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Nunca tinha ido a uma loja de artefatos antes, hoje é a primeira vez. Comemos pequenos salgados no caminho que Astrid traça. Sigo Astrid por ruas estreitas e movimentadas, essa é uma parte do centro de Nova York que eu não conhecia.
── Como você descobriu onde ficava essa loja de artefatos?── tento puxar conversa.
Astrid estava alerta o tempo todo, olhando para o lado e com uma expressão muito séria.
── Pesquisei. ── responde baixo.
Caminhamos mais um pouco, até que entramos em um beco que parecia sem saída, fomos em frente a um muro de pedra, de repente, quando penso que Astrid simplesmente enlouqueceu e não está me levando a lugar nenhum.
Ela vira à esquerda, onde havia uma longa passagem para o final do beco.
Havia uma pequena loja, com vitrines sujas e empoeiradas, a pequena parede abaixo das vitrines com a tinta branca descascando e o lodo subindo, uma placa velha e suja que dizia "Clock Top, Loja de Artefatos".
Através do vidro é possível ver uma estante com livros que tapa a visão do interior da loja, ao lado de uma portinha preta, a única coisa que parecia ter sido preservada. Ao contrário de todo o ambiente empoeirado, a porta estava limpa e parecia recém-pintada.
Astrid vai até a porta e a abre para que eu possa entrar. Tenho visual da loja.
Ao adentrar no local, observo os detalhes. A iluminação da loja era amarelada e ela era enorme por dentro. Três grandes fileiras de estantes coladas na parede, outras três fileiras de estantes no meio da loja, as da frente, prateleiras com alguns vasos e objetos de madeira, as últimas objetos e mais livros.
── Olá, como posso ajudá-las?── sou surpreendida com uma jovem de pele escura, cabelos pretos cacheados e olhos azuis.
Fico entorpecida com sua beleza por uma estante, ela ri e balança a cabeça.
── Banho de lua e rosas vermelhas.── viro a cabeça confusa e ela apenas sorri novamente.── Podem me chamar de Vyn.
── Ela precisa da sua ajuda.── Astrid se aproxima de Vyn.
── Como?
──Evangeline está com problemas.── Vyn muda seu olhar para mim.── Não tenho certeza do que é, você vai me dizer.
Astrid vai até uma estante próxima e pergunta.
── Onde estão os grimórios?
Vyn arregala os olhos e endireita a postura.
── Eu não tenho grimórios.── responde bruscamente.
── Tem, eu passei aqui antes, falei com sua mãe.── Astrid rebate.
Vyn parece confusa e indecisa do que fazer.
── Tudo bem.── ela suspira e vai para o outro lado, caminha até a segunda estante.
Entre as prateleiras de madeira, há uma pequena caixa marrom clara. É detalhado com desenhos geométricos pretos e dourados.
Vyn enfia a mão dentro de seu vestido marrom fino e tira uma pequena chave.
Vira a caixa de madeira um pouco para o lado e coloque a chave na fechadura e gira.
Ela abre a caixa e a coloca de volta na prateleira e puxa a tampa para cima.
Três livros extremamente grossos são exibidos, suas lombadas com o mesmo símbolo. Uma pequena lua invertida.
── O que há de errado com a garota?── refere-se a mim.
── Tenho pesadelos e acordo arranhada── Respondo antes de Astrid.
Vyn me estuda por longos segundos.
── Pesadelos eróticos? ── pergunta.
Concordo com a cabeça, sentindo meu rosto esquentar.
── Você está sendo atormentada por um demônio.
Não acredito em demônios, mas por algum motivo um arrepio percorre minha espinha.
── Páginas 302 e 307.── Ela puxa o grimório com a capa azul escura.
Pego o grimório de suas mãos dela e analiso, noto que na capa está escrito "Grimório II" e no rodapé, "κατάρες".
Reconheço que é a mesma linguagem da tatuagem de Damon.
Antes que eu possa abrir o grimório, Vyn me interrompe.
── Não abra isso aqui.── ela fecha a caixa e a guarda novamente.── Passe amanhã à tarde e me devolva.── olha em meus olhos.
── Livro interessante, este ai.── ouço a voz grossa de Anthony atrás de mim.
Me viro assustada, Astrid parece ficar pálida olhando para ele.
Anthony mantinha uma expressão inexplicável, usava a mesmas roupas pretas de sempre, seu rosto parecia cansado e mais magro.
Astrid logo coloca um sorriso no rosto e fala.
── Oh, não esperava encontrá-lo aqui.── Olho para suas mãos, um pote de porcelana com detalhes azuis.
── Nem eu.── ele muda seu olhar para mim. ── Olá, Evangeline.
Abro um pequeno sorriso, sinto meu estômago revirar só de estar perto dele. Lembro-me da noite em que liguei.
── Eu quero levar.── Ele levanta um pouco o pote.
Vyn passa por mim e Astrid e vai até um balcão.
── O valor é de 359 dólares. Ele tem noventa e oito anos.── Vyn se inclina contra o balcão.
── Eu sei, eu conheço a história deste. É da antiga família Devora, todos foram queimados vivos.── Anthony diz com um sorriso no rosto.
Vyn se abaixa e pega um saco de papel pardo e cuidadosamente coloca o vaso nele. Anthony enfia a mão no bolso e tira a carteira.
── Muito obrigado pela compra.── Vyn diz assim que Anthony entrega o dinheiro.
── Tchau meninas, até depois.── Anthony vira as costas e sai da loja.
Observando-o caminhar vagarosamente, me desperto de meu transe pela voz de Vyn.
── Tenho algo para você.── Ela vira as costas e vai até uma mesa de vidro nos fundos.
Na mesinha, havia pequenos vidrinhos, vejo ela pegando duas garrafinhas.
── Aqui.── Ela coloca os vidros nas mãos de Astrid. ── O de tampa preto é uma espécie de loção que afasta os maus espíritos.
Astrid vira as garrafas e a analisa.
── Aquele com a tampa vermelha, coloque uma gota na sua água e beba antes de dormir. É como um amuleto, vai te proteger.
── Certo, muito obrigada. Viemos devolver o grimório amanhã.── Astrid fala logo em seguida.
Vyn pega uma sacola marrom e coloca os frascos da mão de Astrid dentro, eu estendo a mão e entrego a ela o grimório.
── Se não devolverem, irei atrás de vocês.
Seus olhos azuis parecem perfurar minha alma.
── Voltaremos.── Astrid pega a sacola de suas mãos.
── Até amanhã, Vyn.── me despeço e sigo Astrid para fora da loja.── O que você pretende fazer agora?
── Iremos até sua casa e leremos antes de escurecer.── responde Astrid.
── Temos aula amanhã.── comento.
── Sim, eu sei, mas agora minha preocupação é outra.