Fai Chen sentia-se fraco. Não conseguiu resistir às tentações de Hu Long e tomou banho junto a ele. Por mais que tivesse efetuado o encantamento de silêncio nos lábios do menor, ao passar o tempo, o mesmo acabou o convencendo, por meio de sua boa lábia, de ambos se banharem lado a lado.
Estavam numa grande banheira de madeira e com a água morna. O maior tirou proveito desse momento para descansar e lavar seus cabelos. Enquanto desembaraçava os nós, sentia fortemente um homem "o secando" com o olhar.
"Você está me deixando envergonhado. Consigo sentir a energia de seus olhos e nem sequer estou o olhando de frente", disse, continuando a mexer em seus cabelos até ficarem lisos o suficiente para lavá-los com maior facilidade.
"Cegueta, você já deveria ter se acostumado com meus olhares. Para mim, você é o homem mais lindo que já pisou nessas terras. É normal querer observá-lo e ainda todo molhado...", Hu Long soltou uma risadinha. Aquela reação deixou o cultivador bem arrepiado. "Eu sinto inveja dessas gotas d'água. Elas estão o tocando e eu aqui... Apenas observando de longe..."
O guerreiro fez um biquinho e Fai Chen levantou o olhar justamente nessa hora. Ele sentiu o coração se amolecer e em apenas alguns segundos depois de ver tal cena Hu Long já estava passando as mãos pelas costas do maior, ensaboando-as.
"Obrigada Cegueta. Eu sinto menos inveja das gotas d'água por agora", o menor mencionou, rindo novamente enquanto lavava as costas de seu amado. "Aliás, Cegueta, você já sabe qual hanfu usará para o Festival?"
"Estou pensando em usar um hanfu roxo. Como de costume. Nada muito exuberante. Não gosto de chamar tanta atenção", Fai Chen respondeu. Ele sabia que um líder deveria ser mais exigente consigo mesmo a respeito das vestimentas. Porém, ele realmente não achava tal coisa necessária. "Por que? Está querendo sugerir algum hanfu para eu usar?"
"Não, Cegueta. Eu perguntei por curiosidade. Mas, bem... Já que você irá com seu hanfu de costume, irei usar o meu preto. Do mesmo jeito que nós encontramos novamente em sua cabana."
Fai Chen sentiu todo seu corpo esquentar. As palavras de Hu Long o tomaram por completo e seu coração já não resistia a apenas alguns toques. Ele virou o rosto e um pouco do tronco. Olhou diretamente para Hu Long e lhe deu um beijo delicado e molhado. O guerreiro não esperava tal ação, mas a aceitou com total prazer. Levou suas mãos para a cintura do maior e a pegou com um pouco de força.
Eles ficaram naquela posição por mais alguns minutos e infelizmente tiveram que desfazer seus beijos e amassos por conta do horário. Já estavam a muito tempo sozinhos e se não se controlassem poderiam perder a hora exata do Festival.
Ao saírem do cômodo de banho, cada um foi para seus aposentos se trocar. Fai Chen, já vestido, olhou para seu reflexo no espelho e ficou pensando um pouco a respeito de seu cabelo. Poderia fazer algum penteado especial, já que o comprimento estava bem longo. Entretanto, no final das contas, ele apenas pegou duas mechas laterais e as subiu, prendendo-as na parte de trás junto a outros fios. Era algo simples, mas que o deixou com um charme maior.
Após ter terminado de se arrumar, Fai Chen foi diretamente para o centro da cidade principal do clã Fai, o qual seria o Festival das Flores e que havia marcado com os outros líderes para se reunirem e prestigiarem os deuses.
Ao chegar no lugar marcado, o líder do clã Fai sentiu um imenso orgulho vendo toda a decoração e como todos os servos deram o melhor deles para criar tamanha maravilha visual. Havia flores rodeando cada ponto das mesas, nas cadeiras e até alguns cantos da pequena fonte que havia por lá. Além da grande predominância floral, um palco foi construído somente para esse Festival e lá já haviam alguns músicos com o intuito de entreter todos os tipos de público.
"Cegueta, tudo está perfeito", Hu Long apareceu de repente ao lado de Fai Chen, deixando-o um pouco assustado. Como não havia escutado seus passos? Estava tão entretido com a decoração? "Meu irmão já chegou? Combinei com ele de sentarmos na mesma mesa e comermos juntos. Você também comerá comigo, né Cegueta?"
Hu Long abriu um sorriso maroto. Na verdade, o guerreiro já sabia muito bem da resposta, mas queria escutá-lo confirmar pela segunda vez.
"Sim, irei comer com você e ao seu lado. Já conversamos sobre isso e..."
"Você também pode me dar petiscos na boquinha?"
"Está pedindo demais, Hu Long", Fai Chen respondeu, soltando um risinho. "Porém, se for um bom guerreiro, posso pensar no seu caso."
O sorriso de Hu Long aumentou dez vezes mais depois de escutar tal frase. Ele adorava provocar Fai Chen e sabia que aquilo seria um desafio. Mas, certamente não duraria 1 hora sem provocá-lo.
As horas começaram a passar e muitos líderes apareceram, igualmente aos cidadãos. Todos estavam bem animados e já prestigiando os deuses pelas suas conquistas e futuros sonhos.
"Hu Long, para de ficar olhando Fai Chen e me passe logo um pãozinho de feijão vermelho", Hong Shaoran ordenou, estendendo a mão no meio da mesa e acabando com total etiqueta que treinou para ter.
"Quanta pressa, A-Ran", Hu Long respondeu, entregando o pãozinho para o irmão mais velho. "Você veio aqui apenas pela comida?"
"É claro que não. Vim para prestigiar os deuses e também conversar com os outros líderes, que no caso, já estão bebendo além da cota e possivelmente não saberão nem seus próprios nomes", Hong Shaoran citou, arqueando os ombros, mostrando uma certa indiferença.
"Os líderes estão curtindo o momento! Eles merecem beber também!", Xia Ling disse, erguendo um jarra de baijiu, no caso, uma das bebidas com maior teor alcoólico da região. "Vamos todos comemorar! Ficar um pouquinho alterados e..."
"Você já bebeu demais, Xia Ling", Li Ming-Yue cortou toda a felicidade da curandeira ao pegar a jarra de suas mãos e tomar um grande gole, praticamente não deixando sequer mais de dez gotas sobrando. "Eu beberei por você."
"Mas... A-Yue! Eu queria beber mais!", Xia Ling contrariou, cruzando os braços e "miando" baixinho, como se estivesse frustrada e triste por aquilo.
Hong Shaoran olhou de lado para a cena e pousou a mão sob sua testa. Sem perceber, também já havia bebido um pouco além do que seu corpo conseguia suportar e Hu Long, notando isso, não parava de rir do irmão.
"A-Ran está com as bochechas coradas! Um fofo mesmo! A última vez que o vi desse jeito foi em uma das festas do clã Hong. Quando você e Huli beberam bastante e...", Hu Long parou de falar e pensou um pouco, lembrando-se de algo que nunca fora explicado. "Inclusive, onde você e Huli foram naquele dia? Vocês simplesmente sumiram depois de um tempo e..."
"Eu não vou falar", Hong Shaoran respondeu rapidamente, esfregando seus olhos para "acordar".
"Por que não? Eu sou seu querido irmãozinho!"
"Por isso mesmo. Você é o caçula. Não deve saber das coisas íntimas dos mais velhos."
Fai Chen e Hu Long ficaram em silêncio por certos segundos, tentando raciocinar a frase que o maior havia dito. Analisando que os dois homens estavam pensando a respeito, Hong Shaoran continuou e mudou, de certa forma, o tema central dela:
"Huli está melhorando. Os machucados de seu corpo estão quase completamente curados e sua energia também. Porém, não está tão forte como nos velhos tempos."
"E ele não tentou fugir?", Hu Long perguntou.
"Por que ele fugiria? Eu cuido muito bem dele", Hong Shaoran respondeu, comendo mais um pedacinho do pãozinho e dessa vez sequer notando a frase tão carinhosa que acabara de falar. "Huli só está com uma angústia maior a respeito de Fai Chen."
Os olhos de Fai Chen se arregalaram.
"Uma angústia?", o cultivador perguntou.
"Sim. Angústia é realmente a melhor palavra para descrever os sentimentos dele em relação a você, Fai Chen. Huli acreditou por bastante tempo que não deveria ser salvo e para ele entender isso já foi um longo caminho. Agora, ele está com um novo desafio em mente e está relacionado a você."
O líder do clã Fai sentiu um breve arrepio em sua nuca. Entretanto, seus pensamentos preocupados foram cessados com as próximas palavras de Hu Long, que tiraram boas risadas de seus lábios.
"Huli está com dor de ex? O Fai Chen é meu. Ele não tem que pensar em algo que tenha relação com o meu homem", Hu Long tomou um longo gole de vinho de arroz e riu alto. "Cuide de sua raposinha, irmão."
"ESTÁ MALUCO, PORRA? HULI NUNCA SENTIU ALGO ROMÂNTICO POR FAI CHEN!", Hong Shaoran acabou se exaltando e praticamente gritando. Algumas pessoas o olharam, mas como não estavam sóbrias, apenas deixaram de lado e acharam que era uma possível ilusão.
"Ei! Irmão! Não fique bravo! Eu estava brincando!", Hu Long passou um outro pãozinho de feijão vermelho para o mais velho. "Coma mais um pouquinho e não fique estressado. Fique calminho!"
Hong Shaoran trincou os dentes e continuou uma discussão com Hu Long, que só gargalhava e sequer se importava com as palavras grosseiras de seu irmão. Enquanto ambos estavam nessa situação, Xia Ling e Li Ming-Yue estavam totalmente grudadas e uma dando doces na boquinha da outra. Fai Chen sorriu e sentiu uma leveza em seu coração.
Essa leveza tinha uma certa relação ao que acabara de ouvir sobre Huli. Ele estava angustiado por não saber totalmente o que fazer a respeito do cultivador e ficava atordoado de sentimentos e pensamentos sobre isso. Fai Chen tinha uma grande noção do quanto o jovem havia destruído sua vida e sabia que isso tudo, de alguma forma, iria pesar em sua mente. Porém, também compreendia o lado do "vilão" de seu destino. E tento essa maturidade, quando Huli quisesse conversar, ele aceitaria, por mais doloroso que seja esse diálogo entre ambos.
Perdido em seus pensamentos, Fai Chen acabou se despertando quando escutou um som diferente vindo de seu lado direito. Ele olhou para o local que chamou sua atenção e notou uma pequena raposinha branca de olhos roxos olhando-o fixamente perto de uma árvore.
O cultivador não pensou duas vezes. Ele estendeu sua mão esquerda e chamou pela raposas. De início, o animal pareceu bem confuso, mas mesmo assim foi em direção àquela mão e, ao chegar diante dela, cheirou-a e lambeu-a carinhosamente.
Um sorriso meigo foi esboçado no rosto de Fai Chen. Ele deixou a raposa lamber sua mão até se cansar. Após dar todo o carinho que queria, ela o olhou de cima e ao ter seus olhos fixados nos do cultivador, ela se sentiu exposta por completo.
Com receio de ter uma reação negativa, a raposa virou-se e correu de volta para a floresta. Por outro lado, Fai Chen ainda olhava para a direção que ela fugiu. Estava completamente surpreso com o que viu por trás daqueles olhos tão chamativos.
Era uma hulijing.
No caso, a versão animal de Huli.
E, por trás daquelas lambidas, o antigo Jovem Mestre Wei estava, de certa forma, tentando começar sua redenção.
"Ei, Cegueta. Você está bem?", Hu Long perguntou, acariciando o ombro do mais alto.
"Claro... Só acabei me dispersando...", Fai Chen respondeu, voltando a sua atenção para a mesa.
Ao olhar para os convidados, soltou uma risadinha baixa. Xia Ling havia se encostado no ombro direito de Li Ming-Yue e adormecido. Li Ming-Yue, por outro lado, estava com uma postura perfeita e com os olhos fechados, também dormindo. E, por fim, Hong Shaoran, usando o ombro esquerdo da cultivadora, também acabou descansando depois de tantos goles de bebida alcoólica.
"Todos dormiram tão facilmente? Não sabia que a bebida estava tão forte", Fai Chen comentou, pegando um pequeno copinho e colocando um pouco de baijiu. Ao tomar, o cultivador automaticamente fez uma careta. "Pelos céus, isso é muito forte."
"Com certeza é e eu bebi...", antes que Hu Long pudesse terminar sua frase, sua cabeça pesou e todo seu corpo caiu em cima do colo de Fai Chen, que estava quentinho e aconchegante. "Ainda bem que a festa já está terminando... Eu queria dormir com o Cegueta..."
Fai Chen acariciou os cabelos pretos do seu amado e o olhou com carinho. Depois, deu uma analisada no geral do Festival. A maioria das pessoas já tinham rezado pelos deuses. Alguns ainda comiam e se divertiam com seus familiares e amigos. Outras já estavam cansadas e repousando.
O líder do clã Fai estava orgulhoso. O Festival tinha sido realmente um sucesso.
Feliz, Fai Chen continuou o cafuné em Hu Long e disse, com total sinceridade de seu coração:
"Dormiremos várias vezes juntos, Hu Long. Não se preocupe com isso."
"Era isso que eu queria ouvir, meu Cegueta", Hu Long respondeu com um sorriso meigo e logo adormecendo de uma vez por todas no colo aconchegante de seu amado.
O cultivador apenas permaneceu em silêncio e com uma sensação maravilhosa dentro de seu peito.
A sensação de tudo estar dando certo e a sua liberdade se tornando cada vez mais possível ao lado da pessoa que mais amava.
Hu Long.
FIM.
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- ale yang on -
O último extra da novel está entre nós! O que acharam? Gostaram do final?
Escrevi mais um "Notas da Autora", o qual agradecerei novamente por todo o apoio que vocês, meus queridos leitores, continuaram dando para mim e para minha história.
Até as "Notas da Autora"!