A Chantagem (Adaptação)...

By DamianaSilvaa

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Camila Cabello é uma advogada competente e ambiciosa, uma mulher independente que não guarda espaço na sua vi... More

Introdução
1 - Negócio Fechado
2 - Caixas e Pacotes
3 - Remorso
5 - Fotos e lembranças
6 - Faz de Conta
8 - Pequenas Confições
9 - Outras Intenções
10 - Surpresa Desagradável
11 - Fale a Verdade
12 - Na Cama
13 - Tempo e Decisões
14 - Duas Visitas
15 - Dor e Carinho
16 - A Festa
17 - Discussões
18 - Feriado
19 - O que ninguém viu
20 - Desencontros
21 - Planos
22 - Morangos
23 - Ela já foi
24 - Eu Também Te Amo
25 - Epílogo
Nota.

7 - Brigas e Telhados

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By DamianaSilvaa

Fiz a viagem de táxi de volta para casa no piloto automático.

Casado

Acho que dei uma gorjeta exagerada ao taxista.

Espero ter guardado todas as coisas frias na geladeira ou no dia seguinte metade das compras estaria estragada. O resto ficou no chão da cozinha dentro das sacolas.

Casado

Abri a porta do quintal e joguei comida pro cachorro sem me incomodar com o medidor. Devo ter esquecido de fechar a porta, porque ele me seguiu para dentro da sala.

O filho da puta é casado…

Respirei fundo.

Pensei em começar a guardar o resto das compras nos armários, também. Limpar mais alguma coisa antes de Lauren chegar.

Enfiei a mão em uma das sacolas e tirei o sutiã vagabundo de Alexia. Lauren ia
chegar tarde, ela tinha me avisado que tinha um encontro hoje.

Um encontro com uma mulher interessante.

Uma que devia tratar as pessoas com
educação e que não devia transar com homens casados.

Olhei para o sutiã de arco-íris e me senti imunda.

Alexia era uma garota boba e jovem que se preocupava com reciclagem e que estava atraída pelo vizinho.

Rick era um jovem que tinha incontinência e tentava esconder isso. Ele tinha seus próprios problemas, mas ainda veio me defender quando Alexia foi agressiva demais.

E Lucy … Lucy era um poço infinito de simpatia e altruísmo e eu tinha…

Eu tinha…

Larguei o sutiã no chão e subi para o banheiro. Comecei a tirar as roupas no
meio do corredor e deixei tudo caído perto da cama antes de me jogar de cabeça debaixo do chuveiro.

Exagerei no sabonete líquido e passei os próximos vinte minutos a esfregar
metodicamente cada centímetro do meu corpo.

Lembrava dos meus seio espremidos contra o capô do carro. Eu tinha pensado em Lauren e tinha adorado. Esfreguei a esponja contra os meus peitos com tanta força que doeu, mas eu não me incomodei. Continuei a exorcizar minha pele com tanto empenho que tenho certeza que devo ter esfolado meu corpo em pelo menos dois lugares.

Não estava adiantando.

Eu não estava me sentindo nem um pouco mais limpa.

Continuava pensando em Shawn.

Shawn em baixo de mim.

Shawn por trás de mim.

Seu hálito no meu pescoço.

Na minha boca.

Um homem casado.

No sofá de Lauren.

No carro de Lucy.

Um homem casado.

Meu nariz começou a entupir e mesmo debaixo do forte jato de água quente eu
conseguia sentir as lágrimas azedas rolando pelas minhas bochechas.

Aquilo não ia adiantar.

Desliguei o jato. Um latido baixo e eu notei que tinha deixado as portas todas abertas.

Abri a porta do box, me enrolei na toalha e andei até o quarto para procurar roupas limpas. E de repente, eu tinha usado todas as forças que me restavam.

Apoiei a mão contra a quina da cama e deixei meu corpo escorregar para o chão.

As lágrimas discretas desistiram da discrição e começaram a cair torrencialmente. Meu corpo estava fraco, minha cabeça latejava e eu não conseguia parar de fungar.

Tapei o rosto com as mãos e chorei.

Eu odiava chorar, fazia minha cabeça doer e meu raciocínio falhar. Mas ali,molhada e precariamente enrolada com uma tolha no chão da casa de alguém que estava me chantageando, depois de ter feito umas piores descobertas da minha vida, eu cedi e me permiti chorar.

Não tinha ninguém ali para me ver.

Ninguém para me ouvir.

Ninguém para me consolar.

Nunca tive ninguém para me consolar.

A poderosa Camila Cabello que nunca precisou de ninguém.

É fácil aprender a não precisar de ninguém quando você nunca teve alguém.

Eu estava abraçada com os meus joelhos, soluçando contra minhas mãos. No que foi que eu me tornei? Numa destruidora de lares? Eu me tornei minha mãe? A ideia do que meu pai diria se me visse naquela situação, se visse o que eu tinha feito, no que eu tinha me tornado… Só a mera ideia fez com que eu chorasse duas vezes mais intensamente.

Por quê? Por que eu precisei me transar com aquele cara? Por que sentia essa necessidade de me vingar? De estar sempre certa, sempre por cima, sempre no controle? Do que tinha me servido?

Uma vida inteira não me importando e… parabéns, Cami: ninguém se importa com você, também. E enquanto Lauren faz amizades e Lucy tem o apoio da vizinhança inteira, você fica chorando sozinha no banheiro porque o único cara que te quer é o safado casado, que só quer te comer e voltar pra mulher.

Senti um sopro quente contra o meu rosto e levantei assustada. Por um milésimo de segundo achei que era Lauren. Mas não era. Era o cachorro. Ele estava me encarando com aqueles imensos olhos castanhos e fez um gemido estranho como se estivesse com pena de mim.

Empurrei ele com o braço.

- Não preciso de sua pena, criatura demoníaca. Preciso da sua distância.

Ele pareceu não se importar com meu empurrão e logo estava de volta ao meu lado, coisa irritando.

- Sai. - reclamei. Mas ele se aproximou ainda mais, com o seu gemido sofrido e passou a língua babona pelo meu rosto inteiro.

- Ai! Que nojo! Sua coisa maldita…

Ele me lambeu de novo e latiu.

- Sai. - reclamei, mas senti minha voz sair mais leve.

Max começou a pular ao meu redor. Ele latia, tentava pular em cima de mim e continuava a me lamber sempre que tinha uma chance.

Eu finalmente desisti de tentar afastá-lo e percebi que estava sorrindo. Ele ia e vinha tentando puxar minha toalha com os dentes em uma atitude brincalhona.

- Pare, seu tarado! - brinquei sacudindo suas orelhas e ele se deitou ao meu lado, estirado de barriga para cima como se quisesse carinho - Aprendeu com a sua dona, foi? - ele rosnou alegremente enquanto eu lhe fazia cócegas. - Minha vida é uma merda, Max. - confessei.

Ele se virou de volta para cima e veio apoia a cabeça no meu joelho.

- Eu não queria ser uma pessoa ruim. Nunca foi minha intenção. Mas acho que… acho que aconteceu, sabe?

O par de olhos castanhos se levantou na minha direção como se ele realmente compreendesse. Ele era um animal irracional, era óbvio que não compreendia. Mas falar em voz alta estava ajudando.

- Eu fiquei tão preocupada em criar uma casca que fosse grossa o suficiente para me proteger da parte ruim do mundo que acabei me distanciando da parte boa, também. - as lágrimas tinham começado a secar salgadas no meu rosto e eu quase conseguia respirar pelo nariz de novo.

- E agora… eu consigo me defender muito muito bem. Mas precisei desenvolver uma boa dose de agressividade para aprender a fazer isso e quando não tenho nada me ameaçando eu uso essa agressividade acumulada contra pessoas que não tem nada a ver. Não sei como controlar. - dei dois tapinhas no seu pêlo macio - Tenho medo de ser mais gentil e acabar desaprendendo como me defender. E aí, o que acontece? Eu sou gentil com todo mundo, todo mundo pára de me detestar. Mas eu ainda vou estar sozinha. O que acontece quando eu precisar? Quem vai me defender se não eu?

Ele latiu e eu senti que era quase como se ele quisesse falar.

- Eu queria ser uma pessoa boa mas tenho medo do que possa acontecer. - respirei fundo - Mas não conte para a sua dona! - ralhei, olhando feio para ele.

A campainha tocou e eu puxei a toalha para mais perto de mim.

O olho mágico mostrou que era Alexia na porta.

Merda. Tomara que eu não esteja com os olhos vermelhos.

Abri uma faixa bem estreita da porta.

- Ainda não terminei de arrumar as coisas. Levo suas coisas para você quando acabar. - cuspi, mal humorada.

- Não, não vim por causa disso.

- O que você quer?

- Posso entrar? - ela olhou ao redor.

- Não, não pode. Estou ocupada. O que você quer? - Max estava latindo e tentando me empurrar para ver quem estava na porta.

Ou talvez ele estivesse me empurrando para Alexia, em uma tentativa de me forçar a ser mais sociável. Calma, rapaz. Mesmo que eu estivesse disposta a tentar fazer isso, nunca seria assim tão rápido.

- Tudo bem. - ela expirou desagradada, dando mais uma rápida olhada ao redor - Vim te pedir desculpas. - falou de uma vez, como se tivesse medo de demorar e se arrepender.

Ela queria entrar para pedir desculpas de uma forma mais privada? Pois que pedisse em público.

- E por qual ofensa específica você está se desculpando? - provoquei.

- Você não sabia. - tinha algo no seu olhar que gelou meu coração.

- Com licença? - minha voz não tinha qualquer resquício de convicção.

- Você não sabia que ele era casado.

Eu queria dizer mais alguma coisa, mas só consegui engolir em seco e esperar.

- Sua janela é bem grande. - levantou o indicador para a janela grande na lateral da sala. A janela que dava em parte para a rua e em parte para a casa dela. - Eu vi quando você e Shawn… - ela abriu um olhos de um modo sugestivo e deixou que seu tom terminasse a frase por ela. - Mas você não sabia. Achei que sabia. Desculpe.

Respirei fundo. Reassuma o controle, Cami.

- Tudo bem. Está desculpada. - dei um passo para trás e fechei a porta, mas sua mão impediu que ela se fechasse.

- Qual o seu problema?

- Meu problema?

- É! - reclamou - Eu vim até aqui pedir desculpas e você age como se eu viesse te pagar um dinheiro que te devia.

- Ah, garota! O que é que você quer?

- Quero que você pareça pelo menos incomodada de ter transado com um homem casado no sofá da sua esposa. - explicou em um misto de exaltação e sussurro - Vagabunda! - acrescentou ríspida.

- Pare de me chamar assim. - levantei o indicador, ameaçadora, para o meio do rosto dela - E Lauren não é minha esposa. É só uma… amiga. Vim ajudá-la com a mudança.

Ela parou por dois segundos como se estivesse pesando as informações que tinha acabado de receber.

- Não sei se transar com um estranho no sofá da sua amiga é muito melhor.

- Ah, que inferno! É o ano internacional de explicar para Camila de quantos modos diferentes ela pode ser mal educada? Olha garota, eu transei com o cara, certo? Eu não sabia que ele era casado. ACREDITE: não vai acontecer de novo. Você veio se desculpar, desculpas aceitas. O que mais você quer?

- Você vai falar com a Lucy?

- Claro que não! Você perdeu o juízo?

- O cara não presta! Ela merece saber.

Algo em seu tom me deixou intrigada.

- Ele já fez isso outras vezes? Trair a Lucy?

Ela não precisou responder.

- Então, por que você não já foi falar com ela, antes?

- Porque eu nunca soube o que dizer! E o cara realmente não presta. Quero dizer, ele já deu até em cima de mim. E eu não sou exatamente… bem… - ela me indicou com a mão, ela queria dizer que não era bonita, mas não estava achando as palavras - Eu não sou bem o tipo de mulher que caras dão em cima. - resolveu.

- E se você nunca contou para ela, por que, diabos, acha que eu vou contar?

- Achei que podíamos contar juntas.

- Ah, ótima ideia! - bati palmas, irônica - E depois vamos fazer uma festa do pijama na sua casa, assistir Friends e pintar nossas unhas.

- Friends?

- Foco, garota! Eu não vou falar nada e nem você

- Você pode não falar se não quiser, mas não pode me impedir.

Alguém começou a gritar no meio da rua e eu me lembrei que odiava o subúrbio.

Lauren ia descobrir e eu ia ter que esbofetear a garota moralista.

- Se você falar, eu nego. E aí?

- Ela vai acreditar em mim!

- Então, por que você não já foi até lá?

Os gritos aumentaram e eu quis cometer um homicídio. Max ficava latindo atrás de mim e eu não entendia o que os infernais vizinhos poderiam estar discutindo a três casas de distância. Quero dizer: eu estava discutindo traições e confissões com minha arqui inimiga e nós estávamos conseguindomanter nossas vozes baixas.

Educação, por favor, vizinhos. Resolvam seus problemas em voz baixa.

- Tá, tá. - balançou as mãos - Eu não vou até lá. Não tenho coragem. Mas você é toda segura, imaginei que você poderia…

Entre Max latindo e os vizinhos gritando, eu não conseguia ouvir o que  Alexia estava dizendo. Merda, eu não conseguia ouvir o que eu estava pensando. A voz feminina berrava que ela estaria morta antes de ver uma criança ser criada por um casal de pecadores bem na sua frente.

- Toda segura? Garota, eu te garanto que eu tenho milhares de problemas para resolver. Problemas meus, que não envolvem vizinhos e seus problemas conjugais.

As vozes continuavam a chegar altas e claras: Um homem a chamava de hipócrita preconceituosa e a mulher estava clamando por Deus para intervir.

- Mas você pode ajudar…

- Eu ia era trazer problemas para mim. Nunca que eu faria isso conscientemente…

- Então, você precisa parar de pensar e simplesmente tentar ajudá-la.

- Você é muito nova para entender: mas adultos não se metem em problemas de
outros adultos sem serem convidados.

- Eu sou adulta, obrigada.

- Você é uma pirralha inconsequente…

- Não sou!

- E eu tenho um sutiã de arco-íris para provar.

- Você é a pior pessoa que eu conheço.

A mulher, a distância, estava usando toda variante vulgar da palavra “homossexual” para descrever o casal de vizinhos e a raiva que estava subindo pelo meu corpo pelas últimas duas horas simplesmente explodiu.

- Pior pessoa que você conhece? Pois o mundo ainda vai te assustar um bocado. - afirmei, passando por ela com raiva e me dirigindo até o centro das discussões a algumas casas de distância.

- EI! - gritei, batendo palmas - Seja lá qual for o problema aqui, será que dá para vocês resolverem como seres humanos civilizados? Estão incomodando a vizinhança inteira com o seu barulho.

De um lado, um homem alto com o cabelo bem penteado com gel usava um paletó cinza sobre uma camisa de linho e segurava um homem vestido com roupas esportivas confortáveis. Provavelmente para evitar que ele avançasse para cima da mulher de calça comprida e terninho comportado, com um precioso colar de pérolas, do outro lado da rua.

- Se a palavra de Deus te incomoda, você deve ficar bem com esses daí. - indicou o casal gay.

- As palavras que estavam me incomodando eram os gritos da senhora. - expliquei rude.

- Essa vizinhança fica cada vez pior. - exclamou ofendida, com as mãos na cintura

- Como se esses daí querendo ensinar sodomia para uma criança inocente já não fosse ruim o suficiente, agora temos uma prostituta, também.

Eu fiquei na dúvida se “a prostituta” seria eu. Mas pelo bem da integridade física da velha das pérolas achei melhor nem perguntar.

- Vagabunda! - o grito me pegou de surpresa e, considerando as últimas horas, achei que o xingamento estava sendo dirigido para mim. Mas um olhar ao redor e eu vi o homem de roupas esportivas cuspindo a palavra na direção da velha.

Aleluia! Mais alguém está sendo chamada de vagabunda que não eu.

Ela fez o sinal da cruz e, entre o “vagabunda” e o “prostituta” eu percebi que o clima era o da gritaria e falta de respeito. Se era assim, era melhor eu entrar na onda.

- Minha senhora, eu não te conheço, está bem? E garanto que a senhora também não me conhece. Então…

- Ah, eu conheço seu tipo, muito bem. É o tipo que está infestando essa vizinhança.

“Infestando?” Agora, eu sou uma doença?

Oito anos em salas de audiência defendendo causas milionárias e eu nunca tinha recebido metade das ofensas que ouvi nos últimos dias na casa de Lauren. Isso é o que eles chamam de “lugar tranquilo para morar”?

- Se nós queremos adotar uma criança, é uma questão nossa, sua bruxa! - gritou o homem.

- É! Sua bruxa! - repeti. Eu queria começar a ofendê-la e logo.

Mas não sabia quais ofensas eram apropriadas, então resolvi seguir a liderança de alguém. Pela expressão corporal agressiva do cara de roupas esportivas, imaginei que, dos presentes, era ele quem tinha o perfil mais similar ao meu.

- É da minha conta o que eu tenho que tolerar na minha vizinhança.

Ouvi um latido familiar e notei que Max estava ao meu lado. Puta merda, eu precisava começar a fechar portas.

Baixei a mão para a coleira e o mantive próximo. A última coisa que eu precisava era que o cachorro de Lauren fugisse ou fosse atropelado.

- Se está incomodada que se mude! - exclamei.

- Eu cheguei aqui primeiro!

- Na Terra? Pela sua idade, minha senhora, nenhum de nós está discutindo isso.

O casal gay foi o primeiro a rir e alguns espectadores próximos acompanharam.

Alguns moleques que estavam jogando bola na rua pararam e começaram a prestar atenção na discussão.

- Eu não perguntei sua opinião, sua vadiazinha.

- Mas eu vim dar mesmo assim. Estava conseguindo ouvir a sua, lá de dentro da minha casa. Então, imaginei que fosse justo vir aqui gritar com a senhora também.

- Não fui eu quem começou a gritar. - indicou o casal com um dedo.

- A hora deles vai chegar, também. - afirmei - Ou vocês se calam todos ou eu chamo a polícia.

- Pois chame!

Ela pareceu animada demais e o casal animado de menos.

Droga, uma chamada na polícia ia direto pro relatório de adoção do assistente social e eles nunca conseguiriam uma criança.

- Por que a senhora quer tanto prejudicar esse casal? - perguntei indignada.

- Eu não estou vendo casal em lugar nenhum.

- Ignorem. Por favor, ignorem ela. - o homem de paletó queria que aquilo acabasse.

Eu conseguia ver o nervosismo em seus olhos. Ele não estava acostumado a
comprar uma briga. Felizmente, eu estava.

- E eu não preciso ver esse tipo de coisa. – acrescentou

- E quem foi que disse que a senhora precisa ver? Eles estão dando a bunda no sofá da sua casa?

O clima foi de comoção, risadas ou ultraje. Eu não soube dizer e, sinceramente, não liguei. Estava no meu limite e se alguém não gostasse do que eu tinha dito que me processasse. Sem problema algum.

Ela colocou a mão no peito e fez o sinal da cruz.

- É por isso que o Inferno existe. Para gente como você.

- Minha senhora, se o Paraíso é para pessoas como você, eu prefiro o Inferno pela companhia. Obrigada.

- Você precisa voltar para o puteiro de onde saiu!

- E a senhora precisa voltar para o século XIV. Sabe? Quando a senhora seria queimada na fogueira por usar essas calças?

Ela tinha fogo nos olhos quando virou de costas. O jovem que ela puxou pelo braço quando voltou para dentro de casa me chamou a atenção: era Calvin. Ele tinha um sorriso brincalhão e me ofereceu um adeus rápido quando sua mãe não estava olhando.

- Olha, obrigado. Você não precisava…

Eu levantei a mão para que ele se calasse.

- Não estou te defendendo! - deixei claro - Só quero que o barulho pare. - levantei o indicador.

Ele sorriu e concordou com um gesto.

Puxei Max pela coleira para trazê-lo de volta para casa.

Alexia estava me olhando com as mãos na cintura e um sorriso nos lábios. Acho que ela estava satisfeita por eu ter tomado as dores de alguém.

Pobre Alexia: eu não estava tomando as dores de ninguém. Só queria que a gritaria parasse.

Mas os pensamentos sobre Alexia rapidamente fugiram de minha mente.

Poucos passos atrás dela, Lauren estava parada no meio da rua. Ainda segurando sua pasta e processos. Ela tinha a boca aberta e o olhar fixo em mim. Sua expressão era um misto de impressionado e admirado que fez com que eu tivesse muito orgulho de mim mesma.

Andei até a frente da casa e anunciei alto o suficiente para que Alexia ouvisse também.

- Não estou defendendo ninguém! - exclamei. - Só não aguento mais essa gente mal educada reclamando.

- Caramba… Acho que no fundo você é uma boa pessoa, Mila. - Alexia afirmou antes de sair. Ela pareceu quase chateada, como se quisesse, na verdade, que eu fosse realmente uma pessoa ruim que ela pudesse odiar.

Lauren  tinha um sorriso no rosto que ia de uma orelha a outra.

- Encontro foi bom? - perguntei, diante do seu olhar de satisfação.

- Não. - ela pareceu arrancado da sua linha de pensamento - Desmarquei. Podemos entrar?

- Desmarcou? - perguntei, segurando a coleira de Max firme. Ela se aproximou de mim, abaixou-se para alisar o cachorro e quando se levantou de volta estava tão próximo que eu conseguia sentir seu perfume.

- Não achei legal te deixar aqui sozinha. Vamos? - indicou a porta de casa.

- Eu não ligo. Pode sair com quem você quiser. - dentro de mim, meu estômago estava fazendo uma dancinha da vitória.

Cara… eu realmente estava atraída por
Lauren. Merda.

- Eu me mantenho ocupada.

- Percebi. - riu - Vamos continuar a conversar lá dentro e…

- Senhora Jauregui? - um dos moleques que estava jogando bola se aproximou.

Lauren deu um passo protetor na minha direção e me segurou pela cintura.

Não entendi.

- É senhorita Cabello, moleque. Não sou casada com isso daqui. - expliquei.

- Senhorita Cabello. - ele estava sorrindo - A nossa bola caiu no telhado da sua casa, podemos…

- … ficar sem jogar bola até amanhã para aprender a ter cuidado perto da casa dos outros? - rosnei - Pode.

Lauren ficou em silêncio o que eu achei bastante peculiar. Não era do feitio dela me deixar ser grossa sem nenhuma intervenção.

- Podemos entrar agora? - virou-se para mim quando o moleque se afastou.

- Que fixação é essa com entrar? Não manda em mim, Michelle, se eu quiser ficar na rua fico na… - um pensamento me arrebatou da minha argumentação.

Merda.

Merda, merda, merda.

Eu ainda estava de toalha, não estava?

************************************

- Ouvi a gritaria e acho que saí sem pensar.

Não fique vermelha, Cami. Não fique vermelha. Por favor, não fique vermelha.

- É. Parece que você tem feito muitas coisas sem pensar ultimamente. - riu, colocando as coisas em cima da mesa.

- Isso foi algum tipo de indireta, Jauregui? - passei as mãos pelo corpo me certificando que a toalha ainda estava devidamente presa.

- Não, Camila. Na verdade foi uma direta em relação ao vídeo de sexo que eu tenho graças a sua masturbação ao ar livre.

Eu odiava o jeito como ela falava sobre isso tão casualmente. Mas, ao mesmo tempo, algo nas minhas entranhas sempre se aquecia quando eu a imaginava me imaginando nua.

- Não foi intencional. - expliquei comedida - Eu ter saído de toalha na rua, quero dizer. Não estava tentando te humilhar ou causar nenhum constrangimento com os vizinhos ou…

- Eu sei. Tudo bem. - ela se aproximou mais uma vez. - Mas sabe? Se você continuar fazendo isso - ela colocou as mãos na minha cintura - logo, logo mais alguém também vai ter um vídeo seu e aí o meu vai perder o valor. Vamos evitar que isso aconteça, sim? - ela riu e eu não consegui não sorrir.

- Você está tentando ser fofo ao me chantagear? - tentei disfarçar meu sorriso em descrença.

- Não estou tentando. - ela ainda estava muito perto.

Havia algo em sua voz e em seu olhar que eu não conseguia definir muito bem.

Não era como se ela quisesse me seduzir. Na verdade era como se… Bem, se fosse qualquer outra pessoa, eu leria aquela expressão corporal como se ela não quisesse se afastar. Como se quisesse ficar ali, me observando, com as mãos na minha cintura, pelo máximo de tempo que pudesse até que o momento começasse a ficar estranho.

Mas era Lauren. E eu nunca consegui ler Lauren muito bem.

Sacudi ideias loucas pra longe da cabeça.

- E Max ainda está vivo! - ela exclamou me soltando. Acho que o momento começou a ficar estranho. - Pontos para você.

- Vou conseguir meu vídeo de volta, agora? - perguntei, puxando o cachorro demoníaco e coçando suas orelhas.

Parte de mim queria voltar a falar de sexo com Lauren. Era uma parte bem grande de mim e ela ganhou sem qualquer contestação.

- Ainda não. Mas está fazendo um bom trabalho. - ela olhou para mim e seu sorriso se transformou em uma expressão estranha e assustada.

Um puxão na minha toalha e eu compreendi. Max estava brincando com as pontas soltas mais um vez e eu, ainda precariamente embrulhada, tive que começar a lutar
um cabo de guerra contra o labrador.

Lauren correu na minha direção e colocou os braços ao redor da toalha. Eu ainda estava vencendo, o que significava que eu ainda estava vestida. Mas um puxão mais forte da parte de Max e Lauren estaria abraçando meu corpo nu.

Aparentemente, ter duas pessoas puxando a outra ponta da toalha convenceu Max de que aquela era uma brincadeira muito divertida da qual todos queriam participar.

E não importa o quanto Lauren mandasse ele parar, a Besta continuava empenhada em puxar o pano.

Eu segurei a parte da toalha ao meu alcance com todas as minhas forças. E entre isso e sentir Lauren  ao meu redor, minha cabeça não conseguia fazer mais nada. Seus braços e seu peitos estavam em todos os lugares.

- Droga, Max! Pare!

Ela estava de frente para mim, com os braços ao redor do meu corpo, puxando a barra da toalha da boca de Max. Seus dedos tocavam minha coxa nua e uma parte de mim queria que Max arrancasse aquela toalha de uma vez para eu descobrir o que aconteceria. Mas essa parte foi bem menor dessa vez e perdeu louvavelmente.

Lauren puxou a mandíbula de Max e o forçou a largar a toalha. O cachorro, finalmente, pareceu entender que a brincadeira tinha acabado e foi arranjar um lugar para se deitar.

Lauren ainda tinha os braços ao meu redor. Ela estava olhando para minha boca como se estivesse lutando contra um pensamento. Aquela era uma emoção com a qual eu conseguia me identificar: estava fazendo a mesma coisa.

Coloquei minhas mãos contra seus ombros e senti seu abraço em minha cintura ficar mais firme. Ah, por que ela tinha que ter um cheiro tão bom? Senti um inconfundível volume contra o meu quadril. Não tinha porque me ofender. Mas também não podia considerar aquilo nenhum tipo de elogio. Ela estava excitada: óbvio. Abraçado com uma mulher nua e ainda úmida do banho. Se ele não tivesse ficado excitada é que seria estranho.

Ela se afastou educadamente, tentando disfarçar. Fingi que não tinha percebido nada.

- Acho melhor eu ir tomar um banho. - disse - E você devia…

- É. Eu vou…

***********************************

Quase qualquer mulher, no meu lugar, faria o que eu fiz: coloquei o vestido mais sensual que eu tinha. Nada exageradamente elegante ou vulgar, é claro. Mas daqueles soltos, decotados e curtos que valorizam os seios e mostram a quantidade certa de coxa.

Olhei pela janela e vi que os moleques ainda estavam na rua, brincando de alguma outra coisa. Eu podia pegar a bola deles e fazer uma última gentileza do dia. Seria algo para conversar com Lauren no jantar. Algo para ela me elogiar.

Eu estava mesmo me transformando em um rato de laboratório, querendo repetir comportamentos que geravam benefícios.

Mas que se dane.

- Onde está? - perguntei para os meninos na rua.

- Chutamos ela, ali. - ele indicou o ponto aproximado, ainda receoso. Acho que eu tinha assustado ele. Bom: eu gostava de assustar as pessoas.

- Certo. Vou pegar pra vocês. - apoiei a escada contra a lateral da casa em um ponto onde o telhado era mais baixo.

Nada a não ser telhas.

- Vocês tem certeza que foi aqui? - gritei para a rua.

- Temos. Foi um chute forte, talvez…

Mas eu a encontrei. Estava só um pouco mais adiante, na curva onde a casa de Lauren se dobrava sobre si mesma.

Andei entre as telhas com uma cuidadosa destreza e lancei a bola de volta para rua.

Acenei para os gritos de obrigado e estava começando a me preparar para fazer o caminho de volta quando um movimento em uma das janelas do primeiro andar chamou minha atenção.

O banheiro de Lauren tinha uma janela comprida seguindo a linha do teto e eu
conseguia vê-la lá dentro.

Ele estava de pé contra a parede do banheiro de frente para mim. Tinha o rosto no teto e os olhos fechados. Com uma das mãos ele estava se apoiando no mármore da pia e com a outra…

Mesmo a distância e através do vidro da janela ainda dava para ver aquele corpo delicioso.

Minha nossa. Cada músculo do seu braço era perfeitamente dividido. Seu tórax e abdômen eram ainda mais definidos que os da foto que eu tinha visto. Eu senti uma vontade louca de lamber cada centímetro dela. Sentir o gosto de sua boca, de sua pele.

Ela estava inclinado sobre o próprio corpo de um jeito típico e o movimento rítmico da sua mão direita e do seu quadril deixou o que ela estava fazendo bem claro. Em qualquer outro dia, eu simplesmente assistiria aquele ser maravilhoso massageando o próprio pau e me deliciaria com a visão e com a ideia proibida de está-la observando.

Mas hoje, depois do nosso pequeno encontro toalha/cabo de guerra, eu não tive como não imaginar que era em mim que ela estava pensando. Talvez fosse ilusão e loucura completa. Talvez ela estivesse pensando em seja lá qual for a piranha que ela ia encontrar hoje. Podia ser. Mas podia não ser.

Podia ser em mim que ela estava pensando.

Não podia?

Me abaixei contra o telhado e me aproximei da beirada, exatamente onde a casa fazia a curva, para melhorar o ângulo da visão.

Ela tinha o lábio inferior entre os dentes e eu podia imaginar o gemido excitante de prazer que ela deveria estar emitindo naquele exato segundo. Ah, como eu queria que aquele gemido estivesse sendo contra o meu ouvido.

Eu não me incomodaria de passar os dedos por cada linha de músculo naquela barriga perfeita e estimular sua ereção por ela.

Não conseguia ver a linha abaixo da sua cintura muito bem, mas pelo pouco que eu via e pelo movimento longo do seu braço eu conseguia deduzir o tamanho. Por Deus, Jauregui. Será que você podia, por favor, ter algum defeito?

Seu braço se movia cada vez mais rápido e uma dor na minha boca me avisou que eu estava mordendo meu lábio com força demais. Seu estômago estava contraído e eu conseguia ver os primeiros indícios de recuo no seu corpo. Queria vê-la gozar.

Me aproximei um pouco mais da borda. Eu queria ouví-la gozar. Mas aquilo era pedir demais. Ia ter que me contentar só com a vista.

Ela seguiu com seu movimento maravilhoso.

No que você está pensando, Lauren?

Está pensando nas suas mãos no meu corpo?

Na toalha quase caindo?

No abraço apertado? Nas mãos na cintura? A toalha caindo? Você ao meu redor? O mesmo corpo nu que você viu a distância agora de perto? Um toque ínfimo e proibido? Um desejo latente e incontrolável? Um único beijo e tudo acabou. Você tentaria me levar pra cama, mas eu já estaria nua e iria te despir antes de chegarmos as escadas. É nisso que você está pensando? Em meter esse pau em mim nas escadas? Com as cortinas abertas e que se os vizinhos assistirem o problema é deles? Você ia gemer no meu ouvido e ia gozar dentro de mim e eu te acompanharia.

É nisso que você está pensando?

Tomara que seja.

Ah, por favor, que seja.

Ela parou, estava recuperando o fôlego. Perdida em pensamentos eu perdi o momento do ápice, mas foi uma experiência maravilhosa ainda assim.

Lauren abriu os olhos e esticou um braço para pegar uma toalha. Seu olhar seguiu através da janela e se cruzou com o meu.

Ah, não! De novo, não.

Chega de Lauren me pegar em situações constrangedoras.

Virei para me abaixar e cair para longe do campo de visão dela.

Um pé ficou preso entre as telhas. Um momento de hesitação. Meu corpo seguiu para longe, meu pé ficou para trás. Senti a torção no instante que ela aconteceu e tropecei sobre meu próprio corpo.

Acho que ouvi Lauren gritando meu nome enquanto caía do telhado.



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Capítulo não revisado.

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