Eternos Amantes

By _jusx_

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"Lua cheia no morro, invictos no jogo não fugimos da guerra. Mais cedo ou mais tarde, exigindo liberdade, o o... More

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Carmem;

Rolei na cama e me encostei na parede, sentindo ela gelada contra meus braços. Respirei fundo e fechei os olhos mais uma vez tentando dormir. Eu estou tão cansada..

Abri os olhos vendo a tigela de beterraba. Mexi minhas mãos sentindo elas doerem, a corrente presa nos meus braços e na cadeira que estou sentada.

A respiração quente do Brown, atrás de mim, me deixa em alerta. Meu corpo treme de medo e susto.. de novo. Não. Não, não, não. A mão dele passou a minha frente e pegou o garfo, ele prendeu um pedaço de beterraba e ergueu o braço, parando na frente do meu rosto.

Brown: Amor. - A voz dele saiu como um aviso e eu continuo imóvel. Merda! - Que porra, Carmem!

Sua outra mão segura meu maxilar e ele aperta, me fazendo fechar os olhos pela maldita dor. Filho da puta. Ele chacoalha meu rosto e bufa, eu não vou ceder. Eu não posso ceder.. eu não posso.

Brown: Abre a porra da boca, caralho! - Ele grita puxando meu rosto e apertando. - Eu vou te soltar, eu prometo, mas tu tem que comer. Porra.

Carmem: Eu não quero, Brown. - Respondo chorosa e ele suspira alto. - Eu não gosto, você sabe.. Me deixa sair, eu tô ficando enjoada, por favor.

Ele me olha por segundos e derepente joga o garfo de volta na tigela. Eu solto um suspiro aliviado, talvez ele tenha me entendido e me deixe. O silêncio se instala e ele apenas fica me olhando, segurando meu rosto e com o semblante sério.

De um instante pro outro, ele surta.

Vejo ele pegar a tigela e bater com ela no meu rosto que imediatamente começa a doer. As beterrabas caem em cima de mim e ele grita coisas, muitas coisas, antes de jogar a tigela na mesa novamente.

Brown: Come a porra da beterraba, agora! - Gritou puxando meu cabelo, minha cabeça Inclinou para trás e eu chorei assustada. - Come!

Ele pegou um pedaço de beterraba na mão e trouxe até mim, forçando ela contra minha boca. Gritei tentando empurrar ele e afastar meu rosto, ele apenas colocou mais força empurrando a maldita beterraba entre a minha boca. Chorando e desesperada eu tentei gritar, ele aproveitou a brecha e enfiou a beterraba na minha boca.

Tentei cuspir e ele gritou colocando a mão na frente da minha boca, impedindo de abrir. Me forçando a ficar com a beterraba na boca.. Meu estômago começou a se revirar e doer, eu odeio isso. Eu odeio ele.

O caldo de toda a beterraba escorreu pelo meu rosto e pescoço, junto com o sangue do pequeno corte na testa.. Comecei a engasgar e ele ignorou. Completamente.

Levantei em um pulo. Confusa. Assustada.

Sentei na cama respirando fundo, puxando o ar que começou a faltar. Jesus.. Me descobri e passei a mão no meu rosto escorrendo suor, caralho, isso foi muito real.

Não foi um sonho, foi uma lembrança.

Mas agora ele tá morto. Ele não vai mais voltar ou encostar em mim de novo, ele morreu. O que não morreu foram as lembranças, as coisas que ele fez, tudo o que eu vivi nas mãos dele.. Tudo está comigo. Gravado na minha mente e eu nunca vou conseguir apagar isso.

Coloco a mão no peito esquerdo esfregando na altura do coração, sentindo uma angústia. Eu odeio me lembrar dele, do que ele fez comigo e do que ele tentou fazer. Eu simplesmente só queria esquecer tudo isso. Porque não tem a porra de um dia em que eu deite nessa cama e não me lembre da merda que eu vivi, isso vai me assombrar pro resto da vida. Não sei se consigo suportar.

Levanto da cama puxando o ar com calma, tentando regular minha respiração ofegante e o tremor do meu corpo. Jesus, eu tô sentindo meu corpo inteiro tremer de medo com essa maldita lembrança que veio em forma de sonho.. tão real.

Saio do quarto e caminho devagar até a cozinha, de imediato encho um copo da água e tomo rapidamente. Então encho outro e me viro, encostando as costas no balcão da pia. Por um momento me esqueço do Brown, e me lembro de ter deixado o Pedaço com o Jorge, ele tava tentando fazer nosso filho dormir.. Balanço minha cabeça e levo o copo até a boca, vendo ele tremer junto da minha mão e balançar a água. Tomo um gole da água e olho para a entrada do corredor quase escondida, ouvindo passos.

O Brown está morto. Repeti para minha mente enquanto ouço os passos, caralho eu nunca fiquei tão assustada nesse tempo todo. Essa lembrança me desencadeou tanta coisa ruim..

Pedaço: Carmem? - Soltei o ar, aliviada. Ele surgiu no meu campo de visão.

Olhei para ele e vi as sobrancelhas franzidas, uma expressão de preocupação. Ele deu alguns passos entrando na cozinha, me olhou curioso e sério.

Pedaço: Por que tu tá chorando? - Perguntou sério, se aproximando. - Alguém mexeu contigo? Hum?

Carmem: O que? - Perguntei confusa.

Passei os dedos pelo meu rosto e só então notei as lágrimas. Como caralhos eu chorei e não vi? Passei a mão nas partes molhadas secando, ainda confusa. O Pedaço se aproximou e parou na minha frente.

Pedaço: O que? - Repetiu afinando a voz. - Porra. Quem mexeu contigo? Fala pra mim, pô, porque se eu descobrir sozinho eu mato.

Ergui a minha cabeça e neguei, olhei para o rosto dele e por um momento agradeci. Poderia ser o Brown agora.


Pedaço: Você tava chorando. Alguma parada rolou. - Insistiu se aproximando mais e mais. - Estrelinha..

Carmem: Não foi nada. Ninguém mexeu comigo. - Avisei e ele pareceu se aliviar, mas ainda assim se aproximou.

Observei ele chegar mais perto e me encurralar. Os braços a minha volta com as mãos na borda da pia, suspirei balançando a cabeça e ele sorriu de leve. Bom, pelo jeito ele conseguiu manter o Jorge calmo e dormindo, e fez isso sozinho.

Pedaço: Nada? Tu tá chorando e tremendo. Se eu pedir pra ver sua mão, sei que vou achar marcas nela. Coé, Carmem, tu mal notou o choro.. - Inclinou a cabeça me olhando nos olhos. - O que aconteceu, pô?

Abaixei minha cabeça encarando o pequeno espaço entre a gente, cinco centímetros ou até mesmo menos que isso.. Inclinei a cabeça para frente e encostei a testa no peito dele, fechando os olhos e pensando um pouquinho. Tá tudo bem, o Brown está morto.

Carmem: Eu sonhei com ele. Me lembrei.. - Falei baixo sentindo o peito dele subir e descer com a respiração. - Ele vai me assombrar pra sempre, isso nunca vai realmente acabar sabia? Porque eu tenho tudo guardado aqui dentro. - Balanço minha cabeça. - Tudo e todos os anos do lado dele, tudo gravado bem aqui.. Pra sempre.

Pedaço: Porra, nem morto esse pau no cu te deixa em paz. - Resmungou um pouco bolado, soltei uma risada baixa e respirei fundo sentindo o coração dele bater. - Tu quer que eu vá caçar ele no inferno? Pô, eu vou.

Carmem: Não, você só tem passagem de ida e hospitalidade gratuita. - Ele riu e passou um dos braços em volta das minhas costas. Acariciando com as pontas dos dedos a região.

Pedaço: É, pô, verdade. Tu devia ir deitar de novo e tentar dormir, tá tarde. - Avisou e eu suspirei me afastando um pouco dele. Esfreguei as mãos nos meus olhos e concordei. - Quer que eu coloque o Jorge contigo? Pra tu não ficar sozinha..

Mordi minha bochecha por dentro, olhando para ele e pensando um pouquinho.. Eu tô sentindo falta da presença dele e de tudo, muita falta e queria que ele ficasse aqui pelo menos essa noite. Comigo. Só que eu quem acabou com tudo e não sei se tenho o direito de pedir isso pra ele, e isso pode acabar deixando tudo mais confuso.

Carmem: Não, tá tudo bem. - Sorri fraco e ele me olhou balançando a cabeça, tirando os braços em volta de mim. Soltei uma risada curiosa e aí ele me lançou um olhar curioso. - Quer ficar? Hoje..

Pedaço: Essa noite? - Concordei e ele olhou pro relógio. - Porra, Estrelinha, o que tu não me pede que eu não faço? Mas tu não vai me deixar no sofá né não, pô?

Carmem: Não. Eu.. é o convite foi pra dormir comigo.. - Ele sorriu debochando e eu ri. - Não faz essa cara, idiota.

Pedaço: Eu e tu? Dormindo? Na merma cama? - Cruzou os braços e eu revirei os olhos. - Pode dar certo, pô, vamos tentar.

Passei o olhar pelo braço dele e vi um pedaço de plástico brilhando, saindo por baixo da manga curta da camisa preta. Pisquei curiosa e aí olhei pra ele, se virando pra sair em direção ao corredor dos quartos.

Carmem: Tu fez uma tatuagem nova? - Ele não me respondeu mas ouvi a pequena risada. - Eu quero ver. O que é?

Ele ainda assim não me respondeu. Segui ele pela casa até o quarto, ele segurou a porta aberta e depois que entrei, ele fechou. Segui diretamente até a cama e subi nela, sentando no colchão e puxando a manta. Parei e olhei para ele erguendo minha cabeça, ele tirou o tênis e as meias, e aí tirou a polo preta por cima da cabeça e colocou no canto do quarto.

Estreitei os olhos curiosa, tentando enxergar o desenho da tatuagem na parte de cima do braço, quase na altura no ombro direito.

Pedaço: É uma cruz. - Falou e eu concordei mesmo não conseguindo identificar de longe. - Já deixo tu ver.

Carmem: Eu quero fazer uma tatuagem. - Ele parou de andar e me olhou, franzindo a testa. - O que foi?

Pedaço: Como assim? Tu quer fazer uma tatuagem? - Concordei e ele deu risada subindo na cama. - Sei não, não combina contigo.. mas se tu for fazer eu pago. Presente pra tu de aniversário.

Carmem: Tudo combina comigo, eu sou linda. De qualquer forma eu quero fazer algo pequeno, que não apareça muito, bem discreto. - Deitei observando a tatuagem nova no braço dele, uma cruz igual a aquela de Racionais. - Traço bonito. Quem fez?

Pedaço: Onde tu tá querendo fazer essa tatuagem? - Perguntou mais sério e eu ri. - Carmem, Carmem.. Essa eu fiz com o Vargas, fui na sorte e ele deu o nome pô.

Carmem: O Vargas? Meu segurança? - Ele fez que sim. - Em que momento da nossa vida ele virou tatuador?

Ele balançou os ombros e deitou do meu lado fazendo silêncio. Ergui o braço até o interruptor e bati os dedos nele, a luz apagou. Me ajeitei virando de lado, de costas para ele e ele de costas para mim. Me encolhi um pouco e fechei os olhos, ouvindo nada mais que as nossas respirações.

A cama balançou e ele se mexeu, senti uma mão na minha cabeça e outra passando por baixo de mim. Ele me puxou e grudou em mim. Minha cabeça encostou no ombro dele, meu corpo contra o dele e um braço em volta de mim, me apertando. Senti a respiração quente na minha nuca e relaxei um pouco mais.

Pedaço: Boa noite, Estrelinha.

Carmem: Boa noite, Anderson..

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