Algumas horas antes...
Omar Rudberg
Mais um dia em que eu não tenho absolutamente nada pra fazer, estava em um tédio puro. Já fazem alguns dias em que vi toony, e eu realmente senti muito sua falta. Ele me deu muitos conselhos, ele me dá sempre muitos conselhos... Além de tudo, tem um ótimo humor e por alguns momentos eu até me esqueço dos problemas em que ando pensando.
Agora estou aqui, pensando na minha vida. Em como tudo mudou drasticamente, em tudo que eu havia conquistado, em quantos sonhos eu realizei, mas principalmente, como eu evolui como pessoa, como ser humano. E em alguns momentos eu pensava no edvin, era inevitável. Eu ficava me questionando o porquê ele não tinha me procurado, perguntado como eu estava, sobre a minha família, se eu estava feliz... Mas, eu não tinha como cobrar isso dele, afinal foi eu quem o afastei, foi eu que não quis mais resolver, tinha tudo sido uma decisão minha e ele somente me respeitou. Não que eu quisesse isso, eu só, queria deixar de sentir o que sinto por ele... E para mim era uma decisão assertiva, mas agora, olhando como eu estou e em como eu tenho me sentido, talvez, não tenha sido a melhor decisão. Mas, o que eu podia fazer agora? Só fingir que nada aconteceu e me desculpar? Não seria nada sensato da minha parte. Mas, como o toony mesmo me disse, uma hora ou outra eu terei que vê-lo e me resolver com ele, porque agora fazemos parte do mesmo círculo de amigos. Não dava para ignorá-lo para sempre.
Então, meu celular começa a tocar, é alguém me ligando e eu me levanto para atender. Olho para o visor e vejo que é o toony.
- Eai cara - falo
- Eai, tá fazendo o que hoje? - ele me pergunta animado.
- Na verdade, nada, tá um tédio aqui - falo desanimado.
- Então, vou sair com uns amigos hoje, topa ir também? - ele me pergunta e dá uma pausa.
- É só gente daqui mesmo, como você não viu todo mundo.... Achei que gostaria de ir. - ele continua.
- Beleza, fechou então... - falo animado.
- Eu passo aí as 14:00.
- Tão cedo? - falo indignado
- Para de reclamar, o pessoal vai chegar lá esse horário.
- Beleza então
Desligo o celular e o jogo longe, lembro que a bateria está pouca e pego ele novamente levando até a escrivaninha o conectando no carregador e colocando na tomada. Como são mais de 12:00 decido ir tomar um banho para não me atrasar já que eu costumava demorar no banho. Quando finalmente eu termino de me banhar, escolho com que roupa eu vou, isso demorou mais tempo do que eu imaginava.....
As horas vão se passando, rápido, até demais e como eu já estava pronto, só fiquei esperando meu celular carregar toda a sua bateria. Quando finalmente ela termina de carregar, o pego e vou para sala esperar meu amigo, porque faltam só alguns minutos para dar o horário. Logo escuto a campainha sendo tocada. Me aproximo da porta e a abro. Sorrio para meu amigo e dou um espaço para ele adentrar.
- Então, cara.... Eu esqueci de te avisar, mas o nico vai estar lá. - ele me fala meio receoso esperando pela minha resposta.
- Ah, nossa, não sabia... Faz tanto tempo que eu não o vejo. - falo
- É, então, como da última vez que se viram não foi tão legal, eu achei melhor te avisar.
- Ah, entendi. Mas tá tranquilo, eu quero ir mesmo assim... Afinal não vai ter só ele lá né? - o questiono
- Ah é, claro vão ter outras pessoas que estão sentindo sua falta. - ele diz todo sorridente.
- Que bom então. - dou um sorriso amigável.
Eu o agradeço por ter avisado sobre o Nico, realmente é uma história complicada.
Nós nos conhecemos a muito tempo, éramos muito amigos, eu tinha uns 8/9 anos quando o conheci, me encantei logo de cara, ele sempre foi muito atencioso comigo, muito amoroso, muito gentil, e óbvio sempre foi muito gato. Nós tínhamos uma amizade linda, fazíamos tudo juntos, éramos como irmãos e é claro, o sentimento começou a florescer com o decorrer do tempo. Até que nos beijamos, ele foi meu primeiro beijo, a minha primeira descoberta.
Eu já tinha certeza da minha sexualidade, sempre foi meio óbvio, nunca cheguei a me questionar ou algo do tipo. Mas mesmo assim, sempre foi muito assustador. É assustador quando se tratava de sexualidade pra mim, porque era óbvio que eu já havia me descoberto, mas eu teria o carinho o amor e principalmente o respeito da minha mãe quando contasse? Eu não tinha resposta pra aquilo, e muitas vezes só pensar nessa possibilidade me dava enjoo e muito, muito medo. Mas, com uma certa idade, você amadurece, e foi nesse momento que contei para minha mãe, me abri pra ela. Ela foi muito compreensiva, amorosa e muito respeitosa e confesso que até me impressionei com as atitudes dela. Minha família no geral sempre me trataram com muito respeito e na verdade, isso foi o essencial para me tornar quem sou hoje.
Quando eu estava na adolescência, eu resolvi me arriscar. Eu e o nico nos beijamos. Foi incrível e assustador ao mesmo tempo, porque depois do ocorrido ele fingiu que eu não existia, ele se recusava a ficar no mesmo ambiente que o meu, começou a zombar de mim (por conta que haviam descoberto minha sexualidade), ou seja, me tratou com indiferença. Ele nunca aceitou que tinha sentimento por meninos, e por muito tempo, eu me senti um lixo porque eu achava que eu era o errado da situação. Quando eu percebi que não fiz nada de errado, simplesmente me afastei e deixei ele sofrer sozinho, eu não estava nem aí para o que ele estava sentindo quando naquele tempo todo ele fez eu me sentir um bosta... Quando ele percebeu que eu não ligava mais para ele foi tarde demais, porque eu me mudei para a Suécia. Ele tentou me procurar algumas vezes, mas eu simplesmente o ignorei. Depois de alguns anos, eu descobri que ele havia se assumido bissexual.
Eu também tive um relacionamento heterosexual, com uma menina, Julie, ela se chamava. E foi horrível, eu gostava muito dela.... Não chegava a ser atração nem nada do tipo, mas a gente se dava bem, eu namorei com ela por meses. Nos primeiros meses foram ótimos, ela me tratava com muito carinho, respeito e eu cheguei a achar que realmente estava fazendo a coisa certa, e que gostar de meninos era um erro mas, tudo mudou de repente. Ela começou a ficar agressiva e muito, muito possessiva. Nessa época eu fazia alguns concursos de dança e música, e ela me cobrava muito. Ela dizia que eu tinha que ser o melhor, se não, não teria relacionamento. Ela também tinha muitos ciúmes de mim, principalmente da minha mãe. Chegou em um certo ponto que ela começou a me bater, ela foi aumentando o nível doentil aos poucos... Começou me diminuindo, depois a aumentar a voz pra mim, e depois começaram as agressões de fato. Depois de cerca de um ano eu contei para minha mãe, nós fomos a delegacia, mas quando se trata de um homem sendo agredido é tudo mais difícil, a justiça, nesse caso, sempre esta a favor da mulher. Demorou um tempo para eu conseguir de fato sair desse relacionamento, mas eu consegui e fui muito desgastante, depois ocorrido, não quis me relacionar mais ninguém, até eu conhecer no edvin.
Eu acho que esse é meu maior medo com relação ao edvin. Acho que o problema maior nem é o de ser recíproco ou não. É o de passar por tudo o que eu passei de novo. É o de se sentir um merda. É o de se justificar para tudo. É o de ter medo de se abrir com alguém. É o de não saber se estarei vivo nas próximas horas... Eu sei que o edvin não é nem um pouco parecido com ambos que eu me relacionei, muito pelo contrário, mas o medo a angústia e principalmente a fobia de pensar que isso pode acontecer de novo comigo, me faz eu me questionar se não é melhor eu ficar sozinho, sem sofrimento, sem angústia, sem medo.
E hoje, daqui a pouco vou ver o nico. A última vez em que o vi, foi horrível, como o toony havia citado. Ele tentou se desculpar, dizendo que ainda gostava de mim e eu não quis o desculpar porque ainda estava ressentido por tudo que ele já tinha feito comigo. E então ele tentou me beijar, a força... A sorte foi que nesse dia o toony havia me seguido e impediu que ele fizesse aquele ato. Desde então, nunca mais havia o visto e muito menos tive notícias dele, e eu nem queria.
Agora, eu estava no carro de Toony, em direção ao parque onde nos encontraríamos com os nossos amigos. Eu estava ansioso para encontrar alguns deles e ao mesmo tempo nervoso porque encontraria nico naquele mesmo local.
Chegando lá, vimos nossos amigos de longe e eu logo abri um sorriso, até porque eu estava animado em finalmente poder ver todos eles. Quando fomos nos aproximando eu vi o nico, ele estava de costas e logo quando fomos nos aproximando mais ele se virou. Eu os cumprimento com um abraço bem apertado, já que não os via a muito tempo. Cumprimentei ele de longe com apenas um "oi". Quando eu ia me virar ele grita meu nome, fazendo com que eu me aproximasse do mesmo.
- Oi - ele diz totalmente sem graça.
- Oi - o respondo de volta.
- Então, antes de mais nada eu queria te pedir desculpas, mil desculpas. Eu sei que eu tenho sido um completo babaca com você e sei que o que fiz com você não tem perdão, mas eu realmente estou arrependido e queria que você me desculpa-se para o clima não ficar tão pesado como está agora... - ele diz me olhando com seus olhos lacrimejando.
- Você me machucou muito, tem noção disso? Você tem noção do quanto me fez mal? Do quando eu me questionei de o porque de eu estar vivo? Você tem noção do quanto eu me sentia um merda todos os dias que abria os meus olhos? - falo firmemente e ele abaixa a cabeça olhando para o seus próprios pés e logo olha pra mim de novo.
- Desculpa.. Eu não quis, eu..... - eu o interrompo.
- Eu te perdoo, mas não significa que seremos amigos, muito menos que eu vou confiar em você, não somos mais próximos e se depender de mim, nunca mais seremos. - ele abre a boca pra dizer algo mais simplesmente não fala nada, ele só me observa.
- Tudo bem... - ele finalmente diz.
Dou meia volta e volto a atenção para os meus amigos que no momento estavam conversando sobre suas séries preferidas, ou melhor discutindo quais séries eram boas ou qual eram ruins. Depois formamos um círculo de amigos sentados em frente a um lago. O dia estava maravilhoso, não estava nem muito quente e nem muito frio, a temperatura estava perfeita. Em muitos momentos eu fechei os olhos e respirei fundo, devagar... Fiquei sentindo a brisa sobre o meu rosto, a sensação era ótima. Como se o tempo tivesse parado e só me importava comigo mesmo, sem outras pessoas para interromper esse momento de paz e alívio. Mas, logo eu me lembrava da conversa que tinha acabado de ter com o nico, e novamente, voltava a ficar de mal humor.
Uma de minhas amigas, se não minha melhor amiga, Scarlett, sugeriu que jogassemos um jogo, e eu tinha péssimas lembranças desse jogo. Verdade ou desafio.
Todos aceitaram, então por mais que eu não tivesse afim, não faria diferença, então nem sequer falei nada.
Já tinha um tempo que estávamos jogando até que a garrafa caiu em mim e em um dos meus amigos, ou seja, eu tinha que responder e ele deveria me perguntar.
- Verdade ou desafio, Omar? - ele me perguntou
- Desafio - todos ficaram muito impressionados, pois eu sempre respondia "verdade"
- Te desafio a abraçar românticamente o nico - eu não acreditei que ele tinha sugerido aquilo, simplesmente não entrava na minha cabeça.
- Você não precisa fazer isso - Nico gritou em resposta.
- Se ele não fizer, vamos mandar mensagem para o edvin, aí é o Omar quem escolhe- meu amigo respondeu de volta. Isso não é possível, eles não estavam jogando tão sujo assim, estavam? Mas porque eles mandariam mensagem pro edvin? O toony havia contado algo? Eu teria deixado tão nítido assim que gosto dele? eu teria que pagar esse desafio, mesmo que eu odiasse a ideia de o "abraçar românticamente", na verdade eu só queria abraçar o edvin assim, pensei.
Me levanto e vou em direção de nico, ele me manda um sorriso malicioso o que me dá mais ódio ainda em fazê-lo, mas eu teria que fazer, era o desafio. Então eu o abraço e é muito estranho, porque, é como se eu não estivesse abraçando ninguém, foi como nada. Eu achei que até sentiria algo quando o abraça-se, até porque eu já tive um sentimento pelo mesmo. Mas, não foi o que aconteceu. Nesse momento eu percebi. Que tinha perdido o encanto por ele.
Logo foi entardecendo e consequentemente todos começamos a nos despedir e ir embora. Eu pedi que o toony fosse comigo para casa e ele apenas concordou. Quando estávamos indo para casa me deparo com uma foto no Twitter. MERDA. Alguém tinha tirado uma foto, enquanto eu cumpria o desafio de "abraçar românticamente" o nico. E a foto vazou. MERDA. Os meus fãs e algumas pessoas que me seguem já estavam me shippando com esse imbuste. NÃO É POSSÍVEL. QUE ÓDIO. Será que o ed viu? Ele ficou mal? Ele sequer se importou? Eu só queria respostas para todas aquelas perguntas, mas eu não tinha. Não naquele momento.
Edvin Ryding
Já estava tarde, já estava anoitecendo. E logo eu teria que me arrumar, já que havia prometido para a Daishy que sairia com ela. Essa noite. Mas, a verdade é que após aquela foto ser vazada com o crush de infância do Omar, eu só queria morrer. Eu queria desaparecer, doeu tanto, porque apesar de sermos próximos, ele nunca havia me dado um abraço tão apaixonado como ele estava dando naquele tal de nico. Eu fiquei com inveja sim, só queria que fosse eu no lugar. Eu queria tê-lo assim, pertinho de mim, eu não o soltaria nunca mais. Mas eu não o tinha. E depois daquela foto eu cheguei a conclusão que não, ele não sentia nada por mim além da amizade. Os meus amigos estavam errados.
Por mais que eu estivesse sofrendo, eu já tinha prometido a Daishy que iria, e digamos que eu não sou um garoto de quebrar promessas, então logo eu teria que me arrumar e ir encontrá-la. Eu poderia pedir conselhos para ela também, seria ótimo, principalmente nesse momento em que não sei o que fazer.
Depois de alguns minutos tomei coragem e fui tomar um banho, saindo de lá peguei algumas peças de roupa que eu considerava boas para a ocasião. Decidi escolher um sueter preto com uma blusa branca, uma calça preta e nos pés um star preto (o meu favorito). Vou até a sala e encontro os meus pais conversando sobre coisas aleatórias e os informo que eu irei sair. Envio mensagens para a Daishy, informando que eu já estava indo para o local escolhido pela mesma. Um restaurante/bar.
Chegando no local a avistei de longe e me aproximei a dando um abraço. Eu realmente precisava de um abraço da minha melhor amiga.
- Me conta gato, como você tá? - ela me pergunta se sentando em uma mesa, me olhando logo em seguida.
- Nada bem, você viu a nova novidade? - falo enquanto vou me sentando em frente dela.
- A foto que vazou? - ela me pergunta
- Essa mesmo. Olha eu nunca pensei que vê-lo com outra pessoa me faria tão mal. - falo cabisbaixo suspirando forte.
- Calma Ed, eles podem ser só amigos... - ela tenta me tranquilizar.
- Desculpa mas aquele abraço não me parece nada com um "abraço de amigos" - faço as aspas com as mãos.
- Eu sinto muito. - ela diz, mas logo se levanta
- Vamos parar de tristeza! já não me basta o que eu tive que aguentar a semana inteira, hoje eu quero só alegria. - Ela diz alegre e logo chamando o garçom lhe pedindo taças com vinho.
- Vai pedir mesmo vinho? - a questiono.
- Sim! Nada que um vinho não tire a dor da sua decepção amorosa. - ela diz alegremente.
Quando os vinhos chegam, começamos a beber e falar sobre coisas totalmente aleatórias. Até que quando eu vi já tínhamos bebido demais. Estávamos muito bêbados.
- Eu vou fazer uma loucura hoje - digo totalmente disperso da realidade.
- Isso amigo, joga tudo pra fora. - ela diz vindo me abraçar.
- Simon eu te amo Simon - digo
- É Omar sua peste - ela me repreende.
- É o Omar? - a questiono
- Cadê Omar? Omar abandonou ed, ele não quer saber do ed - Falo alterando mais a voz.
- Xiiuuu - ela me repreende.
- Tem gente aqui seu doido. - ela diz o que nos faz rir. Ela pega seu celular
- Vou tirar uma foto sua, você tá muito engraçado - ela diz rindo.
- Eu tenho que postar - ela fala analisando a foto que havia acabado de tirar. Eu não a repreendi nem nada. Eu estava muito bêbado para raciocinar direito.
Enquanto isso eu pego o meu celular e tweeto na minha conta oficial. Mas, naquele momento eu nem sabia que eu estava na conta errada, eu só fui saber disso mais tarde. Um pouco mais lúcido.
Omar Rudberg