A Chantagem (Adaptação)...

By DamianaSilvaa

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Camila Cabello é uma advogada competente e ambiciosa, uma mulher independente que não guarda espaço na sua vi... More

Introdução
1 - Negócio Fechado
2 - Caixas e Pacotes
3 - Remorso
5 - Fotos e lembranças
6 - Faz de Conta
7 - Brigas e Telhados
8 - Pequenas Confições
9 - Outras Intenções
11 - Fale a Verdade
12 - Na Cama
13 - Tempo e Decisões
14 - Duas Visitas
15 - Dor e Carinho
16 - A Festa
17 - Discussões
18 - Feriado
19 - O que ninguém viu
20 - Desencontros
21 - Planos
22 - Morangos
23 - Ela já foi
24 - Eu Também Te Amo
25 - Epílogo
Nota.

10 - Surpresa Desagradável

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By DamianaSilvaa

O que é que eu faço agora?

Toda essa conversa de insistir em algo e segundas chances de Lauren só me fez
pensar em Alexia.

Não pensei que ela estivesse falando sobre… Ah, merda. E agora?

Eu não conseguia mais olhar para ela. A única coisa que me restava era correr atrás de Lauren, dizer para ela como eu me sentia e esperar que ela sentisse o mesmo.

Ela podia ter acabado de insinuar que queria algo mais comigo ou podia simplesmente estar preparando o terreno para sexo.

Mulheres também fazem isso, não fazem?

Como eu queria estar prestando atenção quando ela começou a usar o livro como
analogia para eu e ela. Mas eu estava pensando em Ballard e McCarthy e Alexia.

Não estava pensando nela. E agora, não importava o quanto eu me esforçasse, simplesmente não conseguia lembrar quais foram suas palavras exatas.

Subi as escadas e encontrei a porta do seu quarto fechada. Levantei a mão em punho para bater na porta.

Chega disso.

Diga que ficou com um homem casado. Diga que não sabia.

Diga que está com tesão por ela. Aceite o que ela disser de volta e pronto.

Respirei fundo e ia bater na porta.

Mas lembrei de algo que fez meu coração se fechar em sua conhecida e confortável casca impenetrável.

E daí?

E daí que eu fiquei com um homem casado? E daí se eu sabia ou não? E daí se Lauren fosse ficar enojada?

Aquela semana inteira trancada naquele lugar infernal me fez baixar a guarda. Fez com que eu me importasse com um bocado de coisa e um bocado de gente. Mas uma verdade era inquestionável: quando o mês acabasse, eu voltaria das férias para a minha casa, para o meu trabalho, para a minha vida.

Bem longe de Lauren e Shawn e Alexia e toda a sorte de loucuras que aquela vizinhança escondia.

De que adiantaria aquele trabalho inteiro? Só pra transar com Lauren? Eu ainda ficaria ali por mais algum tempo. Se a oportunidade se apresentasse eu transaria com ela. Se não se apresentasse, meus vibradores ficariam bem ocupados quando eu voltasse para casa. E pronto.

Já basta de congelar, de ficar sem saber o que dizer, ficar envergonhada e constrangida diante dela.

Joguei a mão com força em três batidas seguras contra sua porta.

- O que você quer?

- Sou uma convidada na sua casa e você está sendo grossa.

- Eu não sei o que fazer com você, Karla.

- E nem precisa. Eu sei o que fazer comigo mesma bem o suficiente. Obrigada.

- Queria que você falasse comigo. Mas não desse jeito. - apontou para mim - Queria que falasse como um ser humano.

- Não te devo satisfações, Michelle. - não fui grosseira, apenas objetiva - Você me beijou. Eu te beijei de volta. Não estava no clima para transar e te interrompi. Não quis ofender seus sentimentos.

Ela olhava para mim com um sorriso ultrajado e descrente nos lábios.

- Não me entenda mal. Você é muito bonita e sedutora. Mas eu não estava com vontade.

Ela mordeu o lábio com raiva enquanto balançava a cabeça afirmativamente.

- Mais alguma coisa?

- Vou até a casa da vizinha devolver suas coisas.

- Se demorar, pode ser que quando voltar eu tenha saído. Não me espere para jantar.

- Eu não iria.

Fechou a porta contra o meu rosto.

Respirei aliviada. A vadia que não se importava com ninguém estava de volta e eu tinha sentido muito sua falta.

Ela disse que ia sair e que não tinha hora para voltar… provavelmente ia atrás da piranha do outro dia. Mas…

Lauren que se dane.

Eu não ligo mais.

**************************************

- Suas coisas.

- Eu disse que não tinha pressa. - Alexia pegou os pacotes das minhas mãos e os colocou no chão ao lado da porta - E você…Você devia estar andando por aí? Seu pé não parece legal. Nem seu braço… A sua amiga te espancou foi?

- Não. - estreitei os olhos para ela.

- Ah… Porque eu super entenderia, se ela tivesse feito isso.

- Obrigada. - resmunguei, virando de costas.

- Por que você faz questão de ser tão desagradável?

- Porque as pessoas me julgaram inferior minha vida inteira por ser filha de um zelador. Porque minha mãe riu quando eu disse que ia entrar no curso de direito e disse que com a minha bunda eu tinha melhores chances na vida conseguindo um marido rico. Porque meus colegas de faculdade eram elitistas filhinhos de papai que não suportavam o fato de que minhas notas eram melhores que as deles. Porque eu tive que, minha vida inteira, trabalhar quatro vezes mais pesado do que qualquer outra pessoa para atingir metade do sucesso. Porque todas as vezes que eu me importei com outras pessoas elas me abandonaram, me traíram, me usaram ou me decepcionaram. Porque eu estou muito bem sozinha e quando eu sou gentil, as pessoas acham que podem se aproximar. E quando elas se aproximam quem se fode sou eu. Então, não, eu não faço nenhuma questão de ser agradável e ficar cercada de pessoas que só vão me trazer problemas.

Eu estava naquela situação mais uma vez: última gota de água. Não aguentava mais ninguém questionando por que eu era como eu era.

- Calma. Foi só uma pergunta.

- Não, não foi só uma pergunta, Greenpeace. Foi uma tentativa de me ofender. De novo. Parabéns, dessa vez você conseguiu.

- É muito ceticismo da sua parte. Nem todo mundo vai te magoar.

- Mas o risco é bem grande. E eu optei por não me arriscar mais. A decisão é minha, será que dá pra todo mundo começar a respeitar isso?

- Você parece ter se aproximado da sua amiga. A Jauregui.

- É. E quem bem isso me fez?

Fiquei encarando a menina com fúria nos olhos.

- Parece que está descarregando seus problemas em mim. Nunca te abandonei, nem te traí, nem nada assim. Então, por favor, pare de me olhar como se eu fosse o
resumo de todos os problemas da sua vida. - ela não soava exatamente constrangida. Era mais… indignação.

- Só vim entregar suas coisas. - concluí, tentando recuperar o fôlego e a calma.

Entre perder minha autoconfiança na frente de Lauren  e o meu autocontrole na frente
de Alexia, o subúrbio estava me transformando em outra pessoa.

- Se ficar aqui é tão ruim por que você não vai embora? - exclamou quando eu já estava a alguns passos de distância.

- Porque Lauren está me chantageando com uma gravação de sexo!

Foda-se.

Foda-se tudo nessa merda.

Cansei.

- É o quê? - seu queixo caiu descomunalmente e ela olhou chocada na direção da casa vizinha.

Eu ia virar de costas e deixar que ela pensasse o que quisesse, mas Alexia correu
atrás de mim e me segurou pelo braço.

- Você precisa denunciá-la para a polícia!
Expirei, pedindo encarecidamente ao meu autocontrole que voltasse logo.

- Não é o que você está pensando. Ela é uma pessoa decente e eu sou uma pessoa horrível. - repeti roboticamente acenando com a mão como quem conduz uma sinfonia - Foi uma brincadeira.

As palavras saíram doces na minha boca.
Lauren nunca colocaria aquele vídeo na internet. Ela simplesmente não faria isso.
Independente de eu cumprir o acordo ou não. Mas eu já estava ali e podia ter perdido minha confiança e meu controle mas, por deus, eu não perderia o meu orgulho. Ia até o fim com essa história toda.

- Ela está querendo te dar uma lição, é? - ela riu e eu percebi que ela tinha mudado de lado.

- Pode fingir que não está achando tão bom?

- É difícil. - riu - Você é muito chata.

Observando de fora pode parecer louco. Mas, de repente, eu não conseguia parar de achar graça na situação e fiquei rindo com a maluca verde no seu gramado.

- Olha… - ela começou - Você parece meio mal e eu… eu não estou fazendo nada. Você quer… - ela indicou a porta da própria casa.

Eu não morria de amores pela garota, mas me esconder de Lauren pareceu uma boa
ideia.

***********************************

- Não acredito que você se masturbou do lado de fora!

- Ah, pare de ser tão virgem, Alexia.

Ela abriu a boca com indignação.

- Ah, você pode me chamar de chata, insuportável e vadia, mas eu não posso te chamar de virgem?

- Não sou virgem. - afirmou encarando os próprios pés.

Mentira.

Olhei para ela com ares de obviedade.

- Tá, talvez eu seja um pouquinho. - confessou.

- Como alguém pode ser um pouquinho virgem? - bati as mãos nos joelhos e senti meu pulso doer.

- Eu já vi um cara nu. Uma vez.

- Pare. Pare. - balancei as mãos para ela - Está me dando pena. - ri e ela me acompanhou.

- Não sou uma mulher bonita. - deu de ombros - Tive poucos pretendentes. Acho que esperei o cara certo aparecer, mas, se ele apareceu, não se incomodou em prestar atenção em mim.

- O “cara certo” é uma ilusão da sua virgindade. - fiz as aspas com os dedos.

- Você tem que ficar repetindo a palavra com “v”?

- Virgem, virgem, virgem. Cresça, Alexia.

- Ah, claro. Você fica repentindo como uma criança e a infantil sou eu? Virgindade é uma coisa importante na vida de uma mulher.

- Concordo. Não foi isso que eu disse?

- Não. Você disse que o “cara certo” era uma ilusão. - ela exagerou nas aspas com os dedos, me imitando.

- Eu não disse isso. Disse que era uma ilusão da sua virgindade.

- E o que diabos isso quer dizer?

- Quer dizer que essa coisa de cara certo só existe enquanto você é virgem. Aí você perde o hímem e vira sexo. Vira orgasmo. De preferência gostoso e com frequência.

Ela riu com o rosto enfiado nas mãos. Pelo seu jeito eu tinha certeza que ela não tinha ninguém com quem conversar sobre esses assuntos.

- Com quem você perdeu a sua… sabe?

- Virgindade? Ah, com um cara.

- Um cara?

- É. Um cara. A gente namorou por um tempo, mas acabou.

- Você se arrepende?

- Nem um pouquinho. - sorri - Mas acho que varia de mulher para mulher. Diz pra mim, você está esperando o Calvin, é isso? Não fica vermelha! Responde!

- Eu acho ele bonito. Mas, sei lá… acho que não sou o tipo dele.

- Toda mulher é tipo de qualquer homem. Basta você saber se vender.

- Não vou me prostituir! Você ficou louca?

- Ah, garota! Acompanha! É so uma expressão. Eu sou advogada, você acha que eu ia sugerir a alguém que fizesse algo ilegal?

- Não sei. Tem advogado de todo o tipo.

- Não sou desse tipo.

- Você ficou com um homem casado…

- E o que isso tem a ver? Você quer ajuda com o Calvin ou não?

- Quero. Desculpe.

- A primeira coisa que você precisa fazer é perder a virgindade.

- Mas eu achei que o plano era perder a virgindade com o Calvin.

- A gente pode fazer isso também. Mas não acho que é uma boa ideia.

- Por quê?

- Porque ele não presta. É homem safado. Se você tem uma queda louca por ele e adiciona perder a virgindade nessa mesma equação, o resultado vai ser você apaixonada e ele nem aí.

- Ou ele pode se apaixonar por mim.

- É. Em um filme da Disney.

- Não vou perder minha virgindade com qualquer um.

- Você tem alguma inclinação religiosa?

- Não.

- Quer transar só depois do casamento?

- Não.

- Esses são dois motivos válidos e bem grandes para esperar. Fora isso é só se sentir pronta. Diz pra mim: Você não transou até hoje porque não está pronta, ou porque não achou o cara certo?

- Porque não achei o cara certo.

- Mas se você achasse você transaria com ele? Aqui? Agora?

- Se você não estivesse na sala…

Revirei os olhos para ela.

- Caras certos não existem, Alexia. Eles podem até existir, mas é uma ilusão achar
que você tem que esperar a vida inteira. Não estou dizendo para você transar aos 16 anos com o primeiro que aparecer. Mas você já está na metade dos vinte, não está?

Ela fez que sim.

- Você é uma mulher feita. Paga suas contas. Vive sua vida. Não é? - Mais uma concordância. - Sexo é natural, Alexia. É como comer ou ir ao banheiro. É algo do corpo. O único mistério que sexo tem, é o mistério que você dá. Está na sua cabeça. Se você não se sentisse pronta, eu te diria para esperar mesmo que o cara certo aparecesse na sua frente com um alto-falante e um show de pirotecnia. Mas garota, se você está pronta pra transar, vai lá e transa. É muito bom.

Ela sorriu envergonhada.

- Só tome cuidado para não engravidar ou pegar alguma doença. Conheça o cara minimamente para não correr o risco de ser alguém que vai te forçar a fazer algo que você não queira. E evite lugares públicos onde você possa ser pega. Pelo menos nas primeiras vezes. - pisquei um olho para ela.

- Você acha que é mesmo assim tão simples?

- Para mim, pelo menos, sempre foi. A impressão que eu tenho é que as mulheres
tendem a esperar pelo cara certo porque transam sem estarem prontas. Então, elas
usam a desculpa “mas foi com o cara que eu conhecia desde a infância e com quem  eu namorava há 3 anos”. Tem tanta magia envolvendo a perda da virgindade feminina que nós todas, enquanto gênero, achámos que temos que ter uma boa história da primeira vez para contar ou será arrependimento eterno. É bobagem.
Não é que transar com o amigo de infância com quem você namora não seja o ideal: provavelmente é. Mas não vale a pena permanecer virgem quando você está louca por sexo só porque nenhum amigo de infância se apaixonou por você, sabe? Quando você está pronta e se sente pronta, pode ser com qualquer cara. Porque o que importa não é ele, entende? É você. O sexo não é pra ele. É pra você.

- Acho que eu concordo com você.

- Concorda comigo? - arregalei os olhos, descrente, e puxei as cortinas olhando para o céu - Vai chover canivete.

- Pare. - riu - Mas e Lauren?
- O que tem Lauren? - ah merda. Queria me distrair e não falar dela.

- Ela é a "o cara certo" pra você?

- Menina, você precisa parar com essa obsessão com “cara certo”.

- Sei lá, é so que… Ela te conhece e ainda assim te quer por perto. - riu - O que há de errado com ela?

Aquela era uma boa pergunta.

- Vai ter que perguntar a ela.

- Você já transou com ela?

- Não. E isso não é uma pergunta muito apropriada.

- Você acabou de sugerir que eu transasse com qualquer um. Acho que já ultrapassamos a barreira do “apropriado” há umas oito menções de virgindade atrás.

- Verdade. Não, não transei com Lauren.

- Mas queria?

- Que diabos de pergunta é essa?
- Você engole em seco toda vez que menciona o nome dela. É estranho.

- Você não me conhece. Eu posso engolir em seco um bocado.

- Achei que você era tipo A Deusa de Todos os Seres.

- Por que acharia isso?

- Por que você é bonita e… tem um corpo bonito. E é segura e confiante. Não sei. - deu de ombros.

- É. Mas essas coisas todas somem quando fico perto de Lauren. Ela tem um aspirador que suga toda essa segurança e confiança. - resmunguei.

- Então você gosta dela?

- Gosta dela? Você tem 12 anos? Eu estou atraída por ela, sim. Queria transar com
ela, sim. Mas não acho que isso vai acontecer.

- Por que não?

- Ótimo. Arranjei um guru do sexo.

- Responde, Camila!

- Um guru do sexo virgem.

Ela me encarou com uma careta.

- Ela é muito… decente. E eu transei com um homem casado. Não sei como falar isso com ela.

- Você sabe como me dizer que eu sou uma imbecil por não ter transado ainda, mesmo eu sendo uma completa desconhecida, mas não consegue explicar um erro honesto para uma pessoa que você conhece há anos?

- Pois é. Vai entender. Tenho travado perto dela, por algum motivo.

- É “amor” o nome desse motivo.

Expirei fundo resgatando minha paciência.

- Não seja tão apocalíptica, virgem. Às vezes tesão tem os mesmos sintomas.

- Mas pode ser que…

- Não quero falar sobre Lauren.

- Mas…

- Não quero, Alexia! Ela saiu, hoje. Tem um encontro. Eu e ela… não é uma coisa
que pode dar certo. Deixe pra lá.

- Mas ainda estamos no meio da tarde. - olhou para o relógio.

- Então, talvez ela não tenha saído ainda. - me estiquei para olhar pela janela.

Podia ver o caminho da entrada até a garagem, mas não podia ver a garagem em si. Não tinha como saber se seu carro ainda estava lá.

- Além do mais, não vou me preocupar com isso. Hoje, nós vamos sair, eu e você. Vamos arranjar um homem que te interesse.

Ela começou a rir.

- Desde que seja depois dos biscoitos, eu deixo você bancar a cafetina.

- Vou ignorar o comentário da cafetina. E o que você quer dizer com “biscoitos”?

- Quero dizer aquelas massas doces de comer.

Olhei feio para ela.

- É um senhor que mora aqui perto. Ele tem câncer. Eu e Rick…

- O Thierry?

Ela piscou.

- Você o conhece como?

- No hospital, ontem. Depois que eu caí. Cruzei com o Rick.

- Ah! Ele é um doce. Cuida do Thierry como se fosse seu pai.

- Notei.

- Mas, de qualquer modo, aos fins de semana nós sempre passamos por lá para ficar um pouco com ele. Conversar… ele gosta de jogar baralho. Pobre Thierry. É tão sozinho.

- Ele me convidou para ir até lá, um dia. Eu vou com você, então. E depois dos biscoitos, você não escapa.

**************************************

                            Lauren Jauregui

Passava das sete horas da noite quando saí do cinema. Em sua mensagem, Camila dizia que ia passar a noite fora. Aparentemente, nós duas estávamos competindo para ver quem conseguia ser mais imatura.

E eu estava cansada de perder.

Lynn já estava no bar quando eu cheguei.

- Laur! Foi um prazer receber sua ligação.

Seus cabelos loiros eram curtos e lisos. O corpo esbelto estava coberto por um vestido preto de uma sensualidade discreta.

- Sinto muito ter desmarcado nossos planos, ontem, Lynn. E também por ter ligado hoje tão em cima da hora.

- Ah, não é problema. - ela tocou meu braço assim que me sentei ao seu lado - Ia passar o fim de semana trabalhando. Esse caso Merkin está me dando dores de cabeça. Precisava mesmo de uma bebida.

- Vamos dar um jeito. - sorri - Tenho certeza que vamos dar um jeito de provar que o Harris está mentindo.

- Você parece bem confiante disso, Laur. Queria ter metade do seu otimismo. - Sei que tem algo ali que não estamos vendo.

Se Camila tinha encontrado, eu iria
encontrar também. A não ser que aquela criatura demoníaca no corpo de uma deusa estivesse mentindo só para me irritar. O que, considerando seu histórico, era bem possível.

- Pois então vamos nos dedicar para encontrar. - ela levantou sua taça de vinho em um brinde assim que minha dose de whiskey chegou. Brindamos e eu virei metade da dose.

Olhei fundo nos seus olhos. Azuis. A cor errada.

- Diga-me, Laur. Por que eu estou aqui? - Lynn tinha uma voz suave e derretida quando se dirigiu a mim.

- Eu não sei. Eu… - passei os dedos nos cabelos.

Eu não queria ela. Era Camila quem eu queria nua na minha cama.

- Teve uma semana longa? - perguntou, apertando meu ombro.

- Mais ou menos. - “Longa” nem começava a definir minha semana.

Ela se virou no banco elevado a beira do balcão e ficou de frente para mim. Senti
uma de suas mãos na minha coxa, quase na minha virilha.

- Lauren, você quer sair daqui?

Lembrei da sua silhueta enrolada no edredom. O gosto delicioso da sua boca. O
toque de sua pele quente.

Se eu fechasse os olhos bem apertados poderia fingir que Lynn era ela.

- Quero.

***********************************

                         Camila Cabello

Os biscoitos de Thierry eram realmente bons. Não eram nada espetacular. Mas eram gostosos.

- E agora?

Rick estava mostrando algo em um tablet para o debilitado homem sentado no sofá.

- Agora, nós vamos nos arrumar para sair. Você já me enrolou a tarde inteira, Alexia. Biscoitos, baralho, conversas. Já é quase oito horas e nós vamos sair!

- Tudo bem, tudo bem! - levantou as mãos, rendida.

- Vou trocar de roupa e te encontro na sua casa daqui a uma hora, está bem?

- Camila, não tenho certeza se… - ela olhou ao redor - Tá. Está bem. Vamos.

- Thierry, obrigada por tudo! - Rick fechou a porta e eu já tinha cruzado a rua quando vi o Porsche Boxster S estacionado na garagem.

- Uma hora? - Alexia perguntou já do seu lado da cerca. Eu confirmei e entrei em casa.

Lauren já tinha voltado e uma série de pensamentos inundou minha cabeça. Eu
podia parar de ser uma megera e conversar com ela. Conversar como um ser humano como ela tinha pedido. Se eu fizesse isso, ao invés de sair com Alexia, minha noite poderia terminar de um jeito bem diferente.

Estava sentindo falta de alguém.

Onde estava Max? Lauren não entraria em casa e deixaria seu babão favorito ainda
preso no quintal. Abri a porta dos fundos e o cachorro quase me derrubou.

- Você está aqui fora sozinha há um tempão, não é, rapaz? - alisei seu pêlo. Estava macio e cheiroso depois do banho. Quase dava vontade de abraçá-lo. - Vem, menino. Vem pra dentro.

Ouvi um barulho no andar de cima e Max me seguiu quando subi as escadas.

Meu coração estava batendo desconfortavelmente. Algo estava errado.

O barulho estava vindo do quarto dela. Eu queria chamar seu nome e perguntar se estava tudo bem, mas algo dentro da minha cabeça estava gritando para que eu ficasse quieta e, mesmo sem saber porque, eu obedeci.

Virei o corredor e o barulho ficou mais alto. Minha garganta secou e ardeu. Eu reconhecia aqueles sons bem demais. Era como se um piloto automático tivesse assumido minhas funções e ele estava mandando meu corpo colocar um pé atrás do outro e continuar em frente.

A porta do seu quarto estava aberta e a luz do criado mudo estava acesa.

Lauren  estava só de roupa íntima com seus braços envolvendo e apertando uma piranha loira e esquálida.

Algo dentro de mim rachou e doeu como nada nunca tinha doído na vida. Meus pulmões congelaram e eu não conseguia respirar. Um ardor insuportável subiu pelo
meu nariz até chegar aos meus olhos e o mundo ficou embaçado.

Eu tentei engolir, mas não havia uma gota de saliva na minha boca.

Tente respirar, Cami. Você precisa sair daqui.
Eu estava parada como uma estátua no meio do corredor, bem na frente da porta.

Uma olhar curvado e Lauren veria minha figura patética hipnotizada por um sofrimento difícil de descrever.

Ela gemeu e a beijou e eu quis morrer.

Dei um passo para trás e desejei sumir dali sem deixar rastros. Mas Max tinha outros planos.

Ele latiu e pulou para a frente. Sua coleira escapou da minha mão frouxa e frágil por milímetros. Em dois segundos, o labrador estava em cima da cama.

Lauren se virou para tentar segurá-lo, mas ele já tinha as patas nos travesseiros e o focinho no cabelo loiro de uma mulher histérica.

Se ele queria lambê-la ou mordê-la, eu não soube dizer. Mas estava esperando que fosse a segunda opção.

Morde ela, Max. Morde ela.

Lauren puxou seu cachorro pela coleira e se virou para colocá-lo no chão. Sua expressão era um misto de pânico, confusão e incômodo.

Levantou o rosto e nós estávamos nos encarando. Na cama, a loira estava se tapando com o lençol.

- Não sabia que você tinha voltado. - meu orgulho era tudo que me mantinha em pé e eu queria agradecê-lo por ter forçado minha boca a usar palavras compreensíveis ao invés de deixar meus pés ganharem e saírem correndo - Vou levar Max lá para baixo.

- Cam…

Não sei de onde tirei forças para andar até o meio do quarto e pegar o cachorro pela coleira. Ele resmungou com um latido baixo, mas me seguiu obediente. Ainda consegui cumprimentar a vagabunda com um rápido olhar e um gesto.

Finja indiferença, Cami. A palavra de ordem é indiferença.

Assim que puxei Max, Lauren tentou colocar a mão na minha cintura.

- Camila.

Desviei do seu toque e assim que fiz a curva no corredor e estava certa que elas não podiam mais me ver, corri pelas escadas abaixo. Meu pé doeu como se alguém estivesse enfiando navalhas em chama ao longo das minhas articulações, mas eu
mandei ele se foder e continuei a correr.

Fechei a porta de casa atrás de mim para que Max não me seguisse. Atravessei o gramado da casa de Alexia, sentindo minha respiração rasa e ofegante. Eu tinha lágrimas amargas, azedas e mais toda a sorte de gostos horríveis descendo pelas minhas bochechas.

Esmurrei a porta de Alexia com força e ouvi Lauren chamando meu nome.

Ela deve ter demorado a colocar algumas roupas antes de me seguir. Ou talvez estivesse explicando para a vagabunda aonde estava indo…

A porta se abriu.

- Camila? Mas ainda não…

Eu me enfiei dentro de sua sala e me abaixei no sofá. Tinha plena convicção de que, assim que ela colocasse o pé do lado de fora, me veria pelas janelas de Alexia.

Ela ainda estava com a porta aberta, me encarando em uma tentativa desesperada de encontrar um sentido naquela cena absurda.
Meu coração batia na minha garganta e eu sentia as lágrimas caindo ininterruptas
de meus olhos inundados.

Escutei Lauren chamando meu nome, dessa vez mais alto e mais perto. Alexia olhou pela janela e eu soube que ela já estava fora de casa.

- Por favor, me esconde.

O que era aquilo?

O que era aquela dor?

Aquela falta de controle?

A falta de razão?

Fazia anos que eu não chorava daquele jeito. Anos que eu não sentia vontade de derrubar uma lágrima sequer. E agora… Eu não conseguiria olhar para ela. Não sem perder dois terços da minha dignidade.

- Por favor, Alex. - juntei as mãos e implorei.

Ela ainda mantinha a porta aberta, confusa. Se Lauren começasse a andar pela rua me procurando, iria me encontrar encolhida e encharcada de lágrimas no chão da casa de uma desconhecida. Aquilo ia ser muito mais do que eu podia suportar.

- Me esconde, por favor.

Ela fechou a porta com cuidado e apagou a luz da sala, antes de se ajoelhar ao meu
lado.

Eu enfiei minha mão boa na boca e mordi. Tinha um choro incontrolável chegando
e eu não sabia o que poderia fazer quando ele chegasse.

Abracei meus joelhos e senti Alexia esfregando minhas costas. Apoiei a testa nas
mãos e chorei em silêncio.

Era hora de admitir.

Eu estava apaixonada por Lauren.

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