter sumido em fração de segundos. O silêncio incômodo começou a deixá-lo ainda mais desesperado.

Achou que talvez Park tivesse ido para a escola sem ele, ou que tivesse saído e o deixado ali, quando antes prometeu que estaria ali assim que acordasse.

Sem forças para se levantar ou para chamar por Park mais uma vez, Jungkook deitou no chão e tapou as orelhas antes de começar a chorar baixinho.

E, enquanto estava ali no chão, ele conseguiu ouvir passos longos e pesados vindo em sua direção, que ficavam cada vez mais altos. Os olhos ainda estavam fechados e ele não teve coragem de erguê-los para saber de quem se tratava. Só conseguia pensar no que faria caso alguém tentasse o pegar a força e o obriga-lo a fazer algo contra a sua vontade. Até porque, estava deitado na calçada, sem proteção, sem forças, sem alguém para lhe ajudar. Estava totalmente vulnerável.

— Kook?! – E só bastou uma fala para Jungkook respirar fundo em completo alívio e abrir os olhos tão rápido quanto levantou. Foi como despertar de um pesadelo, e, de repente, encontrar seu sonho caminhando em sua direção com os olhos arregalados e os braços abertos, pronto para acolhê-lo. — Por que está aqui, docinho? Por que está chorando? – Gritou tão alto, que até os vizinhos da esquina conseguiram ouvir.

Jimin largou as sacolas no chão e correu para pegá-lo no colo. Jungkook só conseguiu se jogar em seus braços, enquanto agradecia por Park estar ali.

— Jungkook, o que foi? Conta pro hyung, por favor. Alguém passou aqui? – O desespero era evidente em sua voz, e Jeon negou. — Então, o que aconteceu? Você…

— Hyung, você p-prometeu que estaria aqui quando eu acordasse. 

Jimin fechou os olhos com força, repetindo em sua mente todos os palavrões que conhecia, e até os que não conhecia.

— Desculpa. Eu fui no mercado comprar algo pra gente comer. Não quis te acordar, Kook…só quero que você descanse. – Ele se afastou um pouco para conseguir fazer o menino encara-lo, em seguida, limpou as pequenas lágrimas que rolaram por seu rosto.

— T-tá bom. Eu fiquei preocupado com você, hyung. Me assustei quando não te vi em casa.

O loiro apertou o menino em seus braços um pouco mais forte.

— Queria te fazer uma surpresa. Tentei fazer um café da manhã, mas eu não curti muito o resultado. – Kook soltou um riso soprado, e, nossa, Park sentiu um alivio tão grande ao escutar aquele pequeno sorriso. — Desculpa.

— A culpa não foi sua, Ji. – Desceu do colo dele limpando os olhos, e pegou as sacolas que o outro tinha deixado no chão. — Eu vou te a-ajudar a fazer, tá bom?

Park soltou um suspiro aliviado, se assustou tanto que as pernas ficaram moles. E, parece que seu Jungkook estava de volta, não totalmente, mas uma parcela, era típico de Jeon se animar para preparar para um café da manhã.

Mesmo assim, ainda estava preocupado, os olhos dele estavam vermelhos pelo recente choro, e Park se sentiu culpado por ter deixado ele sozinho em casa.

— Tem certeza que tá tudo bem, hein? – Se aproximou, dando um cheiro no pescoço alheio e sentiu Kook quase derreter em seus braços. — Não me dá um susto desse de novo ou você vai ficar viúvo cedo. – Disse entrando para dentro de casa e gargalhando pela expressão do rosto do outro.

— Hyung, mas viúvo se usa pra quem já é casado!

                                   ☕

Jimin gostava da sensação que a manhã lhes trazia.

Eles pareciam um casal caseiro se ajudando com as obrigações da casa, facilmente protagonistas de um filme clichê.

Enquanto Jungkook limpava a mesa, Jimin lavava a louça suja, enquanto Jungkook dava banho em Mike, Jimin tentava matá-lo afogado, apenas para ver a carinha do mais novo e roubar um selinho dele quando viesse o biquinho bonito, e pra finalizar, enquanto Jungkook finalizava os lanches, Jimin esperava sentado junto com Mike em uma das cadeiras da cozinha, como estavam agora, depois de cumprirem todas as obrigações e lavarem os rostos.

O que Jungkook estava fazendo? Batendo chantilly.

De quem foi a ideia? Do próprio Jimin. Sim, daquele que um dia jurou que nunca seria bobo por alguém.

O Motivo? Nada demais. Ele apenas queria reproduzir aquelas cenas de filme super boiola onde os protagonistas lambuzam a cara um do outro com chantilly, e depois se beijam bastante enquanto gargalham alto e dizem um para o outro o quanto se gostam.

A ideia funcionou.

Enquanto Kook colocava o chantilly no pratinho, Jimin pegou uma quantidade razoável e colocou no dedo indicador.

— Sabe como deixar o chantilly mais gostoso? – Perguntou provocativo, e quando recebeu uma resposta negativa, passou o chantilly no narizinho grandinho. Jeon soltou um grito alto, desacreditado, e arregalou os olhos.

— Ah, hyung! Eu sei que meu nariz é grande, mas não dá pra cobrir ele de chantilly e tentar fazer um bolo!

— Tem certeza? 

— Você vai ver só! – Ele repetiu o gesto do mais velho, mas foi um pouco mais cruel, pegou o prato inteiro e deu uma tortada na cara dele.

Jimin ficou com o rosto completamente branco e sujo, tinha chantilly por toda parte. Ele limpou os olhos, e colocou a mão na cintura, desacreditado. Não achou que Jeon fosse capaz de fazer isso.

Limpou o rosto com um pano de prato apenas para não ficar parecendo um Gasparzinho, em seguida, pegou o que restou do prato, e passou nos lábios do menino depois de prensá-lo contra a parede, o impedindo de sair dali.

Jeon se debateu, tentando tirar aquilo dali, mas sem sucesso. Sua gargalhada foi como um combustível para Park.

— Quer ajuda pra limpar isso? – Sussurrou com a voz extremamente rouca próxima ao ouvido de Jeon, este que, por sua vez, soltou um arfar alto e automaticamente levou uma das mãos até seu ombro, apertando o local com certa força.

— O-o que vai f-fazer, hyung?

— Eu vou limpar pra você. — Colocou uma das mãos na parede e se aproximou um pouco mais para conseguir mordiscar a orelha dele. Sentiu Goo se arrepiar por inteiro, e o segurou pela cintura, para garantir que o menino ficasse em pé. — Você quer?

— P-por favor… – Autorizou, tombando a cabeça para o lado, dando liberdade para Jimin explorar seu pescoço.

No entanto, o mais velho ainda tinha a mesma preocupação de antes.

E se estivesse passando dos limites?

— Jungkook, quer que eu me afaste e a gente siga apenas preparando o café da manhã? Não me importo de fazer isso, não quero que se sinta desconfortável. – Colocou o cabelinho grande para trás.

— H-hyung…esquece o que eu te falei o-ontem, só por um m-momento. Eu não quero lembrar de nada disso, s-só quero saber de você agora, e nesse momento, quero muito que me ajude a limpar isso. – Apontou para o creme branco próximo a sua boca com um sorriso sapeca. — A gente já fazia coisas assim antes de eu te falar, v-vamos continuar…já disse que eu confio em você, hyung. Gosto das suas provocações, mesmo que às vezes não saiba o que fazer.

— Certeza? – Deixou um beijo molhado no pescoço dele.

— Quando estou assim com você, me esqueço de tudo. E adivinha o que eu quero fazer agora?

— Me beijar pra caralho até não conseguir respirar? 

Ele mordeu os lábios e desviou o olhar.

— E-eu ia dizer esquecer, mas acho que isso serve. – Sorriu, envolvendo o pescoço do mais velho.

Jimin levou uma das mãos até o rosto de Jungkook, onde iniciou um carinho na bochecha gordinha, e ele fechou os olhos, inclinando a cabeça pro lado, querendo mais daquele contato.

Em seguida, Park se aproximou o suficiente até estar com a boca rente ao queixo do mais novo. Podia sentir o peito dele subindo e descendo de maneira contínua e rápida, Jeon mexia as mãos ansiosas, apertando o ombro de Jimin, descontando a ansiedade.

Se aproximou um pouco mais, e passou a língua no canto da boca de Jeon, retirando o chantilly que tinha colocado mais cedo. O outro precisou parar de respirar por um momento, quase derreteu ali mesmo, suas pernas ficaram moles, e tinha certeza que cairia se não fosse os braços fortes do mais velho envolvendo sua cintura firmemente.

— Você realmente está um docinho agora. – Foi a última coisa que disse antes de tomar os lábios alheios em um beijo caloroso.

Jeon esperou pelo beijo a manhã inteira, e o cuidado que Jimin estava tendo consigo, era tão, tão bom. Levou uma das mãos até os fios loiros, e puxou sem muita força, tocava na pele do seu hyung a todo momento, apenas para ter certeza de que aquilo não era um sonho, dava espaço em sua boca, deixando a língua de Park passear lá dentro.

E, aquilo só serviu se confirmação para algo que já sabia; confiava tanto nele, que pensar em deixar Jimin passear as mãos gentis por seu corpo, não parecia uma má ideia, ainda que um pouco distante, pois eles tinham o próprio ritmo, e não precisavam avançar os sinais para tornar o beijo bom, isso era o que tornava tudo mais especial.

O beijo tinha um toque de desejo, mas Jeon sentia o carinho em sua bochecha ainda, sentia Park fazer uma massagem em sua nuca para deixando confortável, sentia Jimin sorrir entre o beijo, denunciando que estava tão contente quanto ele, e sentia o coração de Park bater tão forte quanto o seu.

Era nos mínimos detalhes que Kook conseguia sentir o carinho e o respeito que o mais velho tinha consigo.

Sentia todos os seus pelos se arrepiarem conforme o beijo começava a ganhar um ritmo um pouco mais rápido. E, quando já não conseguia respirar, ele precisou se afastar, e teve o lábio inferior sugado pelo mais velho, seguido de vários selinhos para finalizar o beijo com gosto doce.

— Eu gosto tanto de seu beijo, hyung. – Encostou as testas, com a respiração desregulada.

— E eu gosto mais ainda do seu. – Devolveu o elogio, abraçando a cintura dele de novo. — Quero te mostrar uma música.

— Hm?

— Uma música. Você quer ouvir comigo antes da gente ir?

— Eu quero, hyung.

Jimin pegou em sua mão e o conduziu até a sala, e depois voltou para pegar Mike.

— O Mike é testemunha do nosso… – Não soube como completar. — Da nossa amizade colorida.

— Não se preocupe, hyung, ele sabe guardar segredo. – Respondeu, piscando para a pelúcia, está que, ficou apenas com a mesma cara de sempre, mas com o olho bem atento que intimidava completamente Jimin. 

— Não foi o que pareceu quando ele te disse…

— De novo essa história, Ji?! – O interrompeu gargalhando enquanto se jogava no sofá. — A culpa não foi dele.

— Foi sim. Eu me senti super caluniado quando o Mike disse que eu tinha ensinado ele a falar palavrão! – Se defendeu, pegando o controle para ligar a TV.

— Você tem que tirar isso do seu coração!

— Não dá. – Se virou para ele. — Essa história é igual você, não consigo tirar do meu coração.

Kook mordeu um sorriso e desviou o olhar, completamente sem graça.

— Você fica uma gracinha quando fica com vergonha assim. – Murmurou ajoelhando no chão e levando uma das mãos até o cabelo Kook, iniciando um cafuné gostoso. O moreninho ronronou como um gatinho manhoso, aprovando totalmente. — Dança comigo? – Perguntou lhe estendendo a mão, e Jeon abriu os olhos de imediato, assentindo com a cabeça. — Lembra que eu tinha dito que gosto da Lana del Rey? É uma das minhas músicas preferidas dela, vou dedicar pra você.

Ele deu play na música, e quando ela começou a tocar, Jimin o puxou para perto e, olhando fundo em seus olhos, colocou a mão em volta da cintura dele. Eles não desviaram o olhar nem por um segundo, conseguiam ver através dos olhos um do outro o nível da intensidade que queria transmitir um para o outro, esse era o tanto que se gostavam, queriam dizer aquilo apenas com o olhar, e funcionou, o sorriso grande que se rasgou nos lábios deles comprovou isso.

Jungkook pôs uma das mãos no peito de Park quando achou que deveria entrar na dança, e o mais velho levou a mão vaga de Jeon até o seu coração, deixando as mãos juntas, sentindo a batida da música e a batida do coração com a outra. Balançavam de maneira lenta, quase sem se mexer, desfrutando do momento tão bom.

Quando o refrão soou, Kook descansou o rosto no peito de Jimin, e Jimin apoiou o queixo sobre a cabeça dele, esperando que o garoto estivesse sentindo o que queria dizer com aquilo. Mas, ainda sentia que estava faltando algo.

Deixou toda a timidez de lado, quando, olhando no fundo dos olhos de Jeon, cantou o trecho que o fez dedicar a música para ele:

— "Eu só queria que você soubesse
  Que, amor, você é o melhor"

                                🧸

Eles chegaram um pouco depois que o sino da terceira aula tinha batido. Assinaram o livro preto, e justificaram o atraso dizendo que tinham perdido a hora, o que não deixava de ser mentira, apenas ocultaram o motivo, ninguém precisava saber.

A todo momento, Jungkook ficou em completo silêncio, sem dizer uma só palavra, só apertava o braço de Jimin quando ficava sem jeito ou lançava um sorriso fechado e abraçava o mais velho de lado, para dizer que estava ali. Mesmo tendo dormido por um tempo, Jungkook ainda parecia estar com sono, é claro que duas horas e meia não eram o suficiente para suprir uma noite toda sem dormir, mas o garoto acordou aparentando estar ainda mais cansado.

Aquilo deixava Jimin preocupado. Tinha medo dele começar a se retrair e mudar seu jeito por causa do antigo vizinho, por talvez pensar que estava chamando atenção, por achar que as pessoas tinham o direito de fazer alguma coisa sem a sua autorização. Jungkook estava super sorridente quando estavam trocando carícias mais cedo, mas quando estava rodeado de pessoas, aquele jeito fechado aparecia de novo.

Queria seu Jungkook falante de volta. Aquele que fazia mil e uma perguntas aleatórias logo pela manhã, aquele que sempre dizia o que estava pensando, e aquele que dava pulinhos de alegria quando ficava animado com algo. Queria que Jeon ficasse da mesma forma que ficou quando estavam a sós.  

Eles chegaram na sala de mãos dadas, sem se importarem com os olhares alheios, como sempre.

Tudo que se ouvia era o grito alto dos alunos e a professora repreendendo eles em meio a mais gritos. Seria aula de educação física, e os dois agradeceram por isso, pois assim, poderiam ficar a sós na sala, como queriam ficar. 

— O que estão fazendo aqui? 

Jimin se surpreendeu quando, assim que pisou os pés na sala, viu todos os meninos ali, conversando e rindo. Eles estavam em lugares diferentes, cada um na sua mesa, mas o lugar dele e de Kook estava sendo guardado por Hobi, que mantinha as duas mãos escoradas nas cadeiras deles.

Quando ouviram a voz de Park, se ajeitaram na cadeira e levantaram correndo, preocupados, os olhos quase saindo para fora.

— O que aconteceu com vocês? A gente tava preocupado. – Jin colocou a costa da mão na testa de Jimin, conferindo se o loiro não estava com febre, depois fez o mesmo com Kook. — Tudo bem, Kook? Você está um pouco quente…

Jungkook sentiu vontade de correr para o colo dele e chorar mais um pouco, dizer que não sabia se estava bem, que aquela noite não tinha sido boa e que estava assimilando os últimos acontecimentos ainda. Suas emoções estavam afloradas, então, ficava triste tão rápido quanto ficava feliz, e vise e versa.

No entanto, apenas balançou a cabeça, espantando aqueles pensamentos.

— É porque eu acordei agora, hyung. Eu acabei fazendo o Ji se atrasar.

— Por que não mandaram uma mensagem avisando a gente? – Yoongi, por mais que tentasse segurar a língua, não conseguia manter a pose diante de uma situação como aquela. Por mais que não fosse algo muito alarmante, eram uma família, e uma família de verdade se preocupa com a ausência sem explicação das pessoas que ama. — Eu fiquei preocupado.

— Não achei que fosse necessário, não tivemos tempo de lembrar disso. – Jimin suspirou, olhando com sinceridade para os amigos. E apenas com aquele olhar, eles conseguiram ver que se tratava de um assunto sério. 

— Relaxa, toquinho. Sabe que somos superprotetores, é normal ficarmos assim, vocês dois são as nossas crianças. – Tae disse em uma fala sincera, fingindo dar um soco na cara dele.

— E eu chamei todo mundo aqui porque vocês dois me deixaram sozinho aqui com aquele povo chato da sala, cara. Como conseguiram me deixar aqui sozinho?! – Hobi dramatizou, colocando a mão no coração.

— Foi mal, Hobi. É que hoje realmente não foi nosso dia… – O loiro respondeu, e Jungkook encolheu os ombros, apertando a mão do mais velho um pouco mais forte.

— Hyungs…por que não estão na sala de vocês?

— A gente pediu pra trocar de sala, pra ficar com vocês. – Namjoon respondeu, ajeitando os óculos. — Tudo bem que o Hoseok precisou ir chorar na nossa sala pedindo pra gente ficar aqui com ele porque ele estava preocupado com vocês…detalhes.

— Era só atuação, não estava chorando de verdade. – Defendeu-se. — Aí, bonitões…eu tava quase mandando uma foto de vocês pra polícia e registrando um desaparecimento, mas, aparentemente, faltar na escola não é motivo de alarme. Além disso, eu teria que esperar pelo menos setenta e duas horas para registrar.

— Caralho, você realmente tentou ligar pra polícia? – Jimin se sentou na sua cadeira, puxando Jungkook para se sentar em seu colo. 

— Eu fiquei preocupado de verdade. – Fez bico e cruzou os braços. — Mas entendo que precisam de momentos a sós, e que não precisam falar pra gente sobre a intimidade do casal.

Jungkook soltou um riso fofo ao escutar a última palavra, e aquilo não passou despercebido pelos outros, inclusive por Jimin.

— Então, vocês mudaram de sala mesmo? – O loiro quis confirmar.

— Não, não. A gente tá aqui vendo qual cadeira é mais dura pra sentar. – Respondeu Yoongi com o típico tom sarcástico que sempre usava pra responder às perguntas óbvias de Park. — A gente trocou de sala, não tá vendo? 

— Sério? – Kook tinha os olhinhos inchados pelo recente sono, e o tom animado de sua voz foi totalmente chocante para Park. Ficou feliz em ver que Jungkook já aparentava estar melhor, mais solto em comparação a quando chegaram na escola. Era assim que queria, e talvez ele só estivesse tímido, porque se soltou facilmente enquanto conversava com os amigos. — Nosso grupo está reunido na sala então, hyungs? Vamos estudar todos juntos?

— Tá mais que reunido. – O platinado respondeu, apresentando o sorriso gengival que derretia qualquer um, até mesmo Jimin tinha que admitir que ele ficava fofo assim.

— Mas tipo, do nada assim? – Park voltou a perguntar.

— Você por acaso não tá querendo que a gente fique com vocês? – Jin franziu as sobrancelhas e cruzou os braços. — Pois saiba que seu pedido não será acatado.

— Não é isso, eu só perguntei por curiosidade. E se a gente precisar fazer um trabalho em dupla? – Argumentou. — Um vai ficar sobrando.

— Eu vou ficar sobrando, né? Como sempre. – Taehyung respondeu, dando de ombros. — Não se preocupa com isso não, eu faço com qualquer pessoa aleatória aí. – Apontou pra sala. — Me dou bem com todo mundo, geral me ama.

Namjoon gargalhou enquanto revirava os olhos e abraçava o namorado.

— Ou a gente pode fazer dupla de três! – Hoseok sugeriu, se referindo aos três de sempre: Ele, Yoongi e Taehyung. Arrancou um riso soprado dos dois, que deixaram claro que não era uma má ideia, apesar de, na prática, não dar certo.

Tae gostava de não se sentir deslocado entre o casal, ao invés de sentir que estava atrapalhando, ele sentia que estava somando. A amizade e ligação que os três tinham era algo realmente inexplicável mesmo sendo opostos, e isso era um dos fatores que Kim gostava.

Na verdade, se tinha algo que Tae gostava, era de ver os amigos com as suas pessoas servindo de inspiração para seu futuro relacionamento. 

Jimin e Jungkook. 
Seokjin e Namjoon.
Yoongi e Hoseok.

Queria se dar bem no amor como os amigos se deram, e gostava de ver os casais se esforçando para deixá-lo confortável.

— Falando nisso, tenho algo pra contar pra vocês. – Aqueles que ainda estavam em pé sentaram nas cadeiras e se inclinaram para frente com os olhos atentos. — Eu vim pra escola com o Bogum hoje.

— Mas ele não mora quase do outro lado da cidade? – Kook questionou, se aconchegando no colo de Park.

— E como você sabe disso? – O loiro retrucou o encarando.

O menino virou para trás, e ficou tão perto de Park, que se estivessem a sós pediria por um beijo. A respiração quente do seu hyung batia contra seu rosto.

— Ele me contou um dia, hyung.

Ele assentiu, puxando Jeon para encostar a costa no seu peito. Não se importou com os olhares insinuantes e maliciosos que recebeu dos amigos, afinal, não tinha nada pra esconder mais.

O soco já tinha sido dado, não tinha mais volta.

— Mas o Kook tem razão. – Namjoon pontuou. — Vocês se encontraram no meio do caminho ou algo assim?

— Ele me mandou mensagem dizendo que tinha comprado churros, aí perguntou se eu queria. O que é um pouco estranho, considerando que ele foi comprar churros na banquinha da esquina.

— Deixa eu ver se entendi… – Hobi fez um sinal de "pare" com as mãos, tentando recapitular pra ver se não tinha deixado passar nada. — Então, ele atravessou a cidade só pra comprar churros e ter assunto contigo?

— Não sei se foi exatamente assim que aconteceu. Talvez ele só tenha ido fazer algo lá perto. – Deu de ombros.

— Mas você aceitou o churros? – Yoongi fez a pergunta que achou mais importante. Kim fez que sim com a cabeça. — E não guardou um pouco pra mim?

— Eu tô contando um assunto super importante pra mim, e você só consegue focar na parte da comida, seu respingo de porra?

O platinado fez uma cara de tédio, depois lhe mostrou os dois dedos do meio.

Jungkook soltou um riso fofo, achando engraçado o apelido que Tae deu para Yoongi.

— E você gostou de vir com ele? – Jin voltou a perguntar.

— Ah…eu gostei da companhia, ele tá meio diferente, acho que realmente tá tentando algo. – Lembrou da maneira que Bogum tentou pegar em sua mão mais cedo, sem sucesso. — É legal saber que ele provavelmente atravessou a cidade pra me ver. Eu não conhecia esse lado dele, e sinceramente, estou disposto a explorar um pouco mais.

Os meninos assentiram, orgulhosos de ver como Kim parecia confiante em relação a aquilo.

— O que vocês acham? – Batucou os dedos pela mesa.

— Considerando que ele foi meio cuzão com a gente no começo, não é muito fácil de acreditar que ele fez isso. – Jimin disse. — Eu ainda acho que ele é meio cuzão, mas você também é, então tá tudo bem. 

Tae revirou os olhos e se levantou, ficando em frente à cadeira que o loiro estava.

— Kook, pode dar licença? Vou sentar a mão na cara desse anão!

— Para de ser otário, tô só falando a verdade. – Jimin gargalhou, colocando Jeon em sua frente.

— E outra…essa parte de dar na cara do Jimin, eu que faço! – Yoongi disse, indignado.

— Eu acho que se você gosta da companhia dele, já é alguma coisa. – Namjoon ditou sério, fazendo os meninos pararem de palhaçada e focarem no assunto. — Você tem noção que ele foi comprar um churros perto da sua casa só pra ter uma desculpa pra conversar com você? Ele tá se esforçando pelo menos. Como você se sente?

— Eu gostei da sensação…é como se a gente só estivesse se conhecendo agora, ele é como um desconhecido tentando me conquistar. E é bom saber que tem alguém se esforçando por minha causa. – Soltou um sorriso sem graça.

— Hyung, você fica sorrindo assim toda vez que pensa nele? –  Kook perguntou, querendo ajudá-lo. Saiu do colo de Park, e se sentou ao lado do outro, para segredar baixinho: — Eu fico assim quando penso no Jimin hyung, sabia?

Jimin mordeu um sorriso que queria aparecer em seus lábios, mas foi meio impossível controlar. Quando Yoongi o encarou levantando as duas sobrancelhas e Namjoon o encarou encantando, como se Park estivesse fazendo um ótimo trabalho, ele sorriu.

Para os meninos, era novo ver Jimin sorrindo bobo daquele jeito para alguém.

— O que eu devo fazer então, Kook? – Kim perguntou. E, mesmo que o mais novo fosse o menos experiente, ele sabia exatamente como aconselhar alguém, afinal, já tinha passado por algo parecido.

— Hyung…você não tem que fazer nada. Deixa ele te conquistar, você disse que gosta, não é? – O outro fez que sim com a cabeça. — Acho que você ainda está com a imagem do antigo Bogum, por isso pode parecer estranho. 

— Acho que é isso mesmo. Tinha dito que queria uma pessoa decidida, que me queira sem ficar se questionando ou precisando de tempo, e hoje ele me mostrou isso…é um bom sinal, se eu não achasse importante, não teria comentando sobre com vocês. – Sorriu sem jeito, coçando a nuca.

— Você vai ficar com ele se a gente não aprovar? – Yoongi cruzou os braços, e franziu as sobrancelhas.

Houve uma pausa, Kim provavelmente estava pensando em uma resposta. E, mesmo que todos tivessem gargalhando com a clara brincadeira de Yoongi, aquilo era importante para Tae.

— Eu ainda nem sei se vai dar certo. Mas se der, eu ficaria muito feliz se as pessoas mais importantes para mim aprovassem também.

— Se…se você realmente achar que isso pode dar certo, devia começar a incluir ele no nosso grupo. – Por mais que dizer aquilo fosse ferir um pouco do seu orgulho, Jimin queria o bem de Taehyung, e se a felicidade do amigo estivesse em jogo, estava disposto a fazer dar certo também. — Sabe que a gente não vai permitir que ele te roube de nós, né?

— Eu já disse pra ele que ele vai ter que conquistar sete pessoas, e não apenas uma.

Eles gritaram enquanto aplaudiam e quase se jogavam no chão sujo da sala, se achando por serem importantes a esse nível.

— É bom mesmo. Já vou logo avisando que eu sou uma pessoa muito difícil de conquistar. – Yoongi empinou o nariz.

— Eu também. – Jimin cruzou os braços. 

Jungkook sentou novamente no colo de Jimin.

— Você é muito difícil mesmo, hyung. Deu muito trabalho pra te conquistar.

Se perguntassem para Park o que deu na cabeça dele de roubar um selinho de Jeon na frente dos meninos, ele não saberia responder. Foi automático, quando se deu conta, já estava com uma das mãos na bochecha dele enquanto os dois tinham os lábios grudados.

Foi questão de segundos. Apenas um estalar, mas obviamente não passou despercebido pelos outros.

Eles encararam Park como se ele tivesse acabado de beijar pela primeira vez, as expressões de choque e de surpresa. 

— Essa foi a coisa mais linda que eu já vi você fazendo. – Namjoon disse cobrindo os olhos enquanto quase explodia de amores. 

Jin sacou o celular do bolso e apontou para eles. 

— Façam de novo, por favor!

Jungkook abraçou o pescoço de Park e escondeu o rosto na curvatura do pescoço dele sentindo a pele queimar e as orelhas pegarem fogo.

— É sério mesmo, se alguém me dissesse que rolou isso aqui, eu não ia acreditar. – Yoongi fez questão de gritar bem alto. 

— Vocês são muito fofos! – Exclamou Tae colocando as duas mãos no coração e fingindo desmaio. — Ó eu desmaiando de amor, ó!

— Gente, por favor, agradeçam a mim, eu que juntei eles. – Hobi falou, se gabando. — Eu vou ser o padrinho do casamento, e vou escolher o nome do primeiro filho!

— Não! Eu quero escolher o nome do filho também! – Jin exclamou apontando para o próprio peito, e os dois se olharam com os olhos semicerrados, prontos para iniciarem uma briga ali.

— Eu que vou!

— Eu também!

— Mas eu falei primeiro!

— Gente… – Jimin rolou os olhos, escondendo a pequena onda de timidez que passou pelo seu corpo. — É sério que vocês estão brigando pra escolher o nome de uma criança que nem existe?

— Mas vai existir! – Os dois gritaram em uníssono.

Jungkook permaneceu encolhido no colo do Jimin, mas não deixava de dar risada quando ouvia os meninos discutirem coisas sobre o futuro dos dois.

Engataram em uma nova conversa após algum tempo, mas sempre voltavam nesse assunto e quase imploravam pra eles darem um beijinho, apenas um beijinho, mas Jungkook ainda estava muito tímido para fazer outra coisa além de se esconder no pescoço do mais velho, já Jimin, não achava uma má ideia dar outro selinho em Jungkook.

E quando sino bateu novamente indicando que era a hora do intervalo, saíram para fora com a mochila de lanche nas mãos antes que o pessoal da sala voltasse e começava a se trombar com aquele cheiro de suor, se sentaram debaixo da árvore deles e conversaram sobre absolutamente tudo.

Yoongi contou que ele e o namorado queriam adotar um porquinho da Índia, para completar a família. 

Taehyung recebeu uma ligação de Bogum, e ficou tão nervoso que desligou na cara dele umas cinco vezes, porque não sabia o que falar. Mas para a sua sorte, os meninos o incentivaram a atendê-lo para, pelo menos, saber o que era, e isso deixou Kim feliz, porque sabia que os meninos não iam muito com a cara de Bogum, mas estavam ali para apoiá-lo.

Ele atendeu e colocou no viva-voz, e Bogum ganhou um pouco mais de respeito dos meninos quando disse que ligou pra ver se Tae estava bem, e quando Tae disse que sim, Bogum desligou o telefone depois de responder "que bom".

Namjoon contou que tinha conseguido um emprego fixo em uma cafeteria chique, graças ao Senhor Jeon, e os outros pularam de felicidade junto com ele, ainda mais quando Jin revelou que os dois estavam pensando em fazer um casamento de mentira para simbolizar o amor dos dois, porque sabiam que não poderiam se casar de verdade.

A manhã se passou assim, agora que estudavam na mesma sala, davam o dobro de trabalho para a professora, até Jungkook estava no meio. 

E aquela manhã parecia ter sido planejada por Deus para renovar suas forças, porque Kook se sentiu assim…essa era a importância de ter esse tipo de pessoa na sua vida, eles não sabiam, mas estavam salvando Kook dele mesmo.

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