c a p í t u l o c r o s s o v e r
— Isso é tudo culpa sua [Nome]! — Sora jogou a capa vermelha para o lado e bateu o projeto de lança no chão.
Foi a poucas semanas atrás que tudo começou.
— Isso não faz nenhum sentido, por que um festival escolar quando as aulas mal começaram?
A classe estava reunida com os representantes dela na frente, depois de anos juntos poderia dizer que até que eramos unidos. Ali pelo menos não havia ninguém com quem mantivesse alguma inimizade.
— Justamente para provar para os pais que os novos alunos se adaptaram bem na escola — o representante apoiou as mãos na mesa e respondeu —, não precisamos fazer nada muito grandioso como no festival de Inverno no fim do ano. Nosso tema é história, então o que temos de ideia?
Nem Sora, nem eu participávamos ativamente das sugestões, geralmente apenas concordávamos com nossos colegas, mas teve algo que disseram que fez com que minha amiga levantasse e batesse as mãos na mesa.
— Isso não vai acontecer — ela apontou para os representantes —, podem arrumar outra coisa.
— Todos nós vamos estar vestidos das civilizações mais conhecidas do mundo, vocês já são espartanas de qualquer jeito.
— Usar um regime de treinamento comparado metaforicamente com Esparta é diferente do que sair vestido na escola com os trajes da época — a meio de rede apontou —, vocês só estão procurando uma desculpa, não é mesmo?
— As sugestões estão aí — ele apontou para a lousa — foi aprovado. A capitã nem disse nada, e Washio também vai estar com vocês como representante do time masculino.
Sora olhou para mim esperando um protesto, assim como o restante da classe. Me levantei — Não vestiremos nada muito revelador, podemos deixar aqueles fantasiados circulando pelo colégio e então dividir a classe em bancadas onde os interessados podem se informar.
— Fechado — ele bateu a mão na mesa como um martelo.
— [Nome]!
— Vai ser divertido — respondi arrumando a minha própria saia —, ou você prefere ficar sentada na bancada falando o dia inteiro? Sabe que está sendo avaliado, não é?
Ela vacilou na resposta e se rendeu olhando para o espelho do vestiário mais uma vez. Eu realmente não sabia da de onde veio tanta qualidade, mas a saia de couro e corselete escuro pareciam até de verdade. E para Washio, apesar das meninas mais assanhadas da sala voltarem para ele ficar sem camisa, também existia um colete. Prendi por fim a capa vermelha no broche dourado e virei.
— Por que você está sorrindo? —, me questionou.
— Quando é que vamos ter outra chance de fazer algo parecido? Passar três anos sendo espartanas e não ser espartanas me parece inaceitável.
Guardamos as bolsas e do lado de fora aqueles responsáveis pelas vestes ajeitaram alguns detalhes. As outras salas tinham suas próprias matérias e projetos.
Quando saímos para a primeira volta é claro que as hienas estavam prontas para nos comer vivos. Ambos times se reuniram para tirar fotos e fazer piadinhas, mas havia uma vantagem.
— Antes de começarem devem lembrar que essa lança aqui é de plástico, não machuca tanto, mas dá para bater — bati com a parte reta no traseiro de Keiko.
— Por que eu? Todos estão rindo!
— Você está mais perto — respondi.
Konoha e Komi seguravam a barriga de tanto rir de Washio, e sua "sainha", Kou parecia um tanto quanto encantado, chegando até mesmo pedir o elmo para experimentar. Nosso colega de classe ainda não havia o colocado então entregou para o capitão, Sora também deu a lança para ele ter seus cinco minutos.
— Cuidado com isso — Konoha empurrou a ponta do lado e parou um segundo para nos observar —, mas vocês até que ficaram bem.
— Ficaria melhor se tivesse mais dez centímetros de pano nessa porcaria — Sora puxou a saia mais uma vez.
— Você não tem bunda direito, pode ficar tranquila, agora a [Nome] não posso garantir.
Num instante virei e prendi a cabeça de Keiko embaixo do meu braço — Calada, você é poeta, sabia sua idiota?
Instintivamente os olhares se movem e não queria as pessoas reparando no meu traseiro, se tivesse que dizer meu rosto estava da mesma cor da capa pendurada.
— Washio-kun também ficou ótimo — Misa sempre sendo a salvadora da pátria mudou o foco. Hana e Emi se olharam imediatamente e os rapazes também viraram as cabeças para Washio que tinha um leve rubor no rosto. Troquei um olhar rápido com Sora e Keiko aproveitou para se livrar do meu aperto.
Quando Misaki se deu conta de todos os olhares, ela balançou as mãos no ar já em pânico, gaguejando em resposta que não era o que todos pensavam. Nossa levantadora clamou por salvação quando olhou para mim e apesar de achar interessante como eles reagiram resolvi ajudar.
— Precisamos encontrar com o resto da nossa ala, deviam ir para seus estandes também — Sora tomou a lança de Kou, mas quando o Washio foi pegar o elmo ele pareceu não sair. Alguns gritos depois e eu tive que interferir, afinal Konoha estava prestes a apoiar o pé no ombro dele e puxar o acessório.
— Por favor não arranque a minha cabeça — ele pediu com lágrimas nos olhos da tentativa anterior.
— Não vou — apesar de estar com um pouco de dó, dei risada, segurei seu rosto entre minhas mãos e puxei levemente as partes que se abriam na parte da bochecha conseguindo um pouco mais de espaço. Era um mistério como ele conseguiu ficar entalado ali.
— [Nome] — ele me chamou e respondi com um resmungo, concentrada demais em não arrancar suas orelhas —, você está muito legal vestida assim.
Inclinando de pouco em pouco enfim consegui o tirar, tendo uma visão completa do seu rosto. Segurei o elmo acima de nossas cabeças e sorri agradecendo em silêncio, devolvi para o dono original e logo o grupo se separou em direção das suas próprias classes com promessas de se encontrar depois.
As pessoas olhavam para nós e algumas até mesmo pediam por fotos, Washio estava com sorte já que estava de elmo. Tinha pena daqueles que se aproximavam de Sora, ela estava louca para recriar a cena do filme e chutar alguém para um buraco, e a probabilidade de ser eu, era enorme.
O festival foi num sábado, para que os pais dos alunos todos pudessem comparecer. Os eventos da Fukurodani eram famosos então sempre tinham muitas pessoas. Inclusive aqueles de outras escolas, tanto garotos quanto garotas, antigos alunos também aproveitavam para retornar e foi isso que me levou a encontrar Makoto num dos estandes.
— Você não perde uma oportunidade de voltar não é? — bati a base lança em sua perna e ele sorriu se virando com as bochechas cheia de comida. Foi então que ele terminou de engolir e abriu os braços para me abraçar, estendi a lança em direção de seu peito.
— Sinto que você está se aproveitando disso mais do que deveria.
— De poder a uma mulher e verás quem ela realmente é — encostei a ponta em seu pescoço —, no caso sempre fui assim, agora apenas estou caracterizada.
Ele empurrou o objeto para o lado e Sora e Washio se aproximaram — Vocês todos estão ótimos assim, me surpreende o treinador não estar no meio.
— É só para os alunos, se fosse diferente talvez ele estivesse — Sora girou a capa e se apoiou no cabo. — Isso é insuportável.
— É mentira — rebati olhando para o antigo capitão —, ela está adorando.
Makoto levantou a câmera e tirou uma foto sem nos avisar — Pode não parecer, mas estou trabalhando, lembram quando vim ano passado para intermediar uma parceria com a faculdade? Deu certo, podem esperar me ver por aqui nos eventos abertos, e também nos jogos, o diretor está bem interessado nos times de vôlei esse ano.
— Devia ter visto na abertura, se ele tentasse esconder o quanto está animado não conseguiria.
Ficamos por algum tempo conversando, até que ele disse precisar fotografar os outros alunos também e do restante do festival. Continuamos andando até que os representantes nos deram folga das fantasias, e enfim libertos da tortura que era ficar apenas sentir o cheiro das barracas, para comer. Voltaríamos para as vestes na parte da tarde, enquanto isso, bermudas de treino e camisetas foram mais que bem-vindas.
— Onde devemos ir primeiro? — Sora perguntou — Estou faminta, acho que eu poderia comer um leão.
Olhei o celular e vi que as outras garotas também estavam na pausa — Não duvido, por que não pega algo para gente nas barracas? Os outros dinossauros estão por lá, preciso passar na classe do Koutarou antes de ir.
— Claro que sim — ela balançou a mão respondendo com deboche —, me passa o dinheiro.
Balancei a cabeça e tirei algumas notas da capinha do celular — Parece uma delinquente quando fala assim, mas de nada.
Washio acabou indo com ela falando algo sobre Konoha, então sozinha segui para o estande da classe 1, era algo como uma brincadeira entre times, os coletes reagiam a água gelada e o time que estivesse mais pintado no fim, ganhava. Mesmo de longe vi sua figura e também havia mais um cabelo desafiando a gravidade, eles deviam ter acabado de jogar porque eu conseguia ver as manchas de molhado em suas camisas.
Mas quem realmente chamou minha atenção foram as garotas junto deles, imediatamente sorri.
— Achei que gatos fugiam de água não se lançavam nela — disse me aproximando.
— O que posso fazer se esse cara praticamente implorou — Kuroo respondeu.
Foi então que nossos olhos se cruzaram, eles eram grandes e com um brilho intenso e afiado. A garota era alguns poucos centímetros mais baixa do que eu, mas sua presença era algo a se observar. Os ombros retos, a postura firme e também nos lábios um sorriso contido, entendi a mão em sua direção sabendo quem era.
— A famosa Calli-chan, fico feliz em finalmente te encontrar — ela respondeu meu comprimento também sorrindo e mantendo o aperto firme —, Aki e o time masculino falaram bastante de você.
— Digo o mesmo — seu sotaque era identificável, mas compreensível —, ouvi falar muito de você e seu time.
Soltei sua mão e me virei para a outra — Faz muito tempo Aoi, como tem estado?
Hima Aoi era uma amiga de Kuroo, não era muito presente nos círculos que compartilhamos, porém a conhecia de uma conversa ou outra. Pelo que me lembrava ela preferia livros a esporte, e respeitava isso.
— Bem, obrigada — respondeu com os braços cruzados na frente do corpo, reparei em suas vestes não eram tão adequadas. Já que estavam molhadas pela brincadeira.
— Temos camisas extras do time se quiserem se trocar, imagino que não seja muito agradável andar com as vestes assim — me virei para Kuroo —, apenas para as meninas, não para você bakaneko.
— Sempre tão gentil comigo capitã.
— Parece bom — a italiana respondeu —, se não tiver problema para você.
— Nenhum — me virei para Kou —, está na sua folga?
Ele balançou a cabeça — Sim, eu volto... Ei, que hora que eu preciso voltar?
Os colegas da barraca que estavam enchendo novamente as arminhas de água, levantou a cabeça — Daqui a três horas.
— As meninas estão na praça, imagino que estejam com fome após correr por aí. Washio também está lá com os meninos, o resto do time da Nekoma também veio?
— Alguns, devem estar por aí. Sou o capitão e não a babá.
Eu o acertaria se a nova gerente deles não estivesse por perto, gostaria de causar uma boa impressão. O garoto abriu um sorrisinho cínico vendo que eu não o respondi de primeira como geralmente fazia.
— Mas deveria ser — a resposta veio de sua própria gerente —, alguns deles certamente precisam.
Raios se chocaram quando eles trocaram olhares, Kai e Yaku estavam tranquilos então imaginei ser comum.
— Nos encontramos depois então — acenei e empurrei as meninas na direção da sala do time —, a chave está no vestiário, só preciso pegar primeiro.
— Não imaginei que teria tantas pessoas — Aoi comentou —, vimos você vestida de espartana quando chegamos.
— É mesmo? Me surpreende que o Kuroo não veio direto me importunar.
— Com lança acho que não — respondeu à italiana —, soube que são bons amigos, mas existe limites quando se tem uma arma na mão.
Me permiti dar risada — Realmente, foi inteligente. Imagino que foi você que disse para ele não se aproximar.
— Com certeza, os campeonatos vão começar em breve não podemos perder o capitão da Nekoma agora.
— Está absolutamente certa.
Me ausentei por uns segundos de sua companhia para pegar a chave em minha bolsa e em seguida segui com ambas para o vestiário. Rumei entre os armários sem dono e joguei para as garotas as camisetas.
— Obrigada [Nome], realmente é mais confortável. Realmente não tem problema?
— Desde que não queimem e torçam por nós, não. — respondi com um sorriso.
A italiana parecia estar no próprio mundo, olhava os armários perdida em pensamentos. Aoi olhou para mim nervosa e eu balancei a cabeça, imaginava o tipo de coisa que ela estava pensando. Como alguém que abandonou o esporte voltar ao ambiente devia ser um peso completamente diferente.
Enquanto isso a observei, ela andava diferente e apesar de ter deixado o vôlei ela ainda mantinha parte do seu físico. Me surpreendeu a língua afiada para lidar com Kuroo e também a força que emanava, ela já esteve nos degraus que eu gostaria de pisar então havia uma admiração da minha parte. A italiana era forte, de muitas maneiras e de várias formas e talvez nem soubesse disso.
— Como posso te chamar? — ela perguntou de repente.
— Como preferir, não sou muito adepta das hierarquias. — respondi.
Ela resmungou e sorriu — Achei que 'capitã" também era um apelido já que muitos usam para você.
— É um fato, afinal, sou de verdade a capitã — rebati sustentando seu sorriso —, me chamam assim por se sentirem confortáveis, não porque implico isso como apelido. Se me reconhecem digna do título, não tem porque negar
A italiana estava me testando, tinha certeza disso. Vi a satisfação surgindo em seu rosto.
— Desculpe pela confusão causada com Bokuto, Kuroo me contou sobre o que aconteceu. Garanto que não existe interesse, pelo menos não amoroso.
Não segurei a minha gargalhada — Esses garotos são as pessoas mais fofoqueiras que conheço, não se preocupe italiana. Não precisa se desculpar, eu o conheço bem o suficiente para saber o que cada ação significa. Admiração não é um problema.
Ela teria continuado a falar, mas meu celular começou a tocar, respirei fundo e atendi mantendo o celular longe do ouvido esperando Sora gritar suas primeiras palavras.
Onde diabos você está?
— Na sala do clube — respondi — já vou voltar para praça, estou ajudando minha nova amiga.
Nova amiga? Que amiga?
— A que você vai conhecer daqui a pouco, Kuroo e Kou já estão aí?
Já, mas...
— Até mais Sora.
Podia imaginar ela fumegando do outro lado, teria sorte se a primeira coisa que Sora me recebesse não fosse com um tapa.
— Melhor irmos — disse —, o resto do time também quer te conhecer, espero não ser um problema.
— Nenhum, também quero conhecer o resto das chamadas espartanas.
Abri a porta e indiquei para que saísse — Então vamos lá, pelo menos os dinossauros pode conhecer.
O resto do dia se passou rapidamente, comemos junto do time e conversamos. Sora e Hana se mantiveram quietas, demais para seus padrões, mas não falei nada. Deixaria elas pelo momento, e até que o momento em que tivemos que voltar para as fantasias conversei com a italiana.
Sobre nossas histórias, sobre jogos, partidas jogadas. Ela amava o esporte, podia ver em seus olhos a emoção e as mãos também se mexiam freneticamente enquanto falava sobre ele. A italiana que era levantadora e capitã sofreu uma lesão e deixou a quadra, permanentemente. De algum modo eu sentia poder entender sua dor.
Por suas falas e também conhecimento podia dizer ter sido uma capitã das boas, seu título na seleção era o suficiente para dizer sobre sua técnica. A vontade de entrar com ela numa quadra era enorme, contudo essa promessa ficaria para outro dia.
Por fim nos despedimos dos visitantes e voltamos para o trabalho.
De volta no vestiário, Sora se manteve quieta.
— Geralmente sei o que se passa na sua cabeça — disse para minha amiga —, mas se não falar não tenho como confirmar.
Sora apoiou as mãos na pia e suspirou alto — Você não acha que confia nas pessoas, fácil demais? Aquela italiana... Tem algo sobre ela.
— Confiei em você no primeiro dia — ri de sua ação —, Sora não tem um motivo para você ficar com esse bico. Não é como se eu fosse te trocar, ela chegou sozinha no país, após ter o esporte que ama arrancado de suas mãos. O mesmo que eu e você jogamos e sem ter ninguém para realmente conversar sobre. Pelo menos alguém que já esteve na mesma posição.
Cutuquei sua lateral — É um pouco infundado ficar bravinha, não é?
— Não estou com ciúmes, é só por toda a situação causada com o Bokuto.
— Eu não disse estar, você que falou — bati em seu braço —, se for para se preocupar, que seja com a Shizuka-chan. A italiana já tem o Kuroo.
— Quê? De onde você tirou isso?
— Do jeito que ele olha para ela — a empurrei —, é fácil de ver se realmente prestar atenção.
— Agora chega de fofoca. De volta ao trabalho espartana.
N/A: E veio aí! Algumas explicações IMPORTANTES!
Pode parece aleatório, mas como a proposta é crossover. É preciso fazer o teste logo no começo, sim, terão jogos mas como é só o segundo campeonato que eu vou cobrir é só mais pra frente.
Coisas que eu gostaria que vocês avaliassem, pra eu arrumar. Porque é a primeira vez que eu to fazendo uma fic assim.
• Se lê as duas fics: Se ficou interessante, se não ficou repetido, se deu pra entender sem mudar o foco da história.
• Se não lê: Deu pra entender ou ficaram informações jogadas sem explicação.
É um desafio, mas começou tem que terminar. Quero deixar agradável pra tods, não só pra quem acompanha as duas juntas, então a opinião é muito importante pra dar certo.
Grata, desde já!
Até a próxima, Xx
Pequeno spoiler. Uma promessa antiga vai ser cobrada :)