Viro à esquerda, apresso os passos com medo de voltarem. Tento refazer meus passos.
Não sei onde deixei os celulares, preciso encontrá-los e voltar. Está tudo escuro, só a luz da lua que ilumina um pouco o ambiente.
A alguns passos, vejo uma luz apontada para o alto das árvores, caminho em direção à fonte de luz e encontro minha lanterna, ainda acesa, encostada em um tronco de árvore.
Não me lembro de ter passado aqui. Na verdade, não me lembro quase de como cheguei aqui.
Os celulares estavam jogados ao chão, um deles com a tela quebrada. Suspiro aliviada, nesta área ainda tenho sinal.
Vejo que no meu celular tem duas ligações perdidas de outro número não salvo e um áudio.
Abro as conversas e escuto o áudio, é a voz da Rachel.
"Onde você está? Estamos esperando aqui na porta." logo depois, o áudio é abafado e ouço a voz de Astrid. "Anda logo, putinha."
Desligo o celular e aponto a lanterna para os lados procurando a trilha. Não muito longe, a cerca de vinte passos, encontro.
Continuo meu caminho, a cada passo poderia jurar que havia alguém atrás de mim. Os ruídos dos animais me assustavam cada vez mais.
No meio do caminho, ouço a música novamente, vou em direção ao som. Pelo menos consegui encontrar o caminho de volta.
Ótimo, ninguém vai se estranhar uma menina só de calcinha e sutiã, toda coberta de lama, com alguns arranhões e com cara de choro.
Corro para a lateral da casa, passo rápido pelas pessoas sem observar se me olham ou não.
Vou até a porta da frente e saio, Rachel estava de pé com os braços cruzados encostada em Damon, Astrid estava sentada no chão.
- Jesus, o que aconteceu com você?- Rachel vem em minha direção preocupada.
- Nada, vamos embora.- respondo ríspida.
- Não, você está toda suja e machucada. Quem mexeu com você?- Rachel põe as mãos nos meus ombros.
- Vamos embora.- Tento controlar minha respiração.
Me afasto de Rachel e vou até o carro que estava estacionado atrás de Damon. Anthony estava lá dentro, mexendo no celular. Entro de uma vez no carro.
Logo depois, Damon entra no banco ao lado de Anthony, Astrid senta ao meu lado e Rachel no final.
Anthony liga o carro e começa a dirigir. Até a metade do caminho todos ficaram em silêncio. Sinto Astrid colocar a mão no meu joelho, não ouso olhar na direção dela.
-Você está bem?- Astrid pergunta receiosa.
- Eu pareço bem, porra?- tiro a mão dela do meu joelho.- Se eu não me preocupasse tanto com vocês e não fosse procurar as duas na porra da floresta, eu não teria sido perseguida.- deixo escapar tudo para fora de uma vez. Sinto meu estômago revirar, controlo as lágrimas para que não desçam. - Onde vocês estavam?
Rachel e Astrid olham para mim com os olhos arregalados.
- Evangeline, eu - Rachel tenta começar a falar, mas eu a interrompo.
- Para o carro.- Não aguentaria nem mais um segundo, não quero descarregar toda a minha raiva. Quando começo a falar, digo coisas que não devo.- Para a porra do carro, Anthony.
Anthony olha para mim pelo espelho retrovisor e para o carro.
- Evangeline, é tarde, é perigoso.- Astrid segura minha mão.
- Minha casa não é longe.- Abro a porta do carro e saio.
- Espera, aqui.- Damon joga um casaco pela janela.
Pego meu casaco e visto, começo a caminhar em direção a minha casa, são apenas dois quarteirões de onde estou.
Ouço o carro dar ré e Rachel gritar alguma coisa. Não olho para atrás.
Aperto-me contra o casaco, o frio passa entre as minhas pernas nuas, dou passos largos em direção a minha casa.
Tento não pensar no que aconteceu, quero desabar quando estiver dentro do meu quarto. Acelero ainda mais meus passos, sinto gotículas de água em meu rosto.
- Tudo o que eu mais precisava agora.- murmuro irônica.
Não demora muito para eu estar de frente para o portão da minha casa. Não é muito seguro, mas as chaves estão escondidas atrás perto do interfone, entre os galhos das plantas que se pendem a parede.
Assim que passo pelo portão, o céu ressoa com trovões e começa a chover um pouco mais forte, rapidamente corro para dentro.
Entro em casa e sou recebido com um bafo quente, olho em volta e tudo está como deixei.
Tranco a porta e subo correndo para o meu quarto. Jogo meu celular na cama e tiro o casaco de Anthony, jogando-o no chão.
Vou até o banheiro e me olho no espelho. Meu rosto está um pouco sujo, minha maquiagem está borrada, meus braços e pernas estão com pequenos arranhões, meus pés estão cobertos de lama, dos pés aos seios, estou completamente coberta de terra e lama.
Fecho meus olhos por alguns segundos, desejando que hoje acabasse e nunca mais acontecesse novamente.
Vou para o chuveiro e ligo, tiro a lingerie e entro, a água quente escorre pelo meu corpo. Observo a sujeira se diluir e ir pelo ralo.
Pego a esponja e o sabonete líquido e esfrego minha pele até tirar toda a sujeira.
Passo a mão no rosto e me enrolo na toalha, saio do banheiro, a água estava tão quente que consigo ver o vapor saindo da minha pele vermelhada.
Vou até a cômoda, pego um pijama comprido, nesta noite, está frio e está chovendo um pouco forte, uma calça e uma blusa de algodão é o suficiente para me aquecer.
Visto-me e jogo a toalha na cadeira, estou tão cansada que decido não passar hidratante no rosto antes de dormir.
Apago as luzes, volto para a cama, afasto os lençóis e rastejo para o meio da cama. O abajur do lado direito está acesso, não quero dormir na escuridão total hoje.
Não depois de hoje, ainda tenho a sensação do pé me mantendo contra o chão. Tateio a mão na cama a procura do meu celular na cama, mas não o encontro.
Olho para a mesinha ao meu lado e encontro um chocolate e um papel amarelado, quadrado e pequeno.
Pego o papel e o viro, encontro algo escrito de caneta preta, uma letra perfeitamente desenhada.
"Devo admitir, foi divertido. "
Novamente, meu coração se acelera pela vigésima vez no dia, logo mais embaixo estava escrito.
"ainda não acabou, gosto de brincar com você."
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