(AMOSTRA) Valknut - o legado...

By ArethaVGuedes

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Matteo Sorrentino Bertoni parece o típico homem com vinte e poucos anos, bonito, inteligente e atlético. Apar... More

Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 4

Capítulo 3

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By ArethaVGuedes


— Vai sair daí ainda hoje? — Davi bateu na porta. — Esse barulho de água escorrendo a noite toda tá me dando vontade de ir ao banheiro.

— Vá mijar na puta que pariu! Da próxima vez, eu fico bebendo e você se joga no rio!

Agarrei outra barra de sabão e voltei a esfregar meus braços. O odor do Tietê não saía de mim, estava sutil, mas ainda se encontrava ali. Havia bebido uma garrafa inteira de sangue do nosso suprimento para tirar o gosto ruim da boca e considerei seriamente arrancar a minha pele para começar de novo.

Meu irmão gargalhou da minha revolta. Me transformar também não havia resolvido, não éramos como cobras, que trocavam de pele. A nossa era remodelada, mas continuava sendo a mesma constituição. Minha mãe costumava dizer que era o mesmo de vestir uma camisa dupla face.

Homem e lobo eram dois lados de uma mesma moeda.

Ouvi a porta da frente batendo, Davi devia ter saído para comer fora ao invés de preparar algo na cozinha. Menos de uma hora depois, retornou com uma oferta de paz.

— Trouxe perfume francês.

Não usávamos nada disso por causa do olfato sensível. Preferíamos o cheiro natural de cada um, que tinha a nossa própria fragrância. Relutante, aceitei o presente. Davi estava certo, era melhor do que ter o odor da poluição impregnado em mim.

— Minha nossa, você está vermelho! Quando disse que queria arrancar a sua pele, não achei que estava sendo literal. Vista-se, trouxe sanduíche de mortadela do mercado municipal.

Jogou uma camisa em mim assim que abri a porta com a cintura envolta em uma toalha. Em questão de segundos, eu me curei diante dos nossos olhos. Com a comida em mãos, o sanduíche enorme parecia ter sido feito mesmo para a fome de um lobisomem, espalhamos o material que tínhamos em cima da mesa. Mapas e reportagens, Davi fez careta pelo aroma forte do perfume, mas não disse nada.

— Sabemos que ele estava carregando dois corpos — relatei, anotando no caderno. — Izzy estava certa, não é humano. O que sabemos sobre as vítimas?

— Idades entre vinte e vinte e cinco anos, loiras de pele clara e porte atlético, mas sem serem muito fortes ou magras demais, bonitas com narizes delicados e olhos azuis. Fora as características físicas, não havia nada em comum. Garçonete, modelo, fisioterapeuta, estudante e secretária. Ouvi um grupo de amigos comentando o caso em um restaurante. O amigo de um conhecido de uma delas disse que tinha ficado com a segunda vítima uma semana antes da morte.

Batuquei os dedos enquanto mastigava uma mordida generosa.

— Ele sai durante a noite, escolhe uma mulher que se encaixe no padrão e a segue para sequestrar depois, quando ninguém estiver olhando. Por que mudou o padrão e pegou duas?

— Talvez não tenha mudado, não sabemos se ele fez isso nos outros.

Davi deu de ombros.

Não fazia sentido algum. O que aconteceu com a outra? Como não ficou rastro algum? Ninguém desaparecia do nada.

— Vamos investigar mais a fundo, talvez ainda haja alguma pista.

Dois meses se passaram desde o primeiro assassinato, dificilmente restaria algo para ser analisado. Combinamos de Davi tentar a sorte na delegacia, Izzy havia passado o contato de um policial que poderia facilitar para nós, caso tivesse acesso aos arquivos do caso. Ela colaborava com eles desde a época em que era uma dhampir.

Eu iria para os pontos onde acharam os corpos, já que meu olfato era o melhor. Primeiro, no entanto, passaria em uma floricultura, queria descobrir qual flor era o perfume que senti. Não havia ninguém no fundo do rio e nenhum outro corpo foi encontrado. A garota poderia ainda estar viva. Talvez fosse algum ritual de preparação e ela se tornasse a próxima vítima.

Davi tinha saído antes, enquanto eu estava guardando a papelada. Apressado, levantei o mapa para dobrar e foi aí que vi uma discreta mancha onde Loreta havia colocado a sua taça, na noite em que nos encontramos. Os copos do The Wolf tinham formatos diferentes, um para cada tipo de bebida, a vodca com limonada e sangue era servida em um cálice triangular e quando ela pôs o dela em cima do papel, deixou uma pequena marca da condensação.

Coloquei mais contra a luz, o triângulo formado era um pouco menor do que deveria, mas as pontas praticamente ligavam os três primeiros crimes. Voltei a me sentar, dessa vez com um grafite em mãos. Usando um caderno como régua, tracei um equilátero perfeito. O quarto assassinato ocorreu alinhado com o primeiro, quilômetros para a direita e o quinto, às margens do Tietê na mesma distância do segundo. Liguei as duas últimas mortes e formava uma aresta de mesmo tamanho do primeiro triângulo.

Se minha intuição estivesse certa, uma sexta morte fecharia um segundo triângulo, entrelaçado ao primeiro. Para isso, ela ocorreria no Parque da Juventude, zona norte de São Paulo, onde ficava o antigo presídio Carandiru, palco de um famoso massacre em mil novecentos e noventa e dois. Era a melhor pista que tínhamos.

"Descubra se os detetives chegaram a esta conclusão também, vigie a delegacia e escute a movimentação, se for preciso, mas não deixe que os policiais cheguem perto do parque", avisei a Davi.

"Combinado, irmão, cuidaremos disso hoje."

*****

Abandonei os meus planos e fui direto para o parque. Estava calmo e tranquilo, com crianças e jovens se exercitando nas diversas quadras esportivas que havia ali. A natureza tinha tomado conta das antigas estruturas do presídio, trazendo o verde para as grades pintadas de laranja do que um dia foi uma das maiores penitenciárias do país. Se fantasmas existissem, ali seria o local perfeito para vê-los, mas não havia nada além da calmaria que a natureza me trazia.

Mesmo que fosse uma pequena área arborizada em comparação com a floresta que tinha em casa, ainda era prazeroso pisar na grama com os pés descalços. Eu estava no meu disfarce de universitário hipster, com camiseta branca por baixo de uma camisa de botão xadrez aberta, jeans e tênis. Óculos preto de aro, livro, caderno, lápis e cesta de piquenique, que continha três sanduíches bauru, uma garrafa de água e outra térmica com sangue.

Nenhum humano seria capaz de detectar meu fingimento. Os fones em meu ouvido não tocavam música alguma e eu permanecia focado nos arredores, enquanto estava apoiado em uma árvore, desenhando com carvão uma criança brincando com seu cachorro. Se os lobisomens eram presentes divinos para a humanidade, os pinschers tinham sido enviados pelo satanás. O diabinho tentou me atacar assim que foi colocado no chão pelo dono, mas bastou um rosnado baixo e ameaçador meu para que ele desistisse da empreitada.

O garoto de dez anos estava sozinho com o animal, sua camiseta era da cor da minha e dois dentes faltavam em sua boca. Antes que pudesse questionar onde estava sua mãe, uma mulher loira, que lembrava o padrão das outras, carregando um punhado de flores se aproximou. O vento vindo do outro lado do parque soprou por ela e trouxe o aroma até mim. Inspirei fundo, reconhecendo o perfume.

— Desculpe perguntar, mas que flores são essas? — chamei a sua atenção.

Ela olhou para baixo, envergonhada:

— Margaridas, a moça disse que eu podia pegar...

— Onde? — mal perguntei e já estava juntando minhas coisas para encontrar a tal mulher.

Quando cheguei mais cedo, não havia ninguém onde ela indicou e ao me deparar com a mulher em questão, sorri com pura satisfação. Resolveria meu primeiro caso em tempo recorde e voltaria para casa como um vitorioso salvador de jovens inocentes. Mudei o formato da minha unha, enviando a Davi a imagem da garota loira que também tinha o mesmo tipo físico das outras vítimas, distribuindo margaridas no possível local do próximo assassinato.

Era coincidência demais para dar errado.

"Se ela está aí e bem, como tinha o cheiro das flores na última vítima?"

Era um bom questionamento. Inspirei, sem notar nenhum aroma diferente das flores. Ela não emanava uma assinatura de poder, como um vampiro faria, mas estar sob o sol quente também eliminava essa possibilidade. Tampouco era uma loba, tinha certeza que eu reconheceria.

Não é?

Além do mais, não havia como ela ter ativado o dom da licantropia sem a mistura de sangue de Izzy e Heinz.

"Vai ter que cortá-la, irmão".

Eu não tinha notado que estava enviando meus pensamentos para Davi, mas ele estava certo. Precisaria testar. Aproximei-me com a desculpa de pegar uma margarida.

— Quanto custa?

A mulher sorriu e ela devia ter no máximo vinte anos, talvez menos. Eram raras as pessoas que tinham uma simetria facial como a dela.

— São de graça. — Ela me deu três unidades e eu, que mantive um lápis de ponta fina na mão, a furei "sem querer".

Fiz a minha melhor expressão de desculpas e passei o dedo pelo sangue, em uma falsa tentativa de corrigir o erro. Ela não se importou e sorriu com doçura, garantindo que não havia problemas. Nenhum aroma especial. Definitivamente, não era uma loba e nem podia se tornar uma.

Estranhei a pitada de decepção e agradeci a garota antes de me afastar com as flores. Ela parecia tranquila demais e eu só conseguia pensar em duas possibilidades: era apenas uma coincidência — improvável, mas não impossível — ou o vampiro manipulou a memória dela com alguma droga. Ora, podia nem estar acordada ao presenciar a última morte.

Assim que me virei de costas, levei o dedo aos lábios e o lobo acordou em resposta.

___________

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🎃 Sob o seu feitiço — Aretha V. Guedes


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