Quando o amor é pra sempre: A...

By Strange-Boy

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Segundo volume de "Quando o amor é pra sempre", "A história de Gael" conta a história do filho adolescente de... More

[1] prólogo 🏫
[2] o jogo de basquete 🏀
[3] arcata court mall 🏬
[4] suco de laranja🍊
[5] parabéns, Chrissie 🎂
[6] o acordo 📝
[7] o incidente ⚠️
[8] os sobreviventes e o memorial ❤️‍🩹
[9] como um relâmpago ⚡
[10] revelações 📖
[11] sou um furacão 🌪️
[12] o circo 🎪
[13] entre o bem e o mal 😇😈
[14] se rendendo ao amor? ❤️
[16] o baile de formatura 🕺

[15] contagem regressiva 🕗

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By Strange-Boy

A cada passo que eu dava nos corredores da escola, lembrava daquele fatídico dia do atentado.

Isso acontecia uma vez ou outra e era como se os sentimentos voltassem todos à tona.

O nervoso, o medo, a incerteza. 

Era como se eu ainda pudesse ouvir os gritos e os tiros na minha mente.

Eu realmente não queria fazer terapia, pois por mais que eu ainda lembrasse de tudo de forma recorrente, acredito que estava conseguindo lidar bem com isso tudo. Meus pais me incentivaram a ir e incentivam até hoje. Eu sei que seria bom, mas... Não sinto necessidade. Pelo menos não nesse momento da minha vida.

Como era o último dia de aula do ano letivo, sexta feira, o colégio estava um caos. Todos comemoravam, faziam bagunça e até mesmo os professores e funcionários estavam mais liberais quanto a isso tudo. 

É claro que as pessoas que ficaram de recuperação, como Caleb, não estavam comemorando tanto assim. De qualquer forma, eu evitava notar.

Amanhã é o dia do baile de formatura.

Não é novidade que ninguém me convidou e eu também não tenho ninguém pra convidar.

Fui até o meu armário para pegar todas as minhas coisas, já que estávamos entrando de férias.

Meu armário ficava do lado do de Hans. Ele estava pegando suas coisas também. 

— Oi Hans. — forcei um sorriso.

— Oi, japa. — ele fez uma cara estranha pra mim. — Que cara é essa?

— Ué, a mesma de sempre. Só tenho essa. 

— Para de palhaçada. Tá com uma cara de cansado, triste, sei lá.

— Ah, eu só quero ir embora logo e entrar de férias. Tô dando graças a Deus.

— E... Ninguém te convidou ainda?

— Hoje, Hans? Faltando um dia pra formatura? — revirei os olhos.

— Ué, observa, olha em volta.

Algumas pessoas ao redor, no corredor, ainda estavam recebendo bilhetes de convites em seus armários. Obviamente, ficavam muito contentes com isso.

— Bom, eu não sou todo mundo. — terminei de pegar as coisas e fechei o armário, ajeitando minha mochila. — Você, e eu também, estamos cansados de saber que as pessoas me acham estranho demais e até mesmo invisível.

— Ai, japa, nenhum bilhetinho? — ele também fechou o armário e ficou olhando pra mim.

— Nenhum, Hans. — revirei os olhos.

— Ah, cara, se eu não fosse com a Chrissie, eu juro que teria convidado você pra gente poder ir juntos, se divertir e você não ter problema que...

— Não esquenta, Hans. Ela é sua namorada. Por favor, né. 

— Ela estava sonhando com esse baile há meses, até eu também.

— Eu imagino... Então. Aproveitem bastante, tenho certeza que vocês vão amar e é isso. Eu iria até sozinho mesmo se pudesse e quisesse, mas não tenho vontade mesmo, afinal de contas. Eu também não vou estragar a noite de vocês. 

Comecei a andar no corredor e Hans veio do meu lado.

— Achei que Caleb fosse te convidar, japa.

— Só se for em fic.

— Escuta, tá todo mundo fofocando sobre quem ele vai convidar porque ele ainda não convidou ninguém, não é?

— Sei lá, Hans, eu não quero saber, de verdade. 

— Você me contou que deu um ultimato nele, pra ele se decidir e ele se afastou daqueles babacas. 

— Sim, e daí?

— Então por que vocês não estão se falando de novo?

— Porque ele não veio falar comigo.

— E por que você não vai falar com ele então, japa?

— Já falei, porque ele não veio falar comigo!

— E você não pode ir falar com ele ao invés disso?

— Claro que não. Ele que errou, ele que venha falar comigo se quiser.

— Claro que ele quer falar com você, dá pra ver. — Hans sorriu e deu de ombros.

— Não afirme coisas por pessoas que você mal conhece.

— Tá bom, tá bom!

Na tarde de sexta, haveria um último jogo de basquete para comemorar o fim do ano letivo. Hans não foi, mas como eu não tinha nada pra fazer e amava basquete, fui mesmo assim. 

Fui esperando que muita gente não estivesse presente, mas praticamente todos dos times foram. 

— Tudo bem, Gael, respira. — sussurrei pra mim mesmo e respirei fundo. — Você não vai morrer só porque tá sozinho nessa. 

Então, Corey e Troye chegaram. 

— ...ou talvez vá. 

Eles não falavam mais com Caleb, que chegou logo depois. Por mais que aparentemente não fossem mais amigos, ainda assim estavam no mesmo time. 

Desviei o olhar e foquei no aquecimento do jogo. 

Mais tarde, o jogo começou e não demorou muito para que eu tivesse o controle da bola. 

Tudo o que eu queria agora era fazer a primeira cesta do jogo!

Ao tentar avançar para o outro lado da quadra, Caleb me barrou e me surpreendeu, quase conseguindo pegar a bola de mim. Insistindo, me olhou nos olhos com uma feição séria até demais.

— Vai me ignorar pra sempre? — ele sussurrou pra mim. 

Eu não o estava ignorando! Ele nem mesmo sequer tentou falar comigo durante todos esses dias.

— O quê? — franzi o cenho. 

Mal dava pra ouvir nossas vozes com as batidas da bola no chão da quadra e os tênis arrastando no chão ao nosso redor.

— Pelo menos você podia dizer não. — ele continuou. — Qualquer coisa, mas não me ignorar! 

— Do que você tá falando!?

Ele tentou agarrar a bola de vez, mas aproveitei a atitude para distraí-lo e passar por ele. Corri até a cesta, que estava muito próxima, e me ergui o máximo que deu ao pular.

Acertei! A bola desceu pela cesta! 

Caleb pulou logo em seguida, ou praticamente ao mesmo tempo que eu, me segurou na cintura e fez com que caíssemos feio na quadra com o puxão que ele me deu.

No chão, me recusei a olhar pra todas as pessoas que riam da gente. Eu nem mesmo estava incomodado com isso, mas com o que Caleb havia feito.

— Ei, ficou maluco!? — gritei pra ele. 

Olhamos para o professor que havia assoprado o apito bem alto.

— Caleb! — ele gritou e abriu os braços. — Que isso, cara?

Caleb fez um sinal com a mão pro professor e ofegante, olhou pra mim. 

— Eu sou muito competitivo. 

— Dá pra ver. — levantei e ajeitei meu uniforme do time. 

— Caramba, olha isso. — Caleb disse e apontou pro meu braço.

Ao olhar, vi um pequeno arranhão que apareceu com o tombo. Por toda a adrenalina, eu ainda não estava sentindo nenhum incômodo sequer. 

— Ah. — tentei limpar com a mão, mas acabou sujando o meu braço mais ainda de sangue. — Não foi nada.

— Não, Gael. — Caleb se levantou do chão e ficou do meu lado. — Desculpa, desculpa mesmo.

— Já disse que não foi nada. É só um arranhão pequeno.

— Vai lá no banheiro pra limpar isso, Gael. — o professor disse ao se aproximar. — E você, Caleb, tá faltando isso aqui pra eu te tirar do time.

— Foi mal. — ele respondeu e coçou a cabeça, meio sem graça.

Fui até o banheiro e lavei o meu braço na pia, mas o sangue não parava de escorrer. 

"Sei lá, pelo menos você podia dizer não."

"Qualquer coisa, mas não me ignorar!"

Do que Caleb estava falando? Dizer não pra que? Será que seria melhor eu perguntar pra ele?

— Deixa eu ver. — Caleb me assustou como se fosse um fantasma surgindo do meu lado.

Mostrei o arranhão pra ele. 

— Já vai melhorar.

— Não, mal tá parando de sangrar. Vem cá.

Caleb saiu andando para os bancos do vestiário que ficavam logo depois do banheiro e eu o segui como me pediu.

Reparei que ele trouxe sua mochila, colocou ela em cima de um banco e tirou alguma coisa lá de dentro.

— Já disse que precisamos parar de nos encontrar em banheiros? — ele forçou um sorriso pra mim.

Quem ele pensa que era? Fazia tudo isso e depois podia achar que poderia vir de gracinha? Ignorei o que ele disse e só desviei o olhar. 

Um frio na barriga subiu até o meu peito quando senti o seu toque gentil no meu braço. Com cuidado, ele colocou um bandaid no meu arranhão e passou o dedo por cima. 

— Pronto, assim é melhor.

— Obrigado.

Ele suspirou e ajeitou a mochila no ombro. 

— Antes da gente voltar, pode me responder agora? — jogou o seu cabelo suado pra trás.

— Eu não estou entendendo nada. 

— É isso o que eu te falei. Eu prefiro ouvir um não do que você ficar me ignorando. Ou será que sou tão desprezível assim? — me olhava preocupado.

— Não de quê, Caleb?

— Você sabe. — franziu o cenho pra mim.

— Não, eu não faço ideia do que está falando.

— Como é possível, Gael? Todos os dias eu insisti em te perguntar, não desistia, mas nunca houve resposta sua. 

— Me perguntar o quê?

— Ah, cara. — ele riu e olhou pro lado. — Não é possível. 

— Eu juro pra você que não sei do que está falando.

— Gael. — ele olhou pra mim com uma feição séria novamente. — Todos os dias eu colei post-its no seu armário. Como que você não sabe do que eu tô falando? Agora por acaso se lembra?

Post-its? No meu armário? 

Meu coração começou a acelerar. 

Isso significava... 

— É, Gael! — Caleb parecia estar ficando nervoso.

— Eu nunca vi nenhum post-it no meu armário. Teria lembrado se eu tivesse visto. 

Caleb ficou me encarando por alguns minutos e depois seu olhar rodou o vestiário. 

— Não viu nenhum post-it? Nenhuma mensagem que escrevi pra você?

— Não.

— Então tiraram. 

— Tiraram?

— Sim, tiraram, descolaram de lá pra você não ver. 

— Mas será que teria alguém vigiando tanto assim ao ponto de...

— Sim, Gael, sim e eu já sei quem foi. — Caleb estava furioso. — Eu pensei que... Pensei que você estava me ignorando todo dia. Me desprezando e...

— E eu também pensei o mesmo de você. 

— Escuta. — ele me olhou e depois pegou alguma coisa na mochila. — Esse aqui é o último que eu ia colar hoje...

Caleb abriu a mão e eu vi um post-it cor de rosa meio amassado. 

Fiquei sem reação. Meu coração estava acelerando cada vez mais.

— Pega. — ele ergueu as sobrancelhas e estendeu a mão pra mais perto de mim.

Segurei o post-it e o abri. 

Tinha algo escrito à caneta.

"Pensando bem, eu nunca te odiei. 
Na real, percebi que sempre te admirei e odiava era a mim mesmo. 
Me perdoa? Eu ia adorar ir ao baile com você".

                                   Caleb

Eu fiquei olhando pra aquele pedaço de papel por tanto tempo que parecia que eu havia me teletransportado para uma outra dimensão. Reli e reli por algumas vezes para deixar claro que era isso mesmo que eu estava entendendo. 

— Gael?

Levantei a cabeça e olhei.

— Eu vou entender se disser que não. 

— E acha mesmo que eu vou dizer não? — sorri. 

Caleb sorriu pra mim de uma forma que eu nunca havia visto antes. 

E o seu sorriso era lindo como qualquer outra coisa nele. 

Quis abraçá-lo, mas o professor chegou na porta do vestiário e nos olhou.

— Meninos, bora? Esse jogo é pra hoje.

— Vamos. — Caleb o olhou e depois voltou o olhar pra mim. 

— Vamos.

Eu fui péssimo o restante do jogo de basquete inteiro. Não estava focando, pois não conseguia parar de pensar no que aconteceu, no que estava acontecendo e no que ainda ia acontecer. Os olhares que trocava com Caleb eram inúmeros, e como se já não bastassem, estávamos trocando sorrisos também. 

O jogo acabou e a maioria foi pro vestiário. 

Caleb era um deles, mas eu ia embora direto pra casa com o meu pai Scott. 

— Ei. — ele disse enquanto vinha caminhando até a mim. — Não vai pro vestiário?

— Não, tenho que ir direto pra casa. 

— Amanhã te pego às oito?

— Claro. — sorri. 

— Então até amanhã. — Caleb tocou meu ombro e também sorriu, se afastou e foi correndo pro vestiário. 

Caminhei até a saída rindo sozinho de tanta felicidade que eu mal podia conter em mim. Mandei mensagem pra Hans e Chrissie avisando do convite que eu havia acabado de receber, e só não recebi antes porque estavam tirando os post-its dele do meu armário! Caleb dizia saber quem era. Aposto que eram Corey e Troye, mas eu estava tão feliz que nem isso ia estragar meu dia!

Chrissie e Hans responderam minhas mensagens comemorando horrores. Se eu não estivesse tão feliz, diria que talvez eles estivessem mais felizes do que eu mesmo.

"EU SABIA!!!!" foi a última mensagem de Hans.

Convencido.

— Por que tá tão sorridente? — Meu pai Scott sorriu ao me olhar por breves segundos enquanto dirigia. 

— Eu fui convidado pro baile de formatura.

— No último dia, não é?

— Sim. Quer dizer... Foi mais ou menos isso.

— Viu, eu disse pra você que seria possível. 

— Pois é.

— E quem te convidou?

— Vou contar pra vocês na hora do jantar.

— Hm... 

Eu tinha tomado um banho assim que cheguei em casa, afinal, estava fazendo muito calor e precisava tirar todo aquele suor do jogo de basquete.

Na hora do jantar, desci pra me sentar junto aos meus pais na mesa. 

Eles haviam cozinhado pratos maravilhosos, como sempre. Já comecei a saborear aquela comida tão bem temperada. Eu estava varado de fome.

— Nossa, como vocês conseguem ser tão incríveis na cozinha? — falei de boca cheia e pausei pra mastigar mais. — Eu amo demais essa comida.

— Tá bom, a gente agradece, mas dá pra comer de boca fechada, filho? — meu pai Harry me chamou a atenção.

— Desculpa. — levantei as mãos. — É que estou muito feliz. 

— Ah, mas com certeza só a nossa comida não é motivo disso, não é mesmo, Gael? — meu pai Scott ergueu uma sobrancelha pra mim antes de levar o garfo até a boca.

— Pois é. — sorri meio sem graça e tentei disfarçar olhando pro meu prato.

— É mesmo, é? — meu outro pai nos entreolhou. — Conta essa história direito então.

— Ah, ele disse que ia contar.

— Se vocês deixarem... — eu ri. 

Eles então ficaram em silêncio e olharam pra mim atentamente. 

— É que... — continuei. — Bom, eu tô gostando de um colega da escola. É isso, pronto, falei. 

Eles se olharam e sorriram, depois voltaram a olhar pra mim e perguntaram em uníssono:

— Quem?

— Ele me convidou pro baile de formatura da escola, mesmo faltando um dia só.

— Eu falei que isso podia acontecer. — meu pai Scott reafirmou.

— Mas quem é, Gael? Conta logo pra gente. 

— É o Caleb.

— Sabia! — meu pai Harry mostrou um enorme sorriso.

— Droga... — meu outro pai resmungou.

— Pai!? 

— Ah, desculpa, filho. Não tem problema nenhum, é que... Bem... Eu e...

— Eu e o seu pai fizemos uma aposta. — meu pai Harry completou.

— O que!? — arregalei os olhos.

— Fizemos uma aposta, foi isso mesmo que ouviu. Apostei que você estava gostando do Caleb, e se fosse isso mesmo, seu pai teria que me levar pra jantar num restaurante bem luxuoso que eu tenho vontade de ir há vários meses...

— Gente, eu não acredito que vocês dois fizeram isso!

— Eu apostei que era um garoto que a gente não conhecia. — meu pai Scott deu de ombros. — Errei feio, né.

— E o que você ganharia se acertasse a aposta? — perguntei a ele.

— Bom... — ele olhou pro meu outro pai e coçou a cabeça.

— Não vamos falar disso aqui, filho. — meu pai Harry riu. — É uma coisa muito... Íntima. 

— Claro. Isso é a cara dele. — revirei os olhos. 

— Ei! — meu pai Scott chutou minha perna de leve por baixo da mesa. 

— Ou! Querem parar, vocês dois!? — meu outro pai resmungou. 

— Como vocês sabiam que eu tava gostando de alguém?

— Sei lá, percebemos. — meu pai Harry respondeu.

— Afinal, somos os seus pais, né?

— Pai, como sabia que era o Caleb?

— Intuição de pai. — meu pai Harry respondeu se vangloriando, todo orgulhoso.

— É mesmo, é? — meu pai Scott debochou.

— O seu outro pai é mais avoado, não é tão perceptivo igual eu. 

— Entendi... — soltei um riso frouxo. — Caleb era muito cabeça dura e se comportava de uma forma um tanto estranha, mas... Isso não vem ao caso. Ele tem mudado, tem sido uma pessoa mais legal. Acho que ele já foi muito influenciado por várias coisas e pessoas ruins na vida dele. 

— Eu já fui assim também na minha adolescência, você sabe. — meu pai Scott apontou. — Mas nunca é tarde pra sermos pessoas melhores.

— E é bom que você esteja dando chances pra ele. 

— Ele parece ser um menino bom. — meu pai Scott comentou.

— Parece, sim. A gente fica feliz que esteja gostando de alguém assim, filho. E que se sentiu bem pra contar pra gente também.

— Eu também fico feliz. — sorri. 

Receber todo o apoio e carinho dos meus pais era algo tão reconfortante e tudo de bom. Ver o interesse nítido deles, a preocupação, a atenção, todo o carinho... Eu amava tanto essa família pequena que eu tinha. Tão, tão pequena, mas tão enorme ao mesmo tempo... Porque era tanto amor envolvido que eu achava que não ia mais ter onde caber. 

Aqueles dois grandes bobalhões. Dois palhaços que eu amo tanto. Fazendo uma aposta sobre quem eu estava gostando...

O resto do jantar foi regado de conselhos sobre paixão, amor e relacionamentos. Eles nunca cansavam de me falar sobre isso tudo, sobre o amor e é claro... Sobre a história deles. 

E eu também não me cansava de ouvir.

Depois do jantar e de toda nossa conversa, subi para o meu quarto e me sentei na ponta da cama, em frente ao meu espelho, olhando pra mim e pensando em como eu ia me vestir para a festa de formatura.

Alguém bateu três vezes na porta. Virei a cabeça em direção a ela.

— Pode entrar.

Meu pai Harry, sorridente, abriu a porta e logo em seguida a fechou. Veio andando até a mim e sentou do meu lado. 

— E aí? — ele me perguntou enquanto fazia carinho na minha cabeça.

— O quê? 

— No que está pensando? Ansioso pra amanhã, não é?

— Sim... Você me conhece tão bem, pai.

— O seu outro pai também.

— Sim, eu sei, mas como você disse...

— Sou mais perceptivo?

— Isso.

Ele riu e beijou minha cabeça.

— Estou pensando se uso o terno preto ou o rosa. — botei minha dúvida pra fora.

— Tem algum que queira usar mais?

— Sim, o rosa.

— Imaginei.

— Viu, como eu disse...

— Sim. — ele riu. — Então usa o rosa.

— Mas fico preocupado em ser motivo de chacota e... Ah, sei lá. Do Caleb não gostar. Do Caleb não gostar de mim.

— Filho, sabe qual o maior segredo pra fazer alguém gostar de você da forma mais natural e genuína possível?

— Qual?

— Seja você mesmo.

Respirei fundo e segui encarando o espelho, me imaginando de terno rosa.

Então, caminhei até o guarda roupa, peguei o terno e o vesti. 

Andei até o espelho.

Meu pai seguiu em silêncio.

— Então, o que acha?

— Eu achei lindo, perfeito, impecável como sempre. Mas e você, filho, o que você acha?

— Eu amo. — sorri para o espelho.

— Então acho que tá decidido, não é? Nem sequer precisou experimentar o outro.

— O outro é muito simples. Sem graça. Comum. 

— Concordo. — ele riu levemente. 

— Então... Então tá bem. Vou com o terno rosa! — o ajeitei em frente ao espelho. 

Espero que Caleb goste...

— Sabe o que ia combinar com o terno rosa? — meu pai perguntou.

— O que?

— O seu cabelo rosa.

— Mas pai... Pensei que se preocupava com o meu cabelo rosa.

— Como assim?

— Aquilo tudo que me dizia antes, sobre o medo das pessoas caçoarem de mim, me magoarem, ou até me machucarem fisicamente por causa da cor do meu cabelo e-

— Filho, eu sei. Me preocupo e sempre vou me preocupar, mas nada nesse mundo faz com que eu concorde quando isso passa por cima da sua felicidade. 

Eu não tive palavras, então apenas sorri.

— E a gente não pode deixar de ser quem a gente é por medo do que os outros vão falar ou como vão reagir. — ele também sorriu e respirou fundo.

— Pai, você tem toda razão...

— Por que tirou a tinta rosa do seu cabelo quando nos mudamos pra cá? Foi porque estava enjoado mesmo?

— Não sei... — fiquei um pouco reflexivo. — Acho que no fundo foi por medo de como as pessoas iam me enxergar e me tratar...

— Eu imaginei. Afinal, era uma cidade completamente nova e pequena. 

— Sim.

— Enfim, meu amor, a decisão é toda sua. Eu só quis deixar essas questões bem claras pra você, tá bem? — ele se levantou e beijou minha cabeça mais uma vez. — Espera um minuto.

Obedeci e esperei. Meu pai saiu do quarto e logo em seguida voltou com algo na mão.

— Eu pensei muito sobre essa conversa que estamos tendo agora durante vários dias que se passaram e achei que talvez quisesse isso pra sua festa de formatura. 

— Pai, a gente nem sabia se eu ia a festa de formatura!

— Bom... Você vai, não é? — ele sorriu. — Caso precise, eu comprei pra você há algumas semanas.

Então, meu pai colocou uma embalagem de tinta rosa pra cabelo na escrivaninha à minha frente. 

— Boa noite, filho. Te amo.

FIM DO CAPÍTULO

Olho pro teclado do meu PC e não sei o que dizer... só sentir... hahahaha

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