Viro-me na cama de novo, olho para o relógio, eram duas horas e quinze minutos, a insônia me perseguia.
Não consigo fechar os olhos por mais de um minuto, imagens do que aconteceu anteriormente vêm à minha mente, o fato de estar sendo caçada não me tranquiliza nem por um segundo.
Assim que o sol nascer, irei a delegacia registrar uma queixa. Estou cansada dessas ameaças sem sentido.
Balanço meus pés para fora da cama e puxo meu corpo para cima, forçando-me a levantar.
Ando até a frigor bar e
pego uma garrafa de água, vou até a penteadeira, levo minhas mãos até uma caixinha com remédios.
Pego um remédio, Zolpidem. Havia apenas uma cartela, com dois comprimidos brancos em formato circular, os demais, já havia usados alguns dias antes.
Tomo o comprimido e engulo junto a água. Volto para a cama e me deito, esperando o remédio fazer efeito.
Quando meus olhos estão prestes a se fechar, sou acordada por um barulho alto. Viro meu corpo para a porta do meu quarto, está trancada.
Me esforço para manter os olhos abertos, ainda ouço o barulho de algo sendo arrastado.
- Evangeline, onde está você? - ouço uma voz masculina de longe.
Meu corpo começa a ficar mole e pesado, o remédio começou a fazer efeito.
- Querida, não seja grosseira, trouxe uma convidada.- Ouço uma risada.
A mesma risada do sonho quase real que tive alguns atrás.
Com os olhos entreabertos, posso ver a maçaneta se movendo. Começo a ouvir um zumbido.
- Não seja maldosa, nós só queremos nos divertir e você também.- a maçaneta começa a se mover mais rápido.- Eu sinto seu cheiro, coelhinha.
Ouço um estrondo. A porta se abriu.
Antes que eu possa levantar meu olhar, sinto meu corpo sendo afundado na cama e virado para baixo.
- Não se preocupe, vamos cuidar bem de você.- Ouço uma voz feminina falar.
Sinto sentar nas minhas costas, puxar minha blusa para cima e começar a passar as unhas pelas minhas costas, até que minha cabeça é pressionada contra a cama.
Escuto duas risadas grossas antes de apagar.
Acordo com a luz do sol queimando meu rosto, viro para o outro lado com os olhos ainda fechados, puxo para cobrir meu rosto.
Segundos depois de cobrir meu rosto, ouço o telefone tocar.
Margarida e Adam.
Levanto-me de uma vez, sinto minha pressão subir no céu e voltar, minha visão escurece, apoio meu corpo contra a parede para não cair.
Abro a porta do meu quarto e desço correndo para a cozinha, onde ficava o telefone fixo.
- Alô?- atendo o telefone.
-Evangelina?- reconheço a voz de Margarida. - Estou com saudades minha menina, pensei que tivesse esquecido de mim.
- Nunca.- Tento controlar minha ansiedade.- Também estou com saudades de você e Adam.
- Está tudo bem ai? Sinto sua falta.- Ouço a voz de Adam.
- Está tudo bem.- Estreito minha cabeça.
Há pegadas de terra no piso branco.
- Preciso desligar agora, acabei de acordar.- minto. Olho para a porta de vidro.
- Tudo bem, tenha um bom dia. Qualquer coisa, é só ligar.-Ouço Margarida falar.
- Coma direito.- Ouço Adam falar e soltar uma risada.
Logo depois, a chamada é desligada.
Coloco o telefone no gancho, vou até a porta de vidro. Está trancado.
De onde vieram essas pegadas? Se a porta só é trancada por dentro, como ela foi aberta?
Engasgo-me com minha respiração.
Se não veio de fora, veio de dentro! Tenho certeza que tranquei tudo.
Vou até o balcão, tiro uma faca do faceiro e escondo atrás de mim.
Sigo as pegadas, o chão tem pequenas marcas de terra que levam até a escada. Subo as escadas lentamente olhando para o topo.
Olho em volta, no longo e largo corredor havia apenas cinco portas. Um para o quarto dos meus pais, um quarto vazio, meu quarto, um banheiro e o escritório. O quarto dos meus pais sempre ficava trancado, eu nunca entrei lá.
Vou para o meu quarto, entro rapidamente e tranco a porta. Se possivelmente houver alguém em minha casa, vou disfarçar e fingir que não sei.
Hoje vou fazer denuncia sobre as ameaças e a invasão na minha casa.
Entro no banheiro para escovar os dentes e pentear o cabelo.
Preciso manter a calma e não tomar uma atitude por impulsividade.
Não vou tomar banho, o som da água caindo me dificultaria ouvir a possível ideia de alguém invadir meu quarto enquanto estou fazendo isso.
Olho-me no espelho, meu rosto está pálido, olheiras visivelmente escuras, lábios secos e cortados.
Estranho, ontem não estava assim.
Viro um pouco o pescoço e vejo uma marca vermelha.
Batom.
Meu pescoço estava manchado com a marca de batom vermelho. Lembro-me de tomar banho depois de voltar da festa.
Talvez eu não tenha tomado banho direito.
Vou até a cômoda e pego um short azul escuro e um suéter branco.
Tiro o pijama, vou até o grande espelho que ficava ao lado da penteadeira e paro em frente. Troco-me. calço um all-star branco de cano longo.
O tempo está gostoso, nem muito frio, nem muito quente.
Procuro meu celular e o encontro na ponta da cama, quase caindo.
Pego o celular e a faca que deixei na cômoda.
Saio correndo do meu quarto, desço as escadas desesperadamente com medo.
Chego na porta de entrada e saio imediatamente, tranco a porta.
Suspiro aliviada.
Isso parece idiota, mas é a única coisa que consigo pensar.
Largo a faca no vaso de planta ao lado. Encosto na porta e ligo o celular.
Assim que ligo, recebo uma notificação, meu celular estava em 11%.
Merda, deveria ter deixado ele carregando.
Vou para as mensagens, Rachel e Astrid me mandaram.
Abro o de Astrid primeiro.
Astridzinha:
Podemos conversar? Só você e eu.
Na cafeteria Unicorn Dreams às 14h?
Não diga nada a Rachel.
Eu:
Tudo bem, estarei lá.
Respondo Astrid e fecho o contato dela, agora abro o de Rachel.
Rachel:
Espero que você esteja bem.
Eu realmente sinto muito pelo que aconteceu. Deve está assustada.
Se precisar conversar, estou aqui. Astrid e eu somos suas melhores amigas e estamos sempre aqui para ajudá-la e protegê-la.
Te amo.
Eu:
Também te amo.
Não precisa se preocupar, vou resolver
isso agora.
Fecho o contato de Rachel e abro outro aplicativo, peço um táxi.
Vou até a frente do portão e abro, saio de casa.
Cerca de três minutos depois, vejo um grande carro branco parando na minha frente.
Olho para placa. É esse mesmo.
Entro no carro, sou recebido por um homenzinho careca, sobrancelha e bigodes brancos.
-Bom dia, Evangeline?- ele pergunta.
- Sim, a rota é para a delegacia.- Confirmo antes que pergunte.
Ele apenas dá um pequeno sorriso e liga o carro.
Encosto a cabeça no vidro e fecho os olhos, desejando que esse pesadelo acabe logo.
Dez minutos depois, ouço a voz do Senhor.
- Senhorita, chegamos no seu destino.- Ele para o carro.
Abro os olhos e olho em volta. Estamos enfrentando o apartamento treze da polícia.
- Quanto deu?- pergunto.
Ele vira o telefone para mim.
- Quatorze reais e vinte centavos.- ele diz. Pego o dinheiro atrás da capinha do meu telefone, uma nota de dez e uma nota de cinco.
- Pode ficar com o troco. Tenha um bom dia.- Me despeço e saio do carro.
O ouço buzinar e ir embora.
Olhe para o enorme prédio espelhado na minha frente, tenho que levantar toda a minha cabeça para dar uma olhada nele.
- Perdida?- escuto a voz de Damon atrás de mim.
Viro-me rapidamente com um susto repentino, Damon estava parado com as mãos nos bolsos, vestia uma calça azul escura e uma camisa preta marcando seus braços fortes.
- Na verdade não.- gaguejo levemente.
Ele trava a mandíbula e continua a olhar para mim.
- Parece que sim.- ele levanta a sobrancelha ainda me olhando. - Vamos, eu te levo para casa.
- Não precisa, acabei de chegar.- franzo a testa.
- Sendo assim, tenha um bom dia.- responde ríspido. - Cuidado, as ruas de Nova York são perigosos essas horas.
Damon vira as costas e sai.