❝ ATÉ CORTAR OS PRÓPRIOS defeitos
pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o
defeito que sustenta nosso edifício inteiro ❞
CLARISSE LISPECTOR —
TODOS ESTAVAM EM SILÊNCIO na sala de jantar. Toda a família Targaryen se reunia para aguardar o rei.
Alyssa estava sentada ao lado de seu legítimo pai, Daemon Targaryen. Ela olhava para todos sentados na mesa com receio. Depois de anos, aquela seria a primeira vez em que todos se reuniram.
Seus irmãos, entretanto, pareciam bem relaxados ao lado de suas novas noivas. Mas Alyssa com certeza não se acalmaria até estar bem longe dali.
Aemond também estava tenso com a situação onde se encontrava. Ele preferiria encarar mil torneios de espada do que se reunir com aquelas pessoas.
Poucos minutos após o silêncio constrangedor em que todos se encontravam, os guardas trazem o rei sentado em sua cadeira.
— Como é bom ver todos vocês esta noite — disse Viserys, com dificuldade — Juntos.
— Uma oração para começarmos? — Alicent lhe perguntou, ganhando um aceno de confirmação do rei — Que A Mãe sorria para esta reunião com amor. Que O Ferreiro repare os laços que foram quebrados a muito tempo.
Alyssa encara Aemond imediatamente.
— E a Veemond Velaryon — a rainha completou sua oração — Que os deuses lhe tragam descanso.
Daemon e Alyssa se encararam, ambos sem medo de demonstrar o pequeno sorriso que se forma no canto dos seus lábios.
— Este é um momento de celebração, me parece — disse o rei, com a voz rouca — Meus netos, Jace e Luke se casarão com suas primas, Baela e Rhaena. Fortalecendo os laços entre nossas Casas. Um brinde aos jovens príncipes e suas noivas.
— Um brinde! — disse Daemon, erguendo a taça.
Alyssa repetiu o ato, assim como todos da mesa. Mas ela notou o olhar de desdém que Baela a lançou.
Desde que Baela havia 'perdido' Vhagar para o tio de Alyssa, ela decididamente adquiriu um certo rancor pela prima e meia irmã.
Rhaena, não. Ela morou em Pedra do Dragão com Alyssa, é tão considerada pela garota quanto a irmã dela Baela.
Em Pedra do Dragão estavam apenas Rhaenyra, Daemon, Jace, Luke, Rhaena e Alyssa. Baela foi morar com a avó.
Anos depois do ocorrido que Alyssa pode perceber que Vhagar não pertencia a Baela. Por que um dragão não é uma propriedade passada de mão em mão.
Mas mesmo assim, o número de pessoas na sala que não simpatizavam com Alyssa só crescia.
— Muito bem, Jace. Vai finalmente se deitar com uma mulher — Aegon sussurrou para Jacaerys, deixando ele e Baela desconfortáveis.
— Brindamos também pelo príncipe Jacaerys — Viserys falou — O futuro Senhor das Marés.
Tudos levantaram suas taças, Alyssa ouviu Rhaena murmurar apoio a Lucerys.
Alyssa percebeu o olhar de Aemond para Luke, como se ele planejasse alguma coisa. Foi nesse momento que ela leu os lábios de Aegon e finalmente entendeu os murmurinhos.
— Mas você sabe como o ato acontece, não é? — Aegon provocou — Pelo menos no começo. Onde você tem que enfiar o seu pau e tudo mais.
Ela trava os pulsos, percebe a tensão sob os ombros do irmão e o lança um olhar controlador, como se mandasse Jace não se meter em problemas.
Se não fosse pelo apoio da irmã, Jacaerys já teria esmurrado o rosto de Aegon, mas ele se controla e sussurra de volta:
— Banque o bobo da corte como quiser. Mas segure sua língua na frente da minha noiva.
Aegon solta o sorrisinho, fingindo ter parado com as provocações.
O rei, entretanto, não percebeu a situação. Ele se levanta da cadeira com dificuldade, e se prepara para outro discurso.
— Meu coração fica tão feliz quanto se enche de tristeza de ver todos esses rostos ao redor desta mesa — Viserys disse ofegante — Os rostos mais queridos por mim em todo o mundo. Que se distanciaram uns dos outros, ao longo dos anos.
Todos ficam em silêncio.
O rei, desabotoa a máscara banhada em ouro de seu rosto, permitindo que todos vejam o rosto desfigurado de sua doença.
— Meu próprio rosto não possui mais beleza — continuou, melancólico — Se algum dia possuiu. Mas nesta noite, eu desejo que me vejam como eu sou.
Alguns desviam o olhar, com sutileza para não demonstrar o susto.
— Não só o rei, mas o seu pai — ele olhou para os filhos, depois se virou para Daemon — O seu irmão! O seu marido, e o seu avô.
Todos abaixam suas cabeças, absorvendo as palavras do rei.
— Que não permanecerá por muito mais tempo entre vocês — Viserys olhava para Alyssa quando disse — Não guardemos mais... sentimentos ruins em nossos corações.
Aemond e Alyssa se entreolham.
— A coroa não pode permanecer forte se a casa do dragão estiver dividida! — ele bateu na mesa — Deixem de lado suas queixas. Se não for pelo bem da coroa, que seja pelo bem deste velho homem!
Daemon encara Alyssa, depois se vira para Viserys.
— Que ama vocês... tão profundamente
O rei caí em sua cadeira, após os esforços feitos para ficar em pé. Imediatamente, Rhaenyra se levanta e apanha sua taça sobre a mesa.
— Eu quero levantar minha taça para a rainha — ela fala, suspirando fundo — Eu amo o meu pai. Mas, eu devia admitir que ninguém esteve mais lealmente ao seu lado quanto sua boa esposa.
Alyssa engoliu em seco. Ela sabia que os tratamentos que Alicent aplicava no rei não eram dignos de um brinde, e sim se uma execução.
— Ela cuidou dele com uma devoção infalível, com amor e honra — Rhaenyra continuou — E por isso ela tem minha gratidão. E as minhas desculpas.
Rhaenyra se sentou, um pouco envergonhada. Mas Alyssa acariciou o braço da mãe com carinho.
— Sua generosidade me comove profundamente — Alicent responde, um pouco sentida pelas palavras de Rhaenyra — Nós somos mães. E amamos nossos filhos. Temos mais em comum do que permitimos dizer.
Alicent pensa em suas próximas palavras, e então se levanta para propor outro brinde.
— Eu levanto minha taça a você, e a sua casa — a rainha ergueu o seu braço — Você será uma ótima rainha.
O silêncio se instala na sala. Todos bebem seus vinhos após realizarem os brindes de Rhaenyra e Alicent. Aegon, entretanto, se levanta para pegar mais vinho.
Alyssa, presta muita atenção nessa parte. Ela vê os sinais corporais de Jace, e mesmo sem escutar o que Aegon havia sussurrado para Baela, ela percebe que o irmão está prestes a surtar.
Quando Jacaerys bate bruscamente na mesa, Alyssa sente os alimentos tremularem sobre a madeira. Ela lança um olhar para o irmão, e sutilmente aponta o dedo para a taça de vinho.
Jace imediatamente entende a dica de sua irmã para disfarçar a situação.
— Ao príncipe Aegon, e ao príncipe Aemond. Nós não nos víamos a anos, mas tenho afetuosas memórias de nossa infância — Jacaerys apanha a taça e a ergue em resposta — E como homens, espero que possamos ser amigos e aliados. A vocês e a saúde de sua família, queridos tios.
Alyssa olhou para o irmão com orgulho, e lhe lançou um olhar de cumplicidade.
— A você também! — Aegon respondeu, desanimado.
— Muito bem, meu garoto — Viserys bate a bengala levemente no chão.
— Eu quero propor um brinde a Baela e a Rhaena — Helaena diz, se levantando — Em breve estarão casadas, não é de todo mal. Ele te ignora na maior parte do tempo, exceto nas vezes em que está bêbado.
Alyssa ri com o brinde de Helaena. Ela levanta o copo e bebe um gole do vinho em sua taça.
— Vamos ouvir uma boa música! — disse o rei.
Quase todos pareciam estar se divertindo no jantar.
Jace tirou Helaena para uma dança, Luke aproveitava de todas as comidas com Rhaena, Rhaenyra e Daemon conversavam como dois jovens apaixonados, Alicent sorria ao lado de seu pai, Aegon estava bêbado demais para ser incoveniente, Baela sorria com as conversas sob a mesa.
Exceto por Alyssa e Aemond.
Eles sabiam que aquela paz era falsa.
Se encaravam com desafio, como cobras esperando para atacar.
Alyssa, entretanto, não desejava sair como culpada da situação daquela vez. Ela já havia matado um homem naquele mesmo dia, se a corte começasse a se virar contra ela e a chamar de maluca, realmente o apelido que ela recebeu começaria a virar um título oficial.
Mas irritar Aemond Targaryen parecia tão apetitoso naquele momento.
Sutilmente, Alyssa coloca o cotovelo escorado na mesa. Ela desliza suas mãos pelo pescoço de maneira leve. Após alguns segundos, ela escora sua bochecha nas mãos.
Aemond não consegue tirar os olhos da princesa, é como se ela fosse a coisa mais interessante que ele já havia visto na vida.
Mas a princesa não tinha intenção de seduzi-lo, e sim de irritá-lo.
Ela passa a mão pelo rosto, todos estão se divertindo demais para prestar atenção nos dois ranzinzas da sala.
De repente, a mão de Alyssa está tampando seu olho direito. Como uma explícita provocação a Aemond.
Pelos Deuses, ela tem ainda tem oito anos? Aemond pensou, irritado.
Mas o jovem príncipe não seria passado para trás daquela vez, não depois de como ela o deixou com cara de idiota naquela manhã.
— Um tributo final! — Aemond bateu na mesa, levantando sua taça para cima — A saúde dos meus sobrinhos.
Ele já planejava dizer aquelas palavras antes, mas Aemond esperaria Viserys sair da sala antes.
Porém, a irritação que Alyssa causou nele o fez antecipar seus planos.
— Especialmente a jovem Alyssa, que cresceu e se tornou uma mulher aceitável — Aemond disse, com o sarcasmo pesando sua voz — Ainda mais exótica se torna quando sabemos os lugares que ela costuma frequentar!
Todos encararam confusos, e até um pouco receosos.
— O que está dizendo, Aemond? — questionou o rei.
Aemond sabia o que lhe aconteceria caso ele chamasse a doce princesa Alyssa de puta naquela sala de jantar, mas ele tinha outras formas de dizer o que quer.
— É espetacular a maneira como nossa família não difere homens de mulheres — ele sorri com as palavras, e antes que pudessem interromper seu brinde, Aemond continua — É ótimo saber que os homens Targaryen produzem filhas tão libertinas.
Alyssa não havia se ofendido, ela até planejava que Aemond a insultasse um pouco. Assim, ela sairia como inocente no fim da noite.
Era isso que ela sentia, até ouvir a última parte.
"É ótimo saber que os homens Targaryen produzem filhas". Porra, como ele havia se atrevido a falar aquilo? Pensou Alyssa.
"Homens Targaryen" Claro, porque Alyssa era uma bastarda de Daemon Targaryen.
Chegava a ser irônico que Daemon tivesse uma filha que já foi vista em casas de prazeres, assim como seu irmão, Viserys.
— Eu te desafio a dizer isso de novo — Alyssa se levanta da mesa, caminhando em direção a Aemond.
— O que? Você parecia orgulhosa de ter frequentado aquele bordel quando conversamos essa manhã — Aemond sorri.
A princesa avança em Aemond. O príncipe, entretanto, não ficou parado quando Alyssa tentou atacá-lo.
Os seis guardas daquele castelo tentaram conter dois jovens de 19 e 21 anos.
— Alyssa, pare! — gritou Rhaenyra.
— Aemond, controle-se, ela é uma garotinha! — Alicent exclama.
— Arrebenta a cara feia dele, Ally! — Luke gritou, contrariando a todos os outros que tentavam apartar a briga.
O rei mal conseguia processar as informações ditas na mesa.
Mais guardas estavam s e aproximando para separar os dois, quando as portas do salão foram abertas brutalmente.
Um dos guardiões do Fosso dos Dragões entrava na sala de jantar.
— Os dragões estão brigando! — ele diz, em alto valiriano — Os dragões ancestrais estão brigando entre si.
Imediatamente, Alyssa e Aemond param de se debater na tentativa de afastar os guardas e atacarem um ao outro.
— Quais dragões? — perguntou Daemon, em alto valiriano.
— Vhagar e Meraxes.
[ ᴘᴜʙʟɪᴄᴀᴅᴏ! ᴏ ǫᴜᴇ ᴀᴄʜᴀʀᴀᴍ ᴅᴏ ᴄᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 11? ᴀᴍᴇɪ ᴠᴇʀ ᴀ ɪɴᴛᴇʀᴀᴄᴀᴏ ᴅᴀ ғᴀᴍɪʟɪᴀ ᴛᴀʀɢᴀʀʏᴇɴ ᴅᴏ ᴍᴇᴜ ᴘᴏɴᴛᴏ ᴅᴇ ᴠɪsᴛᴀ.
[ ᴄᴏɴғᴇssᴏ ǫᴜᴇ ᴇᴜ ғɪǫᴜᴇɪ ᴄᴏᴍ ᴍᴇᴅᴏ ᴅᴀ ʀᴇᴀᴄᴀᴏ ᴅᴇ ᴠᴏᴄᴇs ᴄᴏᴍ ᴀ "ᴘʀᴏᴠᴏᴄᴀᴄᴀᴏ" ᴅᴀ ᴀʟʟʏ, ᴍᴏʀʀɪ ᴅᴇ ᴍᴇᴅᴏ ᴅᴇ ᴛᴇʀ ᴀʟɢᴜᴇᴍ ᴀǫᴜɪ ǫᴜᴇ ᴀᴄʜᴀssᴇᴍ ᴇʟᴀ ɪɴᴄᴏɴᴠᴇɴɪᴇɴᴛᴇ. ᴍᴀs ʟᴇᴍʙʀᴇᴍ: ᴇʟᴀ ᴇ ғɪʟʜᴀ ᴅᴏ ᴅᴀᴇᴍᴏɴ, ᴇ ᴛᴏᴅᴏ ᴍᴜɴᴅᴏ ᴄʜᴀᴍᴀ ᴇʟᴀ ᴅᴇ ᴘʀɪɴᴄᴇsᴀ ᴅᴏ ᴄᴀᴏs, ᴇsᴘᴇʀᴀᴠᴀᴍ ᴏ ǫᴜᴇ?
[ ᴍᴜᴅᴇɪ ᴀ ᴇsᴛᴇᴛɪᴄᴀ ᴅᴀ ғɪᴄ, ᴏ ǫᴜᴇ ᴀᴄʜᴀʀᴀᴍ?
𝗲𝘀𝘁𝗲 𝗰𝗮𝗽𝗶𝘁𝘂𝗹𝗼 𝗳𝗼𝗶 𝗲𝘀𝗰𝗿𝗶𝘁𝗼 𝗱𝗶𝗮 𝟭𝟲 𝗱𝗲 𝗻𝗼𝘃𝗲𝗺𝗯𝗿𝗼 𝗱𝗲 𝟮𝟬𝟮𝟮
𝗽𝗼𝘀𝘀𝘂𝗶 𝗮𝗽𝗿𝗼𝘅𝗶𝗺𝗮𝗱𝗮𝗺𝗲𝗻𝘁𝗲 𝟮𝟬𝟬𝟬 𝗰𝗮𝗿𝗮𝗰𝘁𝗲𝗿𝗲𝘀
𝗮𝗶𝗻𝗱𝗮 𝗻𝗮𝗼 𝗳𝗼𝗶 𝗿𝗲𝘃𝗶𝘀𝗮𝗱𝗼 𝗼𝗳𝗶𝗰𝗶𝗮𝗹𝗺𝗲𝗻𝘁𝗲
𝗽𝘂𝗯𝗹𝗶𝗰𝗮𝗱𝗼 𝗱𝗶𝗮⌇ 16/11/22