Até a última pétala de cereje...

By BlueHansen

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🌸 Com o intuito de enganar seu ex-namorado, Moon Jae aceitou uma sugestão inusitada da sua prima (a designer... More

00 | Apresentação
01 | Estagnada (exatamente onde você me deixou)

02 | Ideia Genial (antes de te conhecer)

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By BlueHansen

Deslizo minha mão até o peito por um instante, onde sinto meu coração bater mais rápido, ainda assimilando o que acabara de acontecer. Continuo olhando para porta por onde Do Yoon acabou de passar, sentindo uma onda inesperada de angústia assolar meu corpo. Guardar por muito tempo sentimentos ruins pode te afetar de inúmeras formas.

Minha respiração ainda está pesada, acelerada, enquanto eu encaro a porta com o braço estirado rente ao corpo. Ombros curvados, braços inertes, coração a mil... Eu sou mesmo uma perdedora. Escorrego até o chão, me escondendo atrás do balcão ao me afogar em minha plena desgraça e vergonha pessoal, quando reparo que meu celular não para de vibrar no bolso da calça.

Logo me recordo da mensagem que mandei para Iseul. Ela geralmente responde muito rápido, e não descansa até a pessoa contar tudo que tem a contar. Ela deve estar enlouquecendo agora.

"Não acredito que ele teve a cara de pau de voltar aí!"

"Vocês estão sozinhos?"

"O que ele está fazendo? O que está dizendo?"

"Se ele te insultar, eu apareço aí no mesmo instante! Eu tenho uma arma de choque e já fiz aulas de defesa pessoal, posso nos defender!"

"Cadê você, Yoo Moon Jae? O que está acontecendo?"

"Eu vou morrer de tanto esperar um sinal de vidaaaa"

"O senhor Hong está aí? O Do Yoon está te incomodando? Se você estiver só, eu ligo para polícia!"

Suas mensagens afastam a onda de tristeza em meu peito, até faz com que eu sorria para tela, ainda que meus olhos estejam marejados e minhas mãos estejam trêmulas. Eu não chorei quando terminamos, pelo menos não em um local público. Não queria deixar o que reprimi lá atrás voltar de uma vez só agora. Seriam meses em que ignorei a parte de mim que se apegava àquelas lembranças como se fosse meu bote salva-vidas. Caso elas viessem à tona após tanto tempo, eu sabia que quebraria.

"Oi, ele acabou de ir embora. Disse que ele e a Hye Won queriam conhecer meu suposto namorado. O que eu faço, Iseul? Ele percebeu que eu estava mentindo", ponho vários emojis chorando.

"Você admitiu a verdade?"

"É claro que não!", pairo os dedos sobre a tela do celular, mordendo o lábio inferior com força. Eu não queria admitir, mas foi inevitável: "Me sinto uma fracassada, admitir seria como dizer isso em voz alta para a última pessoa que desejo admitir fraqueza no momento."

"Então pretende continuar mentindo?"

"Provavelmente não irei chegar muito longe com essa história, né? Ninguém pode me ajudar nessa tarefa..."

Eu já havia cogitado todas as opções possíveis, mas na escola seria quase impossível encontrar alguém que topasse fingir um namoro, principalmente considerando que muitos dos meninos tentavam se aproximar e fazer amizade com o Do Yoon até o ano passado.

Eu sou mesmo uma idiota, penso, largando o celular no chão ao meu lado e enterrando a cabeça entre as palmas das mãos. Meus dedos encontram meus fios de cabelo e os agarram de maneira quase dolorosa e punitiva. Eu mereço isso, afinal. Normalmente eu não sou uma pessoa impulsiva, foi a primeira vez que não calculei meus passos ao tomar uma atitude. Eu só não imaginaria que esse erro me levaria em direção à beira de um precipício.

Não, não na beira... Eu realmente já estava caindo.

O celular continua vibrando ao meu lado, mas eu me permito refletir sobre toda a situação por alguns minutos. Iseul pode aguentar até lá. A pergunta "como você vai provar a sua história para o Do Yoon?" continua pairando sobre a minha cabeça, em um looping sem fim, rodopiando em meio as possibilidades cogitadas e descartadas quase de imediato. Eu penso em todas as possibilidades, até mesmo em pedir ajuda a um menino que me deve um favor por ter lhe ajudado com o dever de matemática, mas essa opção é inviável de todas as formas possíveis, já que ele namora. No fim, as suposições somente me levam a um beco sem saída e a cena que não paro de fantasiar sobre: Do Yoon e sua namorada rindo de mim, rindo com ar de superioridade e aquela expressão que diz "ela é apenas uma criança, muito imatura."

Começo a espernear, gritar, choramingar e bagunçar meus cabelos.

Eu não posso deixar isso acontecer! Eu...

A sineta da bancada toca e eu arregalo os olhos ao abri-los. Pisco os olhos um par de vezes antes de virar o rosto e ver, por debaixo da portinhola, um par de coturnos pretos. Faço uma careta (agora realmente quero chorar) e me levanto com uma expressão de dor e constrangimento.

Mais essa pra conta de humilhações. Mal vejo a hora desse dia de merda acabar.

Ponho uma mecha do meu cabelo atrás da orelha, na esperança de não parecer tão maluca na frente do cliente.

— Boa noite — cumprimento e me curvo até esconder minha desgraça estampada no rosto, ganhando tempo para me recuperar. Quando sinto a cerâmica gelada colidindo com minha testa (literalmente), eu levanto.

Olhos grandes e escuros me observam como se eu tivesse um chifre saindo do meio da minha testa — talvez tenha mesmo, já que o local da batida está pinicando. É assim que eu sei que estou pior que imaginava. Ele traja uma camiseta preta, um casaco por cima e uma calça moletom de mesma cor, assim como usa um chapéu bucket e seus fios de cabelo um pouco maiores escapam do acessório. Ele segura alguns pacotes de salgados e doces, além de um pacote das balas terríveis que o senhor Hong mantém na frente do balcão.

Péssimo gosto.

— Boa noite — o cliente retribui meu cumprimento e despeja as embalagens em cima da bancada, onde eu começo a registrar os valores e torcer para que o computador neandertal do senhor Hong colabore comigo nesse fim de expediente. Ele não diz nada, mas mantém os olhos grandes presos a meu rosto. Eu realmente devo estar horrível, penso.

Quando pego o último pacote, a temida bala azeda que ninguém tem coragem de experimentar mais de uma vez, acabo perguntando involuntariamente:

— Tem certeza que quer levar isso?

A repreensão e o freio mental chegam tarde demais, se tem uma coisa que eu não posso fazer enquanto vendedora é questionar as escolhas dos clientes, pelo menos não de uma forma negativa.

— O gosto é horrível — esclareço, ao ver confusão no semblante do cliente. — A embalagem pode até ser bonita, mas não vale a pena. Você pode descobrir tarde demais, como dizem, o arrependimento sempre chega mais tarde. Mas senti que deveria te avisar.

— É por isso que você estava gritando e chutando o ar agora pouco? — ele pergunta, ainda que incerto, apontando para o chão e fazendo um bico involuntário com a pronúncia das palavras. Noto haver uma tatuagem, provavelmente falsa, marcada em sua mão.

— Oh, não! — balanço as mãos a frente do corpo, sorrindo nervosamente. — Eu não estava chorando por causa do gosto disso... Embora o gosto possa me fazer, de fato, chorar, não foi o motivo dessa vez.

— Não por causa do confeito, eu quis dizer, mas por causa do arrependimento — ele sorri de lado e ergue uma sobrancelha, com esperteza em seu olhar atento.

É a primeira vez que seu rosto me lembra o de alguém, mas não consigo dizer exatamente quem.

Sorrio sem graça.

— São quase onze horas e é noite de sexta-feira, acho que já é tarde o suficiente para bater o arrependimento, não acha?

Seu sorriso se mantém.

— Se me permite dizer, acredito que o arrependimento não leva a lugar algum. Deveria abraçar as decisões que tomou e lidar com elas.

Eu sei bem disso, só é mais difícil seguir essa filosofia na prática. Então, me esquivo daquela conversa profunda:

— É isso que vai fazer mesmo depois de eu ter avisado que não vale a pena levar esse produto? — Sacodo a embalagem no ar, erguendo as sobrancelhas.

O cliente solta uma risadinha e coça a nuca, desconcertado.

— Meu irmão mais novo as adora e estou o devendo uma. Então acho que só me resta discutir com ele o que há de tão interessante nesse produto.

Comprimo os lábios e assinto, passando o produto logo em seguida.

— Caso ache uma resposta convincente, poderia anotar ela em um papel e nos entregar? Quem sabe não podemos convencer os outros clientes a gostarem do sabor peculiar...

Ele assente e põe tudo em sua mochila ao pagar o valor das compras. O estranho se despede com um aceno de cabeça e se encaminha até a saída, mas, na metade do caminho, ele torna a me olhar e diz:

— Ah, outra coisa, acho que seria melhor ajeitar seu cabelo. Não vai querer perder o emprego também por causa de arrependimentos do passado, não é?

Arregalo os olhos e toco meu cabelo imediatamente, sentindo minhas bochechas esquentarem. Ele ri e, desse ângulo, percebo que seus dentes são um pouco protuberantes.

— Seu dia ainda não acabou, então espero que não piore ainda mais.

O senhor Hong jamais me demitiria por causa disso, mas o agradeço da mesma forma. E no segundo seguinte, estou sozinha novamente.

Caio no chão mais uma vez e grito, evitando tocar nos meus cabelos dessa vez. Alguns segundos se passam, até que eu ouço uma pessoa se acomodando ao meu lado. Assusto-me novamente e acabo batendo a cabeça debaixo da bancada. Ao olhar para o lado, vejo Iseul ajoelhada ao meu lado com o rosto redondo bem próximo ao meu — a um centímetro de me beijar.

Nós piscamos os olhos e, após esse segundo de assimilação, eu a empurro pelos ombros:

Ya! Você quase me matou de susto! O que está fazendo aqui?

Ela se levanta de maneira desajeitada, seus saltos finos fazendo estalos secos na cerâmica, e faz uma de suas caretas marcantes ao me julgar com o olhar. Ao pegar meu celular, o sacode na frente do meu rosto e responde:

— Isso aqui é pra ser usado, Jae. Quase me matou de curiosidade em menos de uma hora hoje. Então resolvi vir te buscar no final do expediente.

— E como chegou aqui tão rápido? — franzo as sobrancelhas.

Ela dá de ombros.

— Estou na casa da vovó Miran. Ela me chamou para dormir lá hoje.

— Por quê? — Protesto, contragosto. Não há muito espaço na nossa casa, com Iseul lá significa que uma de nós irá dormir no sofá ou em um futon reserva no chão.

— Porque o vovô não vai dormir em casa hoje e ela estava se sentindo só. Você chega em casa muito tarde, sabia? Deveria arranjar outro emprego — reclama, estendendo a mão na minha direção. Aceito de bom grado e sacodo a poeira das roupas ao me levantar.

— Dos empregos que tenho, esse é o que me paga mais — justifico. As coisas ficaram complicadas depois que a loja do vovô fechou. Como ele já é um idoso, encontrar outro emprego é muito difícil. Então, para ajudar em casa antecipei meus planos de começar a trabalhar, afinal, tenho que suprir a renda que perdemos.

— Certo, certo — ela balança a mão no ar. — Não estou aqui para falar sobre isso. Você viu minhas mensagens? — Um sorrisinho animado demais cresce em seu rosto. Isso não é um bom sinal.

— Não... Deixa eu ver... — tento pegar o celular, mas Iseul me impede.

— Eu vim até aqui só para contar isso, então eu mesma irei falar agora.

Ela dá a volta no balcão da loja e para de frente para mim, do outro lado. Só então parece perceber o estado amarrotado do meu cabelo, pois seus olhos param lá e ela faz uma careta involuntária. Murmura um "o que eu faço com você, hein?", mas não se estende no assunto. Em vez disso, foca na sua grande ideia:

— Eu me formei recentemente em design, lembra? — Assinto, assumindo um semblante confuso gradativamente. — Modéstia à parte, eu sou ótima no que faço. Todos no emprego elogiam o meu trabalho com mídias, mesmo eu sendo apenas uma novata.

— Parabéns, você merece isso. E...?

— Não me interrompa! — Iseul estala um peteleco na minha testa e começa a andar de um lado para o outro, seus saltos vermelhos batendo firmemente contra o chão. — Vagando pelas redes sociais enquanto esperava suas respostas, eu pesquisei sobre fotos de casais. Aparentemente a moda hoje é tirar fotos mais conceituais, tipo aquelas em que só aparece uma mão segurando a sua e por aí vai. Por isso — ela para de frente a mim novamente, com o indicador apontado para cima —, é dessa forma que nós vamos fazer com que pareça que você tem um namorado.

Inclino a cabeça para o lado, ainda confusa.

— Que forma...? — Arrisco.

Iseul revira os olhos, como se dissesse "você é burra?".

— Em resumo: vou editar as suas fotos para parecer que você tem um namorado. Não vai ser difícil, só precisamos achar uma figura masculina adequada para usarmos sua silhueta e algumas partes do seu corpo. Eu posso fazer com que pareça que a pessoa está realmente nas fotos com você — ela reflete, com o indicador tocando o queixo. Então, abre um largo sorriso, se apoia com os cotovelos finos na bancada e pergunta: — O que acha?

Recuo um passo, batendo as costas em produtos nas prateleiras atrás de mim.

— Não...? — tento soar firme, mas minha resposta soa mais como uma pergunta.

— Como assim "não"? — Iseul ergue uma sobrancelha e faz um bico.

— Não conhecemos ninguém e não acho que explicando a situação a pessoa cederia suas imagens para isso. Isso está além até mesmo do que eu pensei para solucionar o meu problema.

Posso estar desesperada, mas isso requer tanto esforço... Eu poderia simplesmente não me deixar abalar pela opinião daqueles dois. Sozinha ou não, estou ok com a minha própria realidade.

Iseul revira os olhos mais uma vez.

— Bom, eu não pretendia pedir permissão, pois você apenas se humilharia mais. Além disso, estaríamos expondo sua história para pessoas completamente estranhas.

— Então o que você pretende fazer?

— Edições e recortes. Muitas fotos podem ficar irreconhecíveis depois de uma boa edição. Eu posso coletar as fotos de um cara qualquer, usar as partes do seu corpo nas montagens e as editar. Assim, a pessoa não terá certeza de que aquela foto é sua. Vão ficar irreconhecíveis, eu prometo!

Mordo o lábio inferior, assimilando a informação, ainda que a recusa esteja pronta para ser dita.

— Qual é, Jae! — Iseul dá pulinhos e se estica mais na minha direção. — Eu sei que não importa a forma como você vive sua vida sem ele, mas vai deixar ele pensar que ganhou assim? Vai deixar ele se gabar de tudo que tem? Podemos fazer algo sutil e eficaz aqui, ok? Eu edito as fotos, você posta elas nas suas redes sociais, o Do Yoon vê as fotos e não vai lhe restar outra opção a não ser enfiar aquele ego enorme dele dentro do próprio rabo. — Ela faz um gesto quase obsceno com o antebraço e me observa com os olhos bem abertos e brilhantes.

Batuco os dedos no balcão, o tic-tac do relógio é a única coisa que ouço por alguns segundo e os olhos esperançosos de Iseul são como raios de sol do meio-dia atingindo o meu rosto ao ponto de queimar.

Eu sei que seria mais maduro admitir a verdade e seguir com a minha vida, mas isso só me traria mais humilhação. Eu não posso convencer o Do Yoon com palavras, já que ele voltou tão convencido de que marcou a minha vida para sempre. Então, devo convencê-lo com ações. Nesse caso, fotos.

Contraio os lábios e esfrego os olhos por dois segundos, para assim dizer:

— Tudo bem. Vou contar com seus talentos apenas dessa vez. — Vejo Iseul já mexendo no meu celular. — O que está fazendo?

— Procurando por fotos suas para editar — responde, concentrada, arregalando bem os olhos e mordendo o lábio inferior carnudo.

— O quê? Mas eu nem tinha aceitado aind...

— Sabia que aceitaria — dá de ombros e me lança uma piscadela. — Você sempre faz essa carinha quando está prestes a fazer uma grande merda — ela para a pensa no que disse. — Bom, pelo menos você acha que é uma grande merda. Eu acho absolutamente genial.

Reviro os olhos.

— Podemos fazer isso em casa, ok? Meu turno já acabou. Pode me ajudar a fechar a loja?

Ela assente e ruma ao trabalho junto a mim. Em certo momento do nosso caminho de volta, pergunta:

— É uma ideia genial, não é?

Não lhe dou uma resposta positiva, mas Iseul parece tão contente com a própria ideia que deve estar pensando em revolucionar o mundo ou criar uma start-up de sucesso a partir disso.

📳

Espero que tenham gostado do capítulo! Se vocês puderem votar e comentar, isso me ajudaria muito a ter uma ideia do que estão achando da história até o momento :,)

Beijos da Blue e até o próximo capítulo! 💙

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