Seguro o pão em minhas mãos, tentando obter força suficiente para trazê-lo à minha boca.
Sabe quando você acorda com muita fome? Quando seu estômago parece que vai te engolir? Aquela sensação ruim se sentir fraco com um corpo mole? Estou assim agora.
Já se passaram mais de vinte minutos desde que Astrid, Rachel e eu nos sentamos para tomar café, às 11h25. Em um absoluto silêncio.
Dou uma mordida no pão com presunto e engulo imediatamente, pego o corpo de água e tomo um gole.
-Minha cabeça vai explodir.- Astrid murmura.
- Claro, você passou dos limites ontem.- Astrid zomba. Levantando um pouco o corpo e cruze os pés na cadeira.
Astrid pega o copo de suco e bebe.
- Você está bem, Evangeline?- Rachel olha para mim.
- Sim, só estou tentando me lembrar de uma coisa.- Inclino a cabeça na mão direita.
Astrid engasga.
- Meu Deus.- Ela me olha assustada.
Inclino a cabeça, sem entender. Meu Deus o quê?
- Minha nossa. - Astrid se levanta da mesa e olha para Rachel. - Você não se lembra do que fez?
Abro a boca tentando processar e me lembro do que fiz tão absurdo para ficar assim.
-Ela não se lembra.- Astrid coloca a mão na boca.
- Jesus, o que eu fiz de tão ilógico?- pergunto.
Olho para Rachel, seus olhos também estão arregalando.
- Você ligou para Anthony ontem e disse em parte que adoraria ser fodida por ele e Damon.- Astrid solta de uma vez.
Não, tenho certeza que não faria isso.
Astrid está apenas brincando.
- Pare, não é engraçado.- reviro os olhos, sinto meu coração disparar.
- Não, ela não está brincando. - Rachel diz apertando a xícara de café em suas mãos. - Tudo bem, se tivermos sorte Anthony nem vai lembrar.
MEU DEUS.
- Que porra eu fiz? - grito e me levanto da mesa imediatamente. - Eu literalmente o conheci ontem.
- É, eu sei.- Rachel suspira.- Se ele se lembrar, não vai acontecer nada, né?- me olha sugestiva.
- Eu não sei, porra. Quem conhece ele é você, não eu.- eu queria desaparecer
Talvez eu devesse comprar uma passagem para um lugar bem distante deles.
- Vamos ignorar e fingir que nada aconteceu.- Astrid pega o celular e começa a digitar. - Aconteceu alguma coisa? - levanta uma sobrancelha.
- Não, não aconteceu nada.- respondo com a voz trêmula.
Eu só me fodo.
De repente, lembranças da ligação vêm à minha mente.
"Vamos resolver isso quando você estiver sóbria o suficiente para lembrar o que vamos fazer com você." Ouço a voz grossa e abafada de Anthony.
Balanço minha cabeça tentando tirá-lo dos meus pensamentos. Mas a única coisa que me vem à mente é como seria ser fodido por eles.
Ouço três batidas na porta da frente.
- Eles estão aqui, esconda-se.- Astrid sussurra.
Estávamos assistindo televisão como se nada tivesse acontecido. A sala era espaçosa, tudo era em tons claros, paredes e móveis brancos, o sofá em tom creme, um lustre enorme na cozinha e na sala, bastante digno de uma mulher bastante conhecida, a mãe de Astrid é um arquiteta de renome aqui em Nova York.
Levanto apressadamente e me escondo atrás das escadas que levam ao segundo lugar. Abaixo-me apenas para ver o que está prestes a acontecer na minha frente.
A vista daqui leva direto para a porta da frente, onde um deles está batendo. Astrid abre a porta.
Meu coração parece perder as batidas. Eu sei, parece infantil. Mas duvido que qualquer outra pessoa aja normalmente nessa situação. Depois de ligar para um cara que você conhece há menos de um dia e dizer que adoraria transar com ele e seu irmão.
Anthony está encostado no carro e Damon está na porta. Damon usava calça preta e camisa preta, enquanto Anthony usava calça preta e camisa branca. Parecia que um ônibus tinha sido jogado em Damon, ele parecia cansado. Morto, na verdade.
Por causa da distância, não ouço muito do que eles estão dizendo, mas acho que Rachel está se despedindo.
Olho para o lado e Anthony abre a porta do carro e entra no lado do motorista. Damon olha para dentro da casa procurando por algo.
Espero que algo não seja eu!
Abaixo-me um pouco mais para que não seja possível me ver. Damon coloca as mãos no bolso da calça e vira as costas indo para o carro junto com Rachel.
Astrid acena com um tchauzinho e fecha a porta.
Meu coração se acalma um pouco. Me levanto e agarro as grades da escadas.
- Quase tive um ataque cardíaco.- Ando até o sofá e me jogo abruptamente.
- Nunca segurei tanto o sorriso.- Astrid se senta no chão. - Preocupante, mas engraçado e constrangedor.
Viro-me um pouco para Astrid e faço beicinho.
- Você sabe que não pode evitá-los.- Astrid diz.- Mas esqueça por enquanto, amanhã é sexta-feira, Halloween.
Amanhã é sexta-feira e não fiz nada de útil durante toda essa semana.
- O que você quer fazer? -Astrid pergunta.
- Tenho que ir para casa.- levanto e pego meu celular.
- Quando chegar em casa, me avise.- Astrid se deita no chão e rola para o lado.
Peço um táxi e subo para o quarto para pegar as coisas que trouxe ontem para dormir aqui. Pego minhas roupas correndo e coloco na minha mochila de qualquer maneira.
Quando estou na metade da escada, ouço uma buzina.
- Evangeline, seu táxi chegou- Astrid grita da cozinha.
- Tchau, Astrid.- grito e corro para fora, assim deixando a casa dela.
Entro no carro cinza.
-Evangelina?- um cara de meia-idade pergunta.
-Eu mesma.- dou um pequeno sorriso.
- Residência Truss?- olha para o gps.
Balanço minha cabeça em confirmação.
Inclino-me contra a janela do carro e agarro minha mochila em meus braços.
Sinto meu celular vibrar no bolso da calça. Pego o celular e desbloqueio.
"Número desconhecido enviou uma mensagem."
Abro o contato e pressiono na mensagem.
Quem foge quer ser caçado.
Que merda é essa? desligo o celular.
- Senhorita, deu dezessete reais e quinze centavos.- vira seu celular para mim, mostrando quanto deu a corrida.
Abro a capinha do telefone e tiro uma nota de vinte.
-Você tem troco para vinte?- pergunto, esticando meu braço com o dinheiro.
Ele balança a cabeça e pega uma carteira cinza surrada do porta-luvas e me entrega o troco.
- Tenha um bom dia- saio do carro.
Olho para frente e vejo a residência Truss. Minha casa.
Grandes portões brancos, o murro marrom escuro cercados com cerca elétrica. Pego as chaves de casa e abro o portão.
Uma casa enorme para duas pessoas. Na verdade, para uma. Minha mãe não para em casa, ela está muito ocupada tendo uma boa reputação como modelo. Ela não deve mais se lembrar de que tem uma filha.
- Boa tarde, Evangeline.- O jardineiro me dá as boas-vindas.
- Olá, Senhor, Adam, senti sua falta.- sorrio.
Eu adoro esse velho de cabeça branca. Ele cuidou desta casa e de mim por mais de cinco anos. Eu sou extremamente apegada a ele.
Vou em sua direção e abraço ele.
Adam estava usando uma jardineira azul-clara, toda suja de terra, e na mão uma tesoura de poda.
- Entre, Margarida te fez um lanche.- Diz ele e enxuga o suor da testa.
Vou correndo para dentro de casa.
-Margarida?- grito procurando a esposa de Adam.
- Oi, meu amor.- Ela larga o pano de prato e me abraça.- Como foi na casa da sua amiguinha?
- Foi bom.- sorrio mais ainda.
Por favor, não quero falar sobre isso. Eu não quero lembrar do que fiz.
- Fiz biscoitos de chuva.- abre o forno tirando uma bandeja com biscoitos.
- Coma e depois vá descansar.- caminha em direção à bancada.
- Não o queria que você fosse, vou ficar sozinha.- falo manhosa, talvez isso convença ela a ficar comigo mais um pouquinho.
Adoro a ideia de que Margarida e Adam podem fazer uma viagem para comemorar seu vigésimo oitavo aniversário de casamento, mas odeio ficar sozinha nesta casa gigante.
- Eu sei, meu amor.- se vira e me abraça.- Vou sentir sua falta. Vai passar rápido, é só um mês.
Margarida dá um beijo na minha cabeça.
- Vou sair de manhã cedo.- comenta.
- Passe no meu quarto para se despedir. - Pego mais dois biscoitos com a mão e subo para o meu quarto.
São três e meia da tarde. Vou descansar um pouco, amanhã tenho um dia cheio.
Meu celular vibra novamente. Desbloqueio e vejo que o número desconhecido enviou uma outra mensagem.
Irei adorar te caçar, coelhinha.