capítulo três,
era uma vez.
⊹ lilia ᵎᵎ
dois mil e onze
── é por isso que crianças não podem exagerar no açúcar! ── eu falei tentando acalmar as duas garotas elétricas a minha volta. ── cher, pare de dar cambalhotas. você pode quebrar o seu pescoço.
com um ar de impaciência, bella olhou para mim. ── não queremos dormir. algo dentro de mim tá implorando pra que eu gaste toda a minha energia.
── bella, você brincou o dia inteiro. aliás, vocês duas brincaram o dia inteiro. toda energia já está gasta, você só precisa se deitar um pouco para descobrir isso.
── não quero. ── revirei os olhos com a desobediência dela. é claro que como toda criança de sete anos, bella tem seus momentos difíceis, eu só esqueço disso as vezes.
em segundos, as duas pareciam mais furacões do que crianças e eu respirei fundo inúmeras vezes para não perder o controle. minha anotação mental é de deixar todo e qualquer doce longe dessas garotas por muito tempo.
── ok, chega! ── minha voz saiu mais severa do que o normal e as duas olharam para mim. ── cher, cama, AGORA. ── apontei para o colchão e cher rapidamente se deitou. ── isabella, sua vez.
bella que já estava incrédula pelo meu tom de voz, arregalou os olhos em descrença. ── você nunca me chama de isabella. ── ela quase susurrou, finalmente se deitando na cama.
── as duas já estão acomodadas? ── antes mesmo de uma resposta vir, eu me adiantei. ── ótimo! boa noite e até amanhã.
── espera! ── bella gritou antes que eu apagasse a luz. ── você não pode ir sem antes contar uma história.
── vocês não foram boas meninas hoje, portanto, sem histórias.
── ah não, tia lilia! eu não consigo dormir bem se você não me contar histórias. ── bella me olhou com um biquinho fofo nos lábios.
── você não quer que a gente tenha pesadelos, quer? ── suspirei quando cher acrescentou essa desculpa. não acredito que a chantagem emocional de duas crianças tem efeito sobre mim.
── tá bom, tá bom. sobre o que vocês querem ouvir? ── me aproximei da cama delas, me sentando o colchão macio.
── conte algo sobre o casamento real! ── cher pediu, animada.
── ah, o casamento real que aconteceu hoje? ── ela concordou. ── então vocês querem uma história sobre princesas e príncipes? ── cher deu um gritinho em concordância e eu olhei fixamente para bella, que deu de ombros e um sorrisinho rápido em seguida.
── cher está animada desde quando descobriu que existem príncipes e princesas na vida real.
── não é incrível? qual é a chance de existir sereias e fadas também? ── eu sabia qual era a chance, mas eu não posso estragar a infância delas duas a troco de nada.
── chances altas, cher. ── as duas meninas sorriram, e eu me concentrei em contar logo uma história. ── ok, cinderela?
── NÃO. ── as duas gritaram em uníssono.
── o que vocês querem, então?
── queremos uma história nova.
── se possível, uma história que tenha princesas, fadas e sereias.
── tá... ── me concentrei por alguns minutos, tentando criar uma história boa e rápida para elas; foi quando eu percebi que eu já tenho uma história e o melhor é que é baseada em fatos reais. ── ok, eu tenho uma. ── sorri, vendo a felicidade delas. ── não tem fadas e sereias mas garanto que é boa.
── você não poderia adicionar ao menos fadas, tia? ── cher juntou as mãos.
── eu vou vê o que posso fazer por você. ── ela sorriu, voltando a se deitar. ── era uma vez há anos atrás, quando um príncipe e uma princesa descobriram que teriam um bebê. eles se amavam e amavam mais ainda o bebêzinho, mas tudo deu errado quando a bruxa má do oeste decidiu que lançaria uma maldição na floresta encantada onde eles moravam. ── as meninas me olhavam atentamente e eu me senti orgulhosa por misturar bem a realidade com a total ficção. ── foi quando as fadas recolheram todo pózinho mágico para fazer um portal, só assim o príncipe e a princesa poderiam salvar o bebê...
── por que eles querem salvar só o bebê?
── porque... ── tentei achar uma boa resposta. ── bem, se o bebê for salvo, poderá voltar no futuro para ajudar toda a floresta a se livrar da maldição.
── aahh. ── elas disseram juntas.
── a maldição foi lançada no dia em que o bebê nasceu. enquanto todos no castelo tentavam atrasar a bruxa e os seus... elfos feios e malignos, o príncipe e a princesa colocaram o bebê dentro do portal, deixando de recordação apenas uma carta onde dizia que eles sabiam que no futuro iriam se reencontrar novamente e viveriam felizes para sempre! fim. ── me adiantei quando vi que já estava tarde. ── boa noite, meninas.
── tia lilia, por que você contou uma história tão triste? ── bella parecia arrasada e a cher tinha os olhos cheios de lágrimas.
── o que? gente, não! é uma história feliz. ── eu sorri na intenção de fazê-las sorrir também mas não funcionou. ── a história terminou com um felizes para sempre. eles vão ser felizes.
── mas o bebê está longe dos pais. isso é triste.
── nem sempre isso é tão ruim quanto parece, bella. você é uma pessoa triste?
── não. ── ela respondeu sem titubear, o que me deixou feliz. ── mas o bebê pode não ter tido a mesma sorte que eu.
── ah, não se preocupe em relação a isso. uma senhora muito fofa e gentil está cuidando do bebê até que ele possa voltar para seus pais. ── bella pareceu se contentar com a minha resposta e eu me inclinei para deixar um beijo na testa dela.
── você colocou fadas na história. ── cher murmurou enquanto eu deixava um beijo na testa dela também. ── obrigada por isso.
── de nada, cher. ── antes de apagar a luz, tive um vislumbre das duas pegando no sono. ── boa noite, meninas. vejo vocês pela manhã.
🪻| beatriz não é beatriz sem?