Um Inquilino e Meio

By guqpjm

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[EM ANDAMENTO] [EM REVISÃO, ESTÁ SUJEITA A ERROS] Jimin se vê atolado de dívidas depois que o dinheiro que su... More

Apresentações
[1] Dívidas.
[2] Soluções.
[3] Reforma.
[4] Mudança.
[5] Lar.
[6] Amigos.
[7] Proteção.
[8] Jeon's.
[9] Sol.
[10] Invasão.
[11] Ciúmes?!
[12] Promessa.
[13] Próximos.
[14] Próximo passo.
[15] Depois.
[16] Fazenda.
[17] Frutas.
[18] Me conte.
[19] Eu e você.
[20] Você merece.
[21] Cuidar de você.
[22] Recomeçar.
[23] (re)começo.
[24] Importância.
[25] Barracas.
[27] Único.
[28] Aprendizados.
[29] Aniversário?
[30] Ãn?
[31] Meu tchan.
[32] Um chuchu que colhi na vida.
[33] Futuro.
[34] Amor e seus significados.
[35] Novas sensações.
[36] Como quiser.
[37] Primeira vez.
[38] Fizemos amor!
[39] Abacaxi.
[40] De mentirinha.
[41] Descobertas. 2
[42] Ciclos.
PRÉ VENDA DE UIM!

[26] Sem bandanas.

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By guqpjm


                             Oi, oi.

      Não comentei por aqui, mas pra
quem ainda não sabe, Um inquilino
      e meio vai se tornar livro físico
               pela Editora Promise!

         
               Já me seguem no insta?
       Tô sempre por lá dando spoiler.

                        Boa leitura💚

          ⚠️Esse capítulo pode causar
    gatilhos para algumas pessoas⚠️

              #GarotoDasBandanas🤕

Ter que voltar para a realidade depois de alguns dias vivendo em um conto de fadas, nunca era algo bom.

Enfrentar uma guerra interna consigo mesmo, e, mesmo não tendo nenhum oponente, sentir que está perdendo para si mesmo, talvez fosse uma das piores sensações que alguém poderia sentir.

Era assim que Jungkook estava se sentindo.

Não que estivesse chorando pelos cantos ou andando triste por aí. Mas sentia que estava faltando algo da sua parte.

Sentia que estava falhando como o amigo colorido de Park. Observar seu hyung se esforçar tanto na relação deles, fazia Jeon se sentir um completo idiota.

Um idiota por não conseguir ser forte à ponto de lhe contar seu maior segredo, quando Jimin confiou em si para contar o dele. 

Quando aceitou recomeçar, queria ter a mesma coragem do mais velho, no entanto, suas feridas ainda pareciam estar abertas toda vez que pensava em entrar no assunto.

Não sabia como dizer, ou o que dizer. Sua única certeza era que queria dizer.

Durante aqueles dias, esteve pensativo, e, consequentemente, um pouco mais manhoso. Queria aproveitar cada instante ao lado de Park, com medo de que o mais velho se cansasse de si. Era algo que martelava em sua mente.

Estava mais carente do que o normal, não 
quis largar Jimin por nada.

Dormiam coladinhos e acordavam quase fundidos um ao outro.

Quando estavam na escola, Goo torcia mentalmente para que o tempo passasse rápido para que pudessem voltar para casa e assistir um filme enquanto ficavam abraçados, trocando carinho e beijos molhados.

Jimin, mesmo sabendo que algo estava errado, lhe deu todo o carinho e atenção que estava precisando. Não quis dizer nada, não queria que Kook se sentisse pressionado.

A semana seguiu assim. Por muitas vezes, Jeon não conseguia se concentrar nas tarefas da escola, chegava a chorar de frustração, se chamando de burro e idiota por não conseguir responder uma questão simples. 

Queria saber dividir as coisas. Se estava frustrado por algo, não deveria deixar aquilo interferir em outras áreas.

Mas era impossível, seu corpo falava por si só. Quando iam para a escola, ele fazia o lanche dos meninos, mas não comia o seu, não estava sentindo fome nos últimos dias, e não queria se obrigar.

As bandanas…Jungkook se ausentou delas por alguns dias, talvez por não saber o que estava sentindo, então não tinha como usar uma cor como significado.

Se existisse uma cor específica com todos os seus sentimentos misturados, ele usaria. No entanto, achava que nem mesmo o cinza mais escuro pudesse representar seus sentimentos naquele momento.

Era estranho ver o Garoto Das Bandanas sem as bandanas.

"Vamos dar uma pausa pra assistir um desenho, Kook?" Jimin perguntava quando notava o olhar vago e indiferente do garoto.

Não entendia porquê Jungkook sempre chorava feito criança após o seu pedido que era tão comum, apenas o acolhia em seus braços, e ficava lhe fazendo companhia até que ele se acalmasse.

Os dias foram tensos. Jungkook precisava colocar a cabeça no lugar, e sentiu-se grato por Jimin estar ali, esperando o tempo que fosse necessário. 

Esperando por ele.

Passava noites em claro, pensativo. Durante essas noites, aproveitava para admirar cada parte de Park, desde os fios loiros até os pés macios. O abraçava tão forte, que o outro se via incapaz de conseguir dormir também. Queria ficar ali com ele.

E como seu anjo, o loiro entrelaçava os dedos, o trazia para mais perto e beijava cada parte do seu rosto, nunca deixando de dizer o quanto ele era lindo.

Jimin colocava as músicas da Disney e fazia um cafuné gostoso no menino até que ele pegasse no sono. Depois, dormiam juntos, abraçados com Mike.

Jungkook conseguia se esquecer de tudo quando estava nos braços de Park.

Quando estava com sua pequena família de três.


                                 ⏰

Depois de tomarem um banho gelado, e se aprontarem para dormir, Jungkook pediu que eles fizessem algo diferente naquela noite.

Pegaram uma coberta grossa, e subiram em cima do telhado da casa, onde a vista para o céu ficava melhor e a brisa fria batia em seus rostos. Não tinha perigo no lugar em que estavam, Jimin garantiu isso.

Respirando fundo, Goo escorou a cabeça no ombro de Jimin, enquanto este os cobria com a coberta peluda.

— Posso saber no que meu amigo colorido está pensando? – Soltou um riso nasal, e Goo sorriu ao escutá-lo dizer aquilo.

— Apenas pensando, Ji.

— Pensando em que?

— Em nós.

O mais velho mordeu um sorriso que quis se rasgar em seus lábios.

— O que tem nós? Se eu estou incluso no pacote, tenho o direito de saber.

— Hyung…estou pensando que você parece uma estrela muito brilhante, que chegou para iluminar minha vida. Igual essas estrelas iluminam o céu. – Encarava o céu com admiração, sorrindo enquanto passava a bochecha no ombro do loirinho.

— Tenho quase certeza de que você saiu de um conto de fadas. – Respondeu abraçando as próprias pernas e tombando a cabeça pro lado, escorando ela no topo da cabeça de Jeon. — O que eu faço com você, príncipe? Não sei responder á altura.

— E-então promete que o encanto nunca vai acabar. – Mordeu os lábios, sentindo o rosto esquentar ao dizer aquilo. Esperava que o outro tivesse entendido o sentido da frase.

Jimin se virou, sorrindo de lado enquanto o puxava para seus braços.

Não tinha mais volta, Jimin não queria mais esconder, não fazia mais questão. Deixou isso bem claro quando respondeu:

— O encanto não vai acabar, porque não é igual ao da fada madrinha que acaba à meia noite. Nosso encanto é pra sempre, não consigo te tirar da minha cabeça nem se a fada madrinha vier pessoalmente me lançar um feitiço.

Um suspiro de alívio saiu de seus lábios, e ele não precisou ficar tentando se convencer de que tinha sido sem querer, ou sem pensar.

Quis dizer aquilo. Sabia o que estava falando, e não estava arrependido. 

— Repete, hyung. – Encostou as testas, sentindo a respiração quente do mais velho bater contra sua pele.

— O que?

— A parte de que vai ser pra sempre.

— Vai ser pra sempre. – E quando ele disse aquilo, estava dizendo para si mesmo também. 

As palavras saíam da sua boca de forma tão natural, que parecia que estava acostumado a lançar declarações prometendo amor eterno. 

Jungkook conseguia despertar esse seu lado.

Se antes Jimin não acreditava em promessas, então, ele tinha voltado a acreditar, porque ele queria cumprir cada promessa que fez ao mais novo.

— Tem certeza? – Só estava esperando uma confirmação para se abrir por inteiro. Queria ter certeza absoluta.

Jimin não o respondeu, ao invés disso, selou os lábios dele.

Um beijo lento, calmo, e paciente se iniciou. Jungkook não se importou em não obter uma resposta através de palavras, porque conseguiu sentir a sinceridade através do beijo. Se entendiam tão bem, que era quase como se soubessem o que cada um estava pensando.

Jimin acariciava a bochecha gordinha do garoto e tomava o rosto dele em suas mãos como se fosse a coisa mais preciosa do mundo, enquanto pairava sua mão na cintura alheia, e o puxava para mais perto, trazendo a coberta junto e tomando cuidado por estarem no telhado.

Percebeu algo diferente dessa vez. Jeon parecia ansioso, nervoso, afobado…

Se surpreendeu quando Kook puxou seu lábio inferior entre os dentes, e em seguida enrolou os dedos nos cabelos da sua nuca, o puxando para mais perto. Era um ritmo diferente do que estavam acostumados. Jeon parecia querer o controle da situação, e o loiro apenas seguiu o fluxo, se deixando levar.

Envolveu a língua do mais novo com a sua, segurando firme na cintura alheia, e sentiu Jeon se encolher ao sentir seus dedos gélidos em contato com a pele quente.

O garoto se afastou com um estalar alto. Com a respiração descompassada e os olhos fechados, Goo passou uma das pernas ao redor da cintura de Park e tomou impulso para ficar sentado sobre seu colo.

Jimin arregalou os olhos, tirando suas mãos do corpo dele no mesmo instante.

— P-pode…quer dizer…você quer descer a mão? – Aproximou as bocas, e segurou as mãos de Park junto às suas, conduzindo elas.

Foi a primeira vez que Kook lhe fez aquela pergunta, o pegou de surpresa.

O loiro abriu a boca algumas vezes tentando formar uma frase coerente, e Jungkook lhe roubou outro beijo.

— Como? – Achou que tinha entendido errado, no entanto, o menino passou a distribuir beijos tímidos por seu pescoço, deixando claro qual era seu desejo.

Ou tentando…

— Sua mão, hyung…p-pode descer ela? – Fechou os olhos com força, tentando esconder o seu desconforto.

Estava farto disso. Não que o contato fosse ruim, Jeon adorava mais do que tudo…mas, sabia que Jimin já tinha tido experiências passadas, enjoaria fácil de ficar apenas assim, e, em pouco tempo, procuraria uma pessoa que pudesse, de fato, satisfazer seus desejos carnais.

Era assim que Jeon pensava. E isso só lhe incentivava mais.

No entanto, era nítido que aquele não era realmente seu desejo. Talvez Jeon pudesse tentar enganar a si mesmo, e até tentar enganar Jimin, mas o loiro já o conhecia bem.

Sabia que o inquilino estava estranho só pela forma afobada que tentava lhe roubar outro beijo, como se quisesse convencer a si mesmo daquela decisão.

— Porra, eu quero pra caramba! – Jimin exclamou e Jungkook assentiu com a cabeça, fechando os olhos com força, esperando que Park fizesse como lhe foi pedido, mas ele não fez. — Mas não assim. – Acrescentou.

Os ombros de Jungkook caíram, e ele abriu os olhos no mesmo instante.

— Tenho que mudar alguma coisa em mim pra você querer?

— Não, não, não. – Segurou o rosto dele em suas mãos. — Não fala assim, por favor. 

Silêncio. 

Foi assim que tudo ficou. 

O único som que se ouvia era a das árvores balançando, trazendo um vento fresco.

Jungkook parecia uma criança que tinha acabado de ser repreendida pela mãe. E, de repente, o clima se tornou tenso, pesado…

— Jungkook…por que está se obrigando a querer isso?  – Esboçou um sorriso frouxo, e passou o dedão pela bochecha dele.

Goo desviou o olhar.

— H-hyung… – Disse com a voz fraca. — Eu quero.

— Não, você não quer.

— Eu quero querer. – Confessou, levantando o olhar. — Por favor, hyung. Estou tentando. Desce a sua mão, quero provar para minha mente que consigo fazer isso com você. Que você jamais faria algo sem meu consentimento. Quero me livrar desse peso que está sobre meus ombros há muito tempo. Eu confio em você, Ji…

Jimin conseguiu contemplar o exato momento em que os olhos do garoto ficaram encharcados. Seu coração apertou de tal forma, que ele precisou colocar a mão no local e fazer pressão para tentar fazer aquela dor horrível passar.

Aquela sensação…odiava ter aquela sensação.

— S-se confia em mim…me conta o que tem de errado. – O loiro pediu com a voz embargada.

— Nada está errado. – Negou com a cabeça.

— Docinho…

— Hyung…você é a pessoa que eu mais confio no mundo, sabia? – Jimin não conseguiu sorrir com aquela declaração, porque os olhos de Jeon estavam ansiosos, encarando cada detalhe seu. O menino parecia estar se segurando para não chorar e o coração de Park ficou em caquinhos. — Eu quero tentar te beijar assim…s-sei que pra você não é nada demais, e que já beijou muitas pessoas assim, mas comigo é diferente.

— O que tem de diferente? – Colocou uma mecha do cabelo grande atrás da orelha dele.

— Eu nunca deixei alguém tocar aqui em mim… – Sentiu a visão embaçar antes de continuar: — Mas alguém já tocou.

As lágrimas grossas que caíram após sua fala, o obrigaram a ficar em silêncio por tempo o suficiente para que Jimin ficasse preocupado, sem saber o que fazer, sem saber o que pensar, sem saber o que responder.

Tentou segurar o rosto do garoto para limpar as lágrimas, mas ele recusou, negou tantas vezes com a cabeça, que sentiu uma certa tontura tomar conta de si. Não imaginava que seria tão difícil contar.

Jungkook afundou o rosto no peito do seu hyung, esfregando a cabeça de forma contínua, desesperada, buscando conforto.

Estava desesperado buscando aconchego. 

Jimin era seu ponto de paz.

O mais velho então, lhe deu o único conforto que podia oferecer naquele momento: um abraço.

Aquele talvez foi o abraço mais forte que já deu em alguém, superando todos os outros que já dera nele. O abraço mais intenso. O abraço mais carinhoso. O apertou em seus braços e encostou o queixo no topo de sua cabeça, sussurrando que tudo ficaria bem.

Essa era sua certeza. Tudo ficaria bem, porque ele faria o possível e impossível para que isso acontecesse.

Kook queria acreditar que tudo ficaria bem, queria ter o otimismo de sempre, mas estava doendo tanto, tanto, tanto, que ele só conseguiu desejar morrer, talvez a dor passasse assim.

E enquanto abraçava o garoto, Park chorou baixinho. Através daquele abraço, conseguiu sentir a dor de Jeon. A cada espasmo que o corpo dele dava, soluçando tão alto que precisava se controlar para que não lhe faltasse ar, Jimin chorava um pouco mais.

As lágrimas grossas e pesadas. O choro de Jungkook era tão sofrido, vinha lá da alma.

Ele se debatia entre o abraço, não porque queria se afastar, mas sim porque queria buscar um pouco mais de conforto. Queria ter certeza de que tudo ficaria bem enquanto estivesse nos braços de Park. 

Queria que Jimin estivesse ali.

Jimin pensou estar errado. Desejou estar errado sobre aquilo, mas não estava.

— H-hyung, você já assistiu Malévola? Q-quando o caçador corta as asas dela, me dói tanto. É t-tão ruim perceber que uma parte sua foi arrancada sem sua a-autorização. – Disse em meio aos soluços, sentindo o corpo inteiro esquentar e o estômago revirar. — A culpa não foi d-dela, hyung. Não foi, não foi…

E Park entendeu que ele não estava se referindo ao filme.

Aquele foi o ápice para Jimin, porque, enquanto dizia aquelas palavras tão dolorosas, Jeon tentava sorrir. Ele tentava sorrir em meio às lágrimas, tentava fingir que estava tudo bem. Sorria em meios aos soluços.

Puxou o ar com tamanha força, que sentia como se seu peito fosse atingido por inúmeras facadas.

Não queria se conter mais, deixou que um choro alto rasgasse sua garganta. Escondeu o menino no seu pescoço, e passou as mãos pela costa dele, como se estivesse acalmando uma criança.

Foi o momento mais desesperador que já passou, superando até mesmo a dor de quando seu pai foi embora.

— Pode chorar, Kook. Eu estou aqui pra enxugar suas lágrimas.

— H-hyung…tá doendo tanto.

Ao colocar a mão sobre o próprio peito, Jungkook desejou que aquela dor passasse, que esquecesse de todas as lembranças. 

O silêncio foi o grito mais alto que ele conseguiu dar naquele momento. Não tinha palavras para dizer, todas elas sumiram de sua boca. A garganta estava tão seca que ele tinha dificuldade de engolir a saliva.

Tinha conseguido dizer.

Um peso tinha saído de suas costas, mas um aperto surgiu em seu coração, porque sabia que teria que dizer tudo, cada detalhe daquele dia tão doloroso.

— M-me fale o que eu tenho que fazer pra sua dor passar, Jungkook. Por favor, apenas me diga.

— F-fica comigo, hyung. – Era apenas disso que precisava. — Fica comigo mesmo depois de escutar o que eu tenho pra falar.

Jimin deixou um selar longo na testa do mais novo.

— O que tem pra me contar, docinho?

Mesmo sentindo o coração se despedaçar e o estômago revirar á ponto de lhe causar náuseas, ele conseguiu responder:

— S-sobre o meu passado.

                     ⚡flashback⚡

Jungkook lembrava-se de tudo. Desde o começo, que parecia um sonho, até o final, que mais parecia um pesadelo.

Ele soluçava de tanto chorar enquanto implorava para que seus pais ficassem ali com ele, na "casa da vovó". Não queria ter que ficar longe dos dois, mesmo sabendo que era necessário.

Teve uma infância solitária, e sentia falta de ter alguém junto com ele.

Na escolinha, as crianças eram maldosas, faziam piadas de mau gosto, falavam sobre seus dentinhos grandes da frente, dizendo que Goo não deveria sorrir, porque assustaria as pessoas da creche.

Mesmo sendo apenas uma criança, Jungkook sempre era deixado de lado. Os professores tinham que apelar para as pessoas deixarem ele entrar nas panelinhas, e quando ele ia agradecer aos novos amiguinhos, os meninos o empurravam e diziam para ele ficar longe.

Só conseguia amigos quando os pais das crianças ficavam sabendo quem eram seus pais. As mães praticamente obrigavam os filhos a serem seus amigos, apenas por carregar o sobrenome Jeon. 

Na época, Areum e Jung-su não eram tão influentes quanto atualmente, mas, ainda sim, eram pessoas importantes na cidade, sendo donos de uma empresa que futuramente se tornaria ainda maior, por isso que trabalhavam tanto.

O sobrenome "Jeon" era reconhecido por qualquer um. 

Goo nunca entendeu porquê era tão rejeitado. Não era uma pessoa perfeita, não  era um filho perfeito, mas acreditava que, nem mesmo a pior pessoa do mundo merecia tanto desprezo quanto o que recebia.

Senhor e Senhora Jeon não conseguiram atender seu pedido naquele dia, tiveram que partir de madrugada, quando Kook estava dormindo para que ele não chorasse ao vê-los indo embora. 

A lembrança era muito viva em sua mente. Ele acordou ansioso no outro dia. A primeira coisa que fez, foi procurar seus pais para contar-lhes o sonho que tinha tido. 

Um sonho muito bom.

Procurou pela casa toda enquanto pulava alegremente, e quando se deu conta do que tinha acontecido, mais uma vez, se rendeu a um choro intenso e demorado, que vinha lá da alma. Dessa vez, chorava baixinho porque não queria que sua avó pensasse que ele não queria ficar ali.

Nos primeiros dias, chorava todas as noites antes de dormir, se perguntando o que tinha feito de tão errado para ser rejeitado até pelos próprios pais.

Triste, bravo, indignado. Não com seus pais, mas sim com a vida.

Ele não gostava de pensar que tinham que sacrificar os momentos em família para conseguirem ter uma boa condição.

Sentia-se sempre como uma segunda opção.

Era uma criança que, de repente, se viu deixada de lado pelos pais. Mesmo que entendesse os motivos, não podia evitar se sentir assim, era novo demais para entender como as coisas funcionavam.

Com esse pensamento, certa vez ele se escondeu debaixo da cama e ouviu seus pais conversando.

Jeon mais velho chorou por horas seguidas com o coração apertado por ter que deixar Kook ali mais uma semana.

Naquela noite, o menino chorou também. Mesmo sendo uma criança, entendeu que aquilo era uma necessidade e viu o quanto seu pai estava triste por ter que tomar aquela decisão.

— Vamos assistir um desenho, Goo? – Era o que sua avó sempre dizia quando percebia que ele estava para baixo, e aquilo funcionava.

Eles iniciaram uma rotina; acordavam pouco antes das seis e meia, faziam o café da manhã juntos e assistiam às programações da Disney.

Com o tempo, Jungkook passou a se acostumar, e então, quando seus pais iam os visitar, ele já não chorava quando os via partindo para mais uma semana de trabalho. Ao invés disso, comprava CDS dos seus desenhos favoritos e pedia para que eles assistissem no mesmo horário, assim, estariam vendo juntos, de alguma maneira.

Era assim que se conformava.

E como passava a maior parte do tempo naquela pequena casa com sua avó, ele acabou se acostumando com o ambiente, em pouco tempo, considerava aquele seu lar.

A vizinhança o conhecia como o Neto da senhora Jung. Era tão amado e querido, que ficou conhecido como o menino de ouro, porque sempre queria ajudar alguém, seja para descascar um milho ou para brincar com o cachorro, estava sempre muito empolgado.

Foi nessa época que começou a se sentir prestativo e importante. Era legal ver as pessoas perguntando se ele estava bem, ou se precisava de alguma coisa.

Mais do que tudo, ser a prioridade da sua avó, era a sua parte favorita.

Em meio a um período de adaptação e crescimento, ele se viu feliz. Mesmo não tendo amiguinhos da sua idade, se contentava com as senhorinhas da vizinhança.

Esse foi o momento de felicidade que teve em sua infância.

Era difícil lembrar daquele maldito dia, o dia em que tudo começou a dar errado.

Era uma noite estrelada, e Jungkook estava sentado em um dos bancos que ficavam na frente de sua casa, lembrando-se de todos os desenhos que assistiu.

Ele não tinha para quem perguntar, então, sempre que tinha alguma dúvida, procurava respostas em algum desenho.

Os desenhos eram mais do que sua fonte de pesquisa, faziam parte da sua história, da época que era rejeitado…se não desistiu, foi porquê sua avó mostrou que ele poderia imaginar uma realidade diferente quando assistisse aos filmes.

Ele acreditava que um dia poderia viver tudo aquilo que os filmes mostravam.

Infelizmente, ele não contava que, na maioria dos contos de fada, existia um vilão.

Há poucos metros dali, o vizinho o observava. Quando se deu conta que havia uma criança sozinha por ali, tomou a liberdade de se aproximar, lhe ofereceu uma bala que tinha em seu bolso como forma de puxar assunto.

— O que está fazendo sozinho uma hora dessa? – O homem perguntou, fazendo o menino levar um susto e, subitamente, se levantar, pronto para correr de volta para casa. Mas, assim que olhou a face do homem, impediu que seus pés continuassem andando.

Bem…não era um estranho, já tinha visto ele algumas vezes. Não era uma criança mal educada.

Ele tinha traços marcantes e sua estrutura corporal parecia muito bem para quem tinha cabelos grisalhos. Ao mesmo tempo, ele não parecia ser tão velho. A camisa branca que usava, realçava o verde dos seus olhos.

Seu cheiro era bom. Jungkook associou o perfume como danone de ameixa.

— Estava observando as estrelas, senhor. – Ele respondeu, mas fez um sinal negativo com a cabeça, rejeitando a bala que lhe foi oferecida.

— Você conhece as estrelas? – Tentou mais uma vez, guardando a bala de volta no bolso. — Sabe sobre elas?

— Eu sou só uma criança, moço. – Tombou a cabeça pro lado, não entendendo aonde o cara queria chegar. — Apenas observo a beleza delas.

O homem riu soprado.

— Quer aprender um pouco sobre as estrelas?

Jungkook deveria ter dito que não. Deveria ter colocado em prática aquilo que aprendeu, deveria ter saído correndo e voltado para casa. Mas, quem poderia culpá-lo? Era uma criança curiosa e não hesitou em responder:

— Sim!

Aquele foi o início de uma amizade. O homem passou quase uma hora contando a história de cada estrela. Por serem informações novas às quais nunca tinha ouvido falar, Kook se viu completamente admirado.

Saber sobre a história de cada estrela, despertou sua curiosidade, e as dúvidas cresciam em sua mente fértil. O desejo de saber mais o levou a perguntar sobre muitas coisas, e ele só conseguiu voltar para casa quando uma parcela de suas dúvidas foram sanadas.

Daquele dia em diante, Goo sabia que tinha uma pessoa para tirar suas dúvidas e contar sobre seus conhecimentos. Ele tinha essa liberdade com o vizinho, o homem fez questão de deixar aquilo bem claro.

Os dias se seguiram assim, ele ficou mais animado do que o normal, e tentava procurar um filme legal para compartilhar seus conhecimentos com o vizinho também.

Se encontravam todos os dias na área da casa de sua avó. O homem sempre aparecia pela madrugada, quando sabia que não teria ninguém para atrapalhar a conversa deles.

Talvez, por sentir falta de uma figura paterna ali presente, Jeon se apegou muito rápido a aquele homem que parecia tão legal consigo. Sua avó sempre pedia que não escondesse nada dela, mas o homem pedia para manter os encontros em segredo, porque, segundo ele, se as pessoas descobrissem que estava "dando aulas" de graça, não pagariam para ele dar aula para seus filhos.

Aquilo fez Jeon se sentir especial. Saber que seu novo amigo estava abrindo uma exceção especialmente para ele, foi algo muito importante, como se fosse a primeira vez que alguém estivesse o colocando como prioridade.

Então…manteve os encontros em segredo, só contava sobre os dias que ficava com o homem pelo dia, assim como todas as crianças na vila.

Criaram um laço muito forte, e qualquer pessoa diria que eram pai e filho pela forma que se tratavam. Havia um diferencial em Jungkook, não era tratado como as outras crianças.

Foi o primeiro amigo de verdade que Kook teve. Pelo menos era o que ele achava.

Lembrava-se de acordar em um sábado e escutar sua avó conversando com o vizinho. Pareciam estar animados com a conversa, então, o menino esperou pacientemente até que o homem fosse embora para fazer o café da manhã junto com sua avó.

Porém, sua avó tinha uma novidade.

— Senhor Kwang se ofereceu para cuidar de você. – Ela disse carinhosamente, tirando as remelas que estavam nos olhos de Goo. — Ele cuida das crianças quando os pais precisam, quase uma babá. Mas ele disse que pode fazer gratuitamente porque vocês são amigos. Você gosta dele?

— Ele é meu amigo, vovó. – Segredou com um sorriso no rosto. — Ele disse que eu sou a criança mais inteligente que ele já viu, mesmo tendo dado aulas para muitas pessoas. – Se gabou. — Ele é um adulto muito legal.

A senhora bagunçou o cabelo de tigelinha dele.

— Tudo bem se você ficar com ele por algumas horas? Ele disse que outras crianças vão ficar também, você não vai estar sozinho.

É claro que antes de acatar a sugestão, ela saiu de casa em casa perguntando sobre o homem que ficaria com seu neto.

Ficou aliviada quando soube que Kwang era um exemplo ali na vizinhança, não havia uma só pessoa que tivesse algo de ruim para falar sobre ele, pois o homem nunca tinha dado um mau testemunho.

Era um professor aposentado, e as mães sempre elogiavam a relação que ele tinha com seus filhos.

Estava mais do que na cara o porquê ele conquistava o coração das crianças tão facilmente.

Quem imaginaria que algo de ruim poderia acontecer?

— Tudo bem, vó. Eu vou me comportar quando você não estiver. – Ele sorriu animado.

Parecia que finalmente as coisas estavam voltando ao lugar. A cada dia que passava, ele tinha mais certeza de que aquele era seu lar.

       
                                  ⚡

Quando Jeon terminou de lhe contar a pequena introdução, Jimin piscou algumas vezes, sentindo o estômago embrulhar e o coração acelerar.

Ele tentou conter o choro enquanto ouvia o menino contar, porque queria prestar atenção em cada parte, não queria perder nada.

Só com aquelas informações, já conseguia ter uma curta ideia do que tinha acontecido, e isso o deixou desesperado, completamente e inteiramente desesperado.

Quis sair correndo com Jungkook em seu colo. Quis acabar com todas as pessoas responsáveis por aquilo. Quis voltar ao passado e ter a chance de encontrar o garoto para tentar evitar tudo aquilo.

Sua mente estava processando as informações, mas Park se recusava a continuar imaginando o que tinha acontecido depois.

Estava desesperado, mas ele não podia demonstrar isso. Tinha que ser forte por ele e por Jungkook, porque sabia que se entrasse em desespero, Goo também entraria.

— Meus pais sempre estavam ocupados, hyung, então, eu passava a maior parte do meu tempo com a minha avó. Ela sempre fazia de tudo para cuidar de mim e tentar suprir a saudade que eu tinha dos meus pais. – Quis refrisar aquele importante fato.

Apesar de toda a dor evidente em seu tom de voz, Jungkook conseguiu sorrir com a vaga lembrança de sua avó. Era a mulher mais doce que um dia já conheceu, e foi com ela que aprendeu muitas coisas. 

A saudade apertou seu peito, mas o que lhe confortava era saber que ela estava em um bom lugar. Um lugar onde não existe dor e nem sofrimento. Jungkook desejou ir muitas vezes para este lugar.

— Tem certeza que está preparado pra contar sobre isso, docinho? – Nem ele estava preparado.

— Sinto que nunca vou estar preparado pra contar sobre isso, hyung. M-mas se eu não falar o porquê está doendo, não tem como ajudar. – Riu soprado seguido de um soluço por causa do choro. — Tenho que mostrar meus machucados pra conseguir tratar e curar. 

Jimin sabia que aquilo não se tratava de machucar externos.

Então, ele sorriu, limpando as lágrimas que tinha em seu rosto, depois fez o mesmo com Jungkook.

— Fica abraçado comigo, então. Não quero te soltar mais.

Jeon voltou a abraçá-lo forte, sentindo uma pequena onda de paz invadir seu corpo. Mas seu coração ainda batia forte, temendo o que viria a seguir.

O abraço foi quase como um combustível para si.

— O Mike esteve com você durante esse tempo?

Jungkook negou com a cabeça, respirando fundo.

Desejou muito que Mike tivesse sido seu primeiro amigo, talvez assim poderia ter evitado muitas coisas.

— O nosso vizinho…ele ficava comigo quando minha avó ia no mercado ou quando ela precisava fazer algo na cidade. 

— E esse vizinho era legal? – Ia fazendo as perguntas como se não fosse nada, apenas para dar um incentivo maior e não deixar que Jeon falasse tudo sozinho.

O garoto já tinha mencionado esse vizinho antes, e isso deixava Park completamente tenso e nervoso.

— De início, sim. Ele me dava bala, brincava e conversava comigo, e me acalmava quando estava chorando com saudade dos meus pais. Eu gostava tanto dele, hyung.

As lembranças ainda eram muito vivas em sua mente. Jungkook lembrava-se nitidamente do primeiro dia em que conversou com o homem muitos anos mais velho que si.

E junto com as lembranças, vinha a culpa.

Sua demora fez Park ficar preocupado. Deixou um selar longo nos lábios alheios e distribuiu beijos por todo o rosto do garoto.

— Tudo bem?

Ele assentiu com a cabeça, fechando os olhos para receber um selar longo na testa.

— Ele era meu único amigo, hyung. Ele me fez acreditar que queria ser meu amigo. Eu sei que fui muito ingênuo de acreditar nisso porque ele era muito mais velho, mas eu não entendia ainda. 

Jimin o puxou para seus braços novamente, o envolvendo em um abraço carinhoso, sabendo que não poderia oferecer nada além disso.

— Com o tempo, minha avó começou a me deixar na casa dele com frequência, já que ela sempre tinha que ir à cidade resolver alguma coisa. Mas meu novo amigo começou a ter atitudes estranhas, Ji…

O coração de Jimin batia tão forte, que fazia sua cabeça doer. Uma sensação de desespero se apossou de seu corpo, um medo que era incapaz de ser descrito em palavras.

— Como?

— Ele pedia pra eu levar uma roupa escondida na mochila, pra tomar banho na casa dele. – Disse com a voz embargada. — Eu sempre o obedecia. Colocava as minhas roupas escondidas na mochila e deixava ele me dar banho, e quando minha avó estava quase chegando, ele colocava a roupa que eu estava antes, pra ela não perceber. Eu não entendia porquê ele escondia isso dela. Mas ele sempre falava que amigos não contavam os segredos um do outro, por isso eu não podia contar pra ninguém o que acontecia quando a gente estava sozinho.

Porra.

Jimin fechou os olhos com força, e não conseguiu perguntar mais nada. Não queria que Jeon percebesse o quanto estava afetado, sua voz provavelmente sairia fraca e falha, estava sem forças para abrir a boca.

Se Jimin estava assim, Jungkook estava mil vezes pior. Ainda estava chorando e soluçando mas tentava se conter.

— Eu não achava estranho, hyung, porque ele sempre fazia parecer que eu estava errado, sempre conseguia me manipular. E depois de um tempo, e-ele… – Goo não conseguiu completar, afundou o rosto no peito do mais velho e deixou que um choro intenso e doloroso rasgasse novamente sua garganta.

— Ele o quê, Kook?

— E-ele tomava banho comigo, hyung.

— Tomava banho?

Ele assentiu com a cabeça, sabendo que Jimin provavelmente já sabia o que queria contar.

— Eu pedia pra ele não me tocar, hyung. Eu juro. – Ficou em silêncio, tirando forças de onde não tinha para prosseguir. — Eu não queria mais ficar com ele, mas ele continuava me dizendo que eu tinha que fazer aquilo, porque os amigos de verdade realizavam os desejos um do outro. E-eu nunca tive um amigo de verdade, hyung, então pensei que era a-assim que funcionava.

— Kook…

— Aquilo se seguiu por meses. Eu não tinha coragem de falar pra ninguém, mas minha avó começou a perceber que eu estava diferente. Não falava mais como antes, não queria levantar da cama, não queria comer, e não conseguia mais dormir. Eu emagreci muito naquela época, hyung…e foi aí que eu criei o hábito de só conseguir dormir depois de tomar meu leite de banana, minha avó costumava dizer que era um remédio que Deus tinha feito especialmente pra mim, pra me curar.

Park engoliu um bolo que queria se formar em sua garganta.

— Mas, hyung…quando eu tentei pedir pra ele parar de me olhar e de me tocar, ele disse que a culpa era minha por vestir roupas curtas e que eu ficava atiçando. Ele também disse que era a primeira vez que aquilo acontecia, e-então a culpa era minha por ficar provocando ele. Mas eu juro, hyung, a culpa não foi minha…e-eu não queria atiçar ele…

— Você… – Já nem sabia o que precisava ou o que queria falar, estava completamente acabado, sentindo o coração esmurrar seu peito e uma onda de raiva de ódio tomar conta de si. — Você não teve culpa de nada, docinho. Não teve, não teve. Você foi tão forte, eu te admiro tanto, tanto.

Jeon voltou a chorar de forma incontrolável novamente. Era um choro de alívio, alívio por finalmente conseguir dizer aquilo que estava entalado em sua garganta a tanto tempo, mas também era um choro de arrependimento, culpa. 

O acesso entre seu coração e sua mente estava restrito. Jeon já não conseguia raciocinar nada, estava mole, chorando, soluçando. Jamais pensou que teria coragem de dizer aquilo em voz alta para Park.

Sentiu nojo, raiva, angústia. Culpou a si mesmo por ter sido tão ingênuo, por ter fingido ser forte durante tanto tempo, quando na realidade estava quebrado por dentro.

Jimin permaneceu ali com ele, fazendo um cafuné no cabelo grandinho e chorando baixinho, como se sentisse toda a dor de Jeon.

— Hyung…ele ficava tocando no meu corpo e me fazia tocar no corpo dele também. – Expôs com a voz abafada. — E-eu já toquei no corpo de outro homem…

— Olha aqui pra mim, por favor. – Levantou a cabeça de Jeon até que ele estivesse cara a cara consigo. 

Passou o dedão pelo rosto do mais novo, ainda sentindo o corpo do garoto dar espasmos por conta do choro intenso e doloroso. Jeon não sabia o que Park estava fazendo, mas fechou os olhinhos, deixando que seu hyung memorizasse e cuidasse de cada partezinha do seu rosto.

Com o maior cuidado e zelo do mundo, Jimin limpou as lágrimas grossas e pesadas que insistiam em cair, teve que engolir o próprio choro. Não foi fácil ver Jungkook naquela situação, não foi nada fácil. Aquela sensação que Jimin sentiu ao saber que Jungkook foi tocado, foi assediado, foi manipulado quando ainda era apenas uma criança em busca de amigos, foi a mesma sensação que sentiu durante anos depois que sua mãe faleceu.

Uma sensação de falha, de perda, de incapacidade, de raiva.

Mas havia uma diferença: Ele não podia fazer mais nada pela sua mãe, mas podia fazer por Jungkook.

Sua mãe pertencia ao seu passado, mas Jungkook pertencia ao seu presente e futuro.

Tantos anos cuidando dos machucados da sua mãe, mas ele nunca aprendeu a fazer um curativo em machucados internos. Caso contrário, teria feito um em si mesmo.

Bem…estava mais do que disposto a fazer isso. Não queria apenas colocar um curativo nos machucados de Jeon, queria curá-los.

E iria fazer isso. 

Aquela foi a promessa que fez para si mesmo naquele momento.

Beijou os dois lados da bochecha, o nariz grandinho e depois deixou outro selar demorado na testa do mais novo. Um gesto mínimo, mas Goo se sentiu tão protegido ao ser beijado tão carinhosamente, como se fosse a coisa mais preciosa do mundo. Park não quis avançar para um beijo na boca, só queria que o mais novo conseguisse entender o quanto era importante.

— Você era só uma criança, Kook. A culpa não foi sua, não se sinta culpado, por favor. – Encostou as testas. — Estou tão orgulhoso de você. Você foi tão forte…eu não sei o que está se passando pela sua cabeça nesse momento, mas eu tô aqui, quero ser seu ombro amigo, quero estar com você a todo momento. Jungkook, eu te gosto tanto…

Ainda soluçando e chorando, Goo sorriu pequeno, gostando de ouvir aquela frase.

"Estou orgulhoso de você"

"Eu tô aqui"

"Quero ser seu ombro amigo"

"Eu te gosto tanto"

— E-eu quero continuar, H-hyung. Quero te c-contar tudo. Esse é o tanto que eu te gosto e c-confio em você. – Sua feição tinha se suavizado, mas estava do mesmo jeito de antes. Não ficaria bem até conseguir terminar de contar tudo e Jimin entendeu isso, por isso ficou em silêncio apenas esperando. — Eu não conseguia contar pra minha avó, mas ela s-sabia que tinha algo de errado. Sabe o que ela fez, hyung?

— Comprou o Mike?

Ele negou com a cabeça.

— Me levou em uma loja da cidade, a gente comprou uma bandana de cada cor. Ela deixou o s-significado das cores em um papel pendurado na geladeira, e pediu pra eu usar a b-bandana de acordo com aquilo que eu estava sentindo, assim e-eu não precisaria dizer diretamente.

Inevitavelmente, Park sorriu, mas o sorriso era carregado de tristeza e surpresa.

A marca de Jungkook eram as bandanas, e ao saber porquê ele começou a usá-las, o coração de Park se repartiu em mil pedacinhos.

— Meu garoto das bandanas… – Dessa vez, ele roubou um selinho de Jungkook, esfregou o nariz na bochecha gordinha e deixou um selar ali também, sentindo o gosto salgado das lágrimas tomarem conta de sua boca.

Jeon manteve a mesma expressão de antes, mas para o desespero de Jimin, ele começou a chorar ainda mais.

Não era um choro de desespero, era um choro de felicidade.

Ouvir Jimin dizer "meu garoto das bandanas" foi algo que seu coraçãozinho não estava preparado, pois disparou tão forte e rápido, que quase conseguia ouvir os batimentos.

— Você não está usando bandana hoje… – Observou, colocando o cabelo grandinho do outro para trás, tentando o acalmar.

— É porque eu q-queria te contar como me sinto de verdade, sem precisar das cores e das bandanas p-para isso. – Buscou os olhos alheios. — Eu deixei um bilhete dizendo tudo o que e-estava acontecendo pra minha avó ler. – Continuou, pois temia que sua coragem fosse embora. — Foi aí que eu descobri que gostava de expressar meus sentimentos através de bilhetinhos. Por isso eu escrevia pra você, hyung…

Jungkook não queria que Jimin se sentisse culpado ou algo do tipo, afinal, tinham concordado em deixar o passado para trás e começar a escrever uma nova história. Mas Jimin não conseguia não se sentir culpado ao ouvir aquilo, se sentia um completo idiota.

Era difícil saber que quase todas as manias que Jeon tinha hoje em dia, se devia por causa daquele maldito vizinho que cravou traumas e mais traumas nele.

— Meus pais a-acabaram lendo o bilhete também, e foi aí que eles conseguiram colocar o h-homem na cadeia. Pena que ficou só alguns dias e depois foi liberado por falta de provas. Ele já tinha dado aula para o filho dos policiais, então n-ninguém acreditou muito em mim. – Conseguiu dizer sem se engasgar ou  ou sem gaguejar por causa do choro. — Mas eu j-juro que não estava mentindo, hyung…

— Não acredito que não acreditaram em você! – A indignação e a raiva eram evidentes em seu tom de voz. — É sério isso? Por falta de provas?

— M-mas a minha mãe contratou uma pessoa pra bater nele, hyung. – Ele sorriu se recordando do quanto sua mãe ficou raivosa. — Ele ficou bons meses sem levantar da cama. E-eu sei que é ruim desejar isso para o próximo, mas eu fiquei t-tão aliviado quando soube que aquele homem ficaria de cama por b-bastante tempo, pelo menos assim eu tinha certeza de que ele não ia mexer com n-nenhuma outra criança.

— Se eu visse esse homem na minha frente, eu juro que ia matar ele. Escuta…você não quis ir mais a fundo nessa história? Ferrar com a vida dele, acabar com a reputação daquele velho filho da puta?

— Não, hyung…é muito vergonhoso pra mim. As pessoas iam saber que eu toquei no corpo dele… – Deu aquilo por encerrado. — Depois que minha avó descobriu, ela comprou o meu Mike, hyung, e me disse que aquele era o único amigo que eu tinha que confiar mesmo depois que ela partisse. O Mike é mais do que uma pelúcia, os desenhos são mais do que apenas filmes que eu gosto…

— E o seu leite de banana não é só um leite de banana. – Completou, segurando Jungkook um pouco mais forte quando sentiu o vento bagunçar seus cabelos, depois ajeitou a coberta.

Ele assentiu com a cabeça.

— Mas desde o primeiro m-momento que eu te vi, quis tanto ser seu amigo, hyung. Tem dias q-que eu até esqueço se tomar meu leite de banana, porque a-acho que… – Hesitou, mas Park passou novamente a mão sobre a bochecha dele, o incentivando a continuar. — Você virou meu remédio, hyung.

— Porra. Você fala tão bonito, nunca sei o que te responder. – Foi sincero. — Você não faz ideia do quanto estou orgulhoso de você agora, do quanto eu te admiro, do quanto eu  te gosto.

— Obrigado p-por sentir orgulho de mim, hyung, e obrigado por me ouvir e esperar o meu tempo. – Aproveitou para limpar as lágrimas do rosto de Park também, lágrimas estas que Jimin nem percebeu que tinha derramado. — N-não chora por causa de mim, h-hyung… não quero te ver c-chorando.

Jimin soltou um riso soprado, deixando que o mais novo passasse os dedinhos longos por cada traço seu.

— Como pode me pedir uma coisa dessas? Acha que eu consigo não chorar te vendo chorar?

— D-desculpe…só quero te ver feliz, Ji.

— Não consigo ficar feliz te vendo assim. Eu prometo que vou te fazer feliz…que tal?

— Que tal…?

— Que tal a gente ser felizes juntos? 

— Parece ótimo pra mim, hyung… – Sorriu antes de ser tomado pelos lábios alheios.

O mais novo avançou em Park em um abraço forte e caloroso, cheio de amor.

Tinha conseguido.

Finalmente tinha conseguido dizer aquilo em voz alta.

Finalmente tinha se livrado desse peso.

E mesmo que estivesse soluçando e chorando muito, estava feliz. Foi um misto de emoções.

Os dois se abraçaram e choraram juntos, choraram tanto que voltaram pra casa com dor de cabeça e com o rosto completamente inchado. 

Jimin quis ficar apenas curtindo o momento abraçado com Jungkook enquanto continuava lhe dizendo o quanto estava orgulhoso. Agradecia a cada um segundo por Goo ter confiado nele para contar algo tão íntimo ao qual considerava um trauma.

Jungkook ainda continuou adicionando detalhes que tinha esquecido, querendo que Park soubesse de tudo, porque confiava nele o bastante para isso. Eles voltaram para a casa, e, pela primeira vez, Jungkook convidou Jimin para um banho.

Eles apenas entraram debaixo do chuveiro juntos, sem tirar nenhuma peça de roupa. 

E, porra…Jimin se sentia tão sortudo por ter Jungkook com ele, que não conseguiu se segurar, em poucos minutos já estavam aos beijos enquanto sentiam a água do chuveiro fazer parte do contato também.

No entanto, não era como das outras vezes em que se empolgavam…havia cuidado, zelo, eles não aprofundaram o beijo.

Jimin lavou o cabelo grandinho do seu garoto e até se arriscou a cantar algumas músicas da Disney, e mesmo sendo péssimo naquilo, Goo o elogiou a todo momento, incentivando ele a continuar.

Os dois passaram a noite em claro, porque não conseguiam dormir. Foram emoções muito fortes que tinham experimentado mais cedo, e estavam tentando assimilar tudo aquilo, principalmente Jimin.

Ele não sabia o que dizer quando ouvia Goo chorar baixinho enquanto abraçava Mike. Só podia oferecer seu abraço.

E…aquilo era tudo que Jungkook precisava. Ficou grato por Jimin não ficar fazendo perguntas e mais perguntas. 

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