O funeral ocorreu em Driftmark, como Rhaenyra havia dito.
Os cavaleiros amarraram apertadamente a corda no caixão onde as cinzas de Laena Velaryon estavam.
Vaemond - irmão do Lord Corlys - recitou algumas palavras em Alto Valiriano.
A maioria usava preto em sinal de luto, as três filhas da mulher - Saera, Baela e Rhaena - choravam abraçadas a avó.
Rhaenyra segurava os filhos de cada lado, deixando Alecsander inexpressivo no meio.
A atenção do garoto de cachos só voltou quando ouviu uma risada baixa de Daemon.
Era a primeira vez que o via adequadamente, apenas tivera ouvido histórias sobre ele.
A corda foi puxada, e com uma última saudação. O caixão de Laena foi jogado no mar, como uma Velaryon.
Rhaenyra procurou os filhos depois de dar uma rápida observada em Damon, a mulher os encontrou.
Ou melhor, apenas um deles. Luke estava mais ao longe conversando com Lord Corlys.
- Você viu o seu pai? - perguntou a Jace. - E Alec? Onde está?
O garoto não respondeu e a princesa usou outra tática.
- As suas primas perderam a mãe, seja gentil com elas - olhou para as três garotas ao longe, logo voltando-se para o filho.
- Eu gostaria de ter a mesma simpatia - respondeu Jacaerys.
- Jace!
- Devíamos estar de luto pelo o Lyonel e pelo Harwin - retrucou o garoto.
- Isso não seria apropriado - disse sua mãe depois de olhar ao redor e ver se ninguém os ouvia. - Os Velaryon são nossos parentes, e os Strongs não são.
Jacaerys virou o rosto.
- Olhe para mim! - pediu e o filho o fez. - Você entende?
O mais novo obedeceu a primeira ordem, caminhando até as Velaryons.
- Não temos nada em comum - disse Aegon para Aemond enquanto observavam Helaena.
- Ela é nossa irmã! - respondeu Aemond.
- Case-se com ela então! - retrucou Aegon.
- Eu cumpriria minha obrigação - começou o mais novo e seus olhos dispararam quando notou uma cabeleireira cacheada ao fundo. Alecsander. - Se a mamãe quisesse nos noivar.
- Está bem - o mais velho riu enquanto também notava Alec ao fundo, o garoto de cachos rodopiava uma adaga enquanto alguns Lordes pareciam querer sua atenção.
- Fortaleceria a família, manteria o reino seguro - disse Aemond sem notar de quem falava.
- Ela é uma idiota! - retrucou Aegon apontando para Helaena, mas percebeu para onde Aemond realmente olhava. - Os dois são.
O platinado mais novo o olhou, e Aegon apontou discretamente para onde Alecsander estava.
- Principalmente aquele! - se referiu ao Targaryen moreno.
- Ele será seu futuro Rei! - exclamou Aemond, voltando-se para Alec. Mas o garoto já não estava no mesmo lugar de antes.
Ele é bom em fugir - pensou o platinado, um sorrisinho querendo aparecer quando lembrou da noite que haviam fugido juntos.
- Na verdade, nos temos... - comentou Aegon quando viu uma criada de cabelos cacheados se aproximando com uma bandeja de bebidas. - Algo em comum.
Aemond o olhou e Aegon se abaixou antes de continuar.
- Nós dois gostamos de pernas muito longas - se referiu a Helaena e seus insetos. - E de cachos bem definidos! - se referiu a Aemond com Alec.
Aemond iria retrucar, mas seu irmão já havia saído atrás da moça.
- Aegon... - se cansou.
O platinado voltou seus olhos para o local atrás de uma única pessoa, não o encontrando, ele seguiu caminho.
Alecsander sentiu a brisa bater contra seus cachos, sentiu o silêncio e a areia da praia contra suas botas.
As ondas batendo contra as pedras e a lua sorrindo para a noite.
Ele ouviu os rugidos de Vaghar ao longe e quase sorriu por sua mãe tê-lo deixado vir em Drake.
Quase.
Seus dedos ainda rodopiavam a adaga que fora de seu pai, o adorno no cabo deixando uma sensação familiar.
Sor. Harwin havia pego aquela adaga antes dele, tinha se responsabilizado e cuidado com sua vida.
Era conexão e confiança.
E agora, Alec a tinha entre seus dedos como uma forma de lembrá-lo: Seja forte!
A adaga parou de rodopiar quando o Targaryen ouviu passos se aproximando, era quase impossível de perceber por conta da areia amortecendo as pegadas.
Mas Harwin o ensinou o truque da concentração.
"Ache seus inimigos antes que eles achem você!"
O truque sensorial era bom em muitos aspectos.
- Crianças deveriam estar na cama - disse Aemond.
- Sou apenas dois anos mais novo que você, platinado estúpido - respondeu Alec sem levantar ou se virar, não era necessário.
Confiança.
- Quanta audácia - se sentou ao seu lado. -, para um rato.
- Tô começando a achar que você tem uma queda por mim e não sabe dizer - brincou.
Aemond ficou ainda mais pálido do que o normal.
O maldito rato era atrevido.
- Não fui eu que fiquei vermelho com a nossa rápida aproximadade no dia do festival - rebateu.
Alec sentiu a língua enrolar e o tom carmesim voltou as suas bochechas tão rápido quanto Drake.
Conexão.
- Eu prefiro morrer ao ter uma queda por você! - respondeu não o olhando.
- É mesmo? - brincou Aemond e Alec pôde ouvir uma risadinha de diversão ao seu lado.
- É, é mesmo! - repetiu voltando seu olhar para o platinado. - O que é tão engraçado?
- Se for mentir, faça isso olhando diretamente nos meus olhos - respondeu.
- Se é assim que quer, que assim seja - retrucou virando-se completamente para Aemond.
Alec se aproximou e Aemond tornou a olhá-lo sentindo a respiração do garoto em sua bochecha.
- Eu... - começou Alecsander, seus olhares se fixando um no outro. - te... - o platinado viu a diversão dele a cada palavra. - odeio!
- É mútuo - respondeu e no outro segundo seus lábios foram esmagados pelos os de Alec.
Uma corrente elétrica percorreu o corpo dos dois, e Aemond travou em surpresa pelo o ato inesperado.
Alec se afastou, seus pensamentos confusos e suas mãos tremendo. Percebendo o que havia feito no impulso, ele levantou.
- Perdão, eu não deveria... - tentou procurar as palavras freneticamente. - Foi um impulso!
- Alec! - pronunciou. - Tudo bem, eu entendo. Você está de luto, é normal algo fora do planejado acontecer.
- Não, sério! Eu não sabia o que estava fazendo, me desculpe. Tio! - deu um passo para trás.
Aemond segurou seu pulso o puxando para baixo antes que conseguisse se afastar mais, Alecsander caiu de joelhos ao seu lado.
O platinado foi rápido em colar seus lábios em um segundo pequeno beijo mais calmo.
Conexão e confiança.
Não era nada malicioso, apenas um singelo selinho entre dois adolescentes rivais e confusos.
O que era irônico de certa forma, o beijo era simples e seus corações e mentes eram fodidamente complexos.
Ambos sabiam que aquilo era errado, não por serem garotos, mas sim por serem inimigos. Suas mães enlouqueceriam se chegassem a descobrir.
Mas tudo parecia ser tão certo, tão dócil, tão comum e radiante.
Tão imperfeito de uma maneira perfeita.
O preto e verde formando-se no azul.
Seus lábios se separaram e suas testas estavam uma contra a outra, os conectando.
Nada disseram até então, apenas os olhos fechados escutando o barulho calmo do mar.
Seria o silêncio ideal se não fosse por Vaghar fazendo um som estridente, outro rugido.
- Eu deveria ir... - sussurrou Alecsander se afastando.
Aemond coçou a garganta em nervosismo e timidez.
- É, você deveria - respondeu. - Eu irei logo depois - o platinado precisava fazer algo antes.
- Ok... - disse baixinho e deu um leve aceno, se retirando em seguida. Estava tão tímido quanto o outro.
O mais velho deixou um leve sorrisinho crescer em seus lábios, aproveitou a coragem que estava tendo e seguiu para o seu destino.
Vaghar.